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O pequeno Tratado do Amor de Deus , composto por Sã o Joã o de Avila, é
considerado "uma pé rola da literatura lı́rica espanhola e da teologia
mı́stica do sé culo XVI ". Pertence, dentro da obra literá ria do santo, aos
chamados tratados menores , nos quais se manifesta o seu manejo das
questõ es espirituais e a ina sensibilidade com que as trata.
Como toda a sua doutrina, este tratado foi vivido e pregado pelo santo.
O Tratado do Amor de Deus é uma cristologia onde se penetra o misté rio
da interioridade de Cristo, sobretudo a loucura da cruz.
São João de Ávila
ePub r1.2
Titivillus 01.02.2020
Sã o Joã o de Avila, 1618
AMOR DE DEUS
AMOR DE DEUS
Bem, vamos ver agora, Senhor, se você nos ama; e se é assim que
você nos ama, quanto amor você tem por nó s. Os pais amam muito seus
ilhos; mas talvez você nos ame como um pai? Nã o entramos no seio do
teu coraçã o, meu Deus, para ver isso; mas o seu Unigê nito, que desceu
daquele ventre, trouxe sinais dele, e nos ordenou que o chamemos de
Pai por causa da grandeza do amor que você tinha por nó s; e,
sobretudo, disse-nos para não chamar outro pai na terra, porque só tu
és nosso Pai . Porque assim como você é apenas Pai; e de tal maneira
que sois e tais obras fazeis, que, em comparaçã o com as vossas
entranhas paternas, nã o há ningué m que possa ser assim chamado.
Seu profeta sabia muito bem disso quando disse: Meu pai e minha
mãe me abandonaram, e o Senhor me recebeu . Você mesmo quis
comparar-se com os pais, dizendo por meio de Isaı́as: Existe alguma
mulher que se esqueça da criança e não tenha misericórdia do ilho que
saiu de seu ventre? Pode ser que você esqueça, mas eu nunca vou te
esquecer, porque eu tenho você escrito em minhas mãos e suas paredes
estão diante de mim . E porque, entre os pá ssaros, a á guia é mais famosa
por amar seus ilhos, com seu amor você queria que comparemos a
grandeza do seu amor: Assim como a águia defendeu seu ninho e, como
suas galinhas, abriu suas asas e ele os trouxe nos ombros .
Sobre este amor está o do marido para com a mulher, do qual se diz:
Por isso o homem deixará seu pai e se unirá à sua mulher, e serão dois em
uma só carne; mas seu amor supera este; porque, como você diz por
Hieremias, se um marido expulsa sua esposa de casa, e se ela for expulsa,
ela se junta a outra, ela voltará para ele novamente? Mas você fornicou
com tantos amantes quantos você quis; mas, no entanto, volte para mim,
diz o Senhor, que eu te receberei .
4. Mas agora vamos ver quã o grande foi o amor que o Filho
que você nos deu teve por nó s. Nã o há linguagem
su iciente para dizê -lo; porque, como diz Sã o Paulo, a
caridade de Cristo excede todo o conhecimento e todo o
sentido , mesmo o dos anjos, porque nem todos alcançam
a grandeza dela. Ora, que homens poderã o explicá -lo, se
os anjos nã o o conhecerem?
Nã o é esta a conta que deve ser feita para medir este amor, porque o
amor de Cristo nã o nasce da perfeiçã o que há em nó s, mas daquilo que
Ele tem, que é olhar para o Pai Eterno.
També m foi dado a esse homem muito novo que era o Pai universal
e Cabeça de todos os homens, para que em todos eles, como cabeça
espiritual, pudesse in luenciar a virtude. De modo que Ele, como Deus,
é igual ao Pai Eterno e, como homem, é o Cabeça de todos os homens; e,
segundo este principado, deu in inita graça, para que dEle, como de
uma fonte de graça e de um mar de santidade, todos os homens a
recebam; e Ele é chamado Santo de todos os santos, mas por ser o
santi icador de todos e, por assim dizer, um tom de santidade onde
todos aqueles que devem ser santos devem receber essa cor e brilho.
Essa graça també m é in inita, porque é para toda a geraçã o humana,
que nã o tem um nú mero determinado de pessoas, mas pode, desde que
seja de sua parte, multiplicar-se in initamente; e para todos os que nela
se multiplicam há mé ritos e graça na alma abençoada de Cristo.
