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Fernando Novais – Portugal e Brasil na Crise do Antigo Sistema Colonial (cap.

2)

Caio Prado Jr. – Formação do Brasil Contemporâneo (Sentido da Colonização)

Aula: Tipos de colonização: vinda por motivos político-religiosos (Am. Norte); clima
diferente, interesse extrovertido, trabalho escravo (mais lucrativo – tráfico e menor
custo – tráfico promovia escravidão), latifúndio, exclusivo metropolitano, importa
manufaturados, exporta matéria-prima, balança comercial favorável à metrópole,
monocultor, atende demandas da metrópole (Am. Sul)

Uso de escravos restringia a formação de um mercado consumidor interno.

Havia um sentido diferente para a colonização mais geral e a diferenciação entre


colônias se deve a condições históricas e diferentes sentidos e propostas da colonização
(Caio Prado). O sentido é dado pelos interesses mercantis de expansão marítimo-
comercial predominantes na época e que se seguram por mais de dois séculos, em um
contexto de transição para o capitalismo. Há a subordinação das colônias aos interesses
das metrópoles.

Considerar a formação do Estado português – sociedade baseada em valores


hierárquicos (autocrática) – divisão em estamentos: títulos e status possuem valor
importante. Existiam comerciantes sem privilégios que reconheciam a “categoria”. A
sociedade era alimentada economicamente na expansão de mercados.

Características da América Tropical seriam os fatos de diferenciação ou dificuldade da


vinda de europeus para se instalarem no país (Novais defende ponto diferente – seria um
estímulo, apenas) sendo a principal característica da formação da sociedade portuguesa,
mesmo em ascensão. São os comerciantes que virão para o Brasil na busca de
reconhecimento que não existia. Construirão latifúndios a partir de concessões de
sesmarias. O mercantilismo acaba sendo o elemento central de colonização do país.

Característica extrovertida da economia colonial – voltada para a metrópole. Outro


ponto possível de explicação é a “vontade” de mandar recursos para Portugal. O
objetivo da Inglaterra com a colonização era o mesmo, porém não conseguia.

Fichamento: (Novais) Objetivo: explicar natureza e mecanismos da crise através de uma


análise global e generalizadora.

1 a) Estrutura e Dinâmica do Sistema a) Colonização como sistema

Sistema colonial apresentava-se como as relações entre a metrópole e a colônia na


época Moderna, denominando-se Antigo Sistema Colonial. Nem toda colonização
ocorre dentro de um sistema colonial, mas é um alargamento da área humana ocupada,
povoada e valorizada. Nos tempos modernos, assumiu a forma mercantilista. É o
sistema colonial do mercantilismo que dá sentido à colonização européia.
As relações metrópole-colônia variavam, mas davam-se, em geral, em dois níveis: na
extensa legislação colonial que procurava disciplinar as relações concretas, políticas e
econômicas. Essas normas cristalizavam o objetivo da empresa colonizadora.

Ao mesmo tempo, os corifeus fixavam os fins e objetivos variados. O autor parte do


modelo típico das relações. Em teoria, as colônias deveriam constituir um fator
essencial do desenvolvimento da metrópole, sendo o corpo da doutrina econômica.
Mercantilismo: metalismo, objetivo de formar normas econômicas, interesses não saem
da nação, lucro na troca, fomento da produção nacional, estímulo à exportação de
manufaturas e importação de primários, desenvolvimento a todo custo, colônias como
complementares. Mercantilismo foi instrumento de unificação.

Expansão ultramarina > colonização Novo mundo > absolutismo > sociedade
estamental > desintegração do feudalismo > estrutura feudal + produção capitalista >
capitalismo mercantilista.

Crise do feudalismo (Dobb): reação à economia de “mercado”. Comércio dissolve laços


servis e enrijece a servidão; estímulo a diferenciação urbana – produtor se proletariza –
insurreição urbana. Crises sociais tendiam a desestimular o comércio, agravando a
depressão monetária. Houve endurecimento na produção, principal comércio (oriental)
era dominado por italianos e outros abriam novas rotas. Essas tensões resultaram na
centralização estatal, estabilizando a sociedade e estimulando a expansão. Novas rotas
possibilitaram acumulação prévia. O Estado colocava em prática a economia
mercantilista, na qual o capital comercial comandou as transformações. O Antigo
Regime Político foi a fórmula da burguesia mercantil para garantir sua ascensão.

A colonização foi um desdobramento da expansão econômica. Ao sair do comércio para


a colonização, passava-se a montar uma sociedade nova, promovendo a implantação de
economias complementares. Colonização moderna tem caráter comercial (Caio Prado):
produzir para externo, fornecer produtos tropicais e metais nobres para a metrópole –
sentido da colonização. A expansão da economia de mercado + divisão social do
trabalho + especialização da produção + produtividade = autodesenvolvimento. Tal
processo se instaura a partir do sistema colonial feudal. O capital penetra aos poucos na
produção, dissociando capital e trabalho na manufatura, permitindo a acumulação
primitiva. O sistema colonial é o determinante estrutural do processo.

O regime de comércio é onde se situa o elemento essencial desse mecanismo. O


monopólio colonial é o ajustamento da expansão colonizadora. A produção era
mercantil, voltada para o comércio. O essencial era adquirir lucros. A economia era
pautada no liberalismo para atrair e redistribuir mercadorias. No Brasil, os recursos
eram particulares e não estatais. Com o aumento do comércio, a política assemelhava-se
ao sistema colonial. O exclusivo metropolitano consiste na reserva do mercado das
colônias para a metrópole e pode ter gradações, podendo ter um empresário único, um
grupo ou toda a classe empresarial.
A competição ultramarina desdobrou-se em concorrência colonial e a experiência levou
a organização de uma companhia monopolista.

A expansão inglesa foi paralela; colonizadores são grupos políticos e religiosos


dissidentes. Com os Atos de Navegação, se articula o Old Colonial System. Na França,
a primeira fase se dá como pirataria e corso.

A expansão processava-se segundo impulsos que eram gerados da transição do


capitalismo industrial, e seguia etapas: povoamento inicial: produção local: comércio:
economia reprodutiva > mercado externo; ritmo e sentido são ajustados ao mercado e a
flutuação da procura define a produção. São os mecanismos do sistema que definem o
conjunto e imprimem o ritmo em que se movimenta a produção. Quando em baixo,
baixavam preços. Era o setor de exportação que controlava o processo produtivo.

