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DIREITO AMBIENTAL COMO INSTRUMENTO DE MOBILIZAÇAO E

ACESSO A JUSTIÇA E CIDADANIA.

JEFERSON VALDIR DA SILVA1


Mestrando do curso de Pós-Graduação em Ciência Jurídica da Universidade
do Vale do Itajaí.

Introdução

A proteção do meio ambiente é uma das maiores preocupações da


sociedade contemporânea. Em todos os recantos do mundo a cada dia que
passa deteriora-se a qualidade ambiental e consequentemente a qualidade de
vida.
No passado mencionava-se apenas em poluição local a curta distância.
Hoje este tema é transfronteiriço e alcança até mesmo uma dimensão
planetária como os problemas relacionados, por exemplo, com a camada de
ozônio, efeito estufa e desmatamentos.
Como o passar dos anos, e devido ao aproveitamento dos recursos
naturais como fonte de rendimentos, aliado ao pensamento de fontes
inesgotáveis de recursos naturais, os problemas ambientais tornaram-se mais
graves.
Como assinala José Gustavo de Oliveira Franco:

“o mundo desperta, repentinamente, assustado diante de alarmantes


catástofres naturais e de previsões ainda mais assustadoras. Toma
consciência de que o desenvolvimento, a todo custo perseguido,
apresenta efeitos colaterais distintos daqueles conhecidos. Emerge a
percepção de que algo está profundamente errado. Embora o aviso

1
Formado em Segurança Pública pela UNIVALI, em Direito e Pós-Graduação “latu sensu” em Educação
Ambiental pela UNIDAVI. Email: jsambiental@gmail.com
tivesse sido dado há algum tempo, como que por uma cegueira
voluntária foi ignorado em nome do desenvolvimento e não se quis
crer que o caminho tomado pudesse acarretar tamanha
degradação.”2

A fixação de padrões de qualidade do meio ambiente, bem como o seu


controle desde então são imprescindíveis para reduzir os níveis de poluição
lançados na natureza. O poder público tem o dever e a competência para
desempenhar estas atividades, garantindo desta forma o direito a um meio
ambiente ecologicamente equilibrado, conforme preconiza nossa carta magna.
A legislação ambiental está aí para ser utilizada, porém o positivismo
arraigado não leva a sociedade e não a estimula a exercer sua cidadania 3, por
isso proponho a utilização desses instrumentos, como forma de conciliar os
direitos e deveres dos cidadãos.

1Previsao Constitucional sobre o Meio Ambiente

Como bem sabemos a previsão constitucional por si só não assegura o


direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado.
Contudo tal previsão constitucional, estabelece as diretrizes expressas
no direito pátrio, ou seja, possibilita ao cidadão exigir do poder público que tais
direitos sejam cumpridos, sujeitando-o a atitudes pró-ativas com relação às
fontes poluidoras. Caso o poder público não tome as devidas providências de
acordo com a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, estará
incorrendo em omissão.
Assim escreve Paulo Affonso Leme Machado:

“O poder Público e a coletividade deverão defender e preservar o


meio ambiente desejado pela Constituição, e não qualquer meio
ambiente. O meio ambiente a ser defendido e preservado é aquele
ecologicamente equilibrado. Portanto, descumprem a Constituição
tanto o Poder Público como a coletividade quando permitem ou
possibilitam o desequilíbrio do meio ambiente.”4

2
FRANCO, José Gustavo de Oliveira. Direito Ambiental Matas Ciliares. Curitiba: Jurua, 2005, p.25.
3
SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico, p.168. Cidadania – É a expressão que identifica a
qualidade da pessoa que está na posse de plena capacidade civil do uso de seus direitos políticos.
4
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo: Malheiros, 2004, p.47-8.
A Constituição da República Federativa do Brasil, em seu capítulo VI,
art. 225, que trata sobre o meio ambiente, garante a todos o direito a um meio
ambiente ecologicamente equilibrado, estabelecendo-o como um bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida. Esta inovação na
legislação brasileira trouxe um novo paradigma de direito ambiental brasileiro,
um arcabouço jurídico mais preservacionista.
O Meio Ambiente como um todo (natural e artificial) deve ser protegido,
pois é essencial a sobrevivência humana, este direito é equivalente ao direito à
vida.
Para tanto, SILVA (1994), assim nos afirma:

