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A gota é uma doença muito grave

A gota (eleveção do ácido úrico) é uma das doenças mais antigas


registradas na história da Medicina. Trata-se de uma doença crônica, não
contagiosa, mas que passa pelas gerações de uma mesma família. Estima-se
hoje que 2% da população mundial sofre de gota e que entre os doentes, há
uma mulher para cada oito homens. A doença que aparece geralmente após
os 35 anos de idade, ocorre devido a um acúmulo de ácido úrico no sangue
e isto pode acontecer tanto pela produção excessiva quanto pela eliminação
deficiente da substância úrica.

O ácido úrico é uma substância produzida pelo nosso organismo quando da


utilização de todas as proteínas que nós comemos na alimentação do dia-a-
dia. Numa explicação mais simplória, pode-se dizer que quando as
moléculas de proteínas dos alimentos são partidas em pedaços dentro do
nosso organismo para servir de energia, o que sobra de todo esse processo é
o ácido úrico. É normal que o ácido úrico esteja presente no sangue em
quantidades previstas, mas quando ocorre uma produção excessiva ou uma
deficiência na sua eliminação pelo rim, a sua concentração no sangue pode
aumentar demais atacando principalmente as articulações, provocando a
gota úrica, ou os próprios rins, produzindo cálculos renais (pedras nos rins).

Os valores considerados normais de ácido úrico no sangue são:

Homens adultos = 3,4 - 7,0mg/dL


Mulheres adultas = 2,4 - 6,0mg/dL

A progressão da doença

Nas articulações, o começo de tudo é uma dor forte, geralmente no dedo


maior de um dos pés. A articulação do pé, por ser naturalmente
desprotegida é geralmente a primeira a ser atingida pela gota. A dor é aguda
e súbita e a região onde a crise acontece fica vermelha e muito inchada. Os
sintomas da primeira manifestação da doença duram entre três e quatro dias
e se a pessoa não procura ajuda, essa primeira manifestação passa por um
tempo.

Entretanto, se não for feito um tratamento devido desde a primeira


manifestação da gota, as crises continuam e podem atingir outras
articulações como as do joelho, do cotovelo, mãos e ombros com as
mesmas características: vermelhidão local e inchaço. É a artrite gotosa, que
irá piorar se o doente não fizer dieta, repouso e usar medicamentos
adequados.
Outra manifestação característica da gota é a formação de tofos sobre as
articulações, que são como caroços cheios de substância branca dentro, que
às vezes vazam durante as crises de gota sucessivas.
A chamada gota crônica é o estágio mais sério da doença, pois as
complicações já se instalaram em outros órgãos do corpo, além das
articulações. Neste caso, podem surgir por exemplo deformidades e
defeitos irreversíveis nas articulações.

É importante também lembrar que a primeira manifestação da doença pode


ser outra. Ou seja, a formação de cálculos renais, pedras nos rins que se
formam uma após a outra, mesmo que sejam eliminadas.

As causas da crise e o tratamento

Geralmente uma lesão trivial ou um exercício além do habitual pode


desencadear os episódios. A obesidade e dietas pobres em carboidratos
também são fatores que podem precipitar uma crise.
O consumo excessivo de álcool é outro fator importante pois pode provocar
acúmulo do ácido úrico nos rins e quando isso ocorre, a doença geralmente
está em estágio mais grave. A cada inflamação, o rim cicatriza e se retrai.
Essa retração deixa as artérias mais estreitas e com isso o sangue tem mais
dificuldade de passar. Quando isso ocorre, o corpo, numa tentativa de
resolver o estreitamento arterial, secreta uma substância chamada
angiotensina que aumenta a pressão sangüínea.
Entretanto, essa hipertensão não acontece apenas no rim, mas em todo o
organismo. Assim, a gota pode levar às doenças conseqüentes da
hipertensão, como infarto do miocárdio ou derrames.

