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Apostila de Software Livre

e assuntos correlatos

DCE-Livre da USP “Alexandre Vannucchi Leme”


Sumário
1 Introdução 4
1.1 Hardware . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.2 Software . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6

2 O que é o software livre 9


2.1 Vantagens . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
2.2 História do movimento pelo Software Livre . . . . . . . . 14
2.3 Instrumentos legais que os regulamentam . . . . . . . . . 18
2.4 Distribuições GNU/Linux . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
2.5 Ambientes gráficos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
2.6 Mitos e equı́vocos que cercam o Software Livre . . . . . . 26
2.7 Equivalentes aos softwares proprietários conhecidos . . . . 30

3 Formatos livres de arquivos eletrônicos 43


3.1 ODF-Open Document Format . . . . . . . . . . . . . . . 45

4 TV Digital 48

5 Inclusão Digital 50

6 Licenças Creative Commons 50

7 Construção colaborativa de conteúdo 50


7.1 Wikipédia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50

8 Certificação Eletrônica 50

9 Casos de sucesso em uso de Software Livre 51


9.1 Poder público e grupos polı́ticos . . . . . . . . . . . . . . 51
9.2 Movimentos Sociais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
9.2.1 Entidades Estudantis . . . . . . . . . . . . . . . . 52
9.3 Empreendimentos solidários . . . . . . . . . . . . . . . . 52
9.4 Empresas do capitalismo tradicional . . . . . . . . . . . . 52

10 Conclusão 52
DCE-Livre-USP “Alexandre Vannucchi Leme”
4 Gestões 2006/7(Camarão) e 2007/8(Vez e Voz)

1 Introdução

Tradicionalmente, o Movimento Estudantil (ME) discute e mobiliza-se em


torno de assuntos ligados às lutas pela qualidade do ensino, às diversas
formas de opressão praticadas contra alguns grupos de pessoas, à defesa
de patrimônios públicos constantemente ameaçados por interesses priva-
dos e discussões polı́tico-filosóficas de toda sorte. A maioria das pessoas
interessadas nessas questões e que sonha com uma sociedade mais justa é
estudante de cursos universitários da área de Humanidades.
Dessa forma, quando é necessário discutir nesse meio um assunto de cu-
nho tecnológico, encontra-se resistência e apatia; mesmo tratando-se de
uma luta que também pode ser vista como um movimento social que quer
dar mais liberdade para as pessoas, algo que “pode tornar o mundo um
pouquinho melhor”, numa abordagem mais piegas.
Nesse contexto está incluı́da a questão do Software Livre. Quando seus(su-
as) defensores(as) procuram mostrar para integrantes de diversas lutas e
movimentos a sua importância na construção de uma sociedade mais de-
mocrática geralmente não encontram retorno adequado. Muita gente já
ouviu falar em alguns dos softwares livres mais famosos, mas não sabe o
que isso significa direito; seja fora das universidades, nos cursos de Hu-
manidades e Biológicas ou mesmo em menor escala dentro dos cursos de
Exatas.
Esta apostila foi elaborada por alguns alunos da USP que têm interesse
em ver essa questão esclarecida e aceita dentro dos movimentos estudan-
tis e sociais, sob encomenda do DCE-Livre, gestões 2006/7 (Camarão) e
2007/8. Autor: Francisco José Alves1 “Zeppelin” “laranjatomate” (EESC).
Colaboradores:
Pode-se copiar e distribuir o presente material de acordo com as licenças
C
Creative Commons nc-nd-sa $ = , conforme será explicado em
\

detalhes na seção 6.
Esta apostila foi elaborada usando-se exclusivamente softwares livres, e
não tem o objetivo de ser um curso que os ensine a usar, mas apenas mos-
trar questões filosóficas, sociais, polı́ticas, econômicas e estratégicas por
trás desse assunto técnico.

1 laranjatomate@yahoo.com.br
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1 - Introdução 5

1.1 Hardware

Sem entrar em demasiado em detalhes técnicos, vamos começar expli-


cando um pouco do funcionamento dos computadores. Apesar de enfa-
donho para quem não é aficcionado(a) pela área, tais conhecimentos serão
úteis para compreender o que será discutido adiante.
Basicamente, um computador é uma máquina que faz cálculos. Ela pega
os números em determinado lugar, faz os cálculos necessários e coloca os
resultados em outro lugar. Por isso que em francês tal máquina é deno-
minada ordenateur. Quem já viu nos escritórios de Contabilidade antigas
calculadoras mecânicas acionadas por manivela, que em seus mecanismos
levavam dos números teclados aos resultados das somas/subtrações/multi-
plicações/divisões pode imaginar com um pouco mais de facilidade o que
acontece dentro de um computador; pois a diferença é que ao invés de com-
ponentes mecânicos o que se movimenta são pequenas cargas elétricas, em
um ritmo muito mais acelerado.
Como qualquer equipamento eletrônico, computador é “tapado”, “pau-
-mandado”. Ele faz exatamente o que o(a) programador(a) manda, sem
questionar, sem perceber falhas humanas de programação. Tarefas como
escolher os melhores tamanhos de letras e margens para a editoração de um
jornal, ou exibir um objeto girando e pulando no monitor, são resultado de
operações que geralmente demandam milhares de cálculos por segundo e
são orientados por pedidos do(a) usuário(a) e pelo que já foi programado.
Os programas, os dados de entrada e de saı́da são armazenados em meio
eletrônicos de forma binária, ou seja, na forma de zeros e uns. A combina-
ção deles representa letras, números e outros sı́mbolos. Cada 0 ou 1 pode
ser representado pela orientação de uma partı́cula magnética num disquete,
pela presença ou ausência de luz por determinada fração de segundo em
uma fibra ótica ou de pulso elétrico em um fio, pela existência ou não de
uma marquinha microscópica na superfı́cie de um CD que permite ou não a
reflexão do LASER incidente. Poder-se-ia ainda convencionar que um grão
de feijão significa 0 enquanto o grão de milho representa 1 e convencionar
que 01100001=a 01100010=b e por aı́ vai para que um texto pudesse ser
representado por uma sequência de grãos dispostos sobre uma superfı́cie
qualquer.
No sistema binário (com base 2 ao invés do 10 ao qual estamos acostu-
mados/as), 01100001=97 pois 97 = 9 × 10 + 7 que na base binária fica
1 × 26 + 1 × 25 + 0 × 24 + 0 × 23 + 0 × 22 + 0 × 21 + 1 × 20 . Nos
computadores, a letra “a” minúscula é tratada pelo código 97. Os 8 bits
DCE-Livre-USP “Alexandre Vannucchi Leme”
6 Gestões 2006/7(Camarão) e 2007/8(Vez e Voz)

utilizados para armazenar um byte permitem 256 combinações, que têm


outros usos além das letras, números e sinais de pontuação. Podem por
exemplo representar 256 tonalidades de vermelho, verde ou azul, permi-
tindo 2563 = 224 = 16777216 cores diferentes. Cada pixel (pequeno
quadrado com uma única cor, pode-se perceber dando um zoom numa fi-
gura digitalizada que trata-se de um mosaico) precisa portanto de 3 bytes
para seu armazenamento.
Da mesma forma, músicas são armazenadas nos CDs convencionais como
uma tabela com a posição da pelı́cula da caixa de som armazenada com
16 bits (216 = 65536 combinações) atualizada a 44100 vezes por segundo
(cálculos complicadı́ssimos provam que assim o ouvido humano pratica-
mente não percebe diferença entre o CD e a música de verdade).
Os formatos JPEG para figuras e MP3 para músicas permitem que se ocupe
um espaço muito menor nos dispositivos de armazenamento de dados,
graças a transformações matemáticas que permitem descrever mudanças
de cor e vibrações sonoras através de equações. As fórmulas que ocupam
menos espaço exigem mais do computador na hora de exibir o que quere-
mos.

1.2 Software
Há várias formas de se programar um computador. Há a programação em
alto e baixo nı́vel (que não tem nada a ver com caráter, moral ou vulga-
ridade). A programação de alto nı́vel pode ter programas compilados e
interpretados. O mais comum é ver softwares compilados programados
em alto nı́vel, e nessa categoria reside a diferença entre software livre e
proprietário.
A programação em alto nı́vel é feita através da elaboração de um código-
-fonte com instruções que o computador deve obedecer quando o pro-
grama estiver executando. Quando o porgrama é compilado, o código-
fonte é transformado em outra forma de arquivo binário que só é com-
preendida pelo próprio equipamento e por quem entende de compiladores.
Nos programas interpretados tais instruções, compreensı́veis para os(as)
programadores(as), são lidas diretamente pelo processador, levando a pro-
gramas um pouco mais lentos na sua execução. Costuma-se dizer que o
código-fonte é uma espécie de receita de bolo, con uma série de instruções
para se reazlizar uma determinada tarefa. Em Computação, essa séria de
instruções dadas a uma máquina ou pessoa para resolver determinado pro-
blema de forma sistematizada é chamada de algoritmo.
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1 - Introdução 7

Há ainda a programação em baixo nı́vel, que consiste em criar um pro-


grama diretamente com ordenando os bits de forma compreensı́vel para
o hardware existente. É uma tarefa semelhante à da engenharia genética,
pois há 4 bases nitrogenadas (A, T, C, G) que podem corresponder a 2 bits
cada, que são alteradas e transportadas entre espécies para dar origem a no-
vas formas de seres vivos transgênicos. As instruções do DNA coordenam
a construção e o funcionamento de determinado organismo, como nenhum
“Criador” deu para os humanos o fonte da “compilação” de nenhum de-
les, faz-se programação em baixo nı́vel na programação dos seres vivos,
levando a criaturas com novas estruturas anatômicas e funcionamentos fi-
siológicos.
Da mesma forma que o DNA se replica praticamente sem prejuı́zo à estru-
tura original (aı́ reside uma das causas do envelhecimento e deterioração
das células), os arquivos eletrônicos podem ser copiados indefinidamente
sem perder sua qualidade, desde que o meio fı́sico (disquete, CD, pen-
drive) não seja danificado. A informação e o conhecimento, bens in-
tangı́veis, quando copiados não privam do seu uso a pessoa que o forneceu
para cópia. Ambos continuam com informações e arquivos perfeitos em
mão.
Nos primórdios da Computação, haviam poucos computadores em opera-
ção no mundo todo. Houve gente importante do setor que chegou a dizer
na década de 1970 que é ridı́cula a idéia de ter um computador em casa,
ou ainda que o mundo teria mercado para apenas 5 ou 6 máquinas, nos
anos 1960. Tais máquinas foram concebidas inicialmente para ajudar em
tarefas de Engenharia que exigem milhões de cálculos em curto espaço
de tempo, ou ainda para o trato com grandes bancos de dados, sendo útil
para governos e grandes corporações em geral, especialmente bancos. Sua
transformação em máquina de escrever de luxo ou eletrodoméstico de en-
tertenimento foi um acidente.
Naqueles tempos, o software era livre, ou seja, seu código-fonte não era
escondido a sete chaves como autalmente. Havia interesse em vender o
equipamento e era interessante para os fabricantes que houvessem mais
programas para elas e gente trabalhando no desenvolvimento deles. Não
havia venda de software como atualmente. Em 1978, Bill Gates publi-
cou um artigo em uma revista cientı́fica fazendo apologia ao modelo de
software proprietário, incentivando as empresas desenvolvedoras de soft-
ware a vender direitos de uso sobre eles e restringir o acesso aos fontes
aos limites da empresa. Sua sugestão foi aceita pela indústria e, aliada
à popularização dos computadores pessoais nos anos 1980 fez com que a
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8 Gestões 2006/7(Camarão) e 2007/8(Vez e Voz)

população considerasse natural a possibilidade de adquirir apenas o direito


de uso do programa pronto, mesmo que em condições mais desfavoráveis
que aquelas verificadas quando não havia restrição de acesso aos fontes.
Esse modelo ajudou algumas empresas a se fixar e crescer no mercado.
Para não caracterizar aquela cena em que o Seu Madruga explica ao Chaves
o jogo de boliche enquanto o menino fica imaginando uma mesa de res-
taurante com mudas de árvores Pinus e as bolas de boliche sendo usadas
como luvas de boxe, vamos apresentar um exemplo simlpes de código-
fonte. Trata-se de um programa que calcula os dı́gitos verificadores do
CPF quando insere-se os seus 9 dı́gitos principais. Na linguagem de pro-
gramação usada, o que vem após as duas barras são comentários ignorados
pelo compilador, que servem apenas para orientar os/as programadores(as)
que lêem o código. Nota-se uma série de instruções em inglês e uma certa
sintaxe para determinar o que e quando o programa deve exibir e calcular.

//Fonte: Prof. Maurı́cio Nacib Pontuschka (PUC-SP)


//www.pucsp.br/˜tuska/2002/arquivos/extras/CPF.C
#include <stdio.h>
void main() {
char c[15];
int soma, resto, digito1, digito2, i;
printf("Entre com o n£mero do CPF:");
scanf("%s",&c);
//Cálculo do 1º dı́gito
i=0;
while (i<9) {c[i++]-=48;}
i=10;
soma=0;
while (i>1) {soma+=c[10-i]*i--;}
resto = soma % 11;
if (resto < 2)
digito1 = 0;
else
digito1 = 11 - resto;
//Cálculo do 2º dı́gito
i=11;
soma=0;
while (i>2) {soma+=c[11-i]*i--;}
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2 - O que é o software livre 9

soma += digito1 * 2;
resto = soma % 11;
if (resto < 2)
digito2 = 0;
else
digito2 = 11 - resto;
//Impressão do resultado
printf("Digitos verificadores :
%d%d",digito1,digito2);
}

Antes de começar a falar do tão esperado Software Livre é necessário ex-


plicar o que é Sistema Operacional (SO). Trata-se de um conjunto de
programas que fazem a intermediação entre os programas comuns, o hard-
ware e as ações do(a) usuário(a). Exemplos de SOs são: MS-DOS, Win-
dows (marcas registrads da Microsoft), OS/2 (da IBM), MacOS (da Apple)
e Linux (registrada por seu criador Linus Torvalds). Geralmente confunde-
se Software Livre com Linux, que é apenas o núcleo de um sistema oper-
caional livre. Há programas proprietários que funcionam sob SOs livres
e vice-versa, apesar ser mais comum a existência de softwares livres com
versão para SOs igualmente livres como o Linux.
Os cursos de Ciência da Computação têm disciplinas especı́ficas sobre o
funcionamento e a confecção de Sistemas Operacionais.