“O conceito de meio ambiente há de ser, pois, globalizante,


abrangente de toda a natureza, o artificial e original, bem como os
bens culturais correlatos, compreendendo, portanto, o solo, a água, o
ar, a flora, as belezas naturais, o patrimônio histórico, artístico,
turístico, paisagístico e arquitetônico. O meio ambiente é, assim, a
interação do conjunto de elementos naturais, artificiais e culturais
que propiciem o desenvolvimento equilibrado da vida em todas as
suas formas.”5 (grifo nosso)

A qualidade de vida é essencial à saúde humana. Todas as fontes


poluidoras causam uma deteriorização no bem estar humano, e
consequentemente na qualidade de vida da população.

Sendo assim a Lei 6938/81 que estabelece a Política Nacional do Meio


Ambiente cita o conceito de poluição, especificando-o, para que as autoridades
possam atuar e identificar tais irregularidades, estabelece assim:

“degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que


direta ou indiretamente prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-
estar da população; criem condições adversas às atividades sociais
e econômicas; afetem desfavoravelmente a biota; afetem as
condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; lancem

5
SILVA, José Afonso. Direito ambiental Constitucional. São Paulo: Malheiros, 1994. p.6.
materiais ou energia em desacordo com os padrões ambientais
estabelecidos.”6

O direito à saúde é garantia também do poder público, segundo o Art.


196 de nossa Constituição. Reza que:

“Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado,


garantindo mediante políticas sociais e econômicas que visem à
redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso
universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção,
proteção e recuperação.”7 (grifo nosso)

Dentro destas perspectivas observa-se que “as normas constitucionais


assumiram a consciência de que o direito à vida, como matriz de todos os
demais direitos fundamentais do homem é que há de orientar todas as formas
de atuação no campo da tutela do meio ambiente”.8

Neste diapasão Paulo Affonso Leme Machado nos ensina que:

“As Constituições escritas inseriram o “direito à vida” no cabeçalho


dos direitos individuais. No século XX deu-se um passo a mais ao se
formular o conceito do “direito à qualidade de vida”. A conferência
das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, na Declaração de
Estocolmo/72, salientou que o homem tem direito fundamental a “...
adequadas condições de vida, em um meio ambiente de
qualidade...” (Princípio 1). A conferencia das Nações Unidas sobre
Meio Ambiente e Desenvolvimento, na Declaração Rio de Janeiro/92,
afirmou que os seres humanos “têm direito a uma vida saudável”
(Princípio 1).
O Instituto de Direito Internacional, na seção de Estrasburgo, em
4.9.97, afirmou que “todo ser humano tem o direito de viver em um
ambiente sadio”. [...]
Não basta viver ou conservar a vida. É justo buscar e conseguir a
“qualidade de vida”. [...]
O tribunal Europeu de Direitos Humanos, com sede em Estrasburgo,
decidiu, em 9.12.94, no caso López Ostra, que “atentados graves

6
Lei 6938/81
7
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
8
SILVA, José Afonso. Curso de Direito Constitucional Positivo. São Paulo: Malheiros, 1992, p.719.
contra o meio ambiente podem afetar o bem-estar de uma pessoa e
privá-la do gozo de seu domicilio, prejudicando sua vida privada e
familiar”.9

Portanto a sadia qualidade de vida só poderá existir se o meio ambiente


estiver ecologicamente equilibrado, para isso necessitamos de um meio
ambiente não poluído.
Necessitamos, ainda que, sejam tomadas certas medidas e políticas
públicas destinadas a tal fim, constituindo-se assim uma sociedade justa,
democrática e de direito.
O direito a um meio ambiente equilibrado, e a uma qualidade de vida
está disposto no texto constitucional, bem como descrito por nossos
doutrinadores, agora como cidadãos, só nos bastam assumir estes direitos e
fazê-los serem cumpridos.
A busca deste direito pode ser feito de forma individual,
associativamente ou em cooperação com os órgãos públicos existentes.
A nossa Constituição deixa expresso o poder do cidadão para exercer
sua cidadania, já que além das previsões constitucionais acima descritas, em
seu inciso LXXIII do art. 5, confere a qualquer cidadão, legitimidade para propor
ação popular que vise anular ato lesivo ao meio ambiente.