Produção mercantil: ela que liga a expansão colonial com o desenvolvimento


econômico europeu.

A colonização organiza-se no sentido de promover a acumulação capitalista primitiva,


estimulando o progresso burguês.

Era necessário produzir produtos conforme a procura e que promoverem estímulos à


acumulação burguesa, sendo o comércio o sentido último que comanda a colonização. A
mercantilização só pode generalizar-se quando a força de trabalho se torna ela própria
mercadoria, no processo que se inicia com uma inversão de capital na forma original
(dinheiro) que, investindo-se se transforma em fatores de produção que ao ser vendida,
gera mais valia.

Escravismo não foi opção, mas decorria da adequação da empresa aos mecanismos do
Regime Colonial.

Crise do sistema – funcionamento. Para promover a acumulação, deve haver


exploração. No plano da produção, dois setores: exportação organizada em grandes
propriedades escravocratas e o nível das relações socioeconômicas, a estrutura
determina alto grau de concentração de renda; produtor é instrumento do trabalho e a
renda é senhorial. Essa concentração permite o funcionamento da sociedade. Porém,
bloqueia a possibilidade de melhorias tecnológicas. A estrutura implica numa limitação
ao crescimento da economia de mercado, uma vez que o escravismo representa baixa
produtividade, rentabilidade e mercado reduzido.
Martins. Minas Gerais, Século XIX: tráfico e apego à escravidão numa economia
não exportadora.

Slenes. Os Múltiplos de Porcos e Diamantes: a economia escrava de Minas Gerais


no Século XIX

Aula: Martins – trata de uma economia não exportadora; aponta um equívoco que tendia
dizer que MG era um estado que exportava escravos. Defende a ideia que MG não era
exportadora, mas importadora de escravos. Por isso, tenta explicar o porquê isso
aconteceu. Bibliografia não trazia base coerente para explicar essa importância. Tenta
contrastar com ela o caráter do sistema colonial : extrovertido. Encontra explicação no
funcionamento em um mercado de subsistência, tentando recuperar argumento clássico.

Mineração não requeria muitos escravos; com o declínio da mesma, teria levado a uma
transferência dos mesmos para outras atividades e estados. A mineração não foi uma
fonte exportadora e mesmo com o declínio, MG continuou recebendo contingentes de
escravos. A explicação não é econômica, mas que MG teria apego aos valores
(tradicionais) em torno da escravidão, sendo responsável pelo elevado contingente
escravo no estado.
Martins: social > econômico; Slenes: econômico > social.

Fichamento: *Não fora a produção para o mercado externo que gerou a demanda por
escravos. Minas tinha de enviar escravos para fora para permitir sua importação.
Argumento encontrado é o de que a decadência da mineração deixou um estoque de
escravos, que serviu para outras regiões, como RJ ou SP. Argumento: MG, na primeira
parte do séc. XIX era uma economia de exportação significativa e que os efeitos
multiplicadores do setor externo sobre o interno eram maiores em Minas do que nas
outras áreas de plantation do RJ e SP.* O desenvolvimento da lavoura teria
desencadeado a migração interna. Martins/Slenes acreditam que Minas, SP e RJ, nos
municípios onde avia lavoura, eram importadores de escravos e nos que não tinham,
tendiam-se a perder escravos. O setor cafeeiro só veio a empregar mais de mil escravos
na década de 1830, não passando de 30~35 mil. O objetivo do autor é estudar a
participação de Minas no tráfico internacional e interno de escravos no século XIX.

Em 1835, o tráfico continuava a todo pano, porém os escravos eram mais caros em
Minas do que no RJ, que era feito por cafeicultores que eram ou tinham sido traficantes.
Durante o censo feito, Minas tinha mais escravos que o PR, MG, BA e GO somados.
Para defender sua hipótese, Martins faz estimativas da taxa de crescimento. A
quantidade de escravos é muito sensível à taxa de crescimento natural adotada, mas a
direção do tráfico, segundo o autor, seria inequívoca. Ao contrário de Slenes, que
constatou que a taxa de crescimento era negativa entre 10~15 mil ao ano, Martins
verificou que a mesma tinha um saldo positivo entre 8~9 mil ao ano.

Com o fechamento da fonte africana, as diferentes condições econômicas nas regiões do


país provocariam a realocação do contingente escravo. A agricultura estava em
expansão no Centro-Sul, o Nordeste possuía condições diversas e começava a substituir
os escravos por trabalhadores livres. O Sudeste era o maior importador na época. Minas
não pode ter sido, nesse período, exportador líquido de um número significativo de
escravos. A quantidade de escravos era muito semelhante à encontrada no RJ, por
exemplo. Em SP, 36% dos escravos não trabalhavam na cafeicultura.

O tráfico interprovincial tinha um viés em relação ao sexo e à idade. Em 1870, houve


uma intensificação do tráfico interprovincial, com o Centro-Sul absorvendo mais que o
Nordeste e o Sul. Para fazer qualquer tipo de comparação, deve-se incluir a mortalidade
e as alforrias, o que não acontecia, segundo o autor. A região da Mata era a maior
importadora líquida de escravos.

Na década de 1880, com a legislação abolicionista, o saldo negativo observado é


desprezível. O padrão de tráfico é revelado pelo método de sobreviventes, não sendo
diferente do anterior. Após 1884, continuaram sendo transferidos em todas as direções.
Associação entre o papel de importador ou exportador e a lavoura cafeeira ou mineração
é maior que nos anteriores. Verifica-se que Minas apresentou as mais baixas taxas de
manumissão do Brasil. Minhas permaneceu apegada ao regime servil até o final deste,
importando mais que qualquer outra região e os mais baixos níveis de exportação,
caracterizando-se por um apelo à escravidão.

Aula: Slenes: propõe uma releitura dos dados de Martins, por vezes defendendo seus
argumentos. A verificação de que não havia exportação de escravos não é suficiente
para invalidar o argumento central da historiografia e não elimina o caráter extrovertido
da economia. Ainda que MG utilizasse escravos, isso seria uma característica do estado,
não invalidando que a agroexportação era o centro dinâmico. Mercados de subsistência
foram o suporte para a economia agroexportadora. O centro dá economia é externo.

