Você está na página 1de 8

ESAD.

CR
DESIGN GRÁFICO (Pós-laboral)
2º ano - 3º Semestre
Ano lectivo 2010/2011

Sociologia da Comunicação

Em que medida os meios de comunicação


influênciam e constrõem os nossos
comportamentos, a inteligência colectiva
e a nossa estrutura cultural na sociedade
contemporânea?

Bruno Afonso
Aluno n.º 3090410
ESAD.CR . Design Gráfico . Sociologia da Comunicação

Introdução

Todos nós como indivíduos de uma sociedade, seria um caos e insegurança. É por isso que só
pessoas e grupos de pessoas, tornamo-nos sujei- existimos dentro da sociedade, só conhecemos o
tos pela mão da sociedade da qual somos mem- que advém das suas construções e reconstruções.
bros e parte integrante. Vivemos sob a influência Com mais ou menos consciência desta constru-
dos seus mecanismos ou agentes socializadores, ção, pois também a nossa própria consciência
quase sem que nos apercebamos do seu real se encontra contaminada pelo processo social
poder nas nossas vidas, tudo porque são tidos por de construções socioculturais, somos guiados
nós, logo à partida como mecanismos e agentes e orientados como inquilinos desta sociedade
“naturais”. É pela sua influência naturalizada, que nos deixa “morar” dentro dela se cumprir-
invisível, que construímos a nossa vida, gostos, mos com os seus padrões normalizados e regras.
comportamentos, que diferenciamos o “bom” Tornamo-nos naquilo que a sociedade espera
do “mau” o correcto do “incorrecto”, o “belo” do que sejamos, quando isso não acontece vivemos
“feio”, defenimos prioridades, valores e padrões. à sua margem (que não deixa de ser um espaço
Toda esta estrutura, mecanismos e agentes socia- da sua dimensão) e ela própria também dispõe de
lizadores pré-existem à nossa própria existência. sistemas de punição. Em troca de “bons” compor-
Quando nascemos estamos já dentro deste tão tamentos, de comportamentos normalizados e da
falado “sistema” que nos dá uma identidade, um reprodução fiel e contínua de todo o seu sistema,
número e nos começa a modelar enquanto sujei- a sociedade responde-nos através de mecanismos
tos. Primeiro pela família, o estado, a religião, a de gratificação e satizfação das nossas necessi-
escola, sob a influência de subsistemas simbólicos dades (no sentido lato do termo), de criação de
como a língua (código), as imagens e os meios de sensações de conforto, ordem e felicidade.
comunicação social.
Conceitos como os de tempo, felicidade, poder,
A realidade é filtrada, criada, recriada, redefinida prestígio, bom, mau, correcto, incorrecto, entre
e organizada, por meio de leis, crenças, compor- outros, são construções socioculturais mutantes e
tamentos, hábitos e valores socialmente institu- complexas que dependem dos contextos de cada
cionalizados, produzindo em nós uma sensação época. É a sociedade em que vivemos que nos vai
de conforto, gratificação e ilusão de livre arbítrio. ditando e ensinando o que vale e não vale a pena,
É a nossa sociedade que nos fornece as grelhas onde devemos focalizar e aplicar o nosso tempo
estruturadoras e organizadoras das nossas vidas, e a nossa vida, determinando também o valor
do nosso modo de pensar e consequentemente do a atribuir a cada elemento construtivo da nossa
nosso modo de agir, fazendo-nos sentir que sem realidade social.
a sua ordem, regras e grelhas estruturadoras tudo