2 O que é o software livre


Muita gente confunde Software Livre com software
gratuito. A liberdade de que se trata é a de ter acesso
ao código-fonte que gerou o programa. É perfeita-
mente possı́vel haver software proprietário gratuito
(como os conhecidos sharewares de download gra-
tuito) e softwares livres pagos. Um bom exemplo é
o programa fornecido gratuitamene pela Receita Federal para elaboração
de delcarações de Imposto de Renda, que não permite o acesso ao seus
fontes para toda a população.
Pode-se pagar pelo desenvolvimento de um Software Livre, manutenção
ou treinamento de pessoal. Richard Stallman, presidente da Free Software
DCE-Livre-USP “Alexandre Vannucchi Leme”
10 Gestões 2006/7(Camarão) e 2007/8(Vez e Voz)

Foundation2 , idealizador do movimento pelo Software Livre e notável


programador, diz:

Free as in free speech, not as in free beer.

Ou seja, livre de “liberdade de expressão” e não como é entendido em


“cerveja grátis”. Para um software ser considerado livre, deve atender a
quatro requisitos:

• A liberdade de executar o programa, para qualquer propósito (edu-


cacional, comercial, lazer);

• A liberdade de estudar como o programa funciona, e adaptá-lo para


as suas necessidades. Acesso ao código-fonte é um pré-requisito
para esta liberdade;
• A liberdade de redistribuir cópias de modo que você possa beneficiar
o próximo;

• A liberdade de aperfeiçoar o programa, e liberar os seus aperfeiço-


amen tos, de modo que toda a comunidade se beneficie. Acesso ao
código-fonte é um pré-requisito para esta liberdade.

Quando o software é livre, pode-se pegar seu código-fonte através de down-


load ou outro meio qualquer e compilá-lo em casa, alterando sua progra-
mação ou não. O(a) usuário(a) tem liberdade para definir outro rumo para
o programa, não apenas aquele predeterminado pela empresa fornecedora.
Tendo a “receita do bolo” na mão hão há como cobrar royalties pelo seu
mero direito de uso. Ao contrário do software proprietário, não há proble-
mas com pirataria, pois com uma cópia de um pacote e instalação de Soft-
ware Livre pode-se instalá-lo com quantos computadores se queira sem
precisar dar satisfação ao seu time de desenvolvimento.
Há, porém, a exigência de que caso esse software seja passado adiante,
as mesmas liberdades sejam mantidas. Uma empresa pode alterar um
Software Livre sem contar nada a ninguém, mas não pode distribuir tal
alteração apenas em formato programa-pronto (binário). “Uma vez Fla-
mengo, sempre Flamengo”, a mesma regra aplica-se aos Softwares Livres.
Pode-se dizer que a GPL é uma “Licença-Flamengo”
O pai do autor principal, técnico em Contabilidade, sempre aconselhava
seus filhos a não corrigir/revisar os próprios textos; pois já o tendo em
2 <http://www.fsf.org>
Apostila de Software Livre e assuntos correlatos.
2 - O que é o software livre 11

mente, junto de determinados vı́cios fica mais difı́cil encontrar erros. Quem
é contabilista sabe disso e passa seus lançamentos contábeis para outra pes-
soa conferir. Da mesma forma, os Softwares Livres estão à disposição de
um número muito maior de programadores e programadoras ao redor de
todo o planeta, que vêem a vida de formas diferentes, que passaram por
diversas experiências. Erros que “passam batido” por quem criou um pro-
grama em uma localidade podem ser facilmente detectados e corrigidos
por pessoas de outro lugar. As vantagens de usar Software Livre serão
mais detalhadas adiante.
Còdigo-fonte é como receita de bolo. Sendo livre, quem é alérgico a glúten
pode livrar-se a tempo de um bolo com farinha de trigo e tentar fazer um
semelhante com fécula de mandioca ou batata. Quem é vegano (não con-
some nada de origem animal) pode criar uma “versão” sem ovos do mesmo
prato se tiver acesso à receita. Alternativas que não existem quando há um
“monopólio” por parte da padaria ou restaurante.
Há também no Software Livre a ausência de restrição no acesso ao co-
nhecimento, o que é especialmente grave quando as empresas vendedo-
ras de software proprietário aproveitam-se do conhecimento acumulado
pos séculos para produzir algo fechado. Com o Software Livre pode-se
começar onde outra pessoa parou, sem e necessidade de desenvolver al-
guma aplicação especial a partir do nada.

2.1 Vantagens
Apesar da pouca preocupação com o respeito a direitos autorais e com a
pirataria no Brasil, a primeira vantagem enxergada no Software Livre é
a redução de custos para seus/suas usuários(as). Mesmo tendo elevados
custos na migração de seu parque de máquinas e no treinamento de seu
pessoal, na pior das hipóteses ganha-se a longo prazo quando deixa-se de
realizar pagamentos vultosos para grandes corporações que vivem de ven-
der licenças de software proprietário, pois tais atualizações para versões
mais recentes são periódicas.
Nada impede também que alguém cobre pelo custo do mı́dia (CD virgem
por exemplo), do tempo de cópia, do transporte, etc.; e venda CDs com
Softwares Livres. A única exigência é manter a liberdade que se teve e
incluir o código-fonte no pacote ou ao menos da uma indicação de onde
pode-se fazer o download deles.
Admitamos que órgãos fiscalizadores não têm interesse em punir “peixes
pequenos” como pessoas fı́sicas que têm softwares proprietários piratas em
DCE-Livre-USP “Alexandre Vannucchi Leme”
12 Gestões 2006/7(Camarão) e 2007/8(Vez e Voz)

casa, inclusive porque precisariam dar-se ao trabalho de obter uma ordem


judicial para violar uma residência. Não faz sentido adotar um discurso
moralista que exalte a honestidade, o “dar a César o que é de César” ou
mesmo que insinue que pirataria de software é roubo. Deve-se incenti-
var o uso do Software Livre nos pequenos estabelecimentos e residências
exltando-se suas outras qualidades.
Já que foi falado em pirataria, roubo e moralismo; pode-se dizer que com
o Software Livre há uma honestidade em mão dupla. Não apenas o/a
usuário(a) deixa de ser desonesto(a) com o fabricante mas a empresa ou
coletivo desenvolvedor é honesta ao fornecer um software transparente,
que pode ser auditado. Se uma falha de segurança for descoberta, ela pode
ser consertada em pouco tempo e uma versão à prova daquela vulnerabi-
lidade pode ser lançada em pouco tempo. No software proprietário, não
se sabe quais procedimentos estão imbuı́dos em sua programação, que foi
feita para atender a maioria dos(as) usuários(as). Nada garante que não
haja uma “treta” que faça algo que o/a usuário(a) não aprovaria, ou ainda
que alguma caracterı́stica inovadora está sendo guardada para a próxima
versão (para que tenham mais produtos para vender) quando poderia ser
implementada já.
Com Software Livre não há tanta dependência em relação às empresas
fornecedoras. Alguém que, por exemplo, planta abobrinha e não sabe pro-
gramar, pode encomendar um software livre para gerenciar sua produção.
Se o programna for proprietário e houver um desentendimento entre as
partes, ou o(a) responsável pelo desenvolvimento do programa morre ou
fecha sua empresa; o(a) cliente fica desamparado(a). Sendo livre, pode-se
trocar de fornecedor de serviços de programação/desenvolvimento quando
necessário. Pode-se ainda levar os códigos-fonte para outra pessoa que
tenha uma plantação de chuchu e deseja informatizar suas atividades. O
programa feito para gerenciar plantação de abobrinha pode ser alterado
para as particularidades da cultura de chuchu sem que seja necessário rein-
ventar a roda, ou seja, escrever outro software a partir do nada.
Já que o presidente Lula tenta explicar muita coisa fazendo metáforas fu-
tebolı́sticas e o autor principal é engenheiro mecânico, vamos a algumas
comparações com o automobilismo: Software proprietário é uma caixa-
preta. Usá-lo corresponde a tomar um táxi de olhos vendados; pois chega-
se ao destino pretendido sem saber se haveria uma forma mais prática,
rápida, segura e barata de fazê-lo. Falhas descobertas em Softwares Li-
vres importantes costumam ser reparadas em dias ou memso horas! Não
se varre a poeira para debaixo do tapete, costuma-se alertar toda a comu-
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2 - O que é o software livre 13

nidade da descoberta da falha e do trabalho em torno do desenvolvimento


de uma solução. Por não ser possı́vel modificar e adaptar o software pro-
prietário e o(a) usuário(a) ficar à mercê da boa vontade da empresa desen-
volvedora; pode-se compará-lo a um automóvel com capô soldado. Um(a)
engenheiro(a) que não seja dessa empresa não pode abrir o capô para ver
como é o motor nem abaixar a suspensão ou o cabeçote, converter para
álcool ou gás natural, colocar vidro escuro, ou algo que o valha.
É interessante que a população reclamaria muito se essas coisas aconte-
cessem no mundo automobilı́stico, mas não reclama quando acontece no
mundo do software!
Os Softwares Livres também são passı́veis de permitir que se chegue a
usos inusitados em relação à idéia original, para ter flexiblidade e rece-
ber novas funcionalidades especı́ficas que são necessárias a uma pequena
fatia do mercado. Nesse caso pode-se pagar para uma empresa ou pro-
gramador(a) adaptar o software à necessidade de cada cliente, afinal não
são todos(as) que sabem programar. A diferença é que nesse modelo o(a)
cliente não é dependente de um único fornecedor, de um monopólio, que
tem poder para estabelecer regras escorchantes.
Uma luta importante que deveria ser construı́da principalmente por movi-
mentos polı́tico-partidários é pelo uso de Software Livre nas urnas eletrônicas.
Atualmente não temos conhecimento de seus métodos internos de funcio-
namento, tal equipamento não pode ser auditado.
O ideal seria disponibilizar o código-fonte dos seus softwares para todo o
público. Fiscais representando os partidos polı́ticos analisariam os fontes
para atestar sua lisura. Tais softwares seriam compilados em uma sessão
pública. O programa compilado seria instalado nas urnas, que seriam
lacradas também na presença desses(as) fiscais e de quem se interessar.
Chaves de autenticação3 seriam geradas para reforçar a prova de que o
programa instalado naquela sessão pública não foi alterado em baixo nı́vel
nem foi substituı́do.
Alguns milhões de Reais de eventuais gastos adicionais não fariam muita
diferença, dada a importância de ter-se eleições honestas. O Governo deve
exigir isso nos editais para fornecimento das urnas eletrônicas. Não pre-
cisamos voltar às cédulas de papel (como pedia Leonel Brizola em seus
últimos meses de vida) só por causa dessas desconfianças atuais em relação
ao nosso processo eleitoral.
3 Métodos matemáticos baseados na multiplicaç ão de múmeros primos muito grandes po-
dem provar a autenticidade e autoria de arquivos eletrônicos. Os Governos Federal e alguns
estaduais estão investindo em certificação eletrônica (seção 8)
DCE-Livre-USP “Alexandre Vannucchi Leme”
14 Gestões 2006/7(Camarão) e 2007/8(Vez e Voz)

Por incrı́vel que pareça, o uso de Softwares Livres também pode ser fa-
vorável ao meio ambiente. O modelo de software proprietário incentiva a
obsolescência programada, que é a necessidade de atualizar o hardware
para acompanhar os “avanços” do software. O descarte de computado-
res antes do real fim da sua vida útil faz com que a energia e os recur-
sos naturais (alguns deles tóxicos) usados em sua fabricação sejam sub-
aproveitados, além de acelerar o seu ciclo de consumo e contribuir com a
poluição da água e do solo por baterias e géis de capacitores. Seguindo o
lema do projeto USP Recicla, que diz que deve-se “reduzir, reutilizar e em
último caso enviar para reciclagem”; usar softwares mais “enxutos” e que
não sejam tão exigentes (a flexibilidade do Software Livre permite isso)
permite um substancial aumento na vida útil desses equipamentos, bem
como o “retorno à vida” de muitos deles que estavam esquecidos. A ONG
Meta Reciclagem4 , com sua princpal sede em Santo André-SP e “filiais”
em diversas cidades, usa do conhecimento técnico de pessoas engajadas
na luta pela popularização do Software Livre para revitalizar (termo muito
comum na boca dos/as polı́ticos/as atualmente) computadores descartados
e direcioná-los para projetos sociais e de inclusão digital.
O lançamento periódico de novas versões de determinado software pro-
prietário pode trazer (e geralmente traz) outra armadilha: aos poucos criam-
se versões de programas e arquivos incompatı́veis entre si, de forma a
impedir que arquivos elaborados em softwares antigos sejam lidos nas
versões mais atuais do mesmo, o que força parte da população a ter (quer
seja comprando ou pirateando) a última palavra em determinado software
para poder comunicar-se adequadamente. Não parece, mas o desenvolvi-
mento de Softwares Livres sempre é feito buscando-se a compatibilidade,
inclusive retroativa.