Fichamento: Questiona Martins e seus argumentos. Minas era uma economia vicinal,
voltada para o consumo local, com grande setor camponês. Segundo os Martins, o
impulso para a compra de escravos sairia da alta razão terra/população que caracterizava
Minas, impedindo a formação de um mercado de mão-de-obra livre, já que ninguém se
submeteria a trabalhar como assalariado, confirmado o apego à escravidão. O aumento,
segundo Martins, teria se dado naturalmente, de um balanço nas taxas de nascimento e
mortes. Slenes acredita que Martins subestima a importância do setor exportador de
Minas e seu impacto na economia, apontando que Martins negligencia a análise de
outros contextos em que o trabalho servil foi significativo além da plantation. Segundo
Slenes, os mineiros não teriam capacidade de pagar tantos escravos quanto Martins
segure.

Nem terra abundante, nem ligações entre a exportação e o setor interno, nem um
mercado vigoroso, nem o conjunto disso teria sido suficiente para produzir um sistema
escravista dinâmico em MG no período anterior a 1850. Os brasileiros antes de 1850
enfrentavam uma situação de terra livre e escravos abundantes cujo preço era acessível
a pessoas que não tinham o capital para instalar plantations. Com o fim do tráfico, a
oferta ficou restrita, e o preço, subiu, fragmentando o mercado nacional, surgindo
diferenças nas mão-de-obra forçadas. A transferência teria sido feita para atividades
domésticas.

Slenes acredita não ser possível acreditar no censo feito, pois as informações seriam
parciais e incompletas. Martins não consegue, a seu ver, derrubar o argumento que as
regiões mineiras eram exportadoras de escravos. O efeito multiplicador em Minas era
grande e incidia sobre tudo no setor escravista. A economia em MG fazia parte do
complexo cafeeiro. A produção para fora teve um impacto dentro da economia que não
é visível nos dados sobre exportação. O centro dinâmico da economia encontrava-se no
setor exportador. Era uma economia “fechada” – não à possibilidade exportar, mas de
importar. A escravidão teve importância devido à possibilidade de usar o trabalho e a
terra para a produção mercantil.

* O apego mineiro à escravidão decorria da força do setor de exportação da província e


do alto custo do transporte do litoral, o que permitiu uma substituição significativa de
importações, que garantiu que a demanda do setor externo continuasse. Como as
exportações mineiras requeriam pouca mão-de-obra, é provável que a maioria dos
escravos trabalhasse para suprir o mercado interno.

Cardoso de Mello. O Capitalismo Tardio

Aula: Crítica à análise da Cepal ao desenvolvimento econômico (dependente - FHC/


subdesenvolvimento/ industrialização extrovertida - Furtado)

Preocupação com introdução e desenvolvimento do capitalismo no Brasil, que ingressou


tardiamente no capitalismo, com a passagem do trabalho escravo para o sistema
capitalista. Passagem do sistema colonial para o capitalista: durante um período,
existiam formas pré-capitalistas, fundadas na escravidão e com objetivos mercantis. O
capitalismo surge com a introdução do trabalho assalariado, no fim do século XIX e
início do XX.

Faz uma análise da organização da sociedade através das relações trabalhistas


capitalistas: se não há passagem para o assalariado, não há desenvolvimento capitalista.
Capitalismo é baseado em fatores internos primeiramente e depois externos (FHC).
Mello dá importância aos internos. Passagens são geradas por contradições externas.

Desenvolvimento de um “certo tipo de capitalismo”, no caso, o tardio. Não


necessariamente ele seria dependente e subdesenvolvido, nesses casos, seria
considerado exteriormente, interessando as especificidades.

Keynes: incerteza: decisões dos atores econômicos (investidores, consumidores).


Recursos para investir não são suficientes para explicar esses investimentos, por isso
(Mello) a formação do Estado nacional ajuda a explicar a formação do capitalismo.
Disponibilidade de recursos mais decisão são importantes, juntamente com a formação
do Estado, permitindo a acumulação de recursos, por exemplo.
O mérito, portanto, não está apenas nos cafeicultores. Investimentos na agricultura são
baseados em acumulação e não realização. Se há variações de demanda, a mão de obra
escrava não consegue acompanhar. O trabalho escravo “empaca” um capital fixo, sendo
frágil e vulnerável. Condição para a continuação do trabalho escravo seria um preço
baixo, para necessitar do mínimo de capital, sendo subordinado ao capital mercantil.
Uso da terra de maneira predatória: ao fim do uso, avançavam-se as fronteiras.

Essas características contribuíram para o desenvolvimento irracional do capitalismo.


Contradições inerentes a esse desenvolvimento foram centrais no movimento (progresso
na metrópole e retrocesso na colônia). Sistema colonial capitalista não porque a
produção é mercantil, nem pelo papel do lucro como motor. Escravidão é introduzida
pelo capital, que subordina o trabalho: caráter de acumulação primitiva.

Passagem para o capitalismo industrial estimula o fim da economia colonial pois há


mudanças no sentido da acumulação mercantil complementar. Quando o objetivo da
acumulação passa a ser a necessidade da produção em massa, pois essa requer preços
reduzidos, exigindo uma redução nos preços de custo.

Contradições: Capital Industrial e trabalho compulsório; Capital Industrial e monopólio


colonial; Capital Industrial e permanência do exclusivo metropolitano (este exige que a
produção das colônias fosse vendida para as economias centrais).

Economia deixou de ser um reflexo europeu; sem as contradições foi possível a


acumulação. Oferta determina a demanda (Keynes – café). Houve redução das taxas de
exportação e aumento dos preços do café, a expansão das fronteiras que levou ao
aumento do custo com transporte.

Cafeicultura se manteve pelo avanço da demanda. Oscilação dos preços até o teto varia
de acordo com o caráter permanente da cultura cafeeira, fatores naturais e procura
externa. Ciclo cafeeiro não varia de acordo com a oscilação das economias
exportadoras, mas de acordo com a oferta. Período de maturação do café é grande.
Solução foi generalizar a demanda, baixando os preços para aumentar a oferta.
Surgimento de oligopólios, manipulação do preço e taxas altas de lucros.
Desvalorização da taxa de câmbio compensava a baixa dos preços.

