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Paulus.
- Trechos -
Capítulo XIX - O corpo de Adão não era espiritual, mas animal, p. 229
“Como podemos dizer que nos renovamos”, perguntam alguns, “se não recebemos o que
perdeu o primeiro homem, no qual todos morrem?”. Recebemos certamente de um certo
modo, e não recebemos de outro. De fato não recebemos a imortalidade do corpo espiritual,
que o homem ainda não teve; mas recebemos a justiça, da qual o homem caiu pelo pecado.
Portanto, renovar-nos-emos da velhice do pecado, não para o primitivo corpo animal que
Adão teve, mas para melhor, ou seja um corpo espiritual, quando formos igual aos anjos
de Deus. Renovar-nos-emos, pois pela transformação espiritual de nossa mente (Cf. Ef 4,
23) conforme a imagem daquele que nos criou, que Adão perdeu pecando. Renovar-nos-
emos também quanto à carne, quando este corpo espiritual, no qual Adão, ainda não
transformado, transformar-se-ia, se não tivesse merecido a morte também do corpo
animal. Finalmente o Apóstolo não diz: o corpo certamente é mortal devido ao pecado,
mas: O corpo está morto pelo pecado. (Cf. Rm 8,10)
Capítulo XXV – Adão: mortal no corpo, porém imortal pela graça de Deus
Podia dizer-se antes daquele primeiro pecado que era mortal segundo uma causa e
imortal segundo outra, a saber mortal porque podia morrer, imortal porque podia não
morrer. Uma coisa é não poder morrer, como algumas naturezas criadas imortais por
Deus. Outra coisa é poder não morrer, deste modo o primeiro homem foi criado
imortal. Isso lhe era dado pela árvore da vida e não pela constituição da natureza.
Dessa árvore foi separado quando pecou e assim pôde morrer. Se não tivesse pecado
poderia não morrer. Era, portanto, mortal pela condição do corpo animal e imortal
por benefício do Criador. Se o corpo era animal, era certamente mortal por podia
morrer, embora fosse também imortal porque também podia não morrer. Mas não era
imortal porque não podia morrer de modo algum, senão seria espiritual, o que nos é
prometido como futuro na ressurreição. (...) Pelo pecado não se tornou mortal, pois já
o era antes, mas morto, o que poderia ter acontecido se o homem não pecasse.
(...) Pois este corpo é animal, como foi o do primeiro homem; mas este, na mesma
espécie de animal, é muito pior, visto que lhe é necessário morrer, o que para aquele
não era. Embora ainda lhe restasse ser transformado e, feito espiritual, receber a plena
imortalidade, na qual não necessitaria de alimento corruptível, entretanto, se o homem
vivesse na justiça e se seu corpo se transformasse para natureza espiritual, não cairia na
morte. Devido a essa necessidade proveniente do pecado do primeiro homem, o
Apóstolo classifica nosso corpo não como mortal, mas como morto, porque todos
morremos em Adão(Cf. Rm 5,12). E diz também: Como é a verdade em Jesus, despojai-
vos do vosso modo de vida anterior do homem velho, que se corrompe ao sabor das
concupiscências enganosas (Cf. Ef 4 21,22); isto é, nisso se tornou Adão pelo pecado.
Observa o que vem em seguida: Renovai-vos no espírito da vossa mente, e revesti-vos do
Homem Novo, criado segundo Deus, na justiça e santidade da verdade(Cf. Cl 3, 9-10);
eis o que Adão perdeu pelo pecado.
(...) Adão perdeu aquela primeira túnica ou a própria justiça da qual ele caiu; perdeu a
vestidura da imortalidade corporal...
A doutrina cristã ensina que no último dia: “levantar-se-ão os que fizeram o bem,
para a ressurreição da vida; os que fizeram o mal, para a ressurreição da condenação”. ( Jo
5,29). Com relação aos efeitos da ressurreição para todos os homens, alguns deles foram
apontados por São Tomás de Aquino.
