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Resumo
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Geógrafo. eddota@yahoo.com.br
Distribuição populacional e seus impactos nos biomas brasileiros
Ednelson Mariano Dota
O Brasil, com uma área de 8.514.877 Km², é o quinto maior país do mundo, e tem
em seu território a maior floresta tropical, alvo de preocupação não só dos brasileiros, mas
de constantes comentários no âmbito internacional. Essa preocupação é gerada a partir de
altos índices de desmatamento e degradação, que tem culminado na diminuição gradativa
das áreas ainda naturais no país. E nesse sentido, a Amazônia, conhecida como “pulmão do
mundo” é a área que recebe maior destaque.
De fato a preocupação tem sentido, mas não é só a Amazônia que tem sofrido
tamanha degradação: todos os biomas têm sofrido impactos significativos, sendo que a
maior parte passa despercebido. O fato da preocupação e das discussões se pautarem apenas
na região Amazônica vem do pensamento de que as áreas florestadas tem maior valor e
necessitam ser preservadas, enquanto as outras recebem menos importância.
Segundo o IBGE, o Brasil é dividido em 6 biomas: Amazônia, Cerrado, Caatinga,
Mata Atlântica, Pantanal e Pampa. Estes cobrem a totalidade do espaço territorial
brasileiro, e sua distribuição ocorre segundo a apresentada no mapa 1.
Mapa 1
Biomas
Fonte: IBGE
Como pode ser observado no mapa, a área ocupada pelos diversos biomas são
desiguais, e sua distribuição ocorre conforme apresenta a tabela 1.
Tabela 1
Biomas Área (Km²) % da área
Amazônia 4.196.943 49,29
Cerrado 2.036.448 23,92
Mata Atlântica 1.110.182 13,04
Caatinga 844.453 9,92
Pampa 176.496 2,07
Pantanal 150.355 1,76
Fonte: IBGE
O conceito bioma é utilizado para denominar determinada área que tenha “um
conjunto de vida (vegetal e animal) constituído pelo agrupamento de tipos de vegetação
contíguos e identificáveis em escala regional, com condições geoclimáticas similares”
(IBGE, 2004). As diferentes características não mudam o nível de importância, pois cada
qual tem sua própria fauna e flora característica do tipo climático predominante da área que
ocupa.
Com uma população de 183.987.2911, o Brasil está entre os países mais populosos
do mundo. Apesar disso, a densidade demográfica do país é baixa, devido a grande
extensão territorial do mesmo.
O modelo de ocupação do território propiciou que a maior parte das pessoas
permanecessem no litoral, localização de várias cidades importante, inclusive das duas
capitais do Brasil (Salvador e Rio de Janeiro) anteriores a Brasília. A concentração relativa
da população próxima ao litoral é tão intensa que, segundo dados do CIESIN2, 47% da
população brasileira se encontra numa faixa até 100 km de extensão do litoral, chegando a
61% na faixa que abrange até 200 km, o que fica visível na distribuição apresentada mapa
2. A disposição da população pelo território marcadamente alterou as condições ambientais
da faixa próxima ao litoral, isto porque além da presença das pessoas, o desenvolvimento
de processos econômicos necessários à manutenção da população no local acabou por
substituir a vegetação natural - vista inicialmente como uma barreira ao desenvolvimento –
por plantações, pastagens e áreas urbanas.
Neste sentido, a pressão da população sobre o ambiente foi a maior responsável
pelo impacto causado no bioma mata atlântica, visto a localização deste. Segundo a
Fundação SOS Mata Atlântica3, dos 1,3 milhões de Km² que a mata atlântica ocupava,
aproximadamente 93% já foi degrada. Boa parte desta degradação ocorreu a partir do uso
do território pela população instalada nesta região.
A densidade demográfica por biomas apresentada no mapa 3 fornece-nos uma
visão mais clara do peso relativo da população em cada bioma brasileiro.
1
Fonte: IBGE. Contagem de população de 2007.
2
Fonte: National Aggregates of Geospatial Data: Population, Landscape and Climate Estimates, v. 2
(PLACE II) May 2007. Disponível em: <http://sedac.ciesin.columbia.edu/place/.>
3
Disponível em: <www.sosmataatlantica.org.br>. Acesso em:25/11/2008.
Mapa 2
Brasil: Distribuição populacional
Fonte: IBGE
A análise do mapa 3 sugere-nos que os biomas Mata Atlântica e Pampa são os que
estão passíveis de impactos a partir de pressão populacional. Do outro lado, o Pantanal e a
Amazônia são os com menor densidade demográfica, em torno de 3 habitantes/Km². De
modo geral, pode-se associar degradação ambiental e densidade demográfica, pois as
regiões onde o balanço população-ambiente tende a ser desfavorável, certamente os
impactos ambientais nestas áreas excedem os limites seguros para o ambiente, e
conseqüentemente para a saúde da população.
O mapa 4 foi construído a partir da sobreposição das áreas antropizadas e em
tensão ecológica, e a densidade demográfica de cada bioma. A análise deste mapa deixa
clara a situação de estagnação do bioma Mata Atlântica, que excetuando alguns pontos, está
totalmente modificado.
