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Israel na

Profecia Bíblica
O Cumprimento da promessa a
Abraão no Novo Testamento

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César Francisco Raymundo


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- Agosto de 2023 –
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Este e-book foi inspirado na obra
Israel in Bible Prophecy,
de Brian Godawa
________________
Israel na Profecia Bíblica
O Cumprimento da promessa a Abraão no Novo Testamento
Autor: César Francisco Raymundo
Revista Cristã Última Chamada
- Edição de Agosto de 2023 –
Capa: César Francisco Raymundo
(Imagem de Prawny por Pixabay.com)
________________
Revista Cristã Última Chamada publicada
com a devida autorização e com todos os
direitos reservados no Escritório de Direitos
Autorais da Biblioteca Nacional do Rio de
Janeiro sob nº 236.908.

É proibida a distribuição deste material para fins comerciais.


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Editor
César Francisco Raymundo

E-mail: ultimachamada@bol.com.br
Site: www.revistacrista.org

Agosto de 2023
Londrina - Paraná
Índice

Sobre o autor 08
Um Quem são os filhos de Abraão? 09
Dois Pai de Muitas Nações 14
Três Os Filhos de Abraão 18
Quatro Aliança Eterna 24
Cinco A Promessa de Terra 26
Seis Um Pacto Condicional 35
Sete A Circuncisão 43
Oito O Templo 47
Nove Bênção e maldição 55
Dez O Reajuntamento de Israel 57
Obras importantes
para pesquisa... 83
_____________________________

Sobre o autor
_____________________________

César Francisco Raymundo nasceu em


02/05/1976 na cidade de Londrina - Estado do
Paraná. De origem católica, encontrou-se com
Cristo aos treze anos de idade. Na década de
noventa passou a ser membro da igreja
Presbiteriana do Brasil daquela cidade. Tem
desenvolvido diversos trabalhos entre eles livros,
folhetos e revistas visando a divulgação da Boa
Nova da Salvação em Cristo para o público em
geral. Atualmente, se dedica intensamente ao
estudo, especialização, divulgação e produção de
material didático a respeito do Preterismo
Parcial e Pós-milenismo, para que tal mensagem
seja conhecida como um caminho
verdadeiramente alternativo contra a
escatologia falsa e pessimista que recebemos
por tradição em nossas igrejas.

8
_____________________________

Um
_____________________________

Quem são os filhos de Abraão?

Boa parte dos cristãos modernos acreditam que os judeus ainda


hoje são o “povo escolhido” de Deus. Apesar desses mesmos cristãos
terem essa opinião, eles afirmam que a salvação da alma só pode ser
recebida por meio da fé em Jesus Cristo. Eles acreditam em duas
coisas. Primeiro, que Deus ainda tem um plano especial para a nação
de Israel pelo fato dos judeus modernos serem descendentes de
Abraão. Segundo, eles praticam a chamada escatologia de jornal,
quando através dos noticiários apontam que os atuais eventos
mundiais foram todos profetizados pela Escritura Sagrada e “bem
diante de nossos olhos” temos o cumprimento profético.

Por quase dois séculos os cristãos que creem nessas coisas têm
mudado suas interpretações, porque suas previsões nunca ocorreram.
Uma vez sendo assim, a especulação profética é sempre aprimorada e
atualizada conforme o tempo. É fato que muitos desses intérpretes
podem ser classificados como “comerciantes da profecia bíblica”,
pois suas recompensas financeiras são altamente consideráveis. É
muito lamentável que milhões de dólares são faturados por esses
ministérios proféticos todos os anos. Isto se dá por meio de
conferências, livros, dvd´s e outras mídias que ensinam interpretações
bíblicas baseadas também nas manchetes dos jornais. Este tipo de
exposição das Escrituras Sagradas de tal forma corrompe a cabeça

9
dos evangélicos que acaba criando uma necessidade de
sensacionalismo constante. Vejo nisto uma vulgarização da real
intenção das passagens proféticas, que são sempre retiradas fora de
seus contextos originais.

Todo o esquema profético citado acima é dominante no meio


evangélico, e geralmente é chamado de Dispensacionalismo, o qual é
precedido pelo Pré-milenismo histórico. No Dispensacionalismo é
ensinado que os judeus modernos e sua moderna nação chamada
Israel, fundada em 14 de Maio de 1948, ainda é o centro do plano
redentor de Deus, e isto por causa da promessa de Deus feita a
Abraão sobre seus descendentes e a Terra Prometida. Para tal ensino,
os dispensacionalistas citam Êxodo 32:13 que diz:

“Lembra-te de Abraão, de Isaque, e de Israel, os teus servos, aos


quais por ti mesmo tens jurado, e lhes disseste: Multiplicarei a vossa
descendência como as estrelas dos céus, e darei à vossa
descendência toda esta terra, de que tenho falado, para que a
possuam por herança eternamente”.