2.2 História do movimento pelo Software Livre


Em 1983, o fı́sico Richard Matthew Stallman, ati-
vista em lutas por liberdades civis e individuais
nos EUA; deparou-se com um problema técnico
na impressora Xerox do seu local de trabalho: as
retas impressas por ela estavam em formato leve-
mente ondulado. Tendo conhecimento em e gosto
por programação de computadores, requisitou ao
4 <www.metareciclagem.org>

Richard Stallman
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2 - O que é o software livre 15

fabricante o código-fonte do driver5 dessa impres-


sora, dizendo que tinha conhecimento técnico para
resolver o problema e de quebra disponibilizá-lo
para todos(as) os(as) seus/suas clientes ao redor do mundo. Seria bom
para ele, para os/as demais clientes e para o fabricante, que infelizmente
negou-lhe o acesso às instruções que geram tal driver e também não o con-
sertou por conta própria.
Diante desse fato Richard percebeu a importância de lutar para que o soft-
ware voltasse a ser livre e começou um projeto ambicioso: desenvolver
todo um SO com diversas ferramentas úteis para tarefas informatizadas
que fosse livre. Tal desenvolvimento deveria ser feito from scratch, ou seja,
a partir do zero, sem “chupinhar” código-fonte de nenhum outro prorgama
proprietário.
Em 1985 foi fundada a Free Software Foundation, com sede em Boston,
Massachussets, EUA.
Stallman começou sua empreitada sozinho, depois com ajuda de colegas de
trabalho do MIT, onde desenvolvia sua pós-graduação. O primeiro projeto
foi de um editor de texto chamado Emacs, que quando ficou razoavem-
lente usável foi prontamente disponibilizado para download no servidor
FTP (File Transfer Protocol, muito usado para uploads e downloads) da
instituição. Havia também a opção de comprar uma fita magnética com
o programa e seu código-fonte, útil para quem não tinha conexão com a
Internet na época. O preço pode parecer salgado (US$ 150) para um pro-
grama que poderia ser baixado gratuitamente, mas trazia a vantagem de
dar liberdade de estudo e desenvolvimento de novas funcionalidades ao
editor.
Com o tempo, mais colaboradores(as) juntaram-se a esse e a outros proje-
tos de Softwares Livres que foram surgindo, tendo na expansão da Internet
uma grande aliada. A existência de um repositório de código-fonte que
está à disposição de qualquer um(a) em qualquer lugar do mundo agiliza
muito a troca de informações e o desenvolvimento em si.
Os sistemas operacionais usados por Richard Stallman e pelas pessoas ini-
cialmente envolvidas no seu projeto eram diversos tipos de Unix. Esse SO
é mais robusto, seguro, complexo, difı́cil de operar e dotado de alguna re-
cursos que o MacOS, Windows ou o MS-DOS por exemplo; não têm. Os
Unices são usados com mais freqüência em servidores de bancos de dados
ou de acesso à Internet, ou ainda em áreas tecnológicas de universidades.
5 Em Computação, trata-se de programas especı́ficos que definem as regras de
comunicação de um determinado hardware com o sistema operacional e os demais programas
DCE-Livre-USP “Alexandre Vannucchi Leme”
16 Gestões 2006/7(Camarão) e 2007/8(Vez e Voz)

Os outros SOs mais fáceis de operar sempre foram os preferidos dos(as)


“mortais”.
Stallman escolheu o gnu, um antı́lope africano, para ser o mascote do mo-
vimento. O sistema operacional livre idealizado por ele é chamado de
GNU, que significa (Gnu is Not Unix). É um acrônimo, uma brincadeira
como o nome do animal, que serve par lembrar que seu projeto é uma
coisa, e os Unices em geral são outra. O sistema operacional GNU tem
sua estrutura, comandos e modos de funcionamento semelhantes ao dos
Unices existentes.
Aı́ reside uma das principais causas de resistência na migração para Soft-
ware Livre: Deve-se aprender a usar algum Unix. O próprio Linux é uma
espécie de Unix. Quem idealizou o Software Livre não quis fazer algo ex-
ternamente semelhante ao MS-DOS ou ao Windows 3.1.
À exceção da pouca familiaridade de muita gente com os Unices e ao pe-
queno alcance da Internet no fim dos anos 1980, tudo ia muito bem. Faltava
um pequeno detalhe para que fosse possı́vel usar um computador exclusi-
vamente com software livre: uma peça chamada kernel! Faltava a cereja
no bolo, a parte principal do SO. Em 1991, um formando de Ciência da
Computação finlandês chamado Linus Benedict Torvalds estava com pro-
blemas que viriam de encontro às necessidades do projeto GNU: ele queria
estudar profundamente a arquitetura dos microprocessadores 80386, usar
um Unix no seu PC (só havia MS-DOS e Windows 3.x para IBM-PC 386
na época) e não ser obrigado a atravessar ruas cheias de neve para che-
gar ao equivalente da Sala Pró-aluno6 da Universidade de Helsinki para
acessar a Internet; uma vez que poderia acessar o servidor via linha te-
lefônica se pudesse curtir tudo o que um Unix pode oferecer em casa.

6 Chamada de LIG (Laboratório de Informática para Graduação) na UFSCar e de Pólo na


Unesp
Apostila de Software Livre e assuntos correlatos.
2 - O que é o software livre 17

Ele começou a desenvolver um kernel, que quando


tinha um mı́nimo de usabilidade (agosto) foi di-
vulgado num newsgroup7sobre SOs. Ele anunciou
que esse kernel seria disponibilizado de acordo
com a Licença Geral Pública da Free Software
Foundation não pelo mesmo altruı́smo e idea-
lismo que movem Richar Stallman, mas por en-
xergar nesse modelo de desenvolvimento vanta-
gens técnicas. Teria na mão seu Unix para 80386
em menos tempo, também poderia contar com um
Tux, o pingüim- produto de melhor qualidade graças à colaboração
-mascote do Linux de mais gente.
Em outubro daquele ano era lançada a primeira versão estável do Linux,
cujo nome significa Linus’ Unix. O Unix do Linus. Seu desenvolvimento
e o de outros programas continuou, porém sem muita preocupação com os
usuários “mortais” até o fim dos anos 1990. Nesta década que o desenvol-
vimento de Software Livre começou a preocupar-se com os/as usuários(as)
finais, surgindo projetos de desenvolvimento de Softwares Livres para ta-
refas cotidianas de grande parte da população; para SOs livres ou não. A
seção 2.7 mostra uma tabela com Softwares Livres equivalentes aos princi-
pais softwares proprietários conhecidos para as mais diversas aplicações.
Pode-se dizer também que atualmente o Software Livre como um todo
está maduro o suficiente para atender à grande maioria das demandas de
população em geral e das empresas, havendo espaço para desenvolver o
que falta. Em alguns nichos especı́ficos, porém, o Software Livre dificil-
mente entrará.

Aos poucos pessoas que não estudam Computação nem Engenharia


Elétrica somam-se ao movimento, seja simplesmente usando Softwares
Livres, colaborando com seu desenvolvimento sem necessariamente sa-
ber programar (por exemplo, elaborando músicas, artes visuais ou asse-
sorando desenvovledores com outros conhecimentos), contribuindo com
documentação e tradução, testando versões Beta e reportando problemas
aos coletivos de desenvolvimento. Ou simplesmente militando para divlu-
gar o assunto, levar a discussão a seu respeito para fora da “torre de silı́cio”
e exigir que pelo menos os órgãos públicos e entidades sem fins lucrativos
gastem seu dinheiro com responsabilidade e não exijam de seus/suas as-
7 Neles, pode-se discutir sobre diversos assuntos, porém sem a interface gráfica bonitinha
e amigável do Orkut
DCE-Livre-USP “Alexandre Vannucchi Leme”
18 Gestões 2006/7(Camarão) e 2007/8(Vez e Voz)

sociados(as) e cidadã(o)s que usem determinados softwares e formatos de


arquivos proprietários.

2.3 Instrumentos legais que os regulamentam


O/A programador(a) tem à sua disposição
diversas ferramentas legais para proteger o
direito autoral de seus códigos sem preci-
sar escondê-los, podendo escolher a mais
adequada para cada caso. No ambiente
do Software Livre também há acordos en-
tre usuário(a) e time de desenvolvimento,
que são implicitamente aceitos quando clica-
se no botão “Next” na instalação de alguns
softwares em ambientes gráficos. Clicar
nessas opções com a inscrição “Next” ou
“aceito os termos da licença” tem o valor le-
gal de aceitar as condições de quem desenvolveu o software, seja livre ou
priprietário. A vantagem dos Softwares Livres é que suas condições não
são tãoTorvalds
Linus desfavroáveis.
A principal licença de Software Livre é a GPL (General Public License),
redigida pela Free Software Foundation. Trata-se de um texto extenso e
de difı́cil leutura (está disponı́vel em inglês no site da FSF), que diz basi-
camente que quem usa um software sob suas condições tem as 4 liberda-
des citadas e que caso o redistribua deve manter o acesso a elas. A GPL
também tem um caráter “viral” que “contamina” outros programas que re-
cebam trechos de código sob essa licença, nesse caso o novo programa
também deve ser distribuı́do pela mesma licença.
Já foi dito que nada impede que um software proprietário funcione sob SO
livre ou vice-versa. Porém o funcionamento combinado de um programa
sob GPL com um proprietário ou simplesmente com outro tipo de licenci-
amento incompatı́vel não é permitido. Mesmo tendo na FSF pessoas que
sonham com um mundo onde todos os softwares fossem livres, foi elabo-
rada uma licença ligeriamente diferente para “quebrar um galho”: a Lesser
General Public License (LGPL). Uma de suas utilidades é permitir que
bibliotecas8 livres possam ser utilizads por softwares proprietários. . Seu
8 Biblioteca é uma coleção de subrotinas que podem ser usadas por softwares distintos.
Servem para facilitar o desenvolvimento deles, poupando trabalho de desenvolver instruções
semelhantes para problemas semelhantes e espaço em disco. Por exemplo, uma biblioteca
Apostila de Software Livre e assuntos correlatos.
2 - O que é o software livre 19

objetivo é justamente permitir que softwares livres possam ser combina-


dos com módulos não-livres e vice-versa. Entretanto a FSF não estimula
seu uso, e sim o da GPL convencional, para que softwares não livres tra-
balhem em conjunto com essas bibliotecas. Tal atitude pode incentivar
o uso de Softwares Livres ou distanciar as pessoas dele, dependendo da
simpatia que determinada pessoa, grupo ou empresa nutre por ele. Outro
fator quepesa nessa decisão pode ser a existência de bibliotecas altamente
avançadas.
A terceira e última versão da GPL tem atualizações para evitar que o Soft-
ware Livre não seja vı́tima da tivoização indiscriminada. Há hardware que
só funciona se o software tiver uma determinada assinatura eletrônica, o
que impediria o uso de versões alteradas nesse tipo de equipamento. A
tivoização, porém, é desejada nas urnas eletrônicas, onde deve-se ter cer-
teza de que o programa uma vez instalado não foi alterado. As Licenças
BSD (Berkeley Software Distribuition) foram criadas a partir da dis-
cordância de algumas pessoas com as regras da GPL, que as consideram
complicadas e restritivas demais. As licenças BSD permitem que pedaços
de código de software livre possa ser adicionado em software proprietário.
Tais licenças também exigem a citação do nome de todas as pessoas en-
volvidas no desenvolvimento, mesmo quando alguma parte é incorporada
a um software proprietário. O defensores desse modelo de licenciamento
dizem nele pode-se fazer com o código mais coisas que a GPL permite,
enquanto quem defende a licença da FSF diz que a permissão de incorpo-
rar sódigo livre em programa proprietário dificulta o avanço do Software
Livre.
Os sistemas operacionais Free BSD, Net BSD e Open BSD têm suas
licenças ligeriamente diferentes. São considerados mais seguros que o Li-
nux e preferidos em algumas aplicações onde exige-se alta confiabilidae,
por razões técnicas. Também são tipos de Unix, mas devido a suas particu-
laridades não são tão apropriados para uso para pessoas leigas em tarefas
informatizadas corriqueiras.
Interessados(as) em conhecer os BSD mais profundamente podem consul-
tar:
http://en.wikipedia.org/wiki/BSD license
http://www.freebsd.org
http://www.netbsd.org
http://www.openbsd.org
com informações sobre valroes e desenhos de cartas de baralho poderia ser usada por vários
jogos de cartas.
DCE-Livre-USP “Alexandre Vannucchi Leme”
20 Gestões 2006/7(Camarão) e 2007/8(Vez e Voz)

Algumas corporações torcem o nariz para o termo Free Software e pre-


ferem Open Source. Um software Open Source têm os códigos-fonte
à disposição dos(as) usuários(as) para estudo e atestado de segurança e
lisura, mas não lhes dá necessariamente o direito de modificar e distri-
buir. Tal termo foi cunhado porque “Free Software” assuta alguns atores
do capitalismo tradicional, soa libertário demais para o gosto deles. A
Open Source Initiative <http://www.opensource.org> defende a
existência de ambos os conceitos e pode fornecer maiores informaçãoes
para quem se interessar em uma visão mais detalhada.
Softwares Livres precisam de documentação livre. Quem desenvovle
softwares geralmente não tem muita inspiração ou paciência para escre-
ver os manuais dos programas, quando eles são complexos demais para
precisar disso. Pessoas que tenham talento ou não em programação são
incentivadas a desenvolver manuais e tutoriais para Softwares Livres. A
FDL-Free Documentation License nada mais é que um meio de permitir a
livre distriubição e aperfeiçoamento de documentação em geral, não ape-
nas para Software Livre. Ter “livros” livres, mesmo que não no formato
fı́sico convencional, ajuda no aprendizado em qualquer área, dispensando
as pessoas da compra de livros caros a respeito (e existem muitos voltados
para softwares livres).
Um engano muito comum para quem não conhece as questões do Software
Livre é confundi-lo com domı́nio público. Uma obra inventiva/criativa/ar-
tı́stica sob domı́nio público não está sujeita a nenhuma regra de direito au-
toral e pode ser pega por qualquer pessoa ou empresa para qualquer finali-
dade. Geralmente trata-se de obras antigas que caı́ram em domı́nio público
devido à expiração de patentes e fazem parte do patrimônio histórico,
artı́stico ou cultural de um povo. Cantigas de roda e algumas músicas
que animam as festas juninas enquadram-se nessa categoria.
Falta falar do Copyleft. Trata-se de um trocadilho com o Copyright, onde
a expressão “direito de cópia” é trocada pelo “cópia permitida”, em inglês.
Ao invés de proibir a cópia de qualquer obra criativa sem a expressa per-
missão do(a) autor(a) ou detentor(a) dos direitos autorais, há liberdade para
cópias e adpatações. Há diferenças entre Copyleft e domı́nio público, pois
o Copyleft não é tão permissivo e exige que as mesmas liberdades sejam
repassadas e a citação do nome do(a) autor(a). A GPL e as licenças Crea-
tive Commons são Copyleft.