Fichamento: Introdução: A propagação desigual do progresso técnico (essência do


desenvolvimento econômico) se traduz, portanto, na conformação de uma determinada
estrutura da economia mundial, de certa divisão internacional do trabalho: de um lado, o
centro, que compreende o conjunto das economias industrializadas, estruturas
produtivas diversificadas e tecnicamente homogêneas, de outro, a periferia, integrada
por economias exportadoras de produtos primários, alimentos e matérias-primas, aos
países centrais, estruturas produtivas altamente especializadas e duais.

Traço fundamental das economias periféricas: a indústria traz em si um elemento


dinâmico que a produção primária não possui em grau comparável. A produção
primária abrange as primeiras etapas do processo produtivo, enquanto a indústria
compreende as etapas subsequentes. Devido a esta posição relativa de ambas as
atividades, o aumento da atividade industrial fomenta a atividade primária, esta, ao
contrário, não possui o poder de estimular a atividade industrial.

As economias periféricas enquanto exportadoras de produtos primários (mais tarde se


diria: na etapa do desenvolvimento para fora) não dispõem, assim, de comando sobre
seu próprio crescimento, que, ao contrário, depende, em última instância, do vigor da
demanda cêntrica.

A demanda por produtos primários, exercida pelo centro, marca o nascimento das
economias periféricas, teria revelado pouco dinamismo, por duas vezes: devido ao
crescimento econômico relativamente lento dos países centrais e a queda de seu
coeficiente global de importação, decorrente do deslocamento da hegemonia central da
Inglaterra para os EUA.

A deterioração das relações de troca se explica pela relativa lentidão com que o
desenvolvimento industrial do mundo vai absorvendo o excesso real ou potencial de
população ativa dedicada às atividades primárias.

A dinâmica da economia mundial tende, portanto, a aprofundar o desenvolvimento


desigual, por que o centro é capaz de conservar seus incrementos de produtividade e,
ainda, de se apropriar de parte dos resultados do progresso técnico introduzido na
periferia. Em outras palavras, há uma tendência à concentração dos frutos do progresso
técnico nas economias centrais, e o mecanismo pelo qual isto se dá é a deterioração das
relações de troca.

A industrialização latino-americana é problemática porque periférica. A desigualdade


do desenvolvimento mundial reflete-se, em primeiro lugar, no descompasso entre as
técnicas produtivas avançadas do centro e a capacidade de poupança da periferia. O
desenvolvimento para dentro manifestaria uma tendência ao desemprego estrutural,
porque o progresso técnico traz consigo o desemprego estrutural, porque o progresso
técnico traz consigo o desemprego como nos centros, mas a demanda de bens de capital
a ele inerente não se manifesta na periferia, à falta de indústrias de bens e capital.

A Economia Política da CEPAL nasceu para explicar a natureza do processo de


industrialização que eclodira entre 1914-45, revelar os problemas que enfrentaria se
quisesse ter êxito e sugerir políticas econômicas que fossem aptas a superá-los. Todo
espaço do discurso cepalino está organizado em torno da ideia de independência
econômica da nação. Melhor ainda: a problemática cepalina é a problemática da
industrialização nacional, a partir de uma situação periférica.

As economias periféricas, enquanto dependentes, são mero prolongamento do espaço


econômico das economias centrais e não se poderiam considerar como economias
nacionais. Mais ainda, na medida em que continuassem a crescer, para fora, as
economias latino-americanas continuariam condenadas à miséria, pois qualquer esforço
que fizessem para superá-la seria frustrado. Dependência e pobreza eram duas faces de
uma mesma moeda, a situação periférica. Com a industrialização inicia-se uma nova
etapa, a do desenvolvimento para dentro, porque o centro dinâmico da economia se
desloca para dentro da nação, que passa a comandar a si própria. Isto é, o deslocamento
do centro dinâmico das economias latino-americanas, a substituição da variável exógena
demanda externa pela variável endógena investimento como motor da economia,
equivale ao deslocamento para o interior da nação, dos centros de decisão. Numa
palavra, construção das bases econômicas da nação e liquidação da pobreza são,
também, dois aspectos de um mesmo processo, o de industrialização.

Meados da década de 1960: a industrialização ou se abortara ou quando tivera êxito, não


trouxera consigo nem a libertação nacional nem a liquidação da miséria.
Desenvolvimento latino-americano não é um desenvolvimento qualquer, mas um
desenvolvimento capitalista. O desenvolvimento capitalista é específico na América
Latina, pois foi realizado numa situação periférica nacional. O reconhecimento dessas
diferenças levou-nos à crítica dos conceitos de subdesenvolvimento e periferia
econômica, e à valorização do conceito de dependência, como instrumento teórico para
acentuar tanto os aspectos econômicos do subdesenvolvimento, quanto os processos
políticos de dominação de uns países sobre outros, de classes sobre outras, num
contexto de dependência nacional.

Dependência e desenvolvimento representam uma tentativa de constituir uma nova


problemática da instauração de um modo de produção capitalista em formações sociais
que encontram na dependência seu traço histórico peculiar, a problemática da formação
e do desenvolvimento do modo de produção capitalista na América Latina. Traz a ideia
de que a dinâmica social latino-americana é determinada, em primeira instância, por
fatores internos e, em última, por fatores externos a partir do momento que se estabelece
o Estado nacional.

Cap. 1: O caráter primário-exportador advém, fundamentalmente, de que as exportações


representam o único componente autônomo de crescimento da renda e, ipso facto, o
setor externo surge como centro dinâmico da economia. É o modo de crescimento, para
fora, que corresponde a uma determinada estrutura produtiva, caracterizada por uma
nítida especialização entre dois setores: de um lado, o externo, fonte do dinamismo e do
outro, o setor externo dele dependente, integrado por indústrias, pela agricultura
mercantil de alimentos e matérias-primas e por atividades de subsistência. O surgimento
das economias exportadoras organizadas com trabalho assalariado deve ser entendido
como o nascimento do capitalismo na América Latina. Não é certo do modo mais
capitalista de produção, desde que não se constituem, simultaneamente, forças
produtivas capitalistas, isto é, desde que a reprodução das relações sociais de produção
capitalistas não está assegurada endogenamente, quer dizer, no âmbito das próprias
economias latino-americanas.

