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SALMOS PARA
“SENTIR E SABOREAR AS COISAS INTERNAMENTE”
(uma ajuda para a experiência dos Exercícios Espirituais)
INTRODUÇÃO
Todos os judeus piedosos fizeram, pois, dos salmos, seu modo muito
particular de orar. É assim que podemos imaginar José, Maria, Jesus,
rezando estas orações em forma de poema que haviam recebido como
herança de seus antepassados. Compostos antes da vinda de Jesus, rezados e
cantados pelo próprio Jesus, em momentos chave de sua vida, inclusive em
sua Paixão, os salmos foram parte da herança deixada pelo Messias àqueles
e àquelas que viriam a constituir a Igreja, a comunidade da Nova Aliança, o
Novo Povo de Deus.
provincial de Cuba . Sua vida sempre foi marcada – seja como formador,
seja como superior – pelos Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola,
que configuraram sua vida de jesuíta e cuja experiência trata de transmitir a
muitos outros, jesuítas ou leigos, religiosos ou religiosas, sacerdotes, bispos,
enfim, toda uma gama de pessoas que a ele recorre buscando crescer na
experiência de Deus.
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O livro original, publicado em Havana chama-se Salmos para acompañar los Ejercicios Espirituales,
Havana, Servicio Ignaciano de reflexión y espiritualidad, 2002. Os demais livros, ds quais foram tomados
alguns outros salmos são: La Transparencia del barro. Salmos para el encuentro com los pobres, Santo
Domingo, MSC, 1991; Salmos em las orillas de la cultura y del mistério, Santo Domingo, MSC, 1993; En el
aliento de Dios. Salmos de gratuidad, Santo Domingo, MSC, 1995; La utopia ya está en lo germinal. Solo
Dios basta, pero no basta um Dios solo, Santo Domingo, MSC, 2001. Também saíram pela Editora Amigo
del Hogar, Santo Domingo. E na Espanha todos, menos Salmos em las orillas de la cultura y del misterio
foram publicados pela Editora Sal Terrae.
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É por isso que, para cada salmo aqui traduzido, escolhemos uma
epígrafe tomada do livro dos Exercícios de Santo Inácio. 2 Assim
pretendemos que o exercitante que tome estes poemas para ajudar sua
oração possa mais facilmente encontrar a passagem dos Exercícios à qual se
refere ou possa a ela referir-se, nomeando assim sua experiência e a moção
que lhe vai no coração.
Esperamos que este pequeno saltério possa ajudar tanto aquele que
dá os Exercícios como aquele ou aquela que os recebe. O grande filólogo
francês Roland Barthes escreveu um memorável texto 3onde identificava nos
Exercícios quatro níveis textuais: 1. O que Deus escreveu na vida e na
experiência de Inácio; 2. O que Inácio escreveu e que está consignado no
livrinho dos Exercícios; 3. O que o acompanhante de Exercícios “escreve”
na medida em que vai dando os Exercícios ao exercitante; 4. O texto final
que é o objetivo último desta série de revelações divinas e humanas: o texto
que Deus e o exercitante, abrasados e abraçados (cf. Anotação 15) em
amorosa comunhão escrevem juntos, instaurando mais uma vez na história a
maravilha do Espírito que a tudo renova.
2
As citações dos Exercícios estão tomadas de J. ABRANCHES, Exercícios Espirituais, tradução brasileira
do Autógrafo espanhol, SP, Loyola, 1985
3
R. BARTHES, Sade, Fourier, Loyola, Paris, PUF, 1971
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INTRODUÇÃO À ORAÇÃO
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‘Não é o muito saber que sacia e satisfaz a alma, mas sentir e saborear as coisas
internamente” <EE.EE.2)
Quando buscamos a Deus, é porque Ele já nos buscou primeiro. O fato de sentir sua
ausência, a necessidade de encontrar-nos com Ele, o desejo de fazer Exercícios Espirituais,
nos está revelando que nos falta algo fundamental. Esta é uma das muitas maneiras como
Deus nos busca. O Espírito de Deus abre nossa existência para o Absoluto desde o centro
mesmo de nossa pessoa limitada. “Deus nos faz falta”.
Ao fazer os Exercícios Espirituais estamos respondendo ao chamado de Deus.
Vamos a um encontro de tal magnitude que toda a nossa pessoa se verá implicada,
alcançada, transformada. Penetramos em sua intimidade numa comunhão que não tem fim.
O que nós podemos fazer é “dispor-nos” para escutar e acolher da melhor maneira possível
tudo o que Deus nos queira ensinar de si mesmo e de nós mesmos, para colaborar com Ele
na construção de um mundo justo e livre.
Duas dimensões são fundamentais: a disposição de nossa parte e a iniciativa de
Deus que é imprevisível. Não podemos reduzir sua graça à limitada compreensão das
coisas que expressamos em nossas pequenas petições. Não podemos reduzir as propostas
novas de Deus a nossos medidos e calculados projetos. Abrimo-nos ao encontro da
bondade infinita que transborda sempre além de nossas previsões e nossas possibilidades.
Estes salmos de entrada, podem ajudar a situar-nos nesta perspectiva fundamental
de escuta e de acolhida do que supera todas as nossas projeções. Buscamos aquele que é
poderoso para fazer tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou
pensamos, segundo o poder que em nós opera eficazmente (Ef 3,20)
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É de grande vantagem para quem faz os exercícios, entrar neles com grande ânimo e
generosidade para com seu Criador e Senhor, oferecendo-lhe todo o seu querer e
liberdade, para que sua divina Majestade disponha de sua pessoa e de tudo quanto
possui, conforme a sua santíssima Vontade (Anotação 5)
Pobre de mim
se atasse
tua resposta
a minha pergunta
tão medida,
ou a meu lamento
tão ferido!
Pobre de mim
se já soubesse
a resposta!
Talvez
só encontrasse
para minha sede,
minha própria água
reciclada,
o eco
de meu monótono
dizer-me,
meu passado
umedecido
pelo suor
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ou pelo pranto.
Necessito-te
mais além
do que sei
ou do que digo
de mim mesmo.
Hoje descubro,
já presente,
no amor
com que me atrais,
a paixão
com que me buscas!
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“Não somos nós que amamos a Deus, mas Ele nos amou primeiro”
(1 Jo 4, 16)
“...não é o muito saber que sacia e satisfaz a alma, mas o sentir e saborear intimamente
as coisas ...” (Anotação 2)
que eu te compreenda,
mas que Tu me compreendes em meu último segredo
(1 Cor 13,12),