«
O sı́mbolo do Copyleft é o sı́mbolo de Copyright invertido horizontal-
mente.
Apostila de Software Livre e assuntos correlatos.
2 - O que é o software livre 21

2.4 Distribuições GNU/Linux


Como o Linux, o sistema operacional GNU e os demais Softwares Livres
podem ser distribuı́dos por qualquer pessoa ou empresa; algumas delas
preparam discos de instalação para permitir a instalação de um sistema
operacional completo com relativa facilidade. São como engarrafadoras.
Algumas distribuições são preparadas por empresas e outras por coletivos
formados por voluntários(as).
As centenas de distribuições existentes (nada impede que uma pessoa crie
a sua própria) têm focos e objetivos distintos. Algumas oferecem ferra-
mentas que facilitam a instalação, configuração e uso do computador. Ou-
tras, permitem um maior controle sobre a máquina e configurações mais
avançadas. Há ainda as que preocupam-se em atender a necessidades es-
pecı́ficas de algumas regiões. Outra opção que as principais distribuidoras
fazem consiste em “engarrafar” os programas na sua versão mais atual ou
escolher versões exaustivamente testadas. Alguns Softwares Livres são
atualizados uma ou mais vezes por mês, estão em constante evolução, e
essa opção pode ser muito importante dependendo da aplicação. Nada im-
pede, pois, que após a instalação do sistema operacional e dos aplicativos
a partir do disco de instalação de alguma ditribuidora sejam instalados ou-
tros softwares, livres ou não que funcionem sob o SO.
Algumas empresas não mantêm necessariamente uma determiada
distribuição, mas contribuem com seu desenvolvimento de outras formas.
Algumas doam equipamentos, dinheiro, ou chegam ao ponto de ter em-
pregados(as) pagos(as) exclusivamente para ajudar a manter determinado
software ou distribuição. Em alguns casos há interesses comerciais, como
por exemplo assegurar que determinado produto será compatı́vel com ao
menos uma distribuição.
Existem ainda as distribuições Live-CD, que praticamente não interferem
no disco rı́gido. Com um Live-CD e um computador que permita realizar
o procedimento de boot9 a partir do drive de CD, pode-se executar o SO
a partir dessa mı́dia. Apesar do funcionamento mais lento e de algumas
limitações, há a vantagem de muitas tarefas de configuração de hardware
ser automatizadas, o que é necessário nesse caso porque não se guarda ne-
nhum arquivo de configuração no disco. Após desligar o computador e
realizar o boot novamente sem o CD no drive, ele volta a executar o SO
que está instalado em seu disco rı́gido como se nada tivesse acontecido. É
um transe hipnótico.
9 O pontapé inicial, uma série de processos de inicializç ão do computador
DCE-Livre-USP “Alexandre Vannucchi Leme”
22 Gestões 2006/7(Camarão) e 2007/8(Vez e Voz)

Os Live CDs são muito úteis para conhecer o GNU/Linux sem compro-
misso, sem exigir muito espaço no disco rı́gido para sua instalação. Não se
força uma mudança drástica de paradigmas, uma pessoa pode até mesmo
usar um computador que não lhe pertença.
Vamos falar um pouco sobre as principais distribuições existentes:
Debian http://www.debian.org
O nome surgiu da fusão do nome do seu criador (Ian Murdock), com o
de sua esposa, Debra (que romântico!). Nota-se que que seu site é .org
e não .com, pois não se trata de uma empresa, mas de um grupo de pes-
soas distribuı́da ao redor do mundo que mantêm a distribuição com o seu
trabalho de desenvolvimento e “engarrafamento”. A principal marca do
Debian é a preocupação com o alinhamento à filosofia do Software Li-
vre, nenhum programa entra é empacotado em seus discos de instalação
se não for totalmente livre (algumas distribuidoras empacotam programas
proprietários). Mesmo assim, conta atualmente com mais de 18000 pro-
gramas, atualmente a distribuição completa contém 21CDs ou 3 DVDs.
Mesmo assim eles são rigorosos e só admitem versões dos softwares que
foram exaustivamente testadas e tiveram sua estabilidade comprovada, em
detrimento das últimas versões dos mesmos. É uma das distribuições mais
antigas, fundada em 1993, e algumas outras derivam dela.
Slackware http://www.slackware.com
Um sistema GNU/Linux instalado a partir dessa distribuição é o equiva-
lente de uma máquina fotográfica que usa filme e tem regulagem de aber-
tura e exposição. Não há “moleza”, muitas das configurações devem ser
feitas editando-se arquivos de configuração ao invés de escolher-se menus
e botões em ambiente mais amigável. Para pessoas mais experientes esse
caminho é mais apropriado, bem como para quem quer aprofundar-se no
conhecimento do sistema. A intenção dos seus desenvolvedores é criar
um sistema operacional mais parecido possı́vel com Unices já existentes.
Também lançado em 1993, visa a “simplicidade”, não no sentido de ser
fácil de usar por iniciantes, mas em não ter muita “firula”.
RedHat/Fedora http://www.redhat.com
Foi umas das primeiras distribuidoras com foco para o mercado corpo-
rativo, propondo-se a oferecer serviços para grandes empresas. Muitos
softwares para GNU/Linux, inclusive alguns proprietários, são feitos para
funcionar melhor ou somente com Red Hat. Após a decisão de atender
apenas os clientes corporativos, foi lançada a distribuição Fedora para o
ambiente doméstico. Curiosidade: o governo chinês criou a distribuição
Red Flag para uso interno.
Apostila de Software Livre e assuntos correlatos.
2 - O que é o software livre 23

Mandriva http://www.mandriva.com.br
Fusão da francesa Mandrake com a brasileira Conectiva. Segue uma li-
nha semelhante à da Red Hat, com o oferecimento de aplicativos e drivers
voltados para os equipamentos de hardware mais vendidos na América La-
tina, na divisão Conectiva.
SUsE http://www.novell.com/linux
Empresa alemã que atende boa parte do mercado europeu, adquirida re-
centemente pela Novell.
Gentoo http://www.gentoo.org
Também indicada para pessoas muito expeirentes, tem uma caracterı́stica
marcante: tudo é compilado, os programas não são instalados no seu
modo compilado a partir de uma mı́dia de instalação. É feito o down-
load dos códigos-fonte dos programas esoclhidos, com algumas opções de
compilação. Os programas ficam otimizados para o equipamento que se
tem, o que pode ser vantajoso quando prcisa-de desempenho.
As principais distribuições são baseadas na RedHat, Slackware ou Debian,
usando inclusive seus sistemas de pacotes de instalação.
Há alguns anos atrás a discussão sobre qual distrubição é a melhor era
mais acalorada e apaixonante, especialmente entre usuários(as) de Debian
e Slackware. “Só o (Debian/Slack) presta!” já foi dito por muita gente.
Atualmente a discussão sobre as caracterı́sticas de cada distribuição e sua
adequação para cada tarefa ainda existe e é saudável, permanecendo num
nı́vel menos agressivo que o passado.
Existem também as distribuições que usam o formato chamadao Live-
CD. Nelas, não é necessário instalar nada (ou quase) no disco rı́gido. Os
programas são carregados a partir do CD desde o inı́cio do processo de
boot e permitem uma certa funcionalidade sem maiores interferências do
computador. Apesar das limitações no desempenho dos programas, es-
sas distribuições são muito úteis para quem quer sonhecer o GNU/Linux
sem compromisso, não tem condições de migrar de SO atualmente ou
mesmo não dispõe de um computador próprio, podendo usar o Live-CD
em máquinas de terceiros(as). Quando desliga-se o equipamento e retira-
se o CD, ele volta a executar o SO instalado no disco rı́gido nas outras ve-
zes em que for ligado em o Live-CD, como se nada tivesse acontecido. É
como se fosse um transe hionótico. A úinca interferência que pode ser ne-
cessária é a instalação de um único arquivo (geralmente bem grande) para
ser usado pelo GNU/Linux como memória virtual ou uma série de arqui-
vos menores para salvar algumas configurações para o caso de utilizar-se
o Live-CD com uma certa freqüência no mesmo computador.
DCE-Livre-USP “Alexandre Vannucchi Leme”
24 Gestões 2006/7(Camarão) e 2007/8(Vez e Voz)

Entre as distribuições Live-CD, destacam-se: Knoppix (baseada no De-


bian, uma das primeiras a adotar o modelo Live-CD), Kurumin (voltada
para o público brasileiro). Ubuntu e suas variantes (Xubuntu, Edubuntu).
Ubuntu é mantida por um milionário sul-africano que chega ao ponto de
enviar gratuitamente pelo correio seus CDs para quem requisitá-los. Ali-
ada às facilidades dos Live CDs, essa facilidade de obtenção dos seus dis-
cos fez do Ubuntu uma distribuição muito popular. A palavra Ubuntu tem
diversos significados em lı́nguas tribais africanas, que vão desde “piada” a
“humanidade em direção a outros(as)”, que na explicação de Nelson Man-
dela passa a noção de referir-se e pessoa solidária, acessı́vel e hospitaleira.
Em <http://www.distrowatch.com> encontra-se uma extensa
lista de distribuições.

2.5 Ambientes gráficos


No sistema operacional Microsoft Windows, o mais conhecido e usado, a
interface gráfica é uma funcionalidade embutida que não pode ser trocada.
Nos Unices isso é diferente: há um servidor de janelas vários ambien-
tes gráficos distintos (estima-se que atualmente estejam na casa dos 50),
que sendo livres podem ser compilados em diversos SOs que seguem os
padrões do Unix. Tais ambientes gráficos têm propostas diferentes, po-
dem exigir mais ou menos recursos fı́sicos do computador, ter mais ou
menos funcionalidades (das mais essenciais àquelas considerads “firula”),
ser mais fácil de aprender a usar ou não. Há ainda a opção pessoal de cada
usuário(a), e a possibilidade de ter vários ambientes gráficos distintos num
mesmo computador para cada pessoa usar o que melhor lhe convier (basta
o hardware comportar todos eles). Pode-se mesmo usar a cada dia uma
interface diferente sem problemas com compatibilidade.
Não é apropriado colocar aqui, em preto-e-branco e no tamanho reduzido
do papel, as capturas de tela (também chamadas de screenshots) dos prin-
cipais ambientes gráficos usados no ambiente Unix. Para conhecê-los me-
lhor, deve-se visitar os seus sites para saber detalhes de suas caracterı́sticas
e ver alguns screenshots.
O site “Sao’s place. Window Managers for X11”
http://homepage.mac.com/sao1/fink/wmanagers.html
tem uma página Web com informações resumidas sobre vários ambientes
gráficos para uso em SOs livres compatı́veis com Unix. Há links para os
seus sites onde maiores informações podem ser obtidas. Comentários so-
bre alguns deles:
Apostila de Software Livre e assuntos correlatos.
2 - O que é o software livre 25

Enlightenment: altamente configurável, leve, relativamente complexo e de


difı́cil aprendizado.
GNOME <http://www.gnome.org>: GNU Network Object Model
Environment. Criado para ser uma alternativa ao KDE numa época em que
ele era mal-visto.
KDE <http://www.kde.org>: é o mais pesado, seguido de perto
pelo GNOME. Há alguns anos precisava de uma biblioteca proprietária
para funcionar e era mal visto por pessoas muito preocupadas com a filo-
sofia do Software Livre. Essa biblioteca, chamada Qt, foi liberada, o que
permitiu sua popularização. Tem muitas ferramentas de configuração que
poupam o/a usuário(a) de fuçar em arquivos-texto menos amigáveis, além
de contar com muitos recursos gráficos. Tais regalias são configuráveis
para que setenha mais ou menos “firulas”. Junto com GNOME, têm mui-
tas funcionalidades associadas, beirando um SO completo.
IceWM/FVWM/QVWM: Concebidos para ter aparência semelhante à do
MS Windows 95, para facilitar a aclimatação de pessoas acostumadas a
esse SO.
XFCE - X Free Cholesterol Environment. Feito para ser semelhante ao
GNOME na aparência, sendo porém um pouco mais leve para permitir seu
uso em computadores mais antigos.
Window Maker10 : boa relação custo-benefı́cio para quem não faz questão
de muitos efeitos especiais. Leve e ágil. Não tem a barra inferior com
acesso intuitivo aos menus, que são acessados com a tecla F12 ou com
clique do botão direito do mouse na área de trabalho. Suas configurações
podem ser editadas com aplicativo próprio ou através da manupulação de
arquivos texto para quem preferir. Compatı́vel com aplicações feitas espe-
cialmente para KDE e GNOME.
Nota-se que em muitos projetos de ambientes gráficos (há vários outros
citados no Sao’s place) há preocupação com a leveza e agilidade. Al-
guns chegam ao ponto de permitir o máximo possı́vel de funcionalidade
com o uso mı́nimo do mouse, pois algumas pessoas preferem manter suas
mãos sobre o teclado. Poucos preocupam-se na facilidade de uso para lei-
gos(as) recém-chegados(as) dos SOs proprietários. Basicamente, KDE e
GNOME são os mais recomendados para iniciantes e pessoas que não que-
rem aprofundar muito seus conhecimentos técnicos nos Softwares Livres.
Para executá-los dignamente, porém, é necessário ter recursis de hardware
paropriados, pois eles são exigentes nesse quesito.
10 O autor usa Slackware e Window Maker, mas não faz questão que os/as outros(as) façam
o mesmo, desde que estejam no Software Livre
DCE-Livre-USP “Alexandre Vannucchi Leme”
26 Gestões 2006/7(Camarão) e 2007/8(Vez e Voz)

Em projetos que visam o reaproveitamento de computadores antigos para


projetos sócio-ambientais, pode valer a pena esforçar os/as envolvidos(as)
no aprendizado de um ambiente mais espartano, pois muito poder de pro-
cessamento está envolvido na elaboração de alguns gráficos e ter um am-
biente assim pode ser fundamental para o sucesso do Software Livre em
equipamento mais modesto.
De qualquer forma, a escolha do ambiente gráfico é tão ou mais impor-
tante que a da distribuição, pois quem usa o computador tem contato com
a interface diretamente, ao passo em que a instalação, as configurações e
rotinas de manutenção podem ser feitas por outras pessoas, que instalariam
a distrubuição à qual estão acostumados(as).