Havendo produção mercantil animada pela busca de lucro, a economia de plantation


revelaria uma inescusável tendência capitalista.
A economia colonial compreende dois setores: um exportador e um produtor de
alimentos. O setor exportador produz produtos coloniais destinados ao mercado
mundial. A empresa colonial de exportação assenta-se no trabalho compulsório. O setor
produtor de alimentos, por estar organizado à base de trabalho servil, trabalho escravo
ou mesmo por produtores independentes. Parte do tempo de trabalho da força de
trabalho do setor exportador pode ser empregada na produção de subsistência.

A economia colonial define-se, portanto, como altamente especializada e complementar


à economia metropolitana. Exportam-se produtos coloniais e importam-se produtos
manufaturados e, no caso de economias fundadas na escravidão negra, escravos. Essa
economia organiza-se, pois, para cumprir uma função: a de acumulação primitiva de
capital. Produção colonial, em suma, quer dizer produção mercantil complementar,
produção de produtos agrícolas e de metais.

Tanto a acumulação de capital e sua concentração nas mãos da burguesia comercial


metropolitana quanto a criação de mercados coloniais foram fatores essenciais à
constituição do capitalismo. Capitalismo industrial no sentido da produção mercantil é
outro. Agora, alimentos e matérias-primas produzidos em massa porque só produção em
massa pode significar preços baixos. Produção mercantil para rebaixar os custos de
reprodução da força de trabalho e para baratear o custo dos elementos componentes do
capital constante.

Em suma: o capitalismo industrial propõe a formação de uma periferia produtora, em


massa, de produtos primários de exportação organizando-se a produção em bases
capitalistas, quer dizer, mediante trabalho assalariado. É desta periferia que deveriam
fazer parte as economias latino-americanas, conjuntamente com as demais economias
pré-capitalistas.

Há que assumir a passagem da economia colonial à economia exportadora capitalista


em toda sua complexidade, tomando o movimento como determinado por “fatores
internos” e externos.

A queda do exclusivo metropolitano e a subsequente formação do Estado Nacional


marcam o início da crise da economia colonial no Brasil. Fica claro que o momento do
início da crise da economia é também o momento da constituição da economia
mercantil-escravista cafeeira nacional. É certo que se revitalizaram a escravidão e a
produção mercantil que, no entanto, não é mais colonial.

O desenvolvimento da economia mercantil-escravista está sujeito a três condições:


disponibilidade de trabalho escravo à preços baixos, à existência de terras em que a
produção pudesse ser rentável e às condições de realização relativamente autônomas,
porque dependem, também, do comportamento das economias importadoras. Alcançar
as taxas de crescimento de estoque positivo, ou mesmo nulas, exigia, portanto, que se
reduzisse a taxa de crescimento a ser atingida.
Conceição Tavares acredita que a reduzida capacidade industrial juntamente com o
setor agrícola de subsistência era insuficiente para dar à atividade interna um dinamismo
próprio.

A passagem do “modelo para fora” ao “crescimento de dentro” no paradigma cepalino


fica determinada: a dinâmica da economia deixa de estar presa à demanda externa,
substituída pelo investimento, deslocando o centro da economia para dentro da nação.
Podem ser distinguidas duas fases do processo de substituição de importações: o da
industrialização extensiva com a substituição na faixa dos bens de consumo e bens de
capital com o uso da mão-de-obra abundante e expansão horizontal do mercado e na
segunda uma industrialização intensiva, com a substituição da produção “pesada” e
pelos bens duráveis de consumo, ocorrendo também um aumento da concentração de
renda. Essa substituição não pode se dar da base para o vértice

* Cardoso de Mello pensa a industrialização latino-americana como uma


industrialização capitalista retardatária, não se constituindo forças produtivas
capitalistas simultaneamente, não assegurando a reprodução endogenamente,
caracterizando, então um período de transição para o capitalismo. Essas forças são
determinadas pelo processo de acumulação de capital, devendo ser constituído um
departamento de bens de produção capaz de permitir a autodeterminação do capital,
libertando a acumulação de barreiras. Na América Latina ele é específico pelo seu ponto
de partida e momento, o que a torna retardatária.

Segundo Fernando Henrique, a economia cafeeira cria as condições ao gerar uma massa
de capital monetário concentrada nas mãos de determinada classe social, ao transformar
a própria força de trabalho em mercadoria e promover a criação de um mercado interno
de proporções consideráveis. O capital industrial nasce como desdobramento do
cafeeiro emprego no núcleo produtivo do complexo exportador e seu segmento urbano.
O movimento do capital cafeeiro ao industrial beneficiou-se da Política Econômica do
Estado, com crédito farto e os instrumentos utilizados. A existência de trabalhadores
livres permitiu converter os excedentes. O complexo cafeeiro gerou capital-dinheiro que
se transformou em industrial e criou condições para essa transformação, o que só foi
possível porque se estava atravessando um auge exportador.

A lucratividade dos projetos foi favorecida pela queda da taxa de salários, pelo grau de
proteção que gozou a produção industrial e pelas isenções tarifárias. Nas últimas
décadas do século XIX, a indústria está passando por um processo de monopolização
com mudança tecnológica. O capital cafeeiro dá nascimento e estimula a grande
indústria ao mesmo tempo em que coloca limites à acumulação industrial. A produção
do café é demanda por terras, meios de produção e força de trabalho, pelo lado da
acumulação e, pelo lado do gesto corrente, demanda por alimentos, bens de consumo
assalariado e bens de consumo capitalista.

A acumulação de meios de produção e o consumo capitalista se financiam com a


capacidade para importar gerada pelo próprio complexo exportador cafeeiro. Somente a
demanda de alimentos e bens manufaturados é atendida por produção interna. De um
lado, a reprodução ampliada do capital cafeeiro passa pelo setor industrial e de outro, o
capital industrial depende do cafeeiro para sua expansão, para repor e ampliar a
capacidade produtiva sendo, porém, incapaz de gerar seus próprios mercados. O setor
industrial então se defende da tendência ao declínio de sua taxa interna de rentabilidade
acentuando a concorrência intercapitalista. Quando os processos do café começam a
cair, a taxa de rentabilidade industrial ajuda a manter a acumulação econômica. No
momento em que os preços internacionais sobem, há um novo ciclo de expansão.