2 Competência Constitucional e Meio Ambiente

Para a proteção do meio ambiente e o combate à poluição em qualquer


de suas formas, bem como à saúde pública, é de competência comum da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, conforme o art.23 de
nossa Carta Magna:

“Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito


Federal e dos Municípios:
I – [...];
II – cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das
pessoas portadoras de deficiência;

9
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Op. cit., p.47-9.
III – proteger os documentos, as obras e outros bens de valor
histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais
notáveis e os sítios arqueológico;
IV – impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras
de arte e de outros bens de valor histórico, artístico e cultural;
V – [...];
VI – proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de
suas formas;
VII – preservar as florestas, a fauna e a flora; [...].”10

Assim, a União, os Estados, Distrito Federal e os Municípios possuem


competência para praticar atos na esfera da proteção do meio ambiente natural
e artificial, como bem observado no art. 23 da Constituição da República
Federativa do Brasil de 1988 e, consequentemente, da melhoria da saúde
pública, buscando assim a qualidade de vida da população.
A União, os Estados e o Distrito Federal possuem competência
concorrente para legislar sobre a defesa dos recursos naturais, proteção do
meio ambiente e controle da poluição (art.24, VI, CRFB/88); proteção ao
patrimônio histórico, cultural, turístico e paisagístico (art.24, VII, CRFB/88);
sobre a responsabilidade por dano ao meio ambiente (art.24,VIII, CRFB/88), e
também sobre a proteção e defesa da saúde (art.24, XII, CRFB/88).
A União estabelece normas gerais, não excluindo a competência
suplementar dos Estados que, diante da inexistência de lei federal sobre
normas gerais, exercerão a competência legislativa plena, para atender suas
peculiaridades.
A eficácia da lei estadual só será suspendida no caso de superveniência
de lei federal sobre normas gerais, no que lhe for contrário. Em matéria
ambiental, as normas hierarquicamente inferiores podem trazer as restrições
da norma hierarquicamente superior, ou ainda ser mais restritivas.
A União possui ainda competência privativa para legislar sobre outras
questões que não envolvem diretamente o meio ambiente, porém o afetam em
suas atividades, tais como o direito comercial (art.22, I, CRFB/88) e as
diretrizes da política nacional de transportes (art.22, IX, CRFB/88), podendo
ainda, lei complementar autorizar os Estados a legislar sobre estas questões.

10
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
É importante citar que os Municípios possuem competência para legislar
sobre assuntos de interesse local, conforme o art. 30 de nossa Constituição:

“Art. 30. Compete aos Municípios:


I – legislar sobre assuntos de interesses local;
II – suplementar a legislação federal e a estadual no que couber;
[...];
VII – prestar, com cooperação técnica e financeira da União e do
Estado, serviços de atendimento à saúde da população;
VIII – promover, no que couber, adequado ordenamento territorial,
mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e da
ocupação do solo urbano;
IX – promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local,
observada a legislação e a ação fiscalizadora federal e estadual.”11

O que a legislação municipal não pode fazer é a diminuição do espaço


de proteção legal atribuído pela Constituição Federal ao meio ambiente. Assim,
cabe ao conjunto das entidades federativas, preservar e defender a qualidade
ambiental, visando acima de tudo à qualidade de vida do cidadão brasileiro.

3 Direito Ambiental e Desenvolvimento Sustentável

Como o meio ambiente ecologicamente equilibrado é um bem difuso,


contemplado e protegido por nossa Constituição, e nele esta a casa do ser,
este passa a ser também uma das preocupações do direito moderno. Já que as
atividades humanas se processam no meio ambiente, o direito não poderia
ficar omisso a tais relações.
Sobre esta questão escreveu Clarissa Ferreira Macedo D’lsep:

“A inquietação é algo inerente ao ser humano e se reflete em todos


os aspectos da sua vida. O homem está sempre criando e recriando
a realidade. Esse efeito toma terminologias e conotações distintas,
conforme a lente com a qual analisamos. Se social, teremos no
descontentamento a palavra-chave das grandes revoluções,
historicamente registradas. Se econômica, teremos no lucro o vetor
11
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
para as constantes transformações de recursos a fim de satisfazer
as suas necessidades e propiciar o acumulo de riquezas. Se
científica, a ambição de progresso, que justifica a eterna busca de
desenvolvimento tecnológico. Se política, a ambição pelo poder. E,
por fim, se jurídica, teremos a necessidade constante de estabelecer
a ordem, isto é, de organizar os efeitos de todas as anteriores,
buscando o equilíbrio.”12

