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21 dias de Jejum pela

Edificação da Casa de
Deus
Primeiro Dia
O propósito eterno compartilhado
Nós somos uma igreja em células, mas não por causa de algum modismo, por um capricho pessoal, nem
mesmo por ser uma estratégia mais eficiente para levar a igreja a crescer. Somos uma igreja em células
por um motivo mais profundo: acreditamos que as células são o meio de a Igreja expressar o Senhor na
terra.
A visão de células é bíblica e procede do Senhor. Se a praticarmos da forma apropriada, creio que
poderemos ver os resultados. O fato, porém, é que mesmo trabalhando com células, muitas igrejas não
avançam. Normalmente, crescem até certo ponto nos primeiros anos, mas depois param ou começam a
declinar. Isso acontece basicamente porque, depois de algum tempo, as células se tornam apenas uma
atividade religiosa, mais um dos muitos tipos de grupos pequenos. Se uma célula não estiver sendo
edificada de acordo com a vontade de Deus, ela brevemente passará. Porém, se a edificarmos segundo a
vontade do Senhor, nós permaneceremos para sempre e nossas células nunca serão abaladas, mas
crescerão e se multiplicarão.
Ora, o mundo passa, bem como a sua concupiscência; aquele, porém, que faz a vontade de Deus
permanece eternamente. (1Jo 2.17)
A Palavra do Senhor diz que aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre, e a obra que é
feita segundo a vontade dEle também permanece. Portanto, tudo o que precisamos fazer é edificar a
célula de acordo com a vontade do Senhor, ou seja, fazer a obra de acordo com o propósito eterno de
Deus.
Por isso, quero convidá-lo a desvendar o coração do Senhor para, então, fazermos Sua obra de acordo
com Sua eterna vontade.

Tudo começa na eternidade com Deus


Muitos presumem que, pelo fato de se reunirem num pequeno grupo, já estão cumprindo a vontade de
Deus. Mas, isso não é tudo. Também precisamos edificar algo que seja segundo o propósito e a vontade
de Deus.
Existe algo que chamamos de propósito eterno de Deus, que é a mais alta prioridade do Senhor, e
precisamos checar se nossas células possuem o entendimento desse propósito. Ele é chamado de
propósito eterno porque já existia antes da criação, deve ser vivido por nós hoje, e continuará a ser vivido
pela eternidade futura. Todos os outros propósitos devem estar alinhados a ele, porém, muitas igrejas o
ignoram.
Para nós, servos de Deus desejosos de agradá-lo, nada é mais importante do que conhecer o que vai em
Seu coração. Como filhos gerados segundo Sua espécie, nada nos agrada mais do que conhecer o
propósito do Pai e cooperar com Ele para realizá-lo. Tudo o que fazemos para o Senhor precisa estar de
acordo com esse propósito eterno, pois Ele não está interessado em nossas muitas atividades, mas no
cumprimento do Seu propósito. Por isso, o que mais precisamos saber é qual é o propósito de Deus.
Sendo Deus eterno, sem começo de dias ou fim, precisamos admitir que Seu propósito é igualmente
eterno. Isso significa que o plano de Deus não é elaborado ao sabor das circunstâncias, e Ele não pode ser
surpreendido por coisa alguma. Deus é soberano e planejou realizar algo desde a eternidade.
Houve um tempo em que não havia absolutamente nada, apenas Deus. Não havia anjos nem homem, nem
planetas ou galáxias, apenas o Senhor enchia todo o universo. E, nesse tempo, Deus quis realizar algo.
Vemos, então, que o propósito de Deus existia antes da criação, continua existindo hoje e se cumprirá por
toda a eternidade. Precisamos, portanto, compreender o propósito de Deus a partir da eternidade.
Todas as vezes que o apóstolo Paulo menciona o propósito de Deus, ele toma como ponto de partida a
eternidade (1Co 2.7; 2Tm 1.9; Ef 1.4). É comum, porém, as pessoas interpretarem o propósito de Deus a
partir da queda do homem. Deste modo, tomando a queda como ponto de partida, é natural que todo o
trabalho espiritual seja feito em função de resgatar o homem da condenação. Evidentemente, não quero
diminuir o valor e a importância da redenção, mas não podemos presumir que o propósito eterno de Deus
seja salvar o homem. O homem não foi criado com o propósito de ser salvo. A salvação não é o alvo
final, apenas uma correção de rota.
Suponhamos que você decida sair com seu filho para passear no shopping. Enquanto você se apronta, ele
vai brincar no jardim e cai numa poça de lama. Seu propósito é ir ao shopping, mas agora, em função de
um problema, ele fica adiado e você precisa levar seu filho ao banheiro para lhe dar um banho. Enquanto
está ali, seu filho fica tão entretido com o banho que se esquece completamente do passeio no shopping.
O fato, porém, é que o banho não é o propósito, apenas uma correção de rumo para que seja possível
chegar ao shopping. Contudo, hoje em dia, a maior parte das igrejas acredita que tudo se resume a tomar
um bom banho – falam da salvação, mas ignoram completamente o propósito original de Deus.
Penso que a ilustração é bem clara, e nos leva a perceber que o propósito eterno de Deus não foi alterado.
Porém, para que ele se cumpra, o homem, hoje, precisa ser resgatado do pecado. Portanto, a redenção não
é o alvo final de Deus para o homem.
Mas há outros que, percebendo esse equívoco, interpretam o propósito de Deus a partir da comissão dada
por Deus a Adão: “Sede fecundos, enchei a terra e dominai-a” (Gn 1.28). Partindo deste ponto,
enxergamos tudo sob um ponto de vista de governo e de reino. Evidentemente, o entendimento do reino é
muito importante, mas não é o propósito eterno, pois o Senhor já reinava antes que existisse qualquer
coisa. Só houve a necessidade de o homem dominar no Éden porque Satanás caiu e foi lançado à terra,
que assim se tornou um lugar de rebelião.
Quando o apóstolo Paulo fala do propósito de Deus, ele sempre parte lá de trás, do coração do Pai Eterno,
antes da fundação do mundo. Paulo sempre começa com o coração de Deus e Seu desejo eterno. Mas,
qual seria o desejo do Pai? Qual a Sua intenção e Seu eterno propósito? Os planos e propósitos de Deus
não são determinados pelas necessidades do homem, mas já existiam desde a eternidade. Portanto,
compreender o propósito de Deus é absolutamente vital para nós como seus obreiros e cooperadores.

Como podemos descobrir o propósito eterno?


Alguns imaginam que missões e evangelismo são o propósito eterno, mas isso não é verdade.
Evangelismo e missões são realmente importantes, mas não são eternos; eles vieram por causa do pecado.
O propósito eterno, porém, já existia antes do homem cair e continuará existindo depois que o Senhor
voltar. Ele já existia mesmo antes de toda a criação e continuará pela eternidade futura.
Para compreendermos o propósito eterno, basta sabermos que ele já existia antes da criação. Houve um
tempo em que havia somente Deus – nem anjos, nem homem, nem a criação. E o que Ele estava fazendo?
Ele estava praticando a vida em comunidade na trindade, o que chamamos de habitação mútua.
Sendo o nosso Deus um, Ele ainda assim subsiste na forma de três, por isso dizemos que ele é triuno.
Esse é um neologismo mais apropriado para se referir a Deus do que a palavra trindade. Trindade traz a
idéia de três divindades, o que é errado, pois há um só Deus que subsiste na forma de três pessoas, por
isso ele é triuno.
Na eternidade, as pessoas de Deus dependiam umas das outras, tinham comunhão entre si e desfrutavam
umas das outras. A isso se chama vida eterna – esta não é apenas uma vida que não tem fim, mas é bem
mais que isso. Vida eterna é um tipo de vida vivida pela divindade. É a vida com a qual o próprio Deus
vive.
Naquele tempo, Deus teve um desejo ou propósito. Ele não queria desfrutar dessa vida sozinho. Assim,
decidiu multiplicá-la e criou o ser humano para compartilhar da vida da divindade.
Deus é plural, Ele subsiste na forma de comunidade. Portanto, sabendo que fomos criados à imagem de
Deus, entendemos que o propósito de Deus é que o homem desfrute do mesmo tipo de vida que Ele.
O propósito que anteriormente estivera oculto em mistério, e foi revelado ao apóstolo Paulo, era este: o
Pai tencionava que seu Filho tivesse um Corpo para expressar ao mundo a Sua vida. Deus queria se
expressar e, para ter Sua expressão, Ele criou o homem à sua imagem e semelhança.

Qual é o propósito eterno de Deus?


Qual é o propósito mais importante da Igreja? Missões e evangelismo? Eles são excelentes, mas não são o
propósito eterno pela simples razão de que não são eternos – surgiram depois do pecado e vão cessar
quando Cristo voltar. O propósito eterno, todavia, já estava lá antes do pecado e até mesmo antes da
fundação do mundo, e permanecerá depois que o Senhor voltar.
Alguns líderes de igrejas afirmam que o propósito da Igreja é transformar a sociedade, por isso, ensinam
muito a respeito do reino. Eles afirmam que o propósito deve ser entrar nas áreas de governo das cidades
e transformar a sociedade. Isso certamente é muito bom, mas não é o propósito eterno de Deus.
E o discipulado? E o estudo da Bíblia? Tudo isso é bom, mas não é o propósito eterno. Transformação
social, missões, evangelismo, discipulado e estudo da Bíblia surgiram depois da queda do homem, mas o
propósito eterno já existia antes de o homem ser criado. Todas essas coisas vão cessar quando o Senhor
voltar, mas o propósito vai permanecer para sempre. Todas essas coisas são boas, mas precisam estar
alinhadas com o propósito eterno, pois, se não estiverem, tornam-se inúteis.
A maneira de descobrirmos o propósito eterno é entendendo que ele foi concebido por Deus desde a
eternidade passada. Existia antes de todas as coisas e, na verdade, tudo veio a existir por causa dele.
Antes da criação Deus já havia planejado algo no conselho de Sua vontade. Naquele tempo, quando havia
somente Deus, o que a trindade estava fazendo? Certamente, essa atividade tem algo a ver com o
propósito eterno. O nosso Deus não é uma pessoa só, antes, é um Deus que subsiste em três pessoas.
Assim, naquele tempo, Deus estava praticando a comunhão divina; Ele estava vivendo numa “célula
celestial”. A divindade estava praticando o que chamamos de habitação mútua – Eles estavam e
permaneciam um no outro. Jesus disse: “Eu estou no Pai e o Pai está em mim (Jo 10.38; 14.11).

A vida eterna é a vida que Deus vive


O Senhor Jesus disse que o Pai o amou antes da fundação do mundo (Jo 17.24), o que significa que esse
amor de uns aos outros já existia desde a eternidade. Eles se amavam, honravam uns aos outros e se
submetiam uns aos outros. Eles tinham comunhão mútua e viviam um estilo de vida voltado uns para os
outros, ao que chamavam vida eterna.
Reafirmo que vida eterna não é o céu, mas, sim, a vida com a qual o próprio Deus vive. Portanto, ter a
vida eterna significa ter a vida de Deus, possuir o mesmo tipo de vida que a divindade possui. Deste
modo, podemos dizer que a vida eterna é representada pelo relacionamento das três pessoas da trindade, o
que também é chamado de Casa de Deus.
Deus amou tanto esse tipo de vida que, desde a eternidade, planejou compartilhar essa vida com o
homem. Ele, então, teve uma visão e um propósito, que é o propósito eterno. Deus não quis desfrutar
dessa vida sozinho, mas decidiu compartilhá-la conosco; Ele resolveu multiplicar e expandir Sua vida.
Foi então que a divindade triuna decidiu criar o ser humano. Foi nesse momento que Deus disse:
Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do
mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que
rastejam pela terra. (Gn 1.26).
Deus disse “façamos”, porque Deus é um só, mas é plural. Deus é um, mas é comunidade. O homem foi
criado à imagem do Deus que é um, mas é plural. Isso significa que fomos criados para viver o estilo de
vida de uns para os outros, a vida de comunidade. Quando somos muitos, mas vivemos na unidade,
entramos no princípio da divindade que é um, mesmo sendo plural. Esse é o propósito eterno.
De acordo com esse propósito, Deus tomou uma decisão muito radical: Ele decidiu habitar em sua
criação. Esse é um conceito extraordinário e misterioso, e muito poderoso. Deus criou o homem para ser
sua expressão e sua morada eterna – nosso Deus tomou a decisão de habitar entre nós e em nós. Ele veio
habitar entre nós porque deseja que sejamos participantes de Sua natureza, recebamos Sua vida e, assim,
possamos viver o mesmo tipo de vida que Ele vive, uma vida voltada uns aos outros, a vida da Igreja. A
verdadeira vida da Igreja precisa ser a vida com a qual o Deus triuno vive.
Deus deseja ser expresso pelo homem, mas só podemos expressá-lo se vivermos esse estilo de vida de uns
para os outros. Sendo Deus um na pluralidade, Ele somente pode ser expresso quando somos muitos e
podemos viver uns pelos outros em unidade, tendo um mesmo tipo de natureza.

Como podemos ser uma Igreja poderosa?


A Igreja de hoje, porém, não possui esse estilo de vida de uns para os outros e, por isso, perdeu o poder.
Em Gênesis 1.26 lemos que Deus criou o homem à sua imagem para que tivesse domínio. Assim, vemos
que há uma relação íntima entre imagem e domínio.
Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele
domínio... (Gn 1.26)
O propósito de Deus para o homem envolve ser a imagem da divindade, ser fecundo e se multiplicar, mas
também envolve dominar e sujeitar sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal
que rasteja pela terra (Gn 1.28).
O Senhor deu ao homem poder e autoridade sobre duas coisas: primeiro sobre a terra – Deus nos dá poder
para transformar, reger e dominar a terra. Além disso, Ele também disse que teríamos domínio sobre aves
e animais que rastejam, mas por que não disse que dominaríamos sobre todos os tipos de animais?
Certamente porque esses animais citados simbolizam a ação dos demônios. Quando o homem foi criado,
Satanás e seus anjos já haviam caído e tinham sido lançados sobre a terra. Portanto, o homem deveria
dominar sobre as obras do inferno. No evangelho de Lucas, vemos o que Jesus disse:
Eis aí vos dei autoridade para pisardes serpentes e escorpiões e sobre todo o poder do inimigo, e nada,
absolutamente, vos causará dano. (Lc 10.19)
É importante notar que o mesmo tipo de animal – animais que rastejam – é mencionado novamente por
Jesus. O Senhor nos deu poder sobre o inimigo, mas para ter esse poder, precisamos viver de acordo com
a imagem de Deus. Onde ela está presente, sempre haverá domínio e autoridade.

Qual é a imagem de Deus?


No Novo Testamento, sempre temos a verdade espiritual aplicada ao indivíduo e ao Corpo. Do ponto de
vista individual, a imagem de Deus é Cristo. Em Hebreus 1.3 lemos que Ele é o resplendor da glória e a
expressão exata de Seu ser. Cristo é a exata expressão de Deus Pai. Em João 14, Jesus deixou essa
verdade bem clara em sua resposta a Filipe, quando este lhe pediu: “Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos
basta. Disse-lhe Jesus: Filipe, há tanto tempo estou convosco, e não me tens conhecido? Quem me vê a
mim vê o Pai; como dizes tu: Mostra-nos o Pai?” (Jo 14.8-9).
Do ponto de vista individual, Cristo é a imagem do Deus triuno e, assim, nós fomos criados
individualmente para sermos como Ele. Na verdade, João diz que nós seremos tal qual Ele é (1Jo 3.2).
Mas a verdade espiritual possui também o lado coletivo ou corporativo. Há um sentido em que um único
membro não pode expressar todo o corpo, pois, sendo Deus triuno, Ele somente pode ser expresso por um
grupo, pela Igreja. Neste aspecto, a imagem de Deus é a imagem da trindade – Deus, sendo um, mas
subsistindo na forma de três. Nosso Deus é um Deus plural que se expressa na unicidade. Portanto, nós
também só expressamos a imagem de Deus quando somos muitos, mas vivemos um estilo de vida voltado
uns para os outros, numa unidade santa. Esta é a imagem de Deus: muitos sendo um.
Deus vive em comunidade e é na comunidade que Deus se expressa e habita. Se vivermos esse estilo de
vida, seremos poderosos. Se nossas células viverem esse tipo de vida de comunidade, impactarão o
mundo, serão poderosas e derrotarão o inimigo. Reinaremos em vida e o reino de Deus virá, pois
estaremos vivendo o mesmo estilo de vida do Rei. Nosso rei existe na forma de comunidade e somente
manifesta Seu poder quando o estilo de vida de unidade na comunidade está presente. O mundo será
impactado por essa vida divina em nós, e o diabo não pode suportá-la.

Mas o homem caiu...


Sabemos que o homem pecou e perdeu a glória de Deus. Paulo diz que a glória de Deus é a Sua imagem,
assim, porque pecamos, fomos destituídos da glória de Deus e, portanto, de Sua imagem (Rm 3.23).
Nos quais o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz
do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus. (2Co 4.4)
E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos
transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito. (2Co 3.18)
O homem pecou, perdeu a imagem de Deus e a consequência é que não tem mais autoridade. Lembre-se:
só há domínio quando temos a imagem. Depois do pecado, não controlamos mais o mundo. Hoje, até a
natureza controla o ser humano, basta olhar os desastres naturais. Somos controlados por terremotos,
tsunamis, inundações, secas, tornados, furacões... Até mesmo os animais nos controlam! Seres como
bactérias, vírus e micro-organismos são os causadores da maioria das doenças. Somos controlados até
mesmo pelas plantas, como acontece com todos os dependentes de maconha e tabaco, ou derivados de
outras plantas como a cocaína, heroína, morfina e as bebidas alcoólicas. A lamentável consequência da
queda é a escravidão.
Mas, graças a Deus, a imagem do Senhor está sendo restaurada em nós individualmente. Paulo diz, em 2
Coríntios 3.18, que estamos sendo transformados de glória em glória na imagem de Cristo. Em alguns,
essa imagem é como uma silhueta embaçada num espelho – vislumbra-se a imagem, mas ainda não se
nota a semelhança. Outros já cresceram e possuem uma imagem mais nítida, mas somente na glória
seremos tal qual Ele é.
Nossa autoridade espiritual, hoje, depende do quanto expressamos essa imagem. Não podemos nos
esquecer de que onde houver imagem de Deus, sempre se manifestará domínio e autoridade.
Por outro lado, do ponto de vista corporativo, o homem também perdeu a imagem, por isso vive no
individualismo e no egoísmo. O Espírito Santo está operando para ter uma Igreja na terra que traga a
imagem do Deus triuno – muitos vivendo em unidade, o plural sendo um. O homem foi criado para
cumprir o propósito de Deus vivendo o estilo de vida de uns para os outros. Creio que só podemos viver
essa realidade quando praticamos a vida da Igreja nas células, pois a célula é a expressão prática da
Igreja. Somente numa célula podemos viver a vida plural em unidade, a vida de ministração uns aos
outros.
Nossa célula é transformada quando entendemos o que fazemos a partir da compreensão do propósito
eterno de Deus. Quando praticamos apenas uma estratégia de grupos pequenos, logo nos cansamos e
paramos, mas quando entendemos que estamos edificando algo que vai perdurar pela eternidade, então
estamos fazendo a vontade de Deus. E aquele que faz a vontade de Deus, permanece para sempre (1Jo
2.17).

Cristo em nós e nós em Cristo


Estou sempre falando da verdade espiritual sob dois prismas: o aspecto individual e o aspecto coletivo.
Isso significa que, individualmente, Cristo está em nós, e, corporativamente, nós estamos em Cristo. Hoje
em dia, nosso foco tem sido colocado unicamente no aspecto individual, o de Cristo em nós.
Esse aspecto é absolutamente fundamental. Jamais exageramos ao ressaltar sua importância. É porque
Cristo está em nós que nascemos de novo, temos comunhão com o Pai e recebemos todas as bênçãos da
redenção. Cristo habitando em nós, portanto, é uma verdade que precisa ser ensinada constantemente.
Mas, essa verdade espiritual possui outro lado: nós também estamos em Cristo. O fato de Cristo estar em
nós é individual, mas nós estarmos em Cristo é algo completamente corporativo. Isso se torna claro
quando entendemos que somos membros do seu Corpo, que foi para isso que Ele nos criou. Estar em
Cristo significa que fomos incluídos nEle e nos tornamos membros do seu Corpo. Hoje em dia, a ênfase é
sempre colocada na verdade de que Cristo está em nós, mas esta é somente a metade da verdade.
O Senhor disse: “Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto” (Jo 15.5). A frutificação
abundante, portanto, depende de praticarmos os dois aspectos. Precisamos permanecer nEle se desejamos
produzir muitos frutos. E o que é, de forma prática, permanecer nele? Podemos dizer que é permanecer
em Sua Palavra e na comunhão do Espírito, mas, certamente, permanecer nEle também é permanecer
ligado ao
Corpo, à Igreja. Nós experimentamos a multiplicação quando vivemos a vida corporativa da Igreja nas
células. Através do Senhor, fomos unidos à trindade. O Senhor Jesus é um com o Pai e com o Espírito, e
nós somos um com Ele, assim, somos uma unidade com a divindade.
O propósito eterno de Deus é que o homem seja a habitação eterna da divindade. E essa habitação
somente pode acontecer de forma corporativa. Mais uma vez, devemos entender a verdade de forma
individual e coletiva. Do ponto de vista individual, somos feitos templo de Deus, pois Cristo, na pessoa
do Espírito Santo, veio habitar em nós.
Não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? (1Co 3.16)
Somos, individualmente, habitação de Deus, mas existe uma verdade maior e mais ampla – a de que só
podemos ser plenamente uma casa para Deus de forma corporativa. Pedro diz que somos,
individualmente, pedras vivas da Casa de Deus.
Também vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa espiritual para serdes sacerdócio
santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo. (1Pe
2.5)
Paulo também afirmou essa mesma verdade quando disse que estamos sendo edificados para habitação
de Deus.
Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular;
no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para santuário dedicado ao Senhor, no qual também vós
juntamente estais sendo edificados para habitação de Deus no Espírito. (Ef 2.20-22)
Cada membro precisa entender a necessidade de permanecer em Cristo de forma prática. Só
permanecemos em Cristo quando somos uma pedra que está inserida no edifício de Deus. Podemos ser
salvos e viver como uma pedra isolada, mas não poderemos produzir muito fruto se não permanecermos
nEle, sendo o corpo e o edifício.
Isso acontece de forma prática na célula, onde cada um pode ser encaixado e edificado. Somos edificados
quando estamos ligados a nossos irmãos, e somos vinculados uns aos outros pela argamassa do Espírito,
no vínculo do amor.

O alvo final é o Corpo, a Igreja


A intenção de Deus é formar um corpo que se tornará a completa expressão de Cristo na terra (Ef 1.22-
23). Isso é chamado de plenitude de Cristo.
E pôs todas as coisas debaixo dos pés, e para ser o cabeça sobre todas as coisas, o deu à igreja, a qual é o
seu corpo, a plenitude daquele que a tudo enche em todas as coisas. (Ef 1.22-23)
A Igreja é a plenitude Cristo! Isso não é sensacional? Com toda a reverência, preciso dizer que, sendo
parte do Corpo de Cristo, nós nos tornamos parte da própria divindade.

Por que o Senhor precisa de um corpo?


Para entendermos por que o Senhor precisa de um corpo, primeiro precisamos saber qual a função do
corpo. O corpo é o complemento da cabeça e também sua expressão. A cabeça sem o corpo está
incompleta, e o corpo sem a cabeça é inútil. Existe aqui uma mutualidade onde o corpo depende da
cabeça, mas a cabeça também depende do corpo. O corpo precisa da vida da cabeça, mas a cabeça precisa
da expressão do corpo. Sem ele, ela não pode se expressar.
A função do corpo é expressar a cabeça e fazer sua vontade. Assim, se a cabeça dá um comando, é o
corpo quem o executa, e não pode resistir a ela. Da mesma forma, a função da Igreja como corpo é
expressar Cristo. A célula é a expressão mais básica da Igreja e sua função é também expressar Cristo,
sendo Seu corpo. Mas, se a cabeça ordena à boca que fale, e a boca se recusa a falar, então, neste caso, a
cabeça não tem como se expressar. Isso nos mostra a seriedade de cada membro da célula funcionar
apropriadamente, como os membros de um corpo. Não podemos ter apenas um ou outro funcionando,
mas todos. E isso só pode acontecer na vida da Igreja através das células.

Cristo é o corpo inteiro


Quem é Cristo? Ele é somente o cabeça? Não! Ele é o corpo inteiro. Hoje, Cristo é a união da Igreja com
Ele como cabeça. Isso é claramente demonstrado por Paulo em 1 Coríntios:
Porque, assim como o corpo é um e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, constituem
um só corpo, assim também com respeito a Cristo. (1Co 12.12)
Se fôssemos dizer essa verdade, talvez a disséssemos da seguinte maneira: Porque, assim como o corpo é
um e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, constituem um só corpo, assim também
com respeito à Igreja. Paulo, porém, não separou Cristo de seu corpo, mas tratou o corpo como sendo o
próprio Cristo.
Se alguém tocar na Igreja, estará, na verdade, tocando em Cristo. Quando apareceu para Paulo no
caminho de Damasco, o Senhor Jesus lhe perguntou: “Saulo, Saulo, por que me persegues?” Mas Paulo
não estava perseguindo a Cristo, ao menos não conscientemente, ele estava perseguindo o Corpo de
Cristo, que é a Igreja. Mas, se alguém toca no Corpo, toca em Cristo.
Hoje, Cristo está sentado à destra de Deus Pai, mas precisamos nos lembrar que o corpo também está lá.
Ele não poderia se sentar sem um corpo. É por isso que Paulo diz que estamos assentados com Ele (Ef
2.6). Se, hoje, desejamos conhecer a Cristo, devemos conhecer Seu Corpo. Se desejamos experimentar de
Cristo, precisamos experimentar do Corpo.

Como conhecer a Cristo?


Vamos ilustrar da seguinte maneira:
Alguém que nunca me viu quer se encontrar comigo, pois deseja me conhecer. Porém, estou muito
cansado e digo que não quero ir ao encontro, mas vou mandar um membro do meu corpo para que ela me
conheça. Então, envio um fio do meu cabelo. Podemos dizer que essa pessoa me conhecerá simplesmente
conhecendo um fio de cabelo da minha cabeça? Obviamente, não. Para me conhecer não basta conhecer
uma parte do meu corpo, é necessário uma expressão completa. Um único membro não pode expressar
todo o corpo. Assim, para termos uma expressão do Corpo de Cristo, precisamos de ao menos três
membros reunidos. Foi o que o Senhor disse em Mateus 18.20: “Porque, onde estiverem dois ou três
reunidos em meu nome, ali estou no meio deles.”
É por isto que a célula é tão importante, porque ela permite a manifestação do corpo do Senhor de forma
visível. Se numa célula temos apenas uma pessoa funcionando, então não podemos dizer que ali há uma
expressão do corpo de forma prática, mas se temos dois ou três funcionando, então temos o corpo. Cristo
não pode ser revelado ali, nem pode ser conhecido ou visto se apenas um membro funcionar. Se
quisermos ser uma célula poderosa, todos os membros da célula precisam funcionar, pois somente assim
seremos imagem de Cristo. Outra vez repito: Deus é plural, mas é um. A imagem de Deus é a vida de
comunidade em unidade.
Em Efésios 2.19-20, Paulo diz que a Igreja é um templo, um corpo e uma família. Se nossa célula não for
um templo, um corpo e uma família, então está fora do propósito eterno de Deus. Para que a célula cresça
e se multiplique, precisamos viver na plenitude do Corpo de Cristo, que nada mais é que o funcionamento
de cada membro movido pela vida da cabeça.
Quando essa revelação enche nosso espírito, entendemos que a célula é muito mais que a reunião ou um
culto semanal numa casa. Ela é um corpo, e o corpo não se reúne eventualmente, mas está constantemente
vinculado e conectado. A vida de uns para os outros precisa acontecer todos os dias. Precisamos
profetizar na vida uns dos outros, ter comunhão pelo telefone, orar uns pelos outros, tudo isso é muito
poderoso e, quando o praticamos, experimentamos os milagres de Deus.
Nossa célula precisa expressar a imagem de Deus, pois, quando a expressamos, o domínio se manifesta.
Podemos ver esse princípio claramente no evangelho de Mateus:
Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra terá sido ligado nos céus, e tudo o que desligardes
na terra terá sido desligado nos céus. Em verdade também vos digo que, se dois dentre vós, sobre a terra,
concordarem a respeito de qualquer coisa que, porventura, pedirem, ser-lhes-á concedida por meu Pai,
que está nos céus. Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles.
(Mt 18.18-20)
No verso 20, o Senhor disse que onde houvesse dois ou três reunidos, ali Ele estaria. Isso mostra que dois
ou três já formam uma comunidade, já é plural. Por isso se diz no verso 19 que se esses dois ou três
concordarem a respeito de algo, se tiverem o mesmo coração e a mesma mente, então eles pedirão o que
quiserem. O que está acontecendo aqui é a imagem de Deus se expressando. Eles são muitos, e agora
estão concordando em unidade. O resultado é: eles ligarão e desligarão, porque terão domínio e
autoridade.
Essa é a vontade de Deus para cada uma de nossas células. Precisamos expressar a imagem para que a
autoridade e o domínio se manifestem. Isso é realmente poderoso. Você consegue imaginar o que
acontecerá quando cada uma de nossas células tiver a revelação do propósito eterno de Deus? Um
avivamento nos aguarda.
Segundo Dia
Edificando segundo o propósito eterno
Hoje em dia, há uma grande preocupação em relação a trabalhar na Igreja com um propósito claro em mente. Isso é
muito bom, mas, se observarmos os propósitos, veremos que eles não são o propósito eterno. Normalmente são o
evangelismo, as missões, os ministérios, a comunhão, a assistência social, etc. Tudo isso é bom, mas a vontade de
Deus é que edifiquemos de acordo com o propósito mais elevado, o propósito eterno.
O propósito eterno de Deus é ter um lugar para habitar. Por toda a Bíblia, desde o Velho até o Novo Testamento, vemos
que Deus está edificando Sua habitação eterna. Esse é o tema principal, recorrente ao longo das Escrituras; as histórias
mudam, mas o tema central permanece presente.

O tema da Bíblia é a Casa de Deus


Desde o início da Bíblia até seu final, a ênfase está no edifício de Deus, em Sua casa. Em Gênesis 2, lemos a respeito
do jardim do Éden, onde encontramos três tipos de materiais preciosos: o ouro, a pérola (bdélio) e as pedras preciosas.
Esses três elementos são mencionados no começo porque aquele jardim era um anteprojeto da Casa de Deus. Assim, o
que vemos no Éden na forma de materiais, encontramos em Apocalipse 21 e 22, na Nova Jerusalém, na forma de
edificação. Ouro, pérola e pedras preciosas são os mesmos materiais que compõem a Nova Jerusalém – a consumação
do plano de Deus.
Existem muitas similaridades entre o Éden e a Nova Jerusalém. No jardim, Deus tinha comunhão com Adão, mas na
Nova Jerusalém, temos a habitação de Deus com o homem. No Éden temos um noivo, uma noiva e o primeiro
casamento; na Nova Jerusalém, encontramos o Senhor Jesus se unindo à Sua Noiva pela eternidade. No Éden e na
Nova Jerusalém, encontramos a Árvore da vida e o rio que flui para a vida. Assim, vemos que a Nova Jerusalém é a
consumação do propósito eterno de Deus iniciado lá no Éden.
O jardim do Éden é como se fosse um símbolo, um projeto, mas a Nova Jerusalém é a consumação e a realidade. Entre
esses dois eventos, temos todo o conteúdo da Bíblia, onde vemos, a todo o momento, o Senhor repetindo o tema da
Sua casa, o lugar da Sua habitação eterna.
Depois do Éden, encontramos a arca de Noé, um protótipo da casa de salvação de Deus. Assim como a Arca naqueles
dias, a Igreja, hoje, é a casa que nos livra do juízo que há de vir.
Mais tarde, Deus chama Abraão para fora de sua cidade, Ur dos caldeus. Abraão foi o primeiro “chamado para fora”,
que é o significado da palavra grega ekklesia, traduzida por “igreja”. Todos aqueles que são filhos de Abraão também
são chamados para fora.
A seguir, Deus ordena que Abraão percorra a terra habitando em tendas. Ao contrário do que alguns podem pensar, ele
não habitava em tendas porque era nômade; ele fazia isso numa atitude profética.
Pela fé, peregrinou na terra da promessa como em terra alheia, habitando em tendas com Isaque e Jacó, herdeiros com
ele da mesma promessa; porque aguardava a cidade que tem fundamentos, da qual Deus é o arquiteto e edificador. (Hb
11.9,10)
O livro de Hebreus nos revela que Abraão habitava em tendas porque viu a cidade de Deus, a Nova Jerusalém, a
habitação de Deus, a cidade que tem fundamentos. Tudo isso aponta para a Igreja, portanto, Abraão, pela fé, viu a
Igreja. Enquanto os homens construíam a torre de Babel, ele habitava em tendas profetizando que a Nova Jerusalém
viria. E todos aqueles que são descendentes de Abraão devem ter a mesma visão.
Certo dia, Jacó, o neto de Abraão, repousou tendo uma pedra por travesseiro e, então, teve um sonho maravilhoso,
onde via uma escada que ligava a terra ao céu, e anjos de Deus que subiam e desciam por ela. Quando acordou, Jacó
derramou azeite sobre a pedra, dizendo que aquela era a Casa de Deus, e chamou aquele lugar Betel, que significa
Casa de Deus. Jacó teve a mesma visão de Abraão, e essa foi a primeira vez que a Casa de Deus foi mencionada na
Bíblia. (Gn 28.11-17).
Despertado Jacó do seu sono, disse: Na verdade, o SENHOR está neste lugar, e eu não o sabia. E, temendo, disse:
Quão temível é este lugar! É a Casa de Deus, a porta dos céus. (Gn 28.16,17)
Depois disso, os descendentes de Abraão foram escravos no Egito durante 400 anos. Segundo nos relata o livro de
Êxodo, o povo de Israel foi escravizado para construir as cidades-celeiro de Faraó. Porém, ao invés de construírem-nas
com ouro, pérola e pedras preciosas, eles utilizavam tijolos feitos de barro – o mesmo material usado para construir a
torre de Babel. Portanto, tijolos nos falam de coisas terrenas, obras humanas, mas as pedras apontam para coisas
celestiais.
Eles, então, clamaram a Deus, e o Senhor lhes enviou Moisés. Por meio de Moisés o Senhor chamou o povo de Israel
para servi-lo no monte Sinai, e o serviço era edificar a Casa de Deus, o tabernáculo. No dia em que o tabernáculo foi
levantado, a nuvem da glória de Deus veio sobre ele. O propósito eterno de Deus começava a ganhar forma!
Mais tarde, o Senhor levantou Davi como rei, e este tinha um desejo: trazer a arca de Deus para Jerusalém. Certo dia,
Davi pensou que todos tinham uma casa, exceto Deus; decidiu, então, fazer uma casa para Ele. Davi tinha a obsessão
de querer ver estabelecida a casa do Senhor, e levantou um tabernáculo que ficou conhecido como Tabernáculo de
Davi. Quando foi reconhecido como rei de Israel, ele tomou a arca da aliança e a colocou numa tenda em Sião, onde
pôs sacerdotes que ministravam diante da arca de dia e de noite, profetizando, adorando e ministrando ao Senhor.
Nessa função, doze sacerdotes se revezaram de hora em hora, durante vinte e quatro horas, pelo período de quarenta
anos. Mais uma vez, percebemos que Davi estava profetizando a respeito da Igreja do Novo Testamento.
Hoje, já não há mais o véu, todos somos sacerdotes e podemos ministrar diante da Arca. Mas o fato de serem apenas
doze sacerdotes em cada hora aponta para algo como a célula, pois se fossem em maior número, não seria possível
que todos profetizassem. Se houvesse uma centena deles, inevitavelmente alguns se tornariam espectadores, mas
sendo doze, todos podiam ministrar. Essa é a Igreja do Novo Testamento: a célula.
Davi, porém, não edificou o templo, pois Deus determinou que ele fosse construído por Salomão. Assim, no dia da
dedicação do templo, a nuvem da glória do Senhor desceu sobre o santuário de tal maneira que ninguém podia estar ali
para ministrar. Davi queria trazer a arca para Jerusalém para ter a glória de Deus, mas, para tê-la, precisamos edificar a
Casa. A glória do Senhor repousa somente sobre a Casa de Deus.
Cerca de 350 anos depois, os babilônios destruíram o templo construído por Salomão e o povo de Israel foi levado
cativo para a Babilônia. Vejamos aqui a edificação da obra maligna: enquanto Abraão habitava em tendas, o inimigo
construía a torre de Babel; enquanto Deus queria usar Seu povo para edificar o tabernáculo, o diabo o escravizava para
construir as cidades-celeiro de Faraó. Agora, Babel se tornara Babilônia, vindo para destruir o templo do Senhor.
Contudo, setenta anos depois, os israelitas voltaram a restauraram a Casa de Deus, o templo. Todos os profetas
profetizavam exortando o povo a, novamente, edificar a Casa de Deus.
O Novo Testamento começa com o Verbo se fazendo carne e vindo habitar entre nós. Deus, agora, habita no meio do
Seu povo. Mas, algo que poucos percebem é que o Senhor foi crucificado por causa da Casa de Deus. Ele disse aos
fariseus: “destruam esse templo e em três dias o reedificarei” (Mc 15.29). Ele se referia a Seu corpo, mas os religiosos o
crucificaram com esse argumento. Contudo, a crucificação foi apenas o caminho para a ressurreição. Agora, o Senhor
está vivo e liberou o Espírito para habitar em nós. Deus agora não vive em templos feitos por mãos humanas, mas
habita em sua Igreja. Em três dias, o templo de Deus, que é a Igreja, foi edificado.
Depois, o Senhor levantou o apóstolo Paulo, revelando a ele o plano da edificação. Paulo se declara o mestre construtor
da Casa de Deus, e escreveu um quarto do Novo Testamento para nos mostrar o caminho da edificação. O tema central
do Novo Testamento é a Casa de Deus e como construí-la.
Toda a história do Velho Testamento aponta para a realidade da Igreja do Novo Testamento, que é a Casa de Deus, o
templo do Deus vivo, que tem a perfeita consumação na Nova Jerusalém. Por tudo isso, percebemos que o propósito
eterno de Deus é ter uma casa para habitar no meio dos homens e nos homens.
No final de tudo, em Apocalipse, o que vemos é a edificação de Deus, a Nova Jerusalém, que é a composição de todos
os redimidos. Na Nova Jerusalém, Deus e os homens estão unidos como um único edifício, a divindade misturada à
humanidade. Deus é o conteúdo, o homem é o vaso; Deus é a vida, o homem é a expressão da vida de Deus.
O Senhor deseja um lugar de habitação, este é o propósito eterno de Deus. É ele que deve dirigir nossas ações e
motivar a Igreja, não o evangelismo, nem missões, obras sociais ou mudança da sociedade. Essas coisas são boas,
mas não são o centro do coração de Deus.
Em Mateus 16, Jesus disse que edificaria Sua Igreja (Mt 16.18), e essa é a obra que o Senhor está fazendo hoje.
Portanto, se desejamos cooperar com o Senhor na obra de edificação da Igreja, precisamos nos empenhar para edificar
a Casa de Deus de acordo com Sua vontade. Se cada membro de célula entender o
que está fazendo, trabalhará com encargo e amor. Não estamos meramente fazendo reuniões nas casas, estamos
edificando a Igreja, a Casa de Deus, segundo o Seu propósito eterno.

O alvo do nosso trabalho é a edificação da Casa de Deus


Muitas igrejas colocam a ênfase no evangelismo, o que é bom, mas depois de evangelizar, não sabem o que fazer com
as pessoas. Elas não estão edificando casa para Deus, não possuem o estilo de vida de uns para os outros. Esse tipo
de evangelismo acaba sendo em vão, pois não resulta na edificação da Casa de Deus nem é motivado pela revelação
de que o Senhor deseja ter Sua casa sobre a terra.
Hoje, o que está na moda é a transformação da sociedade. As igrejas querem fazer uma grande obra social, mas seu
trabalho não resulta na edificação da Casa do Senhor, pois a motivação dessas pessoas não é o propósito eterno de
Deus. Em Mateus 16, vemos o Senhor dizendo que edificaria Sua Igreja. Esse é Seu trabalho hoje e, se não estivermos
envolvidos nessa edificação, não podemos dizer que estamos fazendo obra de Deus. Se o Senhor está edificando Sua
Igreja, é isso o que devemos estar edificando também.
Alguns, além de ganhar almas, também colocam a ênfase em poder, cura, sinais e dons espirituais. Mas, qual é o
propósito dos dons e do poder? Em 1 Coríntios, lemos que é a edificação da Casa de Deus.
Que fazer, pois, irmãos? Quando vos reunis, um tem salmo, outro, doutrina, este traz revelação, aquele, outra língua, e
ainda outro, interpretação. Seja tudo feito para edificação. (1Co 14.26)
O termo grego para “edificar” é oikodomeu, que significa “construir a casa do Senhor”. Infelizmente, a maioria das igrejas
evangélicas é conduzida por propósitos menores e secundários. A palavra edificar tornou-se sinônimo de algo inspirativo
ou instrutivo, contudo, a idéia original é a de construir algo para a presença de Deus.
O propósito eterno de Deus foi estabelecido desde a eternidade: Deus deseja ter Sua casa. Não porque não a tivesse,
pois o motivo é exatamente o contrário. Deus quis trazer Sua habitação para a terra e, na verdade, quis fazer do homem
Sua habitação. Deus ama Sua Casa e deseja que ela cresça. O que nós estamos fazendo é trabalhar nessa obra de
expansão, por isso não podemos lançar outro fundamento além do que já foi colocado. Precisamos edificar sobre o
fundamento que foi lançado pelos apóstolos.
A figura da Casa de Deus, como podemos ver em Sua Palavra, é sempre um cubo, pois este define as três dimensões,
Pai, Filho e Espírito Santo. O Santo dos santos era em forma de cubo, o tabernáculo edificado por Davi era igualmente
feito nesse formato, e a Nova Jerusalém descrita em Apocalipse 22 também é em forma de cubo.

Como construir a Casa de Deus?


Construir a Casa de Deus pode se comparar à construção de uma casa comum. Para construirmos uma casa,
precisamos de três pessoas. A primeira é o proprietário, e sabemos que o Pai é o proprietário. Em segundo lugar,
precisamos de um arquiteto – o Senhor Jesus é o arquiteto, foi Ele quem projetou a Casa de Deus, por isso ela precisa
refletir a pessoa do Senhor. Em terceiro lugar, precisamos do construtor ou realizador da obra, que é o Espírito Santo.
Os apóstolos usavam a parábola da casa de pedra para explicar a edificação da Igreja:
Também vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de
oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo. (1Pe 2.5)
O cristianismo é uma religião singular. As outras religiões possuem três elementos separados – um templo, um
sacerdote e sacrifícios –, mas, no cristianismo, esses três são reunidos em um só: não temos um templo, pois o templo
somos nós, assim como somos o sacerdote e o próprio sacrifício vivo diante do Senhor. O conceito de Deus é bem
simples, e tudo se resume em sermos as pedras vivas. A morada de Deus é muito simples, por isso a Igreja precisa ser
assim também, e ser sempre movida pelo propósito eterno de Deus.
Pedro nos diz que a Casa de Deus é feita de pedras vivas, mas não somos apenas as pedras vivas, somos também os
construtores:
Segundo a graça de Deus que me foi dada, lancei o fundamento como prudente construtor; e outro edifica sobre ele.
Porém cada um veja como edifica. (1Co 3.10)
Paulo disse: “cada um veja como constrói”. Isso significa que todos nós somos construtores. Mas, também somos o
material de construção: as pedras vivas. Quando praticamos o ministrar uns aos outros, edificamos uns aos outros e,
assim, construímos casa para Deus.
Uma revelação importante dentro da visão celular é que “cada membro é um ministro”. Ser ministro é ser servo ou
trabalhador, e em Efésios, Paulo nos mostra qual é realmente o trabalho do ministro:
E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e
mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de
Cristo. (Ef 4.11,12)
Nesse texto, vemos três elementos importantes. Em primeiro lugar, temos os cinco ministérios que são os treinadores.
Em segundo lugar, temos os santos que são treinados pelos cinco ministérios – a palavra “aperfeiçoar”, usada no texto,
seria mais bem traduzida como “treinar”. E, por fim, ficamos sabendo que os santos são treinados para fazer um
trabalho: a edificação da Igreja. O trabalho de edificação ou construção da Casa de Deus é de todos os santos. Todos
são ministros e todos devem ser treinados para isso pelos cinco ministérios.

O trabalho de cada crente


Cada crente é um ministro, mas que serviço ele deve desempenhar para edificar a Igreja? A Igreja não é o prédio, nem
bancos ou as programações, nem mesmo as atividades que tanto prezamos. A Igreja existe sem nenhuma dessas
coisas. Na Igreja Primitiva não havia a maioria das atividades que existem hoje. Eles não possuíam nem mesmo a Bíblia
escrita à disposição deles, como existe hoje. E mesmo que houvesse, pouco adiantaria, pois 70% da Igreja do primeiro
século eram constituídos de escravos, que não sabiam ler. Mas, esta foi a Igreja que colocou o Império Romano de
joelhos.
Hoje, muitos reclamam de não terem tempo para se envolver na vida da Igreja, mas, imagine naquela época, Paulo
marcando uma programação e eles respondendo que não podiam, pois tinham que pedir permissão para seus
senhores. Relatos históricos afirmam que eles reuniam a Igreja apenas no domingo, e isto às cinco horas da manhã. Por
um lado, escolheram esse horário porque foi a hora em que Jesus ressuscitou, mas o outro motivo, mais pragmático, é
que, àquela hora, seus senhores ainda estavam dormindo.
Assim, o mundo inteiro foi ganho por uma religião de pescadores, composta em sua maioria de seguidores que eram
escravos. E como eles ganharam o mundo inteiro sem fazer nada do que nós fazemos hoje? A mola-mestra do trabalho
da Igreja primitiva era o ensino dos apóstolos e hoje, infelizmente, procuramos outras estratégias.
A Igreja, a Noiva, é o centro do coração de Deus. Ela é composta de filhos, e somente pode ser edificada por
relacionamentos de vida. Qualquer pessoa que não seja completamente pela Igreja, não está sendo completamente
para com Deus também. E qualquer pessoa que seja negativa para com a Igreja está, na verdade, ofendendo a Deus.
Quando alguém quer parecer inteligente, culto e argumentativo, sempre procura falar mal da Igreja. Quando um teólogo
quer se destacar, ele simplesmente fala algo negativo sobre a Igreja. Ele sabe que, desta forma, atrairá para si muita
atenção. É obvio que há muitas deficiências e debilidades na Igreja, contudo, a despeito de todas elas, ela não deixou
de ser a Igreja. Ninguém que tenha sido negativo para com a Noiva prevaleceu com o Noivo e recebeu Seu elogio.
Devemos, então, ser muito cuidadosos porque o desejo do coração de Deus, hoje, é preparar a Igreja. Este é o trabalho
de Jesus e a obra de Deus.
O primeiro ponto que precisamos observar é que o Senhor cocedeu apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e
mestres para a Igreja com um objetivo: o aperfeiçoamento dos santos, com vistas ao desempenho do seu serviço.
Estamos acostumados a pensar nessas funções em termos de cargos e, geralmente, associamos esses ministérios a
algum tipo de hierarquia eclesiástica, todavia, esta não é a visão que Paulo descreve. Esses apóstolos, profetas,
evangelistas, pastores e mestres foram dados “com vistas a”, isto é, com o objetivo de, aperfeiçoar os santos. A palavra
“aperfeiçoar”, no original, significa “treinar”. Então, poderíamos dizer que Ele concedeu apóstolos, profetas, evangelistas,
pastores e mestres com vistas ao treinamento dos santos.
Sendo assim, para que temos apóstolos na Igreja? Para o treinamento dos santos, isto é, para treinar os santos a
fazerem o serviço apostólico. Para que temos profetas na Igreja? A resposta mais uma vez é: para treinar os santos;
treiná-los para fazerem o que os profetas fazem: profetizar. Para que temos evangelistas na Igreja? A resposta não
pode ser outra: para treinar os santos a evangelizar, obviamente. E nós pensávamos que o evangelista era aquele que
ganharia a cidade inteira sozinho. Que ilusão! O evangelista, naturalmente, também evangeliza, mas seu trabalho
principal é treinar os santos para evangelizar. Para que temos pastores na Igreja? A resposta de Paulo é: para treinar os
santos a fazerem o trabalho de apascentamento. E, finalmente, para que temos mestres na Igreja? Obviamente, para
ensinar, mas, primordialmente, para treinar cada membro a fim de que ele possa ensinar e discipular outros.
Que mudança de paradigma! O nome dos treinadores apenas aponta para a matéria pela qual ele é responsável por
ensinar aos membros. O serviço do ministério de cada crente exige que ele seja treinado para profetizar, evangelizar,
apascentar, ensinar e ser enviado. Esta é a obra do ministério para a qual todo crente deve ser treinado. Nisto consiste
o trabalho de edificação da Igreja.
Portanto, para fazer a obra de edificação da Casa de Deus, precisamos de, no mínimo, cinco matérias ministradas por
cinco treinadores. Não devemos pensar nos cinco ministérios como um grupo de “supercrentes”, antes, precisamos vê-
los como um grupo de treinadores. Procure ver esses ministérios como cinco matérias que fazem parte do currículo de
treinamento de todo crente. Todos nós temos que ser treinados em todas essas áreas e exercer, numa certa medida,
esses cinco ministérios. O serviço para o qual precisamos ser treinados nada mais é que realizar essas cinco atividades,
pois edificar a Igreja, na verdade, é fazer todas elas. Só podemos dizer que estamos edificando a Casa de Deus se
fizermos as cinco.
Essas cinco tarefas constituem o desempenho do ministério ou do serviço a que o texto de Efésios se refere. Os
apóstolos, os evangelistas, os mestres e os pastores estão treinando os santos para o serviço do ministério. Mas, qual é
esse serviço? É ganhar almas como o evangelista ganha, é ensinar como o mestre ensina, pastorear como o pastor
pastoreia, profetizar como o profeta e ser enviado como o apóstolo. Esse é, na verdade, o serviço de edificação dos
santos.
É muito conhecido o slogan da visão celular que foi espalhado por todo o mundo: Ganhar, Consolidar, Edificar, Treinar e
Enviar. Ganhar é o treinamento que o evangelista deve fazer. Consolidar é o treinamento que o pastor fará com cada
santo.
Treinar é a função do mestre. Edificar é função do profeta, e enviar é o trabalho do apóstolo. Podemos, então, notar que
esse slogan é absolutamente correto do ponto de vista bíblico, e está completamente de acordo com o propósito eterno
de Deus.
Os ministérios estão aqui para treinar os santos, e o objetivo de tal treinamento é a edificação do Corpo de Cristo. A
maneira que Paulo encontrou de mostrar o serviço foi enumerando os treinadores, pois as matérias do curso e seus
treinadores mostram o conteúdo do trabalho a ser feito. Os cinco ministérios não são somente pessoas, mas
representam matérias que devem ser ensinadas a toda a Igreja para que todo crente faça a obra do ministério. Cada
crente deve ser treinado para realizar o trabalho do apóstolo, do profeta, do evangelista, do pastor e do mestre. Este é o
trabalho que todos devem fazer. Somente quando os crentes executam essas cinco tarefas, a Igreja pode ser edificada
e podemos dizer que estamos de acordo com o propósito eterno de Deus.
Terceiro Dia
O propósito eterno em Gênesis
Compreender o propósito de Deus para o homem é fundamental para a edificação da Igreja, pois é através dessa
compreensão que cada um de nós, seus membros, passa a conhecer a razão pela qual foi criado. O propósito não é
algo que escolhemos, mas é determinado por Aquele que nos criou. Sendo assim, nossa tarefa é descobrir qual foi a
intenção de Deus ao nos fazer.
O homem foi criado no sexto dia. O primeiro dia do homem é o sétimo de Deus. Isto é um sinal do propósito pelo qual
fomos criados. Quando Deus criou o homem, não o colocou numa fábrica para trabalhar, e sim no Éden, que significa
lugar de delícias. Fomos criados para desfrutar do Senhor e termos prazer nele.
Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os
peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que
rastejam pela terra. Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. E
Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do
mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela terra. (Gn 1.26-28)
Em Gênesis, podemos ver claramente que o principal propósito de Deus foi ter o homem para expressá-lo e representá-
lo. Cada animal foi criado segundo a sua espécie, mas o homem foi criado conforme a espécie de Deus. Deus é apenas
um, mas disse “façamos”, pois é um ser triuno: Deus, Jesus e o Espírito Santo. O homem era apenas um, mas Deus
disse “dominem” (Bíblia de Jerusalém), porque Deus tinha em mente sua Igreja, a Nova Jerusalém. Isso não significa,
porém, que o homem é, ou algum dia será Deus, pois só há um Deus. Contudo, foi feito semelhante a Deus e pode ter
comunhão com Ele porque é do mesmo tipo e possui a mesma natureza. Certamente, não é possível pensar num
propósito mais glorioso que este: ser feito à imagem de Deus.