A partir de 1933 até 1955, há uma nova fase de transição, uma vez que a acumulação se
move a um novo padrão, de industrialização restringida, porque as bases técnicas e
financeiras de acumulação são insuficientes para o processo de desenvolvimento
industrial. O setor industrial se liberta da dependência que o atrelava pela realização dos
lucros da economia cafeeira, porém a capacidade para importar continua a impor um
limite dentro do padrão de acumulação, mantendo-se restringida. O nascimento tardio
acarretava em uma descontinuidade tecnológica.

A lucratividade resultava da natureza pouco competitiva e do comportamento do custo


da força de trabalho. O Estado Novo definiu um bloco ambicioso de industrialização a
partir de investimento externo. Restringida a industrialização, a acumulação continuou
submetida ao limite imposto pela capacidade de importar e a economia persistiu como
dependente. Há uma aparência de autonomia econômica.

A industrialização restringida configurou um padrão horizontal de acumulação. Entre


1956 – 61, há um grande salto tecnológico, com um novo padrão de acumulação e um
processo de industrialização pesada, apoiada no Estado e no novo capital estrangeiro
(grande empresa oligopolista internacional), vindo de capital produtivo, resolvendo-se o
problema da capacidade de importar e de mobilização e concentração de capitais,
situação possibilitada pelo capital industrial nacional. Há uma expansão ao nível da
acumulação entre Estado, empresa internacional e nacional o que não elimina fricções
de ordem secundária. A industrialização pesada configura um ciclo de acumulação e
possui dois momentos: o de expansão até 61 e depressão até 1967, chegando ao fim
nesse ano.

Período cafeeiro possui dois períodos: 1886 – 1918, de expansão e até 1929 de
depressão. As condições de acumulação foram favoráveis, com amplitude de terras,
extensão das estradas de ferro e força de trabalho abundante. As desvalorizações
cambiais estão ligadas ao período de expansão, permitindo acumulação. A política
econômica do Estado contribuiu para a valorização e para a desvalorização.

Quando se dá a crise, o Estado não dispunha meios de financiá-la, não podendo contar
com créditos externos, uma vez que o governo não conseguia pagar os funding loans.
Assim, restabeleceu-se a tarifa-ouro, aumento a carga tributária e o funding fora
negociado. Após as reformas fiscais entre 1899-1902, o Estado lançou um vigoroso
programa de investimentos em infraestrutura de transportes e melhoramentos urbanos.
Não conseguindo controlar os gastos, fez-se outro funding loan.
Há uma segunda valorização do café. A burguesia cafeeira não teria podido deixar de
ser a matriz da industrial porque foi a única classe que acumulou suficiente para tal. Há
um vazamento de capital monetário do complexo exportador cafeeiro porque a
acumulação financeira sobre passava as possibilidades de acumulação produtiva.
Bastava que os projetos assegurassem uma rentabilidade positiva, garantindo a
reprodução de lucros. O movimento foi facilitado pelas condições de financiamento. O
complexo exportador cafeeiro engendrou o capital-dinheiro disponível para
transformação em capital industrial e criou as condições a ela necessárias: parcela de
força de trabalho disponível ao capital industrial e uma capacidade para importar capaz
de garantir a compra de meios de produção e de alimentos e bens manufaturados de
consumo, indispensáveis à reprodução da força de trabalho industrial.

As razões do surgimento da grande indústria não residem no mercado. Indústria de bens


leves era simples, fácil e por isso a preferencia por ela. Há em 1907, uma aceleração da
taxa de acumulação industrial devido a expansão da capacidade de importar, aumento
do capital externo e imigrantes, da agricultura de alimentos e elevação dos gastos
públicos. A terceira valorização em 1922 devido às condições favoráveis no mercado
externo. O desenvolvimento industrial nos anos 20 está marcado por profunda
modernização da indústria de bens de consumo assalariado. Política da defesa
permanente promoveu uma expansão da capacidade produtiva.

É a existência de uma redundância de capacidade que explica a crise do complexo


cafeeiro. A Grande Depressão antecipou e aprofundou uma crise inevitável. A política
do Estado teve papel fundamental ao assegurar a remuneração do café a preços internos
que puderam cobrir os custos, sendo as compras maciças o eixo de sustentação do
complexo. O Estado teve um comportamento keynesiano entre 1930 - 32, mesmo que
as intenções foram outras.

Celso Furtado. Formação Econômica do Brasil

Aula: Passagem do trabalho escravo para o assalariado. 1875: estagnação econômica,


período responsável pelo subdesenvolvimento do país, que saiu do círculo mundial de
comércio, perdendo a chance de se inserir no mesmo porque não conseguiu encontrar
um produto voltado para o comércio exterior, entrando na dinâmica mundial. Primeiro,
açúcar, depois, mineração, por fim, o café. Os dois primeiros propiciaram inserção do
país no comércio. Com a concorrência das Antilhas (final séc. XVIII), Brasil não dava
conta do mercado Até a inserção do café (fim séc. XIX), país fica a margem.

O motor da economia está no capitalismo internacional. Se país não está inserido na


economia, não há desenvolvimento > caráter extrovertido. Mesmo com produção de
subsistência, não seria capaz de produzir dinamismo econômico.

Séc. XIX – queda do exclusivo metropolitano com a abertura dos portos e a


Independência, privilégios com o Reino Unido. Independência não significou mudanças
de diretrizes pois a classe dirigente tinha interesses baseados externamente, dissociados
da produção e do comércio, sem unificação política. Com a ascensão da cafeicultura, a
classe dominante tornou-se consciente dos interesses internos, interferindo no governo,
estimulando-o a tomar medidas que favorecem o cultivo dessa cultura, com a política da
migração.

Caráter contraditório do liberalismo: Inglaterra prevalecia medidas protecionistas que a


favoreceram internacionalmente

Início do séc. XIX : diminuição das exportações, governo escasso em recursos, perda de
força do ouro, empobrecimento da população, crises políticas. Diante disso, o país não
tinha fontes de recursos de captação pois esteve preso a Portugal por muito tempo. Para
fomentar a indústria e a economia nacional o governo precisava de mais fontes de
recursos, ampliando a emissão de papel-moeda, desvalorizando a moeda para
compensar a “criação”, aumentando, os produtos importados.

Os EUA não passaram pela mesma situação pois o algodão lá plantado subsidiou a
Revolução Industrial inglesa. Mecanização de tecidos tinha demanda, permitindo novos
investimentos. O algodão teve o preço reduzido por conta da produção em larga escala,
o que permitiu ao país se inserir no mercado internacional, dinamizando a economia.