Sobre as preocupações relacionadas com o meio ambiente, podemos


ainda citar as palavras de Ronaldo Maia Kauffmann, sobre a constituição
brasileira de 1988:

“Tão expressiva é atualmente a questão ecológica ou ambiental, que


a nova Constituição brasileira (1988) erigiu a matéria à categoria de
lei máxima nacional, dedicando a ela um capitulo inteiro (cap. VI)
inserido no contexto da Ordem Social (tít. VIII), disciplinando através
do art. 225 o exercício do direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado [...].”13

O direito ambiental assume seu papel de importância na sociedade


atual, regulando as atividades existentes e seus conflitos com a meio ambiente,
de forma a mediar a melhor solução possível para os seres humanos.
Os seres humanos utilizam-se do meio ambiente, pois este fornece bens
ao homem, e este deve usá-los de forma consciente e racional.
Assim é o posicionamento de Paulo Affonso Leme Machado:

“Os bens que integram o meio ambiente planetário, como água, ar e


solo, devem satisfazer as necessidades comuns de todos os
habitantes da Terra. As necessidades comuns dos seres humanos
podem passar tanto pelo uso como pelo não uso do meio
ambiente.”14
Ainda sobre bem ambiental e sua importância para a vida humana, cabe
salientar que esse tal bem em questão, que recai sobre a propriedade, seja ela
pública ou privada, é o equilíbrio ambiental.
12
D’LSEP, Clarissa Ferreira Macedo. Direito Ambiental Econômico e a ISO 14000. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2004, p.25.
13
KAUFFMANN, Ronaldo Maia. Meio Ambiente e Vida Urbana. in Revista dos Tribunais, n 666, abril
1991, São Paulo: Revista dos Tribunais, p. 247.
14
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Op. cit., p.41.
Trata-se de uma visão moderna de direito que nas palavras de Carlos
Frederico Marés de Souza Filho é:

“Na realidade, sobre estes bens nasce um novo direito, que se


sobrepõe ao antigo direito individual já existente. O bem como que
se divide em um lado material, físico, que pode ser aproveitado pelo
exercício de um direito individual, e outro, imaterial, que é apropriado
por toda a coletividade, de forma difusa, que passa a ter direitos ou
no mínimo interesse sobre ela. Como estas partes ou lados são
inseparáveis, os direitos ou interesses coletivos sobre uma delas
necessariamente se comunica à outra.”15

Vale-nos agora descrever que o direito ambiental, surgiu em decorrência


de uma necessidade social.
A sociedade é criativa, e em busca de suas satisfações, pessoais, bem
como de cidadania, busca um ponto de equilíbrio entre as atividades humanas
e o meio ambiente.
O direito ambiental é um direito multidisciplinar e interdisciplinar e
transversal, é assim descrito por Clarissa Ferreira Macedo D’lsep como:

“[...], provido de normas, princípios e instrumentos próprios, tem por


objeto a conservação do bem ambiental (ou seja, meio natural,
artificial, cultural, do trabalho, enfim, a vida e tudo eu contribua para
a sua sadia qualidade), logo, acompanha-o em toda a sua extensão.
Daí podermos evidenciar o seu caráter difuso, multidisciplinar e
interdisciplinar. A concepção e tratamento requeridos pelo Direito
Ambiental corroboram para a criação de um Direito pós-moderno,
devido ao seu objeto, instrumentos, princípios e atuação na esfera
preventiva; enfim, as características já apontadas.[...]
Em suma, o Direito Ambiental é transversal (ou horizontal), visto que,
ao mesmo tempo em que restringe, amplia, qualifica e direciona o
disposto pelos demais ramos, a exemplo das restrições de
liberdades individuais em prol do coletivo; da noção de vida trazida
pelo art. 5’ da CF/88 que deve ser qualificada pelo art. 225 (sadia)
daquela Carta; ou, ainda, a atividade econômica regulada pelo art.
170 da CF/88, que sofre restrições ao ter que, em seu exercício,

