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Nova Lei de Falência

Aula 1
Visão Geral da Nova Lei

Professor: Rubens Approbato Machado


Coordenação: Maria Odete Duque Bertasi
Nova Lei de Falência
Aula 1 - Visão Geral da Nova Lei
Prof. Rubens Approbato Machado

1. DA LEGISLAÇÃO VIGENTE ATÉ A REFORMA ATUAL

O direito falimentar brasileiro, até a edição da nova lei, teve como norma de direito positivo o Decreto-
lei 7.661, de 21.06.1945, comumente chamado de “Lei de Falências”.

O Brasil, que foi partícipe do conflito, fazendo parte dos países “aliados”, se viu na obrigação de rever o
seu regime político vigente na época, saindo de um período ditatorial para ingressar em um regime
democrático, com a deposição do então chefe do governo e a volta das eleições gerais. No que se
refere à economia, outros rumos foram dados, com novas normas positivas buscando os caminhos que
se iniciavam a abrir.

Uma das disposições a merecer uma revisão era a lei que até então regia o direito falimentar. Editou-se
o mencionado Decreto-lei 7.661, fruto de um bem elaborado trabalho desenvolvido pelo comercialista
Trajano Miranda Valverde.

Essa norma deu relevo aos institutos da falência, com a previsão da continuação do negócio por parte
do falido, e da concordata (preventiva e suspensiva), como um favor legal ao comerciante, desde que
obedecidos os requisitos fixados no citado decreto-lei. Na falência todos os credores se sujeitam aos
seus efeitos é o denominado “juízo universal”.

A falência (com previsão da continuação do negócio) e a concordata, ainda que timidamente


permitissem a busca da recuperação da empresa, no decorrer da longa vigência do Decreto-lei
7.661/45 e ante as mutações havidas na economia mundial, inclusive com a sua globalização, bem
assim nas periódicas e inconstantes variações da economia brasileira, se mostraram não só defasadas,
como também se converteram em verdadeiros instrumentos de própria extinção da atividade
empresarial.

2. PROJETO DE REFORMA DA LEI DE FALÊNCIAS Histórico

Consciente da necessidade de uma reforma legislativa em setores fundamentais do interesse nacional,


foi criada no início da década de 90 do século XX, no Ministério da Justiça, uma Comissão para
elaborar um projeto de reforma da Lei de Falências.

Essa Comissão, após exaustivos trabalhos, examinando, ponto a ponto, a minuta ministerial, houve por
bem elaborar um outro anteprojeto, onde, expressamente, foi, pela primeira vez, introduzida a proposta,
em um projeto de lei, para se tornar norma positiva, de criação do instituto da recuperação da empresa.

"Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo, assim como a inclusão em qualquer sistema de processamento de dados. A
violação do direito autoral é crime punido com prisão e multa (art. 184 do Código Penal), sem prejuízo da busca e apreensão do
material e indenizações patrimoniais e morais cabíveis (arts. 101 a 110 da lei 9.610/98 - Lei dos Direitos Autorais).”
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O anteprojeto elaborado pela Comissão da IASP “Roger de Carvalho Mange” continha 172 artigos,
mantendo, em outros moldes, os institutos da concordata e da falência, mas situava, prioritariamente,
como ponto essencial, o instituto da “Recuperação da Empresa”.

Em razão da proposta da IASP, o anteprojeto do Ministério da Justiça sofreu substanciais alterações, que
acabou se transformando em Projeto de Lei, de iniciativa do Poder Executivo e que foi encaminhado à
Câmara Federal, resultando no PROJETO DE LEI 4376, de 1993.

Na Câmara Federal foi nomeado Relator o Deputado Osvaldo Biolchi, que, antes de elaborar o seu
parecer, participou de inúmeras entrevistas, conferências e audiências públicas, a fim de ouvir
especialistas e entidades. Esteve inúmeras vezes em São Paulo, inclusive na OAB SP, na AASP, no IASP.

