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Repetindo mais uma vez, em função dos que, erroneamente,

dizem ser AT (Antigo Testamento) “coisa de judeu”, certo escritor,


afirmou, com muita propriedade, que “o NT (Novo Testamento) está
oculto no AT”.

Um livro que parece ser um "mistério", Cantares, tão usado para


formular pensamentos de ordem romântica, filosófica e sexual, tem um
objetivo claro e bíblico de destacar um povo, único criado por Deus,
Israel, o qual é muito citado no NT. Em Romanos, o Ap. Paulo dá um
destaque especial à realidade israelita.

Neste contexto, um escritor, Norbert Lieth, que considero como
um professor meu na área de Teologia Escatológica e do qual ouvi
pessoalmente dezenas de palestras nesta área, “cavocou” e desvendou
qual a relação do Livro de Cantares com Israel. Temos que entender
que Israel é a figueira e nós, a Igreja, a Noiva de Cristo, somos os
ramos.

Na verdade, a Bíblia, é profética, uma vez que ela trata do que já


aconteceu, acontece e acontece sem faltar uma linha. Portanto,
Cantares faz parte deste processo profético.

O Israel restaurado voltará a ser o que Deus o destinou a ser


desde o chamado de Abraão (Gn 12), instrumento de Deus no período
milenar para a conversão dos povos que não marcharam contra
Jerusalém com os exércitos do Anticristo em preparação ao Estado
Eterno que, ao meio ver, será o retorno ao Paraíso de onde Adão foi
expulso em função de sua maldita desobediência!

Veremos, assim, neste artigo, que Cantares tem o seu papel


dentro deste contexto profético sendo, assim, seu sentido primeiro e
principal.

ISRAEL EM CANTARES
Cantares ou o Cântico dos Cânticos pode ser lido e entendido de
três maneiras:
(1) como descrição literal do amor de Salomão por sua noiva
sulamita;

(2) é uma analogia do relacionamento do Messias com Israel,


o povo de sua aliança;

(3) seria uma parábola sobre Jesus e sua igreja.

Certamente a primeira interpretação é essencial. Mesmo assim,


podemos presumir que o Espírito Santo também aplica o Cântico dos
Cânticos em termos da história sagrada.

Podemos enxergar nele a história profética e o futuro de


Israel, que termina com as bodas do Cordeiro:

● “Alegremo-nos, exultemos e demos-lhe a glória, porque chegou a


hora das bodas do Cordeiro, e a noiva dele já se preparou” (Ap
19.7).

O que também pode muito bem ser espiritualmente aplicado a


nós.

O primeiro amor

● “Beije-me com os beijos de sua boca! Porque o seu amor é melhor do


que o vinho... Leve-me com você!... O rei me introduziu nos seus
aposentos. Exultaremos e nos alegraremos por sua causa; do seu
amor nos lembraremos, mais do que do vinho...” (Ct 1.2,4).

O encontro de Deus com Israel é uma pura história de amor com


todos os altos e baixos. É um amor único, maravilhoso, misterioso
e incomparável.

É um amor extremamente dedicado; de nenhum povo Deus se


aproximou tanto como de Israel. O amor de Deus é pessoal e
íntimo, cheio de anseio e séria dedicação:

● “Beije-me com os beijos de sua boca...” (1:2).

Você ainda se lembra do seu primeiro beijo?

O amor de Deus excede tudo e oferece infinitamente mais do que


aquilo que o mundo nos pode dar: “Porque o seu amor é melhor do que o
vinho” (1:2).

O vinho é expressão de alegria, comunhão e sensualidade. O


vinho também representa preciosidade e riqueza, e apesar de
encontrarmos partes de tudo isso no mundo, ele nunca alcança aquilo
que o Senhor nos oferece.

O que Deus concedeu a Israel superou tudo. Talvez seja por isso
que o Cântico dos Cânticos ganhou essa designação no hebraico –
porque o amor nele descrito supera de longe tudo o mais. O amor de
Deus é poderoso:

● “Leve-me com você! Vamos depressa! O rei me introduziu nos seus


aposentos” (1.4).

O amor sempre é atraente. Ele não permite pensar em mais nada.


O amor sequestra. O amor busca a proximidade do amante.

O amor de Deus por meio de Jesus Cristo nos atrai para a mais
íntima comunhão com Deus. Ele quer abraçar-nos totalmente, segurar-
nos e incluir-nos naquilo que é de Deus – em seus aposentos, sua santa
habitação.