15
SOUZA FILHO, Carlos Frederico Marés de. Bens Culturais e Proteção Jurídica. Porto Alegre: Unidade
Editorial, 1997, p.17.
prestar obediência às leis ambientais (que vão desde o meio
ambiente natural ao do trabalho e urbano). Esse caráter transversal
do Direito Ambiental inibe a visão fragmentada do Direito, por muito
cultuada pela doutrina.”16

Em decorrência do mau uso do meio ambiente, dos debates referentes


às mudanças climáticas ambientais globais (efeito estufa, alterações na
camada de ozônio, perda da bio e sociodiversidade) e da necessidade de se
ter um uso racional e sustentável dos bens ambientais, surge à necessidade de
soluções condizentes aos impactos causados pelas atividades humanas sobre
o meio ambiente.
Busca-se desta forma soluções inovadoras, visando o controle e a
imposições legais dos padrões da qualidade ambiental, gerando aos infratores
sansões pelo descumprimento. Essas soluções devem conciliar o social, o
político e o econômico, orientando desta forma a um desenvolvimento
ecologicamente equilibrado.
Surge então a necessidade e viabilidade de um Desenvolvimento
Sustentável, uma forma de melhoria da qualidade de vida do cidadão, um meio
de frear o descontrole e o mau uso do meio ambiente.
O conceito de Desenvolvimento Sustentável foi adotado como referência
pelas Nações Unidas para a Conferência Sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento, realizada em 1992 no Rio de Janeiro.
O desenvolvimento sustentável, representa um objetivo da economia
global e uma resposta de cunho ideológico aos usos inadequados da natureza
pelo homem.

4 Cidadania e Meio Ambiente

Estamos no Brasil sob a égide de um Estado Democrático de Direito,


tendo entre outros valores supremos os direitos sociais e individuais, os de
liberdade, bem-estar, de igualdade e justiça, bem como a participação e acesso
a informação e a justiça. Para que sejam alcançados tais valores a
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 se fundamenta na

16
D’LSEP, Clarissa Ferreira Macedo. Op. cit., p.76-7.
dignidade da pessoa humana, entre outros direitos, e principalmente na
cidadania.
A cidadania pode ser exercida por meio da participação do cidadão nas
decisões publicas, através de sua influência e fiscalização, agindo de forma
isolada ou associativamente.
A participação é necessária e fundamental nas questões ambientais,
para isso devem ser encorajadas e facilitadas, já a nossa Carta de 1988
convoca a todos para defender o meio ambiente. A participação é necessária
de todos os setores da sociedade, sejam os cidadãos, as empresas, os
comércios, as organizações não-governamentais, bem como a administração
pública, todos juntos em prol de um meio ambiente equilibrado.
O Princípio da participação é elemento constituinte do Estado
Democrático social de direito, que busca a qualidade de vida e dignidade para
a sociedade.
Estes e outros direitos estão expressos no Estatuto da Cidade, verifica-
se menção ao principio da participação, em:

“Art. 2º - A política urbana tem por objetivo ordenar o pleno


desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade
urbana, mediante as seguintes diretruzes gerais: [...] II – gestão
democrática por meio da participação da população e de
associações representativas dos vários segmentos da comunidade
na formulaçao, execução e acompanhamento de planos, programas
e projetos de desenvolvimento urbano; III – cooperação entre os
governos, a iniciativa privada e os demais setores da sociedade no
processo de urbanização, em atendimento ao interesse social; [...]
XIII – audiência do Poder Público municipal e da população
interessada nos processos de implantação de empreendimentos ou
atividades com efeitos potencialmente negativos sobre o meio
ambiente natural ou construído, o conforto ou a segurança da
população”17

E ainda sobre a gestão Democrática da Cidade e Cidadania temos:

