Você está na página 1de 52

Relatório final de estágio

João Cerca
4º Ano de Comunicação Social

Orientador:

Prof. Francisco Amaral

Agosto de 2009
Destino diz respeito à ordem natural estabelecida do universo. Geralmente é concebido como uma
sucessão inevitável de acontecimentos provocados ou desconhecidos.

in Wikipédia

2
Índice
Resumo .................................................................................................................................................... 4
Agradecimentos ...................................................................................................................................... 5
Introdução ............................................................................................................................................... 6
Os três primeiros meses [ESEC TV].......................................................................................................... 9
O trimestre em Lisboa [Económico] ...................................................................................................... 21
Conclusão .............................................................................................................................................. 43
Bibliografia ............................................................................................................................................ 45
ANEXOS ................................................................................................................................................. 46

3
Resumo

O presente trabalho tem como objectivo descrever o trajecto percorrido ao longo de seis
meses, entre 16 de Janeiro e 31 de Julho, nos estúdios da ESEC TV e na redacção do
Económico, durante o estágio curricular.

O relato do Económico desdobra-se em duas partes, o Económico.pt e o suplemento


Universidades.

Palavras-chave: ESEC TV, Económico.pt, Universidades

4
Agradecimentos

Porque este curso, que estás prestes a acabar, foi um trabalho de conjunto não posso deixar
de passar em branco o meu profundo Obrigado a todos que me deram conselhos, para
liderar este barco a bom porto.

As primeiras palavras de agradecimento vão para a minha família, em especial o meu pai por
ter lutado, e esperado, tanto para que eu tivesse uma formação superior, mesmo que para
isso tivesse tido demasiados dissabores.

À Ana por, entre outras coisas, não me ter abandonado mesmo quando a troquei pelos
trabalhos da escola, que ainda por cima nem eram meus.

Ao Hugo e ao Nuno por sempre se terem preocupado com esta etapa tão importante da
minha vida, mesmo não estando tão perto como muitas vezes desejei.

Ao João e à Catarina pelas alegrias partilhadas ao longo dos quatro anos de curso e por não
me terem deixado ao abandono por Lisboa, quando não conhecia nada daquilo (e continuo a
não conhecer).

À Tânia por me ter ouvido quando precisei de desabafar e também por ter continuado a
confiar em mim depois de lhe ter arruinado a primeira apresentação de Direito.

À Carine pelas longas conversas culturais que tivemos ao longo dos quatro anos de curso,
que certamente não imaginaria ter com mais ninguém.

A todo o pessoal da turma por ter aturado durante quatro anos um tipo chato, sem graça
mas – e atrevo-me a dizê-lo – muito honesto (demasiado até).

E por fim aos professores do curso, mais uns do que outros, pela confiança que em mim
depositaram, fazendo-me acreditar que afinal ainda tenho algum valor.

Com todos aprendi sempre alguma coisa esperando não me esquecer na vida futura.

5
Introdução

Sempre me disseram que para falar em acontecimentos do presente é necessário


contextualizá-los num tempo e num lugar, para assim serem melhor compreendidos. Acho
que faz todo o sentido falar da experiência do curso, para poder justificar as opções, as
decisões que tomei durante os estágios.

A definição que escolhi para a página 2 não entra no relatório apenas porque achei giro usar
uma, ou porque tinha obrigatoriamente de ter uma. Aquele significado resume grande parte
daquilo que foi o meu percurso escolar nestes últimos quatro anos. Não por achar que tudo
estava traçado na minha vida, mas sim pelas dúvidas que sempre me ensombraram quanto à
real possibilidade de escolher o meu caminho.

Com a minha visão algo negativa da vida sempre pus em causa as coisas realmente positivas
que me aconteciam, nunca aceitando com facilidade o sucesso que obtive ao longo dos
quatro anos. Relativizei muito (continuando a o fazê-lo ainda hoje) as coisas mais positivas
que eram ditas acerca do meu trabalho e do meu empenho, por parte dos professores e dos
colegas. Como diz o ditado “pôr água na fervura”, baixando assim as expectativas geradas.

A minha expectativa inicial para o curso era seguir um jornalismo mais cultural, desejando
trabalhar com o jornalista Nuno Galopim, do Diário de Notícias, no suplemento DN Música,
existente em 2005.

Dois anos depois com o encerramento do DN Música (devido à entrada de uma nova
direcção no jornal) e com a entrada do curso no processo de Bolonha, reorientei a minha
vida no curso.

Quando a maioria dos meus colegas já tinha decidido que rumo tomar, entre “Jornalismo e
Informação” ou “Criação de Conteúdos para os novos Media” (alguns por certeza, muitos
por desconhecimento do novo), eu estava impossibilitado de o fazer por ainda não estar
matriculado.

Sem essa pressão escolhi assistir às aulas das cadeiras de cada um dos percursos. Em
conversa com a professora Susana Borges, que leccionava a cadeira de Jornalismo de

6
Imprensa, comecei a aperceber-me que teria de ser um jornalista perfeito, acima da média
para poder vingar no jornalismo tradicional. Se calhar por não ser de “altos voos” percebi
logo que o meu futuro, a curto prazo, não iria passar por ali. Depois de ter assistido à
primeira aula de Realização Televisiva Multicâmara, com a professora Irene Veríssimo
confirmei que era melhor rumar pelo ramo de “Criação de Conteúdos para os novos Media”.

A saturação do mercado quanto ao jornalismo tradicional foi também uma das razões que
me levou a tal decisão, mas a possibilidade de algo novo, desconhecido da produção
audiovisual também me aliciou.

Se para muitos a entrada de Bolonha foi um desastre e um grande problema, a mim abriu-
me uma janela de oportunidades, tendo-me dado outro alento depois de dois anos com
cadeiras essencialmente teóricas. Certamente que se o curso não tivesse entrado em
Bolonha eu estaria como alguns dos meus colegas estão agora, descontentes com o
resultado do curso.

Com a entrada das cadeiras de produção de áudio e de vídeo comecei finalmente a perceber
que era aquilo que desejava. Não vou mentir que as notas subiram mais, no entanto, fiz de
tudo para saber a teórica, já que o tinha feito para a prática.

Em alguns momentos não achei que o valor final das notas, nas disciplinas, fosse o mais
justo, tanto acima como abaixo, mas por sermos tão poucos alunos decidi não provocar
conflitos, deixando seguir o rumo das coisas.

No meio do 3º ano já começa toda a gente a pensar no sítio para estagiar. Fazendo bem as
contas, faltava sensivelmente um ano para todos nós iniciarmos essa fase. Eram falados
locais onde se desejava ficar como sítios que não iriam ser abraçados, definitivamente!
Nestes últimos constava a ESEC TV, com alguns de nós a responder: “Por que hei-de
desperdiçar o meu estágio com a ESEC TV, quando posso ir para um outro sítio mais
importante?”.

Até eu pensava isso, mas o meu pré-conceito acerca do projecto da escola foi dissipado
através de uma conversa tida com o coordenador Luís Pato.

7
Depois de umas gravações referentes ao XV Festival Caminhos do Cinema Português foi-me
feito o convite para mais colaborações com a ESEC TV, seguida da pergunta chave: “E por
que não estagiar na ESEC TV?”.

As participações até Janeiro do ano seguinte (inicio do estágio na ESEC TV) deram para
preparar-me melhor para o que viria a seguir, fazendo assim uma transição suave.

Mas porquê dois estágios?

A professora Carla Patrão, docente da cadeira de “Produção de Informação para


Documentários” (PID), ficou encarregada da coordenação de estágios a par do professor Gil
Ferreira e, numa aula de PID, falou que era recorrente o pedido de estagiários por parte do
Económico. Esse pedido raramente era comunicado aos alunos devido à especificidade do
órgão de comunicação social.

Quando esse assunto foi falado a maioria das minhas colegas da cadeira, assim como os
colegas João Sismeiro e Catarina Fernandes, que estavam na sala nesse dia, logo indicaram o
meu nome para esse lugar de estagiário. A minha pouca experiência em economia não foi
suficiente para recusar a ida para Lisboa.

Ao informar-me sobre as possibilidades de fazer dois estágios propuseram-me realizar o da


ESEC TV como extra-curricular depois de vir de Lisboa, coisa que no preciso momento
descartei. Por duas razões o fiz: já tinha tudo confirmado com a ESEC TV e seria impensável
não ser avaliado na área em que me formei. Por muito prestígio que o Diário Económico
tenha, não era isso que me faria quebrar o compromisso que tinha com a ESEC TV.

A possibilidade de estagiar no Económico foi sem dúvida muito importante e que fiz bem em
aproveitar, mas se não fosse a ESEC TV certamente que não me sentia tão bem preparado
para entrar no mercado audiovisual, que espero entrar no terminus do curso.

Se tudo isto estava já traçado ou se fui eu quem decidiu agarrar as oportunidades, já não sei
dizer. O que sei é que foram muitas coisas positivas, as quais não imaginaria obter.