Tudo isso Israel experimentou. Contudo, o amor também sempre


será contestado. Não é raro que o amor inclua lutas. O abandono do
primeiro amor e as consequências disso

● “Mas a minha vinha, que me pertence, não a guardei” (Ct 1:6c).

Essa é uma confissão muito amarga. Sempre é doloroso quando


não prestamos atenção, não vigiamos e não fazemos mais nada em
favor do primeiro amor – tanto no casamento quanto em nosso
relacionamento com o Senhor.

A noiva estava dedicada a seguir o seu noivo, mas com o tempo


tornou-se negligente e abandonou o primeiro amor. Isso lembra as
palavras de Jeremias, que Deus dirigiu a Israel:

● “Lembro-me... da sua afeição quando era jovem, do seu amor


quando noiva e de como você me seguia no deserto, numa terra que
não é semeada” (Jr 2.2).

Qual foi a consequência de a noiva não cuidar da sua vinha,


abandonando o primeiro amor? Isaías diz:

● “Agora cantarei ao meu amado o seu cântico a respeito da sua


vinha. O meu amado teve uma vinha numa colina fértil. Ele cavou a
terra, tirou as pedras e plantou as melhores mudas de videira.

No meio da vinha ele construiu uma torre e fez também um lagar.


Ele esperava que desse uvas boas, mas deu uvas bravas. E agora, ó
moradores de Jerusalém e homens de Judá, peço que julguem entre
mim e a minha vinha...

E agora lhes darei a conhecer o que pretendo fazer com a minha


vinha: vou tirar a cerca que está ao redor, para que a vinha sirva de
pasto; derrubarei o seu muro, para que ela seja pisoteada. Farei dela
um lugar abandonado...” (Is 5.1-6).

Primeiro vieram os assírios (722-720 a.C.), conquistaram


Israel e deportaram os habitantes. Mais tarde, os babilônios
conquistaram Judá e, em 586 a.C., tiraram do povo de Deus Jerusalém
e o templo. Com isso, o candelabro e o templo no qual ardia a Menorá
foram removidos do seu lugar.

Isso nos lembra a carta dirigida à igreja de Éfeso:

● “Tenho, porém, contra você o seguinte: você abandonou o seu


primeiro amor. Lembre-se, pois, de onde você caiu. Arrependa-se e
volte à prática das primeiras obras. Se você não se arrepender, virei
até você e tirarei o seu candelabro do lugar dele” (Ap 2:4-5).

Quem abandona o primeiro amor, não ilumina mais. O amor


sempre é a chama que arde e emana calor. O amor do Senhor não
deixa Israel cair.

● “O seu rosto fica lindo com os enfeites, o seu pescoço, com os


colares. Faremos para você enfeites de ouro, com incrustações de
prata” (Ct 1.10-11).

“Quem abandona o primeiro amor, não ilumina mais. O amor sempre é


chama que arde e emana calor”.
Quem quer reavivar um amor, muitas vezes dá presentes – e com
que abundância o Senhor nos presenteou! O ouro representa na Bíblia a
glória divina, e a prata, a redenção.

Com a redenção por meio do nosso Senhor podemos ser


glorificados. Permitamos então que o amor de Jesus volte a nos atrair.

No Novo Testamento lemos sete parábolas sobre o reino dos céus.


A sexta dessas parábolas fala de uma pérola:

● “O Reino dos Céus é também semelhante a um homem que negocia e


procura boas pérolas. Quando encontrou uma pérola de grande
valor, ele foi, vendeu tudo o que tinha e comprou a pérola” (Mt
13.45-46).

No início da história de Israel, quando Deus elegeu seu povo (Ez


16.11), consta que o Senhor adornou sua esposa e lhe colocou um colar
no pescoço.

Ao término da história de Israel vemos a Jerusalém celestial, a


cidade que tem doze portas, cada uma feita de uma pérola (Ap
21.12,21).

O começo e o fim da história de Israel estão adornados com a


imagem da pérola. O Senhor deu tudo por essa pérola a fim de poder
adquiri-la para si.

A primeira vinda de Jesus

● “Enquanto o rei está assentado à sua mesa, o meu nardo exala o seu
perfume” (Ct 1:12). “Ele me levou à sala do banquete, e o seu
estandarte sobre mim é o amor” (Ct 2:4).