Contudo, entre os fatores que desencadeiam a crise, o mais importante é a


alimentação. Uma dieta rica em substâncias denominadas purinas (que
fazem parte das proteínas) resulta em um aumento da concentração de
ácido úrico no sangue e, portanto, alimentos ricos nessas substâncias
devem ser evitados. Entretanto, a restrição rígida de alimentos contendo
purinas geralmente é recomendada no estágio agudo da doença, sendo que
durante o estágio intermediário das crises, o tratamento dietético para
pacientes que se mantém medicados visa uma dieta normal adequada. A
seguir, veja quais são os alimentos com teor alto, médio e baixo em
purinas.

Dieta para tratar da gota

Alimentos com alto teor de purinas/consumo devem ser evitado


- Carnes como vitela, bacon, cabrito, carneiro ou ovelha, embutidos
- Miúdo como fígado, coração, língua, rim e miolos
- Peixes e frutos do mar como sardinha, salmão, truta, bacalhau, arenque,
anchova, ovas de peixe, mexilhão, marisco
- Aves como galeto, peru, pombo e ganso
- Bebidas alcoólicas de todos os tipos
- Caldo de carnes e molhos prontos
- Fermento de pães

Alimentos com médio teor de purinas/consumo moderado

- Carnes de vaca, frango, porco, coelho e presunto


- Peixes e frutos do mar não citados acima, bem como camarão, ostra,
lagosta, caranguejo
- Leguminosas como feijão (exceto feijão adzuki), soja, grão de bico,
ervilha e lentilha, aspargo, cogumelos, couve-flor e espinafre
- Cereais integrais como arroz integral, trigo em grão, centeio e aveia
- Oleaginosas como côco, nozes, amendoim, castanhas, pistache, avelã

Alimentos com baixo teor de purinas/consumo permitido

- Leite, chá, café, chocolate, queijos magros, ovos cozidos, manteiga e


margarina
- Cereais e farináceos como pão, macarrão, sagu, fubá, mandioca, araruta,
arroz branco e milho
- Vegetais como couve, repolho alface, acelga, agrião, radiche
- Doces e frutas de todos os tipos, incluindo todos os sucos

Dicas importantes

- A dieta para pessoa com gota deve ser moderada em proteínas, rica em
carboidratos e relativamente pobre em gordura e deve incluir alimentos
com baixos teores de purina.
- O consumo de gorduras deve ser reduzido, pois o excesso diminui a
excreção de ácido úrico.
- Evite o consumo de bebidas alcoólicas. O álcool precipita o ácido úrico,
facilitando a formação de cristais.
- Líquidos como água e sucos devem ser ingeridos à vontade (mais de três
litros por dia), o suficiente para que a urina esteja sempre clara. Isso facilita
a excreção de ácido úrico e minimiza a possível formação de cálculos.
- É preciso lembrar que, fora das crises de dor, exercícios físicos são
sempre necessários, mesmo que em pouca quantidade, pois não raro, há
excesso de peso e vida sedentária entre as pessoas com gota. E a redução de
peso é sempre útil e ajuda a reduzir a hipertrigliceridemia que existe em
75% dos pacientes com gota.
- Não fiquem longos períodos sem se alimentar. Quem fica muito tempo
sem comer é candidato em potencial a ter uma taxa elevada de ácido úrico.
Isso porque, em jejum, o corpo acaba degradando a proteína muscular
como fonte de energia, gerando uréia como um dos seus subprodutos.
- Medicamentos, quando receitados, devem ser seguidos por todo o tempo
recomendado, pois podem ter efeito incompleto se interrompidos.
- Para finalizar, é preciso ter em mente que a gota é uma doença crônica e
grave, capaz de provocar muita dor e desconforto se não for tratada com
seriedade pelo doente. Por isso, é necessário tratar a doença, muitas vezes
para o resto da vida. Portanto, o seu médico poderá lhe orientar nos exames
necessários para avaliar o quanto de ácido úrico o seu organismo está
formando e excretando e se você está ou não comendo demais alimentos
com altos níveis de purinas.

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