8
Os três primeiros meses [ESEC TV]

“A ESEC TV é uma estrutura de produção de vídeo e televisão, que funciona na Escola


Superior de Educação de Coimbra, com o contributo base de professores e alunos da
licenciatura em Comunicação Social, contando também com a colaboração de alunos
e docentes de outras licenciaturas. O funcionamento regular está assegurado por um
núcleo base composto por profissionais da área formados pela ESEC.

O espaço existente é constituído por um estúdio profissional, régie, ilhas de edição


digital e salas de produção.

A ESEC-TV produz para dois fins distintos: programas de televisão (RTP-2) e outros
trabalhos em suportes multi-plataforma.” 1

Sempre idealizei na minha cabeça que a ESEC TV era uma estrutura fechada em si mesma,
assim como os membros permanentes. O que realmente me levou a pensar isso foi o total
desconhecimento da existência do projecto, como se de mais um serviço da ESEC se
tratasse. Assim como eu pensei isso, também muitos alunos o fizeram e continuam a fazer.

Depois de começar a colaborar esporadicamente com o projecto, a partir do convite feito


pelo coordenador Luís Pato, apercebi-me que as coisas não eram como as tinha idealizado
na minha cabeça.

A entrada no estágio não foi nada de ‘doloroso’, apenas a continuação do trabalho realizado
nas outras participações. No entanto, a fasquia ficou mais alta e o trabalho, apesar de ser
muito semelhante, mais sério.

Na primeira semana, sabendo da minha experiência em edição de vídeo, Luís Pato pediu-me
que auxiliasse a estagiária que na altura lá estava, Maria Medina, que não tinha tido na
altura qualquer contacto com programas de edição de vídeo não-linear 2.

Mas não foi apenas a estagiária Maria que teve dificuldades na edição, eu também senti
algumas por não ser uma plataforma de edição a que sempre estive habituado. Sempre

1
https://www1.esec.pt/pagina/projecto/esectv/historial.php
2
Edição não-linear é “um processo que não limita o editor a seguir uma ordem específica ou a duração de
eventos para o resultado final.” Jack e Tsatsulin (2002, p. 196)
trabalhei com pc e com o Premiere 3 e a adaptação ao sistema Macintosh e ao Final Cut 4 não
foi imediata.

Com apenas um computador disponível para os estagiários (durante o estágio chegámos a


ser cinco), raras foram as vezes em que usei esse mesmo computador, optando por usar o
meu. Ao fazê-lo tive uma grande vantagem, a flexibilidade de horário. Assim poderia fazer
em qualquer sítio e em qualquer hora as tarefas que me eram pedidas, não estando à espera
que o computador da ESEC TV ficasse livre. A grande desvantagem foi mesmo a não
habituação à plataforma Macintosh e ao programa correspondente de edição de vídeo.

As primeiras gravações fora da ESEC começaram também na primeira semana de estágio. A


saída foi para o pavilhão da Escola Superior Agrária de Coimbra (ESAC) para sessões de
Aikido e Tai Chi Chuan, organizadas pela aquela instituição. O meu papel foi apenas de
gravação de alguns planos. Dessas imagens saíram duas peças, uma por cada arte marcial e
ambas editadas por mim e pela Maria Medina. Na peça do Tai Chi Chuan fiquei também com
a tarefa de legendagem, visto que o entrevistado, Keith Roost, apenas falar inglês.

As duas peças demoraram a ser construídas por uma razão muito simples. A minha falta de
interesse pelos temas foi a razão principal para a demora. Mas fui advertido pelo
coordenador Luís Pato que não devia ter essa atitude, porque na minha vida irei ter muitos
trabalhos com assuntos que, com muita certeza, vou detestar.

Aquando do início da montagem das peças cometi um erro grave, não transpus os
procedimentos que costumo ter quando edito algum vídeo no meu computador. Não
organizei o computador de modo a ter tudo o que era ficheiros da peça numa só pasta.
Resultado: tudo espalhado pelo computador e não sabíamos onde estava o quê, o que levou
a uma repreensão do coordenador Luís Pato, depois de já ter ensinado como se fazia tudo
aquilo. Pelo menos ficámos realmente a saber todos os procedimentos.

A prova de que tudo o que é pedido em comunicação social (seja jornalismo, seja produção
audiovisual) nem sempre pode ser concretizado chegou-me logo na primeira semana. Foi me
pedido a elaboração de um croma, um cenário virtual, para a entrevista à fotógrafa Susana
Paiva, o que fiz com muito entusiasmo (só saiu bem à segunda com os conselhos da equipa

3
Adobe Premiere - Programa de edição de vídeo da Adobe Systems Incorporated
4
Final Cut – Programa de edição de vídeo da Apple Inc.

10
fixa da ESEC TV). Na hora da entrevista não foi usado o croma devido ao cenário que foi
usado. Pelo menos aprendi a fazer um croma.

Figura 1 – Exemplo de cenário virtual 5

Além da ida ao pavilhão da ESAC houve mais uma saída antes das minhas gravações
autónomas. A ida ao Museu Machado Castro foi a segunda saída de exteriores em que fui
acompanhado pelo coordenador Luís Pato, em que mais uma vez observei mais do que
actuei.

Enquanto operador de câmara fiquei com filmagens arruinadas, referentes a duas peças. O
motivo foi a falta de atenção relativamente ao filtro ND 6 das câmaras de filmar. O mais grave
foi ter acontecido depois de ser avisado para verificar as condições em que se encontravam
as câmaras, antes de pegar nelas. Aconteceu nas gravações para a peça do Salão 40, nas
Galerias Santa Clara, e também numa entrevista para a peça sobre o Formidável. Apenas as
imagens relativas ao Salão 40 tiveram de ser repetidas.

O cordão humano organizado pela Plataforma do Choupal, para a preservação da Mata


Nacional do Choupal foi o motivo para mais uma gravação de exteriores. Acompanhado pela

5
http://download.cnet.com/VeeScope-Live/3004-2170_4-10996016.html?tag=mncol
6
Este filtro permite gravar em condições de muita luz, cortando esse mesmo excesso de luz. Quando está
activado em locais com pouca luz a imagem fica demasiado escura.

11
produtora Carina Esteves, quando lá chegámos já tinha acabado o cordão humano, mas
ainda tivemos tempo de gravar algumas entrevistas e tirar uns planos de corte.

Nestas filmagens usei pela primeira vez a íris automática, mas como não estava muito à
vontade naquilo tive depois de receber algumas explicações por parte do editor Pedro
Cereijeiro, o mesmo acontecendo com a captação do som, mas felizmente os erros não
comprometeram demasiado o resultado final da peça.

Obedecer a quem, eis a questão

A ida ao TAGV para a cobertura do Cinecarnaval levou-me a um dilema. Antes de ir para o


TAGV o coordenador Luís Pato disse-me que a última coisa que iria fazer no estágio, se o
fizesse, era filmagens de câmara ao ombro. Quando chego ao local das filmagens, visto ser
um evento para crianças, a produtora Carina Esteves manda-me filmar a maioria do evento
com a câmara ao ombro.

E agora, o que fazer? Obedecer às ordens do coordenador, jogando pelo seguro, ficando
com pouca variedade de imagens e entrevistas mal feitas? Ou seguir as ordens da
entrevistadora, correndo o risco de inviabilizar as imagens devido à minha inexperiência
neste tipo de trabalhos?

Optei pela segunda hipótese mas não escapei a duras críticas por causa da qualidade das
imagens. Fosse qual fosse a escolha iria motivar sempre discussão na ESEC TV. Como
aconteceu. O coordenador Luís Pato alertou-me que o operador de câmara, enquanto
realiza o seu trabalho, não está sujeito a ordens do jornalista que o acompanha.

O contributo da escola

Mas nem só de exteriores vive a ESEC TV. A própria escola é também um dos vértices da
produção, seja por causa de eventos que lá se realizem, ou pela simples necessidade de
planos de corte para ilustrar outras peças. Desde o primeiro dia de estágio que me pediram
para tirar imagens, começando com um evento sobre iliteracia. Mais tarde fui destacado
para a cobertura da sessão de apresentação dos novos mestrados. Foram feitas algumas

12
entrevistas a coordenadores dos mestrados e a mestrandos, por ser o primeiro dia de aulas.
Fiquei também encarregado de editar toda a peça.

Para além da câmara e do computador

Durante os três meses as minhas funções não se limitaram a operar com a câmara, com o
teleponto 7 ou editar vídeos. Também fiz o trabalho de produção, algo que todos os que
passam pela ESEC TV fazem.

Durante os três meses de ESEC TV tirei fotocópias, fiz capas para os DVD, fiz telefonemas,
ajudei na arrumação do estúdio, arranjei o texto no teleponto, etc. Como são tarefas que
não são precisos conhecimentos específicos todas as pessoas o fazem.

Se por algum momento eu não estava a fazer algo de mais importante, e caso fosse preciso
alguma ajuda, sempre fiz questão de disponibilizar a minha colaboração. O pior que
podemos fazer é ficar à espera que o trabalho nos caia nas mãos, sem termos um pouco de
iniciativa própria.