2.6 Mitos e equı́vocos que cercam o Software Livre


Muitas idéias errôneas sobre o Software Livre permeiam a imaginário po-
pular. Algumas são espalhadas por pura má-fé por parte de quem quer
manter-se graças ao software proprietário. Outras são repetidas por quem
tem preguiça de pensar e avaliar as vantagens so Software Livre porque
teria mais trabalho caso seu local de estudo ou trabalho o implementasse.
Se é de graça não deve ser bom. É geralmente a primeira idéia lançada
por quem quer denegrir o Software Livre, com a idéia de que quem não
é remunerado por um serviço não o faz corretamente. Sem ser piegas,
sem dizer que esses(as) programadores(as) são altruı́stas e querem justiça
social; deve-se chamar a atenção para as motivações técnicas que levam
muita gente a buscar o modelo livre para disponibilizar ou buscar um soft-
ware. Pode não pegar bem dizer que as melhores coisas da vida não têm
preço, dependendo do contexto.
Por que você não aprende Esperanto também? Afinal, são modelos di-
ferentes, criados por pessoas que dizem que são melhores para o mundo
caso fossem adotados em larga escala. A proposta de uma lı́ngua “tirada
da cartola” com regras gramaticais simples, sem exceções, verbos irregula-
res ou a predominância cultural de determinado povo parece interessante.
Há, porém, algumas diferenças entre o uso da linguagem e dos softwa-
res: os idiomas evoluem, influem uns nos outros e dividem-se de forma
espontânea e descentralizada. Tampouco é necessário pagar por royalties
ou direitos autorais para usar um determinado idioma, seja na forma es-
crita ou falada. O Esperanto pode ter vantagens técnicas sobre o inglês
que é naturamlente aceito na comunicação globalizada, as trata-se de uma
questão menos grave e urgente, sobre a qual também não temos tanto co-
Apostila de Software Livre e assuntos correlatos.
2 - O que é o software livre 27

nhecimento de causa.
Em contrapartida há uma semelhança entre as propostas do Esperanto e
do Software Livre, de acordo com depoimentos de gente que estuda esse
idioma: Por não estar atrelado a neuma cultura e nenhum povo especı́fico,
não haveria a necessidade de se mudar o idioma “padrão”, “universal” da
civilização cada vez que uma nação diferente assume a liderança, mesmo
que esse fenômeno seja bem mais lento que as atualizações e mudanças
de padrão na indústria de informática. Há alguns séculos, espanhóis e
portugueses tinham notável influência no Velho Mundo devido aos seus
desenvolvimentos na área naval. Gregos e Romanos (que falavam latim)
já foram os mais poderosos também. Hoje temo o inglês como a lı́ngua
“universal” dos negócios e usada pelos povos dominantes. Daqui a algu-
mas décadas, os idiomas chinês e espanhol promete tomar boa parte desse
espaço. Um idioma com padrões mais simples (com a outra face da mo-
eda de não ser tão enfeitado e belo) poderia sobreviver melhor a essas
mudanças periódicas de paradigma.
. Deve-se deixar claro que em TI (Tecnoligia da Informação) não
existe Vodu! Para instalar um programa menos seguro, compilado por
alguém de má-fé com intenção de causar algum dano; deve-se passar pri-
meiro pelos programas seguros que estão atualmente instalados e compi-
lados. Alterar o código emumamáquina não altera o programa pronto na
outra instantaemanete e sem necessidae de passar por barreiras. Não existe
vodu em Tecnologia da Informação.
Mas eu não tenho o que fazer com o fonte. Os Softwares Livres não são
feitos apenas para estudantes e profissionais de Ciência da Computação e
Engenharia Elétrica. Alguns deles são voltados para o público geral, in-
clusive leigo. Mesmo quem não participa do coletivo de desenvolvimento
toma parte das vantagens da liberdade que tal software dá. Os/As dsen-
volvedores(as) fazem-no pensando em toda a população (obviamente se
for por exemplo um programa para área médica, pensa-se em todos/as
oas/as profissionais da Medicina). Quem sentir a obrigação moral de
colaborar pode participar de outras atividdes que não necessariamente a
programação, conforme já foi descrito.
Mas eu mal sei mexer no “Ord”. Cada um(a) tem suas habilidades e ap-
tidões. Alguams pessoas têm dificuldade para entender como um com-
putador funciona e não têm o “desconfiômetro” que outras têm para lidar
com essa máquina. Como o SO livre mais famoso (GNU/Linux) é real-
mente mais complexo (a verdade deve ser dita) e o simples fato de migrar
para o que não se está acostumado exige novo aprendizado; a mudança de
DCE-Livre-USP “Alexandre Vannucchi Leme”
28 Gestões 2006/7(Camarão) e 2007/8(Vez e Voz)

paradigma para Software Livre realmente assusta. Quando a pessoa tem


disposição para aprender, nota-se que aquelas que lidam com computado-
res há muito tempo (digamos, quem já mexeu com MS-DOS, XT, 286)
ou aquelas que nunca pegaram num e já começam a aprende a usá-lo em
plataformas livres e não têm o legado proprietário; aprendem a lidar com
o GNU/Linux mais facilmente do que aquelas que começaram com o Mi-
crosoft Windows 2000 ou XP. Se a pessoa mal sabe usar o “Ord”, é uma
ótima oportunidade para que ela aprenda usar o BrOffice de uma vez.
Mas na empresa XYZ migraram para Software Livre e estão gastando
mais. Isso pode ser verdade. Há os custos com migração, treinamento
e não há tantos(as) profissionais aptos(as) a oferecer suporte adequado
em todas as regiões do Paı́s. Há demanda reprimida, empresas e órgãos
públicos querendo migrar mas não encontram quem possa fazê-lo. Alu-
nos(as) de Computação ou Engenharia Elétrica que estudam o assunto por
conta própria têm mais chance de conseguir uma bos colocação no mer-
cado de trabalho. Em alguns casos pode tratar-se de um investimento, com
maiores custos na fase inicial e retorno na forma de menores custos dali a
alguns anos; não apenas na economia com licenças e royalties como com
perdas e “dores de cabeça” evitadas. Há quem disponha-se a pagar ais por
estabilidade, segurança e disponibilidade. É o caso dos bancos, que ga-
nham demais com tarifas, os altı́ssimos spreads e juros da dı́vida interna,
mas estão aceitando Softwares Livres ao menos em seus servidores. Como
dizem por aı́, gasta-se menos indo atrás de prostitutas, mas não é tão legal
quanto levar a namorada para um restaurante.
Se é de graça porque eu tenho que pagar pelo treinamento? Deveriam
dar treinamento gratuito também. Não é tão livre assim esse software.
Uma polı́tica pública de incentivar a adoção do Software Livre em diersas
camadas da sociedade seria bem vinda e acontece de forma tı́mida em al-
guns projetos públicos. Porém, deve-se entender que caso não se consiga
isso ou algum(a) voluntário(a) para ministrar algumas aulas gratuitamente
a única saı́da é pagar pelo curso. Já foi dito que o custo de treinamento não
é a mesma coisa que pagar pela licença de uso do programa. Um curso
pago, mesmo que com preço módico e/ou voltado meramente para cobrir
custos, força o(a) professor(a) a ter mais carinho e responsabilidade; além
de incentivar o(a) aluno(a) a comparecer às aulas e valorizá-las. Abrindo-
se inscrições gratuitas para um curso de GNU/Linux, se há 200 pessoas
inscritas umas 20 vão efetivamente às aulas.
Quem garante que um dia não vão apossar-se deles e torná-los ilegais ou
piratas? O caráter “flamenguista” das licenças.
Apostila de Software Livre e assuntos correlatos.
2 - O que é o software livre 29

Os estadunidenses roubaram a patente do brasileiro que inventou o Bina.


Vamos roubar algo deles também. Para quem crê na Bı́blia basta di-
zer que vingança não é legal e o Apóstolo Paulo ensina a pagar o mal
com o bem. Esse desejo vingativo é prejudicial para quem o sente, pois
deixa-se de usufruir as vantagens do Software Livre. Deve-se ressaltar
também a “vista grossa” que os principais desenvolvedores de software
proprietário fazem em relação à pirataria, para manter-se populares através
da disseminação de seus produtos ilegais onde a fiacalização é mais com-
plicada (em casa, com pessoas fı́sicas). A pirataria favorece seu alvos, por
manter a sociedade longe das alternativas livres e da discussão a respeito
delas. Alguém pode alegar que sendo o preço das licenças escorchantes
(e o são realmente) uma desobediência civil nosmoldes ghandianos seria
útil para rebelar-se contra essas grandes corporações; mas elas não têm
prejuı́zo com essa prática, pelo contrário.
Isso ainda não está pronto para “nı́vel usuário”. Daqui a uns 5 anos,
quando estiver melhor, eu vejo se migro ou não. Há quantas décadas dizem
que o Brasil é o Paı́s do futuro, e o futuro nunca chega? Há distribuições
e ambientes gráficos adequados para quem está disposto(a) a dispender
um mı́nimo de tempo aprendendo a lidar com seus ambientes. Faz muito
tempo que os ambientes de Software Livre estão prontos para o “nı́vel
usuário”.
Mas não é tão parecido com o equivalente proprietário que conheço. Tem
gente que reclama que se o software livre que se propõe a realizar a mesma
tarefa de outro software proprietário tiver a aparência e funcionalidade
muito semelhante, reclama; se for muito diferente, reclama também. Deve-
se ver se o software livre usado atende as necessidades de cada um. Às
veze spode não atender, e a saı́da pode ser pagar pelo seu desenvolvimento
na direção pretendida ou continuar usando a soluçao proprietária. Querer
que um software seja semelhante a outro para ser cdhamado de bom equi-
vale e chamar uma pessoa negra de bom caráter de preto de alma branca.
Sugiro uma experiência, que foi realizada no 50o Congresso da UNE no
final dos debates sobre Software Livre e assuntos afins: tome um refrige-
rante local, de preferência um guaraná, quando for viajar a um lugar novo.
O interior paulista tem várias fábricas de alcance regional com bons gua-
ranás11. Alguns talvez não sejam tão bons. No Paraná também há refrige-
rantes exóticos, com sabor de morango e abacaxi. Ao tomar esse guaraná
novo ao seu paladar, avalie se ele é bom por si só e se atende às suas ne-
11 O autor principal é assisense e recomenda os guaranás Conquista, Cristalina e Funada,
populares no vale do Paranapanema, oeste paulista
DCE-Livre-USP “Alexandre Vannucchi Leme”
30 Gestões 2006/7(Camarão) e 2007/8(Vez e Voz)

essidades; mas em hipótese alguma compare seu sabor ao dos principais


guaranás do mercado. Um guaraná bom não precisa necessariamente ter
o mesmo sabor do Kuat ou do Antarctica. Mas... e os anti-vı́rus? Quase
não há anti-vı́rus para ambiente GNU/Linux. E isso não se deve à sua po-
pularidade incipiente. Sua estrutura não permite determinadas formas de
ataque, ou somente parmite que se prejudique o diretório do usuário que
está logado (ou seja, que fez o login). Se o programa operado por essa
pessoa manipular arquivos em outro lugar não há esse risco. De qualquer
forma, é tecnicamente possı́vel confeccionar vı́rus para plataformas livres
que possam infectar usuários(as) domésticos e afetar seus arquivos. Atu-
almente os vı́rus cederam espaço para outros tipos de pragas virtuais, que
exploram vulnerabilidades dos softwares, especialmente os proprietários.
Nesse caso, uma rede bem configurada (com aquela peça que fica entre o
teclado e a cadeira bem ajustada, treinada e atualizada) mantém uma rede
corporativa segura. Sofrer tais ataques em casa é umapossibilidade remota,
porém ainda tecnicamente possı́vel.
Mas tem que ter um padrão, você está indo contra a corrente. Sim, deve
haver padrões, mas padrões livres, que não restrinjam as pessoas. Real-
mente mudar umpadrão amplamente usado pela Humanidade é traumático
e oneroso, e não será feito enquanto não se tiver ampla certeza de que
esse outro padrão é melhor e que não será necessário mais mudanças. Já
foi dito que a Internet e sua face mais conhecida (a World Wide Web) só
alcançaram a popularidade que têm porque foram baseadas em padrões
abertos. Qualquer um(a) faz um navegador, um roteador, um SO ou uma
placa que comunica-se via TCP/IP, o protocolo da Internet. Se os padrões
para parafusos e pneus fossem de popriedade de uma única empresa ao
invés de permitir seu livre uso por diversos fabricantes automobilı́sticos;
haveria uma pressão por um padrão novo e livre?