1. Para ser um vaso


...A fim de que também desse a conhecer as riquezas da sua glória em vasos de misericórdia, que para glória preparou
de antemão, os quais somos nós, a quem também chamou, não só dentre os judeus, mas também dentre os gentios.
(Rm 9.23,24)
Nós somos vasos de Deus para que Ele seja nosso conteúdo. Assim como garrafas foram feitas para conter água, nós
fomos feitos para conter Deus. Uma boa ilustração disso é a luva: ela é a imagem e semelhança da mão, mas não é a
mão; apenas foi criada conforme a mão com o propósito de contê-la. Do mesmo modo, o homem foi criado à imagem de
Deus, com o propósito de contê-lo. Contudo, ainda que seja feita à imagem e semelhança da mão, uma luva só tem
sentido se tiver a mão como conteúdo; somente assim ela adquire forma e propósito. Do mesmo modo acontece com o
homem: é a imagem e semelhança de Deus, mas, se o Senhor não estiver dentro dele, não passa de uma “luva” vazia
caminhando pelo mundo. Além disso, somente a mão para a qual a luva foi feita pode preenchê-la completamente. E o
mesmo acontece com o homem, pois somente Deus pode completá-lo plenamente.
O homem foi criado à semelhança de Deus para que pudesse contê-lo e ter comunhão com Ele. Assim, porque Deus é
espírito, o homem também foi feito um ser espiritual, para que, sendo do mesmo tipo, pudessem ter comunhão um com
o outro. A respeito de todos os animais, se diz que foram feitos segundo a sua espécie, mas a respeito do homem, se
diz que foi feito semelhante a Deus. Nós somos da espécie de Deus.
Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade. (Jo 4.24)
O mesmo Deus da paz vos santifique em tudo; e o vosso espírito, alma e corpo sejam conservados íntegros e
irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. (1Ts 5.23)
O homem é vaso de Deus e, segundo a Bíblia, é formado por três partes: corpo, alma e espírito. O corpo é a parte física
e foi criado para ter contato com as coisas da esfera material; é a parte mais superficial. A alma é a psique, a parte
psicológica que contém emoções, vontade e pensamentos. Foi criada para ter contato com as coisas do mundo psíquico
e é uma parte mais profunda que o corpo. O espírito é a parte mais profunda do homem, pertencendo ao nível espiritual,
e foi criado para ter contato com as coisas de Deus; é o recipiente onde Deus habita no homem.
O propósito de Deus era, e ainda é, entrar no espírito do homem para preenchê-lo e ser sua satisfação. Este é o
propósito da existência humana. Portanto, não fomos criados apenas para conter comida em nosso estômago ou
conhecimento em nossa mente. Fomos criados para conter Deus em nosso espírito. Sem Deus, nós somos vazios. Mas,
quando compreendemos que o Senhor é nosso conteúdo, passamos a entender que tudo em nós tem que acontecer a
partir dEle. Quando compreendemos que, agora, nossa vida está oculta em Deus e Ele está em nós, pois “aquele que
se une ao Senhor é um espírito com ele” (1Co 6.17), nossa maneira de ver e viver a vida cristã é totalmente
transformada. Tudo de que precisamos para ser, para viver e praticar a Palavra de Deus já está dentro de nós; todas as
virtudes estão resumidas em uma só pessoa, Jesus Cristo, que é a vida dentro de nós. Nossa sabedoria é apenas o
recipiente para a sabedoria de Cristo. Nosso amor é o recipiente para o amor de Cristo.
Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual se nos tornou, da parte de Deus, sabedoria, e justiça, e santificação, e
redenção. (1Co 1.30)
Precisamos entender que carregamos Deus dentro de nós por toda a eternidade. Uma vez que nascemos de novo e o
Espírito de Deus entrou em nós, estamos unidos com Ele para sempre. Fomos unidos de tal maneira, que é impossível
nos separar. Deus tornou-se um conosco em nosso espírito.
Contudo, infelizmente, podemos resistir à vida de Deus para que ela não domine em nós. Por isso, às vezes, Ele precisa
nos quebrar, quebrar nossa alma para que Ele, que é nosso conteúdo, possa se expressar através de nós. Então,
quando nos abrimos e deixamos que Ele tenha o controle, experimentamos o que é ser, de fato, um vaso cujo alvo é
expressar completamente a imagem de Deus.
Deus é invisível, no entanto, tem uma imagem. A imagem de Deus é Cristo.
Nos quais o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho
da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus. (2Co 4.4)
Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação. (Cl 1.15)
Ninguém jamais viu a Deus; o Deus unigênito, que está no seio do Pai, é quem o revelou. (Jo 1.18)
Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra do seu
poder, depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade, nas alturas. (Hb 1.3)
Uma vez que o homem foi criado à imagem de Deus, e a imagem de Deus é Cristo, então o homem foi criado à imagem
de Cristo. Todavia, um dia, Cristo veio se fazer semelhante ao homem.
Pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou,
assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se
humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz. (Fp 2.6-8)
Em toda a Sua glória e grandiosidade, esse Deus maravilhoso e soberano teve um propósito de criar o homem para que
este pudesse ser um com Ele. Deus quis compartilhar algo de Sua natureza divina conosco de tal maneira que, no final,
seremos tal qual Ele é.
Amados, agora, somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que haveremos de ser. Sabemos que, quando ele
se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele é. (1Jo 3.2)
Por causa da queda, perdemos parte da semelhança com Deus, porém, quando Jesus veio, Ele nos deu a promessa e o
Espírito para que fôssemos transformados novamente à Sua imagem. Cristo se fez homem para que pudéssemos ser
como Ele é, para que recebêssemos a vida de Deus em nós e pudéssemos nos unir a Ele, tornando-nos um só.
Não há glória maior que esta: tornar-se semelhante a Deus e unir-se a Ele. Nem mesmo os anjos desfrutam de algo
assim, pois não são semelhantes a Deus, não carregam a natureza divina em si e não são um só espírito com Ele, como
nós somos. Essa semelhança e unidade com Deus é um privilégio exclusivo reservado aos filhos de Deus.

2. Para ser um instrumento


O homem também foi criado para ser um instrumento nas mãos de Deus, sujeitando e dominando a terra. Este é um
aspecto extraordinário da graça de Deus: Ele não precisa de nada nem de ninguém, na verdade, Ele “Nem é servido por
mãos humanas, como se de alguma coisa precisasse; pois ele mesmo é quem a todos dá vida, respiração e tudo mais”
(At 17.25). Porém, misteriosamente, Deus nos criou para sermos seus ajudantes, servos, cooperadores.
Deus criou o homem para ser um instrumento dEle a fim de trazer o Seu governo novamente sobre todas as coisas,
pois, antes da criação do homem, Lúcifer já havia caído e se tornado Satanás, trazendo com ele a rebeldia. Ele fora
lançado na terra e esta se tornou o único lugar no universo onde a autoridade de Deus é questionada. Por isso, em certo
sentido, fomos criados para resolver um problema de Deus, dominando algo que estava fora de controle e exercendo
esse domínio em Seu lugar.
Deus deu ao homem a autoridade para exercer o domínio como se fosse Ele mesmo. E, para isso, o fez à Sua imagem
– quem visse Adão, saberia que ele representava Deus, pois era semelhante a Ele. Assim, porque ele tinha a imagem,
exercia o domínio, pois a imagem é para expressar e o domínio para exercer autoridade e ter um reino. Conserve em
sua mente as duas palavras mais importantes aqui: imagem e domínio. Porque temos a imagem, exercemos o domínio.
Quando vemos as ordens que Deus deu a Adão, Sua intenção de fazer do homem um instrumento fica evidente:
E Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do
mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela terra. (Gn 1.28)

a) Crescer e multiplicar
Deus quer ter muitos filhos semelhantes a Ele, por isso criou Adão à sua imagem e semelhança e ordenou que se
multiplicasse e desse origem a outros iguais ao Criador. Ele poderia ter criado milhões de homens de uma só vez,
porém, desde o início, Deus já mostrou que um dos aspectos de Sua obra é trabalhar gradualmente, através de
sementes.
Após a queda, contudo, o homem passou a gerar filhos semelhantes a si mesmo, pois a partir de então, tornou-se
pecador e passou a trazer em si a imagem do pecado, que é o diabo. Deus, então, rejeitou a velha criação e enviou
Jesus. Sabemos, portanto, que o Senhor Jesus veio para cumprir aquilo que Adão falhou em cumprir.
Pois assim está escrito: O primeiro homem, Adão, foi feito alma vivente. O último Adão, porém, é espírito vivificante.
Mas não é primeiro o espiritual, e sim o natural; depois, o espiritual. O primeiro homem, formado da terra, é terreno; o
segundo homem é do céu. Como foi o primeiro homem, o terreno, tais são também os demais homens terrenos; e, como
é o homem celestial, tais também os celestiais. E, assim como trouxemos a imagem do que é terreno, devemos trazer
também a imagem do celestial. (1Co 15.45-49)
Adão, a velha criação, era alma vivente, mas Jesus, e com Ele a nova criação, é espírito vivificante, ou seja, as ordens
para Adão seriam cumpridas na esfera natural, e hoje, em Cristo, as mesmas ordens são cumpridas na esfera espiritual.
Todos nós também recebemos a ordem de crescer e multiplicar, não na esfera natural, mas na espiritual.
Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo;
ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à
consumação do século. (Mt 28.19,20)
E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura. (Mc 16.15)
Um ministério que não se empenha no crescimento não entendeu o propósito de Deus para ele. O reino do diabo está
estabelecido neste mundo e nós somos instrumentos de Deus para desfazer as suas obras e prevalecer sobre ele. Mas
isso só vai acontecer se pregarmos o evangelho, gerarmos vidas, crescermos e multiplicarmos, pois, à medida que o
reino de Deus cresce, mais espaço toma do reino do inimigo. O espaço é limitado – para que um cresça, o outro tem
que diminuir. Assim, quando pregamos o evangelho, estamos tomando espaço do diabo e desfazendo suas obras.

b) Sujeitar
Há uma diferença entre o problema do homem e o problema de Deus e, portanto, a solução para eles também é
diferente. O problema de Deus foi a queda de Satanás, que está usurpando a autoridade sobre a terra. Para resolvê-lo,
é preciso que Seu reino venha e, para tanto, precisamos destruir as obras do diabo. Já o problema do homem é que ele
caiu e precisa receber a salvação, que vem através da pregação da Palavra.
Deus nos criou para resolver a primeira questão, ou seja, estabelecer Seu reino na terra. Isso significa que nossa tarefa
não é apenas pregar o evangelho, mas também desfazer as obras do diabo. A Igreja está aqui para sujeitar o inimigo,
tanto no nível individual quanto no coletivo. Sujeitamos as obras do diabo quando expulsamos demônios e curamos
enfermos. Por isso, quando Jesus realizava alguma dessas coisas, dizia que era chegado o reino e Deus. Assim, é
necessário que nós, como Igreja, confrontemos as obras do diabo onde quer que as encontrarmos. Além disso,
individualmente, cada um de nós deve aprender a subjugar o diabo. Portanto, todos precisamos lidar com ele,
sujeitando-o em todas as esferas de nossa vida. E, para isso, Deus nos deu os instrumentos necessários: o nome de
Jesus, a espada do Espírito, o próprio Espírito Santo em nós e mais uma série de armas espirituais poderosas em Deus.
O alvo de Deus é que Seu reino venha sobre a terra, e Ele atingirá esse objetivo através do homem:
Dar-te-ei as chaves do reino dos céus; o que ligares na terra terá sido ligado nos céus; e o que desligares na terra terá
sido desligado nos céus. (Mt 16.19)
E o Deus da paz, em breve, esmagará debaixo dos vossos pés a Satanás. (Rm 16.20).
Lembre-se de que o problema do homem é que ele caiu e precisa receber a salvação. O problema de Deus é que
Satanás está usurpando a autoridade sobre a terra. Portanto, todos nós precisamos lidar com o inimigo, sujeitando-o em
todas as esferas de nossa vida. Sujeitar o inimigo é vencê-lo em todas as circunstâncias, não deixando que ele leve
vantagem em nenhum momento. Quando negamos o ego, ou quando louvamos e adoramos a Deus, estamos
sujeitando o diabo, pois ele foi um adorador que caiu, mas nós escolhemos adorar a Deus voluntariamente. O ego é a
expressão do orgulho satânico e, quando o negamos, sujeitamos Satanás.

c) Dominar
A esfera do domínio do homem é simbolizada pelo mar, a terra e o ar. Jesus mostrou-nos que até mesmo os animais
mencionados em Gênesis 1.28 simbolizam demônios no restante das escrituras.
O mar simboliza a morte e é um lugar de habitação de demônios, aqui representados pelos peixes. Em Apocalipse
lemos que o mar deixará de existir:
Vi novo céu e nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe. (Ap 21.1)
A terra é o campo de atividades de Satanás. Os animais que rastejam são notoriamente símbolos de demônios, como a
serpente que simboliza o próprio Satanás, assim como os répteis e os escorpiões.
Eis aí vos dei autoridade para pisardes serpentes e escorpiões e sobre todo o poder do inimigo, e nada, absolutamente,
vos causará dano. (Lucas 10.19)
O ar é o lugar da habitação dos anjos caídos (Ef 2.2). As aves do céu simbolizam demônios, tanto em Efésios como na
parábola do semeador, onde as aves que roubavam a semente do coração dos homens eram também demônios.
E, ao semear, uma parte caiu à beira do caminho, e, vindo as aves, a comeram... A todos os que ouvem a palavra do
reino e não a compreendem, vem o maligno e arrebata o que lhes foi semeado no coração. Este é o que foi semeado à
beira do caminho. (Mt 13.4, 19)
Nos quais andastes outrora, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, do espírito que
agora atua nos filhos da desobediência. (Ef 2.2)

3. Imagem e domínio
O ponto central dos versículos 26 a 28 do primeiro capítulo de Gênesis é “imagem e domínio”. O propósito de Deus,
desde Adão, era dar ao homem Sua imagem e domínio. O homem recebeu a imagem de Deus para exercer o domínio
na terra em Seu lugar. A imagem é a base da autoridade e do domínio – é porque se parece com Deus que o homem
pode exercer autoridade. O homem recebeu a imagem de Deus para exercer o domínio na terra no lugar de Deus.
Como representante de Deus, Adão precisava expressar Deus em sua imagem. Portanto, a base da autoridade ou
domínio é a imagem. É porque nos parecemos com Deus que temos Sua autoridade. Tudo é determinado por aquilo
com que nos parecemos – se com escorpião, serpente, cordeiro ou filho de Deus.
Imagem nos fala de sacerdócio, e autoridade e domínio nos falam de realeza. O Novo Testamento nos mostra que Deus
nos fez reis e sacerdotes (Ap 5.10), assim, vemos que a imagem e o domínio estão ligados a dois princípios no Novo
Testamento: sacerdócio e realeza, respectivamente. A imagem precede o domínio, e o sacerdócio introduz a realeza.
Por isso João Batista veio antes, a fim de introduzir o Rei Jesus (Mt 3.1-3).
A principal função do sacerdote era levar as pessoas a Deus. A realeza, por outro lado, tem a função de representar
Deus diante dos homens. O primeiro ministério foi o sacerdócio, mas ele introduz a realeza, assim como Samuel, o
sacerdote, constituiu Davi como o rei. O mesmo ocorre na Igreja hoje. Se formos genuínos sacerdotes, seremos
introduzidos na realeza. Primeiro somos sacerdotes levando as pessoas até Deus, então nos tornamos reis
manifestando a autoridade do Reino sobre a terra. Todo verdadeiro evangelista precisa ser como um rei. Jesus nos deu
Sua autoridade para pisar serpentes e escorpiões, e, quando agimos assim, somos reis. Para ter domínio é preciso ter
imagem, assim como para ter realeza é preciso, antes, ter sacerdócio.
Em Gênesis, imagem e domínio aparecem em forma de uma semente que se desenvolve ao longo de toda a Bíblia até
que, em Apocalipse 5.10, vemos o resultado da germinação e do crescimento dessa semente: “e para o nosso Deus os
constituíste reino e sacerdotes; e reinarão sobre a terra”. Este é o cumprimento do propósito de Deus para o homem. No
final, nós reinaremos sobre a terra como reis e sacerdotes.
Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de
proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz. (1Pe 2.9)
Deus quer que sejamos bons mestres da Palavra, mas, acima de tudo, Ele quer que expressemos Sua imagem pelo
sacerdócio que, para nós hoje, fala do tempo que investimos na presença dEle.
Depois que o homem caiu, ele perdeu a imagem de Deus. Hoje, o homem nasce com a figura do pecado, pois
perdemos a glória de Deus (Rm 3.23). Assim, a obra do Espírito, hoje, é nos transformar para podermos expressar
Deus, mudando nossa imagem espiritual através da renovação da nossa mente por meio da Palavra, como disse Paulo,
a fim de que possamos exercer domínio, realeza. Somente quando nossa mente é renovada para pensar de acordo com
a Palavra é que somos transformados novamente na imagem do Senhor.
E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis
qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus. (Rm 12.2)
Além disso, precisamos contemplar o Senhor. Quanto mais tempo gastamos na presença de Deus, mais a imagem dEle
vai sendo impressa em nós, mais ficamos cheios da glória dEle.
E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de
glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito. (2Co 3.18)
Por toda a Palavra de Deus, vemos que somente aqueles que expressaram a imagem puderam exercer autoridade e
domínio. Abraão é a primeira pessoa da qual se diz que venceu o inimigo, e ele o fez porque edificou um altar. Altar nos
fala de oração e consagração – quanto mais oramos e adoramos, mais ficamos parecidos com Deus. E quanto mais
mostramos Sua imagem, mais autoridade temos.
José também manifestou domínio e autoridade porque ele andou em santidade e cumpriu o propósito de Deus. Todos
nós sabemos que a santidade é a imagem de Deus.
A respeito de Moisés, se diz que sua face brilhava por causa da glória de Deus (Ex 34.29,30). Assim, ele teve
autoridade para governar a casa de Israel e para vencer o inimigo (Ex 14.30,31). Paulo diz que precisamos contemplar o
Senhor e sermos transformados de glória em glória na imagem dEle (2Co 3.9). Quando isso acontece, temos autoridade
e domínio.
Foi Davi quem derrotou o inimigo e não Saul, porque era Davi quem tinha a imagem de Deus sobre si. Um adorador
sempre acaba por manifestar a imagem de Deus.
Daniel foi um homem que andou em santidade diante de Deus, alguém que expressava Deus (Dn 1.8), por isso foi
colocado numa posição de domínio e autoridade.
Por fim, o próprio Senhor andou aqui na terra como homem comum, mas manifestou autoridade sobre todas as coisas,
porque Ele continuamente expressava Deus, até ao ponto de ser transfigurado diante dos discípulos, expressando a
imagem que trazia da glória de Deus.

A bênção de Deus
E Deus os abençoou... (Gn 1.28a)
Esse versículo mostra a primeira vez em que a palavra bênção é mencionada na Bíblia. E em que circunstância esta
bênção foi liberada? Quando Deus alcançou Seu propósito, ou seja, quando teve o homem com Sua imagem para
exercer Seu domínio. Depois de ter concluído Seu trabalho, então, Ele abençoou o homem. Assim, vemos que a bênção
não é algo aleatório, mas alcança aqueles que estão debaixo do propósito do Senhor para sua vida.
A bênção está no propósito – ter o homem com Sua imagem para exercer Seu domínio. Hoje, esses dois aspectos se
manifestam pelo sacerdócio e pela realeza. A imagem de Deus e Seu domínio se manifestam pelo sacerdócio e pela
realeza. Quando entramos no sacerdócio, temos fé para exercer a realeza e, então, a bênção de Deus vem sobre nós.

O descanso de Deus
E abençoou Deus o dia sétimo e o santificou; porque nele descansou de toda a obra que, como Criador, fizera. (Gn 2.3)
Deus descansou, não porque estivesse cansado, mas porque estava satisfeito. Sendo assim, podemos dizer que o
significado do descanso de Deus é satisfação e prazer. A satisfação de Deus está ligada com Seu propósito
consumado. Deus havia planejado ter o homem com sua imagem para exercer o domínio. Então, após criá-lo no sexto
dia, Deus disse que tudo era muito bom (Gn 1.31) e, no dia seguinte, descansou.
O descanso é um princípio na Palavra de Deus, e a maneira apropriada de servirmos a Ele é no descanso. Isso vale
para nós hoje também. Quando não encontramos satisfação no Senhor e não estamos dentro do seu propósito, não
encontramos descanso. Antes, nossa vida torna-se um tremendo fardo para nós.
Em Gênesis 1.31 vemos Deus dizendo que tudo era muito bom, e Ele só disse isso no sexto dia porque foi ali que o
homem foi criado. Se desejamos entrar no descanso, temos de cumprir estas duas condições: satisfação e propósito.
Naturalmente, sabemos que o homem caiu e, com isso, quebrou o descanso de Deus. Jesus disse, como vemos em
João 5.17: “Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também.” Depois que o homem caiu, Deus voltou a trabalhar para
trazê-lo de volta à posição em que poderá cumprir Seu propósito eterno.
Quarto Dia
Os três começos de Deus
A Palavra de Deus, especificamente o evangelho, possui um ponto central. Envolvemo-nos em demasia com coisas
secundárias e até periféricas, enquanto o ponto central do evangelho é a Igreja, é Cristo dentro de nós.
Desde a eternidade passada, estava no coração de Deus Seu desejo de ter filhos. Deus intentava cumprir esse
propósito por meio de Adão, mas Adão pecou, e o propósito de Deus foi momentaneamente adiado. Mas hoje, em
Cristo, Seu propósito é restabelecido.
Dentro da visão celular, classificamos as igrejas como sendo igrejas de programas ou igrejas em células. As igrejas de
programas são todas cujo propósito é o fazer algo, o realizar atividades, ou seja, realizar programas.
As igrejas em células, por outro lado, têm outro objetivo. Seu alvo básico não é o fazer, o realizar programas, mas gerar
filhos e discípulos. Esse é o ponto central da visão de células, a base que sustenta toda a visão.
Todavia, com o passar do tempo, mesmo as igrejas em células podem tornar-se voltadas apenas para as atividades. As
próprias células podem se tornar apenas um programa, mais uma atividade da igreja.
Desta forma, a simples distinção entre igrejas em células e igrejas de programas não é suficiente para alcançar o centro
do propósito de Deus. Há um princípio básico que sustenta a igreja de programas, assim como há um princípio
fundamental na base da igreja em células. A mentalidade básica da igreja de programas é o fazer algo para Deus. Não
há preocupação com o propósito, desejam apenas fazer algo para Deus.
Por outro lado, em uma igreja celular, toda a atenção é voltada para a edificação, multiplicação e para o cuidado uns
com os outros. Há, portanto, dois princípios, duas visões sobre a obra de Deus: a visão de fazer algo para Deus, em
contraposição à visão de gerar alguém para Deus – fazer versus gerar.
Naturalmente, não estamos dizendo que seja errado fazer coisas para Deus. Não é questão de certo ou errado, de
conflito entre o pecaminoso e o santo. Para nós, é uma questão de paradigma, de modelo. Supomos que tanto os que
fazem coisas quanto os que geram filhos desejam agradar ao Senhor. A grande questão é qual dos dois paradigmas
atinge o objetivo de agradar ao coração do Pai.
Os que fazem coisas e promovem atividades realizam coisas louváveis, obras de misericórdia, serviços, artes e outras
realizações. Quem faz coisas para Deus deseja algo bom e até louvável. Trata-se de uma maneira de se enxergar o
relacionamento com Deus, baseado sempre em fazer coisas para o Senhor. Eles acreditam que só agradam a Deus
quando estão fazendo coisas para Ele.
Em oposição a esse modelo, há quem entenda que, no coração de Deus, está o gerar. Não que não façam mais coisas,
mas as coisas que fazem não são um fim nelas mesmas, mas apenas um meio de gerar mais para Deus. Esses dois
paradigmas são opostos entre si e se confrontam na Palavra de Deus. Esse contraste pode ser percebido nos três
começos promovidos por Deus em Gênesis.

O primeiro começo de Deus


No começo, Deus criou o homem, abençoou-o e disse: “Sede fecundos, multiplicai-vos e enchei a terra”. Deus ordenou
que eles fossem fecundos. É como se o Senhor dissesse para Adão: “Eu quero ter filhos. Criei você para ser meu filho.
Darei a você habilidade para transmitir aos seus filhos a minha imagem, essa vida que eu quero que você tenha”.
Deus planejava que Adão comesse da Árvore da Vida e assim recebesse dentro de si a própria natureza divina. Dessa
forma, os filhos dele teriam a semelhança de Deus. Todavia, Adão pecou e já não podia transmitir a imagem de Deus, e
sim a própria imagem caída. Em Gênesis 5.3, lemos: “Viveu Adão cento e trinta anos, e gerou um filho à sua
semelhança, conforme a sua imagem”. O filho de Adão já não era a semelhança de Deus. Era a semelhança do próprio
Adão. Por quê? Porque, ao pecar, Adão perdeu a imagem da glória de Deus. A imagem de Deus é a Sua própria glória
e a glória de Deus está na face de Cristo, que é a exata semelhança de Deus Pai (2 Co 4.6). No Éden, Adão e Eva
estavam vestidos da glória de Deus, mas, no dia em que pecaram, perderam a glória. Por isso, o autor da Carta aos
Romanos diz que todos pecaram e foram destituídos da glória de Deus. Eles perderam essa glória.
A consequência da queda foi a perda da imagem divina. Ao cair, o homem foi contaminado pelo pensamento de Lúcifer,
recebendo em si a semente do diabo, e agora ele não está mais preocupado em cumprir o propósito de Deus. Sua
preocupação agora é outra, é ter realizações e feitos para receber reino, poder e glória para si mesmo. O homem quer
agora uma posição, um título de honra e é isso o que vemos no decorrer da narração bíblica.
Os capítulos 4 e 5 de Gênesis nos dão um retrato de duas gerações de homens a partir de Adão: os descendentes de
Caim e os descendentes de Sete. Duas gerações representando dois tipos de homens e dois paradigmas: o do fazer e o
do gerar.
A Bíblia até menciona que Caim teve filhos, mas o principal que se diz a respeito da sua geração é que eles fizeram
coisas, eram grandes realizadores. No versículo 17 do capítulo 4, ficamos sabendo que Caim construiu uma cidade,
evidência de sua extrema habilidade. Ele construiu uma cidade para o filho, o que exige habilidade, talento, trabalho e
muita criatividade.
A narração continua até chegar a Lameque (v. 19). Esse homem teve duas esposas, Ada e Zilá. Ada deu à luz a Jabal,
o pai dos que habitam em tendas e possuem gado. O texto diz que ele foi pai, porém, pai dos que fazem alguma coisa.
A ênfase não está nos filhos, mas na habilidade que eles têm, no que eles produzem.
Depois, no verso 21, lemos a respeito de Jubal, pai dos que tocam harpa e flauta, dos que trabalham com arte e
diversão. Você consegue perceber a habilidade dessa gente? Além deles, lemos no verso 22 a respeito de Tubalcaim,
que era artífice, alguém que, além de ter habilidade artística, também dominava a técnica do artesão. Artífice é uma
mistura do artista com o artesão. Ele era entendido em produzir obras de arte de bronze e de ferro, bem como armas
cortantes.
Se vivessem em nossos dias, essas pessoas estariam nas capas das revistas. Elas realizam grandes coisas e fazem
grandes feitos. Tudo digno de nota. Eles são a descendência de Caim. O valor deles é exclusivamente este, o que
fazem. O texto bíblico não diz quanto tempo viveram – indicando que para Deus estavam mortos –, apenas registra o
que realizaram.
Em oposição à descendência de Caim, no capítulo 5, encontramos a geração de Adão por meio de Sete. A respeito
dessa geração, não se diz que fizeram ou realizaram coisa alguma. Eles apenas geraram filhos.
Veja o que diz o capítulo 5, verso 4: “Depois que gerou a Sete, viveu Adão oitocentos anos; e teve filhos e filhas”. É algo
impressionante! No verso 7, descobrimos que “depois que gerou a Enos, viveu Sete oitocentos e sete anos; e teve filhos
e filhas”. O mesmo vemos no verso 10: “Depois que gerou a Cainã, viveu Enos oitocentos e quinze anos; e teve filhos e
filhas”. Esse padrão se repete com relação a todos daquela geração. Eles apenas viveram e geraram filhos. O fato de se
mencionar a idade de cada um, em oposição à geração de Caim, indica que eles viveram aos olhos de Deus.
Talvez você questione que Enos e Noé também fizeram coisas para Deus. De fato, sobre Enos, diz-se que, a partir dele,
começou-se a invocar o Senhor. Todavia, invocar e orar são coisas tidas como nada aos olhos da geração de Caim. Até
entre os cristãos, há essa mentalidade. Certa vez, um irmão foi até a casa de um pastor pedir sua ajuda. Ao chegar,
perguntou ao pastor: “Você está fazendo alguma coisa?” O pastor lhe respondeu: “Eu estou orando”. Diante da
resposta, o irmão retrucou: “Bom, já que não está fazendo nada, poderia vir comigo resolver um problema”. Essa é a
mentalidade de Caim, para quem a oração não é fazer algo.
Entretanto, nas gerações de Adão, houve quem realmente fez algo para Deus: Noé. Ocorre que até o fazer dele não era
em função de uma obra, um programa ou uma realização artística ou ministerial. A obra de Noé teve o propósito de
preservar a vida, não o trabalho em si mesmo. Além disso, o fazer de Noé teve algum valor para a geração de Caim?
Podemos até imaginar Jabal apresentando seu último modelo de tenda, Jubal dando um concerto com sua mais nova
sinfonia para harpa e flauta e Tubalcaim expondo suas obras de arte em bronze. Eles viram-se para Noé e perguntam:
“Qual é a sua realização?” E Noé seriamente diz: “Eu estou construindo uma arca”. “Mas, para quê?”, perguntam eles.
“Porque virá um grande dilúvio e na arca estaremos salvos”, responde Noé. Os outros meneiam a cabeça, com um olhar
condescendente, como a dizer: “Pobre homem, investindo a vida em algo inútil!”.
Essa é a atitude da geração de Caim. Quando dizemos que nosso trabalho é edificar uma grande arca, os Cains riem de
nós. A arca é, na verdade, um símbolo da Igreja, que será preservada no Dia do Juízo de Deus. Eventualmente, me
perguntam se eu sou só pastor ou se eu também trabalho. Quem vive para gerar é sempre desprezado pela geração de
Caim.
Observe como as donas de casa são tratadas do mesmo jeito. Sempre há alguém perguntando: “A senhora é apenas
dona de casa ou trabalha também?” Gerar é algo desprezado pelo mundo. Uma mulher que decide abandonar uma
carreira para ter filhos é taxada de louca. “Como é possível deixar uma carreira por causa de filhos?” E as que
investiram a vida criando filhos são acusadas de terem desperdiçado sua existência.
Há dois tipos de pensamento, de paradigma. E esses dois tipos de mentalidade vão permear toda a Palavra de Deus.
De um lado, a mentalidade dos que querem fazer algo para Deus. Do outro, a mentalidade dos que querem gerar filhos
para o Senhor.
Talvez essas diferenças ainda pareçam algo muito abstrato, mas creia, fazem toda a diferença. Todos nós devemos ter
o compromisso de gerar filhos, cuidar deles, discipulá-los e levá-los a crescer para que eles também tenham seus
próprios filhos. Isso não significa que não precisamos fazer coisas, até porque certas atividades são imprescindíveis
para manter a vida. Mas não faça das atividades o foco de sua vida cristã. Ter filhos, sim, é o centro de nossas vidas.

O segundo começo de Deus


Antes do dilúvio, o homem decaiu a tal ponto que Deus precisou enviar o juízo e destruir toda aquela geração. Depois
do dilúvio, entretanto, Deus realiza um segundo começo. O primeiro começo foi com Adão, o segundo vem com Noé.
Após destruir toda a humanidade, Deus começa tudo de novo com Noé, no capítulo 9 de Gênesis. E disse Deus a Noé:
“Sede fecundos, multiplicai-vos e enchei a terra” (Gn 9.1).
Deus não muda. Seus propósitos, desígnios e pensamentos se mantêm de eternidade a eternidade. O que foi dito a
Adão, também o foi a Noé, porque Deus não muda os Seus propósitos. Hoje, Ele diz o mesmo também a nós. Deus
jamais mudou o que deseja em Seu coração. Anteriormente, vimos que Suas primeiras palavras denotam Seu coração.
Mas agora vemos que aquilo que sempre é repetido também expõe o que está em Seu coração.
A geração de Noé também não respondeu a Deus. Ao acompanhar suas gerações, chegaremos até a Torre de Babel,
no capítulo 11.
Deus disse: “Multiplique-se, seja fecundo e encha a terra”. Para encher a terra, há que se espalhar por ela. Todavia,
encontramos os homens de Babel fazendo algo frontalmente contrário ao propósito de Deus. Eles disseram entre si
mesmos: “Vinde, edifiquemos para nós uma cidade e uma torre cujo topo chegue até aos céus e tornemos célebre o
nosso nome, para que não sejamos espalhados por toda a terra” (Gn 11.4).
Veja o mesmo princípio de Caim atuando novamente. Deus manda o homem gerar, mas a sua reação é fazer algo. A
Torre de Babel tinha um propósito místico, esotérico, pois seu alvo era tocar nos céus. Babel é o surgimento da religião
performática das grandes obras. Seu conceito se desenvolve no decorrer da Palavra de Deus e, no final, ela se
transforma na Grande Babilônia descrita em Apocalipse, um sistema religioso abominado por Deus.
Deus abomina esse sistema religioso começado em Gênesis, o princípio de Babel, de fazer coisas para ter um nome, a
visão de ser famoso e reconhecido, de ser visto, não pelo número de filhos que se tem, mas pelas realizações que se
faz.
Todo que segue o paradigma do fazer coisas deve admitir que, no fundo, deseja ser conhecido. Se os cantores fossem
colocados para cantar em nossos cultos no meio do povo, logo desanimariam e diriam que a igreja não reconhece seus
ministérios.
Qualquer ministério sem sala especial ou crachá de identificação logo morrerá, e ainda dirão que foi por falta de
reconhecimento. Reconhecimento para os discípulos de Babel é ter o nome conhecido e publicado. Todavia, Babel é o
oposto do mover de Deus.

O terceiro começo de Deus


O começo de Deus foi primeiro com Adão, que caiu. O segundo foi com Noé, que resultou em Babel. Agora, Deus
chama Abraão dizendo:
De ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção! Abençoarei os que te
abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da terra. (Gn 12.2,3)
Deus diz a Abraão o mesmo que disse a Adão e a Noé, mas em outras palavras. Antes o Senhor disse: “Eu os
abençôo”, mas desta vez Deus diz para Abraão: “Seja uma bênção! Você quer ser uma bênção, Abraão? Através de
você todas as famílias da terra serão abençoadas”.
Abraão entendeu o que queria dizer a afirmação de Deus. Ele sabia que ser uma bênção para toda a terra implicava ter
filhos. O próprio nome Abrão significa “Pai exaltado”, e o nome recebido depois, Abraão, significa “Pai de multidões”.
Aquele que é chamado para ser pai de nações obviamente precisará ter muitos filhos. Ao lhe dar um nome, Deus
revelava a Abraão o Seu coração, o que havia em Sua mente. Era como se Deus dissesse: “Abraão, eu lhe chamei para
ser pai. Eu não lhe chamei pra fazer nada, apenas para ser fecundo”.
O que Abraão fez em toda sua vida? Nada. Sejamos sensatos. Como Abraão iria abençoar as famílias da terra?
Fazendo obras extraordinárias? Fazendo alguma coisa? Como é que Abraão seria uma bênção para as famílias da
terra? A única maneira seria tendo filhos. Ao olharmos a história de Abraão, veremos que a vida dele foi uma luta em
torno de como ter um filho. Abraão terá um filho ou não? Você consegue imaginar um homem ficar a vida inteira em
função de ter filhos? Isso nos parece uma contradição.
Pelo pensamento de hoje, o chamado de Deus a Abraão seria algo assim: “Abraão, o diabo está construindo uma
grande torre. Eu quero que você vá e construa uma ainda maior para mim”. O conceito de Babel diz que, para honrar a
Deus, temos de fazer algo maior; mas o conceito de Deus não é sequer o fazer, mas o gerar.
Dessa forma, a ordem dada a Adão, no Jardim do Éden, a Noé, em Gênesis 9, e a Abraão, em Gênesis 12, é a mesma
que recebemos hoje. Deus quer o mesmo de nós. Ele não mudou, Ele continua desejando ter filhos. E Abraão sabia
disso.
O chamado de Deus a Abraão foi unicamente para Abraão ter um filho. Parece cruel chamar alguém para ter um filho
quando esta pessoa já não tem idade apropriada e sua esposa é estéril. Talvez Abraão pensasse: “Deus, peça o que o
Senhor quiser que eu faça e realizarei para Ti, mas não me peça um filho porque não posso gerá-lo”.
É o mesmo princípio que vemos hoje na Igreja. Deus não nos chamou para fazer coisas, mas para gerar filhos. Ao
perguntarmos a um pastor quantos membros há em sua igreja, ele se ofende e diz: “Eu não tenho poder para converter
ninguém”. Em outras palavras, “Não está em mim o poder de gerar filhos”.
Mas essa afirmação contradiz o propósito de Deus. Como Abraão, fomos chamados para ser pais de nações. Como ele,
não podemos gerar por nós mesmos; mas, se tivermos fé e disposição de obedecer, como ele teve, certamente Isaque
virá e, com ele, numerosas nações. Não tenha dúvidas de que fazer coisas é mais fácil do que gerar filhos. Gerar filhos
traz pressão; fazer coisas apenas traz cansaço. Gerar filhos nos força a depender de Deus; enquanto podemos fazer
coisas por nós mesmos. Gerar filhos exige fé; fazer coisas exige apenas trabalho.
Muitos são acusados de querer filhos ou uma igreja grande por mera vaidade. Ninguém é mais acusado de ser vaidoso
do que o pastor de uma grande igreja. Ora, a Palavra de Deus diz que a mentalidade de Babel é buscar tornar o próprio
nome célebre. Todavia, é interessante ver o Senhor dizer a Abraão que tornaria o nome dele grande (Gn 12.2). É como
se Ele dissesse: “Abraão, se você gerar filhos, seus próprios filhos exaltarão o seu nome”. A questão não é se ficaremos
famosos ou não. A grande questão é quem está trazendo essa fama. Você está tornando seu próprio nome célebre ou
Deus o está engrandecendo? Preste atenção! Quem quer tornar seu nome célebre faz coisas. Todavia, quem gera filhos
espera que Deus engrandeça seu nome através deles.
Em muitos lugares, as pessoas parecem ocupadas demais fazendo muitas coisas, mas, na verdade, apenas querem
tornar célebres os próprios nomes.
A maioria dos que fazem, fazem para serem vistos. Poucos fazem algo apenas pelo prazer de fazer para Deus. Não que
seja errado fazer coisas, mas a ênfase não pode estar no trabalho. Não é esse o centro do coração de Deus.
Realizando grandes obras e coisas para Deus, apenas nos entretemos e fugimos da pressão. Fazer coisas é fugir da
pressão de ter que gerar discípulos. Discípulos gastam tempo e exigem lágrimas e fé. O que seria mais fácil? Abraão ter
um filho ou construir uma torre? Ora, imagino que seja bem mais fácil construir a bendita torre.
Às vezes, pergunto a líderes da igreja local: “Você já ganhou alguma alma?” Eles ficam em crise: “Como vou ganhar
uma alma? Eu não tenho o poder de convencê-las do pecado”, dizem eles. O que eles não compreendem é que a
ordem do Senhor não mudou. A ordem de Deus se mantém a mesma. Deus quer que geremos filhos.
Muitos se escondem atrás do fazer. Não há crise por não ter filhos já que estão fazendo algo para Deus. Como se
dissessem: “Já estou fazendo algo para Deus, não venham me incomodar”. Há quem diga com todas as letras: “Diga o
que eu tenho de fazer e eu farei, mas não me mande ganhar ninguém”. Infelizmente, até pastores têm essa mentalidade
babilônica.
Para alguns pastores, perguntar o número de membros de suas igrejas é quase uma ofensa. Recentemente, ao
perguntar para um pastor o tamanho da igreja que pastoreava, ele se ofendeu comigo, dizendo: “Eu não tenho poder
sobre isso, Deus é que convence. Se Ele não fez, o problema não é meu”. Ele não utilizou esses termos, contudo o
resumo de sua defesa foi essa.
Ao afirmar não ter o poder de gerar, esse pastor mostrou ignorância sobre o nosso verdadeiro chamado. Nós temos,
sim, o poder de gerar. A suposta incapacidade de gerar filhos para Deus é mentira do diabo. Há muita gente estéril no
seio da Igreja, mas a estéril Sara foi curada por Deus.
Todos devem gerar filhos para Deus. As pessoas ficam embriagadas fazendo coisas. Essa é a mentalidade de Caim, de
Babel. Impressiona uma igreja ter de 150 a 200 ministérios e ser vista como uma igreja que faz, que trabalha. Só uma
coisa o Senhor nos pediu. Somos livres para fazer coisas. Todavia, apenas uma coisa é necessária: gerar filhos para
Deus.
Só haverá mudança no mundo, se gerarmos filhos para Deus. A lógica é simples: se as pessoas são transformadas, a
nação é restaurada. Alguns movimentos oram pela restauração do Brasil e usam 1 Pedro 2.9 como base para seus
propósitos. A realidade, porém, é que a nação santa é o povo de Deus, e não a nossa pátria terrestre. Nem mesmo
Israel é a nação santa, mas a Igreja, que é composta por todos os que foram gerados por Deus.
A nação de Deus é a Igreja. Ela é povo de Deus, não o Brasil ou qualquer outro país. Outro dia perguntei a um promotor
dessa visão como será o Brasil quando ocorrer essa restauração. Sua resposta me intrigou mais ainda. Ele descreveu
um Brasil nos padrões de uma Suécia ou Suíça.
Ora, quando o Brasil for como a Suécia ou como a Suíça, ainda assim será uma nação morta precisando de Deus. Se a
Suécia ou a Suíça fosse o reino dos céus, Jesus estaria reinando lá. Na verdade, a nação de Deus, a nação santa, é
composta apenas pelos filhos de Deus. Nós nos preocupamos com a nação, mas Deus se preocupa com a Igreja.
Preocupar-se com a restauração da nação em si mesma não cumpre o propósito de Deus. Precisamos ganhar os
brasileiros, pregar o evangelho e gerar filhos para Deus. Esse é o anseio que deve permanecer em nosso coração e se
fortalecer no coração da Igreja.
Ao ministrar sobre esse tema, fico inquietado. Deus nos chamou para algo e o diabo tenta nos embriagar e nos desviar
para outras coisas. Ele procura prender nossa atenção em coisas que, embora não sejam erradas, tiram nosso foco do
ponto central. Apenas a filiação é o fundamental na vida cristã. A Igreja deveria orar e chorar, como Raquel, à procura
de filhos: “Senhor, dá-me filhos se não eu morrerei!” (Gn 30.1).
Abraão creu quando Deus disse que ele seria pai de multidões. No fim, o que contará são as vidas. Tudo o que se faz
passa. Apenas os filhos permanecem.
De nada adianta realizar grandes coisas e não mover o coração de Deus. É ilusão realizar feitos sem o propósito de
gerar filhos. Muitos dedicam a vida inteira nesse sentido. Nossa dedicação deve se concentrar em gerar filhos, cuidar
deles, fazer com que se tornem discípulos, reproduzindo neles a nova identidade dos filhos de Deus.
Passei a juventude “inventando moda”. Criava tanta programação na igreja, tantas invenções saíam da minha mente.
Contudo, nada disso teve o valor que imaginei. O que teve valor foram os filhos que gerei e que permanecem até hoje
como discípulos.
Volto a repetir que não somos contra fazer coisas e realizar atividades. Nós temos atividades, mas elas não são o centro
do nosso trabalho. O centro do nosso trabalho é gerar filhos para Deus. Claro que fazemos muitas coisas necessárias.
Temos de manter e limpar o prédio da igreja, imprimir material de treinamento. Evidentemente, alguém precisa parar
para digitar o texto e enviar para a gráfica. Muitas coisas são feitas, e elas são necessárias. Todavia, não são um fim em
si mesmas. Alguém precisa fazê-las e ganhará sua recompensa pelo feito, mas o coração de Deus só se alegra quando
um filho nasce.
É como a mulher que espera o filho. Ela se prepara, arruma o quartinho do nenê. Se ela tem algum dom especial,
certamente o colocará em prática. O pai pintará o quarto, fará a decoração. Enfim, há muitas coisas a se fazer enquanto
se espera o filho. Contudo, depois do nascimento do menino, alguém nota essas coisas? Se o menino não nascer,
adianta tudo isso? Não seria uma grande frustração, um vazio terrível? Há igrejas assim. Arrumam o quarto, vivem
pintando coisas, fazendo brinquedinhos e roupinhas, mas o filho nunca vem!
O reconhecimento é esperado em toda atividade. Contudo, essa não é a base da Igreja, mas sim o gerar. Ao gerar, não
há necessidade de elogios, pois o reconhecimento vem do filho. A alegria do pai é escutar do filho: “Você é o melhor pai
do mundo. Não há pai como você”. O pai sabe que pode até não ser verdade, que é um tremendo exagero, mas ele fica
todo feliz e cheio de si. Então, o menino vai crescendo e diz: “Pai, eu quero ser como você”. Há alegria maior para um
pai? A glória do pai é ter alguém querendo andar e ser como ele.
Não há alegria maior do que ouvir um discípulo falar coisas como: “Você acredita mais em mim do que eu mesmo”.
Quando ouço: “Tenho aprendido tanto com você, minha vida foi transformada”, esse reconhecimento mostra os filhos
que tenho gerado. Os filhos são a minha glória e o meu louvor. Eles é que me motivam. Eu não largaria isso por nada na
vida. Jamais deixaria de gerar meus filhos para fazer coisas. Não vejo lógica nessa atitude. Um filho aponta para a
eternidade. É uma marca mais profunda.
O que você quer dar para Deus que Ele não tenha? Uma música? Sejamos francos, os anjos adoram o Senhor com
canções muito melhores que as nossas. Você quer fazer uma pintura para Deus? Onde Ele pregará seu quadro? Já viu
os quadros que Deus pinta todos os dias? Deus possui tudo, mas ainda assim há algo que Ele nos pede na Bíblia:
“Filho, dá-me o seu coração”. Ele não tem o coração dos homens, e é isso que Ele quer. O que Ele pedirá no dia do
julgamento dos vencedores, no Tribunal de Cristo? O que você acha que Ele lhe perguntará? Certamente será: “Onde
estão os seus filhos?”
Jesus poderia ter usado uma série de ilustrações para descrever seus discípulos, mas é precioso ouvi-lo dizer que
somos sementes. Devemos ser como a semente que só tem uma utilidade, reproduzir-se.
Consegue imaginar um monte de sementinhas querendo fazer obras para Deus? “Vamos fazer para Deus uma grande
torre”, dizem elas. E começam a subir umas nas outras e a construir. Mas há uma indo contra a correnteza. Ela diz: “Eu
quero gerar para Deus, e vou me enterrar e esperar Ele fazer”. As outras dizem: “Isso é desperdício de potencial. Vamos
fazer alguma coisa para Deus”. Ao que a sementinha diz: “Não, eu quero é gerar”. As outras ficam fazendo algo para
Deus e, com o tempo, elas conseguem juntar um monte de palha e feno. A sementinha, no entanto, brota do chão e
começa a crescer. Num belo dia, começa a gerar fruto para Deus. Quem você acha que cumprirá o propósito do
Senhor? A obra das sementinhas ou os frutos da semente? Não preciso responder.
No dia do julgamento, alguns trarão ouro, prata e pedras preciosas, outros trarão madeira, palha e feno. Pedro disse que
somos pedras vivas. Portanto, ouro, prata e pedras preciosas nos falam de pessoas para Deus, enquanto madeira,
palha e feno nos falam de obras humanas, trabalho humano.
A Bíblia fiz que o fogo de Deus testará a obra de cada um. O que o fogo consumir irá se perder, a pessoa será salva,
mas não terá recompensa (1 Co 3). Todavia, o que o fogo não consumir ficará para ela como recompensa e glória. Sabe
qual a única coisa que o fogo não consome? Fogo não consome fogo. A Carta aos Hebreus diz que os filhos de Deus
são ministros feitos labaredas de fogo (Hb 1.7). No dia em que você creu em Jesus, você foi feito filho de Deus. O que
Deus é? Deus é fogo consumidor e os Seus filhos são pequenas labaredas de fogo porque nós somos da Sua natureza.
Quando Deus vem até você, Ele não lhe ferirá, só aumentará seu fogo, fogo não destrói fogo. Contudo, ai de quem não
for fogo. A presença de Deus será um inferno para essa pessoa.
Só quem é fogo gera filhos para Deus que serão fogo também. No instante em que sair o fogo de Deus e passar por
todos nós, esse fogo queimará a madeira, a palha e o feno. Em seguida, o Senhor verá o que sobrou. Sobrará somente
o que for fogo também, ou seja, os filhos que nós geramos para Deus.
Quando você estiver diante de Deus, o que acha que será requerido de você? Você quer ser vencedor? Só reinará
aquele que tiver coroa. Quem é nossa coroa e glória? Segundo o apóstolo Paulo, os filhos são a nossa coroa e glória
(Fp 4.1; 1Ts 2.19). Se quiser reinar naquele dia, apresente para Deus o que Ele deseja.
Não quero descobrir depois de velho que estava fazendo algo que não era o centro do coração do Senhor. Seu desejo é
que geremos filhos. Você consegue se lembrar de algo que Jesus tenha feito? A Bíblia não diz que Ele construiu coisa
alguma. Não organizou nada, nem mesmo os Evangelhos Ele escreveu. A única coisa que Ele fez, com excelência, foi
gerar filhos.
Paulo era fabricante de tendas. Contudo, nunca ocorreu a ele fazer uma grande tenda para abrigar a igreja de Éfeso ou
Corinto. E por quê? Será que Paulo não tinha visão? Paulo mostra-se uma pessoa altamente pragmática. Ele não perdia
tempo fazendo coisas. Seu alvo era gerar para Deus.
Alguém pode questionar que Paulo escreveu muitas cartas. De fato, Paulo escreveu muitas epístolas. Todavia, tais
cartas não são fruto de um ministério epistolar. Ele escrevia por razões mais prosaicas. Ele escrevia para cuidar dos
filhos que possuía. Os coríntios, Timóteo, Tito, Filemom eram todos filhos dele. Ele apenas cuidava deles. Como não
havia internet e nem telefone, então ele usava as cartas. Tratava-se de um instrumento. E graças a Deus por elas,
porque nós podemos hoje conhecer o Evangelho de Deus. Todavia, do ponto de vista natural, Paulo não era um
realizador. Ele não construiu nada.
Precisamos ter cuidado com a pergunta que o Senhor fez em Lucas 13.7: “Há três anos venho procurar fruto nesta
figueira e não acho; podes cortá-la; para que está ela ainda ocupando inutilmente a terra?”
Quinto Dia
O propósito eterno em Apocalipse
O propósito eterno de Deus está revelado em Gênesis. Para compreendermos a Palavra de Deus, precisamos entender
qual era Seu propósito original, qual era Seu sonho, aquilo que estava em Seu coração desde a eternidade passada.
Esse propósito nos é revelado em Gênesis, quando o Pai disse: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a
nossa semelhança” (Gn 1.26-28). Imagem e semelhança são duas palavras chaves. O Senhor queria ter o homem à
Sua imagem, para que o mesmo pudesse expressá-lo de tal maneira que, quem o visse, estaria como que vendo Deus.
O verso vinte e oito nos explica o motivo pelo qual o homem deveria ter a imagem: “para que ele tenha domínio”. Deus
deseja um homem que seja a Sua imagem e semelhança para que tenha domínio, em outras palavras, governe. Esse
era Seu propósito e, para que pudesse ser alcançado, esse homem, que era a imagem e semelhança, tinha também
que ser cheio de Deus. O Senhor Deus, então, o colocou diante da Árvore da Vida para que pudesse receber a vida
divina dentro de si.
A Árvore da Vida aponta para o próprio Senhor Jesus. A Bíblia diz que a Vida estava nEle (Jo 1.4), e Ele mesmo disse
que era a Vida (Jo 14.6). O que Deus tinha em mente é que Adão pudesse comer daquele fruto e receber o Senhor
como vida dentro de si. Esse era o propósito de Deus, mas, no capítulo três de Gênesis, vemos que o diabo entra em
cena e o homem cai em pecado. Deus, então, planeja um meio de restaurar o homem, e o que vemos a partir de
Gênesis 3 até Apocalipse 21 é simplesmente a história da redenção.
A redenção não é o propósito de Deus, pois Seu propósito não era salvar o homem. Deus não criou o homem para que
este viesse a cair em pecado. O propósito de Deus era ter um homem com Sua imagem, cheio de Sua vida, para que o
homem pudesse reinar sobre a terra. Esse era o propósito de Deus. Mas, uma vez que o homem caiu, a redenção
tornou-se necessária. Contudo, a partir do momento em que o homem é redimido e salvo, Deus pode voltar a Seu
propósito original.
O que encontramos nos capítulos 21 e 22 de Apocalipse é, simplesmente, a conclusão do propósito original de Deus.
Quando Deus criou o homem, como vemos no primeiro capítulo do livro de Gênesis, Ele tinha em mente o que está em
Apocalipse 21 e 22 (Ef 1.9-11; 3.9-11). Para alcançar esse propósito, Deus tratou com o homem de diversas formas,
chamadas dispensações. O fato de se fazer novos céus e nova terra indica que as dispensações de Deus estarão
completadas no final de Apocalipse.
No decorrer da História, houve várias dispensações através das quais Deus aperfeiçoou um povo e pôde revelar mais
de Si mesmo ao homem. Sabemos que não existe evolução humana, o que existe é a evolução da revelação de Deus
ao homem. A revelação que Noé e Abraão tiveram de Deus é muito inferior à que temos hoje, por exemplo. Essa
revelação foi se desenvolvendo ao longo da história bíblica e, em Apocalipse, atingiremos a consumação da revelação
de Deus.
Podemos dizer que, ao final de tudo, terão existido sete dispensações:
..Inocência – da criação até a queda;
..Consciência – da queda até o dilúvio;
..Governo humano – do dilúvio até Abraão;
..Patriarcas – de Abraão até Moisés (Rm 5.14);
..A lei – de Moisés até Cristo (Jo 1.17);
..A graça – da vinda de Cristo até Sua volta (At 3.20-21);
..O reino – por mil anos depois da vinda de Cristo (Ap 11.15; 20.4-6).
Por meio da última dispensação, Deus completará Sua obra e, então, virão novos céus e nova terra. Nela, o Senhor
aperfeiçoará Israel e o restante da Igreja que não foi aperfeiçoado. Depois que formos arrebatados aos céus, todos os
santos redimidos estarão na Nova Jerusalém, que descerá do céu quando houver uma nova terra. Isso indica que nossa
habitação eterna não será o céu, mas, sim, a Nova Jerusalém que descerá do céu. O fato de ser a Noiva parece indicar
que é um símbolo – representa a Igreja glorificada–, todavia, não podemos afirmar que tal cidade não exista fisicamente.
Sei que muitos sonham andar nas ruas de ouro, e talvez fiquem um pouco decepcionados com o que vou dizer. A Nova
Jerusalém é um símbolo de algo muito mais profundo e muito maior, que a nossa mente, hoje, não seria capaz de
compreender. Respeito as pessoas que sonham em morar numa mansão celestial com três quartos e duas suítes, com
uma rua de ouro para andar. Respeito os que gostariam de dormir numa nuvem tocando harpa. Acho isso tudo muito
interessante. Mas, onde o ouro é cascalho, quem liga para ele? Nós nos importamos com ouro aqui porque é raro, difícil
de ser encontrado, difícil de obter; se cascalho fosse ouro, ninguém se interessaria por ele. Portanto, tudo na Nova
Jerusalém é simbólico. Porém, se alguém insiste em crer que é literal, não há problema, o importante é estar lá naquele
dia.
A intenção de Deus é mostrar que os santos de todas as épocas vão constituir, no final do milênio, a Nova Jerusalém, o
lugar da habitação eterna de Deus. O Senhor não habita em lugares feitos por mãos humanas; Deus habita em nós e
em nosso meio. Seremos a habitação de Deus e também seremos a Noiva, vamos nos casar com Deus. Sendo assim,
temos que ser Sua imagem, porque ninguém se casa com criatura de outra espécie. Nós somos da espécie de Deus, do
Seu tipo, e mais: Ele está apaixonado por nós.
Essa cidade será a noiva de Cristo e também o tabernáculo de Deus para Sua habitação com o homem (v. 3). Para
Cristo, será a Noiva, para deleite e satisfação – tanto no Velho como no Novo Testamento, Deus compara Seu povo
com uma esposa (Is 54.6; Jr 3.1; Ez 16.8; Os 2.19; 2Co 11.2; Ef 5.31,32). Para Deus, a Nova Jerusalém será Sua
habitação eterna (Ex 29.45,46; Nm 5.3; Ez 43.7, 9; Sl 68.18; 1Co 3.16,17; 6.19;
2Co 6.16; 1Tm 3.15).