As quartas-feiras

Durante todo o estágio as quartas-feiras eram preenchidas com o ‘ritual’ de gravação de


pivôs. Primeiro com a dupla Carolina Névoa/Bruno Santos e depois (na maior parte do
tempo) com a tripla alternada João de Almeida/Sílvia Diogo/Cláudia Paulos, as minhas
tarefas eram várias, desde operador de câmara até operador de teleponto.

Das três câmaras existentes na ESEC TV a número 2 foi a que mais utilizei. A câmara 2 fica
encarregada dos planos de conjunto, dos planos gerais e do teleponto, enquanto as
restantes (câmara 1 e 3) fixam-se nos intervenientes (B e A, como ilustra a Figura 2) com
planos fechados e para a relação campo/contra-campo. Para planos de conjunto mais
fechados também são usadas as câmaras laterais.

7
O teleponto é um dispositivo televisivo em que o apresentador lê o guião que tem de seguir, sem ter
necessidade de desviar o olhar da câmara. Tem também como objectivo que o discurso pareça espontâneo e
natural.

13
De salientar que as câmaras não são fixas, apesar da câmara 2 ser mais fixa do que as outras
duas.

Figura 2 – Diagrama de gravação com multi-câmara

Apesar de lhe chamar ritual havia sempre algo, que fazia cada quarta-feira diferente de
todas as outras. As gravações, normalmente, começavam mais tarde do que o habitual, o que
deixava o pessoal técnico um bocado impaciente, mas logo quando começávamos a boa
disposição substituía a impaciência.

Mas nem só de descontracção eram preenchidas as quartas-feiras. Verificaram-se também


alguns momentos de tensão entre mim e a produtora Carina Esteves, nomeadamente quando
estive na câmara 2, a que era usada nas gravações. Esses momentos de tensão foram muitas
vezes provocados, inconscientemente, pela minha falta de percepção do que era exigido. No
entanto essas animosidades nunca passaram de temporárias.

Com a chegada do estagiário Mário Dinis, a função de operador de câmara começou a ser
partilhada com ele. Não posso deixar de referir que, enquanto responsável pela câmara 2,
uma das minhas falhas recorrentes foi a falta de sugestões para novos planos, que me eram
pedidos.

Foi extremamente difícil arranjar novos planos que pudessem fugir ao habitual, sem que isso
quebrasse a linha editorial da ESEC TV.

14
Enquanto operador de teleponto nunca houve nada de extraordinário a assinalar, sempre
que me pediam alterações ao texto eram prontamente efectuadas. Se havia alguma coisa no
texto que poderia ser melhorada eu dei sugestões, que foram algumas vezes atendidas.

As gravações eram dirigidas muitas das vezes ora pelo coordenador Luís Pato ora pela
produtora Carina Esteves. Esta última ficava também com a função de anotadora.

Os pedidos à ESEC TV

Como produtora para o exterior a ESEC TV recebe pedidos de trabalhos, em que a


viabilidade é analisada cuidadosamente. Durante o tempo que lá estive foram-me atribuídos
dois trabalhos do exterior. Um da loja FNAC de Coimbra e outro do cantor Zé Perdigão.

No âmbito do aniversário da loja FNAC em Coimbra, os responsáveis pediram à ESEC TV a


elaboração de um DVD com todas as peças gravadas naquela loja. Enquanto única pessoa
encarregue de toda a concepção do DVD deu para pôr em prática os conhecimentos
adquiridos na disciplina de Pós-Produção Vídeo.

Este foi um trabalho de médio prazo porque, apesar de ter um ‘deadline’ a cumprir, havia
sempre coisas a fazer no imediato. Além de passar as peças para o computador, usando os
programas Premiere CS4, Adobe Media Encore, com o programa Photoshop CS4 fiz a
concepção gráfica dos menus do DVD. Por fim, para toda a autoração do DVD usei o
programa Encore CS4.

O outro trabalho pedido à ESEC TV, que me entregaram, foi um pequeno filme sem som com
imagens de Coimbra. Esse filme seria de suporte à apresentação do disco de Zé Perdigão,
“Fados do Rock”, em Coimbra. Durante a manhã de um dia a e tarde de outro andei sozinho
pela cidade, de câmara e tripé às costas a filmar, em especial, a parte histórica.

Apesar do trabalho deu-me gozo em fazer a tarefa, tendo em conta que tive liberdade tanto
na escolha das imagens (mas com algumas indicações prévias) como na própria edição do
filme. Enquanto editava tentei tirar algumas dúvidas que tivesse com o coordenador Luís
Pato.

15
A reportagem sobre o “Formidável”

Foi pedido a mim e às minhas colegas estagiárias Helga Almeida, Alicia Martí e Aurora
Urbano que tratássemos de uma reportagem que a ESEC TV tinha em agenda. O ponto
central dessa reportagem era a figura incontornável de Coimbra, o “Formidável”.

Cauteleiro de profissão mas fotógrafo por amor, Fernando Marques foi o olhar de Coimbra
durante muitos anos do século XX. A par da cidade de Coimbra só mesmo o desporto lhe
arrebatou o coração.

Foi a partir desta breve descrição do “Formidável” que partimos para as entrevistas a quem
viveu de perto com ele.

Uma vez mais, a primeira entrevista não correu bem. Tive a infeliz ideia de pôr o
entrevistado de costas para a luz, com a agravante de ser ao fim da tarde.

Para Campbell (2002, p. 71) “o lado da face do actor que está mais perto da luz principal será
mais luminoso que o outro lado, e os seus traços faciais (nariz, boca, sobrancelhas) irão fazer
sombra. Para situações de dia, a luz principal tende a ser de frente para o actor.”

O jornalista Jorge Castilho foi o primeiro de vários entrevistados. Nessa entrevista eu e a


minha colega Helga contámos com a supervisão do coordenador Luís Pato. Mas se no
primeiro local as condições não eram as melhores, o local seguinte foi completamente o
oposto. Muita luminosidade e muito espaço.

Tirando a entrevista ao gerente da Casa da Sorte em Coimbra (em que já expliquei porquê),
o resto das entrevistas correu bem. Uma das curiosidades deste trabalho foi conhecer
alguém que afinal já era próximo da família. Só soube disso depois de eu e a Alicia termos
aceitado uma oferta do entrevistado.

E haverá problema em aceitar ofertas de entrevistados? Depende das ofertas. Apesar do


Código Deontológico dos Jornalistas Portugueses expressar no artigo nº 10 que “o jornalista
deve recusar funções, tarefas e benefícios susceptíveis de comprometer o seu estatuto de
independência e a sua integridade profissional”, isto parte também do bom senso de cada
jornalista, se deve ou não achar que o que lhe é proposto está dentro dos limites éticos e
morais.

16
No meu caso isso não se pôs, não achei que uma simples bebida fosse causar muito
incómodo. Até porque o entrevistado também é jornalista e conhece a realidade.

Nesta peça o meu trabalho foi apenas de operador de câmara, depois disso alguém iria
editar as imagens.

Outros trabalhos como operador de câmara foram o Festyjovem (nos planos de corte), a
sessão de apresentação do protocolo de cooperação entre a ESEC/IPC e a Universidade
Estadual de São Paulo (UNESP), gravação de tema de Carlos Paredes, pelos alunos de música,
no estúdio da ESEC TV para comemoração dos 40 anos do dia 17 de Abril de 1969. Ainda no
FestyJovem participei como entrevistador a Luís Providência, vereador da Câmara Municipal
de Coimbra (o meu colega Mário Dinis esteve encarregado da câmara), na falta da estagiária
Helga Almeida.

IWE 2009

Antes da 6ª Semana Internacional da ESEC ter lugar foi preciso prepará-la. Contribuí com a
minha participação para duas peças. Primeiro a entrevista à coordenadora da semana, a
professora Susana Gonçalves, em que estive responsável pela câmara 2. A outra peça foi a
conferência de imprensa de apresentação da Semana Internacional. Nesta última verificou-
se uma grande diferença de som entre o genérico e o conteúdo da peça.

Mas a participação na 6ª Semana Internacional da ESEC foi, sem margem para dúvida, o
ponto mais alto do estágio. Foi estimulante ver toda a equipa da ESEC TV, entre fixos e
estagiários, a trabalhar para um objectivo comum. Por muito pequena que fosse a equipa
todos fizemos o melhor que achámos e no final o resultado foi muito positivo.

Quanto à minha prestação, tentei por tudo não falhar coisas básicas como falhei ao longo do
estágio. Sabia que a responsabilidade era 200% superior ao que era pedido, em condições
normais, no estágio.

Operador de câmara foi a minha função durante toda aquela semana, no entanto, também
senti o que é estar no papel de entrevistador quando conduzi a entrevista, a meu pedido, ao

17
jornalista, e crítico de cinema, João Lopes. Fiz questão de o entrevistar por acompanhar com
alguma regularidade o trabalho dele na comunicação social.