2.7 Equivalentes aos softwares proprietários conhecidos


Fontes: Tabela do Projeto Software Livre-Bahia 12
e <www.linuxrsp.ru/win-lin-soft/table-eng.html>

Programa Proprietário/Microsoft Equivalente livre


Windows
12 <http://twiki.dcc.ufba.br/bin/view/PSL/CartilhaSL>
Apostila de Software Livre e assuntos correlatos.
2 - O que é o software livre 31

Internet
Mozilla Firefox
Galeon
Navegador ou brow- Internet Explorer
Konqueror
ser
Nautilus
Evolution
Sylpheed
Cliente de e-mail Outlook Express Mozilla Thunderbird
KMail
Gnumail
Catálogo de Outlook Express Rubrica
endereços
Downloader for X
Caitoo (Kget)
Prozilla
Wget13
Gerenciamento de Getright
Aria.
downloads
Axel
GetLeft.
Lftp
Httrack
WWW Offline Expolrer
Download de sites in- Teleport Pro
Wget, Xget, QtGet
teiros
Pavuk
Gftp
Dpsftp
KBear
Clientes FTP Bullet Proof, Cu- IglooFTP
teFTP, WSFTP Nftp
Wxftp
axyFTP
Xchat
KVirc
Irssi
Clientes IRC (Internet mIRC, VIRC, Xircon BitchX
Relay Chat) Ksirc
Epic
Sirc

13 Front-ends gráficos para Wget: Kmago, Gnome Transfer Manager, QTget, Xget
DCE-Livre-USP “Alexandre Vannucchi Leme”
32 Gestões 2006/7(Camarão) e 2007/8(Vez e Voz)

LinPopUp
Mensagens em rede Win PopUp, netsend
Kpopup
local
Licq (ICQ)
Centericq (ICQ, console)
Alicq (ICQ)
Micq (ICQ)
GnomeICU (ICQ)
Gaim (Suporta vários
protocolos)
Kopete
Clientes para mensa- ICQ, MSN, AIM,
Everybuddy
gem instantânea TrillianICQ (free-
Imici Messenger
eware, não é livre)
Ickle (ICQ)
aMSN (MSN)
Kmerlin (MSN)
Kicq (ICQ)
YSM (ICQ, console)
kxicq
Tkabber
Clientes Jabber MyJabber, Skybber Gabber
Rhymbox, Rival Psi
Vı́deoconferências MS NetMeeting GNOME Meeting
ipchains
Kmyfirewall
Shorewall
Firewall BlackICE, ATGuard, Guarddog
ZoneAlarm, Agnitum Firestarter
Outpost Firewall, IPCop
WinRoute Pro Firewall Builder
Snort
Portsentry
Detecção de intru- BlackICE, Agnitum
Hostsentry
sos(as) Outpost Firewall
Logsentry
Squid
DansGuardian
Squidguard
Filtro de conteúdo Proxomitron, AT- Privoxy
Guard, Agnitum JunkBuster
Outpost Firewall, MS Fork
ISA server Mozilla(tem essa opção)
Apostila de Software Livre e assuntos correlatos.
2 - O que é o software livre 33

Restrição de tráfego ? IP Relay


Tcp4me
Getstatd
Ipacct
Ipac-ng
Contabilidade de Tmeter, dial-up do Ipaudit
tráfego MS Windows Lanbilling
SARG
Talinux
NetUP UserTrafManager
LimeWire (Gnutella)
Lopster. (OpenNAP)
Gnapster (OpenNAP)
Mldonkey (eDonkey)
eDonkey for Linux
cDonkey
Gift
ed2k gui
Compartilhamento de Morpheus, WinMX,
Gtk-Gnutella
arquivos Napster, KaZaA
Qtella
(Fasttrack), eDonkey
Mutella (Gnutella, console)
TheCircle
Freenet
GNUnet
Lmule
Bittorrent
HylaFax
Fax WinFax Fax2Send
Efax
Kppp
X-isp
wvdial
Dial-up (conexão dis- Vdialer, Trumpet
Gppp
cada) Winsock
Kinternet
Rp3
Samba
Compartilhamento e Pastas comparti- LinNeighboorhood
visualização de arqui- lhadas, Locais de XSMBbrowser
vos em redes MS rede
Windows
Gerenciamento de arquivos
DCE-Livre-USP “Alexandre Vannucchi Leme”
34 Gestões 2006/7(Camarão) e 2007/8(Vez e Voz)

Konqueror
Gnome-Commander
Administração de ar- Windows Explorer Nautilus
quivos Endeavour
XWC
Pacotes para escritório
Kedit (KDE)
Gedit (Gnome)
Gnotepad
Kate (KDE)
KWrite (KDE)
Editor de texto Bloco de notas, Word-
Nedit
Pad, TextPad
Vim
Xemacs
Xcoral
Nvi
Tar/Gzip
FileRoller
Gnozip
LinZip
Compressão de arqui- WinZip, WinRAR Ark
vos KArchiveur
Gnochive
RAR for Linux
CAB Extract
Xpdf
Visualização de PDF Adobe Acrobat Rea- Kpdf
der GhostView
comando “imprimir PDF”
em vários programas
PDFLatex
Criação de PDF Adobe Acrobat Distil- latex+dvipdfm
ler, plug-ins para Mi- Ghostscript
crosoft Office Tex2Pdf
Reportlab K
GnuPG
Criptografia PGP GPA
Kgpg
Apostila de Software Livre e assuntos correlatos.
2 - O que é o software livre 35

ClaraOcr
OCR- Recognita, FireRea-
Gocr
Reconhecimento der
óptico de caracteres
escaneados
Xsane
Scanner Programas que
Kooka
vêm junto com ele,
gerlamente para
MS-Windows
OpenAntivirus+AMaViS
Anti-vı́rus NAV, AVG VirusHammer
Sophie/Trophie
dd
Backup ntbackup, Legato Gparted
Networker PartitionImage
top
Gestão de tarefas TaskInfo, Process Ex- Gtop/Ktop
plorer kSysGuard
KDE Voice Plugins
Reconhecimento de MS text to speech Festival
texto por voz Emacspeak
Sphinx
Reconhecimento de ViaVoice, Dragon Na-
ViaVoice
voz turally Speaking
Find
Busca por arquivos System monitor Gsearchtool
(integrado ao MS- Kfind
Windows)
e2undel
myrescue
Recuperação de dados R-Studio
TestDisk
unrm
Multimı́dia-áudio
XMMS
Noatun
Música em formato Winamp
Xamp
MP3 ou Ogg Vorbis
GQmpeg
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36 Gestões 2006/7(Camarão) e 2007/8(Vez e Voz)

K3b (KDE)
XCDRoast
KOnCd
Eclipt Roaster
Gravação de CD Nero, Roxio Gnome Toaster
CD Bake Oven
KreateCD
SimpleCDR-X
GCombust
KsCD
Orpheus
Sadp
WorkMan
Reprodução de CD CD player
Xmcd
Grip
XPlayCD
ccd/cccd
Noatun
MIDI/Karaoke VanBasco, Cakewalk, Kmidi
Finale, Sibelius, LilyPond
SmartScore
Sweep
WaveForge
Sox
Edição de áudio SoundForge, Cooledit
Audacity
GNUSound
Ecasound
Opmixer
aumix
Mixagem sndvol32
mix2000
Mixer app
Multimı́dia-Gráficos
Apostila de Software Livre e assuntos correlatos.
2 - O que é o software livre 37

Xnview
GQview
Qiv
CompuPic
Kuickshow
GTKSee
Visualizador de figu- ACDSee, InfranView pornview
ras e fotos digitais imgv
Gwenview
Gliv
Showimg
Fbi
Gthumb
Kpaint
Gpaint
Editor de figuras sim- Paint
Tuxpaint
ples
Killustrator
Editores de fotogra- Adobe Photoshop GIMP
fias digitais com fil-
tros
Sodipodi
Inkscape
Desenhos vetoriais Corel Draw, Adobe Xfig
(adesivos, logotipos) Illustrator, Freehand, OpenOffice Draw
AutoSketch dia
DrawSWF
Criação de Flash Macromedia Flash
Ming
Blender
Maya
KPovModeler
K3Studio
Gráficos 3D 3D Studio Moonlight
GIG3DGO
POVray
K3D
Wings 3D
Kiconedit
Editor de ı́cones Microangelo
Gonme-iconedit
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38 Gestões 2006/7(Camarão) e 2007/8(Vez e Voz)

GIMP
Ksnapshot
Captura de tela tecla PrintScreen Xwpick
Xwd
xgrabsc
Multimı́dia-Vı́deo e etc.
Mplayer
Xine
Reprodutores de BSplayer, Zoom- Sinek
MPEG4 player, Windows VideoLAN
Media Player Aviplay
Ogle
Mplayer
Repordutores de PowerDVD, Xine
DVD WinDVD, Mi- Aviplay
croDVD, Windows VideoLAN
Media Player
Drip
Decodificador de Gordian Knot
Mencoder
DVD
Edição de vı́deos sim- Windows Movie Ma- iMira Editing
ples ker
Cinelera
Edição profissional de Adobe Premiere, Me-
iMira Editing
vı́deo dia Studio Pro
Kwintv
Sintonizadores de TV AVerTV, PowerVCR GNOME TV
3.0, CinePlayer DVR Mplayer
Escritório/negócios/administração
Open Office
Koffice
Pacote de escritório MS Office (Word, Ex-
GNOME Office
cel, Power Point), 602
SIAG
Open Office Writer
Edição de textos 602 text, MS Word Abiword
LATEX
OpenOffice Calc
Planilhas eletrõnicas MS Excel, 602Tab Kspread
Gnumeric
Apostila de Software Livre e assuntos correlatos.
2 - O que é o software livre 39

Open Office Impress


LATEX
Apresentações/aplestras MS Power Point
Kpresenter
Magic Point
KNoda
GNOME DB Manager
Bases de dados locais Ms Access
OpenOffice + MySQL
BDB
GNUcash
GnoFin
Finanças pessoais Quicken, MS Money
Kmymoney
Grisbi
Gerenciamento de MS Project, Project Mr. Project
projetos Expert
Comércio eletrônico e Websphere JBoss
web business
Cientı́ficos
Sistemas matemáticos Mathcad Gap
Octave
Scilab
Sistemas matemáticos MATLAB rlab
yacas
euler
Maxima
Sistemas matemáticos Mathematica, Maple
Mupad
OpenOffice Math
MathMLed
Editor de equações Mathtype MS Equa- Kformula
tion LyX
TEX/LATEX
CAD ArchiCAD, Auto- QCAD
CAD
ThanCAD
CAD AutoCAD LignunCAD
FreeEngineer
Editoração de jornais Adobe PageMaker, Scribus
e revistas MS Publisher
DCE-Livre-USP “Alexandre Vannucchi Leme”
40 Gestões 2006/7(Camarão) e 2007/8(Vez e Voz)

Geda
Xcircuit
Simulação de circui- Electronics Work-
Gnome Assisted electronics
tos eletrônicos bench
SPICE
Desenho de estruturas Chemwin, Chamdraw Xdrawchem
quı́micas
Emulador de osci- Winoscillo Xoscope
loscópio
IDEload
Monitoramento de Active Smart, uti- HDDtemp
disco rı́gido litários que vêm com Smartmontools
a placa-mãe
Lm sensors
Monitoramento de SisSoft SANDRA,
Ksensors
temperaturas SisSoft SAMANTHA
Ximian Red Carpet
Apt-get
Atualização Windows Update Slaptget
Yum
Mandrake Online
Jpilot
Palm Palm Office
Kpilot
Xlock
Protetor de tela embutido no MS Win- xcreensaver
dows Kscreensaver
fsck
Checagem de HD Scandisk
reiserfsck