Após vários anos de estudos e debates, tendo o projeto passado por diversas Comissões, o Relator
apresentou seu Relatório que, ao final, foi aprovado pelo Plenário e, em seguida, remetido ao Senado.
No Senado, o projeto tomou o número: PROJETO DE LEI 71, de 2003.

O Projeto, no Senado, passou, também, por todas as Comissões necessárias, inclusive pela comissão de
Assuntos Econômicos CAE, onde foi seu Relator o Senador Ramez Tebet.

O Senador Ramez Tebet apresentou um extenso Relatório, de mais de uma centena de páginas, de
profundo conteúdo jurídico e econômico, remodelando o Projeto, mas mantendo a espinha central do
instituto da recuperação de empresas. Esse trabalho jurídico do Senador Ramez Tabet, por certo, servirá
de base e norte aos futuros exegetas da Lei, por seu substancioso conteúdo.

Nesse bem elaborado Relatório, dentre outras considerações, ressalte-se a enunciação de doze (12)
princípios adotados na análise do PLC n.71, de 2003 e nas modificações propostas e que,
resumidamente, assim podem ser mencionadas:

01) Preservação da empresa: Esse princípio, que é o fundamento do próprio Projeto, leva em conta
a função social da empresa, que deve ser preservada sempre que possível. É ela uma fonte geradora de
riqueza econômica e geradora de emprego e renda, “contribuindo para o crescimento e o
desenvolvimento social do País”.

02) Separação dos conceitos de empresa e de empresário: Ressalta-se que não se deve confundir a
empresa com a pessoa natural ou jurídica de que a compõe ou controla;

03) Recuperação das sociedades e empresários recuperáveis: O Estado deve dar condições e
instrumentos para a recuperação da empresa, mantendo-se, sempre que possível, a sua estrutura
organizacional ou societária;

04) Retirada do mercado de sociedades ou empresários não recuperáveis: Se de um lado, a lei


incentiva a recuperação das empresas viáveis, de outro lado, sendo ela inviável, por problemas crônicos
na atividade ou na administração da empresa, o Estado deve “promover de forma rápida e eficiente sua

"Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo, assim como a inclusão em qualquer sistema de processamento de dados. A
violação do direito autoral é crime punido com prisão e multa (art. 184 do Código Penal), sem prejuízo da busca e apreensão do
material e indenizações patrimoniais e morais cabíveis (arts. 101 a 110 da lei 9.610/98 - Lei dos Direitos Autorais).”
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retirada do mercado”;

05) Proteção aos trabalhadores: Os trabalhadores devem ser protegidos, com a procedência no
recebimento de seus créditos na falência e na recuperação judicial e devem ter instrumentos, na
manutenção da empresa, capazes de preservar seus empregos e criar novas oportunidades àqueles que
se encontram desempregados;

06) Redução do custo do crédito no Brasil: A classificação de créditos na falência deve fazer com
que haja a preservação das garantias, contendo normas precisas na ordem de classificação;

07) Celeridade e eficiência dos processos judiciais: Pretende-se que as normas procedimentais na
falência e na recuperação judicial sejam simples, dando celeridade e eficiência ao processo;

08) Segurança Jurídica: Devem ser claras e precisas as normas relativas à falência, à recuperação
judicial e à recuperação extrajudicial, para “evitar que múltiplas possibilidades de interpretação tragam
insegurança jurídica aos institutos” que podem prejudicar o planejamento das atividades empresariais;

09) Participação ativa dos credores: Os credores não podem ser meros espectadores: deverão
participar, ativamente dos processos de falência e de recuperação, para otimizar os resultados a serem
obtidos com o processo e evitar fraudes ou malversação dos recursos da empresa ou da massa falida:

10) Maximização do valor dos ativos do falido: “A lei deve estabelecer normas e mecanismos que
assegurem a obtenção do máximo valor possível pelos ativos do falido, evitando a deterioração
provocada pela demora excessiva do processo e priorizando a venda da empresa em bloco, para evitar
a perda dos intangíveis”;

11) Desburocratização da recuperação de microempresas e empresas de pequeno porte: Pretende-


se permitir, desburocratizando e desonerando o procedimento, que as microempresas e as empresas de
pequeno porte tenham ampliado o acesso à recuperação; e

12) Rigor na punição de crimes relacionados à falência e à recuperação judicial: A nova lei tipifica
a conduta da prática de atos definidos como crime, em razão da falência e da recuperação judicial,
coibindo a prática de fraudes de natureza falimentar.