Finalmente, outra graça particular foi dada a ele para a santi icaçã o
e perfeiçã o de sua vida; que també m pode ser chamado de in inito,
porque tem tudo o que pertence ao ser e à condiçã o da graça, sem faltar
nada e sem acrescentar nada.
Se você admira este dom tã o grande, acrescente a ele esta outra
circunstâ ncia maravilhosa que está nele, e é que tudo isso foi dado por
pura graça, acima de todo mé rito, antes que aquela alma abençoada
pudesse fazer qualquer obra meritó ria onde pudesse merecer. Tudo
caminhava junto, criando-a e dotando-a dessas graças; nã o mais do que
porque o Senhor quis ampliar e estender suas mã os de generosidade, e
assim engrandecer sua graça. Para o qual Santo Agostinho chama Jesus
Cristo de modelo e amostra de graça; porque assim como os grandes
escribas ou pintores costumam fazer amostras de seu trabalho quando
querem se dar a conhecer, em que usam todo o seu conhecimento e
fazem todo o poder de ú ltima hora para que todos possam ver até onde
chega, Assim, esta bondade, grandeza e magni icê ncia in inita de Deus
determinado a criar uma nova criatura e usar com ela toda a sua
magni icê ncia e grandeza, para que por esta obra os cé us e a terra
conheçam a sua grandeza. O rei Assuero fez um convite solene para que
todos os seus reinos pudessem ver a grandeza de suas riquezas e
pompa. O Rei do cé u fez outro convite a esta santa humanidade com a
qual se casou para que todas as criaturas celestiais e terrenas
conhecessem por meio dela a grandeza de suas riquezas, bondade e
generosidade divina, que se estendia a tais coisas.
Veja que dom tã o admirá vel e quã o feliz icou aquela alma
abençoada a quem Deus quis fazer tal graça; e nã o tenha inveja, mas
alegria, porque a graça que Ele recebeu, Ele recebeu nã o só para si
mesmo, mas també m para você . Em seu nome foram escritas as
palavras de Jó : Se ele comeu um bocado sozinho, e o estrangeiro não
comeu dele. Porque desde a minha infância a misericórdia cresceu
comigo, e desde o ventre de minha mãe veio comigo . Entã o ele nã o
comeu seu bocado sozinho, mas o partiu com os peregrinos. E, como
nosso verdadeiro Chefe, recebeu o que recebeu nã o só para si, mas para
seus membros.
6. Bem, acrescento mais: que este grande desejo foi dito que
a vontade de Deus era querer salvar a raça humana, que
se perdeu por culpa de um homem; e que o bendito Filho
cuide desse negó cio para sua honra e obediê ncia, e que
ele leve essa impressã o gloriosa ao coraçã o, e que ele nã o
descanse até que inalmente saia com ela. E porque a
maneira como todas as causas e criaturas agem é por
amor - porque todas agem para algum im que desejam,
cujo amor, concebido em seu ventre, as faz trabalhar - e,
portanto, já que Ele teve que assumir sobre si esta obra de
a redençã o dos homens, que os amou com tanto amor e
desejo, que, pelo amor de vê -los remediados e
restaurados em sua pró pria gló ria, começou a fazer e
sofrer tudo o que era necessá rio para isso.
Diga-me agora: depois que aquela alma, tã o á vida de agradar ao Pai
Eterno, soube disso, diga-me: com que linhagem de amor retornaria aos
homens amá -los e abraçá -los por essa obediê ncia do Pai? Vemos que,
quando um tiro de artilharia lança uma bola com muita pó lvora e força,
se a bola ressurge ao lado do faz, ela parará , tanto mais com maior
ı́mpeto quanto maior for a força que carregava. Pois assim aquele amor
da alma de Cristo para com Deus teve uma força tã o admirá vel – porque
a pó lvora da graça que o impelia era in inita – quando, depois de ter ido
atingir diretamente o coraçã o do Pai, reviveu de lá o amor dos homens. ,
com que força e alegria ele se voltaria contra eles para amá -los e
remediá -los? Nã o há linguagem ou virtude criada que isso possa
signi icar.