O primeiro, com relação à identidade dos corpos que ressurgirão: o mesmo que
existe agora, ressurgirá. A mesma essência, porém, com novas qualidades. O apóstolo
afirma: “convém que este corpo corruptível seja revestido da incorrupção”. (1Cor 15,33)
A tradição apostólica ensina que o homem é corpo e alma. “O que é o homem senão
um animal racional composto de corpo e alma? É a alma por si só o homem? Não, mas só a
alma do homem. Seria o corpo chamado de homem? Não, ele é chamado o corpo do
homem. Se nenhum dos dois casos é o homem, mas só aquele que é feito das duas partes
juntas é chamado homem, Deus chamou homem à vida e ressurreição, Ele chamou não uma
parte, mas o todo, que é corpo e alma”. (tratado Sobre Ressurreição, tradicionalmente
atribuído a São Justino).
A união entre corpo e alma deve ser constituída de maneira tal que os atos
genuinamente humanos não pertençam apenas à alma, e sim ao homem, ou seja, ao
composto. Por isso, o homem consta unicamente da forma substancial e da matéria
primeira. Pela mesma razão, o termo homem não deve ser enunciado com relação à alma ou
ao corpo, mas tão somente com relação ao todo ou composto. Para entender esta doutrina é
preciso atender à diferença entre união substancial e união acidental.
A matéria primeira, como pura potencialidade que é, aspira a ser atualizada pela
forma; do contrário, ela permanece matéria e não chega a tornar-se corpo. Mas também a
alma é um ser incompleto; seu grau de autonomia é demasiadamente imperfeito para poder
expandir-se independentemente do corpo; e, uma vez separada deste, só torna a atingir sua
perfeição natural após sua reunião com o corpo, o que permite exercer suas atividades por
meio de órgãos corporais.
A terceira é a agilidade. Pela qual o corpo é facilmente movido para onde quer que a
alma queira. Lê-se: “Os justos resplandecerão, e correrão como centelhas através da
palha” (Sab 3,7).
Serão passíveis, mas jamais corrompidos, pois arderão para sempre no fogo e nunca
serão consumidos. Lê-se: “Os vermes nunca morrerão nos seus corpos, e o fogo neles
nunca se extinguirá”(Is 66,24).
Serão pesados, porque as almas estarão como que acorrentadas. Lê-se: “Para
prender os seus reis com grilhões”(Sl 149,8).
Fontes:
AQUINO, São Tomás de.Exposição sobre o Credo. Edições Loyola, 1981.
BOEHNER, Philotheus e GILSON, Etienne. História da Filosofia Cristã. In São Tomás de
Aquino, pág 468, ed. Vozes, 1995.
Apêndice
Catecismo da Igreja Católica
645 Jesus ressuscitado estabelece com seus discípulos relações diretas, em que estes o
apalpam [a38] e com Ele comem[a39] . Convida-os, com isso, a reconhecer que Ele não é
um espírito[a40] , mas sobretudo a constatar que o corpo ressuscitado com o qual Ele se
apresenta a eles é o mesmo que foi martirizado e crucificado, pois ainda traz as marcas de
sua Paixão[a41] . Contudo, este corpo autêntico e real possui, ao mesmo tempo, as
propriedades novas de um corpo glorioso: não está mais situado no espaço e no tempo,
mas pode tornar-se presente a seu modo, onde e quando quiser[a42] , pois sua humanidade
não pode mais ficar presa à terra, mas já pertence exclusivamente ao domínio divino do
Pai[a43] . Por esta razão também Jesus ressuscitado é soberanamente livre de aparecer
como quiser: sob a aparência de um jardineiro [a44] ou “de outra forma" (Mc 16,12),
diferente das que eram familiares aos discípulos, e isto precisamente para suscitar-lhes a
fé[a45] .