No Brasil o aumento das exportações seria fundamental para o desenvolvimento


econômico, precisando de produto com demanda já formada no mercado internacional.
O estancamento das exportações levou à diminuição da renda per capita que só poderia
ser contrabalanceada por desenvolvimento do setor exportador. Aumento da produção
de subsistência diante da perda de dinamismo após o fim do ciclo do açúcar.

O café segue como fator dinamizador da economia por conta dos fatores específicos,
relacionados à abundância de terras, estratégia de ampliar fronteiras agrícolas. Seria
necessário mais mão de obra, uma vez que o escravo não se reproduz. País não tinha
condições de importar tecnologia. O desenvolvimento da economia viria com o mercado
interno, formado apenas com a mão de obra assalariada. Essa apenas não era usada
porque foi difundida a ideia que ela não servia para a grande lavoura, que não
compensaria nem o subsídio governamental. O governo, mudando de posição, paga o
transporte de imigrantes, que não deu certo, pois criou um regime de semi-servidão para
o pagamento do transporte.

Fichamento: primeira fase de uma industrialização, para fora. Distingue uma


industrialização induzida pela expansão das exportações e uma substitutiva de
importações. A primeira encontra limites estreitos impostos pelo crescimento dos
mercados gerados pelo setor exportador, que, uma vez ocupados, tornariam a expansão
industrial extremamente débil

Sérgio Silva. Expansão Cafeeira e Origens da Indústria no Brasil (Cap. 2 e 3)

Aula: Atraso na inserção do capitalismo – reinserção e foco da mesma. A


industrialização foi tardia por conta da economia, que produziu as contradições que, se
em um momento avançaram à economia, em outro a segurou. Elite ligada ao café abriu
as casas de exportação. Dominação do capital comercial sob os outros, devido ao apego
às relações de dominação tradicional, dada pela inserção do país na economia mundial
em que o papel é de exportador agrícola.

1882: produção ultrapassa consumo, para isso o governo desvalorizou a moeda, gerando
inflação, prejudicando setores nacionais e favorecendo exportadores de café, pela queda
do preço do mesmo.

1906: nova política de defesa do café; estabilidade monetária, suspendendo pagamentos


dos juros da divida externa; não resolve o problema da superprodução, desencoraja
novas plantações; governo compra o excedente de café para equilibrar demanda e
procura.

Burguesia consegue terras devido a ligação com o poder. Foi a valorização do café que
levou à valorização das terras. Manutenção do sistema fundiário: entrave ao
desenvolvimento capitalista, para completar deveria desvincular-se o capital agrário do
industrial, que se desenvolve localmente, explorando o trabalho.

Fichamento: Na segunda metade do XIX, o comércio mundial cresceu. No Brasil,


cotações do café em alta desde a independência. O comércio deixa de ser o aspecto
principal das relações econômicas internacionais quando as exportações de capitais
assumem o papel dominante. O comércio é apenas uma parte do desenvolvimento
capitalista. A exportação de capitais desfigura o conceito de capital, colocado na relação
de produção. Entre 1851-1900 o Brasil exportou capitais ao nível das contas. Porém, os
empréstimos externos serviram para financiar a imigração, as estradas de ferro e outros
serviços. Este é o movimento verdadeiro do capital em escala mundial. Entrada de
capitais no Brasil se dá por serviços de dívida. Exportação de capitais e saldos negativos
para os países subdesenvolvidos são dois aspectos do movimento do capital em escala
mundial e a exportação de capitais é o mais importante. Durante o período,
investimentos britânicos eram predominantes em toda a América Latina.

Desenvolvimento das relações capitalistas é desigual, que decorre do modo de produção


capitalista nacional. Autonomia após 1808. Burguesia se desenvolve graças ao café
(escravos). Após a escravidão e a falta de mão-de-obra, uso do trabalho livre, vindo da
imigração, formando um mercado de trabalho. Escravos trabalhavam menos. Capital já
dominava economia colonial. Abolição progressiva não implicava em introdução
progressiva do trabalho assalariado.

Produção de café cresceu durante o século XIX, também deslocando a produção para SP
e mudando as relações de produção. Com a imigração, o trabalho escravo cedeu lugar
ao assalariado. Havia, inclusive migrações internas, consequência do desenvolvimento
das relações capitalistas que tinha como centro a economia cafeeira. Há greves e
mecanização do trabalho, que consistiu num meio necessário ao estabelecimento de
plantações distantes de portos, que só foi possível com as estradas de ferro, resultando
num desenvolvimento do capitalismo. Casas de exportação centralizam a compra da
produção.
Capital cafeeiro apresenta características do agrário, industrial, bancário e comercial,
sendo dominantemente comercial., resultado do desenvolvimento ainda fraco das
relações de produção capitalista no Brasil. Aqui, o comercial domina a produção e a
submete às suas exigências e pela posição no seio da economia mundial.

Superprodução desde o séc. XIX. Política inflacionária dos primeiros governos e a


rápida desvalorização da moeda permite à burguesia amortecer os efeitos da baixa dos
preços, aumentando o preço do custo de vida em geral. Funding loan é resultado do
fracasso dessa política (Furtado).

1906: início da valorização: compra de excedentes, financiamento das compras,


pagamento de empréstimos e expansão das plantações, para não perder controle sobre a
economia nacional, tendo como resultado o prosseguimento do desenvolvimento
capitalista, com mais capital estrangeiro. Durante a primeira guerra, há um novo
impulso, relacionado com o sistema bancário. Essa política não é obstáculo ao
desenvolvimento, mas estão na base.

Terras de “ninguém” passam a ser da burguesia, que está no poder. Expandem o café,
assim como capitalismo. A abundância de terras é essencial à expansão cafeeira. Com o
desenvolvimento do capitalismo, a terra perde sua importância.

A produção capitalista no Brasil rompe os limites do território nacional e desenvolve-se


onde não existem condições para o mesmo. É o desenvolvimento internacional do
capitalismo e a divisão internacional do trabalho que criam as abundantes terras do
Brasil. O desenvolvimento da produção implica a acumulação de capital e
aprofundamento da divisão do trabalho e o crescimento do mercado.

