1 O Captião Fracasso | Capítulo 12

WEBTV Destino apresenta

O Capitão Fracasso

Novela de
Evana Ribeiro

Livremente baseada em
Le Capitaine Fracasse, The Fortunes and Misfortunes of the Famous Moll Flanders
e Arlequim, il servitore di due patroni

Capítulo 12
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CENA 01. CASA DE PANTALEÃO. SALA. INT. DIA

CONTINUAÇÃO DA CENA FINAL DO CAPÍTULO ANTERIOR. PANTALEÃO,

FURIOSO.

PANTALEÃO - O que significa isso? O que aconteceu

com a sua cara, Clarice?

ESMERALDA VAI SAINDO DE FININHO.

PANTALEÃO - Volta aqui, dona Esmeralda!

ESMERALDA - [voltando] Ah, não...
PANTALEÃO - Pode ir começando a explicar que
palhaçada é essa no rosto da minha filha.
ESMERALDA - É... Explicar? Tá bom, eu explico. O que
acontece é que... É... [suspira] Tá bom,
eu não sei explicar.

BEATRIZ LEVANTA E COMEÇA A RIR.

CLARICE - Onde está a graça?

BEATRIZ - Em você, querida!

BEATRIZ TOCA O ROSTO DE CLARICE, TIRANDO AS VERRUGAS FALSAS E

PARTE DO PÓ.

BEATRIZ - Foi uma brincadeira muito espirituosa de

sua parte, Clarice. Mas sabe que nem
coberta por todo esse pó e tinta você
consegue ficar feia?
CLARICE - Não?
BEATRIZ - Claro que não.
PANTALEÃO - Ele está sendo gentil e eu vou tirar
esse monte de coisa do seu rosto com uns
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tabefes, dona Clarice!
CLARICE - Não, me bater não!

CLARICE SE ESCONDE ATRÁS DE BEATRIZ.

BEATRIZ - Não faça isso com a menina, vá!

PANTALEÃO - Mas isso foi um desrespeito, aparecer
feia assim na frente do noivo que não a vê
há anos!
CLARICE - Eu vou lavar o rosto.
PANTALEÃO - Isso, vá mesmo. E volte logo.

CLARICE SAI, COM ESMERALDA.

PANTALEÃO - Onde já se viu, se apresentar desse

jeito...
BEATRIZ - Releve, Pantaleão, foi só uma
brincadeira inocente. Juro que não me
importei nem um pouco.
PANTALEÃO - Mesmo?
BEATRIZ - Palavra. Enquanto elas não voltam, vamos
falar de outra coisa. Como vão os negócios
na fábrica?
PANTALEÃO - Estamos crescendo bastante. Estou
pensando em construir um anexo atrás da
fábrica original e trazer a loja para o
centro da cidade.

ELES CONTINUAM CONVERSANDO, FORA DE ÁUDIO.

CORTA PARA
4 O Captião Fracasso | Capítulo 12
CENA 02. CASA DO DR. LOMBARDI. SALA. INT. DIA

ARTHUR E ISABELLE ESTÃO SENTADOS EM UM SOFÁ; E SÍLVIO NA POLTRONA

A FRENTE DELES.

SÍLVIO - Vocês têm certeza que só o meu pai pode

ajudar?
ISABELLE - O senhor é médico?
SÍLVIO - Sou advogado, mas tenho umas noções.
Afinal de contas, sou filho do meu pai.
ARTHUR - Acho melhor esperar mais um pouco. Não é
desconfiando não, mas é melhor esperar um
profissional.
SÍLVIO - À vontade...

OS TRÊS CONTINUAM ESPERANDO, EM SILÊNCIO.

CORTA PARA

CENA 03. CASA DE PANTALEÃO. QUARTO DE CLARICE. INT. DIA

CLARICE ENXUGA O ROSTO E DÁ A TOALHA PARA ESMERALDA.

CLARICE - Droga, ele achou graça! Não era pra

achar graça!
ESMERALDA - Mas pense pelo lado bom. Ele tem cara de
ser bonzinho, conversando talvez vocês
cheguem a um acordo e rompam o noivado.
CLARICE - É, talvez. Vamos ver. Mas se não der
certo, vou ser obrigada a tomar decisões
drásticas.

CLARICE SAI, E ESMERALDA ATRÁS DELA.