Observações sobre a tabela: Na tabela on line há links para o site da mai-
oria dos programas.
Pidgin e gaim acessam vários protocolos de conversa on-line (MSN, Jab-
ber, IRC, ICQ, Google Talk, Yahoo! Messenger).
Alguns termos que soam com muita naturalidade para entendidos(as) em
informática devem ser esclarecidos: Servidor e cliente: servidor provê um
serviço qualquer, enquanto o cliente aproveita-se dele. Se há por exemplo
uma rede de bate-papo online, são necessários computadores com progra-
mas apropriados para armazenar tudo e coordenar as conversas, da mesma
forma que os computadores de cada usuário(a) devem ter programas que
façam a comunicação com o servidor e com as outras pessoas da con-
Apostila de Software Livre e assuntos correlatos.
2 - O que é o software livre 41

versa. O provedor tem o servidor (tanto em hardware quanto em software)


enquanto os/as usuários(as) têm os clientes instalados em casa. Proto-
colo é o conjunto de regras par que computadores, iguais ou não em SO
ou hardware, comuniquem-se entre si. Para transportar informação pela
Internet há o protocolo TCP/IP, para conversar pela rede MSN há o pro-
tocolo MSN e por aı́ vai. Deve-se ressaltar que a Internet só é tão dis-
seminada e popularizada hoje porque os idealizadores do TCP/IP e do
HTML/WWW tornaram-nos livres e abertos, de forma que qualquer de-
senvolvedor(a) pudesse construir computadores, dispositivos e softwares
que pudessem acessá-la. Firewall é um programa ou um conjunto deles
que filtra as informações que podem ou não passar pela máquina onde está
funcionando. Serve para dar segurança, privacidade e disponibilidade para
usuários(as) de uma rede de computadroes. Plug-in são acessórios em
geral, que incrementam as funcionalidades de um programa. O navega-
dor/browser pode ter por exemplo plug-ins para exibir determinados for-
matos de arquivos e conteúdo, como desenhos vetorais SVG e animações
em Flash. Front-end gráfico é uma versão de determinado programa em
interface gráfica, mais amigável, com as mesmas funcionalidades de ou-
tro programa conhecido, porém que funciona em “modo texto”, ou seja,
aquela janelinha preta onde deve-se digitar os comandos, que assusta muita
gente. Criptografia Técnica de cifrar conteúdo para que caso seja in-
terceptado não possa ser comprrendido por quem não deve ter acesso ao
seu teor. Pode ser feita e desfeita através de métodos matemáticos com
segurança comprovada. Codec é um decodificador que permite que um
programa (geralmente da área de Multimı́dia) possa abrir arquivos em for-
matos para os quais não fora designado. Muitos formatos criados pela
Microsoft para ser abertos exclusivamente em seus programas, como por
exemplo os vı́deos WMV e as músicas WMA. Programas multimı́dis para
GNU/Linux costumar ter os tais codecs para permitir a manipulação des-
ses formatos. Desenho vetorial vs. bitmap: Um bitmap é um mosaico
digital, onde cada ponto quadrado (chamado de pixel) tem uma determi-
nada cor. Fotografias digitais são armazenadas em formatos diversos de
bitmap, que podem ocupar mais ou menos espaço conforme já foi expli-
cado (armazenar as cores de todos os pontos ou convertê-los para equações
que os descrevam e ocupam menos espaço). Os desenhoe vetoriais são
formados por equações que descrevem figuras geométricas como linhas,
quadrados, cı́rculos e afins. Também descrevem as cores dos objetos. De-
senhos vetorias podem ser ampliados e reduzidos livremente sem perda
de qualidade gráfica, enquanto os bitmaps têm seus quadradinhos ampli-
DCE-Livre-USP “Alexandre Vannucchi Leme”
42 Gestões 2006/7(Camarão) e 2007/8(Vez e Voz)

ados para quadrados grandes que não condizem com a amplicação dese-
jada. Desenhos vetoriais são muito úteis para a elaboração de gráficos e
logotipos, podendo ser convertidos para bitmaps se necessário. Boot é o
processo de inicialização da máquina, uma série de procedimentos inici-
ais que levam alguns segundos desde o ato de ligar o computador até ele
estar pronto para uso. Memória virtual é formada por um arquivo ou
partição no disco rı́gido para ser usada pelo SO quando a memória RAM
(onde os dados estão prontos para uso pelo procesador após ser carregados
a partir dos discos) não é suficiente. Sem memória virtualqualquer SO fica
muito lento, a não ser que se compre uma quantidade exagerada de RAM
para equipar o computador. HTML é a sigla para Hypertext Markup Lan-
guage, que é um protocolo que define regras para a confecção das páginas
da WWW, World Wide Web, a parte multimı́dia da Internet que chega a
ser confundida com ela própria.
Ao falar de protocolos, especialmente o HTML, é importante destacar que
grandes empresas de software proprietário como a Microsoft criam ferra-
mentas que facilitam muito o desenvolvimento de páginas para a WWW,
porém às custas da violação de alguams regras do HTML ou da criação de
novas regras incompatı́veis com esse protocolo. Fugindo do padrão HTML
convencionado por anteriormente entre vários atores do mercado de Tecno-
logia da Informação através de instruções fechadas nessas páginas, chega-
se ao grande número de Web sites que só pdem ser visualizados com o
navegador proprietário Internet Explorer! Mais uma forma de obrigar as
pessoas a usar produtos proprietários de uma única empresa. Isso é espe-
cialmente grave quando visto em serviços públicos, em sites do Governo
Federal, Estadual ou Municipal.
O objetivo desta seção é mostrar algumas questões tecnológicas para quem
não é da área. É necessário explicar o significado de um mı́nimo de termos
técnicos para o entendimento dos assuntos tratados aqui. Não queremos
importunar os/as leitores(as) com termos técnicos desnecessários.
O site Freshmeat <http://freshmeat.net> e o repositório Source
Forge <http://sourceforge.net> contém informações sobre
vários projetos de Software Livre, com busca e hospedagem de seus pro-
jetos.
Apostila de Software Livre e assuntos correlatos.
3 - Formatos livres de arquivos eletrônicos 43

3 Formatos livres de arquivos eletrônicos

Uma discussão tão importante quanto a do Software Livre é aquela refe-


rente aos formatos livres de arquivos eletrônicos. Diversos tipos de arqui-
vos (textos, planilhas, figuras, músicas) podem ser armazenados também
em formatos livres ou proprietários.
Os arquivos manipulados por pacotes de automação de escritório (também
chamados de pacotes ou suı́tes Office) são o exemplo mais flagrante de
como os formatos proprietários podem ser prejudiciais à sociedade sem
que ela dê-se conta. Ao longo de aproximadamente 20 anos desde a
popularização dos PCs (Personal Computers) e do seu uso em escritórios,
alguns editores de texto, planilhas e apresentações distintos passaram pelos
computadores e escritórios mundo afora, e mesmo diversas versões de um
mesmo editor mantido por uma mesma empresa. Geralmente os desenvol-
vedores de suı́tes proprietárias criam formatos proprietários para que os
arquivos criados por essa suı́te não possam ser lidos em softwares feitos
pela concorrência. Dessa forma fica mais difı́cil perder mercado, já que a
mudança de ferramenta é desestimulada pela impossibilidade de conver-
ter os documentos acumulados por anos a fio. Empresas parceiras; como
fornecedores, consultores ou clientes; também precisam ter o mesmo pro-
grama para lidar com o formato de arquivos no qual foi gravado. Quem
detém a maioria do mercado (que logo corre para um único modelo bus-
cando padronização) não prde mais esse posto.
Os formatos proprietários também podem levar à obsolescência progra-
mada de uma forma bem sutil. A cada nova versão pequenos “avanços”
são incluı́dos, que tornam o arquivo criado na versão anterior incompatı́vel
com a versão atual do software. Um arquivo gerado num mesmo edi-
tor,porém numa versão usada há cinco anos atrás corre o sério risco de
ser incompatı́vel com o que o mercado usa atualmente.
Como funciona essa história de formato de arquivo: Pode-se armazenar
um texto em formato ASCII, que é texto puro e pode ser lido por um
editor como o Bloco de Notas, no MS Windows. Um texto de um edi-
tor WYSIWYG tem, além do conteúdo do texto, muitas informações do-
bre formatação da página, margens, cabeçalho, rodapé, figuras incluı́das,
divresas fontes e formatação de parágrafos, tabelas, itens; que não são
possı́veis de se fazer com o texto puro. Nos formatos proprietários essas
instruções todas costumam estar “embaralhadas” ao longo do arquivo, mis-
turadas com o conteúdo do texto para dificultar que alguém leia com um
DCE-Livre-USP “Alexandre Vannucchi Leme”
44 Gestões 2006/7(Camarão) e 2007/8(Vez e Voz)

editor de ASCII puro ou um editor hexadecimal14. Além dessa confusão


proporsital de informações, há ainda a possibilidade de se colocar muita
“encheção de lingüiça” nos arquivos para que fique mais difı́cil a tarefa de
quem atrever-se a criar algum editor para manipular um arquivo sob esse
formato. Ambos os hábits levam a arquivos maiores e que dão mais traba-
lho ao microprocessador para ser abertos e salvos.
Antes da chegada dos computadores ao nosso cotidiano, bastava ser al-
fabetizado(a) para ter acesso ao conteúdo de um documento e ter acesso
fı́sico a ele. Cópias poderiam ser feitas à mão por copistas, em fotoco-
piadoras ou em gráficas. Com os formatos proprietários manipulados por
algins softwares, uma permissão a mais é necsssária da parte do fornecedor
desse software. No caso, é necessário comprar a sua licença ou pirateá-lo.
As mesmas comparações valem para as planilhas e as apresentações mul-
timı́dia.
Aparentemente isso não faz diferença. A maioria esmagadora da
população que tem acesso aos computadores continua a enviar textos, pla-
nilhas e apresentações em um formato proprietário que teoricamente res-
tringe algumas liberdades dos/as seus/suas usuários(as) e obriga o seu uso,
mas que devido ao amplo uso da pirataria passa desapercebido. Estamos
falando do Microsoft Office. Troca-se a armazena-se textos do Word, pla-
nilhas do Excel e apresentações do Power Point “porque é o padrão de
mercado, é o que todo mundo usa”. Pouca gente se toca de que é obrigada
a adquirir o Microsoft Office para ler um arquivo num desses formatos e
de que isso não é bom, já que a pirataria é amplamente aceita e praticada
no Brasil.
Exigir a manipulação de formatos proprietários de arquivos é especial-
mente grave quando trata-se de órgãos públicos. Apesar do esforço do
Governo Federal e de alguns governos estaduais/municipais em usar soft-
ware e formatos livres na márquina pública, ainda vemos documentos
eletrônicos disponibilizados a cidadãos(ãs) em formatos que exigem a
compra ou pirataria. Concursos públicos exigem o conhecimento des-
sas ferramentas proprietárias. Universidades públicas estimulam seu uso,
com tı́midas iniciativas, geralmente individuais da parte de alguns(mas)
professores(as) que estimulam o uso de formatos livres em atividades
acadêmicas. Em meados de 2006 foi anunciado pela Coordenadoria de
Tecnologia da Informação (CTI-USP) um Programa de Inclusão Digital e
Aperfeiçoamento Acadêmico que prevê a venda de licenças do Microsoft
14 Editores que permitem ver como o arquivo é realmente armazenado, como é cada byte
que compõe o arquivo na forma como é lido e gravado pelo computador
Apostila de Software Livre e assuntos correlatos.
3 - Formatos livres de arquivos eletrônicos 45

Office por cerca de R$ 150 para a comunidade acadêmica; além da venda


de PCs e laptops com duas opções de SO: MS Windows XP ou Vista. O
que levou a essa atitude de favorecimento da Microsoft, por que não se
tomou a decisão de usar SO’s livres e outros pacotes Office que manipu-
lam arquivos em formatos também livres? Talvez nem tenha sido de má-fé,
mas por entender que não há demanda por Software Livre por parte dos(as)
alunos(as).

3.1 ODF-Open Document Format


Dados os problemas de usar arquivos, especialmente em aplicações tı́picas
de escritório, em formatos proprietários, surge a necessidade de elaborar
um padrão livre para a mesma categoria de arquivos. De acordo com a
União Européia, um padrão aberto para documentos deve ter seu formato
totalmente descrito em docuemntos acessı́veis a qualquer pessoa, com li-
vre distribuição e implementação em qualquer software sem empecilhos
técnicos ou legais. É bom recordar que pode-se cobrar por custos nominais
de distribuição (por exemplo cópia e distribuição), mas não por royalties.
O padrão deve ser disponı́vel para que todos(as) possam lê-lo e imple-
mentá-lo em algum programa para que ele manipule os arquivos de acordo
com suas regras. Nâo deve prender o(a) usuário(a) a um único fornecedor.
Não pode haver qualquer forma de discriminação. Tais padrões devem ser
passı́veis de evolução, desde que mantemnham a compatibilidade retroa-
tiva e não levem a um formato fechado. O modelo legal de licenciamento
desse padrão deve ser protgido contra práticas comerciais predatórias que
estrangulem seu desenvolvimento e levem ao seu apoderamento por um
pequeno grupo. Deve haver suporte ao padrão enquanto houver interesse
social nele. Não pode haver restrições quanto à plataforma (dobradinha
hardware/software); um arquivo editado numa determinada arquitetura de
computador com dterminado SO deve ser passı́vel de leitura e manipulação
em qualquer computador diferente. Também é recomendável que o arma-
zenamento dos dados não seja feito na forma binária, ou seja, de forma
que suas informações não possam ser extraı́das com uma simples lida num
editor ASCII ou hexadecimal. A última caracterı́stica agiliza sobremaneira
a leitura e gravação desse tipo de arquivo.
Nesse contexto surge o ODF, que encaixa-se perfeitamente nas exigências
estabelecidas. O consórcio OASIS, responsável por mantê-lo, disponi-
biliza suas especificações para que qualquer pessoa ou empresa. Tal
consórcio é formadopor empresas e pessoas com os mais diversos inte-
DCE-Livre-USP “Alexandre Vannucchi Leme”
46 Gestões 2006/7(Camarão) e 2007/8(Vez e Voz)

resses, num modelo que impede que o interesse de poucos se sobressaia.