A Nova Jerusalém
Em Apocalipse 21.9-27, temos a descrição da Nova Jerusalém. Ela é a composição de todos os remidos, é um edifício
vivo. Na Bíblia, vemos duas obras básicas de Deus: a criação e a edificação. Na obra da criação, Deus ordena:
“Haja...!”, e aquilo cuja existência foi ordenada, passa a existir. Mas na obra de edificação, Ele reúne os elementos que
foram criados e deles faz outra obra. Na criação, Ele apenas ordena, mas, na edificação, é empregado um processo
laborioso.
Se observarmos os materiais no capítulo dois de Gênesis, veremos que eles se repetem nos capítulos 21 e 22 de
Apocalipse. Isso ilustra a relação entre a criação e a edificação. O rio que sai do Éden (Gn 2.10) é o mesmo que sai do
trono de Deus e do Cordeiro (Ap 22.1); a Árvore da Vida, plantada no meio do Jardim do Éden (Gn 2.9), é a mesma que
está no meio da praça da Nova Jerusalém (Ap 22.2); os minerais, em forma bruta em Gênesis 2.11,12, são encontrados
em forma acabada na muralha da Jerusalém celestial (Ap 21.18-21). A obra da criação não era o propósito final de
Deus; Seu alvo era edificar a Nova Jerusalém mostrada em Apocalipse 21.
Sabemos que o rio simboliza o Espírito Santo, e a Árvore da Vida, com seus frutos, é uma imagem do Senhor Jesus. As
pedras devem, assim, simbolizar os santos. Isso pode ser ilustrado na Palavra de Deus em muitas ocasiões. O primeiro
exemplo é o sonho de Jacó mostrado em Gênesis 28.17. É a primeira revelação da Casa de Deus, a escada que liga a
terra ao céu. Em Gênesis 28 lemos que Jacó, fugindo de Esaú, chegou a certo lugar e ali passou a noite. Tomou uma
das pedras do lugar e fez dela seu travesseiro (v.11), dormiu e teve este sonho: uma escada que ligava a terra ao céu,
com os anjos subindo e descendo por ela. Tendo despertado do sono, disse que aquele lugar era a Casa de Deus, a
porta dos céus. Depois, tomou a pedra que lhe servira de travesseiro e derramou azeite sobre ela. Aquela pedra era um
símbolo de outra que viria – Jesus Cristo, a pedra angular – e todos nós, hoje, somos pedras cobertas com azeite, e
constituímos a Casa de Deus, o lugar onde está a escada que liga a terra ao céu.
O segundo exemplo está em Mateus 16. Nesta passagem a Igreja é revelada pela primeira vez e o Senhor mostra como
deve ser edificada. A Igreja é edificada pela transformação de Simão em Pedro. Sem transformação, não há edificação,
porque naturalmente somos pó, somos barro. Mas a Casa de Deus somente pode ser edificada com pedras.
Jesus perguntou a seus discípulos quem eles pensavam que Ele era. Pedro pulou na frente e respondeu: Tu és o Cristo,
o Filho do Deus vivo. Então, Jesus lhe afirmou: Bem-aventurado és Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que
to revelaram, mas meu Pai, que está nos céus. Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a
minha Igreja. (Mt 16.16-18)
Essa pedra era o próprio Cristo, mas também era a revelação que transformou Simão em pedra. Depois da sua
confissão, o Senhor mudou o nome de Simão para Pedro. Ter o nome mudado significa ter a vida transformada, e
Simão fora transformado numa nova pessoa, um novo homem que agora era como uma rocha, uma pedra apta para
participar do edifício do Pai. E não apenas Pedro foi transformado para ser útil na edificação da Igreja, mas todos nós
devemos ter a mesma experiência para sermos parte dela. O próprio Pedro diz que todos fomos feitos pedras espirituais
por meio do novo nascimento:
Também vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de
oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo. (1Pe 2.5)
A Nova Jerusalém é esse edifício vivo feito de pedras que vivem, construído para a habitação eterna de Deus. O Senhor
edifica transformando cada um em pedra. Jesus é a pedra angular, e o trabalho do Espírito Santo é nos fazer
semelhantes a essa Pedra. Qualquer um que é edificado em cima dela é também transformado em sua semelhança.
Qualquer um que vem ter com Jesus é feito pedra semelhante a Ele. Por isso, Pedro afirma que somos pedras que
vivem, edificadas como casa espiritual para Deus. Mas nos enganamos ao pensar que Deus usa qualquer pedra para
construir Sua Igreja. Ele não usa pedras vulgares; Seu edifício é feito com pedras preciosas.
É isso o que Paulo nos mostra em 1 Coríntios 3.10-13, onde temos os materiais da construção do edifício. Paulo diz que
o alicerce já está lançado, o qual é Cristo, mas cada um, agora, deve ter cuidado em como edifica sobre o fundamento.
Alguns querem edificar com madeira, palha e feno, mas os únicos materiais aceitáveis no edifício de Deus são ouro,
prata e pedras preciosas – os materiais dos quais a Nova Jerusalém é feita. Isso nos mostra que edificar no padrão de
Deus custa caro – ser um vencedor tem um preço. Edificar com madeira, palha e feno é barato, mas o ouro, a prata e as
pedras preciosas custam muito.
A Nova Jerusalém é chamada de noiva e esposa. A noiva se cumprirá no milênio, mas a esposa será por toda a
eternidade. Antes de participarmos da edificação maravilhosa da Nova Jerusalém, precisamos da revelação. A Nova
Jerusalém é o cumprimento final do propósito eterno de Deus de ter o homem à Sua imagem para expressá-lO e
representá-lO. A glória de Deus é a Sua imagem, e criar o homem à Sua imagem significa que Deus o criou com a Sua
glória e para a Sua glória. O nosso destino é a glória. Paulo nos diz que somos transformados de glória em glória na
imagem de Cristo (2Co 3.18). E no capítulo seguinte da mesma carta aos Coríntios, vemos que a glória de Deus é a
face de Cristo (2Co 4.6). Então, glória é se parecer com o Senhor, e foi para essa glória que fomos designados (1Co
2.7; 1Pe 5.10; 1Ts 2.12). É nela que, hoje, estamos sendo transformados (2Co 3.18), e no futuro, seremos introduzidos
(Hb 2.10). No fim, seremos glorificados e seremos tal como Cristo é (Rm 8.17, 30; 1Jo 3.2).
Sabemos que a aparência de Deus é descrita como sendo semelhante à pedra de Jaspe (Ap 4.3), e assim também é a
aparência da Nova Jerusalém (Ap 21.11). A cidade é o cumprimento do propósito eterno de Deus de fazer o homem à
Sua imagem e semelhança, com Sua glória para representá-lO. Imagem e semelhança é aparência. Tanto Deus quanto
a Noiva possuem a mesma aparência: a pedra de jaspe (compare Ap 4.3 e 21.11). A cidade tem a glória de Deus
porque é o cumprimento do propósito original de Deus, que agora tem um povo à Sua imagem, que se parece com Ele
mesmo. Sei que alguns pensam que glória é apenas um fulgor, um brilho, o que não está errado, mas é pequeno.
Glória, na verdade, é tudo aquilo que Deus é, ou seja, Sua exata imagem e expressão.

A descrição da cidade
A Nova Jerusalém é um cubo perfeito, e seu comprimento, largura e altura medem cerca de 2.200 quilômetros cada um
(v. 16). A altura da muralha em torno da cidade é de 72 metros.
A cidade é quadrangular, de comprimento e largura iguais. E mediu a cidade com a vara até doze mil estádios. O seu
comprimento, largura e altura são iguais. Mediu também a sua muralha, cento e quarenta e quatro côvados, medida de
homem, isto é, de anjo. (Ap 21.16,17)
A cidade provavelmente existirá conforme essa descrição, no entanto, tudo o que se refere a ela é simbólico e,
certamente, aponta para a Igreja, a Noiva de Cristo.
Por que essas dimensões são perfeitas como um cubo? A Bíblia mostra, no Velho Testamento, que o Santo dos santos
também era um cubo. O Santo dos santos era o lugar onde Deus manifestava Sua glória, portanto, a Nova Jerusalém é,
na verdade, o Santo dos santos expandido, é o Tabernáculo de Deus aumentado numa medida gloriosa para o
testemunho em todo o universo de que Deus agora habita com o homem.
A Nova Jerusalém inclui os santos de todas as dispensações, e em suas portas, traz o nome das doze tribos de Israel. A
porta nos fala de entrada, e quem nos abriu a porta para o reino de Deus foram os judeus, os profetas e os apóstolos.
Os que primeiro pregaram o evangelho aos gentios eram todos judeus, porque os oráculos de Deus foram revelados
primeiro aos judeus. Nas portas temos as doze tribos, mas nos fundamentos da muralha temos os nomes dos apóstolos,
mostrando que a obra da Igreja é o alicerce, a proteção e a separação da cidade.
O apóstolo Paulo nos diz:
Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família de Deus, edificados sobre o
fundamento dos apóstolos e profetas. (Ef 2.19,20)
Hoje, nós estamos construindo sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, mas, naqueles dias, a muralha estará
apenas sobre os apóstolos, porque toda profecia terá se cumprido – a profecia vai passar. A muralha existe para
proteger e separar, mas naqueles dias não será necessário mais proteção, todavia, ainda assim haverá separação. O
que nos distingue ou nos separa é exatamente isto: o fundamento, a mensagem apostólica que nós temos da parte do
Senhor.
No verso quinze, lemos que a cidade foi medida com uma vara de ouro, material que simboliza a natureza e a glória de
Deus. Na Bíblia, tudo o que está relacionado com a natureza de Deus é ouro. A vara com a qual se mede a cidade é
uma vara de ouro, porque a cidade deve estar de acordo com a natureza e a glória de Deus.
A cidade é edificada basicamente com três elementos: ouro, pérola e pedras preciosas. O primeiro é o ouro: “A cidade é
de ouro puro, semelhante a vidro límpido” (v. 18). É um ouro muito especial, transparente, e simboliza a natureza e a
glória de Deus. A cidade é a expressão do Senhor. Hoje, essa glória está desfigurada por causa do pecado na vida da
Igreja, entretanto, naquele dia, ela estará completamente restaurada, e o Senhor habitará nela por toda a eternidade.
O segundo elemento são as pérolas, com as quais são feitas as portas da cidade. São doze portas, sendo cada uma
delas uma pérola. Na cidade, tudo é mineral – não se vê ali nenhum elemento vegetal ou animal. Todavia, a pérola é
uma mistura de mineral com animal. Ela nada mais é do que um glóbulo branco, brilhante e nacarado que se forma na
concha da ostra. Quando um grão de areia penetra em seu interior, no fundo do mar, a ostra o envolve com uma
secreção e ele se transforma na pérola. Isso certamente é um símbolo da transformação do crente. Sabemos que o mar
simboliza a morte, e o Senhor Jesus é como essa ostra que veio habitar no mar da morte. Nós somos os grãos de areia
que foram enxertados nEle, fomos envolvidos em Sua vida e, com o passar do tempo, fomos transformados em pérolas
para Sua edificação.
Antes de Jesus nos transformar, não tínhamos valor algum e éramos apenas pó. Mas, em Cristo, o Senhor nos atribuiu
valor. O Espírito Santo tomou esse pó e o injetou em Cristo, a vida de Deus começou a nos envolver e a fluir em nosso
interior, dia após dia, até que fomos transformados numa pérola Sua. Cada porta é uma pérola que expressa a obra
exclusiva de Deus. É Ele quem faz de cada um de nós uma pérola. É dEle, exclusivamente, a iniciativa para nos salvar,
santificar e transformar por meio de Sua própria vida. Mas Jesus não é apenas a grande ostra, Ele é também o
comerciante rico que, depois de encontrar esta pérola de grande valor, vendeu tudo o que possuía e a adquiriu (Mt
13.45,46). As portas da cidade são grandes pérolas para indicar que entramos nela pela transformação e santificação.
Ali não entra o pó, apenas aquele que foi transformado em pérola.
O terceiro elemento são as pedras preciosas. A muralha e o alicerce, os fundamentos da cidade, são feitos e adornados
de toda espécie de pedras preciosas, o que aponta para a obra do Espírito Santo que nos transforma. Na Bíblia, a pedra
preciosa aponta para a ação do Espírito Santo de Deus, portanto, cada um dos materiais básicos da Nova Jerusalém se
refere a uma pessoa da trindade: o ouro é o Pai, a pérola é a obra do Filho e as pedras preciosas são a obra do Espírito
Santo.
Para compreendermos melhor, é bom sabermos como as pedras preciosas são formadas. Tomemos como exemplo o
diamante. Ele é composto de carbono, a mesma composição química do carvão mineral. Contudo, apesar de terem a
mesma composição, são diferentes um do outro na aparência, consistência, resistência e valor. Enquanto um é brilhante
e translúcido, o outro é negro e opaco. Na verdade, todo diamante é um carvão submetido por muito tempo a uma
grande pressão e temperaturas altíssimas para, então, se tornar diamante. Do mesmo modo, o Espírito Santo opera em
nós esta transformação usando os mesmos elementos: a pressão, o fogo e o tempo. Eles são insubstituíveis. A obra de
transformação operada por Deus não é instantânea, precisa de tempo – um dia após outro. Ele envia o fogo para
consumir as impurezas e tudo o que está fora de Sua vontade. Além disso, é necessário que venham as pressões para
trazer à luz tudo o que precisa ser mudado em nós. Éramos apenas carvão, mas, depois de passarmos pelas pressões
e pelo fogo do Espírito por algum tempo, fomos transformados em diamante. Nossa constituição continua a mesma –
carbono – mas nos tornamos diferentes, cheios de brilho e glória. Na eternidade ainda seremos homens, porém
glorificados. Deste modo, quando o Espírito Santo de Deus estiver tratando você, não fique triste, antes, alegre-se,
porque através desse processo você será transformado em diamante útil para a edificação da Nova Jerusalém.
Finalmente, vemos que a aparência da cidade é de jaspe (Ap 4.3; 21.18). Na visão que João teve do trono, ele diz que
Aquele que está sentado no trono tem a aparência da pedra de jaspe (Ap 4.3). Observe agora que a cidade tem a
mesma aparência: “O fulgor da cidade era semelhante a uma pedra preciosíssima como pedra de jaspe cristalina” (Ap
21.11). A Nova Jerusalém é a expressão do próprio Deus.
A Nova Jerusalém é a Noiva. Deus mesmo está se preparando para se casar e esta será a suprema união do universo.
A Bíblia é a história de um romance universal entre Deus e o homem – foi para isto que Deus criou o homem, para se
unir a Ele. Naturalmente, o casamento é só uma ilustração, mas é o que mais se aproxima do que experimentaremos
naquele dia. Eis a razão de o casamento ser algo tão sagrado: Deus quer se unir ao homem eternamente e ser um com
ele, assim como o homem e a mulher, ao se unirem, tornam-se uma só carne. Quando nos unirmos a Deus naquele dia,
seremos um só com Ele.

A edificação da habitação eterna de Deus


O propósito de Deus é edificar Sua habitação no universo. O céu não é a habitação permanente de Deus, apenas Sua
residência temporária. A Bíblia revela claramente que o Senhor está vindo para morar em sua habitação eterna que é a
Nova Jerusalém. Deus tem um propósito, um arranjo e uma administração para levar seu plano a cabo. O que Deus
quer realizar em Seu propósito eterno é edificar Sua eterna habitação – a união de Deus com a humanidade. Nem o céu
nem a terra são a habitação de Deus, segundo Seu propósito. Nada, a não ser a união de Deus com o homem, está
qualificado para ser a habitação de Deus. Isso está plenamente revelado no Novo Testamento.
Em João 1.14, lemos que o Verbo, que é Deus, tornou-se carne e veio habitar entre nós. Aquele que se encarnou,
Cristo, é a própria união de Deus com o homem. Essa união é a habitação de Deus, e é nela que podemos servir a
Deus e permanecer com Ele. E o Senhor também diz: “Permanecei em Mim, e Eu permanecerei em vós” (Jo 15.4). Aqui
o Senhor ensina que Ele é nossa habitação, e nós precisamos ser a habitação dEle. Temos a união de Deus com o
homem para ter uma habitação mútua: nós nele e Ele em nós.
O propósito de Deus é edificar uma habitação eterna para Si mesmo e para Seus escolhidos. Na verdade, essa
habitação é a união de Deus com os escolhidos. O pensamento de ter Deus como nossa habitação pode ser encontrado
desde o Antigo Testamento, como vemos nos versículos abaixo:
O Deus eterno é a tua habitação e, por baixo de ti, estende os braços eternos; ele expulsou o inimigo de diante de ti e
disse: Destrói-o. (Dt 33.27)
Senhor, tu tens sido o nosso refúgio, de geração em geração. (Sl 90.1)
Contudo, como vimos por todo este capítulo, é o Novo Testamento que revela claramente que nós somos a habitação
de Deus.
Sexto Dia
Criados segundo a espécie de Deus

No início do relato da criação, vemos que Deus criou milhões de formas de vida, mas nenhuma dessas criaturas era
como Ele. Porém, em Gênesis 1.26, vemos que Deus fez o homem à Sua imagem e semelhança. Assim, o homem foi
criado segundo a espécie de Deus. De todos os animais se diz que foram criados segundo a sua espécie, mas a
respeito do homem, se diz que foi feito à imagem de Deus, do tipo de Deus.

Depois de criar cada coisa, a cada dia, Deus deu Seu veredicto de que tudo era bom. Mas, após a criação de Adão e de
sua esposa, no sexto dia, Deus olhou para eles e disse que era “muito bom” (Gn 1.31), demonstrando, assim, Seu
prazer, porque Adão e Eva eram Sua satisfação e Seu deleite, pois somente eles eram de Sua espécie. Porém, a obra
de Deus com Adão ainda não estava completa, pois o homem tinha apenas a imagem e semelhança de Deus, mas não
Sua vida e Sua natureza. O homem tinha a imagem de Deus, mas não tinha o próprio Deus dentro de si. Para isso,
ainda precisava comer do fruto da Árvore da Vida e receber o próprio Deus como sua vida. Sabemos, contudo, que o
homem caiu e, dep*-ois da queda, o Senhor prometeu a Adão que Ele viria como a semente da mulher (Gn 3.15). Está
claro que a intenção de Deus era criar o homem, mas hoje nós percebemos que Seu verdadeiro intuito era tornar-se um
homem.

Aproximadamente dois mil anos depois de fazer a promessa registrada em Gênesis 3.15, Deus apareceu a Abraão e lhe
prometeu uma semente que seria uma bênção para todas as nações (Gn 22.18). Essa semente era o próprio Deus que
se tornaria homem em Cristo para abençoar toda a terra. Após outros mil anos, o Senhor encontrou Davi, um homem
segundo o Seu coração, e lhe disse que ele teria uma semente que seria o Filho de Deus (2Sm 7.12-13). Esse Filho é,
na verdade, o próprio Deus.

Quando teus dias se cumprirem e descansares com teus pais, então, farei levantar depois de ti o teu descendente, que
procederá de ti, e estabelecerei o seu reino. Este edificará uma casa ao meu nome, e eu estabelecerei para sempre o
trono do seu reino. (2Sm 7.12,13)

Finalmente, mil anos depois de Davi, Deus veio para ser um homem, concebido do Espírito Santo e nascido de uma
virgem (Mt 1.20-23). Ele era Emanuel, Deus que havia se tornado homem, um homem-Deus. Ele se tornou o que nós
éramos para que nós nos tornássemos o que Ele é. Um dia, o Senhor Jesus, o homem-Deus, disse que Ele era um grão
de trigo que caiu nesta terra para morrer e, assim, gerar muitos grãos (Jo 12.24). Esses muitos grãos são, na realidade,
a reprodução de Deus.

Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer,
produz muito fruto. (Jo 12.24)

O primeiro grão, o Senhor Jesus, era o protótipo, e nós, hoje, somos os muitos grãos que foram gerados por Ele. Por
meio de Sua morte e ressurreição, Sua Vida foi liberada a nós e, hoje, somos feitos filhos de Deus semelhantes a Jesus.
Temos o mesmo tipo de vida que Ele, pois Ele é o primeiro filho, o primogênito, mas nós somos os muitos irmãos que
foram gerados. Esta é a grande verdade revelada por Jesus em João 12.24: o Unigênito de Deus agora é o primogênito,
pois compartilhou sua natureza divina com muitos outros filhos que foram gerados. Muitos podem questionar, dizendo
que não somos como Jesus e que basta dar uma olhada ao redor para constatarmos nossa imperfeição, mas a verdade
é que ainda estamos em processo de transformação, porém já temos Sua vida e Sua natureza dentro de nós. Na
verdade, ainda não se manifestou o que haveremos de ser (1Jo 3.2). Muitos ainda não vivem de acordo com a nova
natureza durante todo o tempo, e há aqueles que até mesmo dão lugar à carne e ao diabo, mas isso não invalida a
grande verdade de que somos da mesma natureza que Ele. Sem dúvida precisamos ser transformados – e essa é
exatamente a obra que Deus está fazendo hoje em nós, a obra de transformação.

Saber o que somos e perceber quem somos certamente tem o poder de nos transformar. Grande parte de nossos
problemas acontece porque acreditamos que somos terrenos e carnais. Nós tendemos a nos comportar de acordo com
o que acreditamos, por isso o diabo procura o tempo todo lançar setas de condenação e acusação em nossa mente
para que acreditemos que não somos realmente aquilo que a Palavra de Deus afirma que somos. Porém, quando temos
revelação de que somos filhos de Deus e, portanto, do mesmo tipo de Cristo, e carregamos a natureza de Deus dentro
de nós, mudamos radicalmente nossa conduta. A atmosfera e tudo o que está relacionado a nós também é mudado. Se
todos os cristãos de hoje percebessem que são do tipo de Deus, tendo Sua vida e Sua natureza divina, a Igreja e o
mundo inteiro seriam diferentes. Nosso desafio é permanecer na posição onde fomos colocados, rejeitando toda
afirmação maligna contrária à verdade do eterno propósito de Deus.

Deus se fez homem para que pudéssemos ser como Ele é. O Senhor Jesus se tornou filho do homem para que nós nos
tornássemos filhos de Deus. Esta é a essência da Igreja, somos essa nova raça caminhando sobre a terra. Precisamos
repetir esta verdade constantemente até que ela se torne viva em nosso espírito: o Deus eterno teve um “sonho” na
eternidade, segundo o propósito eterno do Seu coração (1Tm 1.4; Ef 1.10; 3.9). Então, Ele criou o universo e formou o
homem como a expressão do desejo do Seu coração, isto é, que esse homem fosse da mesma espécie de Deus (Gn
1.26), e que pudesse se reproduzir e encher toda a terra (v. 28).

O Senhor Jesus é o grão de trigo que se tornou homem, morreu e, por meio de Sua morte e ressurreição, fez uma
reprodução em massa de Si mesmo. Ele, como o único grão, tornou-se os muitos grãos (Jo 12.24) que são moídos em
fina farinha e misturados para se tornarem um só pão (1Co 10.17). Esse pão é a Igreja, o Seu Corpo.

Porque nós, embora muitos, somos unicamente um pão, um só corpo; porque todos participamos do único pão.
(1Co 10.17)

O Senhor Jesus, como o Filho unigênito de Deus, era o único grão, e Ele nos fez os muitos grãos, Seus muitos irmãos
(Rm 8.29), para sermos unidos com Ele em um único pão, um só Corpo. Entre nós não há diferença de nacionalidade,
raça ou nível social (Cl 3.11). Somos uma nova espécie, trazemos a vida e a natureza de Deus.

Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu
Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. (Rm 8.29)

Em Cristo, Deus e o homem tornaram-se uma unidade. Pedro diz que nós fomos feitos “participantes da natureza divina”
(2Pe 1.4). É por causa disto que a Palavra tornou-se homem, e o Filho de Deus tornou-se o Filho do homem: para que o
homem, ao receber a Palavra e a vida de Deus no novo nascimento, possa tornar-se um filho de Deus.

Pelas quais nos têm sido doadas as suas preciosas e mui grandes promessas, para que por elas vos torneis co-
participantes da natureza divina... (2Pe 1.4)

O Filho de Deus é o protótipo e nós somos a produção em série. Cristo é o molde, a forma. Deus nos colocou nele para
sermos moldados em sua imagem e forma. O processo de ser colocado na forma envolve sofrimento porque as arestas
devem ser aparadas e o que está faltando, acrescentado. Assim vemos que o propósito eterno de Deus revelado em
Gênesis se cumpre no Novo Testamento: temos o Espírito dentro de nós e estamos sendo trabalhados para sermos a
imagem e semelhança do Filho de Deus. Somos vaso e expressão para representarmos Deus e reinarmos com Cristo.
Sétimo Dia
Compreendendo a edificação
Muitos cristãos são bastante corretos quanto à conduta e parecem ser muito espirituais, mas, lamentavelmente, são
apenas pedras isoladas. Podem até ser pedras preciosas, mas se estiverem isoladas, não serão de muita utilidade para
o propósito eterno de Deus. As pedras do edifício de Deus não se destinam para o louvor dos homens, porém,
infelizmente, alguns líderes imaginam que a Casa de Deus seja algum tipo de coleção de pedras. Eles gostam de
apreciar e mostrar as muitas pedras amontoadas aos domingos, contudo, um amontoado de pedras não é um edifício e
não pode ser habitação para a glória de Deus.
O Senhor deseja uma casa e não uma infinidade de pedras preciosas isoladas, destinadas a compor uma exposição.
Nossa grande necessidade, hoje, é sermos edificados juntos na vida da célula. Se ganhamos muitas pessoas, mas não
as edificamos como parte do edifício de Deus, nosso trabalho pode ser em vão. Quando aprendemos a ser edificados,
temos vitória, santificação, poder, plenitude de Deus e riqueza espiritual; tudo depende de sermos encaixados e
edificados no edifício de Deus. Não é suficiente coletarmos pedras e trazê-las para a célula, é preciso edificar essas
pedras, colocando-as no edifício da Casa de Deus.
Hoje em dia, a realidade na maioria das igrejas é que as pessoas buscam poder espiritual isoladamente, buscam uma
vida de santidade ignorando os demais membros do corpo. O fato é que quanto mais buscam, mais pobres se tornam.
Todos nós precisamos abandonar nosso individualismo e nos abrir para sermos edificados junto com outros irmãos na
vida da célula. Todos os nossos problemas são consequência de uma única coisa: somos muito individualistas e
independentes, estamos desvinculados uns dos outros. É por esse motivo que somos assediados por fracassos e
fraquezas. Você tem algum pecado que o assedia, o qual não consegue vencer? Quando se dispuser a ser vinculado e
edificado com outros irmãos, você descobrirá como seu pecado pode ser superado.
No começo de minha vida cristã, eu não conhecia esse princípio, mas como era membro de uma pequena igreja cujos
membros eram muito vinculados, pude perceber o poder de estar edificado espiritualmente com os irmãos. Com o
passar dos anos, aprendi que eu precisava apenas habitar no Corpo, pois quando estamos ligados aos irmãos de forma
prática, a vida do Corpo tem o poder de nos limpar e até de nos dar força. Enquanto um membro estiver ligado ao corpo,
tudo estará bem com ele. Por mais que tenha dificuldades, o corpo o suprirá e guardará. Suponhamos que sua mão
esteja separada de seu corpo, mas continua se esforçando para funcionar e ser saudável. O alvo dela é ser útil, mas
tudo o que conseguirá será passar uma imagem de algo aterrorizante e feio. Somos membros do Corpo de Cristo e
precisamos estar encaixados nele de forma prática. Só temos utilidade dentro do Corpo; só encontramos realização
quando somos uma pedra viva do templo.
Como cristão, você é capaz de apontar outros membros específicos do Corpo de Cristo com quem se relaciona de
maneira prática? Esse assunto não é uma questão de doutrina ou de espiritualidade etérea, mas de realidade prática. O
único caminho para ser um crente vitorioso é estar vinculado.
É lamentável que não se ouça quase nada no meio evangélico a respeito do edifício de Deus, da Sua morada eterna, do
verdadeiro relacionamento do Corpo de Cristo nesta terra. A intenção do Senhor é que cada célula seja uma expressão
da Igreja. Cada célula precisa ser como um corpo com muitos membros bem encaixados e edificados em comunhão e
unidade.
Precisamos, então, compreender de forma bem prática como podemos construir o Corpo de Cristo, a Casa de Deus. Os
apóstolos usavam a parábola da casa de pedra para explicar essa verdade. O pastor Eddy Leo, numa de suas
ministrações em Goiânia, nos deu uma clara compreensão dessa ilustração. Para construir um prédio, precisamos de
cinco elementos fundamentais, e não podemos prescindir de qualquer um deles. Esses cinco elementos estão todos
relacionados aos cinco ministérios citados em Efésios 4.11, e precisam ser observados na vida normal da célula, pois
tais ministérios foram constituídos para treinamento dos santos a fim de que estes desempenhem o serviço de
edificação da Casa de Deus.
E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e
mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de
Cristo. (Ef 4.11,12)
O serviço dos santos é a edificação do Corpo de Cristo. Esse é o nosso trabalho. Qualquer propósito diferente deste
está fora do propósito eterno de Deus. Todos os santos devem ser treinados para fazer a obra de construção, e nenhum
de nós pode ficar de fora do trabalho de edificação da Casa de Deus.

1. A planta da edificação
O primeiro elemento necessário para se construir uma casa é o projeto, a planta. Como sabemos onde colocar cada
pedra? Como conseguimos dar a mesma forma às pedras? Qual é o padrão? Para isso, precisamos da planta da
construção, e todos os trabalhadores envolvidos na obra de edificação precisam saber como ler esse projeto que já foi
dado pelos apóstolos. Este aspecto é função do ministério apostólico.
É por isso que precisamos do ministério apostólico para fazer a obra de edificação da Casa de Deus. Cada membro da
célula precisa saber ler a planta e conhecer o propósito eterno, não apenas o líder da célula, mas todos os membros.
Este é o problema de muitas igrejas em célula: os membros não sabem o que é a Casa de Deus; tratam a célula apenas
como um grupo pequeno e trabalham de acordo com seu próprio entendimento. Por causa disso, rapidamente a célula
se torna uma obra humana e acaba morrendo. Para tratar esse problema, precisamos do ministério apostólico. E o que
estou compartilhando aqui a respeito do propósito eterno de Deus é, na verdade, a planta do edifício.

2. A coleta das pedras


Uma vez que conhecemos a planta, a visão da casa, então precisamos sair para coletar as pedras. Assim, nosso
segundo passo é achar as pedras vivas. Precisamos encontrar o lugar onde há pedras e levá-las para o local da
construção, o que aponta para o evangelismo. Deus nos leva a buscar pedras mortas e transportá-las para o reino da
luz, onde se tornam pedras vivas. Depois, elas se tornam pedras lavadas e, mais adiante, pedras buriladas.
Somente trazer as pedras e lavá-las não é suficiente. Não podemos pegar a pedra bruta e usá-la na edificação. Algumas
pedras são muito grandes e não cabem no espaço da construção. Neste caso, elas precisam ser quebradas para serem
edificadas. Há pedras que se acham grandes e preciosas demais para fazerem parte da construção de uma célula tão
simples. E, enquanto pensam assim, não são edificadas, encaixadas nem vinculadas na construção.
Existem pedras que são muito ásperas, outras possuem lascas cortantes e acabam ferindo as pedras que estão a seu
lado na construção. Também há as que não gostam da construção local e vivem rolando de uma igreja para outra. São
pedras, mas ainda não estão prontas para a edificação; seus hábitos antigos precisam ser mudados.
Muitas igrejas são boas em coletar pedras, mas porque não são orientadas pelo propósito eterno, param neste ponto.
Elas só ajuntam pedras, mas isso não é uma casa, é apenas uma pilha de pedras. Alguns pastores se enchem de
cobiça e começam a desejar as pedras de outra construção local, então, vão e as roubam. Eles desejam ter muitas
pedras não porque queiram edificar, mas porque são colecionadores de pedras vivas e se vangloriam de sua enorme
coleção. Gostam de fazer uma exposição semanal mostrando seu imenso conjunto de pedras preciosas. Mas, algo que
aprendi é que pedras que estão edificadas e encaixadas na construção não podem ser levadas. Somente as que estão
soltas são levadas. Se uma pessoa não permaneceu na célula é porque ainda não estava apropriadamente edificada,
pois ninguém leva a pedra que está assentada na parede; contudo, a pedra amontoada pode ser facilmente levada.
O propósito de Deus não é ter um ajuntamento de pedras, um amontoado de rochas. Ele deseja ter Sua Casa e, para
isso, é preciso que as pedras sejam edificadas, amalgamadas e vinculadas na construção. Portanto, não é o tamanho
ou a quantidade de pedras que importa, mas a edificação. Deus não pode habitar no meio de um monte de pedras. Por
isso muitas igrejas possuem a presença de Deus, mas ainda não são a habitação de Deus. Elas realmente desfrutam de
uma forte presença de Deus, mas ela não é permanente. Quando nos tornamos casa para Deus, Sua presença não se
ausenta, mas se manifesta em todo tempo.
Quando duas ou três pedras estão reunidas, o Senhor se faz presente, mas se essas pedras se recusam a ser
edificadas e se tornar habitação de Deus, a presença do Senhor se vai. É como se Ele dissesse: “É bom estar aqui com
vocês, mas eu preciso de um lugar onde eu possa repousar!” A presença do Senhor será constante se formos
edificados juntos, como Sua casa espiritual.

3. As pedras devem ser buriladas


Como nós saímos e coletamos muitas pedras pelo evangelismo, agora nossa construção está cheia de pedras, mas
elas não estão prontas para a edificação. Neste ponto, precisamos do terceiro elemento: o ministério de ensino. Nesta
obra, precisaremos quebrar algumas pedras e talhar outras para tirar as arestas, e o ministério que faz isso é o de
ensino. Precisamos ensinar e discipular uns aos outros, pois na Casa de Deus tudo é feito através da reciprocidade.
Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando
a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão, em vosso coração. (Cl 3.16)
Um grande problema que algumas igrejas enfrentam é que o discipulado se torna uma relação exclusivista e
controladora. O discípulo só aceita ser ensinado e exortado por seu discipulador e este, por sua vez, não admite que
ninguém venha instruir seu discípulo. Esse não é o espírito da Casa de Deus, pois nela, tudo é feito uns aos outros.
Quando faço parte da edificação de uma célula, devo aceitar que um irmão me exorte, mesmo que ele conheça menos
que eu; preciso receber o conselho de outro, mesmo que ele não seja o líder ou pastor. No texto de Colossenses, Paulo
ensina que, na Casa de Deus, nós nos instruímos mutuamente, ou seja, ensinamos uns aos outros. Mas, há aqueles
que só aceitam aprender com o discipulador. Na mesma carta, Paulo diz que devemos também nos aconselhar
mutuamente, contudo, há aqueles que só aceitam conselhos do pastor e, mesmo assim, dentro do escritório pastoral.
Veja que, quando falamos de ensino, temos em mente o ensino de uma família, onde cada um é edificado pelo outro em
amor. Se não ensinarmos aos irmãos, eles não estarão prontos para serem edificados.
Para ser edificada, cada pedra deve ter determinado tamanho, forma e textura, e o padrão que devemos seguir é o da
pedra angular, isto é, o Senhor Jesus. Ele é a pedra angular à qual todas as outras precisam estar alinhadas. Mas Jesus
não é apenas a pedra angular, Ele é também a pedra de esquina. A pedra angular era a pedra que servia de alicerce,
onde toda a construção se apoiava, mas a pedra de esquina era aquela colocada para dar o prumo e a direção do
edifício. Assim, é o Senhor quem determina a base e o prumo para cada pedra viva. Lembre-se que todos somos pedras
vivas e construtores ao mesmo tempo.
A maioria das igrejas em célula possui esses três ministérios, mas somente eles não são suficientes para edificarmos a
Casa de Deus. Precisamos ainda do trabalho dos outros dois.

4. As pedras devem ser encaixadas


Preparadas as pedras, precisamos, agora, do quarto ministério, que vai colocar cada pedra no lugar certo e cimentá-las
umas nas outras para que cada uma tenha uma boa relação e esteja ligada com as demais. Esse é o ministério pastoral.
Todos nós precisamos cuidar uns dos outros, e necessitamos estar atentos para que cada pedra esteja edificada em
seu próprio lugar. Além disso, essas pedras precisam de manutenção e cuidado para se manterem sempre numa boa
condição.

5. O controle de qualidade
O ministério profético é o último elemento necessário para a construção da Casa de Deus. Ele é o responsável pelo
controle de qualidade. Quando construímos, precisamos cuidar para que a construção esteja de acordo com o projeto.
Esse é um trabalho de supervisão e, se percebermos que estamos construindo de maneira errada, precisamos exortar
uns ao outros. Se alguém, por exemplo, estiver edificando fora da planta, precisamos trazê-lo de volta. Por outro lado,
se estivermos fazendo tudo corretamente, o ministério profético confirmará o trabalho feito e nos motivará a fazer o que
ainda falta.
Toda construção é um lugar muito bagunçado – muito barulho, muitas ferramentas espalhadas – e isso pode ser muito
cansativo. Na verdade, podemos nos machucar enquanto construímos e, por isso, ficamos desencorajados e
desanimados. Nesse momento, o ministério profético vem para confortar, pois ele tem três funções: exortar, edificar e
confortar.
Uma das razões pelas quais muitos ficam cansados e desanimados na edificação da célula é porque se esquecem que
cada célula é como uma construção. E posso dizer que poucas coisas são tão motivadoras como uma construção, mas
também tão cansativas e estressantes. O trabalho quase nunca acontece no tempo previsto nem na qualidade
esperada. Precisamos fazer constantes correções, e isso nos desanima. Por isto precisamos do ministério profético,
para vir e nos lembrar que estamos construindo uma casa para Deus. Ele nos encoraja e motiva a continuar, pois todo
trabalhador na construção precisa de encorajamento, principalmente os líderes.
Além disso, a construção não pode ser feita de forma desleixada; precisamos supervisioná-la o tempo todo. Lembre-se
de que cada crente é, ao mesmo tempo, construtor e pedra viva. Se deixarmos os crentes edificadores sem supervisão
e treinamento, eles não conseguirão terminar o projeto. Isso também nos faz ver como é séria e perigosa a edificação
da Igreja. Uma construção feita de forma errada pode ruir e machucar muita gente. Na verdade, toda construção é um
lugar perigoso. Há riscos por todo o lado e, se não soubermos como edificar, poderemos nos machucar e ferir muita
gente. Conheço muitas pedras que foram estragadas por construtores ineptos, e precisamos investir muito tempo para
torná-las próprias para a edificação novamente.
Outro aspecto importante é que, sem supervisão, os trabalhadores ficam preguiçosos. Construção é um lugar onde os
trabalhadores gostam de parar para conversar. Se os mandamos buscar mais pedras, eles fogem do trabalho. Por outro
ladopode ser que os trabalhadores estejam muito motivados, mas não tenham muita habilidade e acabem quebrando as
pedras, inutilizando-as para a edificação. Tudo isso acontece por falta de supervisão e treinamento.
Para que o projeto seja realizado, precisamos de supervisores. É deles a responsabilidade de treinar, equipar e também
de checar se a obra está sendo feita corretamente. O trabalho de supervisão é um tipo do ministério profético.
Paulo diz que a obra de edificação é feita por todos os crentes, mas os crentes são treinados pelos cinco ministérios:
apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres. Esses ministérios podem ser vistos como pessoas ou como
disciplinas que devem ser ministradas a todos os crentes para que a obra do ministério aconteça. De uma forma ou de
outra, sempre teremos irmãos que atuarão nos ministérios, mesmo que não possuam título algum. O importante não são
os títulos, mas a realidade da edificação.
Como podemos cooperar na edificação da Igreja?

a) Precisamos nos reunir


De nada adianta falarmos de edificação se somos individualistas e isolados. A reunião é extremamente importante para
a edificação do Corpo. Quando estamos em Cristo, sentimos necessidade dos outros membros do corpo. Quando
nascemos de novo, desenvolvemos um profundo sentimento de que necessitamos dos outros e de que não podemos
viver isolados dos demais irmãos. João disse que aquele que é nascido de Deus ama os irmãos. Seria uma grande
contradição dizer que amamos os irmãos, mas não desejarmos estar com eles. O amor sempre resulta em comunhão.
Algumas vezes, questiono se algumas pessoas realmente nasceram de novo. Elas vivem como se tivessem
simplesmente mudado de religião. E essa mudança de religião sem mudança de vida pode ser muito penosa. Tais
pessoas não possuem uma nova vida em seu espírito e, mesmo assim, lhes é exigido um novo viver. Isso é muito
penoso e extremamente difícil. É como pedir a um cachorro para que voe. Se ele conseguisse receber a vida e a forma
de um pássaro, não precisaria de nenhuma ordem para voar, ele simplesmente voaria espontaneamente. Precisamos
perceber que nascemos de novo e recebemos a pessoa de Cristo dentro de nós. Agora, o Cristo que habita em nós
simplesmente é atraído por outros que possuem o mesmo Cristo, o mesmo tipo de vida. É algo inteiramente
espontâneo. Podemos ter muitas dificuldades no dia-a-dia, falta de tempo e horários difíceis, mas sempre haverá no
coração dos nascidos de Deus um anseio pela comunhão, pela reunião dos santos.

b) Precisamos crescer no Senhor


Textos como 1 Pedro 2.2, Efésios 2.21 e 4.15 mostram claramente que a edificação da Igreja só é possível pelo
crescimento dos membros.
Mas, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, de quem todo o corpo, bem
ajustado e consolidado pelo auxílio de toda junta, segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu próprio
aumento para a edificação de si mesmo em amor. (Ef 4.15,16)
Somente um corpo crescido pode expressar apropriadamente o Senhor. Precisamos tratar com o nosso pecado, nosso
mundanismo e com o nosso ego. Para crescer, precisamos nos encher da vida de Cristo, pois, quando somos cheios do
Senhor e ministramos ao Senhor, então a vida abundante de Cristo se manifesta. Tudo de que precisamos para crescer
é de vida fluindo. Crescer até a maturidade é uma exigência básica para todos os santos para que haja edificação da
Igreja.

c) Precisamos funcionar como ministros


Todos nós somos ministros e todos somos membros do corpo. Se somos ministros, precisamos ministrar ao corpo; se
somos membros, precisamos funcionar de acordo com o dom que o Espírito nos concedeu. Se uma pessoa não
consegue funcionar adequadamente, isso pode ser um sinal de que ela ainda não cresceu o suficiente. Sem
crescimento, não sabemos como funcionar, por isso, a primeira condição para edificar é crescer.

d) Todos nós precisamos falar


Na vida da célula, o falar é fundamental. Lembre-se sempre de que não edificamos um grupo pequeno, mas edificamos
igrejas nas células. A célula edificada apropriadamente é uma expressão da Igreja. Na reunião de celebração, não
podemos falar, mas, na célula, falar é uma forma de edificarmos a Casa de Deus. Se não falamos, não crescemos nem
conseguimos ministrar de acordo com nosso dom.
Precisamos ser cuidadosos, porém, para não termos um falar negativo. Há vários tipos de falas negativas que destroem
ao invés de edificar. O primeiro tipo é a fofoca, e nem preciso dizer o quanto ela pode ser destrutiva. Outro falar
extremamente destrutivo é a crítica. Não devemos ter palavras de crítica em nossas células. Mesmo quando tivermos de
exortar, devemos fazê-lo de forma positiva. Lembre-se sempre de que é pela boca que a maior parte das doenças
naturais se propagam, e não é diferente na vida espiritual.
Oitavo Dia
Os materiais da Casa de Deus
O ponto central do texto de 1 Coríntios 3.10-17 é a edificação da Igreja. Aqui, a Igreja é apresentada como um edifício, e
nós somos os edificadores e também os próprios materiais do edifício. A Bíblia pode ser vista, entre outras coisas, como
um grande manual de construção. Desde o princípio, Deus está trabalhando para ter Seu edifício, um lugar para Sua
habitação e Sua expressão na terra.
Há quatro itens observados tanto no começo quanto no final da Bíblia: a Noiva, a árvore, o rio e os materiais preciosos –
ouro, pérola e pedras preciosas. O primeiro e o segundo capítulos de Gênesis são a planta do edifício, que contém
também os materiais de construção, e os capítulos 21 e 22 de Apocalipse formam a foto da estrutura acabada. Assim,
em Gênesis temos os materiais e a planta, no decorrer da Palavra de Deus vemos o projeto e a construção, mas em
Apocalipse vemos o edifício pronto.
Vejamos os elementos citados por Paulo para que essa obra de construção seja levada a cabo e o propósito de Deus
possa ser visto e cumprido na terra.
Segundo a graça de Deus que me foi dada, lancei o fundamento como prudente construtor; e outro edifica sobre ele.
Porém cada um veja como edifica. Porque ninguém pode lançar outro fundamento, além do que foi posto, o qual é
Jesus Cristo. Contudo, se o que alguém edifica sobre o fundamento é ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno,
palha, manifesta se tornará a obra de cada um; pois o Dia a demonstrará, porque está sendo revelada pelo fogo; e qual
seja a obra de cada um o próprio fogo o provará. Se permanecer a obra de alguém que sobre o fundamento edificou,
esse receberá galardão; se a obra de alguém se queimar, sofrerá ele dano; mas esse mesmo será salvo, todavia, como
que através do fogo. Não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém
destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá; porque o santuário de Deus, que sois vós, é sagrado. (1Co 3.10-17)

1. O construtor
Na primeira carta aos Coríntios, Paulo diz que é o prudente construtor (1Co 3.10). Ele tinha a visão da planta, do projeto,
dos materiais, enfim, de toda a construção. Porém, ele adverte que cada um seja cuidadoso em como edifica, o que nos
mostra claramente que cada um de nós é também um construtor.
Todos estamos envolvidos nessa obra de construção do Corpo de Cristo, da habitação eterna de Deus, que é a Igreja.
Paulo diz que ele recebeu graça de Deus para lançar o fundamento. E é uma verdadeira graça recebermos a
oportunidade de cooperar com Deus na edificação de Sua casa. Muitos encaram como um trabalho penoso e difícil, mas
os verdadeiros edificadores veem a obra como uma grande graça de Deus confiada a nós.
A palavra usada no verso 10 é “prudente”, que significa “especialista”, alguém que realmente conhece o ofício. Isso
indica que precisamos investir tempo buscando de Deus o conhecimento correto da planta e de como devemos edificar.

