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1º medida do simplex : Garantir que os professores, sempre que o requeiram, possam ser
avaliados por avaliadores da mesma área disciplinar
Vejamos um caso concreto na Escola Secundária Infanta D. Maria: a coordenadora do
Departamento de Ciências Sociais e Humanas é do grupo disciplinar de Geografia; delegou
competências numa professora titular de Economia e numa professora titular de Filosofia para
avaliarem os respectivos professores do grupo de recrutamento. A coordenadora de
Departamento, de acordo com o inicialmente previsto teria a cargo a avaliação dos colegas de
Geografia (3) dos colegas História (5) e ainda as duas colegas em quem delegou competências
(10 no total). Com a simplificação do modelo e a possibilidade de os avaliados poderem ter
avaliadores da mesma área disciplinar (grupo de recrutamento), os cinco professores de
História podem fazer essa exigência. Não havendo nenhum professor titular em quem delegar
competências, um professor de História, não contratado, poderá ser nomeado titular em
comissão de serviço e avaliar os seus colegas.
De acordo com a medida nº 7 do “simplex” há que Clarificar o regime de avaliação dos
avaliadores. Assim, a Coordenadora do Departamento de Ciências Sociais e Humanas, as duas
titulares em quem delegou competências e a professora de História, avaliadora não titular
(titular em comissão de serviço), passarão a ser avaliadas apenas pelo Conselho Executivo. A
Coordenadora do Departamento de Ciências Sociais e Humanas passará assim a avaliar só as
três colegas de Geografia e alguma de História que “prefira” a sua avaliação (!!!)
No que se refere às quotas máximas, as 4 Coordenadoras de Departamento poderão aceder a
um Excelente, um Muito Bom e dois Bons; as avaliadoras titulares e os professores avaliadores
não titulares (titulares em comissão de serviço), em quem foram delegadas competências,
terão como percentagem máxima de quotas, 5% de Excelentes e 20% de Muito Bons. A
professora (de História, por exemplo) não titular, mas avaliadora, irá concorrer a vagas de
titular tal como os restantes professores que ela poderá avaliar. Como para aceder a estas vagas
a classificação é um factor importante, pelo menos para desempate, a professora avaliadora
titular em comissão de serviço, irá avaliar com interesse em causa própria.
Os professores avaliados só poderão candidatar-se a Excelente ou Muito Bom se tiverem
aulas assistidas pela avaliadora, enquanto que esta não necessita dessa condição para se
candidatar a Excelente ou Muito Bom.
Esta situação repete-se noutros departamentos, por exemplo, no Departamento de
Línguas, só existe um professor de Espanhol: se ele quiser ser avaliado por um da sua
disciplina tem que se ir procurar noutra Escola da cidade um avaliador. E se cada professor de
Espanhol quiser ser avaliado por um professor de Espanhol, avaliam-se uns aos outros?
Esta era uma medida reclamada pelos professores que, levava a que cada professor, no
início do ano, tivesse que “prever” os resultados finais dos seus alunos tendo em conta o
ponto de partida. Assim, traçaria os seus objectivos considerando o progresso nas
aprendizagens, a evolução da classificação da sua disciplina face às restantes disciplinas, face
às classificações da mesma disciplina/ano e ainda face à avaliação externa (neste caso só para
as disciplinas com exame). No final do ano, não se poderia afastar dos objectivos traçados,
pois isso conduziria a penalização do professor. Resolvia-se facilmente de uma forma
administrativa….
Não havia alternativa senão simplificar: Para preencher, por exemplo, a ficha de
avaliação do Conselho Executivo respeitante a cada um dos professores da Escola, os
instrumentos de registo tinham 95 descritores se fossem considerados todos os parâmetros,
subparâmetros e itens. Note-se que nestas fichas havia 5 parâmetros, 13 subparâmetros e 23
itens. Exceptuando o subparâmetro A1, para cada um dos restantes itens houve que encontrar
descritores a fim de, em cada um deles, classificar cada professor de acordo com os valores
propostos pela tutela: 10, 8, 7, 6 ou 3.
É de referir que, para além da ficha do Conselho Executivo, foi necessário elaborar
instrumentos de registo que permitissem preencher outras cinco (!!!) fichas tão complexas
como esta!!!
Neste momento, com o final do 1º período, torna-se impraticável voltar de novo a
rever fichas e a encontrar novos descritores.
Esta medida denota o afastamento da realidade das Escolas, por parte do legislador,
quando propõe fichas como aquelas que levaram horas e horas de trabalho sem possibilidade
de, na prática, virem a ser aplicadas e portanto é o reconhecimento (não assumido
publicamente) da parte da tutela da inexequibilidade deste processo.
Finalmente, fica bem claro que esta “avaliação inspirada em modelo chileno” tem
como objectivo último atribuir quotas, fundamentais para impedir o acesso de 2/3 dos
professores ao topo da carreira. De facto o que o Ministério pretende é uma classificação por
quotas absolutamente administrativa e não uma avaliação que cumpra os objectivos
consignados no artigo 40.º do Estatuto da Carreira Docente (Decreto-Lei n.º 15/2007, de 19
de Janeiro) dos quais destacamos “Melhorar a qualidade das aprendizagens e dos resultados
escolares dos alunos”.
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Para haver mérito não são necessárias quotas A avaliação é formação, evolução,
melhoria. Nada disto está presente nem no modelo, nem no “simplex” que o Ministério
procura impor às Escolas.
Se o Ministério pretender continuar a defender a política economicista patente no
actual modelo de avaliação, então para a progressão na carreira, defina um procedimento
concursal, com ou sem quotas, mas acabe com mais uma das muitas injustiças que está a
impor, para mais tarde reconhecer o erro e ter que voltar atrás: Acabe com as quotas na
avaliação de desempenho, limite-se a definir os critérios do mérito, e que este seja
atribuído a quem realmente o mereça.