Outro aspecto importante que fica evidenciado neste mapa é que a relação
população/ambiente causa impactos em praticamente todas as regiões brasileiras. A parte
mais alterada pelo homem certamente são as regiões Sul e Sudeste, com destaque para São
Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio de Janeiro, Espírito Santo e o litoral dos estados
nordestinos, exatamente a região com maior concentração populacional. De fato, as
modificações ocorridas desde a chegada dos portugueses, em 1500 até os dias atuais,
passam por diversas situações ao longo do tempo, mas foi no último século que as ações
humanas causaram maior impacto no ambiente, fato este ocorrido principalmente pelo
desenvolvimento de novas técnicas, que facilitaram o trabalho e conseqüentemente
aceleraram a degradação ambiental.
Mapa 3
Densidade Demográfica nos biomas brasileiros
4
Disponível em: <http://www.obt.inpe.br/prodes>. Acesso em: 28/11/2008.
Mapa 4
Densidade Demográfica e áreas modificadas5
5
Segundo o IBGE, áreas em tensão ecológica são espaços situados na interface entre locais sujeitos à pressão
humana. Área antropizada pode ser entendida como espaço de utilização do homem, sob sua influencia.
resources (desertification) and the contamination of food,
soils and water. (HOGAN, 2005, p.07)
Mapas 5 e 6
Formação original e remanescente do bioma Mata Atlântica
Indicadores ambientais
6
Yale Center for Environmental Law and Policy (YCELP) and Center for International Earth Science Information Network
(CIESIN), Columbia University, with the World Economic Forum, and Joint Research Centre (JRC) of the European
Commission (2008). 2008 Environmental Performance Index. Downloaded from http://sedac.ciesin.columbia.edu/es/epi/ (last
accessed 28/09/2008).
efeitos maléficos para a população e para os recursos naturais, compreender como as
condições brasileiras estão perante outras regiões do mundo. O Brasil, por exemplo,
alcançou o índice de 82,7, sendo a média entre 86,9 do Environmental Health e 78,7 do
Ecosystem Vitality. Várias são as variáveis utilizadas para chegar a esses índices, dentre as
quais:
- Environmental Health: leva em conta os efeitos do ambiente na saúde humana, com três
variáveis formando o indicador, sendo elas o peso do ambiente no endoecimento das
pessoas e os efeitos da água e da poluição do ar na saúde das mesmas. Dentre essas
variáveis, vários são os indicadores que formam seus valores, e que não se mostram
importantes de serem analisados aqui.
- Ecosystem Vitality: leva em consideração os efeitos da água e da poluição do ar para a
natureza, as condições da biodiversidade e do habitat dos ambientes, a produtividade dos
recursos naturais e a contribuição do país para o aquecimento global, através das emissões
de carbono.
Tabela 2
Environmental Performance Index7
Environmental Health Ecosystem Vitality
País Índice Água Poluição do ar Biodiversidade Mud. Clima.
Brasil 82,7 76,9 83,8 53,9 83,3
EUA 81,0 100,0 94,8 65,3 56,1
China 65,1 47,7 48,6 56,7 52,7
Índia 60,3 48,9 48,2 21,2 57,9
Fonte: YCELP; CIESIN
7
O índice leva em consideração diversas variáveis, sendo no total 10 indicadores diferentes. A tabela 2
mostra apenas alguns selecionados, que mostram-se mais interessantes para a análise aqui pretendida. Os
valores variam de 0 a 100, sendo 100 considerado o ideal.
8
Dentre os 135 países constantes no indicador, o Brasil encontra-se com o 35º melhor índice, estando a Suíça
em primeiro, com 95,5, e a Nigéria em último, com 39,1.
Mapa 7
Pegada ecológica
Conclusão
9
Ver nota 2.
As poucas regiões em que o homem não causou sérios impactos devem ser
preservadas, e o desenvolvimento sustentável deverá ser base para que se tenha boas
condições de vida, sem que necessariamente a natureza seja devastada para isso.
Referências Bibliográficas
Hogan, Daniel Joseph, Cunha, J.M.P., Carmo, R.L. 2002. Uso do Solo e Mudança de sua
Cobertura no Centro-Oeste do Brasil: conseqüências demográficas, sociais e
ambientais. Pág. 149-174 in D.J. Hogan, R.L. Carmo, J.M.P. Cunha, R. Baeninger
(orgs.), Migração e Ambiente no Centro-Oeste. Nepo, Unicamp, Campinas.
Hogan, Daniel Joseph, Carmo, R.L., Alves, H.P.F., Rodrigues, I.A. 2000. Sustentabilidade
no Vale do Ribeira (SP): conservação ambiental e melhoria das condições de vida da
população. Pág. 385-410 in D.J. Hogan, J.M.P. da Cunha, R. Baeninger, R.L. do
Carmo (orgs.), Migração e Ambiente em São Paulo: aspectos relevantes da dinâmica
recente. Nepo, Unicamp, Campinas.
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Economic Forum, and Joint Research Centre (JRC) of the European Commission
(2008). 2008 Environmental Performance Index. Downloaded from
http://sedac.ciesin.columbia.edu/es/epi/ (last accessed 28/09/2008).