Enquanto operador de câmara acho que o balanço foi bastante positivo, mas não posso
deixar de referir duas falhas, detectadas depois pelo professor Francisco Amaral, aquando da
entrevista a Carlos Zorrinho, coordenador do Plano Tecnológico e da Estratégia de Lisboa.

Além de ter cuidado para “nunca cortar pelas ‘dobradiças’” (cotovelos, joelhos, calcanhares,
pulsos) o professor Francisco Amaral, depois de visualizar a entrevista a Carlos Zorrinho,
avisou-me do alheamento (inconsciente da minha parte) de que eu sofria cada vez que fazia
uma entrevista com alguma duração. Como se estivesse noutro lugar e noutro tempo
diferente do real. Esse alheamento era a razão para o não acompanhar da câmara quando os
entrevistados se moviam (principalmente para fora dos planos).

Depois dos conselhos fiquei mais atento e tentei não me desconcentrar enquanto
desempenhava funções de operador de câmara. Além da entrevista a João Lopes, também
fiquei encarregado das entrevistas a Carlos Coelho, André Fernandes, Margarida Correia
(danças europeias) e Margarida Paiva.

Também fiz a cobertura de workshops e conferências.

A última viagem

“O Geo-Raid® series é um circuito inovador de provas de resistência em BTT. (…) Um


conceito Inovador que reúne o melhor de dois mundos: competição em equipas de
dois elementos (à semelhança dos provas como o Transalp ou Cape Épic) e marcação
dos percursos por GPS (como a Transportugal).” 8

O derradeiro trabalho para a ESEC TV enquanto estagiário foi em S. Pedro do Sul.


Totalmente diferente do que estava habituado a fazer nos três meses anteriores, posso dizer
que foi uma experiência muito enriquecedora. O objectivo era fazer a cobertura da primeira
prova do Geo-Raid Series.

8
http://www.geo-raid.com

18
Enquanto estive lá com a Helga tentei fazer um equilíbrio entre imagens da prova, dos
concorrentes em competição, e das paisagens naturais que nos apareceram à frente. Apesar
das condições atmosféricas não serem as melhores, com muito vento devido à grande
altitude dos locais o trabalho foi gratificante. Deu para perceber como se faz e, um pouco,
como é participar com elevado grau de dificuldade.

Alguns aspectos poderiam ter sido melhorados ou mesmo evitados: o plano da entrevista a
António Queiroz, responsável pela segurança e manutenção, a falta de imagens dos
primeiros classificados a sítios de destaque (entre eles a chegada).

Há que referir que a qualidade das gravações obtidas deveu-se também, em parte, à câmara
usada. Ao longo do estágio a 150P 9 revelou-se uma ajuda preciosa para a minha prestação. A
vantagem mais evidente é a possibilidade de poder ver, mais fielmente, o resultado final das
gravações, aumentando assim a confiança com a 150P, em relação às outras câmaras
disponíveis na ESEC TV.

É injusto resumir a ESEC TV ao coordenador Luís Pato e à produtora Carina Esteves. Apesar
das contribuições dos editores Márcia Figueiredo e Pedro Cereijeiro para o meu estágio não
terem sido tão intensas, não posso deixar de passar em branco a ajuda e a compreensão que
tiveram comigo ao longo dos três meses que passei no projecto.

Sempre que tinha alguma dúvida estiveram lá para me esclarecer. Cada vez que o trabalho
corria menos bem, contei sempre com o apoio deles. De todas as vezes que precisei de uma
segunda opinião eles mostraram-se sempre disponíveis em contribuir.

O trailer que fiz do programa 129 foi pedido pela editora Márcia Figueiredo e as
recomendações sobre o uso manual da íris 10 da câmara de filmar foram feitas pelo editor
Pedro Cereijeiro.

De Janeiro a Maio todo o tempo foi bastante positivo. No entanto também houve coisas
menos positivas. A maioria já foi referenciada, mas não seria justo omitir uma ou outra

9
Sony DSR PD150P (http://www.kitmondo.com/images/listing/sony_pd150_3.JPG)
10
A íris o mecanismo que controla a quantidade de luz que é permitida entrar num dispositivo óptico. Jack e
Tsatsulin (2002, p. 157)

19
situação que, na minha opinião, poderia ter sido evitada. Houve alturas em que senti
tratamento diferenciado entre estagiários. Senti que fui prejudicado pela velocidade com
que fazia as coisas. É certo que poderia, e deveria, ter feito as coisas com mais rapidez, mas
isso não deveria ser um factor de discriminação.

A outra face do estágio

A minha passagem pela ESEC TV foi a prova de que um estágio também pode evoluir de uma
relação de trabalho, entre os elementos fixos e os estagiários, para uma relação de amizade.

O que em Janeiro era uma relação hierárquica em fins de Abril era mais do que uma simples
relação de colegas de trabalho. Nas últimas semanas do estágio já todos partilhávamos o
campo de futebol para umas partidas de ténis, depois do trabalho.

20
O trimestre em Lisboa [Económico]

“A Económica SGPS é o grupo português líder em conteúdos especializados de


Economia e Negócios, com a publicação de dois jornais de referência: o Diário
Económico e o Weekend Económico [antigo Semanário Económico].

Actualmente, a Económica SGPS é detida a 100% pela Ongoing Strategy Investments,


uma sociedade dedicada à gestão de investimentos estratégicos em Portugal, em
especial na área de TMT.”

No dia em que entrei nas instalações da Económica SGPS, na Rua Oliveira ao Carmo,
ninguém sabia ao certo para que secção iria eu estagiar. Ao fim de algum tempo lá ficou
decidido que iria integrar a secção do online.

Foi assim que começou a minha passagem de três meses pelo que é, hoje em dia, o jornal
líder de audiências no segmento de economia. O primeiro número do Diário Económico saiu
no dia 30 de Outubro de 1989.

O trimestre em Lisboa está obrigatoriamente dividido em duas partes. O primeiro mês no


Económico.pt e os dois restantes no suplemento Universidades. Três meses e duas
experiências totalmente distintas.

Mas a ida para o Económico não foi simplesmente uma alteração de local de estágio. Foi
acima de tudo uma mudança do quotidiano que já me tinha habituado. Foi entrar num
mundo totalmente diferente.

Se de Janeiro a Abril estive entre câmaras de filmar e a trabalhar com programas de edição
de vídeo, de Maio a Agosto a minha vida foi passada entre ‘backoffice’, internet, Quay 11,
Millenium editor e jornais impressos.

A ida para Lisboa foi algo que não esperava quando decidi o meu futuro no 3º ano, não erro
muito se disser que este estágio “caiu-me nas mãos”.

O gosto por um tema não nos faz automaticamente sabedores desse mesmo tema. Essa foi a
postura que adoptei, e continuarei a adoptar ao longo da vida até prova em contrário. Acho
11
Acervo local online de todo o conteúdo publicado pelo Económico.

21
que nesta altura posso revelar que tive muito medo do estágio que iria abraçar. Medo de
descobrir que o simples interesse pela economia não me serviria de nada em Lisboa. Medo
de imaginar que me iriam remeter à simples transcrição de takes da Lusa. Mas tal não
aconteceu.

Uma coisa que não posso deixar de referir, e que me chamou muito à atenção, quando
entrei na redacção foi a juventude dos elementos que a compunham. Fazendo uma
estimativa por alto apercebi-me que a maioria dos jornalistas da redacção não teria mais
35/40 anos.

Não sei como será noutros jornais, mas acho interessante o facto de quererem uma
redacção nova. Mas a redacção jovem também tem o reverso, a perda de memória nas
redacções.

22
Parte Um – Económico.pt

Eu não seria o primeiro nem o último a ir para Económico sem dominar a economia. Esse foi
o conselho que me deram quando lá cheguei, portanto não precisava de ficar em pânico
com não dominar a matéria. Com o tempo eu iria habituar-me.

Normalmente os jornalistas têm um horário mais ou menos fixo, sem trabalharem em


função das notícias do dia. No site passava-se uma coisa diferente, quase todos os que lá
trabalhavam tinham um horário em função de alguma coisa. Por norma era em função da
abertura e fecho dos mercados bolsistas.

O meu horário no Económico.pt foi em função das bolsas nos Estados Unidos, ou seja, entre
as 14.30h e as 21.30h. Como todos os dias fazia uma notícia de abertura ou fecho de Wall
Street entrava sempre e saía sempre depois desse horário.

Era sempre preciso preparar a notícia, analisar os futuros 1, nos comunicados da Bloomberg
que antecediam a abertura e o fecho, tentando assim prever o comportamento das bolsas
americanas.

Mais à frente explicarei o meu desempenho com estas notícias.

O site sofreu uma grande remodelação desde o inicio do ano de 2009, está mais interactivo,
mas multimédia, mas nem assim a respeitar os conselhos para uma interactividade quase
total.