5 O Captião Fracasso | Capítulo 12

[1º intervalo comercial]

CENA 04. CASA DO DR. LOMBARDI. SALA. INT. DIA

MINUTOS DEPOIS, SÍLVIO, ARTHUR E ISABELLE AINDA ESTÃO NOS MESMOS

LUGARES, CALADOS E IMPACIENTES.

ARTHUR - É, ele está demorando.

SÍLVIO - Eu ainda posso ir com vocês.
ISABELLE - Tudo bem, vamos aceitar a oferta. Não é
nada grave mesmo...

OS TRÊS LEVANTAM AO MESMO TEMPO E SAEM DA CASA.

CORTA PARA

CENA 05. TURIM. EXT. DIA

TAKES EM PLANO ABERTO DE VÁRIOS PONTOS DA CIDADE. SONOPLASTIA:

Medo de amar.

CORTA PARA

CENA 06. IGREJA. INT. DIA

O SANTUÁRIO É UMA CONSTRUÇÃO DE GRANDE PORTE, E ESTÁ PRATICAMENTE

VAZIA, À EXCEÇÃO DA PRESENÇA DO PADRE E DE FERNANDO E DANIELA,
AJOELHADOS DIANTE DO ALTAR. O CASAL USA TRAJES COMUNS E TROCA
OLHARES RÁPIDOS, SEM MUITA EMOÇÃO.

PADRE - É de livre e espontânea vontade que o

fazeis?
DANIELA - Sim.
FERNANDO - Sim.
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PADRE - Portanto, se há alguém aqui que tem algo
contra a união deste homem e desta
mulher...
FERNANDO - Eu tenho!

O PADRE O OLHA, COM ESPANTO.

PADRE - Mas o senhor é o noivo!

FERNANDO - E não tem ninguém aqui que possa
declarar contra nosso casamento.
PADRE - Desculpe, foi a força do hábito. [T]
Como não há nenhum impedimento, eu vos
declaro marido e mulher. Pode beijar a
noiva.

FERNANDO BEIJA DANIELA NA TESTA.

CORTA PARA

CENA 07. RUA. EXT. DIA

DANIELA E FERNANDO SAEM DA IGREJA, DE MÃOS DADAS.

FERNANDO - Onde vamos agora?

DANIELA - Pegar minhas coisas no hotel.
FERNANDO - Como se sente agora que é uma mulher
casada?
DANIELA - Igual. Você é meu quarto marido,
casamentos não me emocionam como antes.
Mas ao mesmo tempo, eu sinto que nossa
união vai durar um pouco mais.
FERNANDO - Porque não teve festa ou algum outro
motivo?
DANIELA - Acho que é porque não nos amamos. Casar
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por amor gasta muito dinheiro.
FERNANDO - Isso por causa de vocês, mulheres! Se
bem que Beatriz era diferente. Nosso
casamento ia ser assim mesmo, só com a
bênção de Deus e mais ninguém.
DANIELA - Mal nos casamos e já está falando da
outra?
FERNANDO - Como disse o padre, é a força do hábito.
Estranha é você, que nem fala dos ex-
maridos.
DANIELA - O primeiro era filho de uns patrões que
tive em Norfolk. Tivemos dois filhos, mas
ele morreu muito cedo. Do segundo não tem
o que falar... Era meu irmão.
FERNANDO - Como é?
DANIELA - Eu não sabia, então casei e tive dois
filhos com ele. Saudáveis, graças a Deus.
Depois que descobrimos o parentesco, nos
separamos e deixei os bebês com ele. Aí
veio o terceiro...

DANIELA SORRI.

FERNANDO - Quem era esse?

DANIELA - [sorrindo] Arthur! Ficamos loucos um
pelo outro logo na primeira olhada.
FERNANDO - E por que separaram?
DANIELA - Porque eu sou uma idiota e só descobri
isso quando cheguei a Turim.

ELES ENTRAM NO HOTEL. SONOPLASTIA: Medo de amar.

CORTA PARA
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CENA 08. MILLSHIRE. EXT. DIA

TAKES DA CIDADE. SONOPLASTIA: música continua.

CORTA PARA

CENA 09. CASA DE PANTALEÃO. SALA. INT. DIA

BEATRIZ E PANTALEÃO CONTINUAM CONVERSANDO. CLARICE ENTRA,

RESIGNADA E BEATRIZ SORRI AO VÊ-LA.