Esta é a força que o profeta quis dizer quando disse: Ele se alegrou
como um gigante para correr o caminho: do mais alto do céu foi sua
partida e seu retorno ao mais alto; e não há ninguém para se esconder de
seu calor . Oh amor divino, que você deixou Deus, e voltou para o
homem, e voltou para Deus! Porque você nã o ama o homem pelo
homem, mas por Deus; Você a amou tanto que quem considera esse
amor nã o pode se defender desse amor, porque fortalece os coraçõ es,
como diz o Apó stolo: A caridade de Cristo nos fortalece . Este é o fervor e
a leveza que a santa Igreja, sua esposa, signi icou nos Câ nticos. Veja
como ele vem com tanta pressa pulando as montanhas e cruzando as
colinas. Meu Amado é como o cabrito montês e o ilho da corça , segundo
a leveza que traz. Isto é o que o profeta Isaı́as quis dizer quando disse:
Ele não icará triste e perturbado até que ele estabeleça julgamento e
acordo na terra, e as ilhas esperarão por sua lei . Daqui nasceram
aquelas palavras tã o corajosas que você disse: Se eu desse sono aos meus
olhos, se eu deixasse minhas pálpebras icarem um pouco presas, se eu
descansasse um pouco para minha vida até encontrar na terra uma
pousada e morada para o Deus de Jacó .
Nã o sem grande misté rio quis o Espı́rito Santo que se escrevesse,
entre outras peculiaridades do templo de Salomã o, isto: vale a pena
saber que suas janelas eram fendas de lechas, que por dentro eram
maiores do que por fora parecia O divino Amor , quanto Você é mais
velho do que parece aqui! Porque tantas feridas e tantas chicotadas e
chagas, sem dú vida nos pregam um grande amor; mas nã o dizem toda a
grandeza que tem, porque é maior por dentro do que parece por fora.
Centella é aquela que sai do fogo, galho é aquela que vem daquela
á rvore, riacho que nasce daquela poça de imenso amor. Este é o maior
sinal que pode haver de amor, dar a vida pelos amigos ; mas é um sinal e
nã o igualdade.
Bem, se eu te devo tanto pelo que você fez por mim, quanto mais eu
devo a você pelo que você quis fazer? Se o pú blico é tanto que os olhos
dos homens vê em, quanto mais é que os olhos de Deus só vê em? O
piscina de amor! Oh abismo sem chã o, todo cheio de amor! Quem
duvidará do amor de Cristo? Quem nã o se considerará o mais rico do
mundo, já que é amado por tal Senhor? Eu te implorei, oh, Senhor e
meu salvador!, que eles te moveram para me dar tal dom, me dê olhos e
coraçã o para que eu sinta e saiba, para que eu possa sempre me gloriar
em suas misericó rdias e cantar seus louvores todos os dias. dia.
Sim, de fato, e mais para você do que para qualquer um dos homens,
por causa de sua delicadeza ele foi maior; mas, pela grandeza do amor
que você tinha por nó s, você nã o olhou para a sua dor, mas para o nosso
remé dio; nã o para suas feridas, mas para o remé dio de nossas almas
doentes. Se o patriarca Jacó não pensou em sete anos de serviço para
casar com Raquel, por causa do grande amor que tinha por ela , o que
você pensaria de um dia da cruz para casar com a Igreja e torná -la tã o
bonita, que ela não seria manchado ou enrugado? ? Esse amor faz você
morrer de boa vontade; ela te embriaga de tal maneira que te fez icar
nu e pendurado em uma cruz, fez uma zombaria do mundo. Você é Noé ,
que plantou uma vinha e bebeu seu vinho em tal abundâ ncia que,
intoxicado com aquele vinho poderoso, você adormeceu na cruz; e você
sofreu tantas desonras nele que seus pró prios ilhos se escandalizaram
e zombaram de você .
"A alma", diz Santo Ambró sio, "que está prometida a Cristo e
voluntariamente se junta a Ele na cruz, nã o tem nada mais glorioso do
que trazer consigo os insultos do Cruci icado".