O dispensacionalista acredita que uma vez que o versículo acima


diz que a promessa da herança da terra para a descendência de
Abraão durará “eternamente”, por uma questão de lógica segue-se
que a mesma ainda está em vigor, mesmo porque Deus não mente
em Suas promessas. Seguindo esse raciocínio dispensacionalista, Deus
deve ainda ter a intenção de dar ao povo judeu a terra física que foi
prometida há muito tempo. O grande problema é que esse raciocínio
está errado. Essa interpretação dispensacionalista é antibíblica, pois é
uma negação séria da Nova Aliança que Deus estabeleceu com a
vinda do Messias, Jesus Cristo. Essa interpretação dispensacionalista
de que Deus tem dois planos separados, um para o Israel segundo a
carne e outro para a Igreja segundo o espírito, apareceu na teologia
cristã após 1800 anos de história da Igreja. É notável nesse ensino
que sempre é procurado manter um status especial para a nação de
Israel, ao mesmo tempo em que se afirma o Novo Pacto através de

10
Cristo. Isto seria o caso de Deus ter estabelecido duas alianças, uma
com a nação de Israel e outra com a Igreja. Esses planos simultâneos
– para Israel e para a Igreja – fazendo com que haja dois povos
diferentes de Deus é, em última análise, uma rejeição da Nova
Aliança em Cristo que aboliu toda separação que havia entre judeus e
gentios. Se os descendentes físicos de Abraão são ainda o povo
escolhido de Deus, mesmo depois que Jesus veio e cumpriu o Antigo
Testamento, temos então uma negação frontal contra a Nova Aliança
fazendo com que haja um retorno aos tipos e sombras da Antiga
Aliança – agora substituída por Cristo.

Qualquer cristão que vai contra esse ensinamento recebe como


reação automática por parte dos dispensacionalistas a frase: “você é
anti-semita”. Só que anti-semita parece ser os dispensacionalistas,
pois em seu sistema de ensino é dito que no futuro haverá uma
perseguição aos judeus que os levará a um terrível holocausto por
parte do Anticristo. E isto no Dispensacionalismo é uma profecia
proclamada aos quatro ventos. Apesar dessa minha refutação contra
o ensino dispensacionalista, quero que fique bem claro ao leitor que
em relação aos judeus modernos, faço as seguintes declarações:

1. Declaro meu apoio ao moderno Estado de Israel e seu direito


de existir como nação, tendo assim direito de se defender de
nações terroristas cuja única intenção é “conduzir os judeus ao
mar”;

2. Declaro que a nação de Israel é soberana e legítima, tendo todo


o direito moral e legal de legítima defesa;

3. Apoio o moderno Estado de Israel contra a Política de


Esquerda que o demoniza constantemente através da mídia
internacional.

4. Reconheço Israel como sendo a única nação democrática


representativa dos Estados Unidos e do Brasil no Oriente
Médio.

11
É bom que fique claro também que um direito moral à terra não é a
mesma coisa que um direito divino. Essa diferença precisa ser
entendida pelos cristãos de um modo geral. A seguir, vamos analisar
o que o próprio Deus fala sobre a promessa a Abraão.

A promessa de Deus a Abraão

O texto de Êxodo 32:13 é uma referência à promessa original que


Deus fez a Abraão em Gênesis 17:4-10. Pegue sua Bíblia e leia com
atenção esses versículos.

Há nesse texto de Gênesis diversos elementos da única promessa


feita por Deus a Abraão. Em primeiro lugar, é dito que ele seria o pai
de muitas nações (v. 5). Em segundo lugar, a promessa é direcionada
a Abraão e sua descendência, destacando a importância dessa
linhagem ao longo do texto (v. 7). Terceiro, essa promessa é uma
aliança eterna e imutável (v. 7). Em quarto lugar, é afirmado que os
descendentes de Abraão herdarão a terra de Canaã, a terra da
Promessa (v. 8). Quinto, a aliança está condicionada à obediência (v.
9). Por fim, a aliança é selada pela prática da circuncisão (v. 10).

O que se deve destacar é que cada um desses itens da promessa


feita a Abraão é completamente cumprido em Cristo e em Seu Corpo
espiritual na Terra, e não em uma nação física ou geográfica chamada
Israel.

Alguns chamam isso de "Teologia da Substituição", um termo que


tem sido muito pejorativo e utilizado para descrever a ideia de que
Deus substituiu Israel pela Igreja. No entanto, essa simplificação
grosseira é um espantalho fácil de derrubar, pois não reflete o que a
Bíblia realmente diz nem o que estou tentando dizer neste e-book.
Não se trata de uma substituição, mas sim de uma realização e

12
transformação em Cristo, que resulta na exclusão daqueles que
erroneamente se consideram parte da Promessa.

Desde o início, o Senhor Deus sempre desejou que aqueles que têm
fé fossem o verdadeiro povo escolhido, não aqueles que são
descendentes físicos de Abraão – como no caso dos judeus. A
promessa de Deus a Abraão é cumprida e aplicada àqueles que estão
em Cristo, e o selo dessa aliança é a circuncisão do Espírito, não a
circuncisão física.