2. O alicerce
No verso 11 do mesmo capítulo, Paulo diz que ninguém pode lançar outro fundamento além do que foi posto. Uma das
grandes verdades de nossa fé é que a salvação não é pelas obras, mas pela fé em Cristo somente. Em outras palavras,
o princípio de toda a verdadeira edificação é receber Cristo como Senhor e Salvador.
Sem o fundamento, não pode haver verdadeira edificação. Mas, embora não sejamos salvos pelas obras, somos
“criados em Cristo Jesus para as boas obras” (Ef 2.9,10), contempladas nesse texto como sendo a construção sobre o
fundamento (1Co 3.14).
Por outro lado, vemos que nós mesmos somos transformados em pedras no edifício de Deus. Não apenas nossas obras
são material, mas também nós mesmos (1Pe 2.4-5). Depois de crer no Senhor, todos nós precisamos ser edificados
como Igreja. E o evangelho de Mateus contém a primeira menção da Igreja no Novo Testamento:
Mas vós, continuou ele, quem dizeis que eu sou? Respondendo Simão Pedro, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus
vivo. Então, Jesus lhe afirmou: Bem-aventurado és, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que to revelaram,
mas meu Pai, que está nos céus. Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as
portas do inferno não prevalecerão contra ela. (Mt 16.15-18)
A resposta de Pedro nessa passagem mostra aquilo que procede do coração de Deus. Quando Pedro disse que Jesus
era o Filho de Deus, o Senhor nos mostrou que tal revelação é a base, ou a rocha, para a edificação da Igreja. Depois
da confissão de Pedro, o Senhor disse que Ele edificaria Sua Igreja sobre a rocha. Porém, esta rocha não é o próprio
Pedro, como ensina a Igreja Católica Romana, mas podemos dizer que ela tem três aspectos: ela é o próprio Cristo, a
revelação e a confissão de Cristo, como veremos a seguir.
Em primeiro lugar, a rocha é Cristo, como o próprio Senhor Jesus disse a Pedro (Mt 16.18), e como afirma Paulo em sua
primeira carta aos Coríntios (1Co 3.10-11).
Em segundo lugar, a rocha é a revelação de Cristo. Ela não é apenas Cristo, mas a revelação de que Ele é o Filho do
Deus vivo. Quando temos tal revelação, somos também transformados em pedras vivas e, assim, nos tornamos
materiais apropriados para a edificação da Igreja.
Também vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de
oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo. (1Pe 2.5)
Na vida cristã, o ponto mais importante é o conhecimento espiritual, a revelação. A maior preocupação de Paulo em
todas as suas epístolas era a revelação (Ef 1.15-19; 3.14-19), pois o que realmente tem valor é conhecermos a Cristo
por revelação em nosso espírito. Se possuirmos revelação de Cristo, espontaneamente, todas as áreas de nossa vida
serão afetadas e transformadas.
Revelação não é descobrir algo que ninguém conhecia na Palavra de Deus. Antes, é saber algo pelo espírito, é ver do
ponto de vista de Deus, é ver como Deus vê (Lc 24.13-16, 30-31; Jo 20.11-16; 1Co 2.11-12; 2Co 3.6; 4.6; 5.16). Uma
coisa é o conhecimento natural e carnal, outra é o conhecimento espiritual ou revelação. Paulo diz que, antes, ele
conhecia Jesus na carne, mas depois, passou a conhecê-lo pelo Espírito.
Assim que, nós, daqui por diante, a ninguém conhecemos segundo a carne; e, se antes conhecemos Cristo segundo a
carne, já agora não o conhecemos deste modo. (2Co 5.16)
A edificação da Igreja depende de conhecermos Cristo por revelação. Onde há luz e unção, naturalmente as pessoas
serão transformadas em pedras vivas como foi Pedro.
Em terceiro lugar, a rocha é a confissão de Cristo. Não basta termos a revelação, precisamos também da confissão. A
Igreja é edificada pela Palavra revelada que é falada. Todos nós precisamos entender que a Igreja é edificada quando
temos o falar correto e apropriado. Todas as coisas importantes na vida espiritual dependem de falarmos, de
confessarmos. Paulo afirma, em Romanos 10.9,10, que nós somos salvos quando cremos com o coração e
confessamos com a boca. Em Efésios 5.19,20, ele afirma que somos cheios do Espírito quando falamos com salmos e
hinos espirituais. Nossa fé é liberada quando falamos, é o que ele diz em 2 Coríntios 4.13. Nós cremos, por isso
falamos, e é nesse momento que a fé se materializa. No Salmo 91, todas as promessas de Deus se cumprem por uma
simples razão: “Pois disseste...” (Sl 91.9).
A maneira como edificamos a Igreja é falando, fluindo no Espírito. Toda célula, para ser edificada, precisa ter um falar
espiritual onde todos os membros podem fluir. Quando isso acontece, estamos edificando na rocha.

3. Os materiais da construção
No evangelho de Mateus, vemos a revelação do alicerce do edifício, mas vemos também a revelação dos materiais da
construção. Depois de ter a revelação de que Cristo era o filho de Deus, Simão foi transformado em Pedro. Em outras
palavras, ele agora era uma pedra, um material apropriado para participar da edificação.
Paulo coloca dois grupos de materiais: ouro, prata e pedras preciosas de um lado; madeira, palha e feno do outro.
Podemos perceber algumas diferenças importantes entre esses materiais. Em primeiro lugar, temos uma grande
diferença de valor. Certamente, a principal diferença entre os materiais é o preço, e edificar a obra de Deus da forma
como Ele determina custa caro, exige um preço espiritual, mas resulta em riqueza espiritual também. A segunda
diferença é o peso de cada material. Existe um peso espiritual na obra que fazemos, bem como em nossa vida, e
madeira, palha e feno nos mostram claramente a leveza espiritual. A terceira diferença é a consistência ou a densidade
dos materiais. O que é feito em Deus possui uma densidade que nos dá segurança. Por fim a quarta diferença é que
ouro, prata e pedras preciosas são minerais, enquanto madeira, palha e feno são orgânicos. Os primeiros não podem
ser fabricados ou produzidos pelo homem, pois são gerados espontaneamente pela natureza, enquanto os últimos
podem ser produzidos e cultivados pelas mãos humanas.
O fundamento, o alicerce, é sempre o mesmo; Deus mesmo o estabeleceu e é Cristo Jesus – não há edifício a não ser
que Cristo seja o fundamento. Entretanto, o edifício varia de acordo com os diferentes materiais e formas de edificar. É
interessante que o texto não diz nada a respeito do seu tamanho, da velocidade com que foi edificado ou da inteligência
da estratégia usada na construção. Em vez disso, ele só trata dos materiais usados. Muitos usarão madeira, palha e
feno, enquanto outros usarão ouro, prata e pedras preciosas. Deus não pergunta qual é o tamanho do edifício que
estamos construindo, mas Ele está interessado em saber que tipo de material temos usado.
Paulo mostra que ouro, prata e pedras preciosas representam o bom material, porque resistirão ao fogo, enquanto
madeira, feno e palha serão facilmente queimados. É o fogo que checa a realidade espiritual de nossa construção da
Igreja. Assim, todo membro de célula precisa entender que sua célula é uma edificação espiritual, pois é uma expressão
da Igreja. E o veredito do apóstolo é que o fogo provará qual seja a obra de cada um (1Co 3.13). O fogo representa os
olhos do Senhor, que são como chama de fogo, perante o Tribunal de Cristo, onde todos os crentes comparecerão e
suas obras serão manifestas (Rm 14.10; 2Co 5.10).

a) O ouro
O ouro nos fala da natureza de Deus, de tudo o que Deus faz e de tudo o que vem dEle, e aponta para a glória de Deus.
O que quer que Deus estiver fazendo, estará permeado com Sua glória.

b) A prata
A prata fala da redenção. O Senhor Jesus foi traído por 30 moedas de prata, metal usado como moeda de troca
naqueles dias que se tornou um símbolo espiritual da redenção, pois, na cruz, o Senhor nos comprou de volta para Ele,
nos redimiu. Todas as nossas obras estão baseadas na obra da cruz.

c) As pedras preciosas
As pedras preciosas apontam para a obra do Espírito Santo, isto é, a nossa transformação. Sabemos que os diamantes
são formados do carvão no decorrer de muito tempo, em altas temperaturas e pressões gigantescas. Nós também
somos transformados pelo Espírito Santo nas mesmas condições. O que leva em si a eterna glória de Deus, a cruz do
Filho e a transformação do Espírito Santo é chamado de ouro, prata e pedras preciosas.
A Igreja é edificada pela transformação de Simão em Pedro, como lemos em Mateus 16.15-18. Sem transformação não
há edificação. Depois de sua confissão, o Senhor mudou o nome de Pedro e, na Palavra de Deus, ter o nome mudado
significa ter a vida transformada. Simão fora transformado numa nova pessoa, um novo homem que agora era como
uma rocha ou pedra. E não apenas Pedro foi transformado para ser útil na edificação da Igreja, mas todos nós devemos
ter a mesma experiência para sermos parte da edificação de Deus, do Seu edifício.

d) A madeira, a palha e o feno


Por outro lado, madeira fala do homem e de sua natureza. A madeira contrasta com o ouro, que aponta para a natureza
de Deus. Palha é algo mais fugaz, pois fala das obras humanas – a palha será queimada, assim, tudo o que é da carne
será destruído.
Toda a carne é erva, e toda a sua glória, como a flor da erva; seca-se a erva, e caem as flores, soprando nelas o hálito
do SENHOR. Na verdade, o povo é erva. (Is 40.6,7)
Madeira nos fala do tipo de força da qual dispomos para fazer a obra de Deus. Muito do que é feito é apenas humano e
fruto de decisão, esforço próprio e capacidade humana. Palha aponta para a obra humana – alguns trabalham
exclusivamente confiados em sua mente, inteligência, articulação, expressividade e habilidades; estes edificam com
palha. Feno representa a fraqueza do homem, a mortalidade e inutilidade de sua vida natural. Edificar com feno é
trabalhar confiado nas emoções naturais – se há empolgação, trabalham; se não há, recusam-se a colaborar.
Ora, o ouro, a prata e as pedras preciosas normalmente não aparecem na superfície da terra; têm de ser retirados das
profundezas do solo. Já a madeira, a palha e o feno surgem na superfície e podem ser obtidos facilmente. Assim,
concluímos que tudo o que procede das profundezas do coração, como resultado de uma obra espiritual, é obra de
Deus, mas tudo o que pode ser feito na carne procede do homem e não tem valor algum.
Infelizmente, muitos cristãos se tornam descuidados em suas ações, vida e fé à medida que avançam na vida cristã.
Quando olhamos o começo deles, os primeiros anos fervorosos, frutíferos e gloriosos, e depois observamos em que se
tornaram, ficamos preocupados com nosso próprio futuro. Mas, podemos ficar seguros de que o nosso Deus nunca
muda e tudo aquilo que Ele faz não pode ser desfeito ou removido. Se for obra de Deus, ela permanece. Paulo, porém,
diz que permanece o firme fundamento da obra: o Senhor conhece os que são seus.
No texto de 2 Timóteo 2.19-21, lemos que, numa casa, há utensílios de ouro e de prata, e também de madeira e barro.
Observe que a ênfase está no valor, não na utilidade:
Entretanto, o firme fundamento de Deus permanece, tendo este selo: O Senhor conhece os que lhe pertencem. E mais:
Aparte-se da injustiça todo aquele que professa o nome do Senhor. Ora, numa grande casa não há somente utensílios
de ouro e de prata; há também de madeira e de barro. Alguns, para honra; outros, porém, para desonra. (2Tm 2.19-21)
Se formos honestos, concluiremos que os vasos de madeira e de barro são muito mais úteis que os de ouro e prata,
mas a questão não é a utilidade, e sim o valor. Muitas obras feitas hoje são baratas e podem ser muito úteis para
propósitos naturais, mas são de pouco valor diante de Deus. É a eterna questão do fazer algo para Deus e do gerar
filhos para Deus. Quando fazemos coisas, estamos olhando a utilidade, mas quando geramos filhos, estamos visando o
valor e a preciosidade, pois com o que compraremos um filho gerado? Ele vale mais que o mundo inteiro.
Nesse texto de 2 Timóteo, a simbologia é a mesma: o ouro e a prata se referem ao que procede de Deus, tem Sua
natureza e Seu selo. Madeira e barro falam da obra humana, e o que é feito na capacidade natural.
Precisamos contemplar o Senhor para sermos iluminados. Precisamos orar com fé para receber revelação, colocar de
lado nosso ego e nossas preferências pessoais. Devemos cortar fora a carne e tudo o que procede do nosso eu. Isto
demanda tempo e custa caro, mas só tem valor aquilo que custou caro para nós.

4. O julgamento e a recompensa
Paulo diz que haverá “o dia” em que nossas obras serão testadas diante de Deus (1Co 3.13-15). Existem muitas obras
feitas hoje em dia, mas a única que será considerada é aquela que foi feita visando à edificação da Casa de Deus na
terra. Deus está empenhado no cumprimento de Seu propósito eterno, que é ter Sua habitação no meio dos homens, e
aqueles que trabalham para Deus devem trabalhar na obra na qual o próprio Deus está envolvido. Jesus disse que está
edificando Sua Igreja hoje, portanto, se estivermos edificando outras coisas, essas obras não serão consideradas por
Deus. A verdade é que todo crente comparecerá diante do tribunal de Cristo e, naquele dia, a obra de cada um será
testada pelo fogo.
...manifesta se tornará a obra de cada um; pois o Dia a demonstrará, porque está sendo revelada pelo fogo; e qual seja
a obra de cada um o próprio fogo o provará. Se permanecer a obra de alguém que sobre o fundamento edificou, esse
receberá galardão; se a obra de alguém se queimar, sofrerá ele dano; mas esse mesmo será salvo, todavia, como que
através do fogo. (1Co 3.13-15)
Porque importa que todos nós compareçamos perante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o bem ou
o mal que tiver feito por meio do corpo. (2Co 5.10)
Tu, porém, por que julgas teu irmão? E tu, por que desprezas o teu? Pois todos compareceremos perante o tribunal de
Deus. Assim, pois, cada um de nós dará contas de si mesmo a Deus. (Rm 14.10,12)
Porque de nada me argúi a consciência; contudo, nem por isso me dou por justificado, pois quem me julga é o Senhor.
Portanto, nada julgueis antes do tempo, até que venha o Senhor, o qual não somente trará à plena luz as coisas ocultas
das trevas, mas também manifestará os desígnios dos corações; e, então, cada um receberá o seu louvor da parte de
Deus. (1Co 4.4,5)
Porque o Filho do Homem há de vir na glória de seu Pai, com os seus anjos, e, então, retribuirá a cada um conforme as
suas obras. (Mt 16.27)
E eis que venho sem demora, e comigo está o galardão que tenho para retribuir a cada um segundo as suas obras. (Ap
22.12)
Ora, nós conhecemos aquele que disse: A mim pertence a vingança; eu retribuirei. E outra vez: O Senhor julgará o seu
povo. Horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo. (Hb 10.30,31)
O ensino bíblico é que, se a obra permanecer, haverá galardão. O teste será o fogo de Deus. A Palavra de Deus diz que
nosso Deus é fogo consumidor, diz também que Ele faz Seus ministros como labaredas de fogo. Fogo não danifica fogo,
portanto, se fomos feitos da mesma natureza de Deus, então somos fogo como Ele. Todo homem haverá de
comparecer diante da presença de Deus, e, para aqueles que não possuem a natureza do fogo, esse dia será o inferno.
Assim como Deus e nós mesmos somos fogo, nossas obras precisam ser de tal natureza que o fogo não as consuma.
Se for madeira, palha e feno, certamente serão consumidos.
Precisamos ter muita clareza de que a salvação não depende do que edificamos sobre o fundamento, mas de estarmos
ou não sobre ele. O fundamento é Cristo e, se estamos nele, já estamos salvos, mas isso não é garantia de que
receberemos o galardão. Este será concedido com base naquilo que tivermos construído sobre o fundamento. Todos
nós fomos colocados como construtores, por isso, todos compareceremos com nossas obras perante o Senhor naquele
dia.

5. Um templo para a habitação de Deus


A Igreja é a edificação de Deus. Essa edificação é, na verdade, um templo para a habitação e expressão de Deus pela
eternidade.
Quando falamos a respeito da edificação da habitação de Deus, existem três tipos de pessoas relacionadas a ela: os
que edificam com ouro, prata e pedras preciosas, os que edificam com madeira, palha e feno, e aqueles que nem
edificam, mas estão destruindo o edifício com as divisões e outras atitudes carnais. Para estes últimos, Paulo faz uma
advertência muito séria: “Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá; porque o santuário de Deus, que
sois vós, é sagrado (1Co 3.17). Ninguém pode tocar indevidamente na edificação de Deus e ficar impune. Quem tentar
destruir a Casa de Deus será destruído por Ele. Paulo estava exortando os coríntios, que eram cheios de divisão, pois
esses que causam divisão estão destruindo a Casa de Deus, e serão destruídos.
Algumas coisas são sagradas, outras não. O prédio onde nos reunimos não é sagrado, mas a Igreja que se reúne ali,
sim, é sagrada. Destruir a Igreja é tentar destruir o próprio Cristo, pois Ele é o Cabeça, mas o Corpo também é Cristo. O
veredito é sério: aquele que destruir ou danificar o templo de Deus será destruído. João diz que existem pecados para
morte, e este com certeza é um deles.
Nono Dia
Cinco passos para a edificação
Todo aquele que está envolvido na edificação da Casa de Deus precisa estudar “o padrão” esboçado na Palavra de
Deus e edificar de acordo com ele. A exortação de Paulo é para que cada um veja como está edificando (1Co 3.9-10).
Deus somente pode colocar o selo de Sua glória sobre aquilo que está de acordo com o Seu padrão.
Precisamos avançar em nossa revelação da Igreja para sermos aprovados como obreiros e para que nossa obra
permaneça. O princípio da semente do reino pode ser aplicado para o crescimento da revelação da Igreja. Primeiro, é o
grão (a Igreja nos evangelhos), depois, a espiga (a Igreja em atos) e, então, o grão cheio na espiga (a Igreja nas
epístolas) (Mc 4.28).
A Palavra de Deus nos mostra claramente cinco princípios fundamentais para a edificação da igreja. Evidentemente,
existem muitos outros princípios importantes, mas gostaria de destacar cinco deles.
1 - Visão
2 - Oração
3 - Relacionamentos
4 - Estratégia
5 - Multiplicação

1.Visão
O primeiro ingrediente essencial para que a obra de Deus seja feita é a visão. Não quero me deter falando sobre o
conceito de visão, mas apenas mostrar que a visão nada mais é que a planta ou o projeto que fazemos antes de
começar a construção.
Antes de construir, o arquiteto desenha a planta e faz um projeto completo. Antes da criação do universo, Deus tinha um
propósito eterno, uma clara e definida visão do que queria construir para a eternidade (Ef 1.4-14).
Nós estamos envolvidos na obra de edificação da Igreja. Para sermos construtores sábios, precisamos conhecer a
planta com clareza e edificar de acordo com o padrão de Deus. Na obra de Deus, não há lugar para a criatividade
humana. Tudo precisa ser feito de acordo com a revelação divina. Podemos ver isso claramente em muitas ocasiões na
Palavra de Deus.
O primeiro homem que edificou algo para Deus foi Noé. Foi dito a Noé que viria um julgamento sobre toda a terra. O
Senhor disse a ele que edificasse uma arca para que ele fosse salvo junto com sua família e um remanescente de toda
criatura (Hb 11.7). A arca, porém, deveria ser construída ou edificada do modo como Deus lhe mostrou.
Noé não originou a ideia ou o desenho da arca. Deus mesmo foi o arquiteto. Noé era o edificador de acordo com o
padrão dado a ele. Todos os detalhes foram dados a Noé. A arca deveria ser de tábuas de cipreste, tendo salas,
calafetada por dentro e por fora. Deveria ser de trezentos côvados de comprimento; cinquenta de largura e trinta de
altura, tendo uma janela no topo e uma porta de lado. Deveria também ter três andares. Para a arca, deveriam ser
trazidos sete casais de cada animal puro e um casal de cada animal impuro (Gn 7.2,3). A Palavra de Deus nos mostra
que Noé fez tudo de acordo com a ordem do Senhor.
Depois, encontramos o mesmo princípio na edificação do tabernáculo (Êx 25–40). Os detalhes do tabernáculo edificado
por Moisés não tiveram origem na mente de Moisés. Todos os detalhes, as medidas, os materiais foram originados em
Deus mesmo, o verdadeiro construtor. Moisés e aqueles que o auxiliaram, simplesmente edificaram de acordo com o
modelo que lhe foi mostrado no monte (Hb 8.8; Êx 25.8,9; 26.30; Nm 8.4).
Moisés obedeceu ao Senhor e tudo foi feito de acordo com o padrão que lhe foi mostrado no monte (Êx 39.42,43;
40.33,34). Em Êxodo 39 e 40, é dito dezessete vezes que tudo foi feito como o Senhor mandou a Moisés. Moisés foi fiel
em todos os intrincados detalhes do padrão de Deus para a Sua Casa (Hb 3.1-5).
O Senhor é um construtor sábio. Por isso, antes que qualquer trabalho de edificação seja iniciado, Ele faz primeiro uma
planta, um desenho daquilo que pretende edificar, e todos os trabalhadores da obra edificam de acordo com essa planta
preestabelecida.
Nenhum bom edificador reúne o material de construção e vai construindo sem um projeto, nem usando qualquer
material sem critério algum. Os materiais devem ser colocados de acordo com a planta. Quando tentamos edificar sem
conhecer a planta, o resultado é um amontoado de pedras, e não um edifício; é um monte de tijolos, e não uma casa.
Todo material deve ser reunido em seu lugar apropriado e edificado de acordo com a planta do arquiteto.
É uma situação triste que hoje o povo de Deus se reúna como um monte de materiais, pedras espirituais, que não estão
edificadas juntas como casa para o Senhor, uma habitação para a Sua glória. O povo tem se multiplicado, mas não tem
sido edificado (At 9.31). Eles são reunidos, mas não encaixados no edifício de Deus (1Co 3.9-17).
Ao vir ao mundo, antes de iniciar Seu ministério, Jesus tinha uma visão clara do que queria edificar. A palavra que
sintetiza a visão de Deus e do Senhor Jesus é a palavra “igreja”. O Senhor Jesus declarou: “[...] edificarei minha igreja”
(Mt 16.18). Ele é o prudente construtor, que edificará de acordo com o padrão de Deus, de acordo com Sua planta.
Quase todos, equivocadamente, chamam de Igreja o prédio onde as pessoas se reúnem para adorar ao Senhor. Esses
lugares não são nem igrejas, nem templos, são apenas locais de reunião da igreja.
A Igreja é a comunidade de homens e mulheres que confessaram a Cristo como Senhor, experimentaram o novo
nascimento e juntos estão sendo edificados para serem casa de Deus no espírito. A Igreja é algo sobrenatural. Não
devemos pensar que a Igreja seja apenas ter dois ou três reunidos. Ela é a união do homem com Deus, a divindade
unida com a humanidade pela eternidade.
Para que possamos edificar apropriadamente, precisamos ter em mente as três dimensões colocadas pelo Senhor em
Sua oração, em João 17.
Em primeiro lugar, o Senhor ora para que a Igreja seja santificada. Esse é o aspecto da qualidade da edificação.
Não peço que os tires do mundo, e sim que os guardes do mal. Eles não são do mundo, como também eu não sou.
Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade. (Jo 17.15-17)
No meio evangélico, existe uma discussão sobre o aspecto qualitativo e o aspecto quantitativo da Igreja. Normalmente,
os líderes tomam apenas esses dois aspectos e discutem sobre qual dos dois é mais apropriado para trabalhar, como
se devêssemos escolher um dos dois. O Senhor mostra claramente que, antes de tudo, é preciso haver santidade, e a
santidade é o lado qualitativo da edificação.
Porém, depois de orar por santidade, o Senhor ora pela unidade da Igreja. Isso foge completamente do nosso conceito
natural.
A fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós; para que o mundo
creia que tu me enviaste. Eu lhes tenho transmitido a glória que me tens dado, para que sejam um, como nós o somos;
eu neles, e tu em mim, a fim de que sejam aperfeiçoados na unidade, para que o mundo conheça que tu me enviaste e
os amaste, como também amaste a mim. (Jo 17.21-23)
O Senhor nos mostra que o tipo de santidade que edifica a igreja é aquela que resulta em unidade. O Senhor disse:
“Santifica-os na verdade [...] a fim de que todos sejam um” (Jo 17.17,21). Se formos santificados na verdade, o resultado
é que seremos um. Sem a unidade, não é possível edificar a igreja local. Precisamos ter uma só mente e um só coração
para ter alguma edificação. Mas o que poucos percebem é que, quando somos santificados na verdade,
espontaneamente manifestamos unidade.
A santidade religiosa que a maioria das pessoas conhece diz respeito apenas a cumprir certas regras, como não
adulterar, não beber, não usar drogas ou fumar, não roubar e ser um bom cidadão. Esses preceitos podem ser seguidos
por qualquer pessoa e não resulta em unidade da Igreja. A verdadeira santidade é aquela que mortifica o ego e libera o
Espírito de Deus.
Uma vez que temos unidade, o resultado será o crescimento numérico, a quantidade. Observe que o Senhor disse que,
se formos um, o mundo crerá. A equação da edificação é baseada na oração do Senhor: “Santifica-os na verdade [...] a
fim de que todos sejam um [...] para que o mundo creia”.
Veja as três dimensões presentes:
• Qualidade: “[...] Santifica-os” (vv. 15-17).
• Unidade: “[...] para que todos sejam um” (vv. 21-23).
• Quantidade: “[...] para que o mundo creia” (vv. 21,23).
Qualidade produz unidade, que produz quantidade. Essa é a equação da edificação.
Tudo, porém, começa com a santidade. A Igreja que o Senhor deseja edificar é um povo que vive uma vida santa. De
acordo com as Escrituras, o Senhor Jesus Cristo vai levantar uma Igreja gloriosa e santa, sem mancha, nem ruga ou
coisa semelhante (Ef 5.26,27). Essa Igreja é edificada com ouro, prata e pedras preciosas (1Co 3.11-15), até que todos
cheguemos à medida da estatura da plenitude de Cristo (Ef 4.13).
Em termos práticos, isso significa uma Igreja integrada por famílias que vivem em paz e harmonia, com maridos ternos,
sábios e amáveis; esposas submissas de caráter afável e amoroso; e filhos respeitosos e obedientes.
A vontade de Deus é que, no meio do povo de Deus, os rapazes e moças cheguem virgens ao casamento; os anciões
sejam honrados e respeitados pelos mais jovens; crianças sejam felizes, criadas no amor e temor do Senhor.
Deus deseja ter um povo diferente, formado por discípulos que aprendem a ser humildes, pacientes, mansos, justos,
generosos, sinceros, bondosos, honrados e íntegros.
Discípulos cujo estilo de vida é amar, perdoar, servir, confessar suas faltas, obedecer, sujeitar-se às autoridades, pagar
seus impostos, ser sempre verdadeiro, confiar em Deus, amar seu próximo, ajudar, compartilhar com os necessitados,
chorar com os que choram, alegrar-se com os que se alegram, ser um com os irmãos, devolver bem por mal, sofrer as
injustiças, dar graças sempre por tudo, vencer a tentação, viver no gozo do Senhor, orar sem cessar, dar testemunho de
Jesus Cristo, ganhar outros para Cristo, fazer discípulos, ofertar seu dinheiro e seus bens a serviço dos irmãos, e, sobre
todas as coisas, amar a Deus com toda a sua alma.
À medida que progredimos em qualidade, progrediremos em unidade, e o resultado é o crescimento em quantidade,
porque a unidade é fruto da qualidade, assim como a divisão é evidência de imaturidade e carnalidade (1Co 3.1-4). Os
filhos de Deus, como irmãos que são, devem formar uma só família aqui na terra, a família de Deus.
Essas dimensões podem ser vistas em outras partes do Novo Testamento (Ef 1.4-13; Ef 4.7,16). E também podemos
percebê-las no próprio caráter de Deus. A visão da Igreja é resultado da visão e revelação que temos de Deus.
Por que santidade? Porque Deus é santo.
Por que unidade? Porque Deus é um.
Porque quantidade? Porque Deus é amor e deseja salvar a todos.
Essa visão precisa encher o nosso coração. Não podemos ter apenas um conceito da visão, precisamos receber a
revelação. Quando a visão de Deus encher o seu coração, sua vida será tocada em todas as áreas.
A visão produzirá em você transformação, porque você passará a vivê-la. A visão despertará fé em seu coração,
capacitando-o a viver por ela. A visão despertará a paixão pela edificação e produzirá o compromisso que o levará a
viver para ela. No fim, nós nos disporemos a fazer qualquer sacrifício porque a visão da Casa de Deus nos encherá de
tal forma que seremos até mesmo capazes de morrer por ela.
2. Oração
A oração é o segundo ingrediente indispensável para a edificação da Casa de Deus. Jesus tinha visão ao iniciar Seu
ministério, mas a primeira coisa que fez depois de ser batizado e ungido pelo Espírito Santo no rio Jordão foi ir ao
deserto para orar por quarenta dias. Ele foi orar e jejuar.
Podemos ver facilmente nos evangelhos como a oração era uma parte integrante do ministério do Senhor. Cada manhã,
Ele iniciava o dia orando (Mc 1.35), e, às vezes, passava a noite orando (Lc 6.12).
Por que Ele orava se era o Filho de Deus? Se o próprio Senhor reconhecia que precisava orar, então nenhum de nós
pode abrir mão da oração.
A oração é completamente imprescindível, porque não podemos edificar a Casa de Deus por nós mesmos. Somos
absolutamente incapazes de realizar a visão (qualidade, unidade e quantidade). Somente Deus é poderoso e capaz de
edificar a Igreja (Ef 3.20). Sabemos também que Deus o fará tão somente se Lhe pedirmos em oração (Mt 18.18,19).
Temos o costume de jejuar duas vezes por ano. Algumas vezes, fazemos por vinte e um dias; outras, por quarenta dias.
Esses períodos de oração e jejum são o segredo de avançarmos na edificação da igreja. Muitas igrejas fazem
campanhas de oração semelhantes, mas sua oração é apenas em função das necessidades dos crentes. Isso é bom,
mas precisamos avançar para um nível de oração que envolva a realização do propósito do coração de Deus.
O Novo Testamento nos mostra os motivos pelos quais devemos orar. Evidentemente, devemos orar a respeito de todas
as coisas e nem preciso dizer que cada um deve sempre orar por suas necessidades pessoais. Mas a intercessão
principal deve ser pela realização do propósito eterno de Deus. Todavia, existem alguns exemplos bíblicos de motivos
de oração que não devemos esquecer:
• Santidade, unidade e quantidade (Jo 17).
• A extensão do Reino, necessidades materiais, confissão e proteção do mal (Mt 6.9-13).
• Envio de obreiros (Mt 9.38).
• Pelas autoridades e por todos os homens (1Tm 2.1-4).
• Por espírito de sabedoria e de revelação (Ef 1.16-19).
• Para que sejamos cheios de toda a plenitude de Deus (Ef 3.14-21).
• Por intrepidez e graça na evangelização (Ef 6.18-20).
• Para que haja cooperação entre a Igreja e o Senhor (At 4.29-31).
Em termos gerais, como igreja, temos enfatizado mais a adoração do que a intercessão. Deus quer levar-nos para a
intercessão sem com isso enfraquecer a adoração.

3. Relacionamentos
A terceira coisa que Jesus fez ao iniciar Seu ministério foi construir relacionamentos firmes com doze discípulos. Para
isso, assumiu a responsabilidade de estar com eles para formar e ensinar com Seu exemplo e Sua palavra, e eles
fizeram o compromisso de sujeitar-se ao Senhor e ser Seus discípulos.
A obra de Deus se faz com base em relacionamentos firmes de amor, comunhão e compromisso. Sem compromisso,
nossos relacionamentos se tornam apenas algo natural incapaz de produzir edificação.
Nossos relacionamentos na igreja acontecem em três níveis:
• Com pessoas mais experientes em sujeição e compromisso.
• Com iguais em sujeição mútua (2Tm 2.2).
• Com mais novos no evangelho em responsabilidade (Ef 5.21; 1Pe 5.5).
Todos os membros do corpo devem ter relacionamentos firmes com irmãos mais velhos, com iguais e com mais novos.
Todos nós precisamos de um Paulo, de um Barnabé e de um Timóteo em nossas vidas. Em outras palavras,
precisamos de um discipulador, de um companheiro de jugo e de um discípulo.
Todo o corpo bem ajustado e unido entre si por todas as juntas efetua o seu próprio aumento (Ef 4.16; Cl 2.19).
Nossos relacionamentos, porém, não devem ser frios e superficiais. Nossas relações, tanto com irmãos mais
experientes como com iguais e ainda com os mais novos, devem ter como base a atitude do Senhor Jesus descrita em
Filipenses 2.2-8:
Completai a minha alegria, de modo que penseis a mesma coisa, tenhais o mesmo amor, sejais unidos de alma, tendo
o mesmo sentimento. Nada façais por partidarismo ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros
superiores a si mesmo. Não tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão também cada qual o que é dos
outros. Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de
Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo,
tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se
obediente até à morte e morte de cruz.
Lendo o texto, a primeira atitude que percebemos é a atitude de unidade. Paulo diz: “[...] sejais unidos de alma” (v. 2).
Na edificação da Igreja, somente relacionamentos que promovem a unidade realmente edificam.
A segunda atitude é a atitude de humildade. Paulo disse: “[...] considere o outro maior” (vv. 3,8).
A terceira atitude é de submissão. O Senhor Jesus, sendo Deus, não usurpou ser igual a Deus (v. 7). Ele assumiu uma
atitude de servo, não de Senhor. O verso 7 diz que Ele se esvaziou e assumiu a forma de servo.
E, por fim, precisamos demonstrar uma atitude de amor sacrificial, e não de egoísmo. O alvo final do Senhor foi morrer
na cruz por obediência.
Somente com base no Espírito de Cristo em nós, é possível construir relacionamentos para chegar à verdadeira unidade
e edificação do corpo.

4. Estratégia
Em Efésios 4.7-16, é apresentada a estratégia de Deus para a edificação da visão de Deus:
E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e
mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de
Cristo, Até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à
medida da estatura da plenitude de Cristo, para que não mais sejamos como meninos, agitados de um lado para outro e
levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro. Mas,
seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, de quem todo o corpo, bem ajustado
e consolidado pelo auxílio de toda junta, segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu próprio aumento para
a edificação de si mesmo em amor.
Nesse texto, a figura dominante é a Igreja como corpo. Cristo é a cabeça, e cada filho de Deus é um membro ou uma
parte desse corpo.
O objetivo da cabeça é a edificação do corpo. Esse objetivo inclui as três dimensões – qualidade, unidade e quantidade.
Veja que, no verso 8, Paulo diz que os cinco ministérios foram dados com vistas ao aperfeiçoamento dos membros.
Essa é a dimensão da qualidade.
Depois, no verso 13, ele diz que essa obra é até que cheguemos à unidade da fé. Veja que, depois do aperfeiçoamento
(qualidade), vem a unidade da fé. Como resultado, Paulo diz, no verso 16, que o corpo efetua o seu próprio aumento.
Essa é a dimensão da quantidade, o crescimento numérico. Veja que os três aspectos caminham juntos: qualidade, que
gera unidade, que gera quantidade.
O plano da cabeça é usar todos os membros para edificação do corpo. Nessa obra de edificação, uma é a parte da
cabeça, outra, a dos ministérios, e outra a função dos membros.
A cabeça tem a função de governar o corpo, dar a ele vida (Ef 1.23; 3.19; 4.10), dar crescimento (Ef 4.15,16), dar dons a
cada membro para sua função (Ef 4.7,8) e constituir uns como apóstolos, outros como profetas e outros como
evangelistas, pastores e mestres. Tudo isso é função da cabeça, e não nossa.
O objetivo dos cinco ministérios é o mesmo que o de Cristo: a edificação do corpo. O plano deles é o mesmo que o de
Cristo: usar todos os membros do corpo. E a função deles está indicada no verso 12: “[...] o aperfeiçoamento dos santos
para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo”.
A palavra aperfeiçoar pode ser traduzida como “treinar, capacitar ou equipar”. No grego, a palavra usada é katartismos,
que significa: treinar, ordenar, aparelhar, guarnecer, equipar, prover de, preparar, formar um todo, governar, dirigir,
restaurar, reparar, colocar em seu lugar. Katartismos é um substantivo, por isso antigas versões da Bíblia a traduzem da
seguinte maneira: “para a perfeição dos santos”.
A função dos cinco ministérios é aperfeiçoar (Katartismos), treinar os santos para a obra do ministério visando à
edificação do corpo.
Esse aperfeiçoamento dos santos implica ordenar, relacionar, colocar cada um no seu lugar e organizar os santos para
que entrem em ação e desempenhem seu ministério na edificação do corpo de Cristo.
Na estratégia de Deus, toda a Igreja é um seminário, cada irmão é um seminarista, e os cinco ministérios são as
matérias que cada seminarista deve dominar. O alvo é que cada um cumpra seu ministério na edificação do corpo.
Cada membro do corpo precisa funcionar. Cada um é importante e tem uma função porque cada membro recebeu de
Cristo um dom (v. 7), e por isso é ministro do Senhor (v. 13).
Cada membro tem o ministério de trabalhar na edificação do corpo, e, nesse trabalho de edificar, cada um precisa ser
edificado no corpo e vinculado por meio de relacionamentos firmes para desempenhar seu ministério.

5. Ação e multiplicação
O ingrediente decisivo para realizar a obra é a ação seguida de multiplicação. Se não há uma ação, não há obra, e, se
não há multiplicação, não há expansão do corpo. A visão, a oração, os relacionamentos e a estratégia existem para
chegarmos à multiplicação, à expansão do corpo.
O fundamento e o modelo para a ação é o Senhor Jesus. Em Atos, lemos que Jesus começou a fazer e a ensinar (At
1.1). O Senhor Jesus não somente é o nosso modelo quanto à vida, mas é também na forma de trabalhar para Deus. A
ação do Corpo de Cristo, a Igreja, deve corresponder à ação de Jesus quando esteve com Seu Corpo aqui na terra. Ele
orava, jejuava, pregava, expulsava demônios, fazia milagres, ajudava os pobres, alimentava os famintos, abençoava e
amava as crianças, era amigo dos pecadores, perdoava os pecados, consolava os que sofriam, repreendia os
hipócritas, percorria cidades e povoados, evangelizava as multidões, evangelizava os indivíduos, entrava nos lares.
Mas, em toda essa ação intensiva, o aspecto central de Seu ministério era discipular doze homens. A esses chamou e a
eles se dedicou, formou, capacitou, equipou, treinou (katartismos) e enviou para que fizessem o que Ele mesmo fez.
Seu método era pelo exemplo de Sua ação e pela instrução. Ele ensina por ensino e por demonstração. Sarando, ele
ensinava a sarar; pregando, ele ensinava a pregar etc. E, além disso, ensinava-os e instruía à parte. Os discípulos eram
formados vendo a Jesus e ouvindo os Seus ensinamentos.
O Corpo de Cristo na atualidade, mediante todos os seus membros, deve realizar o mesmo ministério que Cristo
realizou. Para isso, o Senhor reparte Sua graça e dons a todos os membros do corpo. O que se espera de cada membro
é que funcione. Assim como foi para Cristo, o centro do ministério dos santos deve ser o fazer discípulos, pois isso é
fundamental para a edificação do Corpo de Cristo.
Toda a ação e todo trabalho precisa visar ao crescimento, à expansão do Corpo e à multiplicação. A base da edificação
e da multiplicação são as células.
O objetivo de toda célula deve ser a edificação do Corpo, mas toda a edificação precisa culminar na multiplicação.
Quando multiplicamos, estamos trabalhando para expandir o Corpo. A multiplicação deve ser o resultado natural da
qualidade e da unidade da célula. Quando temos qualidade e unidade, o resultado é quantidade.
Décimo Dia
A edificação é um encargo
Nosso encargo é edificar uma igreja de vencedores, onde cada membro é um ministro e cada casa uma extensão da
igreja, conquistando, assim, a nossa geração para Cristo, através de células que se multiplicam uma vez ao ano.
Essa é a nossa visão, a nossa declaração de propósito. A primeira parte dela diz que nosso encargo é edificar uma
igreja de vencedores.

Uma igreja de vencedores


O que é ser uma igreja de vencedores? É ser uma igreja que cumpre o propósito de Deus. E qual é esse propósito? Ter
um grupo de pessoas à Sua imagem e semelhança. Deus deseja encher o homem com Ele mesmo, com Sua vida, a fim
de expressá-Lo, para que assim o homem tenha o Seu domínio e O represente na terra.
O homem foi criado como um vaso para conter Deus dentro de si. Fomos feitos como uma luva para conter Deus. A luva
é imagem e semelhança da mão, mas a mão é a realidade da luva. Uma luva é criada conforme a semelhança da mão,
com o propósito de contê-la. Igualmente, o homem foi criado à imagem do Senhor com o propósito de conter a
Divindade.
Uma vez que o homem recebe Deus como vida dentro de si mesmo, ele se torna um instrumento nas mãos d’Ele. Para
que o homem fosse usado como instrumento, Deus deu-lhe a seguinte ordem:
Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e
sobre todo animal que rasteja pela terra. (Gn 1.28)
Crescer e multiplicar - A primeira ordem dada ao homem, na velha criação, foi para crescer e multiplicar-se. A mesma
ordem nos é dada hoje na nova criação. Todos nós recebemos a ordem de crescer e multiplicar (Mt 28.20; Mc 16.15). A
diferença é que Adão se multiplicava como alma vivente. Hoje, porém, nós nos multiplicamos pelo espírito de vida (1Co
15).
Uma igreja de vencedores, portanto, é aquela que cumpre o propósito original de Deus: crescimento e multiplicação.
Não há como cumprir o propósito de Deus sem fecundidade e multiplicação. Por isso, nossa visão exige a multiplicação
de cada célula pelo menos uma vez por ano. Um líder vencedor é aquele que assim se multiplica.
Deus também disse para o homem dominar, ou seja, deu-lhe autoridade para exercer o domínio como se fosse o próprio
Deus. Qualquer um que visse Adão saberia que ele representava Deus, pois, em tudo, era semelhante ao Criador.
Conserve em sua mente estas duas palavras: imagem e domínio. Porque temos a imagem, exercemos o domínio.
Imagem é para expressar (o próprio Deus) e domínio é para exercer autoridade (de Deus).
Todos nós precisamos lidar com o inimigo, sujeitando-o em todas as esferas de nossas vidas (Mt 16.19; 18.18; Rm
16.20). Sujeitar o inimigo significa vencê-lo em todas as circunstâncias, e não deixá-lo levar vantagem em nenhum
momento.
Quando sujeitamos e exercemos domínio, dizemos que estamos cumprindo a visão de que cada crente é um ministro. O
ministro sujeita e domina através da oração e da autoridade no nome de Jesus.
Assim, uma igreja de vencedores é aquela que cresce e se multiplica. Porém, ela também exerce domínio, porque
possui a imagem de Deus em seu caráter. Guarde o propósito duplo de Deus. Primeiro, Ele quer ter o homem à Sua
imagem para exercer domínio, ou seja, ser um ministro. Em segundo lugar, Deus deseja que esse homem se
multiplique. Uma igreja de vencedores tem a visão de conquistar a sua geração para Cristo.
Não somos apenas salvos, mas vencedores. O entendimento comum no meio evangélico é de que todo crente é um
vencedor. De fato, isso é parcialmente verdadeiro.
Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou. (Rm 8.37)
Na verdade, todo crente é legalmente um vencedor, por causa da vitória de Cristo. Mas, experimentalmente, muitos
vivem como derrotados. Os crentes vencedores cumprem o propósito de Deus, enquanto os derrotados ignoram e
desprezam o encargo de Deus para esta geração.
Há uma diferença entre posição legal e posição experimental. Posição legal é aquilo que, por direito, é nosso.
Legalmente, já somos mais que vencedores – Cristo já nos garantiu a vitória. Na cruz, Ele já pagou o preço da nossa
redenção e subjugou todos os principados e potestades. Ele venceu, e, assim, porque estamos n’Ele, nós também
somos vencedores. A posição d’Ele é a nossa posição também.
Entretanto, posição experimental é algo bem diferente. Tomar algo dessa forma significa praticar algo que já é uma
verdade legal. Há muitos crentes que legalmente são herdeiros de uma grande fortuna, mas não experimentam disso,
vivem numa miséria absoluta. Sendo filhos do Rei, vivem como se fossem escravos.
Em nossa igreja, adotamos este slogan: nosso encargo é edificar uma igreja de vencedores. Vencedores são aqueles
crentes que já experimentam, na prática, aquilo que lhes pertence legalmente. Uma coisa é ser salvo, outra é ser
vencedor.
Apesar de todo crente nascido de novo ser um vencedor legalmente, sabemos que essa não é a experiência de todos.
Na verdade, existem muitos crentes que são derrotados.
Talvez, você não concorde com essa tese e me questione: “Você está dizendo que um crente derrotado é salvo?”
Entenda isto: a condição para alguém obter a salvação é uma, enquanto a condição para o salvo tornar-se vencedor é
outra. A salvação tem a ver com a vida eterna, que é um presente de Deus a todo aquele que crê. Todavia, tornar-se um
vencedor é algo relacionado com o galardão e o reinado milenar com Cristo. A salvação é alcançada mediante a fé.
Porém, a recompensa, pelas obras que praticarmos diante de Deus.
A salvação (ter a vida eterna) é uma coisa, enquanto o reino (ser vencedor) é outra. A recompensa é apenas para os
vencedores. Você pode ter a vida eterna, ser salvo, e, ainda assim, viver como um derrotado. Essa é uma questão muito
séria.
Poucos se importam com a questão da recompensa ou do galardão que receberemos diante de Deus. Ninguém se
engane pensando que receberemos galardão porque aceitamos a Jesus. Galardão tem a ver com trabalho feito para
Deus.
A grande recompensa dos crentes será reinar com Cristo durante o milênio, depois que Ele voltar. Mas deixe-me dizer-
lhe algo: se você não está disposto nem mesmo a liderar uma célula, como poderá reinar com Cristo? Se não existe o
desejo, o encargo, de multiplicar sua célula uma vez por ano, não haverá galardão algum.
Em uma igreja de vencedores, cada membro é um ministro e todos se dispõem a liderar uma célula, multiplicando-a
uma vez por ano. O sinal de que estamos atuando como uma igreja de vencedores é ver as células se multiplicarem.

