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Apenas um Sonho

Há dias que começamos com um sorriso na cara e nem


sabemos bem porque. No dia em que completava um quarto
de século, Julieta acordou com um verdadeiro sorriso na
cara, e tudo por causa dum pequeno sonho.

Tinha tentado acordar às 8h30 para ir às aulas, mas o


cansaço dos últimos dias tinham-se acumulado e voltou a
adormecer, e quando adormeceu, sonhou e sonhou que era o
dia do jantar do seu aniversário.

Estava já na parte final do jantar e Julieta sentia-se


completamente sóbria e tentou visualizar onde estaria o seu
irmão, porque ele tinha ficado encarregue dela ter uma
óptima noite, em que o seu lado certinho seria derrubado por
uns bons copos de vinho. Deixar de estar presa à sua
personalidade em que tudo tinha que ser controlado e ao
mais infimo pormenor.

Encontrou o seu irmão umas cadeira abaixo ao lado de


alguém que não viu bem a cara. E perguntou-lhe:

- Então Joel?! Estou sóbria!

- Oh Maninha desculpa, mas acho que não precisavas de


mais.

Conformei-me com o facto de ele ter razão não sentia-me


presa à minha personalidade normal, sentia-me solta, sentia-
me à vontade comigo mesma.

E eis que não sabendo como nem o porque todos saíram para
apanhar ar, e fiquei eu sozinha a ajudar a D. Amélia a
levantar as mesas. E quando estava a levantar a última taça
de sobremesa, senti a meu lado, o doce cheiro do perfume do
Filipe. Senti-lo ali a meu lado, despertou todos os meus
sentidos, e a minha rápida necessidade de fugir e não estar
só com ele. Precisava de me ir, ele andava comprometido, não
podia fazer nada para o ter, porque não era assim, preferia
sofrer a magoar uma terceira pessoa.

Mas não sei porquê, mas ele prendeu-me o pulso, segurou-me


e puxou-me para ele. E segredou-me:

- Já te tinha dado os Parabéns?

Eu nem falar conseguia, limitei-me a abanar a cabeça.

- Então temos que mudar isto!

E quanto dizia isso, aproximou a cara da minha. Fiquei sem


forças, não queria me render, não era certo, mas todo o meu
ser gritava, “Já chega!, tens que deixar de fazer o correcto e
lutar por ele.”

O meu pensamento só gritava: “Ele está aqui por ti!”.


Consegui mandar o meu corpo obedecer-me por breves
momentos, e incrivelmente consegui fugir ao olhar que em
retirava todas as minhas forças, e tentar me separar dele.
Mas ele não vacilou. Desta vez não tinha escapatória. E ali,
encostada à parede e presa no corpo dele, ele segurou-me a
cara com as mãos e beijou-me suavemente.

Será escusado dizer, que o resto de luta que havia dentro de


mim, para lutar, para me separar dele, foi à vida. Fui fraca,
mas fui feliz, nunca me senti tão bem a beijar alguém como
me senti a beijá-lo e a ser beijada.

Esperamos sete anos para finalmente darmos o primeiro


passo. E apesar de estar a amar toda aquela química, toda
aquela situação, algo que desejava há muito, tinha medo,
muito medo, porque ele não era livre, eu tinha terminado
uma relação que apesar de forma pacifica foi uma bonita
história, e não queria magoar ninguém.

Quando terminamos aquele beijo, que mais parecia um beijo


dado com toda a alma, ser, e mais alguma coisa que qualquer
pessoa que se sente mesmo perdidamente apaixonada,
consegui finalmente olhá-los nos olhos e perguntar.

- E ela?

- Isso resolvo eu, agora somos nós, perdemos tempo demais


neste jogo do empurra e do foge.

Pedi-lhe para sermos discretos, primeiro queria contar ao


meu ex-namorado porque acima de tudo éramos todos
amigos, e não sei como isso poderia vir a ser interpretado
entre alguns de nós. E disse-me que não me preocupasse com
a Francisca, que ele resolvia, porque era o “monte de catotas”
dele.

Assim, que finalmente conseguimos nos soltar dos braços um


do outro, cada um foi ter com as restantes pessoas.

Pedi ao meu querido maninho para me levar para casa, só


queria estar sozinha para poder assimilar o que tinha
terminado de acontecer. Tinha medo que quando estivesse
sozinha me apercebe-se do erro que tinha sido ter cedido
finalmente ao desejo.

Mas enquanto o Joel conduzi-me a casa, recebia uma sms no


telemóvel dele a dizer-me:

“Já sinto saudades tuas. Tenho plena consciência que tenho


que trabalhar, mas só me apetecer estar contigo!”

E enquanto sorria para o telemóvel, ouvi este a tocar e ficou


tudo negro, e acordei. Ao atender, do outro lado da linha ouvi
a voz animada da minha instrutora de ginásio a dar-me os
parabéns. E foi neste momento, que tive a plena consciência
de que foi apenas um sonho.

Mas o sonho mais fantástico, no lugar de ficar melancólica e


deprimida, senti-me apenas muito feliz. Não conseguia
deixar de esboçar um sorriso palerma na minha cara.

Estava simplesmente louca porque, senti que ele desejou-me


os parabéns de forma original, sem saber que já o tinha feito.

A sensação que ainda sentia na cara quando acordei. Parecia


que não tinha sido apenas um sonho. Tudo indicava para
mais, mas eu sabia que era impossível.

Restava saber se dentro de dois dias, no dia da festa de


aniversário, eu ia ter uma surpresa dejá vu, ou se ia ter uma
simples festa sem declarações.

Resta esperar.

Josefina OliPacheco

Novembro, 2010  

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