Bruno Afonso . pág. 2


ESAD.CR . Design Gráfico . Sociologia da Comunicação

A televisão e a Internet
As alterações nas relações interpessoais na Era Digital

Antes da existência dos meios de comunicação utilizada como instrumento estético e ideológico,
era a religião que veiculava as mensagens e fazia conseguindo impor pela força da repetição de
cumprir por outro tipo de mecanismos os com- ideias através das imagens e sons, estilos de vida,
portamentos e valores sociais. produtos, pensamentos, gostos e comportamen-
Hoje os meios de comunicação social possuem tos, estando deliberadamente preparada para nos
um papel importante no processo construtor e impedir de ter reacções verbalizadas, confronta-
organizador da nossa inteligência colectiva. do-nos com apresentações de mudança rápida e
acção acelerada. É-nos negado o tempo necessário
A televisão veio diminuir o isolamento físico e para integrar a informação a níveis de consciência
espacial do indivíduo dentro da massa anónima completos, resultando numa desistência por parte
da sociedade, criando uma conexão virtualmente do espectador de manter um ritmo de classifica-
os sujeitos. ção mental, reagindo quase exclusivamente de
Pela televisão são veiculados acontecimentos uma forma fisiológica, o que por sua vez conduz
que podem não corresponder com a experiência a uma redução da compreensão tornando-nos
particular de cada um. Ela mostra-nos universos, vítimas fáceis das suas mensagens.
com significados e valores que podem não coinci-
dir com o grupo do qual o indivíduo que recebe Existe de facto uma relação directa entre a
faz parte, ou seja ela faz-nos aproximar de outras exposição às mensagens vinculadas pelos meios
esferas culturais e outros estilos de vida. de comunicação, e o comportamento das pes-
Apesar do aparecimento da Internet, a televisão soas, nomeadamente pela televisão por ser hoje
é ainda hoje o meio de comunicação mais demo- um meio de comunicação democrático. Se uma
crático (a percentagem de casas com televisão é pessoa se identifica com algo que lhe é transmi-
bastante superior à percentagem de casas com tido é levada a agir segundo a mensagem que
internet) e é por ele que são veiculados a maior lhe foi enviada. A televisão interpela o receptor,
parte das mensagens. A televisão oferece-nos dentro dos vários campos da sociedade, através
primeiramente uma experiência física actuando das mensagens que vincula, quer seja por meio
depois sobre as nossas emoções. Hipnoticamente da publicidade, de programas de entretenimento,
envolvente, o seu aparecimento na sociedade fez informativos, documentários, entre outros.
mudar comportamentos e reestruturou relações Desde cedo a esfera política se apercebeu do po-
entre os sujeitos, vivências e a própria organiza- der e da abrangência da televisão como forma de
ção do seu dia a dia. controlar hábitos de pensamento. Quando pensa-
mos no público da televisão e da rádio, pensamos
A publicidade, o mais difundido e popular dos num conjunto, chamada massa, de milhões de
canais de comunicação, será certamente, um espectadores e ou ouvintes, prontos a receber as
dos principais motores da nossa economia e um mensagens como estímulos, imaginamos pois
dos principais construtores de valores sociais uma audiência passiva, apesar de alguma inte-
servindo-se privilegiadamente do sentido da racção que vai havendo através dos vários meios
visão em detrimento de todos os outros (a nossa de comunicação como por exemplo televisão e
sociedade é uma sociedade visual), embora o da telefone, televisão e internet.
audição venha logo em seguida. A publicidade é