O modelo proposto por João Canavilhas para o webjornalismo, o da “Pirâmide Deitada”,


sugere, entre outras coisas, que ao chegar a um último nível da Pirâmide “cada um
construirá a sua própria notícia de acordo com as necessidades pessoais de informação, mas
também de acordo com as suas expectativas em relação às características do meio,
reorganizando a informação de uma forma individual, e talvez única, graças à possibilidade
de introduzir links para informações externas.”, Canavilhas, (2008, p. 159)
1
Contrato que estabelece a obrigação de compra e venda de determinado activo (mercadorias, divisas, taxas
de juro, acções, obrigações, swaps e índices de acções), entre um comprador e um vendedor, ficando o
primeiro obrigado a receber o activo e o segundo a efectuar a entrega dos activos ao preço e data pré-
determinados. Estes valores mobiliários cobrem o risco de variação de taxas de câmbio, o risco de variação de
cotações de acções e obrigações. A sua introdução aumenta a liquidez das bolsas e constituem um factor
dinamizador da economia. Soares (2008, p. 149)
Figura 3 – Níveis de informação da pirâmide deitada

No site do Económico.pt o modelo não é aplicado totalmente ao último nível, o nível de


exploração, porque não existem links para informações externas. A razão para tal acontecer
é o receio dos leitores nunca mais voltarem à notícia, aplicando a teoria da cauda longa.

Mas como designar o trabalho que é feito pelos jornalistas do site do Económico? Jornalismo
electrónico, ciberjornalismo, jornalismo digital ou será que qualquer uma das definições
serve?

Caso não tivesse feito qualquer pesquisa acerca deste assunto iria classificar de forma
errónea este tipo de jornalismo. Para mim todos os diferentes termos estavam correctos,
designando uma mesma coisa.

A designação correcta para este trabalho é de ciberjornalismo, que “vai remeter ao


jornalismo realizado com o auxílio de possibilidades tecnológicas oferecidas pela cibernética
ou ao jornalismo praticado no - ou com o auxílio do - ciberespaço. A utilização do

24
computador para gerenciar um banco de dados na hora da elaboração de uma matéria é um
exemplo da prática do ciberjornalismo.”, Mielniczuk (2003, p. 4)

Se o trabalho é sempre muito apressado na redacção do jornal impresso então na secção do


online ainda é mais. É sempre preciso alimentar o site a todo o instante, estar sempre a
procurar notícias

Não sei se foi por ter ficado no online, mas a ideia que tinha da reacção dos jornalistas ao
estagiário foi totalmente desmistificada. Sempre pensei que o estagiário seria considerado
como um estranho, um empecilho na redacção, o primeiro contacto que tive com a editoria
do online não foi nada disso.

Antes mesmo de entrar na redacção o editor Pedro Latoeiro levou-me a tomar um café e
deu-me as primeiras instruções sobre o ‘modus operandi’ do jornal, em que o
profissionalismo e o rigor são indispensáveis.

O terminal da Bloomberg

No primeiro dia fui confrontado com um computador fora do normal. Esse computador tem
dois monitores e um teclado muito colorido. Esse computador é nada mais nada menos que
um terminal da agência financeira norte-americana Bloomberg.

O terminal permite, entre outras coisas, o acesso em tempo real a todas as informações das
bolsas mundiais, das empresas que lá estão cotadas, o acesso às cotações das moedas mais
importantes no mundo e também às cotações do crude nos mercados norte-americano e
britânico. Mas o mais importante é mesmo o acesso aos telexes da própria agência
financeira.

A vantagem, dos que têm este terminal, reside no facto de terem acesso a todas as
informações mais cedo. Os telexes da agência estão disponíveis no terminal mesmo antes de

25
estarem no site oficial. O preço mínimo do aluguer do computador varia entre os 1500 e os
1800 dólares por mês 2.

Logo no primeiro dia o editor do online, Pedro Latoeiro, ensinou-me os comandos básicos
para funcionar com o terminal da Bloomberg. Nesse mesmo dia estreei o terminal com uma
notícia sobre o estado da bolsa portuguesa.

Segundo os meus colegas de editoria, é raro alguém fazer notícias de bolsa no primeiro dia
em que entra no jornal, ainda por cima usando os dados provenientes do terminal da
Bloomberg. Com alguma dificuldade lá consegui fazer a notícia da bolsa.

Mas se ao princípio o terminal parecia um autêntico “bicho-de-sete-cabeças”, com as


constantes utilizações, e com a ajuda dos meus colegas, pouco depois já era natural o uso
que dele fazia.

Além da Bloomberg a agência de notícias Reuters também tem um terminal na redacção,


mas nunca cheguei a usá-lo.

Na primeira reunião de editoria, Pedro Carvalho, subdirector do jornal e responsável pelos


conteúdos do Económico.pt, disse que o que poderia fazer a diferença face à concorrência
eram as histórias que os leitores não estavam à espera. Para explicar melhor o que pretendia
citou o exemplo da notícia sobre a declaração de rendimentos do Presidente dos Estados
Unidos, Barack Obama 3.

Com esta premissa na cabeça pus-me à procura de notícias que, não sendo inócuos no
conteúdo (no meu entender), pudessem trazer mais leitores ao site.

Comecei a consultar alguns dos jornais de referência económica pela internet 4 e encontrei
algo curioso, um artigo de opinião com os prós e contras da possibilidade da cadeia de cafés
Starbucks se transformar num banco.

2
http://beginnersinvest.about.com/od/research/qt/bloomberg.htm - Refiro este número porque não sei ao certo o
valor mensal pago pelo Económico, para ter este terminal na redacção.
3
http://economico.sapo.pt/noticias/a-declaracao-de-irs-de-obama_8237.html
4
Sites do Financial Times, do Wall Street Journal, do Cinco Días

26
Escrito o artigo comecei a pesquisar outra história boa. Mais tarde comecei a ver que o
artigo até tinha tido algum relevo nas estatísticas do site e a primeira coisa em que pensei foi
que as pessoas se sentiram identificadas com a ideia.

Percebi depois que não tinha sido nada disso. Simplesmente fiz uma coisa terrível e o mais
grave é que nem sequer me tinha apercebido. O título da minha notícia trocava a suposição
pela certeza da Starbucks se transformar numa instituição de crédito. Quando dei pela falha
já tinha sido corrigida pelo meu colega Pedro Duarte.

A moderação dos comentários

Quem estava no online não podia sair da redacção sem aprovar comentários. E qual era a
regra? Simples, para serem aprovados os comentários não poderiam ter conteúdos
ofensivos. Não havia espaço para palavras ofensivas nem comentários que ofendessem
directamente o jornalista que escrevia a notícia.

Esta era uma tarefa muito aborrecida e que algumas vezes ficou ainda mais. Quando havia
notícias com possibilidade de serem muito comentadas muitas vezes era a mim que pediam
para ver os comentários. Atrevo-me a dizer que achavam, sem o dizerem, que era “trabalho
para o estagiário”.

As tarefas no online não se resumiam à elaboração de notícias e à moderação de


comentários. Havia sempre necessidade de arranjar fotos para as notícias. Apesar de o
Económico estar munido de uma boa base de dados fotográficos seriam sempre precisas
mais fotografias. Por isso uma das nossas tarefas era também arranjar mais fotos para a
base de dados.

27
Figura 4 – Foto de foco (1) de destaque (2) do site do Económico

Figura 5 – Foto de página (3) do site do Económico

Por cada foto obtida era sempre necessário redimensionar para obter quatro novas fotos:
foco, destaque, página e infopoint. Esta últimas não estão aqui visíveis porque têm
Económico.tv como destino.

28
Apesar de já estarem lá os templates do Photoshop com as medidas finais de cada foto, era
sempre um trabalho um bocado demorado.

O site à semelhança do jornal?

Apesar de ser um simples estagiário isso não me impediu de pensar no que estava a fazer e
no que me era pedido. Ao longo do mês que estive no online houve coisas que não entendi e
que não achei serem apropriadas para o produto final (mesmo depois de sair do online mais
crítico fiquei).

Um espelho do jornal, devidamente adaptado às novas tecnologias, era e é a ideia que tenho
na minha cabeça para as redacções online dos jornais. Com o Económico.pt passa-se o
mesmo.

Das notícias que escrevi para o site houve algumas que não fiquei particularmente orgulhoso
de as ter feito. As notícias sobre o filme Anjos e Demónios, a multa da ERC à revista “Playboy
Portugal” 5 e a possível compra de casa em Portugal, por parte da actriz americana Angelina
Jolie.

A notícia da Playboy foi assinada como Económico com Lusa porque foi tirada quase toda do
take da agência de notícias portuguesa. Já a da Angelina Jolie, assinei como Económico por
não me identificar com a mesma, tendo encontrado assim uma forma de contornar o meu
problema.

Tenho acompanhado o site com alguma regularidade e no meu entender está a tornar-se
cada vez menos económico, com demasiadas notícias acerca de desporto – leia-se futebol –
e muitos ‘fait-divers’.

Sendo a lógica das audiências a mais importante nos dias de hoje, compreende-se esta
opção editorial.