17
BRASIL. Lei 10.257, de 10 de Julho de 2001. Regulamenta os arts. 182 e 183 da
Constituição Federal, estabelece diretrizes gerais da política urbana, e dá outras providências.
Vade mecum acadêmico de direito. Org. Anne Joyce Angher. 2ª ed. São Paulo: Rideel, 2005.
“Art. 43 – Para garantir a gestão democrática da cidade ,
deverão ser utilizados, entre outros, os seguintes instrumentos: I –
órgãos colegiados de política urbana, nos níveis nacional, estadual e
municipal; II – debates, audiências e consultas públicas; III –
conferencias sobre assuntos de interesse urbano, nos níveis
naicional, estadual e municipal; IV – iniciativa popular de projeto de
lei e de planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano;
[...].
Art. 44 – No âmbito municipal, a gestão orçamentária participativa de
que trata a alínea f do inciso III do art. 4º desta Lei incluirá a
realização de debates, audiências e consultas públicas sobre as
propostas ao plano plurianual, da lei de diretrizes orçamentárias e do
orçamento anual, como condição obrigatória para sua aprovação
pela Câmara Municipal.
Art. 45 – Os organismos gestores das regiões metropolitanas e
aglomerações urbanas incluirão obrigatória e significativa
participação da população e de associações representativas dos
vários segmentos da comunidade, de modo a garantir o controle
direto de suas atividades e o pleno exercício da cidadania.18

O exercício da democracia participativa fortalece a sociedade, pois da a


esta a possibilidade de informação, mudança de comportamento e consciência
necessária às questões ambientais.
Maria Victoria Mesquita Benevides assevera que a participação popular:

“1) dá ao povo o direito de decidir questões e problemas para cuja


solução ele se sente mais preparado e legitimado do que os
representantes eleitos;
2) é fonte de recuperação da legitimidade e/ou da estabilidade
política, no caso de questões que podem dividir a sociedade;
3) cria e fortalece novas lideranças políticas;
4) é instrumento de aferição da vontade popular, servindo para a
expressão tanto de seus desagrados, quanto de suas aspirações e;
5) cria a possibilidade de mobilização de apáticos e das maiorias
silenciosas ou alienadas.”19

18
BRASIL. Lei 10.257, de 10 de Julho de 2001. 2005.
19
BENEVIDES, Maria Victoria Mesquita. A cidadania ativa. 3º ed. São Paulo: Ática, 2002.
Muito mais importante ainda é o direito a informação, este que é
interligado como a liberdade de pensamento e de expressão, fontes principais
do direito de comunicação.
O homem vê a liberdade como um direito a ele inerente, e assim, o
busca de todas as formas, e nas questões ambientais o direito a informação é
fundamental para o exercício de suas liberdades.
A Declaração Universal dos Direitos do Homem, aprovada pela
Assembléia-Geral das Nações Unidas assegura o direito a liberdade de
expressão e a obter informações, neste mesmo caminho temos a Convenção
Americana sobre Direitos Humanos, Pacto de São José da Costa Rica.
A liberdade de informação para o doutrinador José Afonso da Silva
“compreende a procura, o acesso, o recebimento e a difusão de informações
ou idéias, por qualquer meio, e sem dependência de censura, respondendo
cada qual pelos abusos que cometer.”20
O direito a informação então é analisado de três formas, ou seja, o
direito de informar, o direito de se informar e o direito de ser informado, sendo
assim, fonte primordial para o exercício da cidadania.
Para concretizar e respaldar legalmente o cidadão foi aprovada a Lei
10.650 de 16 de abril de 2003, que trata sobre o acesso público das
informações e documentos ambientais existentes em órgãos do SISNAMA
(Sistema Nacional de Meio Ambiente), instrumento de acesso a informações e
fortalecendo assim o princípio da publicidade dos atos públicos.
A Convenção de Aarhus que foi aprovada na 4ª Conferencia Ministerial
da série “Meio Ambiente para a Europa”, realizada pela Organização das
Nações Unidas em 21 de abril de 1998, na Dinamarca, trata do Acesso à
Informação, à Participação Pública em Processos Decisórios, e à Justiça em
Matéria Ambiental. A convenção é tida como uma das normas mais completas
e atuais sobre o tema da participação pública na gestão do meio ambiente,
garantindo aos cidadãos o acesso a informações sobre a qualidade ambiental,
o acesso à justiça para garantir seus direitos, e principalmente a um meio
ambiente sadio.