Cada membro um ministro


Nosso encargo é edificar uma igreja de vencedores, onde cada membro é um ministro.
Nossa visão é um encargo em nosso coração. Há uma diferença entre cargo e encargo. Cargo é a posição que as
pessoas assumem dentro de uma organização. Encargo é um desejo profundo no coração compartilhado por aqueles
que fazem parte de um mesmo organismo.
O encargo procede de um desejo profundo no coração. São sonhos do espírito. Enquanto o cargo fala de posições que
geram status. Quem trabalha por cargo precisa ser supervisionado o tempo todo, não tem motivação para criar nada e
só faz o que mandam. Mas quem tem encargo está disposto a dar a própria vida pelo objetivo proposto.
Existem dois tipos de líderes que não queremos em nossa igreja: aqueles que não fazem o que se manda e aqueles que
só fazem o que se manda. Os primeiros são ineficazes, e os segundos possuem apenas o cargo, mas não o encargo.
Os líderes que receberam o encargo não apenas fazem o que se manda, mas vão além: eles criam, sonham e realizam
além do que foi pedido. São homens que estão dispostos a verter sangue, suor e lágrimas, como dizia Winston Churchil.
Existe um grande impedimento à visão de que cada crente seja um ministro: o clericalismo. Ele é o sistema que surgiu
dentro da Igreja depois do quarto século e estabeleceu que há dois tipos de pessoas na Igreja: os clérigos e os leigos.
Aqueles especialmente dotados e capacitados são chamados clérigos (são os sacerdotes, reverendos, doutores em
divindades etc.) A outra classe, a dos ignorantes e incapazes, é de leigos. O sistema de clérigos e leigos é totalmente
maligno e uma grande ameaça, pois ele anula completamente o conceito básico do sacerdócio universal dos crentes, ou
seja, a verdade de que cada crente é um ministro.
Infelizmente, na maioria das igrejas, predomina o clericalismo, os membros não funcionam, tornaram-se letárgicos. O
inimigo tem conseguido anestesiar os membros para que não funcionem. Em nossos dias, há dois tipos de clericalismo.
Em um, os próprios clérigos se colocam acima dos leigos, afirmando que são eles os que sabem, os que conhecem e,
portanto, são incontestáveis. Chegam mesmo a proibir os membros de pregar, ensinar ou fazer qualquer outra coisa.
Nesse ambiente, a única função dos membros é ir à igreja, sentar-se nos bancos e ficar olhando para frente a fim de
ouvir o pregador.
Certo artista plástico foi convidado a pintar um quadro que fosse o retrato da Igreja. Surpreendentemente, ele pintou um
monte de nádegas com dois olhos enormes por cima. Aquela tela, infelizmente, traduziu a realidade de muitas igrejas:
um monte de nádegas com dois olhos esbugalhados. Os membros só sabem sentar-se e olhar para frente, nada mais.
O outro tipo de clericalismo é consequência do primeiro. Nele, o povo está tão acostumado à situação que contrata um
pregador profissional – um funcionário do púlpito – e exige que ele faça a obra de Deus, enquanto os membros apenas
dão o dinheiro. No primeiro caso, o clero proíbe o povo de falar; no segundo, o povo se cala, deliberadamente, e
contrata um profissional para expressar-se em seu lugar.
Na maioria das igrejas, hoje não há nenhum senso de Corpo de Cristo ou estrutura na qual os membros possam estar
envolvidos de maneira funcional. Por causa disso, a maioria, por decisão pessoal, escolhe sentar†se nos bancos do
prédio da igreja e não se envolver. Ao contrário dessa concepção, na visão de células, não há como se omitir ou não se
envolver. Estar na visão é estar comprometido.
Crentes que não se envolvem são crentes parasitas. Eles esperam ser mimados, ministrados e entretidos pela igreja.
Em troca, são contabilizados na estatística e, eventualmente, dão uma oferta – ou algo parecido – para manter “o
sistema”. Esse tipo de crente faz parte dos 85% dos membros que são carregados e ministrados pelos outros 15%.
Na igreja convencional, não há nenhum contexto no qual o crente possa ser treinado a produzir, ao invés de consumir.
Já na igreja em células, seus membros têm a oportunidade de desenvolver seus potenciais e se tornar produtivos.
Lamentavelmente, essa dinâmica não é experimentada na maioria das igrejas cristãs de hoje. Muitos de seus membros
frequentam, fortuitamente, apenas as reuniões dominicais e não se dispõem a envolver-se nos programas de atividades
de suas igrejas. Consequentemente, transformam-se apenas em mais um dado estatístico do relatório anual de
atividades da igreja “X”, o qual figura no gráfico dos “esquentadores de bancos”, ou no dos “contribuintes do sistema”, ou
no dos “expectadores sem importância”.
O sistema de Jesus foi projetado para resultar em produtores, e não em consumidores ou parasitas. Precisamos
retomar, nesses dias, o fundamento do sacerdócio universal do crente, a verdade de que cada um de nós é um ministro
(1Pe 2.9).
Não existe em nossa igreja um departamento ou um programa de células. O nosso alvo é bem mais ambicioso. Nós
queremos restaurar o modelo de Igreja do Novo Testamento, com um novo tipo de membro. Isso, na verdade,
representa o restabelecimento do paradigma original da Igreja. Nele, o membro não é mais um mero consumidor
espiritual (no shopping da igreja), mas um produtor útil e frutífero na família de Deus.
Muitos encaram a Igreja como uma prestadora de serviços espirituais, na qual podem buscar, quando desejarem, uma
ministração forte, uma palavra interessante, uma aula apropriada para seus filhos, um ambiente agradável, e assim por
diante. Quando, por algum motivo, os serviços da igreja caem de qualidade, esses consumidores saem à procura de
outro shopping espiritual mais eficiente. Membros assim não têm aliança com o Corpo.
Jesus nos chamou para fazer discípulos, e não apenas convertidos. Por isso, queremos ser um povo com uma vida
cristã sólida, com a prática regular de oração e leitura da Palavra de Deus. Queremos ser um povo cujos lares são
aquecidos pelo amor. Uma comunidade que serve a Deus com os dons na família, escola, trabalho, igreja etc. Em
outras palavras, nós desejamos ser ministros.
Como é o crente que se torna um ministro? Existe uma diferença entre você ter a visão e a visão ter você. Ter uma
visão não é algo difícil. Basta mudar nossa terminologia. Todavia, ser conquistado por uma visão é completamente
diferente, pois implica uma mudança de mentalidade.
Quando um crente compreende que ele deve produzir, e não simplesmente consumir, uma verdadeira revolução
acontece em sua postura em relação à igreja local. Ele não se preocupa em saber o que a igreja pode lhe oferecer.
Antes, preocupa-se em saber como ele pode ser útil a ela.
Ele não responsabiliza o pastor ou algum líder pelo seu crescimento espiritual, porque sabe que pode e deve ter
intimidade com Deus sem intermediário algum. Ele encara suas próprias guerras e ainda tem disposição para dar apoio
e socorro aos novos convertidos nas guerras deles.
Se tiver que se mudar para outra cidade, sabe que a igreja vai junto com ele. Sabe que mesmo distante do prédio, a
igreja acontece onde ele estiver.
Alguém conquistado pela visão está consciente de seus dons e de que deve usá-los para a edificação dos outros
membros. Essa visão, apesar de ser revolucionária, não é nova. Desde os tempos da Reforma Protestante, já se falava
em sacerdócio universal dos crentes. Estamos apenas retornando às origens e procurando viver segundo o padrão de
Deus.

Cada casa uma extensão da igreja


É algo realmente gratificante ver tantas pessoas funcionando como membros do Corpo vivo de Cristo. Temos o
privilégio de ver uma estrutura funcionando com liberdade, sem temores e permitindo o desenvolvimento do pleno
potencial de cada um.
Vejamos agora o terceiro aspecto de nossa visão: cada casa é uma extensão da igreja.
O prédio onde nos reunimos não é o retrato de nossa igreja. Ela poderia ser vista melhor como um tabernáculo no
deserto, perambulando de um lugar para outro, acontecendo simultaneamente por toda a cidade, nas casas.
Nas células, existe uma mobilização natural para ajudar os necessitados. Os mais velhos ensinam aos mais novos o
que é ser crente. Os pastores treinam os novos líderes para o desempenho do serviço e todo o Corpo se mobiliza para a
festa da colheita de almas. Afinal, cada célula visa se reproduzir e se multiplicar uma vez ao ano. Falamos todos uma
mesma linguagem e há uma unanimidade santa de propósito entre nós. Em nosso coração, sentimos que estamos
voltando para os primórdios da Igreja do primeiro século.
Nós somos uma igreja em células. Cada instituição é a cara do prédio onde se reúne, mas nossa igreja não existe em
função do prédio onde nos reunimos. Para nós, o prédio é apenas um lugar de treinamento e celebração. A vida normal
da igreja acontece em outros lugares, no nosso dia a dia.
Apesar de Deus ter habitado em um templo no Velho Testamento, isso não acontece no Novo Testamento. Hoje, nós
somos o templo de Deus. Ele habita em nós. Assim, biblicamente falando, a Igreja do Novo Testamento possui um lugar
de reunião, mas não possui templos.
Os templos são uma grande contradição do cristianismo. Na verdade, eles não existiam até o segundo século. Se você
procurasse pela Igreja no primeiro século, você seria conduzido a grupos de pessoas se reunindo em casas. Não havia
um prédio especial. No entanto, aquele foi o tempo em que a Igreja mais cresceu em número e na vida espiritual.
Na verdade, esses são objetivos básicos da Igreja: edificação e crescimento em número, em fé e serviço. Os prédios em
nada ajudam para que isso seja alcançado. Não sou contra o uso de prédios como lugares para a reunião da igreja.
Creio que eles têm muitas lições a nos ensinar.

a. Prédios falam de imobilidade


O mover de Deus diz: “Ide”. Mas nossos prédios nos dizem: “Fiquem”. O mover de Deus diz: “Busquem os perdidos”.
Mas os prédios nos dizem: “Deixem que eles venham até nós”.
Uma igreja em células é um tabernáculo ambulante. É sempre móvel, uma peregrina. Nossa identidade não está
associada a prédios. Eles possuem uma utilidade meramente funcional, e não existencial.

b. Prédios falam de inflexibilidade


Faça você mesmo um teste. Vá a uma igreja para a qual o prédio seja a própria identidade dessa comunidade. Avalie o
grau de abertura para mudanças no meio deles. Pode ter certeza: o resultado é zero. O prédio determina o tipo de igreja
que nele se reúne. Tudo fica em função do espaço disponível. Mas a pior coisa a respeito da falta de flexibilidade é a
estagnação. Entra e sai ano, e aquela igreja é a mesma. Sabe por quê? Porque ela e o prédio se confundem. Os
prédios mudam pouco, principalmente quando são caros e magníficos.
Na antiguidade, os judeus guardavam vinho em odres feitos de couro de ovelha. Esses odres precisavam
frequentemente ser untados por fora para não se enrijecerem e se partirem, perdendo todo o vinho. Assim, a maior
necessidade de um bom odre era ser flexível. Isso era necessário por causa da fermentação do vinho que emite gases e
força à estrutura do odre.
Essa ilustração é incrivelmente clara. Odres (estruturas) precisam ser flexíveis porque o vinho (Espírito Santo) é algo
cheio de vida que produz movimentos e mudanças eventuais de volume. E uma boa maneira de torná-los flexíveis é
sempre mantê-los cheios de óleo. Nós somos uma igreja flexível e aberta ao mover de Deus justamente porque nossa
identidade está nas células.

c. Prédios falam de impessoalidade


Por si só, os prédios são coisas impessoais. Apesar de, em alguns momentos, inspirarem o culto, transpiram
formalidade e distanciamento. Podemos estar alegres e descontraídos, mas quando entramos num “templo”, somos
atingidos por um espírito de impessoalidade. Tornamos-nos imediatamente frios, distantes e formais.
Esse tipo de problema não existe quando a vida da igreja extrapola os limites do prédio através das células. Elas
definem tanto a nossa liturgia quanto a nossa maneira de existir como igreja.

d. Prédios nos falam de orgulho


Uma das motivações da construção da Torre de Babel foi a perpetuação do nome dos seus construtores. Eles queriam
tornar-se célebres e famosos (Gn 11.4). Se, por um lado, os grupos estão à procura de ostentação e glória e se
preocupam muito com prédios, por outro, as células não ostentam coisa alguma e estão em todo lugar: nas casas, nas
escolas, nas empresas. Não temos em que nos gloriar, a não ser no poder de Deus.
Ao usar a analogia do templo, não estamos dizendo que somos contra os prédios, cremos mesmo que eles são
inevitáveis. Mas cuidado! Quando a identidade de uma igreja está ligada ao prédio, então a vida já se foi. O que resta é
uma instituição morta.
Acabou-se o tempo em que a vida da igreja era algo que acontecia aos domingos, nos templos. Em uma igreja de
vencedores, ser cristão é um estilo de vida que praticamos em nosso dia a dia. A igreja acontece em todo lugar: nas
ruas, nos colégios, nos supermercados, nos shoppings e, acima de tudo, nas casas.
Em uma igreja de vencedores, não recrutamos membros, fazemos discípulos. Membros de igreja não podem alcançar
muito para Deus. Discípulos, porém, conquistam nações. Se a visão entrar em você, onde você for, a igreja irá junto. Se
você se mudar para outra cidade, a igreja irá junto com você. Não vá à igreja, mas carregue a igreja aonde você for.
Décimo primeiro Dia
A edificação do Corpo de Cristo
A palavra “igreja”, no grego ekklesia, aparece 114 vezes no Novo Testamento. Destas, 90 são uma alusão à igreja local,
e das 24 restantes, 10 aparecem nas cartas de Paulo aos Efésios. Assim, ficam apenas 14 alusões à igreja invisível,
que a teologia chama de igreja universal – o conjunto de todos os salvos em todas as épocas. Quando o Novo
Testamento aborda o tema igreja, ele o faz quase exclusivamente referindo-se à igreja local: uma comunidade de
cristãos que não apenas estão unidos com Cristo, mas também uns com os outros.
Sabe-se que a palavra “igreja” possui três dimensões no Novo Testamento: em primeiro lugar, temos a igreja universal,
que é a união de todos os crentes de todas as épocas; em segundo lugar, temos a igreja local, que é a expressão
prática da igreja universal; e, por fim, temos cada crente individualmente sendo igreja.
No capítulo 18 do evangelho de Mateus, Jesus estabelece uma sequência para tratarmos com o irmão faltoso: primeiro,
um só homem vai tratar com seu irmão; depois, ele leva dois ou três consigo; então, se o caso não for resolvido, só
depois ele leva a questão à igreja. Disto concluímos que estes dois ou três reunidos não são a igreja local; podemos
dizer que são uma célula, mas não a Igreja.
Se teu irmão pecar contra ti, vai argui-lo entre ti e ele só. Se ele te ouvir, ganhaste a teu irmão. Se, porém, não te ouvir,
toma ainda contigo uma ou duas pessoas, para que, pelo depoimento de duas ou três testemunhas, toda palavra se
estabeleça. E, se ele não os atender, dize-o à igreja; e, se recusar ouvir também a igreja, considera-o como gentio e
publicano. (Mt 18.15-17)
Se eles fossem a igreja local, não haveria necessidade de se dizer o problema à igreja. Por isso concluímos que eles
são parte da Igreja, são membros dela, mas não são a igreja local. Dois ou três reunidos contam com a presença do
Senhor. É por isso que somos uma igreja em células. Contamos com a presença do Senhor na célula, mas a célula
sozinha não é a igreja local, apesar de, certamente, ser uma expressão dela. Sem a célula, não podemos edificar a
Igreja local da forma apropriada.
Dentre todas as definições da Igreja, o corpo e a casa são certamente as mais fáceis de entendermos e praticarmos.
Por isso, gostaria de aprofundar um pouco mais nossa compreensão da igreja local como um corpo.
Em um corpo, a principal característica é a união dos membros expressando vida. Se pegarmos pernas, braços, cabeça
e tronco, e simplesmente os ajuntarmos, teremos um amontoado de membros. Mas, ter um amontoado de membros em
nossas reuniões não faz de nós um Corpo. Para ser Corpo, os membros precisam estar vinculados, ligados uns aos
outros para que o sangue da vida de Deus circule entre eles. Muitas igrejas se tornaram apenas organizações, mas
Deus quer edificar um organismo.
Veja a diferença entre um organismo e uma organização:
..No organismo, os membros estão vinculados; na organização, estão associados.
..No organismo, os membros têm funções; na organização, têm cargos.
..No organismo, cada membro tem um ministério; na organização, têm mandatos.
..Na organização, trabalhamos por responsabilidade ou recompensa; no organismo, temos encargos de vida.
..Na organização, a autoridade é pelo cargo; no organismo, a autoridade vem pela vida e pelo reconhecimento.
..Mas o ponto principal é que a organização é algo morto e o organismo é essencialmente vivo.
Em 1 Coríntios 12.12-31, Paulo faz uma descrição detalhada da alegoria do corpo. A partir desse texto, vejamos como
precisamos avançar como Corpo de Cristo.

1. Estar em Cristo é estar na Igreja


No dia em que Paulo viu o Senhor no caminho de Damasco, Jesus lhe disse: “Saulo, Saulo porque me persegues?” (At
9.4). Paulo não estava literalmente perseguindo Jesus, mas esta era a realidade espiritual, pois tocar na Igreja é tocar
no próprio Cristo. Fomos unidos a Cristo de uma forma orgânica, a Igreja tornou-se parte da própria divindade. Assim
como nosso corpo é nossa expressão, a Igreja é a expressão do próprio Cristo sobre a terra.
O Corpo de Cristo, que é a Igreja, somente pode operar se um número suficiente de membros estiver funcionando.
Assim, a primeira afirmação de Paulo no verso 14 é categórica:
Porque também o corpo não é um só membro, mas muitos. (1Co 12.14)

2. Nenhum membro pode se recusar a envolver-se no Corpo


Porque também o corpo não é um só membro, mas muitos. Se disser o pé: Porque não sou mão, não sou do corpo;
nem por isso deixa de ser do corpo. Se o ouvido disser: Porque não sou olho, não sou do corpo; nem por isso deixa de o
ser. (1Co 12.14-16)
Não há desculpa para estar de fora. A responsabilidade de edificação está sobre todos. O pé não pode desculpar-se
porque não é mão, nem o ouvido porque não é olho. O princípio bíblico é claro: no corpo, todos os membros são
necessários. Nenhum membro tem o direito de se recusar a participar dele. No corpo humano, quando uma célula deixa
de funcionar, as demais dobram o serviço para suprir a falta daquela. Do mesmo modo, no Corpo de Cristo, deixar de se
envolver é exigir que os demais membros trabalhem mais para suprir essa ausência. Quando não nos envolvemos,
acabamos nos tornando um peso para o Corpo.
Por que algumas pessoas se recusam a viver a vida do corpo, a vida da Igreja? Paulo diz que a desculpa do pé é dizer
que não é mão, e a do ouvido é reclamar porque não é olho. Essas desculpas nos mostram algumas motivações
negativas.

a) Soberba
Quando o pé diz que, por não ser mão, ele não fará parte do corpo, está apenas demonstrando sua soberba. Cada
membro é necessário, mas alguns se consideram muito importantes para exercerem funções menores ou se ligarem a
membros menores. Para eles, só serve se forem “as mãos”, ou outras partes que consideram mais nobres. Eles veem
as funções como cargos e só querem fazer aquilo que se destaca, por isso, sendo “pés”, aspiram ser “mãos”.
Quando a Igreja é só uma sacola cheia de membros, as pessoas podem agir com descaso em relação a alguns de seus
membros em função de seus dons e habilidades espirituais. Pessoas arrogantes se julgam mais ou menos importantes
por causa das funções que exercem no Corpo.

b) Timidez
Esse é o caso daqueles que pensam que o que fazem é demasiadamente pequeno ou simples e, por isso, pensam que
não são importantes para o Corpo, pois qualquer um poderia desempenhar sua função. Alguns podem dizer que eles
são apenas “uma unha” (se ao menos fossem uma mão!) e, por isso, não fazem falta. Porém, cada membro tem uma
função distinta e essencial ao Corpo. Infelizmente, são muitos os que enterram seu dom por causa de suas limitações
naturais e, por isso, deixam de participar da vida da Igreja. Eles pensam que é muito embaraçoso ser “um pé”, pois, se
tropeçarem, todos irão culpá-los.

c) Inveja
Paulo diz que cada membro é colocado no Corpo pela vontade de Deus (1Co 12.18), mas sempre há aqueles que se
sentem ressentidos pela inveja e preferem não ser nada a serem “um pé”. Esses estão sempre pensando que os outros
querem impedi-los de ter ministério.
Cada membro precisa compreender que foi estabelecido no Corpo pela vontade de Deus. Quando pensamos que fomos
estabelecidos por homens, esperamos deles o reconhecimento e a força, mas quando entendemos que foi o Senhor
quem nos designou, sabemos que prestaremos contas diante dEle.

d) Ignorância
Mesmo quando ignora a própria importância, o membro ainda assim é parte importante do corpo. Alguns pensam que
não possuem dom e outros simplesmente ignoram o próprio dom. Há o conceito equivocado de que um dom precisa,
necessariamente, ser algo extraordinário e, como possuem apenas habilidades comuns, algumas pessoas pensam que
não possuem dons espirituais realmente úteis. Na igreja de Corinto, alguns nem mesmo se sentiam parte da Igreja
porque pensavam: “já que não sou mão, então não sou do corpo”.

3. Nenhum membro deve monopolizar o Corpo


Se todo o corpo fosse olho, onde estaria o ouvido? Se todo fosse ouvido, onde, o olfato? Mas Deus dispôs os membros,
colocando cada um deles no corpo, como lhe aprouve. Se todos, porém, fossem um só membro, onde estaria o corpo?
O certo é que há muitos membros, mas um só corpo. (1Co 12.17-20)
A vontade de Deus é que não haja nenhum monopólio, mas participação e variedade. É terrível imaginar a Igreja como
um olho gigante. Imagine um gigantesco ouvido, sem haver qualquer outro membro! Isso não seria a expressão
apropriada de Deus. O Corpo existe para expressar Cristo, e um único membro nunca será uma expressão completa do
Senhor.
O monopólio mata as funções do Corpo, torna os irmãos passivos e eles deixam de ser um canal para a ação do
Espírito de Deus.
Deus quer manifestar sua multiforme sabedoria através da Igreja (Ef 3.10), e vai fazê-lo através de gente tímida ou
extrovertida; gente que cura e gente que ora; gente que administra e gente que contribui; gente que visita os enfermos e
gente que prega nas praças; cada um à sua maneira. Não devemos exigir de ninguém que seja igual a nós, pois quando
tentamos ser iguais aos nossos irmãos, estamos desperdiçando a nós mesmos.
Precisamos sempre nos lembrar de que a célula é expressão da Igreja e, numa célula, o líder jamais deve monopolizar
as funções, fazendo tudo sozinho e não dando espaço para os irmãos. Mesmo na reunião, todos devem falar e fluir na
presença de Deus para a edificação do Corpo.

4. A mutualidade no Corpo de Cristo


Não podem os olhos dizer à mão: Não precisamos de ti; nem ainda a cabeça, aos pés: Não preciso de vós. Pelo
contrário, os membros do corpo que parecem ser mais fracos são necessários; e os que nos parecem menos dignos no
corpo, a estes damos muito maior honra; também os que em nós não são decorosos revestimos de especial honra. Mas
os nossos membros nobres não têm necessidade disso. Contudo, Deus coordenou o corpo, concedendo muito mais
honra àquilo que menos tinha, para que não haja divisão no corpo; pelo contrário, cooperem os membros, com igual
cuidado, em favor uns dos outros. De maneira que, se um membro sofre, todos sofrem com ele; e, se um deles é
honrado, com ele todos se regozijam. Ora, vós sois Corpo de Cristo; e, individualmente, membros desse corpo. (1Co
12.21-27)
A divisão no corpo acontece quando alguns membros presumem que podem dizer a outro membro que não necessitam
dele. Essa é a expressão do ego. Todo membro arrogante vive de forma independente, mas a vontade de Deus é a vida
de uns para os outros, a mutualidade.
O Corpo é edificado quando os membros têm igual cuidado uns com os outros (1Co 12.25). Não podemos dizer que
vivemos essa mutualidade numa igreja com milhares de membros, por isso precisamos da célula. Somente na célula
acontece de um membro sofrer e todos sofrerem com ele, de um se alegrar e todos os outros festejarem sua vitória. Não
somos uma igreja em célula por causa de uma estratégia ou visão organizacional, mas porque cremos que a célula é
uma expressão da Igreja. A célula é a Igreja de forma prática e viva (1Co 12.26).
Os ministérios no Corpo de Cristo são complementares. Portanto, assim como o olho não pode dizer à mão que não tem
necessidade dela, nem ainda a cabeça dizer aos pés que não necessita deles (1Co 12.21), ninguém pode julgar-se
suficiente em si mesmo. Isolar-se, portanto, é pecado contra o Corpo. Um coração em cima da mesa é carne morta, e o
pior, pode levar os demais membros à morte por não exercer sua função. Os membros do corpo são responsáveis pela
saúde uns dos outros, pois são eles que comunicam vida entre si, mas, se algum deles se isola, o resultado é a morte.
A principal causa de morte espiritual no Corpo de Cristo é o isolamento. É lamentável quando ouvimos pessoas dizendo:
“Cristo sim, Igreja não”. Como é possível aceitar a Cristo e rejeitar Seu Corpo? Isso mostra que não discernem o Corpo
e, por isso, estão morrendo. Não entendem que Cristo não é apenas a cabeça, mas o corpo inteiro.
O membro que se isola do Corpo demonstra desamor e deslealdade para com ele. O Senhor concedeu algo a cada um,
uma habilidade que deveria ser exercida para abençoar todo o Corpo, mas quando um membro se isola, todos perdem o
que o Senhor queria ministrar através dele. Não há dúvida de que membros que se isolam e desprezam o Corpo vão
prestar contas diante de Deus do que receberam e nunca compartilharam. Eles são o servo que enterrou o talento e foi
lançado fora. Que vida miserável é a vida de quem se isola e pensa que se basta! Que vida maravilhosa a é a vida
daquele que vive a realidade mútua do Corpo de Cristo!
Durante a era glacial, muitos animais morriam por causa do frio. Então, os porcos-espinhos perceberam a situação e
resolveram se juntar num grupo. Assim, se agasalhavam e protegiam mutuamente. Porém, seus espinhos feriam os
companheiros mais próximos, justamente os que forneciam mais calor, por isso, tornaram a se afastar uns dos outros.
Todavia, voltaram a morrer congelados. Precisaram então, fazer uma escolha: ou desapareciam da terra, ou aceitavam
os espinhos dos semelhantes. Sabiamente, decidiram voltar a ficar juntos e aprenderam a conviver com as pequenas
feridas que uma relação muito próxima podia causar, já que o importante era o calor do outro. Assim, terminaram
sobrevivendo.
Se ficarmos sozinhos, esfriamos, e a frieza e a friagem nos assolam. Precisamos nos manter aquecidos e até
incendiados, mas isso só será possível se nos mantivermos juntos. Somos como uma brasa: quando fica sozinha, se
apaga. Evidentemente, a proximidade e a comunhão têm um preço, e pequenas feridas sempre surgem quando nos
aproximamos e nos relacionamos.

5. O Corpo não deve ser dividido


Para que não haja divisão no corpo; pelo contrário, cooperem os membros, com igual cuidado, em favor uns dos outros.
(1Co 12.25)
A Igreja não pode prevalecer, a não ser que permaneça unida. Assim como o corpo dividido morre, a Igreja se destrói
pela divisão. Vivemos a realidade das denominações nesses dias, mas cada igreja local precisa ser um corpo vivo e
inteiro para poder prevalecer contra o império das trevas. Necessitamos viver a unidade e não uma mera união de
crentes. Há uma diferença entre união e unidade: união é ter muitas batatas no mesmo saco, enquanto unidade é
quando as batatas são cozidas e amassadas, tornando-se um purê dentro do prato. A unidade tem um preço de fogo e
quebrantamento, ou seja, não há unidade sem o fogo do Espírito e a renúncia do ego.
Conta-se que, numa marcenaria, houve uma estranha assembléia – as ferramentas se reuniram para acertar suas
diferenças. Um martelo exerceu a presidência, mas os participantes o notificaram que teria de renunciar. A causa? Fazia
demasiado barulho, além do mais, passava o tempo todo golpeando. O martelo reconheceu sua culpa, mas pediu que
também fosse expulso o parafuso, dizendo que este dava muitas voltas para conseguir algo. Diante do ataque, o
parafuso concordou, mas, por sua vez, pediu a expulsão da lixa. Dizia que ela era muito áspera no tratamento com os
demais, entrando sempre em atrito. A lixa acatou, com a condição de que expulsassem o metro, que sempre media os
outros segundo a sua medida, como se fora o único perfeito.
Nesse momento, entrou o marceneiro, juntou o material e iniciou seu trabalho. Utilizou o martelo, a lixa, o metro e o
parafuso. Finalmente, a rústica madeira se converteu num fino móvel. Quando a marcenaria ficou só, a assembléia foi
retomada. Foi então que o serrote tomou a palavra e disse: — Senhores, ficou demonstrado que todos temos defeitos,
mas o marceneiro trabalha com nossas dificuldades e com nossos pontos valiosos. Assim, não pensemos em nossos
pontos fracos, mas concentremo-nos em nossos pontos fortes.
Todos entenderam que o martelo era forte, o parafuso unia e dava força, a lixa era especial para limar e afinar as
asperezas, e o metro era preciso e exato. Sentiram-se então como uma equipe capaz de produzir móveis de qualidade,
e se alegraram pela oportunidade de trabalhar juntos.
Décimo Segundo Dia
Sete faces da Igreja
Sabemos que o propósito eterno de Deus e o desejo do Seu coração é ter a Igreja. Assim, se faz necessário saber o
que é a Igreja. Ela não é simplesmente um grupo de pessoas, também não é apenas dois ou três reunidos no nome do
Senhor. A Igreja é Deus, em Cristo, unido com a humanidade. Deus, em Cristo, uniu-se a Seus escolhidos e redimidos.
O alvo de Deus é unir-se conosco. O Pai, o Filho e o Espírito estão todos em nós (Ef 4.6; 2Co 13.5; Jo 14.17). De
acordo com a primeira epístola de João, estamos em Deus, e Ele está em nós (1Jo 4.15). No evangelho de João, lemos
que nós permanecemos nEle, e Ele em nós (Jo 15.4). Na carta aos Filipenses, lemos a seguinte declaração de Paulo:
“para mim, o viver é Cristo” (Fp 1.21). Escrevendo aos Gálatas, ele afirmou: “já não sou eu quem vive, mas Cristo vive
em mim” (Gl 2.20). Todos esses versículos indicam que Deus está unido a nós.
A Bíblia mostra que a Igreja é o Corpo de Cristo, não como mera ilustração, mas um fato, uma realidade. Na primeira
carta aos Coríntios, Paulo revela que o Corpo é Cristo (1Co 12.12). Assim, Cristo não é somente a cabeça, mas também
o corpo.
Porque, assim como o corpo é um e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, constituem um só corpo,
assim também com respeito a Cristo. (1Co 12.12)
Esse fato é provado também pela ilustração da videira no capítulo 15 do evangelho de João. No versículo 5, o Senhor
Jesus disse: “Eu sou a videira, vós, os ramos”. A videira não está nos ramos? Certamente sim! Como ramos da videira,
tudo o que Cristo é está em nós. Isso significa que fomos feitos partes dEle, assim como os ramos da videira são partes
dela. Portanto, devemos ter a ousadia de dizer que somos parte de Cristo, por isso, Paulo podia dizer que, para ele, o
viver era Cristo.
A Igreja é um grupo de pessoas nas quais Deus colocou a Si mesmo. Isso não quer dizer, no entanto, que nos
tornaremos Deus. Cremos que a Igreja se unirá a Deus e se tornará a própria expressão de Deus. Muitos sabem
somente sobre ser salvo, nascer de novo, tornar-se filho de Deus e, algum dia, ir para o céu. Mas o propósito eterno de
Deus é muito superior a isso. Esse propósito é ter uma Igreja constituída pelos que foram cheios dEle e unidos a
Ele.Talvez, em lugar de dizermos que somos membros do Corpo de Cristo, poderíamos dizer que somos parte de
Cristo. Eu sou uma parte de Cristo, você é outra parte e, quando essas partes se encontram debaixo do encabeçamento
de Cristo, temos a plenitude do Corpo. Isso é extremamente poderoso. Cada uma de nossas células precisa entender
essa verdade e trabalhar para a edificação de uma casa para Deus. A Igreja é a habitação de Deus, é o lugar onde
estamos nEle e Ele está em nós. Quando vivemos uma vida de uns aos outros, estamos começando a construir essa
casa espiritual para a habitação divina.
A célula é a expressão da Igreja, e edificar a célula é edificar a Igreja. Muitos, porém, veem a célula apenas como uma
reunião de irmãos numa casa, mas ela é muito mais que isso. Para edificarmos a célula de forma apropriada,
precisamos ter clareza do que é a Igreja. Na Palavra de Deus, podemos encontrar inúmeras definições da Igreja.
Gostaria de mencionar ao menos sete dessas definições bíblicas para que o Espírito Santo possa trazer revelação ao
nosso espírito.

1. O mistério do propósito eterno de Deus


Paulo diz que a Igreja é o mistério de Deus (Ef 1.9,10). A Igreja nada mais é que Cristo em nós. De fato, a divindade
veio habitar dentro da humanidade para glorificá-la. Deus não colocou apenas um pouco do Seu poder em nós, Ele
colocou a Si mesmo em nosso espírito humano. O homem natural pensa que somos loucos quando dizemos que temos
Cristo habitando dentro de nós, pois esse é um grande mistério para o mundo.
O mistério que estivera oculto dos séculos e das gerações; agora, todavia, se manifestou aos seus santos; aos quais
Deus quis dar a conhecer qual seja a riqueza da glória deste mistério entre os gentios, isto é, Cristo em vós, a
esperança da glória. (Cl 1.26,27)
O mistério que esteve oculto desde a eternidade é Cristo habitando no homem. Deus, hoje, habita dentro de nós, pois
esta é a única maneira de Ele realizar Sua obra no homem, habitando dentro dele. Isto é um mistério: o Pai Se colocou
dentro de nós. A vida de Deus foi injetada dentro do homem como se fosse um “santo vírus”: tem um ciclo de incubação,
maturação e reprodução. Uma pessoa infectada por um vírus inicialmente nem percebe, porque primeiro ele fica
incubado. Somente mais tarde, quando o vírus tiver cumprido seu ciclo, manifesta-se a doença. A mesma coisa
acontece conosco. Temos dentro de nosso espírito o “santo vírus” da vida divina. Um dia, ela se manifestará em sua
plenitude e, quando isso acontecer, todos verão que somos filhos Seus porque nos tornaremos tal qual Ele é.
Hoje, nós temos a vida de Deus, vivemos a vida com a qual o próprio Deus vive, pois Ele já a colocou dentro de nós.
Nós somos a habitação do Senhor; Ele habita dentro do homem. Este é o centro de todo o evangelho.
A diferença entre o cristianismo e todas as demais religiões é que todas elas ensinam ao homem um caminho para
agradar a Deus. O cristianismo, porém, não faz isso. Jesus nunca disse que veio para nos ensinar um caminho, Ele
apenas disse: Eu sou o caminho! Ele nunca disse “Eu vou orar a Deus para que vocês tenham vida”, ou “Eu vou ensinar
uma maneira de vocês terem vida”. Ele apenas afirmou: “Eu sou a vida”. Ele nunca disse que veio nos ensinar a
verdade, simplesmente afirmou: “Eu sou a verdade”. Por isso, Paulo diz que todos os tesouros da sabedoria e do
conhecimento estão ocultos em Cristo, esse mesmo Cristo que está em nosso espírito hoje. Nós carregamos dentro de
nós a sabedoria de que precisamos. Ser cristão nada mais é que se deixar ser conduzido por esse Cristo que habita em
nosso interior. Ser cristão é permitir que Ele seja tudo em nós.
Quando Jesus diz “Eu sou o caminho”, está afirmando que é o caminho para vencer o pecado e os vícios, está dizendo
que é o caminho para se ter um bom casamento, ser próspero e até ter saúde. Muitos querem fórmulas e métodos para
alcançar todas estas coisas, mas não há. Jesus é o caminho. Se estivermos nEle, venceremos. As pessoas sempre me
pedem para lhes ensinar alguns passos para vencerem isso ou alcançar aquilo. Contudo, não há passos, há o caminho,
que é Cristo. Quanto mais de Cristo fluir em nós, mais teremos das bênçãos de Deus.
O Senhor Jesus está tão próximo que nem mesmo no céu Ele poderá estar mais perto, porque Ele está dentro de nós.
Desfrutando de uma união assim, nós podemos ter verdadeira intimidade com o Senhor. O problema é que, às vezes, o
ignoramos ou nos relacionamos com Ele de maneira religiosa, natural e meramente intelectual. A Igreja só pode ser
edificada por aqueles que desfrutam da vida e da presença do Senhor em seu espírito.

2. O Corpo
Em Efésios 1.22,23, lemos que a Igreja é o Corpo de Cristo, a plenitude dAquele que a tudo enche em todas as coisas.
A Igreja é a plenitude de Cristo, e a palavra “plenitude” significa “expressão”. Assim, a plenitude ou a expressão de
Cristo é a Igreja. Assim como nosso corpo é a nossa expressão, o Corpo de Cristo, a Igreja, é Sua expressão e
plenitude. Só podemos conhecer alguém pessoalmente conhecendo seu corpo. Do mesmo modo, a maneira de alguém
conhecer a Cristo é conhecendo Seu corpo. Mas, se não houver uma expressão de Cristo, torna-se difícil para as
pessoas O conhecerem apropriadamente.
A célula é uma expressão de Cristo, pois é Igreja. Nela, as pessoas podem conhecer a Cristo quando veem Sua
expressão no Corpo vivo. Mas, se a célula for muito imatura, ela terá dificuldade de ser uma expressão apropriada de
Cristo, pois, para que seja uma expressão, o corpo deve amadurecer. Uma criança pode ser perfeita, mas seu corpo
não pode expressá-la em plenitude, pois para isso ela deve crescer. Em Efésios 4.12, Paulo mostra que o corpo precisa
crescer e aperfeiçoar-se até que todo ele chegue à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita
varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo. O corpo precisa crescer e os membros devem funcionar
apropriadamente. Essas são as duas condições básicas para que ele seja uma expressão da cabeça. Maturidade e
funcionamento, estes são os dois objetivos que toda célula deve perseguir para ser expressão da Igreja.
O Corpo de Cristo está relacionado à vida, é algo orgânico e vivo. E cada um de nós é parte desse corpo onde circula a
vida de Deus. A ilustração do corpo nos dá uma série de analogias que nos ajudam a compreender o que é a Igreja.

a) No corpo, todos os membros são imprescindíveis


Até mesmo aquele membro mais difícil e complicado está no corpo para ser instrumento de aperfeiçoamento dos
demais. Precisamos ser práticos com relação ao corpo. A célula é a plenitude da Igreja e a expressão de sua vida.
Assim, somente na célula todo membro pode ser envolvido e edificado, e perceber que é imprescindível. Há situações
em que nos sentimos incapazes de discernir a vontade de Deus, então, nos unimos aos irmãos da célula e colocamos
esse assunto em oração. Quando temos que tomar decisões sérias e pedimos o conselho de irmãos, estamos
reconhecendo nossa insuficiência e limitação; ao mesmo tempo, estamos reconhecendo que necessitamos do Corpo de
Cristo. Reconhecemos que nossos irmãos possuem habilidades e dons que nós não temos e, portanto, podem nos
ajudar; que alguns são mais maduros e experientes, e podem nos orientar. Quando agimos assim, rapidamente
descobrimos que cada membro do Corpo é útil e imprescindível. Assim, nos sentimos gratos por sermos parte de algo
tão extraordinário e abençoador.
Nenhum membro do corpo pode desempenhar as funções sem os outros membros. Não há membro isolado, pois
vivemos no corpo. Se eu cortasse minha mão e a colocasse em uma cadeira no outro lado da sala, ela ainda seria
minha mão, mas não teria mais utilidade porque estaria separada dos outros membros do meu corpo. Só seremos úteis
se estivermos conectados, porque Deus não pode usar membros desconectados do Corpo.

b) No corpo, todo membro deve funcionar


Evidentemente, cada membro possui sua função, mas há uma função comum a todos, como podemos ver em 1
Coríntios 12.15. Neste trecho, Paulo diz algo muito interessante: “Se disser o pé...” Depois ele diz: “Se o ouvido disser...”
Isso nos mostra que, no Corpo de Cristo, todos os membros falam: os pés, os ouvidos, os olhos... Falar é uma forma de
vivenciarmos a vida no Corpo. É por isso que somos uma igreja em células, pois somente num grupo pequeno todos os
membros podem funcionar falando.
É absolutamente fundamental que uma célula não seja a miniatura da celebração de domingo. Na célula, todos devem
falar da parte de Deus – Paulo disse que todos podem profetizar. Uma célula onde apenas o líder fala não é uma
expressão da imagem do Senhor. Sendo assim, se o corpo é a expressão da imagem, então cada membro precisa
cooperar, exercitando-se apropriadamente.
Cada um na célula é um membro do Corpo e, por isso, ninguém deve ser apenas um espectador passivo em uma
reunião. A passividade traz um grande prejuízo para o Corpo, pois priva os demais membros de serem edificados e
abençoados. Não digo que todos devem ser pregadores, mas precisamos ministrar vida a nossos irmãos. Existem
irmãos que levantam a reunião apenas com sua presença; eles realmente ministram vida ao Corpo.

c) No corpo, os membros se cuidam mutuamente


Se um membro sofre, todos sofrem com ele.
De maneira que, se um membro sofre, todos sofrem com ele; e, se um deles é honrado, com ele todos se regozijam.
(1Co 12.26)
Os dons são dados aos membros não para competição ou demonstração de maior espiritualidade. O dom tem como
objetivo o cuidado mútuo. O que fazer quando um membro está em necessidade? Por exemplo, meu paladar gosta de
pimenta, mas meu estômago não. Qual é a solução? Alguns forçam o estômago a gostar, então, todo o corpo sofre.
Neste caso, o melhor é deixar de comer pimenta por causa do estômago. Se minha garganta está infeccionada, meu
braço, que por acaso está muito bem, é quem sofre voluntariamente a dor da injeção de antibióticos para proteger o
outro membro do corpo. Não é maravilhoso isso? Na célula, nós protegemos e suprimos os outros membros que estão
doentes.
Por outro lado, um único membro pode levar todo o Corpo a sofrer. Precisamos perceber quanto poder existe em cada
membro, pois igrejas têm sido destruídas por causa de um só membro. Quando temos revelação do que é o Corpo,
somos cuidadosos com nossa vida, pois sabemos que nossas atitudes podem trazer dor e sofrimento para toda a célula,
e mesmo para todo o Corpo de Cristo na igreja local.
Vamos tomar o câncer como exemplo. Como ele se propaga? São algumas células que se desenvolvem de maneira
independente, fora da coordenação do corpo. O corpo não necessita que elas se multipliquem, mas essas células
insistem em continuar se multiplicando de forma anormal. Elas só se importam com seu próprio desenvolvimento. São
células independentes que agem fora da autoridade do corpo, crescem de forma desordenada e sugam toda a energia
disponível. Um corpo infestado por essas células cancerígenas rapidamente definha. Bastam poucas células
independentes para destruir todo o corpo.

d) No corpo, nenhum membro age independentemente


Todos os membros estão sujeitos à cabeça, que é Cristo. A mão não se submete diretamente à cabeça, mas ela o faz
através do braço. Assim, a autoridade da cabeça flui através dos membros.
Cada membro deve se submeter à autoridade direta da cabeça, mas também à sua autoridade indireta. A mão está
sujeita à autoridade direta da cabeça, porém, quando o braço se move, a mão se move junto com ele, porque a mão se
submete à cabeça através do braço. Por isso, aquele que possui revelação do Corpo de Cristo sabe que não é possível
estar no corpo de forma prática sem se submeter a outros membros.
Se você possui sensibilidade espiritual, já percebeu que, ao resistir à autoridade de seu líder de célula, um desconforto
no seu espírito é gerado. Esse desconforto é o Cabeça mostrando que, afinal, ao resistir seu líder, é a Ele que você está
resistindo. Ao reconhecer a autoridade do Cabeça, logo se percebe a autoridade dos outros membros, daqueles que
estão mais adiante na vida espiritual, aos quais você deve submissão.
Deus tem colocado no Corpo membros que representam o Cabeça. Se você resistir a eles, estará resistindo a Deus.
Precisamos de olhos espirituais para ver que existe autoridade em nosso Corpo, caso contrário, todo o Corpo estaria em
confusão. Suponhamos que o corpo sinta fome, mas a boca se recuse a comer. O que acontecerá? Todo o corpo
sofrerá. Embora somente um membro se recuse a se submeter, todo o corpo é prejudicado.

e) No corpo, todos participam de uma mesma vida


O sangue simboliza vida. A vida de Deus circulando entre nós opera no Corpo de Cristo o mesmo que o sangue faz em
nosso corpo natural. O sangue faz pelo menos quatro coisas:
..Mata os germes e protege o corpo;
..Elimina as impurezas do corpo;
..Leva energia aos membros;
..Mantém a temperatura do corpo.
É maravilhoso ser parte do Corpo de Cristo. Isso significa que tudo o que diz respeito à Cabeça também se aplica a
Seus membros. No Corpo de Cristo não há maldição ou enfermidade. Assim, como somos membros desse Corpo,
também não há maldição nem enfermidade em nós. Onde a cabeça está, todo o corpo também se encontra, por isso
Paulo diz que estamos assentados com Cristo nos lugares celestiais, acima de todo principado e potestade (Ef 2.6). O
destino da Cabeça é o destino de todo o Corpo.
Nunca descobriremos o espírito ou a alma de uma pessoa em algum de seus órgãos, membros ou glândulas, mas, em
certo sentido, o espírito está em todos os membros do corpo. Em relação à Igreja, a Bíblia diz: “Em um só Espírito, todos
nós fomos batizados em um corpo” (1Co 12.13). Um membro do Corpo pode ser mais cheio do que outro, mas nenhum
membro está sem o Espírito. Ser batizado pelo Espírito significa que pertencemos ao Corpo de Cristo. Ser cheio do
Espírito significa que nosso corpo pertence a Cristo.

3. O Reino
Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos... (Ef 2.19)
A Igreja é o reino de Deus. O termo concidadãos indica um reino, pois ser concidadão refere-se a participar de certos
direitos civis, e estes estão sempre relacionados com uma nação ou reino. A Igreja é o reino de Deus, e nós somos os
cidadãos desse reino, com direitos e responsabilidades.
A respeito desse Reino, a Palavra de Deus diz que somos embaixadores. Estamos aqui para representar nosso Rei.
Como representantes temos privilégios, mas temos também a grande responsabilidade de expressá-lo
apropriadamente.
A principal característica de um reino é que se trata de um governo. Assim sendo, a Igreja é o lugar onde o Senhor
governa. Quando o crente compreende a autoridade do Rei, ele está, de forma prática, introduzido no Reino. No
universo há duas grandes experiências: a primeira é crer para ser salvo e a segunda é ver a autoridade do Rei para a
obediência.
A palavra “reino” pode ser usada no sentido de cidadania ou do espaço onde reina um governante, mas também pode
ser usada no sentido de natureza – assim temos o reino animal, o reino mineral e o reino vegetal, cada um com sua
natureza própria. Isso mostra que pertencemos a um reino de natureza diferente. Somos do reino espiritual, e nossa
natureza é diferente da natureza daqueles que vivem no reino desse mundo.

4. A família de Deus
Em quarto lugar, a Igreja é a família de Deus, como podemos ver em Efésios 2.19. A família não é uma questão de
direitos civis, mas, sim, de vida e comunhão. Em sua casa você não fala muito sobre direitos, pois lá você tem a vida do
pai e a comunhão com ele. Essa é a expressão da Igreja que mais nos agrada e da qual mais falamos. Não é por acaso
que chamamos todos de “irmãos” dentro da Igreja. Fazemos isso porque somos mesmo filhos de um mesmo Pai,
trazemos em nós a mesma natureza de vida, o mesmo DNA espiritual.
Quando falamos de família, estamos afirmando que temos uma mesma natureza e um mesmo tipo de vida. Somos
nascidos na família porque fomos feitos filhos de Deus – temos Sua natureza, trazemos Seu nome e somos
participantes de Sua herança.
A família também é o lugar de convergência. Podemos estar nos melhores hotéis, mas somente conseguimos
descansar quando estamos em nosso lar. A família nos fala de desfrute e descanso, e devemos ver nossa célula dessa
maneira. Ela não pode ser apenas uma reunião religiosa numa casa; a célula precisa ser o encontro caloroso da família.

5. A habitação de Deus
Chegamos agora à definição de que mais temos falado desde o começo. A Igreja é também o lugar em que Deus
habita. No capítulo dois da carta aos Efésios, lemos que todo o edifício cresce para santuário no Senhor. Os santos na
Igreja local são edificados juntamente para habitação de Deus no espírito. Universalmente a Igreja é o templo do
Senhor, enquanto localmente é a habitação de Deus no espírito.
Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular; no qual todo
o edifício, bem ajustado, cresce para santuário dedicado ao Senhor, no qual também vós juntamente estais sendo
edificados para habitação de Deus no Espírito. (Ef 2.20-22)
Esse trecho nos mostra que o edifício é a Igreja que está edificada sobre o fundamento dos apóstolos e profetas. O
fundamento dos apóstolos é a revelação que eles tiveram. Ela foi dada a Pedro e está registrada em Mateus 16, assim
como a Paulo, que nos disse que Cristo é o fundamento e alicerce.
Segundo a graça de Deus que me foi dada, lancei o fundamento como prudente construtor; e outro edifica sobre ele.
Porém cada um veja como edifica. Porque ninguém pode lançar outro fundamento, além do que foi posto, o qual é
Jesus Cristo. (1Co 3.10,11)
Mas Cristo também é a pedra angular, aquela que ficava nos cantos para suportar o peso da construção.
Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular. (Ef 2.20)
Além disso, o Senhor é também a pedra de arremate, a pedra que é colocada no topo quando a construção termina,
como vemos no livro do profeta Zacarias:
...Porque ele colocará a pedra de remate, em meio a aclamações: Haja graça e graça para ela! (Zc 4.7)
Assim, Cristo é tudo em todos. Ele é o começo e o fim, o alfa e o ômega.
Na primeira carta aos Coríntios, Paulo afirma que lançou o fundamento, que é Cristo, e agora cada um veja como
edifica. Pedro diz que somos feitos pedras que vivem (1Pe 2.5), e somos, juntos, edificados casa espiritual para a
habitação de Deus. A Igreja como edifício não cresce apenas porque mais pedras vivas são acrescentadas, mas
também porque as pedras estão crescendo (Ef 2.21).
O propósito de Deus é edificar Sua habitação no universo. O céu não é a habitação permanente de Deus, apenas Sua
residência temporária. A Bíblia revela claramente que o Senhor está vindo para habitar em sua habitação eterna, que é
a Nova Jerusalém. Deus tem um propósito eterno para levar a cabo. O que Deus quer realizar é a edificação de Sua
eterna habitação, que é a união do Deus triuno com a Igreja. O propósito de Deus é edificar uma habitação eterna para
Si mesmo e para Seus escolhidos.