10. Bem, como vou retribuir a você , meu Amado, por esse
amor? Esta é uma recompensa digna, que o sangue seja
recompensado com sangue. Aquele sangue com que
Moisé s celebrou a amizade de Deus e seu povo (que era
uma igura dele), foi derramado sobre o altar e sobre o
povo, reconciliando-o com Deus; a que cai sobre o altar é
para aplacar a Deus, e a que cai sobre a cabeça do povo
para obrigar os homens. Doce Senhor, conheço esta
obrigaçã o; nã o me deixe sair disso, e me veja com esse
sangue manchado e com esse prego pregado. O cruz,
abre-me espaço e vê -me receber por ti o meu corpo e
deixar o do meu Senhor. Alarga-te, coroa, para que eu
deite aı́ a cabeça! Deixai, pregos, essas mã os inocentes e
perfurai meu coraçã o e feri-o de compaixã o e amor! Para
isso , diz o seu Apó stolo , você morreu, para governar os
vivos e os mortos ; nã o com ameaças e castigos, mas com
obras de amor. Conta-me entre os que envias, vivo ou
morto, vê -me cativo sob o senhorio do teu amor.
11. O que falta à sua cruz para ser uma besta espiritual, já que
fere os coraçõ es assim? A besta é feita de madeira e uma
corda esticada, e uma porca no meio dela, onde a corda
sobe para disparar o dardo furiosamente e piorar o
ferimento. Esta cruz sagrada é a madeira; e o corpo tã o
estendido e os braços tã o esticados sã o a corda; e a
abertura desse lado, o pomo de Adã o onde está colocada a
lecha do amor para que dali saia para ferir o coraçã o
desarmado. Atirou a besta e feriu meu coraçã o! Agora que
todos saibam que tenho um coraçã o ferido. O meu
coraçã o! Como você vai se abrigar? Nã o há mé dico para
curá -lo se nã o for para morrer.
Quando eu, meu bom Jesus, vejo aquele ferro que sai dessa lança do
teu lado, essa lança é uma lecha de amor que me atravessa; e de tal
maneira fere meu coraçã o, que nã o deixa nele uma parte que nã o
penetra. O que você fez, doce amor? O que você queria fazer no meu
coraçã o? Você veio aqui para me curar, e você me machucou! Venha me
ensinar a viver, e você me deixa louco! O doce ferida, ó sá bia loucura,
nunca mais me vejo sem ti.
Nã o apenas a cruz, mas a pró pria igura que você tem nela,
docemente nos chama ao amor; sua cabeça está inclinada, para nos
ouvir e nos dar beijos de paz, com os quais você convida o culpado,
sendo você o ofendido; braços estendidos, para nos abraçar; as mã os
furadas, para nos dar seus bens; o lado aberto, para nos receber em
suas entranhas; pé s cravados, para esperar por nó s e nunca poder
separar você de nó s. Assim, olhando para ti, Senhor, tudo me convida a
amar: a madeira, a igura, o misté rio, as feridas do teu corpo; e, acima
de tudo, o amor interior me dá vozes para te amar e nunca te esquecer
do meu coraçã o. Entã o, como posso esquecer de você ? Se eu te esqueço,
ó bom Jesus , que minha mão direita seja esquecida; en iar a língua no
palato se não me lembro de ti e se não te coloco como princípio das
minhas alegrias .
Saiba, entã o, que assim como a razã o pela qual Cristo amou o
homem nã o é o homem, mas Deus, també m o meio pelo qual Deus
prometeu tantos benefı́cios ao homem nã o é o homem, mas Cristo. A
razã o pela qual o Filho nos ama é porque o Pai o ordenou, e a razã o pela
qual o Pai nos favorece é porque seu Filho pede e merece.
Isto é o que, como igura deste misté rio, o Rei Davi disse a um
homem medroso e perturbado: Junte-se a mim, que o que é de você será
de mim, e comigo você será guardado . Nã o olhe apenas para a sua força,
que o fará desmaiar, mas olhe para este remé dio, e você fará um
esforço. Se, atravessando o rio, sua cabeça desaparecer olhando para as
á guas, erga os olhos e veja os mé ritos do Cruci icado, que o forçará a
passar em segurança. Se você é atormentado pelo espírito maligno da
descon iança, toque a harpa de Davi, que é Cristo com a cruz. Lance seus
cuidados a Deus e tenha certeza de sua providê ncia em meio à s suas
tribulaçõ es; e, se você realmente acredita que o Pai lhe deu seu Filho,
con ie també m que ele lhe dará o resto, pois tudo é menos.