20
SILVA, josé Afonso da. Curso de direito constitucional positive. 9ª ed. São Paulo: Malheiros
Editores, 1993.
A convenção de Aarhus propõe o acesso a informações contidas na
posse de autoridades públicas, propõe ainda a participação do público na
tomada de decisões a respeito do meio ambiente, e propõe também, o
alargamento das condições de acesso à justiça.
A convenção acima citada, disciplina que os países membros da
Comunidade Européia deverão observar o acesso à informação e à
participação pública em processos decisórios em matéria ambiental,
estabelecendo mecanismos para tal, servindo de exemplo para a comunidade
mundial.
Desta forma, a informação, a participação e o acesso a justiça,
proporciona ao verdadeiro envolvimento da comunidade com as questões
ambientais, mudando a forma de pensar, bem como influenciando nas tomadas
de decisão. Certo disso, um dos instrumentos capazes de mudanças e desta
possibilidades é a Educação Ambiental.
Um cidadão educado ambientalmente, será certamente, capaz de
compreender melhor os temas ambientais. Sendo assim, a educação ambiental
não é apenas um meio de exercício de cidadania ambiental, é o mecanismo de
abertura da cidadania ambiental.
A cidadania ambiental, por sua peculiaridade, é uma nova concepção de
cidadania, conceito que é explicado por Leite e Ayala:

“Não se pode deixar de ser observado que o caput do art. 225 da


CRB constitui no texto político fundamental brasileiro o punctum de
referência imediata do reconhecimento da abertura dogmática amiga
ao reconhecimento da cidadania ambiental, nos precisos termos em
que afirma a qualidade difusa do bem ambiental e estrutura um
sistema de responsabilidades compartilhadas entre todos, em uma
orientação inclusiva, que inclui não só aqueles que não possam
exercer regularmente os direito políticos, mas também as futuras
gerações.”21

A cidadania ambiental impõe uma nova postura da sociedade,


envolvendo a sociedade civil e o poder público na gestão do meio ambiente,

21
LEITE, J.R.M, AYALA, P.A. Direito ambiental na sociedade de risco. Rio de Janeiro: Forense
Universitária, 2002.
possibilitando a todos uma participação efetiva e com a devida tomada de
decisão por parte da coletividade.
A cidadania só poderá prosperar se o poder público criar os mecanismos
necessários a sua concretização, ou seja, tornando possível a inclusão da
sociedade civil, e de todos aqueles que desejem participar, abrindo os canais
de participação, para que as decisões sejam legitimas, coletivas e públicas.

REF ER ÊNC IA S

BENEVIDES, Maria Victoria Mesquita. A cidadania ativa. 3º ed. São Paulo:


Ática, 2002.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5


de outubro de 1988. Organização do texto: Juarez de Oliveira. 4ª ed. São
Paulo: Saraiva. 1990.

______. Lei 6.938/81, de 31 de Agosto de 1981. Dispõe sobre a Política


Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e
aplicação, e da outras providências. Código Civil. 5ª ed. São Paulo: Saraiva,
1999.

_____. Lei 10.257, de 10 de Julho de 2001. Regulamenta os arts. 182 e 183


da Constituição Federal, estabelece diretrizes gerais da política urbana, e
dá outras providências. Vade mecum acadêmico de direito. Org. Anne Joyce
Angher. 2ª ed. São Paulo: Rideel, 2005.

D’LSEP, Clarissa Ferreira Macedo. Direito Ambiental Econômico e a ISO


14000. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004.

FRANCO, José Gustavo de Oliveira. Direito Ambiental Matas Ciliares.


Curitiba: Jurua, 2005.

KAUFFMANN, Ronaldo Maia. Meio Ambiente e Vida Urbana. in Revista dos


Tribunais, n 666, abril 1991, São Paulo: Revista dos Tribunais, p. 247.

LEITE, J.R.M, AYALA, P.A. Direito ambiental na sociedade de risco. Rio de


Janeiro: Forense Universitária, 2002.

MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo:


Malheiros, 2004.

SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico, p.168.

SILVA, José Afonso. Direito ambiental Constitucional. São Paulo: Malheiros,


1994.
SILVA, José Afonso. Curso de Direito Constitucional Positivo. São Paulo:
Malheiros, 1992.

SILVA, josé Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 9ª ed. São
Paulo: Malheiros Editores, 1993.

SOUZA FILHO, Carlos Frederico Marés de. Bens Culturais e Proteção


Jurídica. Porto Alegre: Unidade Editorial, 1997.

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