5
Das notícias que escrevi esta foi a que teve mais visitas, totalizando 12941.

29
Crise? Qual crise?

Em alturas de crise económica os meios de comunicação social sentem-se particularmente


afectados, devido à queda das receitas de publicidade, principal motor das vendas. Mas ao
longo deste tempo de instabilidade que se tem vivido aconteceu uma coisa curiosa, de todos
os jornais diários os económicos foram os únicos a subir as vendas.

O facto das pessoas quererem estar informadas acerca de um assunto que lhes diz muito,
um tema que lhes condiciona o futuro, está na origem do aumento da tiragem deste tipo de
jornais. Sendo a crise económica o tema, estes são os jornais mais capazes para dar as
respostas que tanto desejam.

De entre os jornais económicos, o Diário foi também o que mais subiu 6.

As bolsas

Este foi um dos pontos mais críticos da minha passagem pelo site. Desde o princípio que
senti alguma inadaptação para aquele tipo de conteúdo noticioso. Apesar de ser quase
sempre igual tinha sempre certas dificuldades em lidar com os ‘takes’ da Bloomberg,
certamente por causa do meu parco conhecimento na matéria.

Para agravar a situação, apesar de o formato das notícias ser muito igual, a forma como fazia
a notícia variava de supervisor. Eu fazia semelhante àquilo que o meu editor fazia, mas
depois, quando estava a minha colega Eudora Ribeiro a ajudar-me, a notícia saía muito
diferente.

Se as minhas dificuldades já eram grandes, assim não ajudava nada, tendo em conta que o
texto era reformulado totalmente. Muitas vezes pensei que talvez tivesse sido um erro ter
ido para o Económico.

Nunca me senti muito à vontade em ripostar pelo facto de me estarem a alterar


radicalmente os textos, achava que o meu ‘handicap’ era suficiente para não o fazer. “Eles
têm mais conhecimento disto”, pensava eu cada vez que via o meu artigo ser ‘talhado’.

6
http://economico.sapo.pt/noticias/diario-economico-e-o-diario-portugues-que-mais-cresceu-ate-
abril_13989.html

30
Ainda foram algumas as vezes em que pus em causa, se fiz bem ou não, ter ido para o
Económico.

O tempo que levava para fazer as notícias da bolsa era demasiado longo, levando a que
algumas vezes não me atribuírem essa tarefa das bolsas, porque já sabiam da minha
demora.

A minha dificuldade em escrever de forma simples e directa, sem palavras muito


complicadas também foi um problema. Contrariamente ao que aconteceu quando estava no
suplemento Universidades.

Mas nem só de bolsas vivi durante um mês. Na primeira semana fiz três notícias sobre a
Gripe A e compreendi o porquê de as ter feito, porque caso se transformasse em pandemia
(o que está a acontecer) muitas empresas sairiam afectadas.

Só não gostei de fazer uma notícia sobre a conferência de imprensa da ministra da Saúde,
em que ela nada diz. A ministra da Saúde veio dizer que não havia mais casos a relatar e que
tudo estava com o dia anterior. Qual o valor acrescentado desta notícia? Será que qualquer
coisa serve para “agarrar” os leitores? Mesmo que não traga qualquer informação?
Indirectamente perguntei à minha colega Mafalda Aguilar se valeria a pena fazer a notícia, a
resposta foi um valente sim. Não tive hipóteses.

Os comunicados da CMVM

Um dos sites a que era obrigatório estarmos especialmente atentos era o da Comissão de
Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), frequentemente apelidada pelos meios de
comunicação social de ‘polícia da bolsa’.

Tínhamos de estar atentos aos comunicados das ‘Inside Transactions’, as operações de


compra e venda de acções da bolsa por empresas ou particulares. Esta era outra das tarefas
de grande rotina, não era preciso pensar muito, apenas estar atento ao que diziam os
comunicados.

E o que era necessário reter desses comunicados? Quem vendia ou comprava, quantos
títulos eram transaccionados e qual a situação depois da operação efectuada.

31
As saídas para o exterior

Foram precisos apenas cinco dias para fazer uma saída do jornal (a primeira de duas). Fui
destacado pelo online para fazer a cobertura da conferência de Joseph Stiglitz, Prémio Nobel
da Economia em 2001, no auditório da Fundação Calouste Gulbenkian.

Quando o meu editor me comunicou isso pensei logo no twitter como forma de
comunicação, não para esta saída mas para próximas. A resposta foi negativa simplesmente
porque iria ser sempre avisado em cima da hora, não dando tempo para preparar as coisas.

Acabei por comunicar com o meu editor por mensagens escritas de telemóvel, com as
declarações mais importantes do conferencista.

A outra saída que fiz, durante o tempo que estive no online, foi à apresentação pública das
contas trimestrais do Millenium BCP. Não sei se foi esquisito ou simplesmente normal, mas
quando entrei na sala de imprensa do banco algo mexeu comigo. Era a primeira vez que
estava tão perto de ‘pesos-pesados’ da economia em Portugal.

Vê-los ali quando estava habituado a assistir às declarações pela TV foi algo de estranho.
Não havia quaisquer intermediários, mesmo sabendo que nada lhes iria perguntar.

Fazia-me lembrar sempre o tão enraizado estereótipo do provinciano que vai à capital e fica
todo deslumbrado. Mais uma vez registei o que de importante disse o presidente do
Conselho de Administração do Millenium BCP e enviei por mensagens escritas de telemóvel
para o meu editor.

Em ambas as saídas estiveram, além de mim, um jornalista da edição papel e o responsável


pelo Económico.tv.

Digo responsável pelo Económico.tv porque quando a vaga abriu tentei saber como podia ir
para lá e logo fui encorajado a não o fazer. O meu colega Pedro Duarte disse-me que aquela
função não era considerada como jornalista e portanto não teria tantos direitos como as
outras pessoas da redacção. “Dificilmente chegarás ao quadro da empresa” dizia-me ele.

32
Esta foi uma das razões pela qual hesitei em propor-me para o lugar que tanto desejei desde
o inicio do estágio. Desde o final do ano passado (civil) que estive a acompanhar o
Económico (por razões óbvias) e quando percebi que iria haver uma tv na Web comecei a
delinear o meu futuro de outra forma.

Sei que tal não estava totalmente dependente de mim, mas tinha a certeza que iria fazer
tudo o que estivesse ao meu alcance para ficar lá colocado. Seria muito vantajoso para mim
tendo em conta que estaria a trabalhar na minha área de especialização.

Quando decidi pôr para trás a minha indecisão, já era tarde. Viria na semana seguinte um
novo reforço para a equipa do online.

Das notícias que fiz nem todas foram publicadas, ora porque não era a altura ideal, ora
porque demoravam a ser vistas por um supervisor. Algumas acredito que ainda estejam
perdidas pelo ‘backoffice’.

Ao contrário de outros órgãos de informação, aqui sempre assinei as minhas peças, para o
bem e para o mal. Só não assinei mais por causa de algo que está a afectar negativamente as
redacções, a excessiva dependência dos ‘takes’ da Lusa.

Assinei mais notícias como ‘Económico com Lusa’/’Económico’ do que estava à espera
quando entrei.

A certa altura foi-nos pedido que começássemos a ter em conta as notícias sobre Angola,
devido ao interesse generalizado que se tem verificado, por parte dos investidores
portugueses e do Estado. Mas outra das razões foi o facto da concorrência 7 estar a dar
destaque ao país com, pelo menos, uma notícia diária.

O site da agência de notícias de Angola, a Angola Press 8, passou a ser uma visita regular por
parte dos jornalistas do online.

Por fim, não querendo desrespeitar ninguém, tenho de referir a ajuda que o meu colega
Pedro Duarte me deu, estando sempre disponível para me atender. Além da ajuda também

7
Jornal de Negócios
8
http://www.portalangop.co.ao/

33
me ensinou coisas valiosas que nunca imaginaria que pudessem acontecer, apesar do pouco
tempo que passei com ele.

Fica a ajuda e a disponibilidade que tiveram para comigo durante um mês.

A minha passagem pelo site terminava no dia 30 de Junho.

34
Parte Dois – Universidades

Primeiro enquanto secção e a partir de 21 de Abril (confirmar) como suplemento semanal do


Diário Económico, o Universidades é o único em Portugal dedicado ao ensino superior, mais
direccionado para alunos de curso de economia, gestão e engenharias.

Num total de 16 páginas o suplemento é composto por um tema de capa, uma secção
chamada de “Formação de Executivos” 9, um conjunto de rubricas fixas 10, uma secção
chamada de “Saídas Profissionais 11 e uma série de artigos de opinião.

A minha participação no suplemento das terças-feiras dedicado ao Ensino Superior foi em


grande parte diferente da que tive no site, durante o primeiro mês.

A entrada para a equipa do suplemento deu-se no dia 1 de Junho, sem que nada me tivesse
sido comunicado. Cheguei à redacção nessa segunda-feira e vi que as minhas coisas já não
estavam no local onde pensava que estavam.

A razão para a minha mudança foi o excesso de trabalho para um número reduzido de
pessoas no suplemento. Além da editora Madalena Queirós estavam a tempo inteiro no
suplemento os jornalistas Ana Cristina Petronilho e Pedro Quedas. A jornalista Carla Castro
também fazia parte do suplemento, mas não a tempo inteiro.