O primeiro sinal que Jesus ofereceu no início do seu ministério na


terra ocorreu num casamento – uma festa do amor.

Nas bodas de Caná, ele transformou água no melhor dos vinhos


(Jo 2:1-11) e, enquanto Jesus esteve nesta terra em comunhão à mesa
com seus discípulos, seu perfume se transmitiu a eles e deles a outros.

Os discípulos representam o verdadeiro Israel. Pelo poder do seu


Senhor eles tinham autoridade. Sem ele, nada podiam fazer, mas com
ele tudo era possível.

No entanto, ao ler no Cântico dos Cânticos “enquanto o rei está


assentado à sua mesa” (Ct 1:12), vemos com isso também a alusão de
que ele não permaneceria com eles para sempre. Ele deixaria o seu
povo quando fosse rejeitado.

Com o tempo formou-se uma igreja composta de judeus e


gentios. Nela se preserva um remanescente de Israel (Rm 11.5), e essa
igreja aguarda com grande e amoroso anseio o retorno do seu Senhor.

Visando ao seu retorno

● “Ouço a voz do meu amado. Eis que ele vem... O meu amado fala e
me diz: Levante-se, minha querida, minha linda, e venha comigo” (Ct
2.8-10)...

e:

● “A figueira começou a dar seus figos, e as vinhas em flor exalam o


seu aroma. Levante-se, minha querida, minha linda, e venha
comigo” (Ct 2.13).

Desde que o noivo celestial se ausentou, seu retorno tem sido


anunciado e esperado. Um dos sinais do seu retorno iminente é a
figueira:

● “Aprendam a parábola da figueira: quando já os seus ramos se


renovam e as folhas brotam, vocês sabem que o verão está próximo”
(Mt 24.32).

Lucas acrescenta que então o Reino de Deus estará próximo (Lc


21:31).

Israel voltou a marcar presença como figueira, mas ainda não


despertou. Ainda não brotam folhas. Isto só acontecerá durante a
tribulação, mas é claro que, para isso, a figueira precisa primeiro
existir.

A noite da grande tribulação


Durante esse período de tribulação, mais um remanescente de
Israel o encontrará.

● “De noite, na minha cama, busquei o amado de minha alma;


busquei-o, mas não o achei. Eu me levantarei agora e rodearei a
cidade, pelas ruas e pelas praças; buscarei o amado da minha alma.
Busquei-o, mas não o achei.

Os guardas, que rondavam a cidade, me encontraram. Então lhes


perguntei: ‘Vocês viram o amado da minha alma?’ Mal os deixei,
encontrei logo o amado da minha alma.

Agarrei-me a ele e não o deixei ir embora, até que o fiz entrar na


casa de minha mãe e no quarto daquela que me concebeu” (Ct 3.1-
4).

Os judeus começarão a buscar o Senhor, mas ninguém poderá


ajudá-los. Finalmente, acabam por encontrá-lo sem ajuda humana.
“Mal os deixei, encontrei logo o amado da minha alma...”. Basta
lembrar a aplicação do selo nos 144 mil de Apocalipse 7.

É evidente que são selados sem concurso humano. Depois, eles o


seguram e se preparam para as bodas: “... não o deixei ir embora, até
que o fiz entrar na casa de minha mãe...” . É como diz Apocalipse 19:7:
“... a noiva dele já se preparou”.

Cântico dos Cânticos 4 descreve o amor do noivo pela sua noiva e


o anseio de ambos pela união. Todavia, antes disso ocorre uma grande
provação, válida para todos os tempos. Ela se aplica ao casamento, ao
remanescente crente de Israel e à igreja.

● “Eu dormia, mas o meu coração estava acordado. Eis a voz do meu
amado, que está batendo: ‘Deixe-me entrar, meu amor, minha
querida, minha pombinha sem defeito, porque a minha cabeça está
cheia de orvalho, e os meus cabelos, das gotas da noite’. Já tirei a
minha túnica! Como posso vesti-la outra vez? Já lavei os pés! Como
voltar a sujá-los?” (Ct 5.2-3).

Aqui ressoa o chamado da meia-noite: “Eis o noivo! Saiam ao


encontro dele!” (Mt 25:6).
O noivo esteve a caminho o tempo todo. Ele defendeu sua noiva,
agiu, trabalhou e orou por ela. Presenteou-a, elogiou-a e honrou-a.
Representou-a e defendeu-a. Nunca deixou seu amor esmorecer.