(Parágrafo Relacionado 999)
646 A Ressurreição de Cristo não constituiu uma volta à vida terrestre, como foi o caso das
ressurreições que Ele havia realizado antes da Páscoa: a filha de Jairo, o jovem de Naim e
Lázaro. Tais fatos eram acontecimentos miraculosos, mas as pessoas contempladas pelos
milagres voltavam simplesmente à vida terrestre "ordinária" pelo poder de Jesus. Em
determinado momento, voltariam a morrer. A Ressurreição de Cristo é essencialmente
diferente. Em seu corpo ressuscitado, Ele passa de um estado de morte para outra vida, para
além do tempo e do espaço. Na Ressurreição, o corpo de Jesus é repleto do poder do
Espírito Santo; participa da vida divina no estado de sua glória, de modo que Paulo pode
chamar a Cristo de "o homem celeste[a46] ".
(Parágrafos Relacionados 934,549)
JOÃO PAULO II
AUDIÊNCIA
Assim como o Espírito Santo transfigurou o corpo de Jesus Cristo quando o Pai O
ressuscitou dentre os mortos, também o mesmo Espírito revestirá da glória de Cristo os
nossos corpos. Escreve São Paulo: «E se o espírito d’Aquele que ressuscitou a Jesus dos
mortos habita em vós, Ele, que ressuscitou a Jesus Cristo dos mortos, há-de dar igualmente
a vida aos vossos corpos mortais por meio do Seu Espírito, que habita em vós» (Rm 8, 11).
Essa dificuldade é proposta de novo também no nosso tempo. Com efeito, por um
lado, também quando se crê em qualquer forma de sobrevivência para além da morte,
reage-se com cepticismo à verdade da fé que esclarece este supremo interrogativo da
existência, à luz da ressurreição de Jesus Cristo. Por outro lado, não falta quem percebe o
fascínio de uma crença como a da ressurreição, que está radicada no humus religioso de
algumas culturas orientais (cf. Tertio millennio adveniente, 9).
Esse realismo das aparições testemunha que Jesus ressuscitou com o Seu corpo e,
com este corpo, vive junto do Pai. Trata-se, contudo, de um corpo glorioso, já não sujeito às
leis do espaço e do tempo, transfigurado na glória do Pai. Em Cristo ressuscitado é
manifestada aquela fase escatológica à qual, um dia, são chamados a chegar todos aqueles
que acolheram a Sua redenção, precedidos pela Virgem Santa que «terminado o curso da
vida terrena, foi elevada à glória do céu em corpo e alma» (Pio XII, Const. Apost.
Munificentissimus Deus, 1/11/1959, DS 3903; cf. Lumen gentium, 59).
4. Tendo como ponto de referência o relato da criação narrado pelo livro do Génesis
e interpretando a ressurreição de Jesus como a «nova criação», o apóstolo Paulo pode então
afirmar: «O primeiro homem, Adão, foi feito alma vivente: o último Adão é um espírito
vivificante» (1 Cor 15, 45). A realidade glorificada de Cristo, com efeito, através da efusão
do Espírito Santo, é participada de modo misterioso, mas real, também a todos aqueles que
n’Ele crêem.
Assim, em Cristo «todos ressuscitarão com os corpos de que agora estão revestidos»
(Concílio Lateranense IV: DS 801), mas este nosso corpo será transfigurado em corpo
glorioso (cf. Fl 3, 21), em «corpo espiritual» (1 Cor 15, 44). Paulo, na primeira Carta aos
Coríntios, àqueles que lhe perguntam: «Como ressuscitam os mortos? Com que espécie de
corpo voltam eles?», responde servindo-se da imagem da semente que morre para se abrir à
nova vida: «O que semeias não torna vida, se primeiro não morrer. E o que semeias não é o
corpo que há-de vir, mas sim um grão simples de trigo, por exemplo, ou de qualquer outra
espécie (...). Assim também é a ressurreição: semeia-se na corrupção e ressuscita-se na
incorrupção. Semeia-se na ignomínia e ressuscita-se na glória. Semeia-se na fraqueza,
ressuscita-se na força. Semeia-se corpo natural e ressuscita-se corpo espiritual (...). É
necessário que este corpo incorruptível se revista de incorruptibilidade, e que este corpo
mortal se revista de imortalidade» (1 Cor 15, 36-37.42-44.52).
http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/audiences/1998/documents/hf_jp-ii_aud_04111998_po.html