Com a baixa médica da jornalista Andrea Duarte era urgente a requisição de mais alguém
para o suplemento. A recusa da direcção em integrar a jornalista Tatiana Canas no lugar de
Andrea Duarte levou a que eu fosse requisitado para o lugar.

A diferença mais evidente face ao site teve a ver com a ‘velocidade’ a que são produzidos os
conteúdos. Enquanto que no Económico.pt é sempre necessário estar a arranjar conteúdos a

9
Secção destinada a MBA
10
“O melhor aluno” sobre uma personalidade e percurso académico; “Curso com saída” sobre o curso com
maior empregabilidade numa instituição de ensino superior pública ou privada; “A Caminho do espaço europeu
do ensino superior” sobre Bolonha num dos países aderentes; “Passaporte” sobre uma instituição de ensino
superior no estrangeiro; “Foto denúncia” em que o artigo se baseia numa fotografia e no evento que ela
representa; “Testemunho erasmus” sobre a experiência de alguém que passou pelo programa de intercâmbio
europeu; “Leituras” em que é feito um pequeno resumo de um livro.
11
Todas as semanas é analisada uma empresa em Portugal e mostra-se o que é necessário para se poder lá
estagiar.

35
cada minuto, no Universidades há mais tempo para elaborar os conteúdos, devido à
periodicidade semanal do próprio suplemento.

Apesar do suplemento sair à terça-feira as reuniões de editoria eram sempre feitas à


segunda-feira, no dia em que era fechado totalmente, fazendo com que no primeiro dia
tivesse uma reunião de editoria.

As minhas primeiras tarefas foram as rubricas fixas. Durante a primeira semana fiquei com o
“Passaporte”, o “Curso com Saída” e com o “Caminho do Espaço Europeu do Ensino
Superior”. Foi me também pedido para fazer um levantamento dos nomes que compõem o
Conselho Geral da Universidade de Coimbra (UC), ao qual acrescentei por iniciativa própria o
Conselho Geral do Instituto Politécnico de Coimbra (IPC).

Porquê incluir o IPC?

Durante a minha passagem pelo Universidades defendi que o suplemento não deveria ser
tão centrado em universidades e em Lisboa. A editora Madalena Queirós admitiu que a
escolha do nome para o suplemento não agradou a muita gente do Ensino Superior
Politécnico.

Enquanto aluno de Coimbra fiz questão de dar lugar ao IPC e a UC e enquanto aluno de um
politécnico dar ênfase a esse lado do Ensino Superior, muitas vezes através da rubrica do
Curso com Saída.

Curiosamente entre o IPC e a UC obtive mais receptividade da segunda. Não via isso como
qualquer tipo de lóbi ou conflito de interesse, apenas como uma tentativa de dar outra
perspectiva do ensino superior, evitando cair no centralismo de Lisboa.

Ao longo dos dois meses reparei na inércia dos Institutos Politécnicos (IP) face ao
suplemento. É um bocado incompreensível o não aproveitamento do Universidades para
divulgação de iniciativas.

Não posso falar pelos comunicados de imprensa porque, se enviaram algum, não houve
nenhum que tivesse passado pelas minhas mãos. Eu não era o único na editoria, logo
poderiam ter enviado para mais alguém.

36
Tentei muitas vezes que os IP me disponibilizassem informações para a rubrica “Cursos com
saída”, no entanto o feedback foi quase nulo. Fico sem saber o porquê desse desinteresse.

Numa edição dedicada ao acesso ao ensino superior fiquei com um artigo sobre o
alojamento e os vários tipos disponíveis. Esse artigo teria a cidade de Coimbra como base
com as repúblicas estudantis, as residências universitárias e o alojamento particular
nomeadamente o certificado de habitabilidade, passado pela Direcção-Geral da Associação
Académica de Coimbra.

Aqui esbarrei outra vez com a inércia do pessoal de Coimbra, as respostas do pessoal das
repúblicas vieram muito em cima da hora. Da parte da DG nem chegaram a vir, e não foi por
falta de insistência. Nem valeu de nada falar com o presidente, Jorge Serrote. Resultado: não
houve artigo para ninguém e perdeu-se mais uma oportunidade de divulgação da cidade.

A partir da segunda semana começaram os artigos fora das rubricas. Comecei a falar com
pessoas, não só para escrever o que de correcto achava que diziam, mas sobretudo para
aprender também com o que diziam.

“Arranja-me dois jovens licenciados no desemprego”. Podem não ter sido estas as exactas
palavras, mas a intenção da editora Madalena Queirós foi a mesma. Eram precisas duas
pessoas para dois artigos sobre a temática das novas formas de conseguir emprego. Ao
princípio achei que não seria complicado devido à situação de muitos licenciados em áreas
de letras.

Comecei por tentar os professores do 1º Ciclo do Ensino Básico, falando com alguém com
essa formação. Mas tal não seria fácil por causa das actividades de enriquecimento
curricular ou empregos noutras áreas. A ajuda da docente contactada revelou-se infrutífera.
De seguida lembrei-me de outra pessoa minha conhecida, confirmando que estava
realmente licenciado no desemprego. Ficava a faltar só mais uma pessoa.

Depois de uma conversa com vizinhos foi-me indicada alguém que tinha criado uma
associação para jovens desempregados. Tratei de a contactar para saber a disponibilidade
para participar no artigo. A resposta foi positiva e no dia seguinte consegui fazer os artigos
sem qualquer dificuldade.

37
Nessa mesma semana fiz também um pequeno artigo de pergunta resposta sobre o portal
de emprego da União Europeia, o EURES. Um pequeno guia sobre esse mesmo site, para as
pessoas o conhecerem e assim terem mais hipóteses de arranjar emprego no estrangeiro.

Devido à natureza do tema, e como anteriormente já me tinha inscrito no site, decidi propor
à minha editora um artigo acerca do portal de emprego. Não esperei portanto que o
trabalho me caísse nas mãos.

Para além do Universidades tive outra participação pontual para o Semanário, para a rubrica
Barra Azul. 12 Quando saiu essa edição do Semanário (13 de Junho) estávamos nas vésperas
dos exames nacionais do ensino secundário. A minha tarefa tinha sido arranjar dicas para
melhor estudar e ter bons resultados nos exames. Para além desse artigo em formato
pergunta/resposta fiquei também com a tarefa de elaborar um artigo, ainda na rubrica Barra
Azul, acerca do negócio das explicações em Portugal. Fi-lo com base no estudo que tinha
sido feito por investigadores da Universidade de Aveiro e em notícias de jornais.

A rotina das rubricas

Até ao fim do estágio fiquei sempre encarregado de alguma rubrica, o que até certo ponto já
mostrava o meu descontentamento por fazer um trabalho tão mecanizado. A princípio até
achei interessante, mas o interesse começou a desaparecer quando me apercebi da pouca
variabilidade dos conteúdos.

As rubricas “Curso com saída” e “A caminho do espaço europeu do ensino superior” foram
as que mais fiz (sete e seis vezes respectivamente), seguida do “Passaporte” (três), “Foto
denúncia” e “Leituras” (ambas com um artigo).

12
Esta é uma rubrica com conteúdos mais práticos para os leitores.

38
O trabalho de exterior

Nem só de trabalho de secretária foi o meu tempo ocupado, nos dois meses que permaneci
no Universidades. Por duas ocasiões fiz entrevistas em exteriores, uma na UC e outra no
Instituto de Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE).

Sendo eu da zona de Coimbra, a minha editora começou, a certa altura, a enviar-me os


comunicados de imprensa da UC. Um desses comunicados falava de um projecto de
investigação europeu denominado de ECHORD, em que um professor da Faculdade de
Ciências e Tecnologias da UC estava inserido.

Decidi então aproveitar uma das idas a casa para fazer a entrevista ‘in loco’ ao professor que
estava integrado no projecto, o professor Norberto Pires. Esta iria ser a primeira entrevista
diferente do que já tinha feito anteriormente no curso. Esta era mais a sério, a
responsabilidade era maior. Só por isso o nervosismo atacou um bocadinho, mas não houve
problemas. Poderia ter acontecido algo de terrível caso o gravador tivesse problemas,
porque tive a ideia de confiar plenamente na tecnologia e não tirei quaisquer notas.

Enfim, um jornalista perigosamente moderno.

O artigo sobre o ECHORD esteve durante algum tempo em carteira 13 porque havia sempre
coisas com maior prioridade para sair. Com esse artigo passei a ter contacto mais regular
com a assessora de imprensa da FCTUC, que esteve sempre disponível quando precisei de
algumas dicas sobre a UC.

A entrevista do ISCTE foi, no meu entender, de mais responsabilidade porque fui entrevistar
um professor americano, da Universidade de Brown. O professor, de nome Daniel Warshay,
veio participar no 6º Curso de Verão daquela escola. Foi a primeira e única vez que
entrevistei alguém em inglês.

