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07 DE ABRIL DE 2011 –WELLINTON MENEZES DE OLIVEIRA

PRIMEIRO ATIRADOR ATIVO BRASILEIRO

Por Rodrigo Müller*


Nos deparamos estarrecidos com o massacre em Realengo, na Escola
Municipal Tasso da Silveira, tentando como sempre buscar motivações para os
atos cometidos por Wellinton Menezes de Oliveira.
A imprensa, sensacionalista ou não, tenta reproduzir, através dos
conselhos e orientações de especialistas de plantão, justificativas para tal vil
ato. Referências a outros incidentes em escolas, notadamente norte-
americanos, são apresentados como referência, uma vez que o ineditismo em
terras brasileiras impede qualquer tipo de comparação.
A análise de incidentes como os de Columbine High School ou Virginia
Tech sempre mostram os perpetradores como jovens desequilibrados, portanto
armas de grande “poder de fogo”. Estas características sempre foram
apontadas em nosso país pelas autoridades responsáveis pela segurança
pública como um “evento impossível de acontecer, dadas as características
pacíficas de nosso povo”, relegando ao incidente uma “tendência de países
onde o acesso de armas é facilitado, ou com adolescentes entediados em
desequilíbrio”.
O evento com o qual nos deparamos, não possui outra característica
senão o chamado internacionalmente e doutrinariamente como “incidente
com atirador ativo”, característica de evento criminoso onde a única
motivação do perpetrador é matar.
Devido única e exclusivamente ao volume de incidentes ocorridos, os
Estados Unidos da América lideram o estudo de formas de combate a este tipo
de criminoso. O United StatesDepartmentofHomeland Security e a NTOA
(NationalTacticalOfficersAssociation) em seu trabalho “Active Shooter,
Howtorespond” definem o atirador ativo como:

“An Active Shooter is an individual actively engaged in killing or


attempting to kill people in a confined and populated area; in most cases,
active shooters use firearms and there is no pattern or method to their
selection of victims.”
“Um atirador ativo é um indivíduo engajado em matar ou tentar matar
pessoas em uma área populosa confinada; em muitos casos, atiradores
ativos usam armas de fogo e não existe um padrão ou método em sua
seleção de vítimas.”

Buscar as motivações para um atirador ativo e acreditar que sanando


estas carências este tipo de crime poderia ser previsto, ou mesmo prevenido, é
tentar resolver ao dilema de causalidade sobre o ovo ou a galinha. O combate
a um atirador ativo se faz com treinamento específico, tanto da comunidade
escolar quanto dos profissionais de segurança pública.
Incidentes com atiradores ativos envolvem reações rápidas das
autoridades. Tipicamente, a chegada rápida de forças da lei é necessária para
deter o atirador e impedir que ele faça mais vítimas. Esses incidentes
normalmente duram entre 10 a 15 minutos, e os primeiros policiais em cena
devem estar preparados técnica, física e mentalmente para a ação.
As recomendações aos envolvidos em um incidente com atirador ativo,
são basicamente as seguintes:
1) Evacuar:
 Se houver uma rota acessível de fuga, esteja certo de ter um
plano em mente;
 Deixe seus pertences para trás, não se preocupe em retirá-los
neste momento;
 Se for possível, ajude outros a escapar;
 Alerte as pessoas ao conseguir sair da área de risco, sobre a
presença do atirador;
 Mantenha suas mãos visíveis ao se encontrar com policiais
durante o trajeto, e informe a posição do atirador se você tiver
conhecimento;
 Não tente mover as pessoas feridas;
 Ligue para o 190 assim que possível.

2) Esconder-se:
 Se evacuar o ambiente não for possível, encontre um lugar para
esconder-se;
 Mantenha-se fora da visão do atirador, ele se dirigirá na direção
dos alvos que considerar mais próximos;
 Se conseguir chegar a uma sala segura, tranque a porta e
bloqueie-a com móveis ou outros móveis pesados.

As recomendações aos primeiros policiais em cena, são basicamente as


seguintes:
 Não adentre sozinho no ambiente confinado. A menor célula de
trabalho policial é a dupla;
 Se mais de uma dupla policial estiver disponível, divida o grupo
em um time de intervenção e um time de resgate;
 Enquanto o time de intervenção vai verificando os ambientes, a
equipe de resgate vai isolando a área, extraindo e socorrendo as
vítimas;
 O time de intervenção reconhecendo e identificando os sons de
disparos, deve partir imediatamente para o local de onde provém,
redobrando a segurança e preparando-se para um possível contato com
o atirador, buscando neutralizar suas ações.
A busca das soluções para o combate a este tipo de incidente, além do
treinamento específico e contínuo, envolve a criação pelas autoridades policiais
de um “plano de emergência ou procedimento operacional padrão” para
confrontar essas situações, palestras em escolas buscando aproximar ainda
mais a comunidade da polícia e a introdução nas escolas de procedimentos e
capacitação ao corpo discente e docente, visando compreender o que fazer
aos nos depararmos com novas situações desta natureza, que inevitavelmente
acontecerão no futuro.

* Rodrigo Müller, especialista em Segurança Pública pela


UNEMAT/SENASP/RENAESP, proprietário da Müller Consultoria &
Treinamento, empresa especializada no treinamento policial especial,
atua há mais de 15 anos na área de capacitação de Unidades Policiais de
Operações Especiais.

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