Bruno Afonso . pág. 3


ESAD.CR . Design Gráfico . Sociologia da Comunicação

Hoje sabemos que não podemos falar duma das relações de produção através da propagação
massa social homogénea mas sim de um conjun- continuada das ideologias dominantes (religiosas,
to heterogéneo onde existem dentro dos vários moral, jurídica, política, etc) que fazem parte da
grupos sociais ou campos, diferenças individuais estrutura ou sistema que compõem uma socie-
nas características da personalidade, vida e estilos dade. Este poder ideológico é exercido através
de vida de cada um dos elementos que constituem dos meios de comunicação que por meio das
o público (receptor). Para o sucesso da comunica- ideologias transmitidas e servindo os interesses
ção é muito importante o estudo do destinatário dominantes situam os indivíduos no que respeita
(público alvo) a quem se destina a mensagem e ao seu papel na cadeia produtiva e reprodutiva do
da qual se querem ver surgir comportamentos e sistema.
acções. É o sucesso deste estudo que vai determi-
nar também o sucesso na obtenção do efeito. O Como a base de produção material da nossa
insucesso é quando as mensagens vinculadas pelo sociedade exige uma estrutura ideológica que
meio não chegam ao seu público alvo, quer sejam a alimente, Adorno e Horkheimer explicaram
elas publicitárias, políticas ou sociais, isto pode esta relação, característica do mundo moderno
ter como origem a falta de interesse e motivação industrializado através do conceito “Indústria
do receptor em relação à mensagem, a dificuldade Cultural”.
de acesso à informação ou ao contexto da mensa- Esta Indústria Cultural designada anteriormen-
gem, apatia social entre outras. O receptor, espec- te como cultura de massas, não se trata de algo
tador de televisão, ouvinte de rádio, etc, é exposto que tenho surgido espontaneamente das massas,
às mensagens possuindo já um background de elas não são o factor principal neste sistema mas
predisposições já existentes, ele pertence a um um elemento secundário, um mero elemento
grupo social, tem determinados valores, estilos de estatístico, um objecto da Indústria. Os sujeitos
vida, ambições, necessidades entre outras coisas são cativos do sistema produtivo ideológico e
que vão condicionar a interpretação da mensa- económico-social sem que para isso tenham real
gem. Apesar de se tratar de uma comunicação consciência, garantem a subsistência desse siste-
passiva todas estas condicionantes acima referi- ma que os controla e que lhes fornece em troca os
das podem fazer do receptor resistente a deter- já falados anteriormente mecanismos de gratifica-
minados assuntos e mensagens desencadeando ção, em tempo, valor, entretenimento.
comportamentos selectivos. O receptor interpreta Nada nos meios de comunicação é inofensivo ou
a mensagem à luz daquilo que ele é como sujeito ocasional, tudo tem um propósito, não são apenas
social, apropriando-se e adaptando o seu signifi- técnicas de comunicação, mas sim de um espírito
cado. que é incutido aos sujeitos sociais para constan-
temente reforçar a mentalidade destes para que
Os meios de comunicação tem hoje a função de os mantenha imutáveis ainda que que a Industria
agentes socializadores, papel que anteriormente Cultural não possa existir sem se adaptar às mas-
estava destinado apenas à religião, estado, família sas. Toda a prática da Indústria Cultural transfere
e escola. Eles tem um poder gerador de compor- a motivação do lucro, a ideologia desta indústria
tamentos, atitudes, valores e ideias que ao serem é vender as mercadorias culturais e fazer com
recepcionados pelos sujeitos sociais, despoletam que elas sejam absorvidas pelos consumidores, as
neles a capacidade de os voltar a reproduzir. massas, também eles produtores e reprodutores
Assim o receptor é também um agente em acção, de todo o sistema.
criador e recreador activo pois perpetua os co- Tanto em Althusser, como em Adorno e Horkhei-
nhecimentos adquiridos e as acções. mer os meios de comunicação aparecem como
Também denominados por Aparelhos Ideoló- parceiros do poder dominante, colaborando e
gicos dos Estado por Althusser estes agentes coadjuvando na transmissão das suas ideologias
socializadores garantem também a reprodução (imprensa escrita, rádio, televisão, internet) e per-

Bruno Afonso . pág. 4


ESAD.CR . Design Gráfico . Sociologia da Comunicação

mitindo que elas tenham um alcance a abrangên- classe dominante, nunca deixando contudo de
cias maiores. aparentar confiantemente uma forma regular e
durável. O habitus é como uma espécie de acordo
Muitas vezes não havendo controle directo do Es- tácito no qual se obedece e segue as regras de
tado, sobre os meios de comunicação a ditadura um jogo (e do conceito de jogo pressupõe-se que
capitalista de uma sociedade de consumo indus- existe sempre um objectivo) sem que para isso se
trializada prevalece. Para Bourdieu este poder tenha falado directamente de tal e/ou que disso se
da classe que, em determinado período histórico tenha consciência. O poder invisível do habitus
é a dominante, é exercido através dos canais de é um poder simbólico, construtivo da realidade
comunicação com recurso a sistemas simbólicos e do sentido do mundo social mas depende da
ideológicos moldados por aqueles que os con- existência e da cumplicidade de grupos de produ-
trolam, que estruturam e modelam os sentidos. tores desses mesmos sistemas, em que qual sabe
E é aqui que Bourdieu introduz o conceito de exactamente o seu lugar e o que fazer, capazes
“habitus” como conjunto de sistemas e estruturas de gerar símbolos e ideologias que vão funcio-
estruturantes dos sujeitos por meio de práticas e nar como agentes da inserção social dos sujeitos
de representações, constantemente reguladas pela numa sociedade. O habitus, como prática, torna