Surgimento da Indústria Café e indústria como partes da acumulação de capital


brasileiro. Manufatura e fábrica empregam diferente número de trabalhadores. Na
fábrica, há separação entre o trabalhador e os meios de produção. Imigrante sem
recursos e pequena empresa são elementos centrais (Caio Prado). Burguesia industrial
nasce, entretanto, como uma fração das classes médias brasileiras, apoiada no grande
comércio, interno (importação e exportação), controlado pelos importadores.

A indústria nascente encontra no mercado de trabalho nascente base para expandir.


Desenvolvimento capitalista baseado na expansão cafeeira provoca um nascimento e um
certo desenvolvimento da indústria. Política econômica tem efeitos contraditórios e
variados.

Dívida externa crescente indica dependência comercial e financeira. Para pagar funding
(necessário equilíbrio financeiro), precisa diminuir despesa, aumento de taxas é
inadequado. Manutenção da posição subordinada. Expansão cafeeira – rápida
acumulação. Divisão do trabalho limita os efeitos dessa acumulação ao nível da
revolução do modo de produção. Desequilíbrio externo é contradição – nascimento da
indústria e consequente elevação da produtividade, é associado á formas de
desenvolvimento capitalista. Trabalho assalariado representa saída para o mesmo.
Capital industrial concentra-se nos setores de bens de consumo. Brasil passa direto à
grande indústria, sem estágios anteriores. É o capital industrial que exprima as
características das formas de desenvolvimento presentes no capital cafeeiro e que
determinam efeitos reduzidos da acumulação no nível do modo de produção.

Sônia Draibe. Rumos e Transformações – Um Estudo sobre a Constituição do


Estado e as Alternativas da industrialização do Brasil (Cap. 1 e 2)

Fichamento: Constituição do aparelho econômico centralizador e nacional obedece a um


padrão de constituição do capitalismo Industrial e do Estado capitalista com
organização das estruturas, aparelhos regulatórios e intervencionistas. Houve
elaborações a partir desses órgãos e políticas econômicas de caráter nacional que
fizeram um intervencionismo econômico específico. A constituição desse aparelho
centralizado e a natureza capitalista do Estado define o movimento de organização do
Estado entre 1930 – 45.

Definição de noras e regras, meritocracia, racionalização e padronização levaram à


limitação da ação, incapaz de lidar com favoritismo, patronagem e clientelismo. Os
órgãos instauraram políticas gerais, de regulação e controle das áreas cambial e de
comércio exterior, monetário-creditícia e de seguros. Papel central do Banco do Brasil
como centro do sistema de crédito, caixa do Tesouro e mecanismo operativo de
transações. Criação da Sumoc, Cexim e Institutos diferentes para a regulação e fomento
de ramos de produção e comercialização. Esse conjunto de entidades está dentro da
estrutura estatal para gerar acumulação. A tentativa de um órgão central não esteve
ausente.

Sindicalismo, criação do Ministério do Trabalho. Estado criou base jurídico-


institucional para o funcionamento e integração do mercado e organizou um sistema de
representação classista, extremando política intervencionista. Criação do IBGE, para
conferir maior consistência ao monopólio da informação por parte do Executivo.
Legislação do salário mínimo e sustentação dos preços mínimos. Estado atava sobre
salários, câmbios, juros e créditos para a acumulação capitalista, sintetizando os
interesses sobre os quais se erigia com autonomia, mas não reduzido a eles.

Primeira fase da industrialização: restringida: indústria pesada, Estado define o processo


e toma iniciativa da instalação das indústrias de base no país. Novos problemas
nacionais levam a imprescindibilidade das indústrias de base e do comércio exterior
trocar produtos por máquinas de fabricar máquinas.

Até o Estado Novo, nem o projeto de industrialização pesada ganhou consistência nem
foi levado a definição. Apenas traduziu a ação estatal. Plano Especial (Dasp):
concretizar ação industrializante sob a forma de planos globais dos investimentos, com
taxas sobre operações cambiais, lucros sobre operações bancárias e vendas de
Obrigações do Tesouro. Faltava um conjunto de instrumentos de ordem fiscal e
financeira que garantisse o suporte financeiro aos planos, cabendo ao Estado estimular a
produção, intervir, dirigir e tornar-se empreendedor e comerciante.
Criação de Comissões: sugestões e não ação propriamente ditas.

Rápido processo de centralização das funções impõe e traduz um reforço de


arrecadação. Arrecadação genérica mais levada seria uma boa saída, porém
empréstimos externos e empresa pública foram as opções usadas pelo governo, com a
instalação da grande indústria de aço e petróleo, fazendo o próprio Estado canalizar
recursos e realizar os investimentos. Ao término do Estado Novo, o comércio externo, a
moeda, a força de trabalho, o crédito e os salários estavam na mão do Estado.

Necessidade da complementação da indústria e um direcionamento do fluxo global de


investimentos, trazendo mais centralização e controle e formas de vinculação com os
setores empresariais. Modelo corporativista vinculava os setores empresariais aos
órgãos econômicos por representação.

1946: Aparelho econômico sofre expansão, novo regime corta alguns órgãos.
Mantiveram-se o funcionamento das empresas e institutos de regulação da produção e
consumo, com o governo seguindo uma política econômica de corte liberação em
relação ao comércio exterior e ortodoxa em relação ao gasto público, crédito e
congelamento de salários.

Plano Salte (Dasp) não enfrentou setores como o rodoviário; energia – petróleo e
hidráulica, alimentação – melhoria na agricultura, saúde – campanhas contra doenças.
Fontes financeiras eram dotações orçamentárias comuns, mas não tinha instrumentos
para garantir sua implementação. Foi tentativa de planificar e coordenar a
industrialização. Prioridades eram investimentos em capital social básico, especialmente
transporte e energia.

Reorganização do sistema bancário para neutralizar oscilações monetárias, manter


equilíbrios das contas internacionais e supervisionar rede bancária. Tentativa de reforma
agrária falhou.

Expansão das bases fiscais do Estado por meio de uma reforma do IR, tentativa de
financiamento externo e projeto de reforma bancária., elevando taxas tributárias.
Projetos e planos permitiram um avanço da diferenciação industrial e o amadurecimento
de pré-requisitos infraestruturas indispensáveis à industrialização pesada, voltada para o
crescimento definitivo do capitalismo industrial no Brasil esta sim ausente dos projetos
do governo Dutra.

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