Esses foram os princípios norteadores à apreciação e à análise, no Senado, do PLC n. 71/2003 e de


suas propostas modificativas.

O Projeto, após ter passado pelas Comissões da Alta Câmara, foi aprovado na sessão plenária do
Senado do dia 06 de julho de 2.004.

Ante as alterações introduzidas no Senado, o Projeto retornou à Câmara Federal em 12 de julho de


2.004, sendo que a Mesa da Câmara determinou a constituição de uma Comissão Especial integrada
pelas Comissões de Trabalho, de Administração e Serviço Público, de Desenvolvimento Econômico,

"Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo, assim como a inclusão em qualquer sistema de processamento de dados. A
violação do direito autoral é crime punido com prisão e multa (art. 184 do Código Penal), sem prejuízo da busca e apreensão do
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Indústria e Comércio, de finaças e Tributação e constituição e Justiça da Cidadania, para exame final do
Projeto.

Na sessão plenária da Câmara Federal, realizada em 14 de dezembro de 2.004, foi aprovada a


redação final do Projeto oferecida pelo Relator, Deputado Osvaldo Biolchi, sendo encaminhado à
sanção presidencial.

Em data de 09 de fevereiro de 2.005 o projeto foi sancionado pelo Presidente da República Luiz Inácio
Lula da Silva, transformado na Lei 11.101, com veto ao artigo 4º e seu parágrafo único; às alíneas “c”
do inciso I e a alínea “a” do inciso II do artigo 35, ao inciso II do parágrafo sexto do artigo 37.

Feita essa exposição sumária da origem e dos trabalhos havidos, concernentes ao projeto de reforma da
Lei de Falências, passemos a examinar, ainda que perfunctoriamente, alguns pontos dessa nova Lei.

3. RESUMO DAS PRINCIPAIS MODIFICAÇÕES CONTIDAS NA LEI 11.101/2005:

- o instituto da Concordata deixa de existir;


- é mantido o instituto da Falência, com alterações;
- é criado o instituto da Recuperação da empresa (judicial e extrajudicial);

1.1. RECUPERAÇÃO:

A Recuperação pode ser JUDICIAL ou EXTRAJUDICIAL

1.1.1. RECUPERAÇÃO JUDICIAL

OBJETIVOS DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL:

“a recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise econômico-
financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos
trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função
social e o estímulo à atividade econômica”.

QUEM PODE REQUERER A RECUPERAÇÃO JUDICIAL E COM QUE REQUISITOS:

O pedido judicial de recuperação da empresa pode ser formulado pelo devedor que:

- esteja no exercício regular de suas atividades há mais de dois anos;


- não esteja falido (ou já tenham extintas suas obrigações);
- não tenha, a menos de 5 anos, obtido a concessão da recuperação judicial; ou, tratando-se de micro
ou pequena empresa, não tenha, a menos de 8 anos, obtido a concessão da recuperação judicial; e
- que nos sócios ou controladores também não tenham sido condenados por tais crimes previstos na lei

"Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo, assim como a inclusão em qualquer sistema de processamento de dados. A
violação do direito autoral é crime punido com prisão e multa (art. 184 do Código Penal), sem prejuízo da busca e apreensão do
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falimentar.