A Internet
Um meio de comunicação com forte tendência à interação;

assim possível o sentido do mundo social com a novo mundo virtual onde podemos obter respos-
sua ordem e garante a sua perpetuação. tas mais rápidas de diversas fontes de informação
e onde podem ser discutidas em fóruns, blogues e
Quem diria há alguns anos atrás que surgiria um redes sociais, convergindo ambos para uma nova
médium novo, a Internet e que ele seria dominan- realidade cultural, social e até mesmo corporal.
te nos dias de hoje!? Veio revolucionar todos os É nestes novo mundo, nestes novos espaços de
outros media integrando-os em torno do mundo debate que se desenham novas interacções e rela-
da Informática e das telecomunicações. ções sociais a uma escala planetária: formam-se
Analisando damo-nos conta de que em tão curto comunidades virtuais com regras e normas muito
espaço de tempo e de forma muito rápida ocor- próprias, que satisfazem, entre outras, necessida-
reram transformações importantes nos meios de des comunicacionais e afectivas.
comunicação e consequentemente na forma como
interagimos com o mundo, como organizamos É pela Internet que hoje se dá a veloz divulgação
o nosso quotidiano e de como nos relacionamos de informações as quais servem de base à rápida
uns com os outros. actualização e reformulação de conhecimentos e
A Internet veio de facto criar dois mundos: o ideias em todas as áreas quer sejam elas científi-
velho mundo real, onde por exemplo, a informa- cas, sociais, artísticas, ...
ção era/é obtida através da leitura de vários livros Esta nova era tecnológica despoletou também o
para percebermos conceitos ou abordagens e, o aparecimento de novas profissões e consequen-

Bruno Afonso . pág. 5


ESAD.CR . Design Gráfico . Sociologia da Comunicação

temente novos profissionais e novas disciplinas,


como por exemplo o design multimédia e os web
designers entre tantos outros.
Todos os grandes teóricos que estudam e pes-
quisam sobre estes assuntos na área das ciências
da comunicação sabem que no caso dos novos
media, em especial com o desenvolvimento da in-
ternet para esta segunda fase (web 2.0), o formato
irá afectar os conteúdos. As novas tecnologias
combinadas com esta “nova” internet vão trans-
formar a forma como são tratados os conteúdos
e consequentemente a forma como estes são per-
cepcionados e recebidos pelos sujeitos/receptores,
agora mais activos emitindo conteúdos simbóli-
cos, interagindo com outros sujeitos, aprendendo
parcelas do real sem a mediação de terceiros.

Bruno Afonso . pág. 6


ESAD.CR . Design Gráfico . Sociologia da Comunicação

Apontamento Final
Os meios de comunicação tem hoje sem qualquer dúvida, uma função socializadora, transmitindo as
suas mensagens de forma a despertar os nossos sentidos, interesses e ambições, servindo os objectivos
das classes dominantes.
A televisão teve e ainda tem um papel importantíssimo neste processo de socialização, no entanto e
com o desenvolvimento da internet, o espectador agora utilizador da internet deixou de ser um agente
passivo na recepção das mensagens, passando também ele a intervir nos próprios conteúdos dessas
mensagens.

Bruno Afonso . pág. 7


BIBLIOGRAFIA

Kerckhove, Derrick de; A Pele da Cultura, Uma investigação sobre a nova realidade electrónica; tradução de
Luís Soares e Catarina Carvalho; Colecção Mediações, Comunicação e Cultura; Relógio D’Água Editores,
Março 1997

Wolf, Mauro; Teorias da Comunicação; tradução Maria Jorge Vilar de Figueiredo; Editorial Presença; Setem-
bro de 1999

WEBGRAFIA

http://www.comunidade.sebrae.com.br/orientador_emp/Cafe+com+Letras/37139.aspx
http://www.meiaduzia.com.br/culturaemprocesso/2008/08/17/bourdieu-habitus-e-campo/
http://www.spiner.com.br/modules.php?name=News&file=article&sid=1202
http://mktportugal.com/blog/?tag=web-2-0

Você também pode gostar