CLARICE - Pronto.
BEATRIZ - Agora sim, está uma bonequinha.
PANTALEÃO - Peça desculpas ao seu noivo, Clarice.
BEATRIZ - Ela não tem que pedir desculpas de nada.
PANTALEÃO – Eu ainda acho que precisa, mas já que
você diz que não... Vamos lá, filha, sente
aí com seu noivo e conversem! Têm muito a
dizer um ao outro, não têm?

CLARICE SENTA AO LADO DE BEATRIZ, GUARDANDO CERTA DISTÂNCIA. ELAS

FICAM EM SILÊNCIO.

PANTALEÃO - Não vão falar nada?

CLARICE - [sem olhar para o lado] Como foi de
viagem, Guilherme?
BEATRIZ - Bem, apesar de todo o cansaço.
CLARICE - E por que não dormiu?
BEATRIZ - Descansei um pouco, mas queria vê-la
logo. Estava muito curioso para ver como
você estava.
CLARICE - Devia descansar primeiro.
PANTALEÃO - Menina!
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CLARICE - Só estou preocupada com o bem estar do
meu primo.

TODOS VOLTAM A SE CALAR.

PANTALEÃO - E agora, por que pararam?

CLARICE - Pai, acho que seria melhor se Guilherme
e eu ficássemos um pouco sozinhos.
PANTALEÃO - E o que vão fazer?
CLARICE - Conversar, ora essa.
PANTALEÃO - Está certo, vou deixá-los a sós. Mas
lembrem-se que intimidades, só semana que
vem!

PANTALEÃO SAI.

CLARICE - O que ele quis dizer com isso?

BEATRIZ - Quer que nos casemos semana que vem.
CLARICE - Não!
BEATRIZ - Calma, eu também não quero casar semana
que vem.
CLARICE - [sorrindo] Vejo que já temos algo em
comum. [T] Veja, Guilherme, eu queria
muito te dizer uma coisa, mas não queria
fazê-lo na frente de papai.
BEATRIZ - Diga.
CLARICE - Eu não quero casar nem semana que vem,
nem dia nenhum. Pelo menos não com você.
BEATRIZ - [com voz normal] Eu sabia!
CLARICE - Como? [T] Você ficou com a voz
estranha... Feminina.

EM BEATRIZ, NERVOSÍSSIMA,
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[2º intervalo comercial]

CENA 10. SOLAR. SALA. EXT. DIA

MATAMOUROS ESTÁ SÓ COM ALICE, SENTADOS EM UM SOFÁ. ARTHUR,

ISABELLE E SÍLVIO ENTRAM. MATAMOUROS OLHA PARA ELES, CHATEADO.

MATAMOUROS - Eu disse para não chamarem médico.

SÍLVIO - Pode ficar tranquilo, não sei aplicar
nem injeção!
ISABELLE - Este é Sílvio Lombardi, filho do médico.
MATAMOUROS - Vocês trazem o filho do médico que não
sabe nada de medicina? Rapaz, nem chegue
perto de mim!
SÍLVIO - Calma, eu só vou ver como é que está
esse ferimento e depois meu pai cuida.
Como foi que o senhor se machucou?

SÍLVIO SE APROXIMA E OLHA O FERIMENTO DE PERTO. A CICATRIZ ESTÁ

VERMELHA, COMO SE INFLAMADA.

MATAMOUROS - Punhalada num assalto.

SÍLVIO - Sabe quem foi o assaltante?
MATAMOUROS - Não.
SÍLVIO - Se soubesse, eu dava um jeito de colocar
o meliante na cadeia. Já disse que sou
advogado?
ALICE - Bela carreira, mas o caso aqui é o braço
do meu marido...
SÍLVIO - O que fizeram depois? Desinfetaram a
ferida?
ALICE - Pegamos um lenço e estancamos o
sangramento.
11 O Captião Fracasso | Capítulo 12
ELES CONTINUAM CONVERSANDO.

CORTA PARA

CENA 11. SOLAR. ESCADA. INT. DIA

SARAH E SIMONE ESTÃO SENTADAS NO ALTO DA ESCADA, ASSISTINDO A CENA

QUE TRANSCORRE NA SALA.