14. Nã o pense que, porque subiu aos cé us, ele se esqueceu de
você , porque o amor e o esquecimento nã o podem ser
compadecidos em um. A melhor roupa que ele deixou
para você quando subiu lá , que era o dossel de sua
preciosa carne em memó ria de seu amor.
Veja que nã o só em vida ele sofreu por você , mas mesmo depois da
morte ele recebeu a maior de suas feridas, que foi a lança cruel; porque
você sabe que na vida e na morte ele é seu verdadeiro amigo e para que
você entenda aqui que, quando ele disse na hora da expiraçã o: Está
acabado, embora suas dores tenham acabado, seu amor nã o acabou.
Sã o Paulo diz: Jesus Cristo foi ontem, e hoje também é e será em todos os
séculos ; porque como ele foi neste sé culo, enquanto viveu, para aqueles
que o amavam, assim é agora, e sempre será , para todos aqueles que o
procuram.
SAN JUAN DE AVILA (1499-1569, Almodó var del Campo, Ciudad Real).
Ele nasceu em uma famı́lia rica, que o educou de maneira cristã . Muito
jovem mudou-se para Salamanca para estudar Direito (1516). Durante
uma festa naquela cidade estudantil teve a experiê ncia de conhecer
Jesus Cristo e mudou radicalmente sua vida, abandonando sua carreira
e o ambiente que lhe oferecia um futuro promissor para um jovem
como ele, vivendo a experiê ncia de Sã o Paulo: tudo é perda antes da
sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor, por quem
perdi todas as coisas, e as considero como lixo, para ganhar a Cristo (Fp
3:7-8).
Ele també m imitaria o Apó stolo dos Gentios, retirando-se para a casa
paterna para se dedicar à oraçã o e penitê ncia, anos de crescimento no
amor e puri icaçã o interior, e mais tarde no amor a Cristo cruci icado,
pregaçã o e estilo pastoral. Bem orientado pelos seus diretores
espirituais, dirigiu-se a Alcalá (1520-1526), já decidido a ser sacerdote
e a consagrar a sua vida a Cristo e à evangelizaçã o. Doze pobres, cujos
pé s ele lavou, o acompanharam à festa de sua ordenaçã o sacerdotal em
Almodó var del Campo, quando seus pais já haviam falecido.
Distribuindo sua herança e se livrando de suas obrigaçõ es civis, partiu
para Sevilha, querendo imitar Cristo em tudo, para abraçar a vida
apostó lica como missioná rio no Mé xico, colaborando com o recé m-
nomeado bispo de Tlaxcala, Juan Garcé s (1527).
Mas a Providê ncia queria que ele encontrasse ali D. Alonso Manrique,
Arcebispo de Sevilha, que introduzisse uma correçã o na trajetó ria desta
vida missioná ria, e o orientasse nas tarefas de evangelizaçã o em sua
diocese e depois em outras dioceses circunvizinhas, merecendo por
isso a tı́tulo de Apó stolo da Andaluzia. Que aceitou com espı́rito de fé e
total disponibilidade à Igreja atravé s dos seus pastores.
Ele soube adaptar as verdades da fé à compreensã o das pessoas
comuns com palavras que elas facilmente entendiam e que iluminavam
poderosamente suas vidas, atravé s da pregaçã o pú blica e da direçã o
espiritual. Isso o levou a se aproximar de Cristo e sofrer perseguiçã o. Ao
sair da prisã o, em 1535, mudou-se para Có rdoba, onde estabeleceu
contato com o bispo Alvarez de Toledo e depois com os marqueses de
Priego.
Ele se estabeleceu em Montilla em 1545, onde sua casa ainda está
preservada. A partir daı́, terminará seu trabalho: dirigirá onze escolas
espalhadas pela geogra ia andaluza, escreverá os memoriais a Trento,
cuja contribuiçã o mais destacada será a forma de fundar os seminá rios,
receberá e aconselhará seus discı́pulos e amigos na Senhor, entre eles
Sã o Francisco de Boija, Sã o Joã o de Deus ou Santa Teresa de Jesus, entre
outros cujas virtudes foram reconhecidas como extraordiná rias, pelas
quais é conhecido como Mestre dos Santos. De lá , ele treina e envia
padres em missã o, até sua morte em 10 de maio de 1569.