6. A Noiva de Cristo
Em Efésios 5.31,32, vemos a Igreja como noiva, a esposa de Cristo – e uma noiva visa à satisfação e felicidade do
noivo. Na época em que Adão estava sozinho, Deus disse: “Não é bom que o homem esteja só” (Gn 2.18). Esse
versículo indica que, quando estava só, Adão não tinha felicidade nem satisfação, por isso ele necessitava de uma
esposa. O dia do casamento de um homem é um dia de satisfação e felicidade. Visto que Cristo ama a Igreja, ela é Seu
prazer e satisfação.
A Igreja é como a auxiliadora idônea. Isto significa que somos do mesmo tipo, da mesma natureza, podemos nos casar
com a divindade. Para Adão não se achava uma auxiliadora idônea. Deus então criou Eva e a trouxe para ele. No
universo, não há outra senão a Igreja para se unir a Cristo. Como Eva foi tirada de Adão, nós fomos formados em Cristo
e de Cristo. Assim como o marido e a esposa se tornam uma só carne, nós seremos um só com Cristo pela eternidade.
Deus deseja ser recebido para dentro dos homens, assim formando Sua Noiva com quem deseja casar-se. O
casamento é a figura de uma comunhão maravilhosamente estreita, sem limites, cuja base é o amor. Assim, o que nos
une a Deus e Ele a nós é o amor. Toda a história contada na Bíblia é o relato de um maravilhoso romance entre um
Deus que empenha tudo para nos ter nesse nível de comunhão tão estreita baseada no amor. Que amor maravilhoso!
Esse casal, entretanto, deve ter a mesma natureza, pois é impossível misturar ou ligar intimamente elementos cuja
natureza seja incompatível. Eva deveria ser tirada daquilo que Adão era em si mesmo, de outra sorte, não poderia haver
comunhão, nem casamento. O mesmo ocorre com a Igreja: éramos todos filhos do homem, e o noivo era Filho de Deus.
A encarnação foi a divindade entrando na humanidade. Ele era o protótipo de uma nova raça, era o segundo Adão, o
Unigênito, Aquele que era o único gerado. Portanto, para haver casamento, deveríamos ser da mesma natureza que
Ele, deveríamos ter da sua vida, isto é, daquilo que Ele é em si mesmo. Na ressurreição isto aconteceu, Cristo veio ser
nossa vida. Hoje, somos filhos do homem com o Filho de Deus dentro de nós. Pode haver casamento agora. Aleluia!
Somos semelhantes, temos a mesma natureza.
Quando falamos da união de Cristo com Sua Noiva, a Igreja, precisamos também considerar outro aspecto fundamental:
a Noiva veio do Noivo, assim como Eva veio de Adão.
Eis por que deixará o homem a seu pai e a sua mãe e se unirá à sua mulher, e se tornarão os dois uma só carne.
Grande é este mistério, mas eu me refiro a Cristo e à igreja. (Ef 5.31,32)
Nesse versículo, Paulo está citando Gênesis 2.23 que diz: “E disse o homem: Esta, afinal, é osso dos meus ossos e
carne da minha carne; chamar-se-á varoa, porquanto do varão foi tomada”. Aqui está a definição da mulher: é uma
pessoa que do varão foi tomada.
No capítulo dois de Gênesis, vemos o processo de formação da mulher e sua união com o homem. Nesse processo, o
primeiro passo foi Deus ver que não era bom que o homem estivesse só. Adão, aqui, é apenas um tipo, uma imagem de
Cristo. Lembre-se que Adão era apenas uma foto, uma ilustração do verdadeiro Adão, que é Cristo.
Em segundo lugar, precisamos considerar a palavra auxiliadora. Não havia nada idôneo para o homem. Idôneo significa
à altura, do mesmo tipo, da mesma natureza, algo que se pode usar para complementar. Deus mandou que Adão
colocasse nome nos animais para que ele percebesse que não havia nenhum deles que pudesse ser seu complemento.
Era como se Adão dissesse: eles não se parecem comigo, como posso tê-los como companheiros?
Deus então começa o processo de trazer Eva à existência. E o segundo passo é fazer o homem dormir. Na Bíblia,
dormir simboliza morrer. O Senhor Jesus teve de morrer para trazer à existência Sua Noiva. Por três dias Ele esteve
dormindo o sono da morte. Jesus foi o grão de trigo que caiu na terra para morrer e crescer, e gerar muitos grãos (Jo
12.24) para fazer o pão que é o seu Corpo, a Igreja (1Co 10.17).
Mas um dos soldados lhe abriu o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água. (Jo 19.34)
O sangue é para redenção (Hb 9.22; 1Pe 1.18,19), mas o que significa a água? Em 1 Coríntios 10.4, vemos que a água
saiu da rocha fendida no deserto para dar vida.
Eva foi formada de uma costela de Adão, o que significa que a Igreja saiu de Cristo. Somente aquilo que é proveniente
de Cristo pode ser Igreja. Tudo o que não é Cristo não é Igreja. Tudo o que é natural, do ego, do homem, não tem parte
na Igreja e não pode ser usado na sua edificação. A questão da fonte, da origem das coisas, é a primeira lição na vida
cristã. Assim como Eva era outra forma de Adão, a Igreja é apenas outra forma de Cristo, mas é exatamente Cristo.
Se o sono de Adão simboliza a morte de Cristo, então seu despertar representa a ressurreição. Quando Adão viu Eva,
ele disse: “Esta, afinal, é osso dos meus ossos e carne da minha carne...” (Gn 2.23). Talvez tenha pensado: “tenho visto
bois, leões, peixes e aves, mas nenhum deles poderia fazer par comigo”. É por isto que podermos ser um com Cristo,
porque somos carne de sua carne e osso dos seus ossos. Somos da sua natureza. Podemos ser seu par.
Adão e Eva tornaram-se uma só carne, mas hoje Cristo e a Igreja são um só espírito (1Co 6.17). Se compreendermos o
significado desta união, teremos nossa vida cristã completamente transformada. O objetivo de Deus é ser um com o
homem. Ele alcançou isso pela cruz e pela ressurreição. Esse tornar-se um só espírito é um grande mistério na Palavra.
Primeiro porque fala de uma união tal entre Deus e os homens que parece nos levar a sermos divinos sem sermos
Deus. Por outro lado, mostra que a Igreja não é uma questão de vários cristãos estarem juntos com diversos outros
cristãos. Não é uma questão de muitos homens, mas de uma vida. A Igreja só é Igreja porque possui muitos homens
que têm a mesma vida, que é Cristo. Cada um de nós tem uma porção de Cristo e, quando estas porções de Cristo são
colocadas juntas, então temos a Igreja.

7. O exército
Finalmente, o texto de Efésios 6 revela que a Igreja é um exército. E, como tal, ela lida com o maligno e o derrota.
Nesse texto, o guerreiro e sua armadura são mencionados justamente depois que é falado da Igreja como Noiva. Isso
acontece por duas razões: primeiro porque o melhor guerreiro é aquele que ama. Segundo, porque a Igreja, como
Noiva, se submete ao Noivo e, num exército, a submissão é a principal atitude. Na verdade, não há exército sem
submissão. Para a guerra, Deus precisa de noivas e não de guerreiros contratados ou mercenários. A paixão é nossa
motivação nessa guerra, não a recompensa humana.
Se reunirmos esses sete aspectos, teremos uma definição da Igreja como Corpo para expressar a imagem de Cristo,
como Reino exercendo domínio por Ele, como família desfrutando de vida e comunhão, como habitação de Deus para
que sua glória repouse sobre nós, como Noiva para a satisfação de Cristo, e como exército para lutar a batalha e
derrotar o inimigo, a fim de que Deus realize Seu propósito eterno. Esta é a Igreja.
Todo artista possui muitas obras, mas há uma que é a obra-prima. Assim, Deus criou todas as coisas, mas dentre todas
elas, a Igreja é Sua obra-prima. Ficamos ainda mais admirados com o que Deus fez quando nos lembramos de quem
éramos. O Oleiro pegou do pior barro, contaminado e impuro, e agora está nos transformando numa obra-prima. Tudo
isso é para que, “pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus se torne conhecida, agora, dos principados e potestades
nos lugares celestiais” (Ef 3.10). Toda obra-prima é para ser vista e admirada. E chegará o dia em que toda a criação
verá a manifestação dos filhos de Deus. Hoje, a obra ainda não está pronta, mas Ele trabalha em nós para que esteja
naquele grande dia.
Décimo Terceiro Dia
Cinco coisas relacionadas com a
Casa de Deus
Nosso Deus é um Deus de propósito. Ele faz tudo de acordo com a Sua vontade, que foi estabelecida desde a
eternidade. Todos os atos de Deus estão em linha com esse propósito eterno. Essa é a forma como Ele sempre age.
Deus não age como os homens. Algumas vezes, nós fazemos as coisas pela oportunidade que aparece quando nem
tínhamos pensado nelas antecipadamente. Outras vezes, somos pressionados pelas circunstâncias e, então, agimos ou
reagimos sem ter nenhum plano anteriormente concebido. Também aprendemos com nossos erros e muitas vezes
mudamos de ideia no decorrer de nossas ações. Mas, com Deus, isso nunca acontece. Antes de fazer qualquer coisa,
Ele já tem um pensamento e um plano do que vai fazer. Ele jamais é pego de surpresa pelas circunstâncias e nunca
muda o Seu propósito. Por isso, dizemos que o propósito de Deus é eterno. Uma vez que Ele o estabeleceu, certamente
Ele o realizará.
O plano de Deus que esteve oculto durante os séculos e gerações foi revelado nesse tempo do Novo Testamento. No
passado, os homens simplesmente não conheciam o propósito de Deus, mas hoje sabemos que Seu propósito eterno é
se unir ao homem fazendo dele Sua habitação e sendo morada eterna para ele. Esse propósito eterno está expresso na
Igreja, a Casa de Deus.
Individualmente, somos pedras vivas, mas juntos precisamos ser edificados casa para Deus. É possível sermos uma
grande quantidade de pedras vivas simplesmente amontoadas em grandes ajuntamentos. Isso, porém, não satisfaz
completamente o coração de Deus. Ele deseja ter Sua casa, mas, para isso, precisamos cooperar com o Senhor e ser
edificados e vinculados juntos. Toda a ação de Deus e toda Sua obra são feitas a partir da Sua casa.
Se somos apenas um ajuntamento de pedras, perdemos muito do que o Senhor tem para nós. Gostaria de ilustrar isso
usando o símbolo do Tabernáculo de Moisés no Velho Testamento. O tabernáculo é um símbolo da Igreja como Casa
de Deus. Existem cinco coisas importantes que estão relacionadas ao tabernáculo desde sua construção, em Êxodo, até
sua captura, no começo de 1 Samuel. Essas mesmas coisas estão relacionadas hoje com a Igreja, a Casa de Deus.
O tabernáculo aponta para a Casa de Deus no Velho Testamento e é, portanto, símbolo da Igreja no Novo Testamento.
Assim, essas mesmas coisas estão relacionadas conosco quando somos edificados apropriadamente casa para Deus.

1. A glória de Deus
A glória de Deus somente pode ser manifestada na Sua Casa e através da Sua Casa. Êxodo 40.34-38 diz que, quando
o tabernáculo foi completamente edificado, a glória de Deus veio e o encheu.
Então, a nuvem cobriu a tenda da congregação, e a glória do SENHOR encheu o tabernáculo. Moisés não podia entrar
na tenda da congregação, porque a nuvem permanecia sobre ela, e a glória do SENHOR enchia o tabernáculo. (Êx
40.34,35)
O desejo do coração de Deus é Sua Casa, Sua habitação entre nós e em nós. Sempre que há expressão da Sua
imagem, imediatamente Sua glória desce sobre nós. Temos experimentado uma medida da presença de Deus, mas não
temos experimentado ainda a Sua glória. Isso acontece porque somos basicamente um amontoado de pedras, e não
uma edificação para o Senhor. Não há ainda encargo o suficiente em nosso coração pela Casa de Deus e pelo Seu
propósito eterno. Ainda não se pode dizer a nosso respeito o que foi dito sobre o Senhor Jesus: “[...] o zelo da sua casa
me consumirá” (Jo 2.17).
Quando temos zelo por algo, preocupamo-nos que aquilo seja cuidado nos mínimos detalhes. O zelo é também
expressão de amor e encargo do coração. Precisamos deixar que o nosso coração seja tomado pelo propósito eterno de
Deus. Que o Senhor nos abra os olhos para vermos a Casa, a Igreja. Se nossos olhos forem abertos, creio que
estaremos dispostos a trabalhar pela sua edificação.
O Senhor deseja manifestar Sua glória na terra, e isso somente acontece por meio da Igreja. Não é algo que
experimentamos sozinhos, precisamos dos irmãos, daí a importância da célula. Cada célula precisa ser uma casa para
Deus para que venha a Sua glória.
A manifestação da Sua glória na terra depende completamente do edifício. Isso é assim porque a Casa de Deus
expressa a Sua imagem, e, quando manifestamos a imagem, então há glória, pois a imagem de Deus é a Sua glória.
Em 2 Coríntios 3.18, diz que a imagem de Deus e Sua glória são a mesma coisa.
Já dissemos em muitas ocasiões que a imagem de Deus é ser plural, mas sendo um. Ele é três, mas é um. Todas as
vezes que somos muitos, mas somos um em mente e coração, ali temos imagem de Deus, e, quando há imagem, o
resultado é domínio e glória. A intenção de Deus ao criar o homem à Sua imagem foi para que este pudesse representá-
Lo exercendo domínio com Sua autoridade.
O tabernáculo, e mais tarde o templo, foram edificados para manifestar a glória de Deus. Quando Salomão foi dedicar o
templo ao Senhor, também a glória de Deus encheu o lugar e ninguém podia estar ali para ministrar por causa da
nuvem da glória.
E quando em uníssono, a um tempo, tocaram as trombetas e cantaram para se fazerem ouvir, para louvarem o
SENHOR e render-lhe graças; e quando levantaram eles a voz com trombetas, címbalos e outros instrumentos musicais
para louvarem o SENHOR, porque ele é bom, porque a sua misericórdia dura para sempre, então, sucedeu que a casa,
a saber, a Casa do SENHOR, se encheu de uma nuvem; de maneira que os sacerdotes não podiam estar ali para
ministrar, por causa da nuvem, porque a glória do SENHOR encheu a Casa de Deus. (2Cr 5.13-14)
Comumente, as pessoas leem esse texto e associam a glória de Deus simplesmente a vozes cantando, louvor, ações
de graças, címbalos, trombetas e todos os outros instrumentos musicais. Assim, elas concluem que a glória de Deus
está simplesmente associada à música e ao louvor. Por causa disso, presumem que não há mais glória na Igreja porque
não temos um louvor suficientemente bom. Mas isso é um equívoco. Não quero dizer que o louvor e a música não sejam
importantes, mas a glória não veio por causa disso. A glória veio por causa da Casa de Deus. Se desejamos ter a glória
de Deus, precisamos edificar-Lhe uma casa.
O templo de Ezequiel é o terceiro exemplo da glória associada à Casa de Deus (Ez 40–48). Depois que o Senhor
mostrou a Ezequiel a visão do templo e tudo tinha sido medido de acordo com o padrão divino, a Glória encheu o templo
do Senhor (Ez 43.1-6).
A glória do SENHOR entrou no templo pela porta que olha para o oriente. O Espírito me levantou e me levou ao átrio
interior; e eis que a glória do SENHOR enchia o templo. (Ez 43.4,5)
Veja que o padrão foi selado pelo retorno da glória que havia sido perdida. Todas as vezes que temos a casa edificada,
a glória de Deus vem sobre ela.
Podemos ver no Novo Testamento o exemplo do Senhor Jesus Cristo. O Senhor Jesus é o Tabernáculo e o Templo de
Deus (Jo 1.14-18; 2.20-21). Ele era perfeito em tudo, em todos os Seus pensamentos, palavras e ações. Ele
correspondeu exatamente ao padrão de Deus para o homem. O selo de Deus estava sobre Ele e a glória habitava n’Ele
plenamente (Jo 3.33-34; Cl 1.19; 2.9). No Monte da Transfiguração, a glória do Senhor brilhou através do véu de Sua
carne (Mt 17.1-9; Jo 17).
No final, em Apocalipse, vemos a cidade de Deus, a Nova Jerusalém (Ap 21–22). Ela é a consumação do propósito
eterno de Deus. Ela é edificada de acordo com o padrão de Deus, e Apocalipse 21.11 diz que a Nova Jerusalém tem a
glória de Deus. A glória é o selo da edificação do Senhor e do Seu prazer.
E me transportou, em espírito, até a uma grande e elevada montanha e me mostrou a santa cidade, Jerusalém, que
descia do céu, da parte de Deus, a qual tem a glória de Deus. O seu fulgor era semelhante a uma pedra preciosíssima,
como pedra de jaspe cristalina. (Ap 21.10,11)
Podemos afirmar que, quando a Igreja é edificada de acordo com o padrão de Deus, o resultado é que a glória irá se
manifestar. Ela será o selo de Deus sobre a obra terminada, a qual está de acordo com o Seu padrão mostrado no
monte (Ef 3.17-21; Cl 1.27; Sl 102.13-16).
Todo aquele que está envolvido na edificação da Casa de Deus, a Igreja do Novo Testamento, precisa estudar “o
padrão” esboçado na Palavra de Deus e edificar de acordo com ele. Paulo exorta a todos que tenham cuidado em como
edificam (1Co 3.9,10). Deus somente pode colocar o selo de Sua glória sobre aquilo que está de acordo com Seu
padrão. Se desejamos a glória, precisamos edificar-Lhe a casa.

2. O liberar da Palavra de Deus


O Senhor sempre falou com Moisés na montanha, no fogo e na nuvem; mas, a partir de Levítico 1, o Senhor passou a
falar com ele a partir do tabernáculo.
Chamou o SENHOR a Moisés e, da tenda da congregação, lhe disse [...] (Lv 1.1).
Enquanto o Senhor não tem Sua Casa, Ele fala com Moisés do meio da sarça ardente ou em cima do Monte Sinai, no
meio de relâmpagos e trovões; mas, uma vez que Ele tem Sua Casa edificada, então Sua palavra agora será liberada a
partir do lugar da Sua habitação.
A palavra de Deus sempre é liberada na Sua habitação e a partir dela. Em outras palavras, Deus fala na Igreja e através
dela. A partir do momento em que o tabernáculo foi concluído, ele tornou-se o lugar de onde o Senhor libera Sua
palavra. Qualquer um que quisesse ouvir de Deus precisava ir ao tabernáculo. Se queremos receber hoje a palavra de
Deus, precisamos estar na Igreja. Mas, para isso, a Igreja precisa estar edificada, precisa ser uma casa para Deus.
Meu temor é que sejamos muito bons para buscar e ajuntar pedras, mas não tenhamos o mesmo encargo para edificar
essas pedras, inserindo-as no edifício. Infelizmente, muitas de nossas células são apenas cultos nas casas, reuniões de
grupos pequenos, e não uma genuína edificação espiritual. Quando entendemos que edificar a célula é o mesmo que
edificar a Igreja e que a Igreja é a habitação eterna de Deus, então o nosso encargo muda completamente.
Deus sempre libera Sua palavra quando a Igreja é edificada. Um crente pode receber revelação da palavra
individualmente, mas ele não receberá uma palavra tão viva de Deus como quando está na igreja. A palavra de Deus
liberada em Sua Casa é sempre mais rica e mais ampla que aquela individual.
Para compreender isso, basta comparar uma palavra que o Espírito fala conosco em nosso espírito e uma palavra que o
Espírito fala conosco por meio de um irmão. Se o Senhor nos diz mansamente em nosso espírito para ir pregar para
certa pessoa, nós percebemos e obedecemos. Mas, se um irmão se levanta no meio da célula e diz: “Eu tenho uma
palavra de Deus para você. O Senhor lhe diz: “Vá e pregue para tal pessoa!”, isso é muitíssimo mais forte e impactante.
Quando o Senhor libera assim Sua palavra em Sua Casa, todos são edificados de uma forma mais poderosa.
Evidentemente, a palavra de Deus pode ser liberada no ensino, na exortação, na pregação ou na profecia. O mais
importante é que, quando edificamos a Casa de Deus de maneira consciente e deliberada, o Espírito fala em nosso
meio. Precisamos receber hoje a palavra viva e fresca do Senhor. Essa palavra é liberada quando Sua Casa está
edificada.

3. O serviço dos ministros


Temos sustentado durante anos a verdade de que cada crente é um ministro, um sacerdote do Senhor. O que talvez
não dizemos com frequência é que o serviço sacerdotal está completamente associado à Casa do Senhor.
Também vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de
oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo. (1Pe 2.5)
Aqui está claro que o serviço dos sacerdotes se relaciona completamente com a Casa de Deus. Nós somos as pedras
vivas do edifício e somos também os sacerdotes que ministram na casa.
Precisamos perceber que não podemos servir a Deus por nós mesmos, de forma independente. Precisamos servir de
forma corporativa, com os demais irmãos. Uma pedra jamais pode ser uma casa sozinha, mas precisa ser edificada
juntamente com outras pedras para ser um edifício.
Se o sacerdócio está associado à casa, isso significa que não existe verdadeiro serviço para Deus a menos que
estejamos na Casa de Deus.
Muitos tomam a iniciativa de servir a Deus sozinhos, independentes e desconectados da Igreja, sem se importarem se a
igreja está sendo edificada ou não. Isso está errado. O único serviço apropriado para um sacerdote é a edificação da
Casa de Deus. O verdadeiro serviço a Deus está inteiramente ligado ao seu propósito eterno de ter a Igreja edificada
como Sua Casa.
Esse é o motivo por que não acreditamos em trabalhos paraeclesiásticos. Não cremos que existe um verdadeiro
trabalho sacerdotal fora do templo, que é a Casa de Deus. O templo hoje não é o prédio da igreja, mas é a própria
igreja. Fazer algo fora da igreja é supor que Deus tenha mudado de plano ou tenha sido pego de surpresa por uma
dificuldade e agora vai usar outra estratégia. Tudo isso agride o governo soberano de Deus. O Senhor permanece o
mesmo e Seu propósito eterno é imutável.
Antes do tabernáculo, não havia sacerdócio genuíno, mas o sacerdócio foi estabelecido por causa do tabernáculo. Todo
o serviço estava ligado à Casa de Deus. O serviço sempre segue o edifício.
Temos repetido essa verdade por mais de vinte e cinco anos: “Cada crente é um ministro, um sacerdote na Casa de
Deus”. Todavia, ainda precisamos orar para que essa verdade seja revelada no espírito de cada membro do corpo.
Outro dia encontrei um casal e, ao cumprimentá-lo, perguntei como tinha sido a reunião da célula naquela semana. Eles
amavelmente me disseram que, uma vez que o líder havia viajado, decidiram cancelar a reunião. Eu não disse nada a
eles, mas fiquei atônito. Eles ainda não são ministros. Na cabeça deles, o responsável pela edificação é o líder, e uma
vez que o líder não está presente, eles estão desobrigados da edificação. Isso mostra ainda o quanto somos pobres
espiritualmente. Se tivéssemos alguma riqueza espiritual para compartilhar, não ficaríamos esperando pelo líder.
Quando somos sacerdotes e ministramos diante do Senhor, sempre recebemos suprimento e riqueza para compartilhar
com os outros.
A célula é a vida da igreja de forma prática. Ali todos nós somos pedras vivas e todos somos sacerdotes do Senhor.
Cada um precisa ter o encargo pelos irmãos e pela reunião da célula. Se cada um ora pela reunião durante a semana e
busca a Deus para ter algo para ministrar, quando chegar o dia da reunião, acontecerá um grande mover. Um irmão
sentiu uma palavra queimar seu coração enquanto orava em casa, durante a semana; outro teve uma sensação no seu
espírito de que alguém precisava de ajuda; outro tinha uma canção no coração. Quando eles se reúnem e um traz a
palavra que recebeu, o outro ora pela pessoa que viu em oração e o outro ministra a canção que estava no coração,
então temos muita riqueza compartilhada e a Casa de Deus sendo edificada. Nada disso depende do líder da célula, só
depende da revelação e encargo de que somos sacerdotes e ministros. Todos nós precisamos aprender a ser membros
do corpo.
Creio que precisamos de líderes que coordenem o trabalho e as reuniões da célula, mas a função de liderança não pode
ser um novo tipo de clericalismo que mata as funções dos membros do corpo. O problema é que muitos não acham que
são responsáveis pela edificação. “Não somos nem líderes em treinamento ainda!”, dizem eles, presumindo que isso os
exime do serviço. Mas a verdade é que não estão dispostos a edificar a Casa de Deus, ainda não possuem a revelação
devida, e assim a obra de Deus sofre grande perda.

4. A batalha espiritual
No livro de Números, o Senhor ordena que todo o povo de Israel se acampe ao redor do tabernáculo. Cada tribo tinha o
lugar específico onde se acampar ao redor do tabernáculo.
Disse o SENHOR a Moisés e a Arão: Os filhos de Israel se acamparão junto ao seu estandarte, segundo as insígnias da
casa de seus pais; ao redor, de frente para a tenda da congregação, se acamparão. (Nm 2.1,2)
Todo exército se acampa voltado para o seu inimigo, mas o exército de Deus é completamente diferente. O exército de
Israel se acampava de costas para o inimigo. Sua frente estava voltada para o tabernáculo, mostrando que o seu centro
é Cristo e Sua Casa.
Todos nós devemos estar voltados para Cristo, pois o que Deus olha não é o quanto somos capazes de realizar por Ele,
mas para onde está voltado o nosso coração. Mas também precisamos estar voltados para o tabernáculo, a Casa de
Deus. Precisamos ter encargo pela edificação da Igreja.
Ter o coração voltado para Deus é a maneira de darmos frutos. Ter o coração voltado para Cristo como centro é a
maneira de estarmos ligados à videira, de recebermos a vida que vem do tronco e sermos alimentados pela seiva.
Quando estamos ligados à videira de todo o coração, naturalmente nós frutificamos, sem fazer qualquer esforço.
Apesar de sermos um exército e termos um inimigo, ainda assim não vivemos em função da guerra, nem em função do
inimigo. Nós vivemos em função do centro do acampamento, que é Cristo e a Casa de Deus.
No exército de Deus, existia uma arma: a Arca da Aliança. Os israelitas travavam suas batalhas com a Arca. No centro
do exército, estava o tabernáculo. Todas as suas movimentações dependiam do tabernáculo (Nm 9.17-23). Isso significa
que toda batalha espiritual acompanha a edificação da Igreja.
Na verdade, a verdadeira guerra espiritual está completamente relacionada com a edificação da Casa de Deus. O
inimigo sabe que, uma vez que a casa é levantada, a glória de Deus se manifesta e Sua palavra é liberada. O inimigo
não se importa com grandes ajuntamentos e muitas programações, mas ele se enfurece quando percebe que a Casa
está sendo edificada.
Um irmão querido que anda conosco me testemunhou algo realmente extraordinário. Cerca de dez anos atrás, ele
trabalhava pastoreando a igreja com campanhas e programas. Para atrair as pessoas para suas campanhas e
programações, ele tinha programas na televisão e no rádio de sua cidade. Certo dia, a televisão foi comprada por uma
grande denominação e a primeira coisa que fizeram foi tirar seu programa do ar. Repentinamente, ele se viu sem meios
de atrair as pessoas e, para sua surpresa, sua igreja (que ele supunha ter 1.500 pessoas) tinha caído para 80 irmãos.
Aquilo o deixou muito desapontado, mas o bom foi que ele entendeu que, na verdade, não existia uma igreja ali. Ele
estava apenas fazendo programas, mas não estava edificando a Casa de Deus. Então, ele decidiu dar uma guinada em
seu ministério. Naqueles dias, começou a ler nosso material e resolveu trabalhar com a igreja por meio das células.
Ele separou os irmãos em grupos e começou a treiná-los. Logo em seguida, ele resolveu fazer um jejum de quarenta
dias com aquele pequeno grupo, pedindo que o Senhor lhes ensinasse a ser igreja. No meio do jejum, num dia em que
oravam no prédio da igreja, apareceu um homem visivelmente possesso de demônios. Esse homem se aproximou dele
e lhe convidou para conversar. O que veio a seguir deixou o pastor realmente perplexo. Falando por meio daquele
homem, o Diabo lhe fez a seguinte proposta: “O que você quer para parar o que está fazendo? Você quer o programa
de televisão de volta? Eu lhe dou, mas pare imediatamente o que está fazendo”.
O pastor, meio sem entender, respondeu ao homem: “Agora nós somos apenas um grupo pequeno. Por que essa
proposta?”. Então, o inimigo disse algo por meio do homem que mudou o seu ministério: “Antes você não me
incomodava, mas agora está incomodando”.
Isso traduz o ponto que quero enfatizar. Mesmo sendo uma igreja de mais de 1.500 pessoas, aquilo não atingia o
inferno, mas, com um pequeno grupo de 80 pessoas, as portas do inferno estavam sendo atingidas. O fato é que agora
estavam edificando algo para Deus, não eram apenas um ajuntamento, mas estavam edificando uma casa espiritual.
Sempre que isso acontece, nós enfrentamos a verdadeira batalha espiritual.

5. A posse da herança
Os filhos de Israel não precisaram de nenhuma batalha para desfrutar de Cristo como o Cordeiro pascal (1 Co 5.7). Mas,
para que pudessem desfrutar do Senhor como o maná no deserto, tiveram de derrotar Faraó (Êx 14) e também os
amalequitas (Êx 17). O deserto, porém, não era o propósito final de Deus, mas Seu alvo é que entrassem na posse da
herança em Canaã. Para que entrassem em Canaã, muitas batalhas precisavam ser vencidas.
Você consegue perceber que isso aponta para nós? Para ter nossos pecados perdoados pelo sangue do Cordeiro, não
enfrentamos batalha espiritual; mas, para tomar posse da herança, teremos de enfrentar muitos inimigos espirituais.
Efésios nos fala da batalha espiritual e mostra que a Igreja é um exército. A guerra espiritual não é algo que travamos
sozinhos, mas diz respeito ao exército. Ninguém vai para a guerra sozinho.
O livro de Josué nos mostra que para entrarmos na posse da herança, sempre haverá um combate espiritual. E, nesse
combate, a Arca da Aliança era a arma do exército de Deus. Os sacerdotes carregavam a arca nos ombros para a
batalha.
A primeira fortaleza derrubada foi Jericó. Como Jericó foi derrubada?
Sete sacerdotes levarão sete trombetas de chifre de carneiro adiante da arca. (Js 6.4)
Os verdadeiros soldados eram os sacerdotes. Suas armas eram a arca e os chifres de carneiro. O carneiro representa a
redenção do Senhor, e as trombetas simbolizam a palavra do Senhor liberada. A trombeta era feita de chifre porque o
chifre simboliza poder, e a palavra é a espada que carrega o poder de Deus. Os sacerdotes faziam soar as trombetas da
redenção de Cristo no meio da guerra.
O alvo final da conquista da terra era ter um lugar para a Casa de Deus. Nossa herança espiritual está completamente
relacionada com a Casa de Deus.
Veja que esses cinco aspectos estão completamente relacionados com a Casa de Deus. Lembre-se, porém, de que a
Casa de Deus não é o prédio onde nos reunimos, e também não é um ajuntamento de crentes. Para ser Casa de Deus,
para ser Igreja, precisamos estar edificados mutuamente. Sem isso, podemos experimentar a salvação, mas teremos
muito pouco da glória de Deus.
Décimo Quarto Dia
Um coração para a Casa de Deus
Cada um dos cinco versículos do Salmo 23 revela um estágio sucessivo da experiência espiritual. Meu encargo é
mostrar que aqueles que estão nos estágios iniciais da vida cr istã não possuem muito encargo pela Casa de Deus. Na
verdade, o grande sinal de crescimento e maturidade é quando chegamos ao ponto de amar a edificação da Casa de
Deus.
O SENHOR é o meu pastor; nada me faltará. Ele me faz repousar em pastos verdejantes. Leva-me para junto das
águas de descanso; refrigera-me a alma. Guia-me pelas veredas da justiça por amor do seu nome.
Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo; o teu bordão e o
teu cajado me consolam.
Preparas-me uma mesa na presença dos meus adversários, unges-me a cabeça com óleo; o meu cálice transborda.
Bondade e misericórdia certamente me seguirão todos os dias da minha vida; e habitarei na Casa do SENHOR para
todo o sempre. (Sl 23)
Talvez você ainda esteja nos estágios iniciais da vida cristã, mas gostaria de convidá-lo a avançar para as águas mais
profundas, para os montes mais altos, onde poderá ver a glória do propósito eterno de Deus realizado na Igreja.

1. O estágio dos pastos verdejantes e das águas de descanso


O primeiro estágio são os pastos verdejantes e as águas de descanso. Esse estágio aponta para o primeiro momento de
nossa vida cristã, quando desfrutamos do Senhor como alimento e descanso para nossa alma. É o primeiro estágio da
vida cristã. Assim que nascemos na fé, entramos nesse estágio. Essa é a fase em que nós aprendemos que nada nos
faltará porque Cristo é o nosso pastor.
Nesse estágio, desfrutamos do Senhor como pasto verdejante e também somos conduzidos para as águas de
descanso. Os pastos verdejantes são Cristo, e as águas de descanso são o Espírito.
Pois, em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres.
E a todos nós foi dado beber de um só Espírito. (1Co 12.13)
Quando formos cuidar dos novos, nós não só precisamos alimentá-los com Cristo, mas também precisamos ajudá-los a
beber do Espírito. Nós temos de ajudá-los a orar e a receber o enchimento do Espírito. Quando nos alimentamos, o
beber deve sempre vir junto com o comer. Todos nós precisamos de Cristo como o pasto e do Espírito como as águas
de descanso.

2. O estágio da transformação pelas veredas da justiça


No segundo estágio, nós avançamos daquela experiência inicial e, após buscarmos mais do Senhor, chegamos às
veredas da justiça. Esse é o caminho de santificação na presença de Deus.
Salmo 23:3 diz: “[...] refrigera-me a alma. Guia-me pelas veredas da justiça por amor do seu nome”. Esse refrigério da
alma é o mesmo que renovar e transformar. Isso corresponde a Romanos 12.2, que diz que nós precisamos ser
transformados na alma pela renovação da nossa mente.
O Senhor nos guia pelas veredas da justiça. Os caminhos da justiça é o próprio Cristo. Cristo é hoje o caminho da
justiça.
Um princípio que todos nós precisamos aprender é que o Senhor não nos ensina métodos, mas Ele é o caminho para
tudo o que precisamos. O caminho para um bom casamento é Cristo. O caminho da prosperidade é Cristo. O caminho
do crescimento é Cristo. Ele é a vereda da justiça.
Por outro lado, o salmo fala das veredas no plural. Nós precisamos de muitos caminhos da justiça em nossa vida cristã
e obra. João 7.38 diz que, quando bebemos do Espírito, flui de nós não apenas um rio, mas muitos rios. Há um rio de
bondade, um rio de amor, um rio de paciência etc. Da mesma maneira, nós precisamos de um caminho da humildade,
um caminho do amor, um caminho da paciência etc. Estes são os caminhos da justiça.
O Senhor nos guia nas veredas da justiça. Como um pastor, Ele nos guia com Seu cajado. As ovelhas têm a tendência
de se desgarrarem, mas o pastor usa seu cajado para corrigir a ovelha e mantê-la no caminho correto com o rebanho.
Frequentemente, nosso comportamento se desvia, por isso nós precisamos da correção de Cristo.

3. O estágio da presença de Cristo no vale da sombra da morte


O terceiro estágio é o do vale da sombra da morte. Nesse momento, somos testados no meio da tribulação, mas a
presença do Senhor está conosco e a Sua vara e o Seu cajado nos consolam.
Embora caminhemos pelo vale da sombra da morte, não tememos o mal, pois o Senhor está conosco (2Tm 4.22). Isso
significa que nós temos a Sua presença. A presença d’Ele é um conforto, uma salvação e um poder sustentador quando
estivermos andando no vale da sombra da morte.
Enquanto estamos nesse mundo, nós passamos por vales sombrios de tribulação e morte. Todos nós temos de passar
pelo vale do sofrimento em algum momento.
Quando passamos pelo vale, nossa maior necessidade é a presença do Senhor conosco. O Senhor está sempre
conosco, o problema é que nem sempre percebemos Sua presença residente em nós.
Muitas vezes, quando passo por um vale, eu tenho uma profunda sensação de que o Senhor está lá comigo de uma
maneira especial e íntima. É a presença do Senhor que nos leva a não temer qualquer mal.
No vale da sombra da morte, a vara do Senhor e o Seu cajado nos consolam. A vara é para proteção. Se um lobo vier, o
pastor usa a sua vara para proteger o rebanho. O cajado é para treinar, para dar direção, orientação e também para
alimentar. O Senhor tem a vara para nos proteger, e Ele tem o cajado para nos treinar, instruir, guiar, e sustentar. Nós
experimentamos a proteção do Senhor no vale da sombra da morte.

4. O estágio do campo de batalha


No quarto estágio, o Senhor nos prepara uma mesa na presença dos adversários. Nesse estágio, nós enfrentamos
guerra espiritual, mas temos vitória, porque uma mesa está preparada para nós diante do inimigo (1Co 10.21). A mesa
do Senhor é um banquete.
Toda dia é um dia de luta para nós. Nós cristãos temos de lutar. Caso contrário, nós seremos derrotados. Pode haver
adversários em nosso negócio, em nossa casa, e até mesmo na igreja. Por um lado, nós desfrutamos do banquete do
Senhor, e, por outro, devemos lutar pela vitória.
Nesse estágio mais elevado, o Senhor unge nossa cabeça com óleo – óleo de alegria (Hb 1.9), e assim nosso cálice de
bênçãos (1Co 10.16a) transborda.
Amaste a justiça e odiaste a iniqüidade; por isso, Deus, o teu Deus, te ungiu com o óleo de alegria como a nenhum dos
teus companheiros. (Hb 1.9)
Porventura, o cálice da bênção que abençoamos não é a comunhão do sangue de Cristo? O pão que partimos não é a
comunhão do corpo de Cristo? (1Co 10.16)
A Bíblia usa a palavra cálice para indicar bênção. O cálice de bênçãos transborda.

5. O estágio do habitar na Casa de Deus todos os dias de nossa vida


Nesse estágio, nós compreendemos a importância da Casa de Deus. Nós moraremos na Casa de Deus – a Igreja e a
Nova Jerusalém (1Tm 3.15,16; Ap 21.2,3,22) – por todos os nossos dias, na presente era, na era vindoura e na
eternidade.
Hoje nós estamos na Igreja. Se formos vencedores, nós estaremos no reino milenar por mil anos. Na eternidade, nós
estaremos na Nova Jerusalém com todos os santos escolhidos e resgatados. A Casa de Deus é nosso lugar de
habitação eternamente.
Se não estivermos na Igreja, nós não seremos pastoreados pelo Senhor. Fora da Igreja, não há nenhum caminho para
Cristo nos pastorear. Isso é assim porque Ele é o Pastor do rebanho, e o rebanho é a Igreja. Sair da Igreja é sair do
rebanho, e o Pastor sempre está com o rebanho. O pastor pode deixar o rebanho por um momento para buscar uma
ovelha desgarrada, mas ele sempre a trará de volta para o rebanho porque ele apascenta é o rebanho.
A Igreja é a nossa “festa”, ela é a nossa diversão. O melhor lugar para expressar nossa alegria é a vida da igreja. Muitos
escolhem ficar em casa em vez de ter comunhão com o Senhor entre os filhos de Deus. Quando agimos assim, nós
sofremos perda. Nas reuniões da igreja, na Casa de Deus, nós podemos desfrutar da bondade e da misericórdia do
Senhor todos os dias de nossa vida.
Nós seres humanos precisamos de comunhão. Se buscarmos comunhão no lugar errado, teremos dificuldades. O lugar
para termos comunhão é na igreja. A igreja é o lugar de comunhão e alegria. No futuro, ela se consumará na Nova
Jerusalém, onde nós nos reuniremos juntos pela eternidade.
Observe como de um estágio para outro nós avançamos em nossa experiência espiritual. Todavia, o nível mais elevado
é quando atingimos o quinto estágio, quando bondade e misericórdia nos seguirão e habitaremos na Casa do Senhor
para todo o sempre.
Veja que a Casa do Senhor está claramente relacionada com o último estágio de crescimento e maturidade no Senhor.
Precisamos avançar em nossa experiência espiritual até entender o valor da Casa do Senhor e poder permanecer ali. A
revelação da Casa de Deus é certamente o sinal de um estágio de maturidade espiritual.
Davi amava a Casa de Deus. Podemos ver isso por todo o livro de Salmos. Creio que essa foi a razão pela qual ele foi
chamado “homem segundo o coração de Deus”. Ele era completamente voltado para a Casa de Deus.
Certo dia, Davi procurou o profeta Natã e lhe disse: “Olha, eu moro em casa de cedros, e a arca de Deus se acha em
uma tenda (2Sm 7.2). Davi desejava edificar a Casa de Deus. No entanto, o Senhor respondeu a Davi: “Em todo lugar
em que andei com todos os filhos de Israel, falei, acaso, alguma palavra com qualquer das suas tribos, a quem mandei
apascentar o meu povo de Israel, dizendo: Por que não me edificais uma casa de cedro?” (2Sm 7.7). O Senhor nunca
havia dito que queria edificar uma casa, mas Davi percebeu o coração de Deus.
Por causa disso, o Senhor fez uma aliança com Davi, e lhe disse: “Quando teus dias se cumprirem e descansares com
teus pais, então, farei levantar depois de ti o teu descendente, que procederá de ti, e estabelecerei o seu reino. Este
edificará uma casa ao meu nome, e eu estabelecerei para sempre o trono do seu reino” (2Sm 7.12-13).
Precisamos ter hoje o mesmo coração de Davi pela Casa de Deus. No Salmo 27.4, ele faz uma oração poderosa:
Uma coisa peço ao SENHOR, e a buscarei: que eu possa morar na Casa do SENHOR todos os dias da minha vida,
para contemplar a beleza do SENHOR e meditar no seu templo.
O templo era algo ansiado pelos homens de Deus no Velho Testamento. Precisamos ter em nosso tempo a mesma
atitude para com o Templo de Deus hoje, que é a Igreja.
No Salmo 84.1,2, Davi exclamou:
Quão amáveis são os teus tabernáculos, SENHOR dos Exércitos! A minha alma suspira e desfalece pelos átrios do
SENHOR; o meu coração e a minha carne exultam pelo Deus vivo!
Depois, no verso 4, ele prossegue dizendo:
Bem-aventurados os que habitam em tua casa; louvam-te perpetuamente.
E, no verso 10, ele afirma:
Pois um dia nos teus átrios vale mais que mil; prefiro estar à porta da casa do meu Deus, a permanecer nas tendas da
perversidade.
Se ele não pudesse habitar na Casa de Deus, ele estaria satisfeito de apenas ficar na porta. Isso revela o coração de
Davi em relação à Casa de Deus. Ele foi um homem segundo o coração de Deus porque um dia descobriu o que estava
em Seu coração: Sua Casa (2Sm 7.1-13).

Seria possível amar Jesus e odiar a Igreja?


Eu já havia concluído esse capítulo quando li uma entrevista do cantor Bono Vox. Nela, ele se declara cristão, mas diz
que não faz parte da Igreja. Na opinião dele, a Igreja se tornou irrelevante. Isso me fez parar para refletir um pouco
mais.
Nos dias de hoje, é comum ouvirmos esse tipo de afirmação: “Jesus sim, igreja não!” As pessoas até dizem crer em
Jesus, mas rejeitam a Igreja. O conselho que ouvimos de certas correntes intelectuais é esse: “Esqueça a igreja, siga a
Jesus”. Parece que em toda parte as pessoas têm se levantado para diminuir a importância da Igreja. Eles fazem
críticas injustas e afirmações genéricas, as quais são tomadas como verdade pelas pessoas comuns.
Se quisermos falar algo a respeito da Igreja, precisamos levar em conta alguns pontos. Em primeiro lugar, devemos
reconhecer que Jesus ama Sua Igreja. Ao dar instruções sobre o casamento em Efésios 5, o apóstolo Paulo nos diz que
Jesus ama a Igreja a ponto de ter dado Sua vida por ela. Ele, cuidadosamente, a purifica e se torna um com ela. Em
seguida, Paulo diz que os maridos devem fazer o mesmo com sua esposa.
Como podemos nos sentir à vontade para criticar ou minimizar a importância da Igreja se o Senhor a amou a ponto de
morrer por ela? Como posso lidar com ela de forma tão desamorosa?
Se você ama Jesus, você deve amar a quem Ele ama. Ele ama o perdido, Ele ama o ferido, e, de forma especial, Ele
ama Sua Igreja.
Em segundo lugar, precisamos admitir que a igreja local é a esperança do mundo. Alguns dizem, sem nenhum
constrangimento, que amam a Igreja em nível global, mas não têm nenhuma dedicação ou compromisso com uma igreja
local. É como se alguém dissesse que joga futebol profissional, mas não faz parte de nenhum time em particular. Não
faz nenhum sentido.
Deus planeja usar a Igreja para revelar Seu plano maravilhoso para a humanidade. Sua intenção é que, através dela, a
multiforme sabedoria de Deus se torne conhecida agora dos principados e potestades nos lugares celestiais (Ef 3.7-12).
Jesus disse que edificaria Sua Igreja, e que as portas do inferno não prevaleceriam contra ela (Mt 16.18).
Precisamos ter zelo para com a Igreja. A respeito de Jesus, a Bíblia diz que ele era consumido de zelo pela Casa de
Deus (Jo 2.17). Alguns não são zelosos e falam da Igreja de maneira negativa. Pensam que estão agradando a Deus
agindo assim, mas certamente trarão sobre si o merecido juízo.
Tenha cuidado para que suas palavras não diminuam a importância e a relevância da Igreja aos olhos das pessoas.
Em terceiro lugar, devemos reconhecer que a Igreja é composta de pessoas, e nem preciso acrescentar que as pessoas
são imperfeitas. Pessoas como você e eu constituem a Igreja. Eu e você temos cometido muitos erros. Esta realidade
torna possível que outros (também falhos) possam se juntar a nós. Certa vez, convidaram um homem para ir à reunião
da igreja, ao que ele respondeu: “A igreja está cheia de hipócritas!” Sem titubear, o outro respondeu: “Não se preocupe,
sempre há lugar para mais um!”.
A Igreja é uma reunião de pessoas imperfeitas que decidiram aceitar outras pessoas igualmente imperfeitas, as quais
começaram a entender que cumprem um propósito divino, e juntos procuram fazer diferença nesse mundo.
O argumento mais frequente que ouço daqueles que criticam a Igreja é a reclamação de que foram feridos. Mas esse é
um fato da vida. Pessoas eventualmente ferem outras pessoas. Inevitavelmente, seremos feridos e também feriremos.
Se estamos na Igreja, poderemos ser feridos. No entanto, precisamos reconhecer que não há tal coisa como a Igreja
ferir alguém.
É como dizer: “O banco realmente me machucou” ou “Os restaurantes já me feriram”. Apesar de ter sido muitas vezes
mal atendido em restaurantes, nunca pensei que deveríamos acabar com eles, nem jamais disse que nunca mais
comeria em um restaurante novamente. Há pessoas que trabalham em bancos que certamente são hipócritas, mas
mesmo assim eu vou ali e movimento a minha conta.
Se você foi ferido, rejeitado ou abusado em uma igreja, quero dizer, sinceramente, que sinto muito por sua dor. Sinto
muito que você tenha experimentado isso. Eu também já experimentei muitas dificuldades, traições e lutas na igreja. Eu
provavelmente também fui a parte que errou em algumas situações infelizes. Mas ainda assim eu preciso ir adiante,
crescer, servir, adorar e edificar a Casa de Deus. Independentemente das lutas ou hipocrisias da humanidade, eu
preciso estar na vida da igreja.
Perdoe aqueles que o feriram e continue se reunindo na igreja, continue a crescer em sua fé. Perdoe os outros como
Cristo lhe perdoou. Se não consegue, pelo menos perdoe como deseja ser perdoado. Se acha que nunca errou com
ninguém, então você não precisa da Igreja. A Igreja é apenas para pecadores. Eu sempre digo para aqueles que estão
procurando uma igreja perfeita: “Se por acaso você encontrá-la, não se torne membro ali, pois certamente você vai
estragá-la”.
Eu sei que parece um argumento óbvio, mas eu preciso repetir: “Não há igreja perfeita!”. No entanto, estamos falando
aqui do povo de Deus. São imperfeitos, mas são de Deus. Na verdade, esse povo é chamado de “a menina dos olhos
de Deus”. Tenha cuidado ao tocar nele.
Evidentemente toda igreja precisa assumir sua responsabilidade. Precisamos ser seguros o suficiente para ouvir as
críticas e extrair delas o que for verdade. Precisamos olhar para nossas debilidades e tentar melhorar. Todavia, não é
porque você vê uma falha na igreja que precisa juntar-se ao inimigo para depreciá-la e rejeitá-la. Não colabore com
diabo taxando a Igreja de Jesus Cristo como irrelevante, hipócrita ou insignificante.
Aqui está o que você pode fazer:
Participe da vida da igreja local. Seja uma parte ativa das soluções, e não mais uma voz para realçar os problemas.
Ore pela igreja local. Ore com humildade e fé. Lembre-se de que Ele ama a Igreja.
Honre a igreja falando bem de seus irmãos e de seus líderes. Somos imperfeitos, mas sempre há algo para se elogiar.
Sirva. Envolva-se. Todo pastor gostaria de ter alguém na igreja local disposto a ajudar, a servir ou liderar um ministério.
Contribua. Ajude a manter sua igreja. Muitas igrejas não podem realizar todo o trabalho que planejam simplesmente
porque as pessoas são muito mais livres para criticar do que para apoiar financeiramente.
Finalmente, seja o exemplo que você gostaria de ver nos outros. Levante-se do banco e entre no jogo. Há menos
queixas dentro do campo. Envolva-se na solução dos problemas. Se você ama Jesus, ame também Sua Igreja.
Décimo Quinto Dia
O ambiente da Casa de Deus
Deus não habita em lugares feitos por mãos humanas, mas habita no espírito do crente regenerado, e também entre
nós quando nos reunimos. Cada vez que nos reunimos no nome do Senhor, edificamos casa espiritual para Ele sobre a
terra.
Pelo lado individual, cada um de nós foi feito habitação e templo do Espírito de Deus.
Não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o santuário de
Deus, Deus o destruirá; porque o santuário de Deus, que sois vós, é sagrado. (1Co 3.16,17)
Pelo lado coletivo, nós nos tornamos Casa de Deus quando nos reunimos como Igreja. Cada um de nós é uma pedra
viva que, vinculada a outras, se torna casa para habitação de Deus.
Chegando-vos para ele, a pedra que vive, rejeitada, sim, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa, também
vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes
sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo. (1Pe 2.4,5)
Nossa célula é uma casa espiritual. Quando dois ou três se reúnem, precisamos ver ali os sinais da casa apropriada
onde Deus pode habitar e agir. Temos falado muito a respeito de sermos pedras vivas que são vinculadas e edificadas
juntas, mas precisamos também falar do tipo de casa onde Deus pode habitar. Não basta ter pedras vivas, essas pedras
precisam estar limpas e o ambiente da casa precisa ser adequado para a presença de Deus.
Em Mateus 21.12-17, lemos a respeito do dia em que o Senhor entrou no templo e expulsou os cambistas. O templo é
um símbolo da casa da Deus hoje, a Igreja, por isso, gostaria de realçar, nesse evento, quatro características da Casa
de Deus, do lugar onde Ele pode habitar.