SARAH - Olha só, que gracinha! Esse sim, tem

cara de rico.
SIMONE - Bonitinho, mas Guilherme Rasponi é mais.
SARAH - Lembra mesmo o nome dele, hein?
SIMONE - Escutei Pascoal e Oséias comentando que
ele tinha chegado. Quero ir à cidade só
para vê-lo!
SARAH - Que acha de irmos hoje mesmo? Você tenta
ver o seu príncipe noivo de outra, e eu
descubro quem é o tal que eles trouxeram
para ver Matamouros.

ELAS TROCAM UM OLHAR CONFIDENTE E APERTAM AS MÃOS.

CORTA PARA

CENA 12. CASA DE PANTALEÃO. SALA. INT. DIA

CONTINUAÇÃO DA CENA 09. BEATRIZ FINGE UM BREVE ACESSO DE TOSSE E

VOLTA A FALAR COM VOZ FORÇADA.

BEATRIZ - Eu quis dizer que já imaginava que você

fosse dizer isso.
CLARICE - Pois é. E como não somos dois completos
desconhecidos, imaginei que pudesse falar
12 O Captião Fracasso | Capítulo 12
francamente com você.
BEATRIZ - E eu fico feliz por você pensar assim.
CLARICE - Então quer dizer que podemos desfazer o
compromisso sem problemas?
BEATRIZ - Não. Do casamento eu não abro mão.
CLARICE - Mas eu pensei que/
BEATRIZ - Clarice, entenda. Eu assumi um
compromisso e não vou me desfazer dele.
CLARICE - Mesmo sabendo que eu amo outro homem?
BEATRIZ - Mesmo assim. [T] Quem é ele?
CLARICE - Por que você quer saber?
BEATRIZ - Porque/

CLARICE LEVANTA, IRRITADA.

CLARICE - Para você matar? É assim que funciona,

não é? [T] Eu sabia que não dava para
conversar com você.

ELA SAI.

BEATRIZ - [olhando para cima] Olha aí, Guilherme!

Eu avisei que isso ia acontecer, mas você
não quis ouvir!
PANTALEÃO - [entrando] Avisou o que?
BEATRIZ - [assustada] Nada, eu só estava falando
comigo mesmo.
PANTALEÃO - E como foi a conversa?
BEATRIZ - Não muito bem, mas isso é normal. Ela
ainda está emocionada com minha presença.
PANTALEÃO - Não chegaram a um consenso de data pro
casamento?
BEATRIZ - Vamos deixar isso para depois, mais
urgentes são as contas.
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PANTALEÃO - Que contas?

BEATRIZ OLHA FEIO PARA PANTALEÃO.

PANTALEÃO - Ah, lembrei, as contas... Vou falar com

nosso contador e ele mostrará tudo.
BEATRIZ - Ótimo; amanhã conversamos sobre isso.
Agora preciso descansar.

ELES SE DESPEDEM COM UM APERTO DE MÃO E BEATRIZ SAI.

CORTA PARA

CENA 13. MILLSHIRE. EXT. TARDE

TAKES DAS IMEDIAÇÕES DO HOTEL E DA RUA ONDE MORAM PANTALEÃO E DR.

LOMBARDI. SONOPLASTIA: Juras.

CORTA PARA

CENA 14. ALBERGUE. RESTAURANTE. INT. TARDE

OSÉIAS E PASCOAL DIVIDEM UMA MESA. ACABARAM DE ALMOÇAR E ESTÃO

TOMANDO CAFÉ ENQUANTO CONVERSAM.

PASCOAL - Eu conheci Esmeralda quando ela era bem

pequenininha. Só vi uma vez e ela já era
metida.
OSÉIAS - Que ela sempre foi metida eu sei...
PASCOAL - Por que você não arruma outra namorada?
Se ela gostar mesmo de você, a metidez vai
toda por água abaixo.
OSÉIAS - Não sei não... Eu sou péssimo para
fingir as coisas. Imagina fingir que eu
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gosto de outra? Eu sempre e só gostei da
Esmeralda, acredita?
PASCOAL - Se você está dizendo... Olha, se não dá
para fingir, o jeito é você ficar rico e
pronto.
OSÉIAS - Como?
PASCOAL - Aí eu já não sei.
OSÉIAS - Se Arthur tivesse dinheiro...
PASCOAL - Por que você não arruma outro patrão?

