Você está na página 1de 1

O traje de festa é o amor.

Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo


Todos os fiéis conhecem a parábola das núpcias do filho do rei e seu banquete, onde a magnificência
da mesa do Senhor é oferecida a todos. Quando o rei entrou para ver os convidados, observou um homem
que não estava em traje de festa e perguntou-lhe: ‘Amigo, como entraste aqui sem o traje de festa?’ (Mt 22,
11-12).
De que será que se trata aqui? Procuremos, meus irmãos, entre os fiéis, o que distingue os bons dos
maus; isso será o traje de festa. Não podemos dizer que são os sacramentos, pois são comuns aos bons e aos
maus. Será o batismo? Não há dúvida de que sem o batismo ninguém chega a Deus; mas nem todos os que o
recebem chegam a Deus. Não posso crer, portanto, que o traje de festa seja o batismo, isto é, o próprio
sacramento, pois tal veste vejo nos bons e vejo nos maus. Será acaso o altar, ou o que se recebe do altar?
Mas vemos que muitos que dele se nutrem, comem e bebem a própria condenação. De que se trata então? De
jejuar? Os maus também jejuam. De ir à igreja? Os maus também a freqüentam. O que será então esse traje
de festa? O traje de festa é este: Essa recomendação visava promover o amor que nasce de um coração
puro, de uma boa consciência e de uma fé sincera (1Tm 1, 5).
Não se trata de um amor qualquer, pois vemos com freqüência que as pessoas de má consciência
também se amam; mas nelas não há o amor que nasce de um coração puro, de uma boa consciência e de
uma fé sincera. Tal amor é o traje de festa.
Diz o Apóstolo: Se eu falasse todas as línguas, as dos homens e as dos anjos, mas não tivesse amor, eu
seria como um bronze que soa ou um címbalo que retine. Se eu tivesse o dom da profecia, se conhecesse
todos os mistérios e toda a ciência, se tivesse toda a fé, a ponto de remover montanhas, mas não tivesse
amor, eu nada seria (1Cor 13, 1-2). Se tivesse tudo isso, diz ele, e não possuísse a Cristo, eu nada seria.
Acaso será inútil a profecia? De nada valerá o conhecimento dos mistérios? Certamente, tudo isso tem
importância; mas se eu tivesse esses dons e não tivesse a caridade, nada seria. Tantos bens de nada valem
por falta de um só bem? Se não tenho a caridade, ainda que distribuísse esmolas aos pobres, que chegasse a
testemunhar o nome de Cristo até derramar o sangue, ou até ser queimado vivo, seria tudo em vão; porque
essas coisas podem ser feitas por amor à glória.
Que essas coisas podem ser feitas por amor à glória e não por uma caridade cheia de devoção, diz também o
Apóstolo: Se eu gastasse todos os meus bens no sustento dos pobres e até me fizesse escravo, para me
gloriar, mas não tivesse amor, de nada me aproveitaria (1Cor 13, 3). É este o traje de festa. Examinai-vos; se
o tendes, permanecei tranqüilos no banquete do Senhor.
O traje de festa recebe-se em honra da união do esposo e da esposa. Conheceis o esposo: é Cristo.
Conheceis a esposa: é a Igreja. Honrai a esposa, honrai o esposo. Se os honrardes dignamente, sereis seus
filhos. Portanto, procurai crescer no amor. Amai o Senhor e aprendei assim a amar-vos a vós mesmos. Para
que, ao amar-vos a vós mesmos amando o Senhor, ameis firmemente os irmãos como a vós mesmos.
Sermo 90, 1.5.6
(Patrologia Latina 38, 559.561.563)

Você também pode gostar