Todos os créditos existentes na época do pedido de recuperação a ela se sujeitam, nos termos do artigo
49, à exceção de situações especiais previstas nos parágrafos quarto (crédito decorrente de
adiantamento a contrato de câmbio para exportação) e quinto (crédito de titular de posição de
proprietário fiduciário de bens móveis ou imóveis, de arrendador mercantil, de proprietário ou
promitente vendedor de imóvel cujos respectivos contratos contenham cláusula de irrevogabilidade ou
irretratabilidade, inclusive em incorporações imobiliárias, ou de proprietário em contrato de venda com
reserva de domínio) desse artigo.

MEIOS DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL

Ao comentar, em artigo publicado na revista IBEF NEWS, sob o título “Recuperação Judicial das
Empresas”, o advogado JAIRO SADDI ressalta que: “o ponto alto do projeto está exatamente nos meios
de recuperação judicial da empresa: listam-se dezesseis modos diferentes para que a empresa possa se
recuperar...”

A Lei, no seu artigo 50, fez uma enumeração sistematizada, não exaustiva, de meios de recuperação
judicial, dos quais destacamos os seguintes:

- concessão de prazos e condições especiais para pagamento das obrigações vencidas e vincendas;
- cisão, incorporação, fusão ou transformação de sociedade, constituição de subsidiária integral, cessão
de cotas ou ações, respeitados os direitos dos sócios nos termos da lei vigente;
- alteração do controle societário;
- substituição total ou parcial dos administradores do devedor ou modificação de seus órgãos
administrativos;
- concessão aos credores de direito de eleição em separado de administradores e de poder de veto em
relação às matérias que o plano especificar;
- aumento de capital social;
- trespasse ou arrendamento de estabelecimentos, inclusive a sociedade constituída pelos próprios
empregados;
- redução salarial, compensação de horários e redução de jornada, mediante acordo ou convenção
coletiva;
- dação em pagamento ou novação de dívidas do passivo, com ou sem constituição de garantia própria
ou de terceiro;
- constituição de sociedade de credores; venda parcial de bens;
- venda parcial de bens;
- equalização de encargos financeiros relativos a débitos de qualquer natureza;
- usufruto da empresa;
- administração compartilhada;
- emissão de valores mobiliários;
- constituição de sociedade de propósito específico para adjudicar, em pagamento dos créditos, os
ativos do devedor.

"Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo, assim como a inclusão em qualquer sistema de processamento de dados. A
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ADMINISTRADOR JUDICIAL; COMITÊ DE CREDORES; ASSEMBLÉIA DE CREDORES: todos eles têm sua
presença prevista tanto no processo de falência, quanto no da recuperação judicial:

(D.1) ADMINISTRADOR JUDICIAL

- O Administrador Judicial (não é mais denominado “comissário” e nem “síndico”) deve ser um
profissional idôneo, de preferência advogado, economista, administrador de empresa ou contador, ou
pessoa jurídica especializada.

- O Administrador Judicial é o responsável pelo quadro geral de credores.

- O Administrador Judicial é fiscalizado pelo Juiz e pelo Comitê de Credores, tendo por deveres os
previstos no artigo 22, incisos I letras a a i (na recuperação judicial e na falência); e II letras a a d (na
recuperação judicial) e no inciso III letras a a r (na falência).

COMITÊ DE CREDORES

A Lei, dentro da filosofia que a norteia, qual seja a de que a recuperação não é instrumento que
interessa só ao devedor, mas a todos e, principalmente, aos credores, gera mecanismos que torna ativa
a participação dos credores nos processos de recuperação judicial e na falência. O credor deixa de ser
um simples agente passivo, tornando-se um ator que deve atuar, permanentemente, através do Comitê
ou da Assembléia Geral.

A Lei não obriga a criação do Comitê de Credores, permitindo, porém, facultativamente, a sua
instituição por deliberação de qualquer das classes de credores em Assembléia Geral.

(E.1) COMPOSIÇÃO DO COMITÊ DE CREDORES

O Comitê de Credores é composto de:


- um representante da classe de credores trabalhistas;
- um representante da classe de credores com direitos reais de garantia ou privilégios especiais e
- um representante da classe de credores quirografários e com privilégios gerais.

