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Uma visão simplificada sobre os fatores etnocêntricos.

Por Thulio Benvenuti Antunes

Na sociedade atual, mesmo sendo uma sociedade globalizada onde o uso em comum e o
acesso em escalas mundiais convergem costumes e culturas, faz-se verificar ainda
preconceitos de caráter etnocêntrico.
A maneira errônea de avaliar tradições de povos diferentes nos remete, muitas vezes, a
atos de violência contra aqueles que condenamos diferentes. Tal fato pode ser verificado,
por exemplo, em movimentos neonazistas e em manifestações a povos que não permitem
que essa fase unificadora do capitalismo, que é a globalização, mude seus hábitos e
costumes.
Podemos constatar essa tendência para o menosprezo, mais claramente, quando
relacionamos países pobres – subdesenvolvidos – com países ricos – desenvolvidos –. A
alta disponibilidade à tecnologia, o maior nível de acesso às informações, melhores
condições de vida, e uma suposta melhora genética, “destacam” os habitantes de países
desenvolvidos – como os da Europa e da América do Norte – sobre os latinos, asiáticos e
africanos (termos estes que, pelo seu significante, são muitas vezes empregados de maneira
depreciativa).
Acredito que não se faz necessário afirmar que esta disposição para julgar povos pelo fato
de seus padrões divergirem dos da cultura do indivíduo julgador é errada. Não podemos
desconsiderar, ou pior, ditar como falsos, os costumes diferentes dos nossos próprios, já que
se trata de práticas inqualificáveis.
É incorreto etiquetar pessoas como sendo inferiores apenas pelo fato destas possuírem
uma realidade diferente, o que acarreta em culturas diferentes. Tribos indígenas não são
inferiores de burgueses ingleses. Não podemos inferiorizar os índios por estes não trajarem
roupas elegantes e não fazerem uso de produtos tecnológicos, já que os mesmos não vêem
necessidade para tal. Ou seja, a diferença de realidade das tribos em relação às metrópoles
inviabiliza ideais igualitários. Portanto, é a realidade de cada povo, influenciada ou não por
fatores externos, que irá ditar os costumes e culturas dos mesmos.
Se fizermos uma análise mais detalhada, será possível perceber que inferiores são aqueles
preconceituosos, que se julgam superiores sobre os demais povos. Isto, pois são estes os
que possuem a dificuldade de pensar a diferença, de ver o mundo com outros olhos.
Segundo o antropólogo Everardo P. Guimarães Rocha, “etnocentrismo é uma visão do
mundo onde o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos os outros são
pensados e sentidos através dos nossos valores, nossos modelos, nossas definições do que é
a existência.” Esse mesmo antropólogo afirma que o etnocentrismo se dá entre o grupo do
“eu” – o superior – e o do “outro” – conseqüentemente, inferiorizado.
Essa divisão entre o “eu” e o “outro” não é completamente correta. Podemos verificar
membros de uma nação que cultivam preconceitos étnicos contra seus próprios costumes e
cultura. Quantas vezes encontramos brasileiros que inferiorizam seu próprio povo ao
relacionar seus costumes com os de países desenvolvidos? Nestes casos, o “eu” não pode
ser classificado como o grupo elevado, já que o próprio nacional se inferioriza na
comparação. Existe sim o grupo do “eu” e o grupo do “outro”, porém, ambos não podem
ser qualificados, respectivamente, como “superiores” e “inferiores”.
Voltando a usar as tribos indígenas como exemplo, Hugo Chinaglia questiona e define:
“Por exemplo, o que diria um índio ao ver um arco e flecha na parede de um colecionador?
Afinal, aquilo é um instrumento de caça e não um objeto decorativo. O mesmo é válido
para nós: o que pensaríamos se víssemos uma tribo cultuando um objeto luminoso e
musical, mais conhecido entre nós como celular? Afinal ele não é nenhum Deus, é apenas
um aparelho de comunicação. Ser etnocêntrico é julgar a cultura do outro com valores da
sua cultura”.
No Brasil, como também no resto do mundo, um dos maiores fatores de discriminação
etnocêntrica é o da religião, já que esta influencia ou altera as práticas dos indivíduos.
Candomblé e Umbanda, por exemplo, são religiões afro-brasileiras altamente discernidas.
Provavelmente, as origens deste preconceito provêm do fato de serem religiões oriundas de
países africanos, ou seja, de países onde a grande maioria da população é negra. Até mesmo
os seguidores do espiritismo e do protestantismo, religiões bastante difundidas no Brasil,
sofrem, muitas vezes, preconceitos por divergirem das práticas e costumes católicos, já que
o Brasil, apesar de ser atualmente um Estado laico (neutro em relação às questões
religiosas), tem origens católicas.
Devemos, concluindo, ser indiferentes perante as diferenças. Ao assumir a existência de
culturas diferentes, nos tornamos mais sábios intelectualmente.

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