Seu licenciamento foi feito por esse órgão independente e sem custo, de
maneira irrevogável. Isso significa que não é possı́vel do ponto de vista
legal passar a cobrar pelo uso do ODF no futuro, da mesma forma que não
se pode fazê-lo com os Softwares Livres sob GPL (Licença-Flamengo).
O fato de ter um grupo heterogêneo construindo o OASIS elimina a pos-
sibilidade de sua extinção quando algum setor não mais vir interesse nele.
Não há aénas empresas e profissionais da área de TI participando dele, mas
há também por exemplo, empresas como a Boeing, que viu a necessidade
de diminuir o espaço ocupado por seus documentos internos em seus ser-
vidores, bem como reduzir o tempo de transferência desses documentos
entre locais distintos quando necessário.
O ODF foi adotado pela ISO, fazendo parte agora da norma ISO/IEC
26300. Uma boa variedade de softwares, tanto livres como proprietários,
está adotando-o como formato padrão ou como alternativa ao seu formato
original. Até mesmo um plug-in para que o Microsoft Office pudesse lê-los
foi feito pela comunidade Software Livre, sendo que a Microsoft é a em-
presa à qual menos interessa a popularização do ODF em detrimento dos
seus padrões DOC, XLS e PPT. A aceitação ao ODF cresce continuamente,
ao menos nos meios mais ligados à Tecnologia da Informação e em alguns
órgãos públicos mundo afora. Alguns governos municipais/estaduais no
Brasil, nos EUA, na Europa e a própria União Européia são simpáticos ao
ODF e estão migrando para ele, visando disponibilizar alguns de seus do-
cumentos para suas populações de forma mais justa.
Da mesma forma que acontece com o Software Livre; há resistência, apa-
tia e a difução de mitos e equı́vocos em relação ao padrão ODF. Há gente
que não entende a Licença-Flamengo e pensa que a qualquer momento
alguémpode agir de má-fé e apoderar-se do padrão ou de algum dos seus
principais pacotes Office que o manipulam, sem atentar para o fato de que
se isso acontecesse ainda seria possı́vel usar outro programa que manipula
ODF. O que pode acontecer mais facilmente é algum software proprietário
que lide com ODF ser descontinuado ou algum software livre ter seu de-
senvolvimento abandonado; o que não deixaria seua/suas usuários(as) de-
samparados(as), pois poderiam migrar facilmente para outra suı́te de apli-
cativos, livres ou não, que opere com ODF.
Outra idéia encalacrada na mente de quem usa computador e não conhece
essa realidade é que com ODF a pessoa precisa migrar para GNU/Linux
ou ficar presa à suı́te Open Office, que é a mais famosa dentre aquelas
que lidam com ODF. Quem recebe um texto (ODT-Open Document Text),
Apostila de Software Livre e assuntos correlatos.
3 - Formatos livres de arquivos eletrônicos 47

planilha (ODS-Open Document Spreadsheet) ou palestra (ODP-Open Do-


cument Presentation) em ODF tem à sua disposição mais de 20 aplicativos,
livres ou não, para as mais diversas arquiteturas de computadores e SOs.
O principal e mais famoso pacote é o Open Office, chamado de BrOffice
em sua versão em português brasileiro. A comunidade BrOffice é bem
ativa no seu desenvolvimento, lutando para torná-lo fácil de usar e dotado
de funcionalidades necessárias para as tarefas cotidianas. Sua aparência é
muito semelhante à dos aplicativos equivalentes do Microsoft Office, ape-
sar de ter seu funcionamento interno bem diferente.
A verdade deve ser dita: o autor principal não tem detalhes de todas as
funcionalidades do BrOffice por não usá-lo tão intensamente. Sabe-se que
o Banrisul, primeiro banco nacional a migrar para Softwar Livre, incen-
tivado pela decisão do então governador gaúcho Olı́vio Dutra; manteve
o Microsoft Office em alguns computadores onde foi verificado que al-
guns recursos avançadı́ssimos do Excel sobre matemática financeira eram
necessários por alguns(mas) profissionais dos seus quadros. Os recursos
mais simples que a maioria esmagadora da população usa são cobertos,
e o banco tomou a decisão racional de adquirir as licenças do MS Win-
dows+MS Office apenas onde era realmente necessário, migrando para
GNU/Linux e BrOffice no restante do seu parque de máquinas.
O poder público (e isso inclui as universidades públicas) precisa gastar
adequadamente seus recursos. Enquanto estudantes e Sintusp lutam por
uma maior parte do orçamento estadual, desperdiça-se o dinheiro atual-
mente recebido dessa e de outras formas.
A luta por um uso mais disseminado de formatos livres na Universidade
levaria à sociedade, em médio prazo, pessoas conscientes e que não co-
nhecem apenas uma ferramenta, que não veja computador como sinônimo
de computador com a dobradinha MS Windows+MS Office. O esforço
para acostumar-se a um dos pacotes que lidam com ODF épequeno se
houver força de vontade e disposição para participar nesse processo, es-
pecialmente se for escolhido o Open Office que é esternamente muito se-
melhante. Não se deve esperar apenas que o governo faça tudo e ficar
esperando que as melhorias venham de bandeja. Nós alunos(as) e fun-
cionários(as) podemos coalborar.
DCE-Livre-USP “Alexandre Vannucchi Leme”
48 Gestões 2006/7(Camarão) e 2007/8(Vez e Voz)

4 TV Digital
Como já foi explicado, a transmissão ou armazenagem de dados na forma
digital é feita a partir de dois tipos de sinal, cuja combinação define as
informações que se quer descrever. No caso de transmissão por ondas de
rádio (nesse caso também enquadram-se as transmissões de TV, que usam
ondas eletromagnéticas como o rádio, porém em frequências diferentes),
uma transmissão digital poderia ser feita convencionando-se os zeros e uns
do código binário como a presença ou ausência de onda por uma determi-
nad quantidade de tempo, ou mesmo usando-se duas ondas diferentes. A
figura 1 ilustra a transmissão digital de dados. Muitas transmissões de da-
dos já são feitas de uma forma semelhante. De 2006 para cá o Governo
Federal mostrou interesse em mudar o sistema de transmissão de televisão
no Paı́s para a tecnologia digital. A vantagem técnica mais flagrante nessa
mudança seria a ausência de chiados e fantasmas na imagem. Ou ela chega
perfeita ao aparelho receptor ou não chega, afinal uma ligeira distorção nas
ondas ainda pode ser enxergada como determinado tipo de onda (ou seja,
como 1 ou 0) e levar à representação da imagem real na tela. No modo
analógico, usado atualmente, há analogia entre intensidades de onda e
a definição dos sona e das imagens, numa comparação grosseira. Uma
distorção nas ondas eletromagnéticas (que podem ser causdas por tempes-
tades, montanhas e grandes porções metálicas presas ao solo, por exemplo)
leva a distorções da imagem.
A TV digital, porém, traz mais discussões além da simples melhoria na
qualidade da imagem. Em 2006 o Governo Federal optou por usar o padrão

Figura 1: Exemplo de transmissão de alguns caracteres na forma digital,


por ondas eletromagnéticas
Apostila de Software Livre e assuntos correlatos.
4 - TV Digital 49

japonês de TV Digital, após uma disputa acirrada entre eles com grupos in-
teressados na adoção dos padrões europeu ou estadunidense. O padrão ja-
ponês foi adotado em troca da transferência de algumas tecnologias, atravs
da instalação de algumas fábricas de componentes eletrônicos em território
brasileiro.
Cada um dos três principais padrões usados atualmente no mundo tem suas
particularidades. O padrão usado nos EUA tem como uma de suas aualida-
des uma imagem em alta definição, enquanto o japonês é voltado para dis-
ponibilizar conteúdos multimı́dia para dispositivos móveis como palmtops
ou telefones celulares. Havia também a possibilidade de unir universidade
e centros de pesquisas brasileiros para desenvovler um padrão nacional,
voltado às nossas necessidades.
A transmissão de TV na forma digital permite aumentar absurdamente
aqualidade da imagem para poucas pessoas que disponham-se a comprar
um aaprelho mais caro. Ou pode-se manter a definição atual de imagem
(porém sem chiados e distorções) e alojar até quatro canais. Com o es-
pectro eletromagnético disponı́vel para a transmissão de uma variedade
maior de canais, a sociedade poderia beneficiar-se com a participação de
mais grupos (sejam empresas privadas ou organizações com interesses so-
ciais) na produção e distribuição de conteúdo que entra diariamente em
milhões de lares brasileiros e influencia. Trata-se de uma discussão so-
bre a função social da propriedade ou sobre a destinação que o Estado
dará a uma conecssão sua. A tecnologia atual permite que no mesmo con-
junto de freqüências eletromagnéticas sejam transmitidas o quádruplo de
conteúdos diferentes. Qual o interesse em manter uma conecessão na mão
de um único grupo que já a detém para a transmissão de um único canal?
Interesses de gente poderosa estariam ameaçados.
Outra promessa da TV Digital é a interatividade, que pode ser usada para
diversos fins. A comunicação com a produção de determinado programa
em tempo real seria facilitada, bem como o uso dessa novidade para fins
capitalistas como permitir a encomenda de um figurino usado numa no-
vela com alguns cliques no controle remoto. Pensa-se também em levar o
acesso à Internet junto com a transmissão digital para mais lares, através
do aparelho de TV pronto para a tecnologia digital ou do conversor D/A
(digital-analógico) que será usado por quem não quiser adquirir um novo
aparelho tão cedo, o chamado set-up-box.
Nesse contexto, um padrão de TV digital desenvolvido no Brasil, adequado
às nossas necessidades e particularidades (por exemplo geográficas, que
são muito diferentes das demandas japonesas) poderia ser desenvolvido
DCE-Livre-USP “Alexandre Vannucchi Leme”
50 Gestões 2006/7(Camarão) e 2007/8(Vez e Voz)

de forma livre, trazendo algumas vantagens; como o desenvolvimento de


tecnologia nacional, a liberdade para que outros paı́ses modificassem o
nosso padrão para suas necessidades particulares e a liberdade para que
qualquer um(a) desenvolvesse softwares usáveis nos módulos da TV Di-
gital ou mesmo programas televisivos, sem ter que pagar royalties ou so-
frer qualquer tipo de restrição por parte dos grandes grupos do setor de
comunicação.
O Ministério da Cultura, aliado à secretaria de TI do Minsistério do Pla-
nejamento, estão buscando desenvolver o projeto Ginga Brasil, para criar
ferramentas livres que permitam a produção de aplicativos e conteúdo para
veiculação em TV Ddigital de forma livre e mais democrática. Nesse
modelo, a comunidade Software Livre brasileira foi chamada para cola-
borar a ajudar a melhorar essa tecnologia. Enquanto isso, o Ministério
das Comunicações defende os interesses dos grandes conglomerados de
comunicaçao na “cara-dura”.
O Coletivo Intervozes de Comunicação Social promove o debate so-
bre a TV Digital e assuntos relacionados, que lidem com a produção e
distribuição de conteúdos voltados para comunicação de massa.

5 Inclusão Digital
Textos e conversas de Sérgio Amadeu da Silveira

6 Licenças Creative Commons

7 Construção colaborativa de conteúdo

7.1 Wikipédia

8 Certificação Eletrônica
Governo eletrônico
Apostila de Software Livre e assuntos correlatos.
9 - Casos de sucesso em uso de Software Livre 51

Figura 2: Nosso Ministro da Cultura apóia ambas as iniciativas.

9 Casos de sucesso em uso de Software Livre

9.1 Poder público e grupos polı́ticos

Governo gaúcho. Governo Federal. Algumas prefeituras.


Falar do FISL
PT discute razoavelmente.
A discussão sobre Software Livre está bem avançada nos coletivos anar-
quistas, com muito(a) aluno(a) de Humanidades “metendo os peitos” e
aventurando-se nele, aprendendo a usar seus programas. Nos partidos de
esquerda ainda é incipiente.

9.2 Movimentos Sociais

MST já participou do FISL. Zilda Arns é simpática. Economia Solidária


está buscando, caminha-se para uma sólida intersecção entre ambos os mo-
vimentos.
DCE-Livre-USP “Alexandre Vannucchi Leme”
52 Gestões 2006/7(Camarão) e 2007/8(Vez e Voz)

9.2.1 Entidades Estudantis

DCE-UFPR. Nossos amigos bafo de pinha, de pé-vermelho e coxa-branca


podem ajudar na redação dessa sub-seção
UNE. Deixar claro para a turma do PSTU que o software livre não é ruim
só porque o governo e a UNE os apóiam.

9.3 Empreendimentos solidários


9.4 Empresas do capitalismo tradicional
O soft. livre pode ajudar ambos. Pode ser usado para o bem e para o mal.

10 Conclusão
E aı́, pronto(a) para a migração para Software Livre?
Que tal ajudar o DCE-Livre e os CAs a estabelecer um cronograma de
migração e ajudar a tornar o software e os formatos livres uma “polı́tica de
Estado” e não “polı́tica de governo”? Uma diretriz que permaneça inde-
pendentemente da orientação ideológica das próximas gestões.
Como o assunto ainda não é tão bem conhecido fora da torre de silı́cio
dos cursos tecnológicos, elaboramos esta cartilha para dar uma visão ge-
ral do assunto. Passe-a adiante, incentive a discussão sobre esses assuntos
na sua entidade, seu movimento social ou seu coletivo. Incentive o DCE-
Livre e/ou seu grupo a organizar um debate sério a respeito. Estimule a
participação de amigos(as) nesses debates e apresentações. Procure pes-
soas que entendam do assunto (é mais provável encontrá-las na Poli, no
IME e no IF, para quem é da USP) para tirar eventuais dúvidas não escla-
recidas aqui.
Não fique “bitolado(a)” apenas na sua luta ou no seu movimento. É
possı́vel (até mesmo recomendável em alguns casos) lutar por e ser a fa-
vor da legalização do aborto, das reformas agrária e urbana, do passe li-
vre, da erradicação de qualquer forma de opressão de pessoas contra pes-
soas, da educação pública gratuita laica de qualidade para todos e todas,
do meio ambiente, da autodeterminação dos povos, dos direitos humanos
(e até mesmo dos outros animais), entre tantas outras lutas; usando softwa-
res e formatos livres de arquivos, as ferramentas e instrumentos legais de
construção colaborativa de conhecimento.
Apostila de Software Livre e assuntos correlatos.
10 - Conclusão 53

A militância em determinada causa toma tempo, sabemos disso. Não es-


tamos pedindo para militar pelo Software Livre da forma tradicional, par-
ticipando de muitas atividades que demandariam muito tempo. O mı́nimo
que queremos é a compreensão da sua importância a seu uso mais disse-
minado. Da mesma forma, nós militantes pró-Software Livre podemos ter
contato com outras discussões e incluir algumas de suas reivindicações no
dia-a-dia, uma espécie de intercâmbio.

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