Cada classe terá dois membros suplentes.

Em resumo, o Comitê de Credores é composto de: três membros titulares e seis membros suplentes.

(E.2) ATRIBUIÇÕES DO COMITÊ

Cabe ao Comitê, tanto no processo de recuperação judicial, quanto no de falência, uma série de atos

"Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo, assim como a inclusão em qualquer sistema de processamento de dados. A
violação do direito autoral é crime punido com prisão e multa (art. 184 do Código Penal), sem prejuízo da busca e apreensão do
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enumerados na Lei, tais como o de fiscalização das atividades e exame das contas do administrador
judicial; o de zelar pelo bom andamento do processo e do cumprimento da lei; o de comunicar ao juiz
casos de violação de direitos ou prejuízos dos interesses de credores; o de requerer a convocação da
assembléia de credores, apurar as reclamações dos interessados, dando seu parecer.

Especificamente na recuperação judicial cabe-lhe fiscalizar a administração e as atividades do devedor;


fiscalizar a execução do plano de recuperação; submeter ao juiz a alienação de bens do ativo
permanente, a constituição de ônus reais e outras garantias.

As decisões do Comitê são tomadas por maioria.

Se não houver Comitê de Credores, as suas atribuições serão exercidas pelo administrador judicial ou
pelo juiz.

ASSEMBLÉIA GERAL DE CREDORES

Cuida-se, de certo modo, de uma inovação da Lei, em confronto com o Decreto-lei 7.661/1945, dando
aos credores uma participação ativa, tanto na recuperação judicial, quanto na falência.

A grande preocupação que resulta do retorno dessa modalidade de atuação dos credores, é quanto à
mecânica de funcionamento da assembléia, principalmente quando houver uma numerosa quantidade
de credores. Sabe-se que, em simples reuniões condominiais, onde o jogo de interesse existe, há, nos
repertórios jurisprudenciais, um volume enorme de decisões, a revelar a existência de um número
grandioso de litígios advindo dessas reuniões. No caso da Assembléia de Credores, onde os interesses
são individuais de cada credor que quer, quanto mais rápido, o pagamento de seu crédito, é de se
prever reuniões tumultuadas, conflitantes e, conforme o número de participantes, de dificílima condução.
Leve-se, ainda, em conta, que a Assembléia irá apurar os votos por classe de credores, o que poderá
ser mais um motivo de litígios e cizânias.

Parece-nos que se tornará imprescindível uma urgente normatização e regulamentação específica dessas
Assembléias, como regras claras, concisas e, na medida do possível, precisas, de fácil entendimento e de
rápida aplicação, inclusive no que concerne à decisão dos temas discutidos ou de propostas
apresentadas.

(F.1) ATRIBUIÇÕES DA ASSEMBLÉIA

O artigo 35 da Lei, no item I, letras “a” a “f” (a letra “c” foi vetada) estabelece as atribuições da
Assembléia na recuperação judicial, e no item II, letras “b” a “d” (a letra “a” foi vetada) as atribuições no
processo de falência.

Dentre outras ali estampadas, podemos destacar: a aprovação, rejeição ou modificação do plano de
recuperação judicial apresentado pelo devedor; o pedido de desistência do devedor.

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(F.2) CONVOCAÇÃO

A Assembléia será convocada pelo juiz, ou a requerimento de credores que representem, no mínimo
25% do valor total dos créditos de uma determinada classe.

(F.3) COMPOSIÇÃO

A Assembléia Geral é composta por classe de credores: (i) classe dos titulares de créditos derivados da
legislação do trabalho ou decorrentes de acidentes de trabalho; (ii) classe dos titulares de créditos com
garantia real e (iii) classe dos titulares de créditos quirografários, com privilégio geral ou subordinados.

Nas deliberações sobre o plano de recuperação judicial, todas as classes de credores devem aprovar a
proposta.