BEATRIZ ENTRA CARREGANDO UM EMBRULHO E SORRI AO VER PASCOAL. ESTE

INTERROMPE A CONVERSA COM OSÉIAS, FICA A OBSERVANDO POR UM
INSTANTE, MUITO SÉRIO – PARECE A ESTAR RECONHECENDO. DEPOIS, VAI
ATÉ ELA, SORRIDENTE.

PASCOAL - Seu Guilherme! Vejo que chegou de bom

humor.
BEATRIZ - [séria] Estou muito cansado. Quero que
vá ao correio agora e mande esta
encomenda. Aproveite e veja se há alguma
carta para mim ou para Beatriz.
PASCOAL - Para dona Beatriz também? Mas/
BEATRIZ - [corta, irritada] Não questione e vá
fazer o que eu disse! Agora!
PASCOAL - Sim, senhor. Deixa eu me despedir do meu
amigo e/
BEATRIZ - Agora! Quantas vezes eu tenho que dizer?
PASCOAL - Tchau, Oséias!

E PASCOAL SAI CORRENDO. OSÉIAS SAI ATRÁS DELE E BEATRIZ OCUPA A

MESA ONDE ELES ESTAVAM NO COMEÇO.

CORTA PARA
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CENA 15. RUA. EXT. TARDE

SONOPLASTIA: Alla chitarra.

A RUA É VISTA DE CIMA, COMO SE FOSSE DA VARANDA DE ALGUMA CASA.
VÊ-SE OSÉIAS PASSANDO E, DO LADO OPOSTO, SIMONE E SARAH. ELAS
OLHAM PARA OS LADOS E PARA CIMA. AO OLHAR PARA CIMA, SARAH DÁ UM
SORRISO LASCIVO.

DR. LOMBARDI - [V.O] Acho que ela sorriu para você,

filho.

CORTA PARA MOSTRAR DR. LOMBARDI E SÍLVIO, QUE SÃO OS OBSERVADORES.

DR. LOMBARDI - Linda, não é?

SÍLVIO - Belíssima.
DR. LOMBARDI - E tem porte de fidalga! Já que não tem
Clarice, essa seria uma boa esposa para um
homem das leis, não?
SÍLVIO - Não. Primeiro porque essa moça é uma das
comediantes; segundo que se não tem
Clarice, o homem das leis aqui prefere
viver na esbórnia.
DR. LOMBARDI - Aliás, Guilherme Rasponi já chegou.
SÍLVIO - É, eu soube. E estou me contendo aqui
para não ir até ele e fazer uma besteira.
DR. LOMBARDI - Está apaixonado mesmo, hein? Nunca vi
você querer matar por uma mulher!
SÍLVIO - Só não fiz nada ainda justamente por
amor a Clarice, afinal, o sujeito também é
primo dela. [T] Mas por que ele não morreu
no caminho, hein?

[3º intervalo comercial]

16 O Captião Fracasso | Capítulo 12
CENA 16. ALBERGUE. RESTAURANTE. INT. TARDE

HORÁCIO E BEATRIZ TOMAM CAFÉ JUNTOS. CONVERSA INICIADA.

BEATRIZ - Quando Clarice disse que amava outro, me

deu uma vontade de chorar! Lembrei de uma
conversa parecida que tive com Guilherme,
pouco antes de ele morrer.
HORÁCIO - Se há um outro homem, é mais um motivo
para você acabar com essa farsa e libertar
a pobrezinha.
BEATRIZ - É o que eu mais quero, mas antes preciso
do dinheiro de Guilherme para ir encontrar
Fernando em Turim.
HORÁCIO - Veja, não havia outro modo mais simples
de obter esse dinheiro? Por
correspondência, talvez?
BEATRIZ - Não sei, eu não sei nem que acerto eles
fizeram!

A CONVERSA CONTINUA, FORA DE ÁUDIO. SONOPLASTIA: Ascendente em

câncer.

CORTA PARA

CENA 17. MILLSHIRE. EXT. TARDE/NOITE

TAKES DE VÁRIOS PONTOS DA CIDADE, DESTACANDO O PÔR-DO-SOL, O

MOVIMENTO NOTURNO E O AMANHECER. SONOPLASTIA: música continua.

CORTA PARA
17 O Captião Fracasso | Capítulo 12
CENA 18. SOLAR. SALA. INT. DIA

OS COMEDIANTES JÁ ESTÃO REUNIDOS, SENTADOS NO CHÃO EM VOLTA DE

MATAMOUROS, QUE É O ÚNICO SENTADO EM UMA CADEIRA.
CORTA PARA A ENTRADA DE ARTHUR, QUE VAI ATÉ ELES, MAS PERMANECE EM
PÉ.