1. Casa de santidade
A primeira coisa que vemos é o Senhor purificando o templo. Portanto, a casa do Senhor precisa ser uma casa de
santidade.
Tendo Jesus entrado no templo, expulsou todos os que ali vendiam e compravam; também derribou as mesas dos
cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas. E disse-lhes: Está escrito: A minha casa será chamada casa de
oração; vós, porém, a transformais em covil de salteadores. (Mt 21.12,13)
Fidelíssimos são os teus testemunhos; à tua casa convém a santidade, SENHOR, para todo o sempre. (Sl 93.5)
O primeiro passo da edificação da Casa de Deus será sempre a purificação do templo. Quando permitimos que o
pecado entre em nossa vida, nós nos tornamos estranhos na presença de Deus.
Esta é a lei da casa. Sobre o cume do monte, todo o seu contorno em redor será santíssimo; eis que esta é a lei da
casa. (Ez 43.12 – RC)
A purificação do templo simboliza dois elementos que caminham juntos por toda a nossa vida: o perdão dos pecados e a
libertação da opressão. Muito embora tenhamos sido perdoados e libertos no passado, podemos cair no pecado ou
sermos oprimidos pelo inimigo ainda hoje.
Todos nós temos de enfrentar o problema da carne (o pecado) e do diabo (opressão). Há uma analogia em relação a
esses problemas que pode ser vista na vida de Davi. Ele era o ungido de Deus, separado por Deus para o trono,
entretanto, havia duas pessoas que se colocavam entre Davi e o trono: Saul e Golias.
Golias representa um inimigo externo, o diabo. Saul, por sua vez, simboliza nossa carne. Porém, Golias precisa ser
derrubado para tirar a força de Saul. Observe que, depois da morte de Golias, o reino de Saul começou a decair e
enfraquecer.
Portanto, não adianta lutarmos contra Saul se Golias ainda está ameaçando. Assim, o primeiro passo para a vitória
completa é derrubarmos Golias.
A Igreja, com cada pessoa que a compõe, é o templo que precisa ser purificado. Nossa mente, vontade e emoções
precisam ser puras na presença de Deus, pois a unção de Deus fielmente flui através de um coração limpo. Assim, os
Dons do Espírito operam de forma eficiente através de uma célula onde cada um foi lavado e perdoado pelo sangue do
Cordeiro.
Seria ótimo se pudéssemos limpar nossa casa uma única vez e nunca mais tivéssemos que purificá-la novamente, mas
o trabalho de purificação e limpeza faz parte de nosso zelo constante pela Casa de Deus. Estamos sendo construídos
em conjunto para sermos uma morada de Deus no Espírito. Estamos sendo moldados, construídos, e transformados
para sermos um templo do Deus vivo, e toda obra de construção requer limpeza. O caminho do poder e da unção de
Deus começa com uma atitude de limpeza contínua do templo, e a santidade está relacionada com o nosso zelo pela
casa do Senhor. A célula onde cada membro é zeloso da edificação certamente crescerá e florescerá.
Lembraram-se os seus discípulos de que está escrito: O zelo da tua casa me consumirá. (Jo 2.17)

2. Casa de oração
E disse-lhes: Está escrito: A minha casa será chamada casa de oração; vós, porém, a transformais em covil de
salteadores. (Mt 21.13)
Logo depois de ter purificado o templo, Jesus disse que a Casa de Deus é uma casa de oração. A presença dos
cambistas e comerciantes produz um ambiente espiritual profano de morte, e a Casa de Deus precisa ter um ambiente
apropriado de oração.
Somente num ambiente da vida e oração o Senhor por habitar e se manifestar. Mas, devemos sempre nos lembrar que
a Casa de Deus não é o prédio, mas a reunião de uma célula com três ou mais pessoas.
Qual é o ambiente de sua célula? O que os irmãos conversam? É sobre negócios, dinheiro e formas de ganhar mais
dinheiro? Se tratarmos a célula apenas como uma reunião social, esse provavelmente será o ambiente, e o Senhor não
habita nesse tipo de ambiente cheio de cambistas e negociantes. Se entendermos que a célula é a Igreja se reunindo,
então procuraremos ter ali um ambiente de oração. Todos nós precisamos orar no quarto, em secreto, mas precisamos
também orar na Casa de Deus.
Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra terá sido ligado nos céus, e tudo o que desligardes na terra terá
sido desligado nos céus. Em verdade também vos digo que, se dois dentre vós, sobre a terra, concordarem a respeito
de qualquer coisa que, porventura, pedirem, ser-lhes -á concedida por meu Pai, que está nos céus. (Mt 18.18,19)
A oração na Casa de Deus não é individual, mas é uma oração de concordância para ligar a vontade de Deus na terra e
desligar as obras do inferno. O Senhor disse que se a Igreja ligar, o céu fará o mesmo (Mt 18.18), mas precisamos
prestar atenção ao princípio da concordância ou unanimidade. Não é simplesmente concordarmos em pedir alguma
coisa, mas termos harmonia no Espírito. Somos um na presença de Deus.
Alguns não concordam com a oração da fé para curar o enfermo, mas acham que precisam concordar externamente
com uma oração neste sentido, mesmo que não concordem interiormente, porque talvez Deus possa curar mesmo. Tal
oração não é de harmonia, mas uma trégua para se orar por alguém. A verdadeira concordância espiritual é no espírito
e acontece quando andamos num mesmo Espírito e numa mesma fé.
Precisamos ter clareza de que não existe harmonia na carne. Ter um mesmo objetivo não garante ausência de
discórdia, e identidade de propósito não garante harmonia. Somente teremos harmonia se negarmos nossa vontade e
nos submetermos ao Espírito.
Além disso, para que sejamos casa de oração, precisamos nos reunir como Igreja.
Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles. (Mt 18.20)
A casa do Senhor é uma casa de oração porque Deus opera juntamente com Sua Igreja. É o Senhor quem dirige tudo,
mas precisamos ter Sua presença no meio da Igreja. Uma vez que Ele se faz presente, dirigindo, revelando, falando,
então precisamos ligar em oração na terra para que seja ligado no céu.
Não basta concordarmos a respeito de algo, precisamos também nos reunir para orar e concordar a respeito da vontade
de Deus. A Casa de Deus precisa orar em concordância.
Se uma igreja for normal, então ela saberá, depois de cada reunião, se o Senhor esteve presente ou não. Há certas
coisas que somente a Igreja pode fazer e não o indivíduo sozinho, e uma delas é ligar e desligar sobre a terra por meio
da oração.

3. Casa de poder
Vieram a ele, no templo, cegos e coxos, e ele os curou. (Mt 14.14)
A Casa de Deus se torna uma casa de poder quando é conhecida como uma casa de oração e santidade. É importante
observar que, depois de limpar o templo e fazer dele uma casa de oração, o Senhor curou cegos e coxos. Assim, vemos
que o poder de Deus é liberado num ambiente de santidade e de oração de concordância.
O verdadeiro cristianismo bíblico está clamando para ser parte da Igreja contemporânea. A mediocridade tem invadido a
vida dos cristãos e é triste ver que aceitamos ser medíocres como se isso fosse algo normal. Temos nos contentado
com uma quantidade menor do poder de Deus, quando o Senhor nos tem prometido uma verdadeira inundação de
glória. Mas a glória vem somente sobre a Casa de Deus. Quando temos uma expressão da Casa de Deus, o poder nos
é liberado. Cada célula pode ser uma casa de poder, basta que seja uma casa edificada com pedras vivas que são
vinculadas pelo amor. O amor é o vínculo (Ef 4.3, Cl 3.14).
Acima de tudo isto, porém, esteja o amor, que é o vínculo da perfeição. (Cl 3.14)
Esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz. (Ef 4.3)
Muitas de nossas células não prosperam porque não entendem que são Casa de Deus, pois onde há dois ou três
reunidos, ali temos uma expressão da Igreja. Quando isso acontece, há poder liberado sobre o grupo. Nossas células
podem ser uma casa de poder.

4. Casa de louvor
Mas, vendo os principais sacerdotes e os escribas as maravilhas que Jesus fazia e os meninos clamando: ‘Hosana ao
Filho de Davi!’, indignaram-se e perguntaram-lhe: Ouves o que estes estão dizendo? Respondeu-lhes Jesus: Sim; nunca
lestes: Da boca de pequeninos e crianças de peito tiraste perfeito louvor? (Mt 21.15,16)
O poder de Deus é liberado num templo santo e cheio de oração, onde as pessoas erguem mãos limpas para adorar o
Senhor. A casa do Senhor é chamada casa de louvor porque Deus habita no meio dos louvores do Seu povo. Sua casa
é onde está Seu trono e, neste lugar, há poder e glória.
Contudo, tu és santo, entronizado entre os louvores de Israel. (Sl 22.3)
O louvor traz a presença de Deus, garante a vitória sobre nossos inimigos e libera poder de Deus. Quando a Casa de
Deus é purificada, é transformada em casa de oração, quando há restauração, o Senhor vem para nos dar do Seu
poder. Podemos perceber isso pelo uso que Jesus fez do Salmo 8.2. No salmo, lemos que da boca de pequeninos o
Senhor suscitou força, mas, ao citá-lo, Jesus trocou a palavra “força” pela palavra “louvor”, para indicar que nossa força
está no louvor a Deus.
5. A Casa de Deus pode ficar desabitada
No capítulo 21 do evangelho de Mateus, Jesus diz que os judeus, naqueles dias, transformaram a Casa de Deus num
covil de salteadores. Isso significa que, depois, os salteadores voltaram para o Templo e, por isso, Deus o abandonou.
O Senhor disse:
Eis que a vossa casa vos ficará deserta. (Mt 23.38)
Antes, era a Casa de Deus, mas agora o Senhor a chama de “vossa casa”, pois já não era mais de Deus. Um dos fatos
tristes na história da Igreja é que, muitas vezes, uma santa edificação foi abandonada por Deus e se tornou um
monumento vazio.
Isso pode acontecer sempre que o homem se apropria da casa que é de Deus. Quando a obra que fazemos é
meramente humana, o edifício será nossa casa e não de Deus. Infelizmente, muitas igrejas têm dono e não são do
Senhor. Quando a casa do Senhor se torna nossa, então ela está destinada a ficar vazia.
Em 1 Coríntios 3.12,13 Paulo diz que precisamos ser cuidadosos ao edificar casa para Deus, porque tudo o que for feito
com os materiais errados será demolido.
Contudo, se o que alguém edifica sobre o fundamento é ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, manifesta
se tornará a obra de cada um; pois o Dia a demonstrará, porque está sendo revelada pelo fogo; e qual seja a obra de
cada um o próprio fogo o provará. (1Co 3.12,13)
Normalmente, a história do mover de Deus segue a seguinte sequência:
1. Avivamento – é o tempo em que um novo território é conquistado. Uma visão incendiária contagia a Igreja e o poder
de Deus está presente
2. Movimento – Igrejas são construídas, congregações estabelecidas e a obra se espalha para muitos lugares. Os
milagres acontecem com frequência porque o fogo da visão ainda permanece.
3. Monumento – O poder de Deus é substituído por programas; milagres e maravilhas são substituídos por títulos
acadêmicos. O desejo egoísta por posição e glória substitui a oração fiel.
4. Morte – As igrejas começam a decrescer e, em breve, restam apenas alguns poucos membros.
Não podemos cair no engano de simplesmente mantermos as coisas funcionando. Queremos ver uma expressão viva
da Igreja do Senhor em nossa geração. Para isso, precisamos edificar casa para Deus, um lugar para onde Sua Glória
venha e jamais se vá.
Precisamos ter cuidado para não perder a glória da presença de Deus. Em Ezequiel podemos ver claramente o
processo degenerativo do lugar de onde a glória de Deus se foi.
Há grupos na história que experimentaram a perda abrupta da glória de Deus, mas o mais frequente é um processo de
declínio espiritual. Tomemos o texto de Ezequiel, capítulos oito a dez, como exemplo do abandono do templo.

Estágio 1
Em Ezequiel 8.4, vemos que a Glória estava em seu lugar no templo. Havia uma casa para Deus e Sua glória estava ali.
Eis que a glória do Deus de Israel estava ali, como a glória que eu vira no vale. (Ez 8.4)
Contudo, já nessa fase, vemos que a idolatria começou a entrar (Ez 8.3). O Senhor sempre nos dá tempo para nos
arrependermos, por isso a glória ainda continuou por um tempo, mesmo quando a idolatria já havia entrado.

Estágio 2
Por causa da complacência do povo para com o pecado, a Glória se deslocou para a soleira da porta do templo – o
Senhor já estava à porta para sair.
A glória do Deus de Israel se levantou do querubim sobre o qual estava, indo até à entrada da casa; e o SENHOR
clamou ao homem vestido de linho, que tinha o estojo de escrevedor à cintura. (Ez 9.3)No primeiro estágio havia uma
imagem, mas agora havia 70 anciãos oferecendo incenso a ídolos (Ez 8.10-12). Por causa das escolhas do povo, a
glória continuou se afastando do templo.

Estágio 3
Nesse estágio, a glória havia se deslocado da soleira da porta para o átrio do templo.
Os querubins estavam ao lado direito da casa, quando entrou o homem; e a nuvem encheu o átrio interior. (Ez 10.3)
Então, saiu a glória do SENHOR da entrada da casa e parou sobre os querubins. (Ez 10.18)
Num primeiro momento, veio a idolatria, mas não se menciona o nome dos ídolos. Porém, agora se diz que adoravam
Tamuz (Ez 8.14).

Estágio 4
Agora, a glória de Deus se afasta ainda mais do templo.
Os querubins levantaram as suas asas e se elevaram da terra à minha vista, quando saíram acompanhados pelas
rodas; pararam à entrada da porta oriental da Casa do SENHOR, e a glória do Deus de Israel estava no alto, sobre eles.
(Ez 10.19)
Ezequiel viu 25 homens adorando o sol, voltados para o oriente (Ez 8.16). O interessante é que a glória parou no lado
oriental, bem em frente a esses homens, como que mostrando a eles quem é o verdadeiro Sol da Justiça.

Estágio 5
Finalmente, a glória saiu completamente do templo e foi para o lado leste da cidade.
A glória do SENHOR subiu do meio da cidade e se pôs sobre o monte que está ao oriente da cidade. (Ez 11.23)
Nesse estágio não apenas praticavam a idolatria, mas também ensinavam a povo a ser idólatra. Quando o pecado se
torna um estilo de vida, a glória de Deus se vai.
Então, o Espírito me levantou e me levou à porta oriental da Casa do SENHOR, a qual olha para o oriente. À entrada da
porta, estavam vinte e cinco homens; no meio deles, vi a Jazanias, filho de Azur, e a Pelatias, filho de Benaías, príncipes
do povo. E disse-me: Filho do homem, são estes os homens que maquinam vilezas e aconselham perversamente nesta
cidade. (Ez 11.1,2)
Décimo Sexto Dia
Cinco estágios da Igreja na história
Nosso Deus é aquele que tem a história em Sua mão. Nada acontece fora do conhecimento de Deus e Ele mesmo não
pode ser surpreendido por coisa alguma. No decorrer da história, temos visto todas as fases pelas quais a Igreja
passou. Podemos ver isso representado de maneira profética na história do tabernáculo. A história do tabernáculo é
uma prefiguração profética da história da Igreja. Ela nos dá um quadro completo da situação da Igreja desde o começo
no livro de Atos até os dias de hoje.

1. A Igreja tendo a presença de Cristo


O tabernáculo é um tipo da igreja, e a arca dentro do tabernáculo é um tipo da presença de Cristo. O primeiro estágio é
o tabernáculo com a arca.
No princípio, quando o tabernáculo foi levantado, ele tinha a Arca da Aliança, aquilo era o normal. O tabernáculo era a
Casa de Deus, e a arca, a presença de Cristo. Isso aponta para o primeiro estágio da Igreja depois dos dias do
Pentecostes, quando a presença de Cristo estava na Igreja e esta era uma expressão do Senhor. Você precisa perceber
que a Igreja é o tabernáculo, e a arca é a presença de Cristo.
Essa é a situação normal da Igreja, mas foi perdida no decorrer da história. É por isso que afirmamos que o trabalho do
Espírito Santo hoje envolve uma restauração da Igreja, de seu padrão inicial. Evidentemente, a Igreja não era perfeita,
era apenas uma Igreja normal. Não falamos de restauração insinuando que a Igreja do livro de Atos era perfeita e que
precisamos retomar essa perfeição. Isso é um engano. O que falamos é que precisamos ter restaurado entre o nós o
padrão normal de Deus: o tabernáculo com a arca dentro dele, ou seja, uma Igreja apropriada com a presença de Cristo
se manifestando nela.

2. A Igreja sem a presença de Cristo


O segundo estágio é o tabernáculo sem a arca. Esse segundo momento aconteceu em 1 Samuel 4.21,22:
Mas chamou ao menino Icabô, dizendo: Foi-se a glória de Israel. Isto ela disse, porque a arca de Deus fora tomada e
por causa de seu sogro e de seu marido. E falou mais: Foi-se a glória de Israel, pois foi tomada a arca de Deus.
O povo de Israel vivia um padrão de vida errado, e, no dia da batalha, resolveu levar a arca da Aliança como se fosse
um tipo de amuleto sagrado. Para sua surpresa, ele perdeu a batalha e os filisteus ainda tomaram a arca da Aliança. A
partir daí, a arca foi tirada do tabernáculo e nunca mais voltou.
Podemos condenar o povo de Israel por sua atitude mística em relação à arca da Aliança. No entanto, ele não estava
completamente errado porque, enquanto a arca esteve entre os filisteus, ela manifestou o poder de Deus de forma
extraordinária.
Sucedeu que, desde aquele dia, a arca ficou em Quiriate-Jearim, e tantos dias se passaram, que chegaram a vinte
anos; e toda a casa de Israel dirigia lamentações ao SENHOR. (1 Sm 6.21)
O mais impressionante é o que o tabernáculo continuou normalmente em Siló. Todos os dias, os sacerdotes ofereciam
os sacrifícios, cuidavam do altar de incenso e dos pães, mas a arca não estava ali. Eles faziam tudo sem a presença de
Deus.
A história nos mostra que o primeiro estágio passou e logo a arca foi capturada por causa do fracasso do povo de Deus.
A arca foi separada do tabernáculo, e este ficou vazio. Esse é o estágio da Igreja na Idade Média, quando a presença de
Cristo se apartou dela por causa do fracasso do povo de Deus. Ela tinha uma aparência exterior, mas nenhuma
realidade interior.
Mesmo hoje, ainda existem igrejas assim. São tabernáculos vazios, sem a presença de Cristo em seu interior. Quando
vamos a certas igrejas, não conseguimos perceber nenhum sinal da presença do Senhor ali. Por causa do pecado dos
crentes e das derrotas da liderança, a presença da arca se afastou desses lugares.
A respeito dessa época, a Bíblia diz que ninguém se preocupou com a arca (1 Cr 13.3). A presença de Deus não era um
valor importante para eles. Eles continuavam com todos os rituais do tabernáculo sem se importar com a ausência da
arca. O mesmo se pode dizer de muitas igrejas hoje. Elas mantêm todo o ritual semana após semana, mas não se
importam se há ou não a presença de Deus no meio da igreja.
Se o seu coração tem perdido essa capacidade de ser tocado, isso é muito grave. Não importa se é alguém que não
conhece muito a Bíblia ou a teologia sistemática. Uma coisa é inadmissível: um discípulo que não tenha fome pela
presença de Deus, que consiga passar dias, semanas e meses em um ambiente frio e árido, sem clamar, como o fez
Davi: “Deus, estou suspirando por ti, onde estás? Como trarei a mim a arca do Senhor? Onde buscarei o fogo da Sua
presença?”. Onde não há esse fogo, não se pode dizer que há vida espiritual.
Até mesmo o vazio genuíno é uma atração para o fluir de Deus. Muitos se dizem vazios, mas não estão vazios
realmente, estão cheios de outras coisas. Seus corações estão empanturrados de outros prazeres e interesses. O
verdadeiro vazio atrai a água. É um princípio físico. Quanto mais seco, mais a água será atraída. É uma questão de
diferença de potencial. O meio menos denso atrai o mais denso. Se houver um vazio que clama por Deus em você, ele
será como um ímã atraindo óleo do céu para ser encharcado.
3. A presença de Cristo sem a Igreja
A terceira situação tipificada no Velho Testamento é a arca sem o tabernáculo. Isso aconteceu primeiramente na casa
de Abinadabe, em Quiriate Jearim, por vinte anos (1Sm 7.1-12). E depois, na casa de Obede-Edom, por três meses
(2Sm 6.10-12). Nesse tempo, a arca estava separada do tabernáculo.
Não quis Davi retirar para junto de si a arca do SENHOR, para a Cidade de Davi; mas a fez levar à casa de Obede-
Edom, o geteu. Ficou a arca do SENHOR em casa de Obede-Edom, o geteu, três meses; e o SENHOR o abençoou e a
toda a sua casa. (2 Sm 6.10-12)
A presença de Deus estava na casa de Obede-Edom e ele desfrutou de bênção, mas enquanto isso o tabernáculo
estava vazio em Siló.
A história nos mostra que, desde o segundo século até agora, tem havido muitos Obedes-Edom. São pessoas que
possuíram muita realidade da presença de Deus em suas vidas, mas que não trabalharam para edificar a Casa de
Deus. Ainda hoje temos muitos homens de Deus assim.
Muitos usam a bênção de Deus como o critério final para avaliar todas as coisas. Certamente, a bênção de Deus é
muito importante, mas precisamos entender que a bênção final está no cumprimento do propósito de Deus. José foi
abençoado na casa de Potifar, mas aquele lugar não era o propósito final de Deus. Depois, ele foi abençoado na cadeia,
mas aquele também não era o lugar que Deus havia preparado para ele. Alguns se contentam com a casa de Potifar, e
por isso nunca chegam ao trono.
A arca na casa de Obede-Edom é uma condição muito melhor que a anterior, mas não é o ideal de Deus. Essas duas
condições têm existido no decorrer da história. Por um lado, temos muitos Obede-Edom com a arca em sua casa, e
temos também as igrejas formais representadas pelo tabernáculo em Siló. São igrejas, mas estão vazias, sem a
presença do Senhor.
Se tivermos que escolher entre a arca ou o tabernáculo, é melhor ficarmos onde está a arca, mas a vontade perfeita de
Deus é que a arca esteja no tabernáculo. Queremos a presença de Deus, mas queremos também a Casa de Deus.
Alguns, porém, pensam que porque possuem a arca não precisam do tabernáculo, mas isso é um erro. O tabernáculo é
o vaso, mas a arca é o tesouro no vaso. Esse é o pensamento daqueles que dizem que já possuem a Cristo e não
precisam da Igreja. Na verdade, Cristo é mais importante que a Igreja, mas a Igreja é Seu corpo e, portanto, é
imprescindível.
Vivemos dias assim, quando muitos buscam a intimidade e a presença de Deus ardentemente, mas rejeitam se envolver
na edificação. É lamentável que, mesmo desfrutando da presença do Senhor, não consigam perceber o coração de
Deus por Sua Casa, pela Igreja.

4. A presença de Cristo com uma Igreja inadequada


O quarto estágio é a arca em um tabernáculo inadequado. A quarta condição aponta para a Igreja em um tabernáculo
impróprio ou inadequado:
Introduziram a arca do SENHOR e puseram-na no seu lugar, na tenda que lhe armara Davi; e este trouxe holocaustos e
ofertas pacíficas perante o SENHOR. (2 Sm 6.17)
Davi preparou um tabernáculo para a arca em Sião, mas aquele tabernáculo não estava de acordo com o modelo que
foi mostrado no monte:
Vê, pois, que tudo faças segundo o modelo que te foi mostrado no monte. (Êx 25.40)
Em muitos aspectos, o Tabernáculo de Davi foi bom e certamente foi aprovado por Deus, mas era algo feito de acordo
com o gosto e a preferência de Davi. Ele precisou ser desfeito quando o templo foi levantado.
Sei que nesse ponto alguém pode me questionar dizendo que a promessa de Deus é que o Tabernáculo de Davi seria
reedificado. É claro que em certo sentido ele aponta para a Igreja. No entanto, a Igreja, como conhecemos hoje, vai
passar, e a Nova Jerusalém descerá do céu.
Não estou dizendo que o Tabernáculo de Davi não representou um genuíno mover de Deus. O que estou dizendo é que
ele teve de ser desmontado, pois não era o propósito final de Deus. O alvo final era o templo.
É impressionante como esse é o quadro atual de muitas igrejas. Antes, tínhamos a arca em nossa casa, mas logo
sentimos a necessidade de ter um tabernáculo, então armamos um de acordo com nosso estilo e preferência. Esse foi o
princípio praticado por Davi.
Podemos ver esse padrão sendo aplicado amplamente em nossos dias. Sempre que um grupo está insatisfeito com
algo na igreja local, ele sai e abre outra igreja de acordo com seu gosto pessoal. Edificam não segundo o modelo
mostrado no monte, mas segundo seu gosto e preferência. Valorizam a presença de Deus, mas não se importam com a
edificação da Casa de Deus. Normalmente, esses grupos experimentam um tempo de visitação e refrigério, mas depois
essa obra passa e se acaba. Não poderiam continuar porque não estavam fazendo algo realmente de acordo com o
propósito eterno de Deus.
O que Davi fez foi bom, mas ainda não era a perfeita vontade de Deus. Não foi edificado segundo a revelação do
Senhor no monte. Era algo bom, mas, depois dele, ainda viria algo melhor.

5. Cristo com uma Igreja apropriada


A quinta condição é a arca no templo. O templo aqui simboliza a Igreja pronta e apropriada para a presença e a glória do
Senhor.
Observe que os cinco estágios nos mostram uma evolução ou uma restauração até que cheguemos à plena expressão
de uma Igreja madura sobre a face da terra.
Meu encargo ao compartilhar esses cinco estágios é que percebamos que podemos, mesmo hoje, nos enquadrar em
alguma das fases mencionadas. Precisamos avaliar nossa prática e avançar para o propósito eterno de Deus. Devemos
ter um forte encargo pela arca de Deus, mas não podemos ignorar o amor que Ele tem por Sua Casa. Buscamos de
todo coração a presença de Deus, mas trabalhamos diligentemente pela edificação da Sua Casa, a Igreja.
Nesses dias, temos recebido muita revelação da beleza e do esplendor da expressão da Igreja de acordo com o
propósito eterno de Deus. Por um lado, ficamos deslumbrados com a revelação divina da Igreja; mas, por outro,
podemos ficar desanimados quando vemos que estamos distantes desse padrão celestial. Entretanto, não deveríamos
ficar assim. Temos o Espírito Santo trabalhando para preparar Sua Noiva e devemos nos motivar a cada dia para
trabalhar com mais alegria, cooperando em Ele nessa obra.
Seja persistente e perseverante. Nosso trabalho na obra de Deus é mais parecido com uma maratona do que com uma
corrida de cem metros rasos. Não adianta ser explosivos e não conseguir chegar até a linha de chegada. Não é como
você começa o que importa, e sim que você termina a corrida. Constância conta mais do que velocidade. Vencedores
são finalizadores. Campeões são pessoas que terminam as coisas, que vão até o fim. Jesus fez muitos milagres e tocou
muitas vidas, mas o ponto máximo de Seu ministério está oculto nesta frase proferida na cruz: “Está consumado!” (Jo
19.30).
Nós buscamos o crescimento da Igreja, mas não coloque seus olhos apenas nisso. Por causa disso, alguns caem no
erro de desmerecer as pequenas igrejas. A verdade é que toda igreja local é relevante aos olhos de Deus. O propósito
eterno de Deus e o desejo do Seu coração é ter a Igreja. Assim, precisamos sempre lembrar o que é a Igreja. Ela não é
simplesmente um grupo de pessoas. Também não é apenas dois ou três reunidos no nome do Senhor. A Igreja é Deus
em Cristo, unido com a humanidade. Deus, em Cristo, uniu-se a Seus escolhidos e redimidos.
Fomos chamados para cooperar com Deus na edificação do corpo da divindade, a noiva de Deus, a família dos filhos do
Altíssimo. A Igreja é a única coisa na terra que vai durar para sempre. Aos olhos de Deus, não há tal coisa como uma
Igreja insignificante. Jesus morreu por Sua Igreja. Isso é o quanto cada igreja local é importante para Deus.
Décimo Sétimo Dia
A porta do céu
Existe um princípio de interpretação da Bíblia chamado de princípio da primeira menção. Segundo esse princípio, a
primeira menção de qualquer assunto na Bíblia determina o seu significado em linhas gerais no restante das Escrituras.
A primeira menção da Casa de Deus na Bíblia está em Gênesis 28.10-22. Trata-se do sonho que Jacó teve quando viu
uma escada ligando a terra ao céu.
Partiu Jacó de Berseba e seguiu para Harã. Tendo chegado a certo lugar, ali passou a noite, pois já era sol-posto;
tomou uma das pedras do lugar, fê-la seu travesseiro e se deitou ali mesmo para dormir. E sonhou: Eis posta na terra
uma escada cujo topo atingia o céu; e os anjos de Deus subiam e desciam por ela. Perto dele estava o SENHOR e lhe
disse: Eu sou o SENHOR, Deus de Abraão, teu pai, e Deus de Isaque. A terra em que agora estás deitado, eu ta darei,
a ti e à tua descendência. Despertado Jacó do seu sono, disse: Na verdade, o SENHOR está neste lugar, e eu não o
sabia. E, temendo, disse: Quão temível é este lugar! É a Casa de Deus, a porta dos céus. Tendo-se levantado Jacó,
cedo, de madrugada, tomou a pedra que havia posto por travesseiro e a erigiu em coluna, sobre cujo topo entornou
azeite. E ao lugar, cidade que outrora se chamava Luz, deu o nome de Betel. (Gn 28.10-13,16-19).
A partir dessa primeira menção da Casa de Deus, podemos tomar algumas verdades a respeito da Igreja, a verdadeira
Casa de Deus.

1. Uma escada ligando a terra ao céu


E sonhou: eis posta na terra uma escada cujo topo atingia o céu e os anjos de Deus subiam e desciam por ela. (Gn
28.12)
No Novo Testamento, vemos que Cristo é a escada vista por Jacó. Jesus disse a Natanael:
Em verdade vos digo, que vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o filho do homem. (Jo
1.51)
Cristo é aquele que traz o céu à terra e a terra ao céu. Primeiramente, Ele veio à terra para depois ligar a terra ao céu.
Os anjos sobem e descem porque trabalham em função daquele que há de herdar a salvação.
Jacó havia pensado que para ele não havia mais esperanças e que Deus já o havia rejeitado. Estava se sentindo só e
sem esperanças, mas Deus veio e lhe mostrou que uma escada estava posta, ou seja, em Cristo, Deus não pode
desistir de nós.
Jacó recebeu a continuidade da revelação iniciada com Abraão. Abraão entendeu que, pela sua descendência, todas as
famílias da terra seriam abençoadas, mas Jacó entendeu como isso se realizaria. Pela Casa de Deus, Betel.
A Casa de Deus é o lugar onde a escada é colocada. Em seu sonho, Jacó viu uma escada posta na terra. O testemunho
de Deus precisa ser posto na terra, não nos céus. Cada lugar onde as pedras vivas se reúnem, um edifício espiritual é
erguido e uma escada é posta na terra indo até os céus. Cada célula é um lugar onde a escada é colocada, os anjos de
Deus sobem e descem e o poder de Deus é liberado.
Esse é mais um motivo para trabalharmos intensamente para ser um edifício, e não apenas um amontoado de pedras.
Se somos Casa de Deus, abrimos espaço para que os anjos ministradores possam agir em nosso meio e para que o
Senhor se revele. O lugar de onde o Senhor falou era do lado da escada. Precisamos entender que a Igreja não é algo
desse mundo e nem é natural, ela é a escada por onde os anjos de Deus sobem e descem. A Igreja é um portal da
glória.

2. A pedra com azeite


O lugar onde a escada está posta é a Casa de Deus. Temos ainda outro ponto importante, a constituição da Casa de
Deus. Jacó tomou a Pedra, erigiu com ela uma coluna e entornou azeite.
Jesus disse a Pedro:
Também te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja. (Mt 16.16)
Jesus estava dizendo que Sua Igreja era um edifício que O tinha como pedra angular (alicerce), e que era constituído
de outras pedras, que são os filhos de Deus. Nós somos estas pedras que formam a Casa de Deus.
Jacó entornou azeite sobre a pedra. Isso nos fala que nós, as pedras espirituais, devemos estar cheios do azeite, que é
o Espírito Santo, para ser unidos uns aos outros e nos tornar edifício espiritual para a habitação de Deus (1 Tm 3.15).
A pedra sobre a qual Jacó repousou veio a ser uma coluna. O Novo Testamente nos ensina que a Igreja é a coluna da
verdade.
Para que, se eu tardar, fiques ciente de como se deve proceder na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, coluna e
baluarte da verdade. (1Tm 3.15)
A coluna era uma pedra. A pedra é um item importante na Bíblia. Em Gênesis, Deus criou um homem do barro (Gn 2.7).
Assim, o primeiro homem era de barro. Então, o próprio Deus tornou-se um homem, e esse homem era de pedra. No fim
da Bíblia, em Apocalipse, temos uma cidade edificada com pedras vivas. Dessa forma, a Bíblia se inicia com um homem
de barro, continua com um homem de pedra e culmina num povo que forma a cidade de pedra.
No início da Bíblia, temos a árvore da vida, um rio e também uma pedra na margem desse rio. De acordo com Gênesis
2, depois que Deus criou o homem, Ele o colocou em frente à árvore da vida (vv. 8,9). Depois, lemos que saía um rio do
Éden para regar o jardim e dali se dividia, repartindo-se em quatro braços (v. 10). Às margens desse rio, havia ouro,
bdélio e pedra de ônix (v. 12). Essa é a primeira menção de pedra na Bíblia.
Havia pedras de ônix nas ombreiras da estola sacerdotal do sumo sacerdote. Havia as doze pedras no peitoral do sumo
sacerdote (Êx 28.8-12,21). Sobre elas, estavam gravados os nomes das doze tribos de Israel. Isso indica que o povo de
Deus, aos Seus olhos, deveria se tornar pedras.
Também lemos em Êxodo sobre a rocha fendida da qual fluiu a água da vida (Êx 17.5,6). Em 1 Coríntios, Paulo nos diz
que essa rocha era Cristo (1Co 10.4).
Isaías 8.14,15 fala de uma pedra de tropeço, e Isaías 28.16 fala de uma pedra preciosa, angular, solidamente
assentada. Para os adversários, Cristo é a pedra que os faz tropeçar; mas, para nós, é a pedra de alicerce e a pedra
angular. Além disso, Zacarias fala de Cristo como a pedra de remate (Zc 4.7).
Podemos encontrar muito mais sobre a pedra no Novo Testamento. O Senhor Jesus chamou Pedro de pedra, e mostrou
que Ele mesmo é a rocha (Jo 1.42; Mt 16.18). Cristo irá edificar Sua Igreja sobre essa rocha com os crentes como
pedras.
Em 1 Coríntios 3.11, Paulo diz que Cristo é o único fundamento que foi lançado, e sobre Ele devemos edificar com ouro,
prata e pedras preciosas.
Em 1 Pedro 2.4,5, vemos que o Senhor Jesus é a pedra que vive, e nós também, como pedras que vivem, estamos
sendo edificados casa espiritual.
Por fim, em Apocalipse, o Senhor diz que os vencedores receberão uma pedrinha branca, significando que se tornaram
pedras preciosas aos Seus olhos (Ap 2.17). Em Apocalipse 4, Deus assentado no trono é semelhante à pedra de jaspe
e de sardônio (Ap 4.3). Vemos ainda a Nova Jerusalém, a cidade cuja luz é “semelhante a uma pedra preciosíssima,
como pedra de jaspe cristalina” (Ap 21.11), uma grande e alta muralha de jaspe (vv. 12,18), e doze fundamentos de
pedras preciosas. Se observarmos essa cidade, veremos que ela consiste de ouro, pérola e pedras preciosas. Veja que
a Palavra de Deus tem uma profunda revelação do significado da pedra.

3. A Casa de Deus
Betel significa uma revelação do propósito de Deus de ter uma casa na terra que seja também Sua expressão. Este
propósito se cumpriu por meio da Igreja.
O propósito de Deus é edificar Sua habitação no universo. O céu não é a habitação permanente de Deus, mas é Sua
residência temporária. A Bíblia revela claramente que o Senhor está vindo para habitar em Sua habitação eterna, que é
a Nova Jerusalém.
A Bíblia nos revela que Deus tem um propósito eterno. O que Deus quer realizar em Seu propósito é a edificação da
Sua eterna habitação. O que é a eterna habitação de Deus? É a união de Si mesmo com a humanidade.
Nem o céu nem a terra são a habitação eterna de Deus. Nada, a não ser a união de Deus com o homem, está
qualificado para ser Sua habitação. Isso está plenamente revelado no Novo Testamento.
Em João 14.23, o Senhor Jesus diz: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos a ele
e faremos nele morada”. O Filho e o Pai virão ao que ama o Senhor Jesus e farão morada nele.
Então, em João 15.4, o Senhor prossegue: “Permanecei em mim, e eu permanecerei em vós”. Aqui o Senhor diz que
Ele é a nossa habitação, e que nós precisamos ser a Sua habitação. Ele afirma isso claramente quando diz:
“Permanecei em mim, e eu permanecerei em vós”. Sede a minha habitação para que eu seja a vossa habitação. Aqui
temos a união de Deus com o homem.
O propósito de Deus é edificar Sua Casa para Si mesmo e para os Seus escolhidos. Essa habitação, na verdade, é a
união de Deus com os Seus filhos.
O pensamento de ter Deus como nossa habitação está claro no Antigo Testamento:
O Deus eterno é a tua habitação e, por baixo de ti, estende os braços eternos; ele expulsou o inimigo de diante de ti e
disse: Destrói-o. (Dt 33.27)
Senhor, tu tens sido o nosso refúgio, de geração em geração. (Sl 90.1)
Mas é no Novo Testamento que encontramos a revelação de que há um edifício para a habitação de Deus e Seus
escolhidos. Na verdade, essa habitação é Deus como nossa habitação e nós como habitação de Deus. Essa
maravilhosa habitação é a Casa de Deus.
O Novo Testamento diz que a Igreja é a Casa de Deus (1 Pe 2.5). Com isso, não dizemos que a Igreja seja apenas a
habitação de Deus. A palavra grega oikos traduzida como “casa” em nossas Bíblias também poderia ser traduzida como
“lar”. Oikos quer dizer tanto casa como os familiares que compõem o lar. Assim a Igreja é o lar do Senhor, Sua família, o
lugar do Seu prazer e descanso (Ef 2.19).
O lugar da habitação de Deus hoje na terra é a Igreja. Deus é o nosso Pai e nós somos a Sua família. Para a nossa vida
familiar, temos uma casa, e, dentro da casa, temos a família. Para nós, a casa é uma coisa e a família outra coisa; a
casa é o prédio e a família são as pessoas que vivem ali. Mas, segundo a Bíblia, a Casa de Deus e a Família são a
mesma coisa. Nós somos a casa e somos o lar, somos as pedras e somos os familiares. A casa é a família e a família é
a casa.
Como Casa de Deus, nós somos aqueles que foram regenerados, chamados para fora e fomos feitos habitação de
Deus no espírito. Esses chamados que foram regenerados pela vida de Deus e que são habitados pelo Espírito são
tanto o lugar da habitação quanto a família de Deus.

4. A porta de céu
Uma afirmação grandiosa foi feita por Jacó a respeito da Casa de Deus. Ele disse no verso 17: “Quão temível é este
lugar! É a Casa de Deus, a porta dos céus.” Jacó chamou a Casa de Deus de “porta do céu”.
Todos nós sabemos que a função da porta é abrir uma passagem, um meio de acesso. Quando pensamos na Igreja
como a porta do céu, precisamos ter em mente que existe um lugar na terra que é um verdadeiro portal para o céu.
Esse lugar é a Igreja. Quando nos reunimos na presença do Senhor, uma escada é posta na terra, e o resultado é que
uma porta é aberta nos céus. Por causa disso, os anjos vêm ministrar sobre nós, que herdaremos a salvação.
É precioso o que lemos em Mateus 16, quando o Senhor prometeu dar para Sua Igreja as chaves do reino dos céus (Mt
16.9). Nós não somos apenas a porta do céu, mas até mesmo temos as chaves da porta. A Igreja não é uma porta
fechada, mas uma porta aberta para todos os que desejam entrar no reino.
O reino e a Igreja se misturam nessa era. Na verdade, podemos dizer que hoje o reino é a Igreja. O reino é onde Deus
governa. Aqui é a esfera na qual Deus pode exercer Sua autoridade para o cumprimento do Seu propósito (Cl 1.13; Mt
6.13b). O Senhor Jesus orou em Mateus 6.10: “Venha o teu reino, faça-se a tua vontade”. Se a vontade de Deus não é
realizada, então não temos o reino. Hoje, é na Igreja que a vontade de Deus é realizada.
O reino foi a primeira coisa pregada no Novo Testamento (Mt 3.1,2; 4.17; Lc 9.1,2; 10.1,9,11; 9.60). João Batista, o
primeiro pregador do tempo do Novo Testamento, disse às pessoas: “Arrependei-vos, pois está próximo o reino dos
céus”.
Mas o reino não é só o conteúdo da pregação, é até mesmo o próprio evangelho. No Novo Testamento, o reino é o
evangelho (Lc 4.43; At 8.12; Mt 24.14; Lc 18.29; Mc 10.29). Aceitar a mensagem do evangelho coloca as pessoas
dentro do reino. O Senhor Jesus e Filipe pregaram sobre o reino como sendo o evangelho (Lc 4.34; At 8.12).
Em Marcos 10.29, o Senhor refere-se a deixar tudo e segui-Lo por causa do evangelho. Todavia, em Lucas 18.29, o
Senhor fala de deixar tudo e segui-Lo por causa do reino de Deus. Isso significa que deixar tudo por causa do evangelho
é o mesmo que deixar tudo pelo reino de Deus. Aos olhos de Deus, o evangelho e o reino são sinônimos. Hoje, é a
Igreja que prega o evangelho, por isso ela é chamada de porta do céu, pois é ela que tem as chaves para que as
pessoas entrem no reino.
Pedro diz que todas as coisas que se relacionam com a vida divina nos foram concedidas para suprir-nos uma entrada
no reino (2Pe 1.3,11).
Em João 3.3,5, o Senhor Jesus disse que precisamos ser nascidos de novo para ver o reino e para entrar nele. Veja que
aqueles que nascem de novo são os filhos de Deus, as pedras vivas. Assim, o reino é a Igreja, e, para ser parte da
Igreja, é preciso nascer de novo.
Romanos 14.17 diz: “Pois o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça e paz e alegria no Espírito Santo”.
Romanos 14 é um capítulo sobre a vida da Igreja, e somente aqueles que nasceram de novo possuem justiça, paz e
alegria no Espírito.
Depois que o Senhor ressuscitou, Ele ficou quarenta dias instruindo os discípulos e “falando das coisas concernentes ao
reino de Deus” (At 1.3).
Em Atos, o reino foi ensinado pelo Senhor depois de Sua ressurreição. nos diz que Ele esteve com os discípulos por
quarenta dias.
Os últimos dois versículos de Atos nos dizem que “por dois anos permaneceu Paulo na sua própria casa, que alugara,
onde recebia a todos que o procuravam, pregando o reino de Deus”. Sabemos que Paulo ensinava a respeito do
evangelho para a edificação da Igreja.
Alguns mestres da Bíblia ensinam que o reino foi suspenso devido à rejeição dos judeus. Eles creem que esta não é a
era do reino, mas a era da Igreja, e que o reino virá mais tarde. Esse ensinamento é incorreto porque a Igreja, na
realidade, é o reino. Mesmo nesta era, a era da Igreja, a era da graça, o reino está aqui. A Igreja é a porta do reino dos
céus. Paulo diz que os crentes foram transferidos para o reino (Cl 1.13; Hb 12.28).
Aqueles que trabalhavam com Paulo eram vistos como cooperadores do apóstolo pelo reino de Deus (Cl 4.11). Paulo e
seus cooperadores estavam trabalhando pelo reino enquanto edificavam as igrejas. Isso quer dizer que trabalhar pela
Igreja é trabalhar pelo reino. Assim, a Igreja é o reino. As pessoas da igreja também herdarão o reino (1Co 6.9,10;
15.50; Gl 5.21; Ef 5.5; Tg 2.5; 1 Ts 2.12; 2Pe 1.11).
Nós sabemos que o reino de Deus virá em sua plena manifestação depois da grande tribulação (Ap 12.10). Quando
soar a última trombeta, o reino do mundo se tornará o reino de nosso Senhor e do Seu Cristo no milênio (Ap 11.15).
Décimo Oitavo Dia
Sobre essa pedra
Indo Jesus para os lados de Cesaréia de Filipe, perguntou a seus discípulos: Quem diz o povo ser o Filho do Homem? E
eles responderam: Uns dizem: João Batista; outros: Elias; e outros: Jeremias ou algum dos profetas. Mas vós, continuou
ele, quem dizeis que eu sou? Respondendo Simão Pedro, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. Então, Jesus lhe
afirmou: Bem-aventurado és, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que to revelaram, mas meu Pai, que está
nos céus. Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não
prevalecerão contra ela. Dar-te-ei as chaves do reino dos céus; o que ligares na terra terá sido ligado nos céus; e o que
desligares na terra terá sido desligado nos céus. (Mt 16.13-19)
No capítulo 16 de Mateus, deparamo-nos com o estabelecimento da Igreja pelo Senhor Jesus. Aqui vemos suas bases e
suas chaves. É interessante que, imediatamente antes de nos dar a revelação da Igreja, o Senhor mandou que Seus
discípulos se acautelassem do fermento dos fariseus. Isso é assim porque a Igreja do Senhor é o pão asmo e todo
fermento é um obstáculo para a edificação de Deus.

1. Quem dizem ser o Filho do Homem


No versículo 13, o Senhor fez uma pergunta a seus discípulos: “Quem diz o povo ser o Filho do Homem?” Como
homem, o Senhor era um mistério não apenas para aquela geração, mas para as pessoas hoje.
A edificação da Igreja depende de conhecermos ou não a Jesus como o Filho de Deus, o Salvador e Messias. Quando
fez essa pergunta, o Senhor não estava preocupado com a opinião dos outros a Seu respeito, mas Ele desejava que
Seus discípulos obtivessem revelação. Ele se referiu a si mesmo como Filho do Homem, mas não podemos ser salvos a
menos que O conheçamos como Filho de Deus.
Em Mateus, vemos que pelos menos três classes de pessoas conheciam a Jesus, mas a forma como alguns conheciam
o Senhor era inadequada para a edificação da Igreja.

a. Os fariseus conheciam o Jesus histórico


Os fariseus certamente conheciam a Jesus. Eles sabiam quem era Sua família e onde Ele vivia. Todavia, esse mero
conhecimento natural do Senhor não tem poder para mudar nossa vida.
Não é este o filho do carpinteiro? Não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos, Tiago, José, Simão e Judas? (Mt 13.55)
Conhecer Jesus de maneira histórica é saber que Ele nasceu em Belém, foi criado na Galiléia e morreu numa cruz, em
Jerusalém, no ano 30 de nossa era. Muitos conhecem a Jesus assim, mas isso não transforma suas vidas. Precisamos
conhecê-Lo como o Messias Filho de Deus.

b. O povo conhecia o Jesus místico


Quem diz o povo ser o Filho do Homem? E eles responderam: Uns dizem: João Batista; outros: Elias; e outros: Jeremias
ou algum dos profetas. (Mt 16.13,14)
No verso 14, vemos que o povo também conhecia a Jesus, não o histórico, mas o místico. É assim que muitos O
conhecem hoje. Para eles, Jesus é o que cura, liberta, prospera e abençoa. Podemos conhecer o Senhor dessa forma e
mesmo assim não ser salvos. Somente quando nos tornamos pedras vivas, é que podemos fazer parte da genuína
edificação da Igreja.

c. Os discípulos conheciam o Cristo revelado


A resposta de Pedro mostra aquilo que procede do coração de Deus. Quando Pedro disse que o Senhor era o Filho de
Deus, o Senhor mostra que tal revelação é a base ou a rocha para a edificação da Igreja.

2. A base da edificação da Igreja


Depois da confissão de Pedro, o Senhor disse que Ele edificaria Sua igreja sobre aquela rocha. Esta rocha não é o
próprio Pedro, como ensina a Igreja Católica, mas podemos dizer que esta rocha tem três aspectos:

a. A rocha é Cristo
Jesus disse: “Sobre esta rocha eu edificarei [...]”. A rocha, portanto, é o próprio Cristo. Em outras partes da Palavra,
ficamos sabendo que Ele é a rocha. Há pelo menos dez descrições de Cristo como a pedra nas Escrituras.
Cristo é chamado de a pedra de fundação. Isso significa que toda obra de edificação é feita em cima da revelação do
Senhor e de Sua obra de redenção.
Porém cada um veja como edifica. Porque ninguém pode lançar outro fundamento, além do que foi posto, o qual é
Jesus Cristo. (1Co 3.10,11)
Portanto, assim diz o SENHOR Deus: Eis que eu assentei em Sião uma pedra, pedra já provada, pedra preciosa,
angular, solidamente assentada; aquele que crer não foge. (Is 28.16)
Ele é também a pedra angular. As palavras gregas traduzidas como pedra angular significam “cabeça do ângulo”. Cristo
não é apenas a pedra principal do alicerce, mas também a pedra angular. Isso significa que é Ele quem define o prumo
da edificação. Todas as pedras serão avaliadas se estão seguindo o ângulo correto, o prumo reto, que é Cristo.
Também é essa pedra que une as paredes de um edifício. Isso significa que nossa união é Cristo e em Cristo.
Perguntou-lhes Jesus: Nunca lestes nas Escrituras: A pedra que os construtores rejeitaram, essa veio a ser a principal
pedra, angular; isto procede do Senhor e é maravilhoso aos nossos olhos? (Mt 21.42)
Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular. (Ef 2.20)
A Palavra de Deus também nos mostra que o Senhor é a pedra de remate. Ele não é apenas a pedra de fundação, o
alicerce, mas é também a última pedra a ser coloca na edificação. Isso acontecerá quando Ele voltar. Nesse tempo, a
edificação será completada. Cristo é o alicerce, a origem, mas é também a consumação, a conclusão do edifício de
Deus.
Quem és tu, ó grande monte? Diante de Zorobabel serás uma campina; porque ele colocará a pedra de remate, em
meio a aclamações: Haja graça e graça para ela! (Zc 4.7)
O Senhor é a pedra provada. Não há n’Ele pecado ou imperfeição alguma. Quando Cristo esteve na carne, Ele foi
provado em todas as coisas; mas, no fim, foi declarado sem culpa.
Portanto, assim diz o SENHOR Deus: Eis que eu assentei em Sião uma pedra, pedra já provada, pedra preciosa,
angular, solidamente assentada; aquele que crer não foge. (Is 28.16)
Ele é ainda chamado de “pedra preciosa”. Todo o edifício de Deus é construído com pedras preciosas, mas o Senhor é
aquela pedra de valor único.
Portanto, assim diz o SENHOR Deus: Eis que eu assentei em Sião uma pedra, pedra já provada, pedra preciosa,
angular, solidamente assentada; aquele que crer não foge. (Is 28.16)
O Senhor é a pedra viva, e todo aquele que O recebe também se torna uma pedra viva da mesma natureza que Ele.
Chegando-vos para ele, a pedra que vive, rejeitada, sim, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa. (1Pe 2.4)
Ele é a pedra com sete olhos. Os sete olhos são os sete Espíritos de Deus (Ap 5.6). O Senhor é aquele que possui o
Espírito de Deus em Sua plenitude.
Porque eis aqui a pedra que pus diante de Josué; sobre esta pedra única estão sete olhos; eis que eu lavrarei a sua
escultura, diz o SENHOR dos Exércitos, e tirarei a iniqüidade desta terra, num só dia. (Zc 3.9)
Para nós que somos salvos, Cristo é a pedra de edificação; mas, para os incrédulos, Ele é a pedra de tropeço.
Como está escrito: Eis que ponho em Sião uma pedra de tropeço e rocha de escândalo, e aquele que nela crê não será
confundido. (Rm 9.33)
Para os incrédulos, Ele não é apenas a pedra de tropeço, mas a pedra que esmiúça. Daniel 2.34 diz que, em Sua vinda,
o Senhor esmiuçará as nações e elas serão reduzidas a pó.
Todo o que cair sobre esta pedra ficará em pedaços; e aquele sobre quem ela cair ficará reduzido a pó. (Mt 21.44)
No final, a pedra se tornará a rocha, a grande montanha que encherá toda a terra. Toda a terra se encherá do
conhecimento da glória do Senhor, como as águas cobrem o mar (Hc 2.14).
Então, foi juntamente esmiuçado o ferro, o barro, o bronze, a prata e o ouro, os quais se fizeram como a palha das eiras
no estio, e o vento os levou, e deles não se viram mais vestígios. Mas a pedra que feriu a estátua se tornou em grande
montanha, que encheu toda a terra. (Dn 2.35)

b. A rocha é a revelação de Cristo


A rocha, porém, não é apenas Cristo, mas é a revelação de Cristo como o Filho do Deus Vivo. Quando temos esta
revelação, somos também transformados em pedras vivas e assim nos tornamos materiais apropriados para a
edificação da igreja.
Também vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de
oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo. (1Pe 25)
Na vida cristã, o ponto mais importante é o conhecimento espiritual, a revelação. A maior preocupação de Paulo, em
todas as suas epístolas, era com revelação (Ef 1.15-19; 3.14-19).
Paulo não orava pelo crescimento das igrejas locais. Em nenhum lugar, ele ora pelo crescimento numérico de nenhuma
igreja. Ele tinha uma única oração: por revelação. Paulo orava assim porque sabia que a revelação de Cristo nos leva a
experimentar todas as outras coisas.
O que tem valor realmente é conhecer a Cristo por revelação em nosso espírito. Se possuirmos revelação de Cristo,
espontaneamente todas as áreas de nossa vida serão afetadas e transformadas.
Revelação não é descobrir algo que ninguém conhecia na Palavra de Deus. Antes, é saber pelo espírito. É ver do ponto
de vista de Deus. É ver como Deus vê (1Co 2.11,12; 2 Co 3.6; 4.6; 5.16; Jo 20.11-16; Lc 24.13-16, 30,31).
Uma coisa é o conhecimento natural e carnal, outra é o conhecimento espiritual ou revelação. Paulo diz que antes ele
conhecia a Jesus na carne, mas depois passou a conhecê-Lo pelo Espírito:
Assim que, nós, daqui por diante, a ninguém conhecemos segundo a carne; e, se antes conhecemos Cristo segundo a
carne, já agora não o conhecemos deste modo. (2Co 5.16)
A edificação da Igreja depende de conhecermos a Cristo por revelação. Onde há luz e unção, naturalmente as pessoas
serão transformadas em pedras vivas, como Pedro foi.
Jesus disse que não foi carne e sangue que deram a revelação para Pedro. Carne e sangue apontam para a vida
humana natural. Isso significa que ninguém pode conhecer o Senhor de forma natural, apenas pelo seu intelecto. O
Senhor disse que o Pai celeste precisa nos dar revelação.
Em Colossenses 2.2, Paulo disse que o mistério de Deus é Cristo, mas ele também afirmou, em Efésios 3, que a Igreja
é o mistério de Deus. O homem precisa de revelação de Cristo porque ele é o mistério de Deus, mas nós também
precisamos receber a revelação da Igreja, pois ela também é um mistério divino que não pode ser entendido pela mente
natural.
c. A rocha é a confissão de Cristo
Não basta termos a revelação, precisamos também fazer a confissão. A Igreja é edificada pela palavra revelada e
confessada. Se nos calamos, se deixamos de confessar a Palavra, não haverá espaço para operar em nossas vidas.
Paulo disse que, se confessarmos com a boca e crermos com o coração que Jesus Cristo é filho de Deus que
ressuscitou dentre os mortos, seremos salvos (Rm 10.9,10). Isso mostra que, sem confessar a Cristo, não podemos ser
salvos e transformados em pedras vivas para a edificação da Igreja.