(F.4) RECUPERAÇÃO JUDICIAL POSTULAÇÃO

Na recuperação judicial, a PETIÇÃO INICIAL deve ser instruída com:

I exposição das causas concretas da situação patrimonial do devedor e das razões da crise econômico-
financeira;
II as demonstrações contábeis relativas aos três últimos exercícios sociais e as levantadas especialmente
para instruir o pedido (são, portanto, quatro demonstrações contábeis);
III relação nominal completa dos credores;
IV relação integral dos empregados;
V certidão de regularidade do devedor no Registro Público de Empresas;
VI relação completa dos bens particulares dos sócios controladores e dos administradores do devedor;
VII extratos atualizados das contas bancárias do devedor e de suas eventuais aplicações financeiras de
qualquer modalidade;
VIII certidões dos cartórios de protestos;
IX a relação subscrita pelo devedor de todas as ações judiciais em que figure como parte, inclusive as
de natureza trabalhista, com a estimativa dos respectivos valores demandados.

Estando em termos a documentação exigida, o juiz:

- defere o processamento da recuperação;


- nomeia o administrador; e
- ordena a suspensão das ações ou execuções movidas contra o devedor, com as exceções que a lei
dispõe.

(F.5) APRESENTAÇÃO DO PLANO DE RECUPERAÇÃO

Publicada a decisão que deferir o processamento da recuperação, o devedor deverá, no prazo de

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sessenta (60) dias, a contar dessa publicação, apresentar o PLANO DE RECUPERAÇÃO.

O plano não pode prever prazo superior a um ano para pagamento de créditos trabalhistas e de
acidentes do trabalho, de créditos vencidos até a data do pedido da recuperação judicial.

O plano não pode prever prazo superior a 30 dias para pagamento, até o limite de cinco salários
mínimos por trabalhador, de créditos de natureza salarial vencidos nos três meses anteriores ao pedido.

O Plano de recuperação é, inquestionavelmente, o “coração” do processo de recuperação das


empresas. É ele que vai dar os caminhos, as diretrizes, o planejamento, a indicação dos meios, para que
possa ser cumprida, efetivamente, a proposta apresentada em juízo. Não se trata de um simples estudo
econômico ou de simples e formal apresentação contábil. O Plano deve cuidar, além desses temas, de
traçar regras claras de gestão, de mercado, de organização, de administração, com métodos e
cronologia razoáveis e possíveis de sua execução. Para se ter um plano a ser apresentado em juízo, a
empresa deve proceder, previamente, uma profunda auto-análise de todos os setores que compõem a
sua estrutura, os seus produtos, as repercussões locais, regionais, nacionais e até de comércio exterior
dessa sua atividade.

Qualquer credor pode manifestar sua objeção ao plano de recuperação, devendo fazê-lo no prazo
decadencial de 30 (trinta) dias contado da publicação da relação de credores.

Após a juntada do plano aprovado pela Assembléia Geral de Credores, ou decorrido o prazo de 30 dias
acima aludido, o devedor deve apresentar as certidões negativas de débitos tributários, nos termos dos
artigos 151, 205 e 206 do Código Tributário Nacional.

A Lei, de outro lado, inova, no parágrafo único, artigo 0, ao prever a INEXISTÊNCIA DE SUCESSÃO,
inclusive em relação às obrigações trabalhistas e às tributárias do arrematante nas obrigações do
devedor, se o plano de recuperação judicial envolver alienação judicial de filiais ou de unidades
produtivas isoladas do devedor. Trata-se de medida que favorecerá a mais rápida consecução do
objetivo de recuperação.