Ela, porém, se acomodara. Não queria mais se esforçar, não


queria se vestir novamente e estava satisfeita com seus pés lavados. O
conforto do seu próprio corpo era prioritário. Pensei aqui nas
admoestações às igrejas em Apocalipse.

Disso resultou uma grande aflição íntima:

● “O meu amado meteu a mão pela fresta, e o meu coração


estremeceu. Eu me levantei para abrir a porta ao meu amado. As
minhas mãos destilavam mirra, e os meus dedos deixavam escorrer
mirra preciosa sobre a tranca da porta.

Abri a porta ao meu amado, mas ele já tinha se afastado e ido


embora. Eu tinha estremecido, quando ele me falou. Busquei-o, mas
não o achei; chamei-o, mas ele não respondeu.

Os guardas, que rondavam a cidade, me encontraram; eles me


espancaram e me feriram; os guardas das muralhas tomaram o meu
manto. Filhas de Jerusalém, jurem: se encontrarem o meu amado,
digam que estou morrendo de amor” (Ct 5:4-8).

Embora em seu amor o Senhor não desista, ele também lança


mão de medidas educativas. Assim, ele diz aos laodicenses:

● “Eu repreendo e disciplino aqueles que amo. Portanto, seja zeloso e


arrependa-se. Eis que estou à porta e bato...” (Ap 3:19-20).

Não é o egoísmo que precisa ser tratado, mas o amor. A


negligência no amor causa muitas dores. Mas onde o amor se estende,
a cura transparece.

Acaso com o tempo você excluiu o Senhor porque outras coisas se


tornaram mais importantes? Ele continua procurando acesso a você.

Israel ainda passará por uma noite profunda. Será espancado e


perseguido. Tentarão roubar o seu “manto”, ou seja, o que o protege.
Também os ataques verbais aumentarão:

● “‘O que é que o seu amado tem que os outros não tenham, ó mais
bela das mulheres? O que é que o seu amado tem que os outros não
tenham, para que você nos faça jurar?’ O meu amado é alvo e
rosado, o mais destacado entre dez mil” (Ct 5:9-10).

As cores do amado, alvo e rosado, representam a justiça e a


redenção pelo sangue do Senhor. Jesus é incomparável.

● “O seu falar é muito suave; sim, ele é totalmente desejável. Assim é


o meu amado, assim é o meu esposo, ó filhas de Jerusalém” (Ct
5:16).

O final feliz

“Quem é esta que vem subindo do deserto, apoiada em seu amado?”


(Ct 8:5).

Segundo Apocalipse 12, um remanescente de Israel encontra


refúgio no deserto, onde será guardado e suprido pelo Senhor por
1.260 dias.

Ao final, o Senhor trará em triunfo seu povo do deserto para levá-


lo ao reino messiânico. Então, Israel se apoiará somente no Senhor e
não mais em sua própria força (Zc 4:6).

● “Naquele dia, os restantes de Israel e os da casa de Jacó que tiverem


escapado nunca mais se apoiarão naquele que os feriu, mas se
apoiarão no Senhor, o Santo de Israel” (Is 10:20).

No final, o amor terá vencido

“A história de Israel começou com o amor de Deus e terminará no amor,


para então permanecer eternamente.”

● “As muitas águas não poderiam apagar o amor; nem os rios, afogá-
lo. Ainda que alguém oferecesse todos os bens da sua casa para
comprar o amor, receberia em troca apenas desprezo” (Ct 8:7).
A história de Israel começou com o amor de Deus (Ez 16:8; Dt 7:7-
8; Rm 11:28) e terminará no amor, para então permanecer eternamente.

O amor cobre a multidão dos pecados (1 Pe 4:8). O amor não


desiste – sempre toma novo impulso: “Com amor eterno eu a amei; por
isso, com bondade a atraí” (Jr 31:3). O amor é o bem supremo que
excede tudo o mais (1 Co 13).

No início do Cântico dos Cânticos lemos: “... mas a minha vinha,


que me pertence, não a guardei” (Ct 1:6). E o fim da história diz: “A
minha vinha, que me pertence, dessa cuido eu!” (Ct 8:12a).

Israel recuperará tudo – Deus seja louvado eternamente!

● Norbert Lieth é autor e conferencista internacional. Faz parte da liderança da Chamada


na Suíça.

●  Revista Chamada Março 2023

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