O nervosismo que senti no início, devido à responsabilidade e medo de não me conseguir


expressar na melhor maneira, rapidamente se desvaneceram. O à-vontade do entrevistado,
a facilidade com que explicava os conceitos e que respondia às perguntas permitiu uma

13
Um artigo em carteira significa em ‘standby’, em que não é publicado logo a seguir a ter sido feito.

39
conversa fluida. No final mostrou-se muito interessado no resultado e pediu para receber
uma cópia do artigo. Acedi ao pedido e até lhe enviei a tradução do mesmo, com a preciosa
ajuda, na tradução, do meu colega Pedro Quedas.

Com estas minhas experiências exteriores deu para fazer algo, em ponto pequeno é certo,
que se aconselha vivamente em jornalismo, uma agenda de contactos. Bem sei que três
meses não chegam para nada, mas acho que os contactos que fiz podem ser muito úteis
futuramente.

I Fórum Educação

O dia 9 de Julho foi de grande azáfama para o suplemento porque nesse dia realizou-se o I
Fórum Educação do Económico. Durante essa manhã foram destacados três jornalistas (eu,
Pedro Quedas e Ana Petronilho) para a conferência moderada pela nossa editora, Madalena
Queirós.

O Fórum esteve dividido em dois painéis, o primeiro dedicado ao ensino básico e secundário,
o segundo ao ensino superior. Ana Petronilho ficou com o primeiro painel de oradores,
Pedro Quedas com o painel do ensino superior e a minha função foi acompanhar os dois
painéis, fazendo um balanço para site.

O ‘regresso’ ao Economico.pt, dando conta do que mais importante foi referido, esteve à
minha responsabilidade, depois de inviabilizadas as tentativas de uso da ferramenta Twitter.
Propus o uso do Twitter para uma melhor aproximação aos leitores, consciente da
importância do assunto que iria ser debatido. Ainda para mais com a presença da Ministra
da Educação no encerramento do primeiro painel de convidados.

Apesar da boa receptividade e entusiasmo – mesmo desconhecendo por completo a


ferramenta – por parte da minha editora, o mesmo não aconteceu com a direcção do jornal.
A justificação foi que, com a difusão das notícias do site no twitter do jornal, iria haver
duplicação de conteúdo noticioso.

40
No fim da conferência, quando todos voltamos ao jornal com o subdirector Francisco
Ferreira da Silva, tive a oportunidade de lhe explicar as razões pelas quais achava que a
conferência deveria ter sido seguida pelo Twitter.

Durante a conferência foram várias as vezes em que tive vontade de transmitir via twitter
(conta pessoal) o que se passava. Mas logo me vinham à cabeça as possíveis repercussões de
tal acto.

Chegados ao jornal havia que pôr tudo no papel até às 19h, a hora de fecho. No decorrer da
conferência fui registando muitas citações que poderiam ser úteis para os artigos que iriam
ser elaborados. Mas não houve muita necessidade de recorrer a essas citações visto que a
organização da conferência (DE Conferências) disponibilizou-nos o áudio de ambos os
painéis, permitindo-nos ganhar o tempo e sermos mais fiáveis no que realmente foi dito.

Das três páginas de texto reservadas à conferência, tive direito a um artigo, sobre a extensão
da escolaridade obrigatória até ao 12º ano, e várias caixas de citações do painel de oradores.

Mas a decisão das três páginas de texto não foi pacífica. Houve várias idas da paginação 14 à
direcção o que nos tirou algum tempo porque não sabíamos ao certo com o que iríamos
contar. Todos os minutos eram preciosos porque alguns de nós não estávamos habituados a
trabalhar ao ritmo do jornal diário.

Acabámos por fechar o jornal apenas às 20h, no final o resultado foi positivo.

A conferência do MIT Portugal, no dia 7 de Julho, também foi acompanhada por nós. Foi
dada mais importância à preparação do que a própria conferência. Eu e o meu colega Pedro
Quedas fomos fazer a cobertura dos dois painéis. O resultando foi um artigo na edição
seguinte do suplemento (14 de Julho), em jeito de balanço de toda a conferência.

A supervisão dos meus artigos no Universidades foi diferente do que se passou no


Económico.pt. Os artigos foram todos aceites apenas com pequenas correcções de ordem
gramatical. Quando a minha editora achava que deveria alterar a informação ao nível
hierárquico debatia sempre comigo de forma saudável, o que levava a que chegássemos
sempre a acordo.

14
Não me refiro aqui aos paginadores, embora certamente que estariam reunidos com a direcção do jornal,
mas sim ao layout do jornal.

41
Prefiro um artigo pouco criativo mas que tenha informação fidedigna, do que um bastante
criativo que apela em demasia a coisas que não correspondem totalmente à verdade.

Curiosamente, ou não, os meus erros nesta secção não foram tão frequentes. Atrevo-me a
dizer que apenas tive um ou dois. O primeiro aconteceu na única vez em que escrevi a
rubrica Leituras, em que não apaguei devidamente a informação do autor do livro anterior.

O outro erro foi uma espécie de praxe. Aquando da ida de Manuela Ferreira Leite ao
Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) eu fui destacado. Tinha uma missão clara de
fazer perguntas sobre o ensino superior à líder do Partido Social Democrata. No final da
visita, quando falou aos jornalistas, eu não fiz o que se pede a jornalista, que se impusesse.
Quando estava para perguntar alguma coisa tinha terminado a sessão de perguntas.

Valeram-me as gravações da conversa dela com os dirigentes do ISEG ao longo da visita.


Foram uma ajuda preciosa para a única rubrica que fiz da “Foto denúncia”.

42
Conclusão

Chega ao fim uma experiência de 3+3 meses, cheia de vivências boas e más, mas acima de
tudo enriquecedoras.

A conclusão mais evidente a tirar destes dois estágios é necessidade de acelerar o meu
desempenho. Tanto na ESEC TV como no Económico.pt achei que o meu ritmo mais lento
foi-me prejudicial. Já no Universidades, não me pareceu que tal tivesse acontecido.

Em algumas ocasiões posso ter levado as pessoas a pensar que teria pouco interesse nas
tarefas que realizava.

O site foi a experiência menos boa, mas não o suficiente para a descartar no futuro. Mais
facilmente trabalharia na versão impressa de um jornal do que na parte online. A minha
escrita rebuscada e, admito, por vezes confusa foram razões para a minha incompatibilidade
com o online. Mas há sempre a possibilidade de melhorar.

O trabalho em televisão não é tão fácil como certamente a maioria das pessoas julga. Fazer
um programa semanal de 30 minutos exige muita dedicação e trabalho. Ainda para mais
como uma equipa pequena, como é a da ESEC TV.

Faltou-me muitas vezes a concentração nos trabalhos de vídeo e percebi que tinha
demasiada impulsividade, levando a que as coisas saíssem da forma menos correcta.
Algumas vezes agi com prontidão imediata sem pensar nas consequências, na ânsia de
querer mostrar trabalho, de que era a pessoa indicada.

Em todos os trabalhos, fossem de vídeo ou de texto, tentei escolher não o lado totalmente
certo, mas o que achava que estava correcto. Não tenhamos ilusões que a comunicação
social não retrata fielmente os acontecimentos, há sempre um ângulo que falta abordar.

Dois locais diferentes entre si, duas formas únicas de comunicar, a sensação do dever
cumprido ficou mas também ficaram coisas por fazer, arestas por limar. Até porque não se
pode esperar fazer tudo num estágio.
Acabo esta conclusão com a certeza de que a ESEC TV é mesmo um bom sitio para estagiar e
que o meu futuro não iria ficar completo se não tivesse aproveitado a oportunidade.

Nem sempre um lugar menos famoso fica atrás de um sítio muito conhecido.

44
Bibliografia

Soares, J.C. (2008). Dicionário de Economia: Plátano Editora.


Jack, K. e Tsatuslin, V.(2002). Dictionary of Video and Television Technology: Elsevier Science
Campbell, D.(2002). Technical Film and TV for Nontechnical People: Allworth Press

Canavilhas, J.(2008). Cinco Ws e um H para o jornalismo na Web. Revista de Ciências da


Informação e da Comunicação do CETAC. Acedido a 31 de Agosto
Mielniczuk, L. (2003). Sistematizando alguns conhecimentos sobre jornalismo na Web. GT
Estudos de Jornalismo. http://www.ufrgs.br/gtjornalismocompos/estudos2003.htm.
Acedido a 31 de Agosto.

45
ANEXOS
Trabalhos Económico.pt

Algumas notícias do site:

Filme Anjos e Demónios;

Evolução do PSI20 (bolsa) ;

Starbucks;

Gripe A;

Quotas da EDP no mercado liberalizado;

Fim da publicidade na TVE;

Cavaco Silva – conselheiros;

Bandeirante/EDP

ERC sobre Playboy

Weber fala em Munique

Wall Street

Apresentação de resultados do BCP

Fecho de Wall Street


Trabalhos Universidades

Alguns trabalhos do suplemento:

48
49
50
51
52

Você também pode gostar