CRÉDITOS EXTRACONCURSAIS

Por força do artigo 67 e seu parágrafo único da Lei, os créditos decorrentes de obrigações contraídas
pelo devedor no curso da recuperação judicial passam a ser considerados CRÉDITOS
EXTRACONCURSAIS, em caso de decretação da falência, com primazia na sua liquidação. O parágrafo
único, desse mesmo artigo 67, preceitua que os créditos quirografários sujeitos à recuperação judicial
pertencentes a fornecedores de bens ou serviços que continuarem a provê-los normalmente após o
pedido de recuperação judicial terão privilégio geral de recebimento em caso de decretação de falência,
no limite do valor dos bens ou serviços fornecidos durante o período de recuperação. è um incentivo aos
fornecedores para continuarem as suas relações comerciais com a empresa em recuperação,
propiciando-lhe as oportunidades comerciais necessárias a essa recuperação.

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PLANO ESPECIAL de RECUPERAÇÃO JUDICIAL DE MICROEMPRESAS E EMPRESAS DE PEQUENO
PORTE

A Lei, em seus artigos 70 a 72, cuida, especificamente, do Plano especial de recuperação judicial e
microempresas e de empresas de pequeno porte.

FALÊNCIA (algumas observações)

(I.1) CLASSIFICAÇÃO DOS CRÉDITOS

A Lei, no processo de falência, introduz alterações na classificação dos créditos, que passa a obedecer a
seguinte ordem:

I créditos derivados da legislação do trabalho, limitados a 150 salários-mínimos por credor, e os


decorrentes de acidentes do trabalho;
II créditos com garantia real, até o limite do valor do bem gravado;
III créditos tributários, excetuadas as multas tributárias;
IV créditos com privilégio especial;
V créditos com privilégio geral;
VI créditos quirografários;
VII as multas contratuais e as penas pecuniárias por infração das leis penais ou administrativas, inclusive
as multas tributárias;
VIII créditos subordinados: (a) os assim previstos em lei ou em contrato e (b) os créditos dos sócios e dos
administradores sem vínculo empregatício.

(I.2) OBRIGAÇÃO LÍQUIDA VALOR MÍNIMO A PARTIR DO QUAL SE ENSEJA O PEDIDO DE FALÊNCIA

A falência só será decretada se comprovado o não pagamento, no vencimento, de obrigação líquida


materializada em título (ou títulos) protestado (s), cuja soma ultrapasse (m) o equivalente a quarenta (40)
salários mínimos na data do pedido de falência (os credores poderão se reunir em litisconsórcio, para
perfazer esse limite).

(I.3) PRAZO PARA CONTESTAR O PEDIDO DE FALÊNCIA (ou pagar, ou garantir)

Passa a ser de DEZ DIAS, nos termos do artigo 98, e não mais de vinte e quatro (24) horas, como
determinado no revogado decreto-lei 7.661/45.

Aquele que requerer a falência, por dolo, está obrigado a indenizar.

RECUPERAÇÃO EXTRAJUDICIAL

Trata-se de modalidade que permite ao devedor, mediante negociação direta com seus credores,
promover a sua recuperação, extrajudicialmente, levando-a porém à homologação judicial.

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Na recuperação extrajudicial:

O devedor pode selecionar os credores que ficarão sujeitos à recuperação;


Essa sistemática não se aplica aos titulares de créditos tributários, trabalhistas e por acidente de trabalho
não se aplica, também, aos créditos indicados no parágrafo terceiro do artigo 49 no inciso II do artigo
86 (ACC);
Só os credores que aderirem, expressamente, ao plano é que ficarão sujeitos aos seus efeitos;
O plano deverá ser homologado judicialmente.

Ressalte-se que a não homologação judicial do plano de recuperação extrajudicial não autoriza a
convolação do pedido em falência.

DISPOSIÇÕES PENAIS

A Lei define os delitos falimentares, no Capítulo relativo aos crimes trazendo novos tipos de infração
penal.

Tais crimes podem advir dos processos de falência, da recuperação judicial ou da homologação da
recuperação extrajudicial.

Os delitos falimentares estão tipificados nos artigos 168 a 178 (fraude a credores; contabilidade
paralela; violação de sigilo empresarial; divulgação de informações falsas; indução a erro;
favorecimento de credores; desvio, ocultação ou apropriação de bens; aquisição, recebimento ou uso
ilegal de bens; habilitação ilegal de crédito; exercício ilegal de atividade; violação de impedimento;
ocultação dos documentos contábeis obrigatórios).