ARTHUR - Bom dia, pessoal.

MATAMOUROS - Bom dia, filho.
ISABELLE - Bom dia, amor.

ARTHUR SE ABAIXA E DÁ UM RÁPIDO BEIJO EM ISABELLE.

SARAH - [baixinho, para Leonardo] Filho, amor...

É muita confiança!
LEONARDO - [baixinho, para Sarah] Deixa eles. Uma
hora isso acaba.
ARTHUR - Vocês viram Oséias por aí?
ALICE - Não apareceu ainda. Acho que ele saiu
muito cedo.
ARTHUR - Puxa, ele nem avisou que ia sair! Logo
agora que preciso de um favor...
MATAMOUROS - Senta aí, Arthur, quero que você ouça
também.
LEONARDO - Mas ele nem é da companhia!
MATAMOUROS - Se eu disse para ele sentar, ele senta e
vocês todos ficam calados.

ARTHUR SENTA ENTRE ISABELLE E SIMONE. LEONARDO O FUZILA COM O

OLHAR.

CORTA PARA

CENA 19. SOLAR BRONKHART. EXT. DIA

18 O Captião Fracasso | Capítulo 12

TAKE EM PLANO ABERTO DA ÁREA DO SOLAR. VÊ-SE UMA PESSOA CRUZANDO A

CERCA E SE APROXIMANDO DA PORTA DE ENTRADA DA CASA. SONOPLASTIA:
Casa forte.

CORTA PARA

CENA 20. SOLAR BRONKHART. ENTRADA. EXT. DIA

OSÉIAS CHEGA À PORTA E BATE TRÊS VEZES. NINGUÉM APARECE. BATE MAIS
TRÊS VEZES, COM MAIS FORÇA. UM CRIADO ABRE.

CRIADO - Pois não?

OSÉIAS - Eu gostaria de falar com o senhor
Bronkhart, ele está?
CRIADO - Entre, por favor; eu vou chamar.

OSÉIAS ENTRA.

CENA 21. SOLAR BRONKHART. SALA. INT. DIA

OSÉIAS SEGUE O CRIADO SALA ADENTRO. ELE OLHA EM VOLTA, PARECE

ADMIRADO COM A GRANDIOSIDADE E IMPONÊNCIA DO CÔMODO.

CRIADO - Sente-se, vou chamar o patrão.

O CRIADO SAI, E OSÉIAS CONTINUA EM PÉ, ANDANDO EM CÍRCULOS,

ADMIRANDO CADA DETALHE DA SALA. TOCA UM QUADRO, COM UM POUCO DE
MEDO. LEVI ENTRA SEM QUE O RAPAZ VEJA.

LEVI - Diga!

OSÉIAS SE VIRA, ASSUSTADO.

OSÉIAS - Bom dia, senhor...
19 O Captião Fracasso | Capítulo 12
LEVI - [rindo] O que foi, ficou com medo?
OSÉIAS - Não, medo não. É que eu estava
distraído.
LEVI - E o que quer? Seu patrão reconsiderou a
ideia de vender aquele mausoléu?
OSÉIAS - Não. Eu quero trabalhar para o senhor.

LEVI ENCARA OSÉIAS, MEIO SURPRESO.

CORTA PARA

CENA 22. SOLAR. SALA. INT. DIA

CONTINUAÇÃO DA CENA 18.

MATAMOUROS - Bem, eu quis vocês todos aqui pra dizer

que três coisas. [T] A primeira é que
ainda não estou em condições de retomar os
ensaios.
ALICE - Claro, meu querido! Não vai melhorar
nunca se não se tratar direito.
MATAMOUROS - Vou ficar em repouso mais uns dias, mas
isso não quer dizer que o monólogo não vai
sair. Ele vai, e com um ator jovem, um
belo ator, da minha mais alta confiança.

LEONARDO SORRI, MUITO ORGULHOSO.

MATAMOUROS - Esse ator é você, Arthur.

ARTHUR - O quê?
LEONARDO - [indignado] O quê?

REAÇÕES DE SURPRESA DE TODOS OS QUE ESTÃO EM VOLTA.

[Fim do capitulo]