3. O meio da edificação
a. Por Cristo
O Senhor disse: “Sobre esta pedra edificarei a minha igreja [...]” É o próprio Senhor quem está edificando a Igreja. Essa
edificação começou no dia de Pentecostes. A profecia do Senhor ainda não foi cumprida mesmo depois de dois mil
anos. O cristianismo tornou-se uma religião humana e caída, mas o Espírito de Deus tem movido sobre a terra e o Filho
de Deus está trabalhando para edificar a Sua Casa.
A expressão “minha igreja” indica que a Igreja é do Senhor Jesus. Ela não pertence a homem algum e nem a nenhuma
organização humana. No cristianismo caído, há aqueles que se julgam donos de igrejas e até mesmo abrem igrejas
como se fossem negócios pessoais e fonte de lucro. A seu tempo, serão todos julgados pelo Senhor e somente aquilo
que for obra de Deus permanecerá.
Precisamos também realçar que o Senhor disse que edificaria Sua igreja. Isso mostra o tipo de obra que Ele está
fazendo. Se desejamos participar da obra de Deus e ser cooperadores, precisamos fazer o que Ele está fazendo. Não
podemos fazer outras coisas e pensar que estamos cooperando com Ele. Somente fazemos a obra de Deus se estamos
fazendo o que Ele está fazendo. Cada um dos filhos de Deus precisa ter revelação da Igreja e de como trabalhar para a
sua edificação.

b. Sobre a rocha
A Igreja é edificada sobre a rocha, que é Cristo. Mas não apenas sobre Cristo, mas sobre a revelação de Cristo. A Igreja
genuína é aquela que é edificada sobre a revelação concernente a Cristo.
A Igreja não pode ser edificada sobre a revelação do batismo ou sobre o governo dos presbíteros, nem mesmo sobre a
revelação de uma experiência pentecostal ou de uma revelação especial de uma prática de discipulado. Qualquer grupo
que é edificado sobre práticas, doutrinas, conceitos e opiniões, no fim, não subsistirá.

c. Com pedras vivas


A forma como a igreja é edificada é pela transformação de Simão em Pedro. Sem transformação, não há edificação.
Em João 1, lemos a respeito do dia em que André trouxe seu irmão, Simão Pedro, ao Senhor Jesus:
Olhando Jesus para ele, disse: Tu és Simão, o filho de João; tu serás chamado Cefas (que se traduz por Pedro) (Jo
1.42)
Pedro significa “uma pedra”. O Senhor Jesus já tinha definido o seu novo nome desde o dia em que ele foi chamado. A
experiência de Mateus 16 é apenas a consumação do propósito eterno de Deus. Isso nos mostra que, desde o princípio,
o objetivo de Deus é a edificação, e, para levar a cabo esse objetivo, Ele precisa nos transformar em pedras vivas.
Depois da sua confissão, o Senhor mudou o nome de Pedro. Na Palavra de Deus, ter o nome mudado significa ter a
vida transformada. Simão foi transformado numa nova pessoa, um novo homem, que agora era como uma rocha ou
pedra.
Não apenas Pedro foi transformado para ser útil na edificação da Igreja, mas todos nós devemos ter a mesma
experiência para ser parte da edificação de Deus, da Sua Casa.
Em Gênesis, Deus criou um homem de barro. O primeiro homem foi feito do pó da terra. Esse homem veio caiu e toda a
velha criação foi rejeitada. Quando Cristo veio, Ele estabeleceu a nova criação. Ele é o primeiro dessa nova criação,
mas Ele agora é de pedra. No fim da Bíblia, em Apocalipse, temos uma cidade de pedra edificada com pedras vivas.
Essa cidade é o edifício de Deus.
Antes, éramos por natureza barro, mas agora fomos transformados em pedra. Agora, estamos qualificados para ser
parte do edifício de Deus, da Sua Casa. A Casa de Deus não pode ser edificada com tijolos, pois tijolos nos falam da
obra humana e da velha criação feita de barro. A Casa de Deus somente pode ser edificada com pedras. Nós somos
transformados em pedras vivas no momento em que temos a revelação e confessamos que Cristo é a rocha viva eterna.

4. As portas do inferno e as chaves do reino


Cesaréia de Felipe era uma cidade construída por Herodes Felipe em homenagem a César. Era uma cidade dentro de
Israel, mas cheia de imagens e templos de ídolos romanos e gregos. Ela era localizada em uma das nascentes do Rio
Jordão, bem ao norte de Israel. Ainda hoje, podemos ver uma grande rocha, e nela uma fenda onde existia a imagem do
deus Pan. Os judeus dos dias de Jesus chamavam aquele lugar de porta do inferno. Certamente, o Senhor passava por
ali quando declarou que iria edificar a Sua Igreja, e, apontando para aquele lugar, disse que as portas do inferno não
resistiriam ao avanço dela.
Em um sentido literal, Pedro recebeu as chaves do reino. Sabemos que foi ele que, no dia de Pentecostes, abriu as
portas do evangelho aos judeus (At 2.14), e também foi ele que, na casa de Cornélio, abriu a porta aos gentios (At
10.34-38). Estas chaves do reino, porém, não foram dadas apenas a Pedro, mas também a nós. Em Mateus 18.18,
temos a mesma promessa, mas endereçada a toda a Igreja. Com as chaves do reino, nós podemos ligar e desligar,
abrir e fechar.
Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra terá sido ligado nos céus, e tudo o que desligardes na terra terá
sido desligado nos céus. (Mt 18.18)
As chaves dadas a Pedro foram basicamente a pregação e o batismo. Assim podemos dizer que temos as mesmas
chaves. Creio, no entanto, que os versos 21 a 28 nos revelam algo mais sobre portas e chaves. As portas são
mencionadas no verso 18 e as chaves no verso 19. O inimigo tem as portas, mas nós temos as chaves.
As portas não vencem as chaves, apesar de serem bem maiores, mas as chaves prevalecem contra as portas. O diabo
tem muitas portas, mas nós temos as chaves. As portas são do inferno, mas as chaves são do Reino dos Céus.
Décimo Nono Dia
Ekklesia – o poder da infiltração
Por Ricardo Guimarães

Indo Jesus para os lados de Cesaréia de Filipe, perguntou a seus discípulos: Quem diz o povo ser o Filho do Homem? E
eles responderam: Uns dizem: João Batista; outros: Elias; e outros: Jeremias ou algum dos profetas. Mas vós, continuou
ele, quem dizeis que eu sou? Respondendo Simão Pedro, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. Então, Jesus lhe
afirmou: Bem-aventurado és, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que to revelaram, mas meu Pai, que está
nos céus. Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não
prevalecerão contra ela. Dar-te-ei as chaves do reino dos céus; o que ligares na terra terá sido ligado nos céus; e o que
desligares na terra terá sido desligado nos céus. (Mt 16.13-19)
Quando Jesus disse pela primeira vez que edificaria a Sua Igreja, a palavra usada por Ele foi eclésia (em grego
ekklesia). Mas o que vem a ser a eclésia?
No tempo de Jesus, a eclésia era um grupo de cidadãos romanos, chamados de entre o povo comum para uma missão
especial entre os povos conquistados, com o objetivo de implantar uma cultura e estabelecer o reino que eles
representavam no território para onde eram enviados.
A força do exército romano deu a Roma o controle de todo o mundo conhecido até então. De Alexandria a Britânia, de
Lisboa a Jerusalém, não houve terra onde os legionários e generais não tenham pisado para o orgulho e glória do
império.
Porém, a verdadeira força de Roma não vinha apenas da conquista pelas armas, mas de sua estratégia para conquistar
o coração do povo a ponto de fazê-lo desejar possuir o título de cidadão romano.
Conquistar um território pela força era uma tarefa fácil para o poderoso exército romano. Mas conquistar o coração das
pessoas era uma tarefa que exigia um trabalho muito mais estratégico.
Assim, a estratégia de Roma era utilizar a eclésia para esse segundo nível de conquista. Portanto, quando Jesus, falou
sobre o estabelecimento da Igreja, Ele não estava falando sobre o estabelecimento de um prédio, muito menos de uma
reunião religiosa. Ele estava falando de um grupo de pessoas que funcionariam na terra como agentes do Seu reino
para conquistar o coração de outras pessoas a ponto de fazê-las desejar também ser cidadãos do reino do Senhor.
Então, vejamos como a eclésia funcionava para esse tipo de conquista.

1. Agentes secretos (v. 18)


Em primeiro lugar, os membros da eclésia funcionavam como agentes secretos. Muitas vezes, o império romano
enviava seus emissários como agentes secretos às cidades conquistadas para se infiltrar no meio do povo e enviar
informações importantes para Roma.
Então esses homens que faziam parte da eclésia mudavam-se para essas cidades e lá estabeleciam negócios,
atividades como comércio, prestação de serviço, educação, e tudo o mais, com objetivo de estar o mais perto possível
da realidade do povo. O alvo de Roma era ter membros da eclésia em todos os seguimentos da sociedade, agindo de
maneira discreta, mas buscando os interesses do reino.
As forças armadas, a polícia civil e a polícia federal utilizam-se dos seus agentes secretos quando querem investigar
algo, os quais mudam-se para a comunidade que está sendo investigada, estabelecem comércio, se vestem como os
demais moradores. Quem olha para eles pensa que são pessoas comuns. Mas, na verdade, eles são parte de uma elite
que está ali em função dos propósitos da corporação a qual eles representam.
Quando Jesus disse que estava estabelecendo Sua eclésia, Ele tinha em mente ter os seus agentes, que somos nós,
infiltrados em cada seguimento da sociedade.
Se Deus quisesse conquistar o mundo com Seus exércitos celestiais, Ele faria isso em um piscar de olhos. Mas Ele
deseja conquistar o coração dos homens. Por isso, Ele estabeleceu a Sua Igreja. Ele chamou você para ser parte da
Sua eclésia, porque Ele precisava de alguém entre os seus familiares, no seu local de trabalho, no condomínio onde
você reside, no seu bairro, na sua cidade e na sua nação.
Quando o exército romano sitiava uma cidade, ele vinha fazendo barulho, dando grito de guerra, agitando os cavalos,
batendo nos escudos, tocando cornetas. Mas, quando a eclésia era enviada, ela ia silenciosamente. A conquista tem
esses dois aspectos. Há o momento de fazer barulho e há o momento de trabalhar em silêncio.
Sabe qual é o problema de muitos cristãos? É que eles fazem muito barulho. Usam uma Bíblia muito grande. Falam
glória a Deus alto demais, mas influenciam muito pouco. Algumas conquistas você não terá falando, você terá de agir
em silêncio. Nós precisamos pregar e testemunhar. Mas o maior testemunho que temos é a nossa vida.
Se eu falar muito sobre santidade, mas não for santo, quem irá me ouvir? Se eu falar muito de amor, e não amar, quem
irá dar crédito à minha palavra? Se eu falar muito de submissão, mas me mostrar uma pessoa independente, que tipo
de influência eu terei? As pessoas precisam ver mudança em sua vida.
“Pregue em todo tempo e se necessário use as palavras”, disse Santo Agostinho.

2. Agentes neutralizadores (v. 18)


Em segundo lugar, os membros da eclésia funcionavam como agentes neutralizadores. Muitas vezes Roma usava a
eclésia para neutralizar a reação dos povos conquistados diante das ordens e decretos do rei. Por isso, era importante
ter membros dela em todos os seguimentos da sociedade: na educação, no comércio, na área de saúde, no meio
empresarial, no meio judiciário etc. Em cada seguimento importante da sociedade, um agente do reino teria de estar
infiltrado ali.
E quando esses membros chegavam com a firme determinação de exercer influência, ali eles iriam galgar posições
importantes. Dessa forma, quando Roma determinava algo e o povo queria reagir contra Roma, a eclésia se levantava,
cada um em sua área, e se identificava: “Eu sou da eclésia romana, nós não vamos reagir”. O diretor da escola
neutralizava a reação dos estudantes. O industrial neutralizava a reação dos operários. E assim a vontade do rei era
estabelecida.
Você precisa entender que nós fomos chamados por Deus para neutralizar a ação e os planos do diabo. Veja o que o
Senhor tinha em mente sobre nós: “Vós sois o sal da terra” (Mt 5.13).
Muitos pensam que a razão de sermos o sal é para temperar, para tornar a comida mais gostosa. Mas não foi só isso
que Jesus quis dizer. O sal deve dar sabor, mas ele também precisa exercitar seu poder de assepsia.
Sabe o que Jesus quis dizer? No tempo de Jesus, cada vez que alguém queria ir ao banheiro, se não tinha nenhum
lugar para fazer suas necessidades, ele precisava cavar um buraco na terra, e, depois que terminava a obra, ele jogava
sal em cima e cobria com terra.
Moisés disse em sua lei que deveria se fazer assim. É por isso que os judeus e os israelitas tinham tanta saúde. Não
havia germes, bactérias, pois Deus deu a Moisés a revelação de como tratar dos dejetos humanos. Então, o sal mata os
germes. O sal é colocado sobre os dejetos.
Portanto, quando Jesus disse que você é o sal da terra, Ele estava dizendo: “Vocês são enviados para o excremento da
terra, para matar os germes, para transformar a sociedade”.
O sal tem mais significado e importância quando é colocado para neutralizar os dejetos humanos. Mas, na Igreja de
hoje, queremos ser apenas a comunidade do sal. E um sal só quer ter comunhão com outro sal. O sal no saleiro não
tem muita utilidade. Nós precisamos ser enviados para os dejetos.
Se ficar muito sal junto numa célula, a pressão sanguínea vai aumentar, e isso é um problema. O sal precisa ser
enviado à terra para neutralizar as obras do diabo.
Jesus também falou que nós somos a luz do mundo. Nosso lugar é nas trevas. Se nós não formos enviados para as
trevas, não temos utilidade nenhuma.
Esse é o propósito da eclésia: influenciar e implantar a cultura, os valores do reino de Deus aqui na terra. Essa eclésia
transtornou o mundo e conseguiu penetrar até mesmo na casa de César.
Todos os santos vos saúdam, especialmente os da casa de César. (Fp 4.22)
Ela era capaz de afetar a sociedade onde quer que chegasse (At 17.6). Veja como os cristãos eram vistos no tempo da
igreja primitiva:
Estes que têm transtornado o mundo chegaram também aqui. (At 17.6)
Essa era a ideia do Senhor: estabelecer uma igreja que pudesse se infiltrar na sociedade e implantar os valores e a
cultura do Seu reino. Mas hoje o mundo não tem sido transtornado pela Igreja, o mundo tem invadido a Igreja, porque a
eclésia tem perdido sua força e emprestou seu poder ao sistema que lhe deu os templos na época de Constantino.
Nossa geração precisa mudar a mentalidade de culto para a mentalidade de reino. O alvo de Deus é ter Seus agentes
infiltrados em todos os seguimentos da sociedade. Muitos querem abandonar seus empregos nas empresas onde Deus
os colocou. Mas o alvo de Deus é ter um agente Seu em cada condomínio, bairro, rua, empresa, escola, faculdade.
Na igreja do Dr. Choo, na Coréia, os irmãos mudavam para outro condomínio com o propósito de abrir uma célula.
Ao estabelecer Sua eclésia, o alvo do Senhor é que ela exerça influência. Somos agentes influenciadores. Assim como
a eclésia romana tinha de instaurar a cultura romana, nós temos de instaurar a cultura do reino de Deus nessa terra.

3. Agentes financiados pelo reino (v. 18)


Em terceiro lugar, os membros da eclésia são agentes financiados pelo reino. Uma das coisas que Roma fazia quando
enviava a eclésia é que cada membro dela era financiado pelo Império Romano. Quem não gostaria de ter um cartão de
crédito sem limite de gastos? Esse é o sonho de toda mulher!
Talvez você esteja pensando: até que enfim uma parte boa. Sim, de fato isso é algo muito poderoso. Nenhum membro
da eclésia preocupava-se com seu sustento, porque Roma o sustentava. Roma financiava o exército e a eclésia. O
uniforme do soldado, as armas que ele usava, a comida que ele comia, tudo era financiado pelo Estado. Assim também,
quando a eclésia era enviada, Roma dava-lhe condições de moradia e também de viver uma vida digna com sua família.
Portanto, quando Jesus disse que estava estabelecendo a Sua eclésia, Ele estava se comprometendo a sustentar cada
membro dela para que ele pudesse cumprir os propósitos do Seu reino. Aleluia!
Você terá tudo o que você precisa para cumprir o propósito de Deus. Se você precisar de uma casa para cumprir o
propósito de Deus, Ele lhe dará uma casa. Se você precisar de um carro, Ele lhe dará um carro. Se você precisar de um
notebook, Ele lhe dará um notebook. Se você precisar de um salário melhor, Ele lhe dará um salário melhor. Se você
precisar de uma família, Ele lhe dará uma família. Se você precisa de mais unção, Ele lhe dará mais unção.
Enquanto você estiver cumprindo os propósitos do reino de Deus, Ele lhe dará a provisão de que precisa para fazer o
que Ele lhe mandou. O império nunca mandava seus enviados e os abandonava. Assim também, Deus nunca nos envia
para uma missão e nos abandona lá. Quando o Pai enviou Jesus, Ele foi totalmente financiando pelo reino:
a) Assim que Ele nasceu, vieram os magos do oriente e depositaram aos Seus pés as suas riquezas;
b) Durante todo o Seu ministério, pessoas ofertavam por gratidão em Sua vida. Nós não vemos em nenhum texto da
Bíblia Jesus pedindo oferta depois de pregar, mas Ele recebia tanta oferta que precisou de um tesoureiro.
c) Até um sepulcro novo Ele ganhou para ser sepultado.
Muitas vezes, não estamos tendo o financiamento do reino porque não estamos cumprindo os propósitos do reino.
APalavra nos garante que, se colocarmos o reino de Deus, os interesses de Deus, em primeiro lugar, tudo de que
precisarmos, nos será dado.
Por isso, vos digo: não andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer ou beber; nem pelo vosso
corpo, quanto ao que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento, e o corpo, mais do que as vestes? Observai
as aves do céu: não semeiam, não colhem, nem ajuntam em celeiros; contudo, vosso Pai celeste as sustenta.
Porventura, não valeis vós muito mais do que as aves? Qual de vós, por ansioso que esteja, pode acrescentar um
côvado ao curso da sua vida? E por que andais ansiosos quanto ao vestuário? Considerai como crescem os lírios do
campo: eles não trabalham, nem fiam. Eu, contudo, vos afirmo que nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como
qualquer deles. Portanto, não vos inquieteis, dizendo: Que comeremos? Que beberemos? Ou: Com que nos
vestiremos? Porque os gentios é que procuram todas estas coisas; pois vosso Pai celeste sabe que necessitais de
todas elas; buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.
(Mt 6.25-33)
Você é a eclésia do Senhor. O Senhor quer financiar sua vida, sua família, seu ministério, mas Ele precisa que você
pense e atue com a atitude que Ele tinha em mente quando disse: “Eu estou estabelecendo a minha eclésia!”
Nós somos a eclésia estabelecida pelo Senhor para o estabelecimento do Seu reino. Devemos agir como tal,
influenciando onde estamos, neutralizando as forças inimigas e tendo certeza do sustento divino. Assim como os
grandes monarcas possuíam sua eclésia, o Senhor estabeleceu, em Mateus 16, a Sua própria eclésia.
Mais uma vez, precisamos ter clareza de que, quando Jesus disse: “Estabelecerei a minha igreja”, Ele não tinha em
mente um templo, não estava pensando em um prédio, não estava pensando em um grupo de pessoas cantando. Ele
estava pensando em uma elite chamada para legislar, para influenciar, mas também para dominar, estabelecendo o Seu
governo na terra.
Era a eclésia que estabelecia as estratégias de guerra. Isso é algo importante para nós, porque esse conceito vai nos
ajudar a determinar o propósito das nossas reuniões. Quando a eclésia romana se reunia, estava preocupada com as
novas conquistas, com quais estratégias iriam usar, quando fariam, como fariam, quem seria enviado primeiro e quem
iria depois. Quando nós entendemos esse conceito, até nossa maneira de reunir é alterada. Sabemos que, quando a
célula se reúne, quando a eclésia se reúne, uma estratégia de conquista será traçada para o avanço do reino de Deus.
Em uma conversa com Jesus, Pedro teria dito:
– Senhor, qual será Sua estratégia para estabelecer Seu reino na terra?
– Minha Igreja, Pedro. Eu estou estabelecendo a minha eclésia e ela vai trazer o meu reino para a terra.
– Senhor, e se a Igreja falhar?
– Minha Igreja não vai falhar, Pedro.
– Mas, Senhor, se por um caso ela falhar?
– Minha Igreja não vai falhar, Pedro!
– Mas, Senhor, na hipótese de ela falhar? – insistiu Pedro.
Jesus faz uma pausa e diz:
– Pedro, se ela falhar, tudo está perdido!
A Igreja não vai falhar. O Senhor estabeleceu a Sua Igreja com uma visão de reino. E, através dessa visão, nós vamos
fazer três coisas:
a) Estabelecer os decretos do Senhor aqui na terra.
b) Influenciar esse mundo com a cultura do reino dos céus.
c) Fazer uma grande conquista para restaurar o domínio e o governo do Senhor.
Se fôssemos resumir o propósito da eclésia, em uma só sentença, diríamos o seguinte: o propósito da eclésia é
estabelecer o reino que ela representa nos territórios conquistados.
Nós precisamos pedir ao Senhor que nos dê essa visão do reino, que encha nosso coração com esse entendimento.
Somente uma visão correta pode nos levar a uma conquista efetiva. Jesus nasceu e morreu como rei. Quando Ele
nasceu, os magos vieram do oriente e perguntaram: “Onde está aquele que é nascido rei dos judeus? Porque vimos a
sua estrela no oriente, e viemos adorá-lo” (Mt 2.2). E quando Ele morreu, Pilatos mandou escrever uma placa e colocar
no topo de Sua cruz a seguinte frase: “Jesus de Nazaré, o rei dos judeus” (Jo 19.19).
Que o Espírito Santo nos dê uma revelação do propósito da eclésia, de forma que cada homem, cada mulher, cada
jovem neste lugar seja despertado com essa unção de rei para uma conquista sobrenatural.
Onde está a eclésia do Senhor que vai estabelecer os Seus decretos, influenciar essa geração, estabelecer o governo e
dominar os territórios, para a glória do Senhor?
Vigésimo Dia
A constituição da ekklesia
Por Ricardo Guimarães

Indo Jesus para os lados de Cesaréia de Filipe, perguntou a seus discípulos: Quem diz o povo ser
o Filho do Homem? E eles responderam: Uns dizem: João Batista; outros: Elias; e outros:
Jeremias ou algum dos profetas. Mas vós, continuou ele, quem dizeis que eu sou? Respondendo
Simão Pedro, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. Então, Jesus lhe afirmou: Bem-
aventurado és, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que to revelaram, mas meu Pai,
que está nos céus. Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha
igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Dar-te-ei as chaves do reino dos céus;
o que ligares na terra terá sido ligado nos céus; e o que desligares na terra terá sido desligado
nos céus. (Mt 16.13-19)
Mas, como a Eclésia era constituída? Quem eram as pessoas que faziam parte desse grupo
estratégico e quem são as pessoas que Jesus tinha em mente quando afirmou que também
estava estabelecendo a Sua Eclésia? Em primeiro lugar a Eclésia é formada por:

1. Pessoas que são chamadas


O dicionário de teologia define a palavra igreja como “aqueles que são chamados para fora”. Era
assim que o Império Romano fazia. Ele chamava alguns cidadãos dentre o povo comum para
fora. Não era o cidadão que se apresentava para fazer parte da Eclésia. Era o império que
chamava aqueles que ele mesmo escolhia.
Assim também somos nós. Cada um de nós só está aqui porque um dia o Senhor nos chamou e
nos disse: “Eu estou estabelecendo a Minha Eclésia e quero que você faça parte dela”.
A primeira tarefa de Jesus, ao iniciar o Seu ministério, foi chamar os homens que iriam andar
com Ele e seriam por Ele discipulados. Quando Jesus declarou, em Mateus 16, o
estabelecimento da Sua Eclésia, Ele já estava preparando Seus homens há muito tempo. Na
verdade, ali Ele revelou-lhes o propósito do Seu chamamento.
Sabemos que cada um dos discípulos de Jesus foi chamado nominalmente por Ele. Ele chamou
Pedro, Tiago, e João às margens do Mar da Galiléia, e também chamou Mateus na coletoria. Isso
é um princípio espiritual. Deus nos chama tanto para a salvação quanto para o seu serviço:

a. O chamamento para a salvação (Ef 2.1-13)


Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados, nos quais andastes outrora,
segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora atua
nos filhos da desobediência; entre os quais também todos nós andamos outrora, segundo as
inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos, por
natureza, filhos da ira, como também os demais. Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por
causa do grande amor com que nos amou, e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida
juntamente com Cristo, — pela graça sois salvos, e, juntamente com ele, nos ressuscitou, e nos
fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus; para mostrar, nos séculos vindouros, a
suprema riqueza da sua graça, em bondade para conosco, em Cristo Jesus. Porque pela graça
sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que
ninguém se glorie. Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais
Deus de antemão preparou para que andássemos nelas. Portanto, lembrai-vos de que, outrora,
vós, gentios na carne, chamados incircuncisão por aqueles que se intitulam circuncisos, na
carne, por mãos humanas, naquele tempo, estáveis sem Cristo, separados da comunidade de
Israel e estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança e sem Deus no mundo. Mas,
agora, em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, fostes aproximados pelo sangue de Cristo.
(Ef 2.1-13)
b. O chamamento para o serviço (Jo 15.16)
Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros e vos
designei para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça [...]. (Jo 15.16)
Ninguém se voluntaria. É o Senhor quem nos chama. Servir a Deus é uma escolha divina. Deus
nos chama para a salvação e nos chama também para o serviço. Muita gente pensa que veio
porque quis. Mas ninguém vem porque quer. Todos vêm porque ouviram o seu nome ser
chamado pelo Senhor.
Se você está aqui hoje é porque o Senhor o chamou. Ele o escolheu. Ele marcou um encontro
com você. Você não queria vir, mas Ele o chamou. E seu chamamento é duplo: primeiro você foi
chamado para a salvação, depois você foi chamado para o Seu serviço.

2. Pessoas transformadas
Em segundo lugar, a Eclésia é formada por pessoas transformadas. Vejamos o que nos diz os
versos de 15 a 18:
Mas vós, continuou ele, quem dizeis que eu sou? Respondendo Simão Pedro, disse: Tu és o
Cristo, o Filho do Deus vivo. Então, Jesus lhe afirmou: Bem-aventurado és, Simão Barjonas,
porque não foi carne e sangue que to revelaram, mas meu Pai, que está nos céus. Também eu te
digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não
prevalecerão contra ela. (Mt 16.15,18)
Era como se Jesus dissesse a Pedro: “Você era Simão, mas esta revelação liberou sobre você o
poder de ser chamado Pedro”, que no grego é Pétros (parte da rocha). Sabemos que a rocha é
Cristo.
Olhando a vida de Simão Pedro e sua transformação, percebemos que, durante esse processo,
em muitos momentos, ele agiu como Simão, e em outros tantos, como Pedro.
Simão representa a identidade natural. Pedro representa a identidade espiritual. Simão negou
Jesus (Mt 26.70), cortou a orelha do soldado Malco (Mt 26.51; Jo 18.10), deixou sua boca ser
usada pelo Diabo (Mt 16.22,23). Mas Pedro teve a revelação de quem era o Senhor (Mt 16.16),
andou sobre as águas (Mt 14.29) e foi a porta da edificação da Igreja.
Veja como Jesus é enfático. Primeiro, Ele diz: “Bem-aventurado és, Simão Barjonas”. Mas, em
seguida, Ele diz: “Também eu te digo que tu és Pedro”. Simão significa cana agitada pelo vento.
Pedro significa pedra que é parte da rocha.
A Eclésia era formada por pessoas chamadas do povo comum. Não era um grupo de pessoas
especiais. Era gente que estava no meio comum e era chamada para fora.
Mas, uma vez que ela é levantada, agora cada membro assume uma nova postura. A atitude
muda, a linguagem muda, a mentalidade muda. Essas pessoas agora deixam de ser um povo
comum e passam a ser um grupo especial em uma missão especial.
Na Bíblia, um dos exemplos mais fortes dessa transformação foi a experiência de Jacó com
Deus. Sabemos que Jacó tinha um caráter enganador. Ele nasceu brigando, cresceu e viveu
enganado e mentindo; mas, como Deus tinha um chamado para ele, Jacó precisou passar por
um processo de transformação.
O processo de transformação que Deus opera na vida de um homem envolve dois aspectos:
disciplina e quebrantamento. A disciplina trata com suas fraquezas, enquanto o
quebrantamento trata com seus pontos fortes.
Os pontos fracos da carne são aquelas coisas feias ou pecados escandalosos. Os pontos fortes são
aqueles que têm aparência positiva, mas são reprovadas aos olhos de Deus. Existem pessoas,
por exemplo, que se orgulham da sua integridade, da sua espiritualidade, do seu nível de
revelação. Elas se acham melhores que as demais. Essas coisas ninguém vê, nem você, mas Deus
vê. E a forma de Deus tratar com esse lado forte da carne é através do quebrantamento.
Embora todos os filhos de Deus sejam disciplinados, nem todos são quebrantados. Alguns,
quando estão sendo disciplinados, tornam-se mais duros do que antes. Na disciplina, você luta
com você mesmo para vencer suas fraquezas; mas, no quebrantamento, você luta com Deus.
Durante vinte anos, Jacó foi disciplinado por Deus na casa de Labão. Este foi usado por Deus
para tratar com Jacó, ou seja, Labão foi para Jacó como um espelho de tudo o que ele mesmo
era. Isso foi duro para Jacó. Nesse período, Labão fez com ele tudo o que ele fez com os outros
durante a vida toda. Mas, depois de enfrentar Labão por vinte anos, Jacó ainda teve de enfrentar
Deus sozinho para ser quebrantado (Gn 35.24).
Não tenha dúvida, você também foi chamado para fazer parte da Eclésia do Senhor. E, assim
como Jacó e Simão, você terá de passar pela experiência da transformação. Deus sempre usará a
disciplina para tocar os pontos fracos de sua carne, e o quebrantamento para transformar os
pontos fortes atrás dos quais muitas coisas estão escondidas. Até aquilo que você pensa fazer
bem, Deus terá de quebrantá-lo para que você aprenda a depender d’Ele.

3. Pessoas aliançadas
Em terceiro lugar, a Eclésia é formada por pessoas aliançadas. Ela era formada por pessoas que
tinham uma aliança em torno de um propósito: o compromisso de levar a cabo as conquistas do
reino. Quando aqueles homens chamados do meio dos cidadãos comuns saiam para formar uma
colônia nos países conquistados, eles iam movidos por um propósito.
No reino de Deus, tudo o que Deus faz Ele o faz baseado numa aliança. Aliança é um
compromisso, uma disposição de andar junto em toda e qualquer circunstância. Infelizmente,
hoje a palavra compromisso não é muito valorizada. As pessoas querem tudo “sem
compromisso”.
É comum ouvir algo como: “Faça um orçamento sem compromisso”, “Vamos nos relacionar,
mas sem compromisso”. E muitos chegam até a convidar outros para conhecer a Jesus sem
compromisso, o que é totalmente contrário à natureza de Cristo.
O problema é que muitas pessoas passam a fazer parte da Igreja, mas com esta mentalidade
mundana: “Eu vou à igreja de vez em quando, vou à célula, mas não quero compromisso”. Com
Deus não é assim. Quem não aprende a andar em aliança não conquista as promessas.
Quando você entende o que Jesus tinha em mente quando falou sobre o estabelecimento
daEclésia, você muda sua atitude.
O Senhor não o chamou para assistir a um culto semanalmente! Ele não o chamou para mudar
de religião. Quando o Senhor o chamou, Ele tinha em mente que você fosse parte dessa elite
chamada Eclésia, povo separado para a implantação do Seu reino na terra.
Hoje, Deus tem um povo aqui na terra que é representado por Sua Igreja. A Igreja é a
materialização de Cristo na terra. Em 1 Coríntios 12, o apóstolo Paulo chama a Igreja de corpo
de Cristo. Assim, não é possível ter um compromisso com Jesus Cristo, mas não querer ter um
compromisso com o Seu Corpo, que é a Igreja. Estar aliançado com a Igreja de Jesus só vai lhe
trazer bênção e segurança.
Há duas imagens na Bíblia que nos ajudam a entender melhor a importância de estar ligado à
Igreja de Jesus.

a. O exército
Uma delas é a ideia do exército. Deus é chamado mais de 200 vezes de Senhor dos Exércitos, e
há muitos textos bíblicos que nos comparam a soldados (2Tm 2.3,4 ; Ef 6.11). Imagine um
soldado que decide lutar sozinho, longe dos companheiros. Claro que esse soldado estará muito
mais próximo do fracasso e da morte do que aquele que está com o exército. O conceito de
exército é: vários soldados lutando juntos a mesma causa.

b. O rebanho
A outra imagem é a do rebanho. Em João 10, Jesus se autointitula “o bom pastor”, e nós, “suas
ovelhas”. Uma ovelha que não anda com o rebanho também está fadada a ser atacada por um
predador, cair em uma armadilha e morrer facilmente. Junto com o rebanho e com o pastoreio,
ela estará alimentada e segura.
Se você quer conquistar as promessas de Deus para sua vida, é preciso estar aliançado com Ele e
com o Seu povo. Rejeite o modelo “sem compromisso”. Deus quer ser o Seu Deus, como foi o
Deus de Abraão, Isaque e Jacó. Ele quer ter uma aliança com você. Quanto mais alto for o nível
de aliança, mais alto será o nível de bênção e de unção. Você se torna participante de toda unção
envolvida naquela aliança.
Eu não quero passar a ideia de que a Eclésia é um grupo especial de pessoas e que é muito difícil
fazer parte desse grupo. Absolutamente não. A pessoa que encabeçou a Eclésia de Jesus foi
Simão Pedro. Ele representa cada um de nós que teve revelação, mas muitas vezes ainda carece
de transformação.
A Eclésia era formada por cidadãos comuns. Mas, quando eles eram chamados, havia a
necessidade de uma nova postura. Você já foi chamado por Deus e Ele vai trabalhar em sua vida
e em seu caráter até que você possa ter a identidade do homem ou da mulher que Ele deseja.
Todavia, precisamos ter uma aliança em torno do propósito que o Senhor estabeleu para a
conquista da nossa geração.
Vigésimo Primeiro Dia
Três revelações na vida cristã
Por Ricardo Guimarães

Indo Jesus para os lados de Cesaréia de Filipe, perguntou a seus discípulos: Quem diz o povo
ser o Filho do Homem? E eles responderam: Uns dizem: João Batista; outros: Elias; e outros:
Jeremias ou algum dos profetas. Mas vós, continuou ele, quem dizeis que eu sou?
Respondendo Simão Pedro, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. Então, Jesus lhe
afirmou: Bem-aventurado és, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que to revelaram,
mas meu Pai, que está nos céus. Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra
edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Dar-te-ei as
chaves do reino dos céus; o que ligares na terra terá sido ligado nos céus; e o que desligares
na terra terá sido desligado nos céus. Então, advertiu os discípulos de que a ninguém
dissessem ser ele o Cristo. (Mt 16.13-19)
Certa vez, Jesus perguntou aos discípulos: “Quem dizem as pessoas ser o Filho do Homem?”.
Parafraseando o diálogo, teríamos a seguinte resposta: “Eu estive olhando o jornal e o povo
disse que você é um grande profeta. Outros dizem que você é o profeta Elias que voltou. A
Rede Bandeirantes diz que você é o profeta dos últimos dias”. O mundo tem muitas ideias
sobre Jesus. Mas Jesus perguntou: “E vocês, o que acham de mim?”.
Foi de Pedro a resposta: “Você é o Filho de Deus”. E Jesus revelou a Pedro três estágios de
revelação, que vamos chamar de três dimensões da vida cristã que uma pessoa pode ter.
Todos os pontos de vista que as pessoas tinham acerca de Jesus eram uma visão religiosa.

1. A revelação de Cristo (vv. 16-17)


A primeira dimensão da vida cristã é quando recebemos a revelação de Cristo.
Respondendo Simão Pedro, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. Então, Jesus lhe
afirmou: Bem-aventurado és, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que to revelaram,
mas meu Pai, que está nos céus. (Mt 16.16,17)
É muito interessante esse texto, porque a pergunta de Jesus é: “O que os homens dizem de
mim? Quem as pessoas dizem que eu sou?”.
Os fariseus conheciam apenas o Jesus histórico (Mt 13.55,56). Os discípulos passaram a falar
do que o povo comentava sobre Jesus: “Uns dizem: João Batista; outros: Elias; e outros:
Jeremias ou algum dos profetas” (Mt 16.14).
Nesse momento, o Senhor se volta para os discípulos de maneira bem direta e pergunta: “E
vós quem dizeis que eu sou?” (v. 15). Pedro se levanta e, como sempre, na frente de todos,
responde: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (v. 16). Todos os discípulos devem ter ficado
estupefatos: “Uau! De onde ele tirou isso?”.
E, imediatamente, Jesus olha para ele e diz: “Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque
não foi carne e sangue quem to revelou, mas meu Pai, que está nos céus” (v. 17).
Essa é a primeira revelação. Pelo espírito, Pedro recebe a revelação do Cristo. Ele viu em
Jesus o que Ele seria após a ressurreição. Essa é a revelação que todo homem precisa ter em
sua vida. A revelação do Filho de Deus é a revelação que traz salvação ao homem.
A Bíblia diz que quem recebe essa revelação encontrou a felicidade. Veja as palavras de
Jesus: “Bem-aventurado és, Simão Barjonas”. Bem-aventurado significa feliz. A salvação traz
felicidade, traz alívio. Quando a pessoa encontra a graça de Deus, ela encontra motivos para
viver. Por isso, todo homem precisa dessa primeira experiência. Como está escrito:
Porém que se diz? A palavra está perto de ti, na tua boca e no teu coração; isto é, a palavra da
fé que pregamos. Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu coração,
creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. (Rm 10.8,9)
Há muitas pessoas que ainda não tiveram a revelação do Filho do Deus vivo. Há muitos que
nunca confessaram com a boca e nem creram com o coração. Mas aqueles que já fizeram isso
são chamados de felizes. E, se você já teve a revelação do Cristo que traz salvação, dê glória
a Deus. Muitos ainda não tiveram essa revelação, mas você já teve. Aleluia!

2. A revelação da Igreja (v. 18)


A segunda dimensão da vida cristã é quando recebemos a revelação da Igreja.
Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas
do inferno não prevalecerão contra ela. (Mt 16.18)
Depois que uma pessoa tem a revelação do Cristo, ela recebe de graça, por uma ação divina e
sobrenatural, a salvação. A segunda revelação que todo homem precisa ter é a revelação da
Igreja.
No primeiro estágio, o alvo de Deus é levar o homem ao novo nascimento. Ele precisa se
enxergar no espelho de Deus, ver a sua situação de pecador caído, carente da graça e da
salvação. Nessa segunda fase, porém, ele precisa ter a visão da edificação da Igreja.
Nesse estágio, a pessoa percebe que o alvo de Deus não é apenas perdoar os seus pecados,
mas existe uma obra de edificação a ser realizada. A Igreja está sendo construída pelo Espírito
Santo. Existe um trabalhar de Deus na vida do crente até que Cristo seja gerado
completamente nele.
Nessa fase, começa a transformação do caráter, a fluência dos dons, a visão do corpo.
Quando você tem essa revelação, você se sente parte de algo maior.
Jesus levou Pedro a enxergar que Ele não queria apenas salvar um homem e deixá-lo feliz,
mas que Seu propósito era a edificação de Sua Igreja. Existe um trabalhar de Deus até que
Sua natureza seja desenvolvida na vida do homem que experimentou o novo nascimento.
Ter a natureza de Deus significa que você não precisa se esforçar muito para ser o que é. Se
você precisa se esforçar muito para ser o que é, você não entendeu ainda o que é o
evangelho.
Algumas pessoas dizem: “Há dez anos, eu estou me segurando, porque é muita tentação”.
Esse não nasceu de novo, porque quem nasceu de novo, quanto mais maduro em Deus ele
fica, menos interesse pelo mundo ele tem. Se o mundo não foi tirado de dentro de você e você
ainda é fortemente atraído por ele, você precisa de conversão. Essa é a verdade.
Uma laranjeira precisa se esforçar para dar laranja? Não! Mas, se um limoeiro quiser produzir
uma laranja docinha, ele pode? Aí ele vai precisar se esforçar muito. Isso é religião. Religião é
quando pegamos um limoeiro, que só produz limão azedo, e queremos fazer com que ele
produza laranja doce à força. É tentar, no esforço próprio, maquiar uma realidade. Tentar
colocar laranja nos galhos do limoeiro. Um dia, os limões brotarão nos galhos e as laranjas
murcharão.
Mas o que Deus fez com você? Ele pegou você, limoeiro, e o enxertou no tronco da laranjeira,
e você foi recebendo da seiva da laranjeira até que naturalmente passou a produzir laranja.
Isso é um verdadeiro milagre. Foi isso que Deus fez por você.
Todo mundo olha para você e diz: “Sai daí, você é um limoeiro, que só produz limão azedo”.
Mas as pessoas vão se espantar quando a seiva da laranjeira, onde você foi enxertado,
começar a brotar em você verdadeiras laranjas. O mundo não entende isso. Essa é a
verdadeira realidade da Igreja, todos os dias, homens e mulheres recebem da vida de Deus e
vão sendo transformados de glória em glória. Você agora dá laranja, e doce. Isso é mudança
de natureza!
Todos conhecem a história do monge e do escorpião. O monge tentou salvar um escorpião que
caiu no rio e o escorpião o ferroou. Ele colocou um galho para o escorpião subir e salvou o
salvou. E outro monge perguntou: “Por que você fez isso, apesar de ele tê-lo ferroado?” Ele
respondeu: “O escorpião agiu de acordo com a natureza dele. Eu agi de acordo com a minha
natureza”. Cada um age de acordo coma natureza que possui.
Igreja é a reunião de homens e mulheres que tiveram sua natureza transformada pela ação
sobrenatural do Espírito Santo de Deus. Só quem já teve a natureza transformada pode
prevalecer contra as portas do inferno.

3. A revelação do reino (v.19)


A terceira dimensão da vida cristã é quando recebemos a revelação do reino.
Dar-te-ei as chaves do reino dos céus; o que ligares na terra terá sido ligado nos céus; e o que
desligares na terra terá sido desligado nos céus. (Mt 16.19)
Pedro teve a revelação do Cristo, o Filho do Deus vivo. E Jesus o chamou de homem feliz.
Todo aquele que recebe a salvação encontra a verdadeira felicidade. Em seguida, o Senhor lhe
revela o mistério de Cristo, que é a Igreja, e diz a Pedro: “Muito bom o que você conseguiu
enxergar, mas eu não quero apenas um homem, meu alvo é estabelecer minha Igreja”.
Logo em seguida, o Senhor lhe abre a visão para algo ainda maior que a Igreja, quando lhe dá
a revelação do reino dos céus. O que é o reino dos céus? O reino dos céus é o governo
celestial, que começou a ser implantado com a encarnação de Cristo na edificação da Igreja e
terá seu ápice no milênio.
O reino de Deus existe de eternidade a eternidade e nele Deus é a autoridade. Nesse reino,
está o universo, que é administrado por Ele. A terra, todavia, é o único lugar do universo que
está sob o controle do inimigo de Deus, e Ele precisa reavê-la.
Sabemos que somos de Deus e que o mundo inteiro jaz no Maligno. (1 Jo 5.19).
Deus tem um reino e deseja que esse reino também alcance a terra e a governe segundo Sua
perfeita vontade. Para isso, Ele precisa de um grupo de pessoas constituídas com Sua própria
vida, a fim de que cooperem com Ele. Desse modo, a Sua vontade pode ser feita tanto no céu
como na terra.
Deus começou com Adão. Adão falhou. Ele chamou Noé e sua família. A família de Noé falhou.
Deus, então, chamou um homem estranho que morava em Ur dos caldeus, filho de um pai
fabricante de ídolos. Ele ordenou que esse homem deixasse tudo para que Ele lhe desse uma
descendência.
Esse homem era Abraão. Ele saiu de Ur dos caldeus com destino a Canaã. Através dele, Deus
trouxe uma nação, a nação de Israel. Essa nação falhou. Então, o Senhor veio e estabeleceu a
Sua Igreja.
Adão falhou, Deus tentou com Noé. Noé falhou, Deus começou tudo de novo com Abraão. A
nação de Israel falhou em estabelecer o governo de Deus, mas Deus não mudou o seu
propósito original. Ele ainda quer estabelecer o Seu reino na terra.
Portanto, precisamos avançar como igreja na revelação de que o objetivo do Senhor é
estabelecer o Seu governo na terra.
Nós fomos chamados para manifestar o reino dos céus, para trazer o que há no céu para terra
– a vontade Deus, os valores de Deus, os princípios de Deus. E, para cumprir esse propósito, o
Senhor Jesus entregou nas mãos de Sua Igreja a chave do reino dos céus.
Dar-te-ei as chaves do reino dos céus; o que ligares na terra terá sido ligado nos céus; e o que
desligares na terra terá sido desligado nos céus. (Mt 16.19)
Isso significa que a Igreja tem o poder para ligar e para desligar. A sentido da palavra ligar,
nesse contexto, não é ligar na eletricidade. Ligar é colocar ligaduras, ou seja, amarrar. E
desligar não é virar o botão de um aparelho eletrônico de on para off. Desligar é remover as
ligaduras.
Veja como esse mesmo texto está escrito na Bíblia na Linguagem de Hoje:
Eu lhe darei as chaves do Reino do Céu; o que você proibir na terra será proibido no céu, e o
que permitir na terra será permitido no céu. (Mt 16.19, grifo nosso)
Nós vamos avançar como igreja para manifestar o reino dos céus na terra. Como? Usando a
autoridade que Deus colocou sobre a Igreja. Entenda algo, nós somos a Igreja. Se, como
igreja, nós proibirmos algo aqui, algo que de acordo com os propósitos de Deus deveria ser
proibido, assim será. Se nós permitirmos, será permitido.
A Igreja é que vai definir os rumos da nossa geração. A ação maligna pode ser freada se nós
nos levantarmos para coibir as obras de Satanás. Deus quer usar Sua Igreja para manifestar
Sua autoridade e instaurar o governo de Cristo.
Muitas coisas ainda estão acontecendo em nossa cidade porque a igreja não tem usado a
chave que Deus colocou em suas mãos. É hora de amarar, de proibir, de coibir toda ação do
inferno que destrói os casamentos, que aprisiona os jovens nas drogas e na criminalidade.
O que é maior, a chave ou a porta? A chave que abre a porta, claro! Uma pequena chave tem
o poder de abrir uma grande porta. Você pode ser o dono da casa, mas se você não tiver a
chave, você não tem acesso. É hora de nos levantar para desatar muitas coisas que são
nossas por direito e que estão atadas pela ação maligna.
Você tem a chave para desatar sua prosperidade. Você tem a chave para desatar sua saúde.
Você tem a chave para desatar seus filhos. Você tem a chave para desatar sua família que
está aprisionada. Você tem a chave para desatar seu casamento. Você tem a chave para
desatar a multiplicação de sua célula. Você tem a chave para abrir a porta do emprego. Você
tem a chave para levar pessoas ao Encontro. Use a chave que Deus colou em suas mãos!
Existem, portanto, três dimensões na vida cristã. Na etapa da salvação, Deus perdoa os
pecados, Jesus sara as feridas, curas as enfermidades. Você fica feliz! Você enxergou o Cristo!
Na segunda etapa, Jesus constrói a Igreja nos dons do Espírito, forma o discípulo, molda o
caráter. Mas, na terceira etapa, a Igreja tem a chave nas mãos. Nessa etapa, Deus não faz.
Não adianta ficar pedindo. Você tem de fazer. É a Igreja que pega a chave e abre. Deus vai
apenas respaldando a ação da Igreja.
Muitos que passaram pelo Encontro têm recebido a salvação. Isso é muito bom, seus pecados
são perdoados, você fica feliz de não carregar mais culpa. Mas é preciso avançar para o
próximo estágio.
O próximo estágio é a vida da igreja, algo maior, corporativo. Você precisa decidir viver a vida
da igreja. Muitas pessoas vivem apenas a vida individual. Mas você precisa avançar para o
estágio da vida corporativa – cooperar com a igreja, liderar uma célula, financiar os projetos da
igreja, permitir-se ser tratado pelo Senhor.
Todavia, precisamos avançar para a visão do reino dos céus. Esse é um novo nível de
autoridade. Mas Deus está esperando que você comece a usar hoje mesmo a chave do reino
que Ele colocou em suas mãos.

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