PROCEDIMENTO PENAL

Os artigos 183 a 188, da Lei, disciplinam e ordenam o procedimento penal, dizendo competir ao juiz
criminal da jurisdição onde tenha sido decretada a falência, concedida a recuperação judicial ou
homologado, o plano de recuperação extrajudicial, conhecer e decidir da ação penal, pelos crimes
previstos na lei falimentar. Define-os, ainda, como crimes da ação penal pública incondicionada.

DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS

A Lei introduz norma explicitando que ela não se aplica ao processo de falência ou da concordata
ajuizando anteriormente à sua vigência.

Consta de suas disposições transitórias, que o pedido de concordata não obsta o pedido de
recuperação judicial.

Foi estabelecido um período de “vacatio legis” de 120 dias, a partir da publicação da Lei. A Lei foi

"Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo, assim como a inclusão em qualquer sistema de processamento de dados. A
violação do direito autoral é crime punido com prisão e multa (art. 184 do Código Penal), sem prejuízo da busca e apreensão do
material e indenizações patrimoniais e morais cabíveis (arts. 101 a 110 da lei 9.610/98 - Lei dos Direitos Autorais).”
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publicada em edição extra do dia 09 de fevereiro de 2.005. A data de início da vigência da Lei 11.101,
de 09/02/2.005, é o dia 10 de junho de 2.005.

4. CONCLUSÃO

Esta visão geral é uma exposição extremamente resumida da nova Lei de Falência e de Recuperação de
Empresas.

Trata-se de uma Lei que, por certo, será um marco vanguardista na legislação brasileira, ao adotar
institutos modernos, capazes de adequar a economia nacional, com o objetivo de fazer gerar, com
permanência, produtos, empregos, e administrações organizadas, tudo na busca maior do interesse
social.

De outro lado, abre-se um novo campo de trabalho profissional para aqueles que se dedicarem ao
estudo e à prática da matéria, tanto a advogados, quanto a administradores de empresas, economistas,
contadores, negociadores, mediadores ou gestores de negócios.

A idéia de elaboração deste livro é a de se destinar aos operadores do direito, magistrados, advogados,
membros do Ministério Público, bem como aos empresários, contadores, economistas, consultores,
peritos, com o intuito de colaborar na compreensão dos altos objetivos da nova Lei e para que, ao
contrário daqueles que apresentam uma visão negativa da mesma, possa ela se tornar um eficaz e
eficiente instrumento de preservação das empresas, em benefício não só da economia nacional, mas e
principalmente, do interesse social, com a permanente busca da preservação e do aumento de emprego
e da produção de bens, serviços, tributos e das demais atividades de interesse a coletividade.

Não posso, por fim, deixar de mencionar que o Instituto dos Advogados de São Paulo-IASP e os seus
operosos membros, por seu trabalho pioneiro nos idos de 1991, merecem um registro especial, tendo
mostrado ser aquele centenário sodalício um permanente campo fértil para o trabalho e o
desenvolvimento científico do direito.

São Paulo, fevereiro de 2.005

RUBENS APPROBATO MACHADO

(OBSERVAÇÃO: O presente trabalho compõe o CAPÍTULO DE INTRODUÇÃO do LIVRO SOBRE A


NOVA LEI DE FALÊNCIAS PRODUZIDO PELOS ADVOGADOS DO ESCRITÓRIO “APPROBATO
MACHADO ADVOGADOS”, editado pela Editora Quartier Latin).

"Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo, assim como a inclusão em qualquer sistema de processamento de dados. A
violação do direito autoral é crime punido com prisão e multa (art. 184 do Código Penal), sem prejuízo da busca e apreensão do
material e indenizações patrimoniais e morais cabíveis (arts. 101 a 110 da lei 9.610/98 - Lei dos Direitos Autorais).”
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