É como está escrito em 2ª Coríntios 1:20–22:

"Pois todas as promessas de Deus encontram nele o seu sim... E é


Deus quem nos confirma convosco em Cristo, e nos ungiu, e
também nos selou e nos deu o seu Espírito em nossos corações
como garantia".

Acredito que estou me adiantando. Vamos começar desde o


princípio.

13
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Dois
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Pai de muitas nações

Considere agora Gênesis 17:4-5. Muitos interpretam de maneira


errada essa promessa de bênção para as nações como se significasse
que Israel se tornaria uma nação exaltada no futuro, servindo como
um exemplo brilhante para as nações se unirem ou imitarem. Isso
implica que Israel permaneceria como um povo separado das outras
nações. Essa visão é equivocada, pois Deus não estava se referindo
apenas à descendência física de Abraão, mas sim à regeneração
espiritual das pessoas por meio da fé em Cristo. O cumprimento
dessa promessa é claramente declarado no Novo Testamento.

Romanos 4:13-18:

“Não foi por intermédio da lei que a Abraão ou a sua


descendência coube a promessa de ser herdeiro do mundo, e sim
mediante a justiça da fé.
Pois, se os da lei é que são os herdeiros, anula-se a fé e cancela-se
a promessa, porque a lei suscita a ira; mas onde não há lei, também
não há transgressão.
Essa é a razão por que provém da fé, para que seja segundo a
graça, a fim de que seja firme a promessa para toda a descendência,
não somente ao que está no regime da lei, mas também ao que é da
fé que teve Abraão (porque Abraão é pai de todos nós, como está
escrito: Por pai de muitas nações te constituí. ), perante aquele no

14
qual creu, o Deus que vivifica os mortos e chama à existência as
coisas que não existem.
Abraão, esperando contra a esperança, creu, para vir a ser pai de
muitas nações, segundo lhe fora dito: Assim será a tua
descendência.
- o grifo é meu.

Observe que Paulo está afirmando que a promessa feita aos


descendentes de Abraão é cumprida "através da justiça da fé," e não
através da Lei (ou Torá, que era o distintivo marcante de Israel). Nos
capítulos 3 e 4 da Epístola aos Romanos, ele argumenta que o judeu
físico, aquele que recebeu a Lei de Deus e a circuncisão, não está em
vantagem sobre o gentio, pois todos estão sob o domínio do pecado.
A Lei não pode tornar o judeu justo, mas somente revelar o pecado e
conduzir à fé em Cristo. Ao chegar a Abraão no capítulo 4, Paulo
demonstra que até mesmo Abraão não foi justificado pelo ato da
circuncisão, mas sim pela sua fé, a qual ele possuía enquanto ainda era
um gentio incircunciso.

Portanto, a promessa de Deus de multiplicar descendentes e ser o


pai de muitas nações é explicitamente declarada por Paulo como
sendo cumprida através da justiça da fé (a Nova Aliança), e não
através de geração física. Ele chega ao ponto de dizer no versículo 14
que se a herança fosse através da Lei feita para os judeus físicos,
então a promessa seria anulada! "Aqueles que são da fé de Abraão"
(v. 16) são os herdeiros, não meros descendentes físicos. Os
descendentes de Abraão são os cristãos crentes, tanto judeus quanto
gentios, não judeus incrédulos.

Pode surgir a reclamação de que o versículo 16 indica que Deus


mantém relações separadas ou duas alianças diferentes com os judeus
físicos e os crentes gentios. Não diz o versículo: "a fim de que a
promessa seja certa para todos os descendentes, não apenas aqueles
que estão sob a Lei, mas também para aqueles que são da fé de

15
Abraão, que é o pai de todos nós"? Então, não existem duas linhas de
descendentes, física e espiritualmente?

O argumento principal de Paulo é que os judeus físicos, apesar de


receberem a Lei e serem circuncidados, não se tornam justos ou
mesmo descendentes de Abraão automaticamente. Sua intenção é
destacar que a fé é o fator comum tanto para os crentes judeus
quanto para os crentes gentios (Romanos 3:29-30).

O apóstolo Paulo está tentando explicar que ser um judeu físico e


ter sido circuncidado não significa automaticamente ser justo ou
salvo. A circuncisão deve ser acompanhada pela fé. No versículo
imediatamente anterior ao polêmico que estamos discutindo, ele
esclarece o que quer dizer (Romanos 4:12). Ele não está falando de
dois planos distintos no versículo 16, um para judeus e outro para
gentios. Não está dizendo que há dois povos de Deus com duas
identidades físicas diferentes, mas sim que essas duas identidades
físicas são irrelevantes, e eles são uma entidade única através da fé em
Cristo. O judeu circuncidado deve não apenas ter a Lei (circuncisão),
mas também deve ter fé, caso contrário Abraão não é seu pai.

Na carta aos Gálatas, Paulo escreveu para os cristãos que foram


enganados ao pensar que devem acrescentar à sua fé uma obediência
às leis distintivas da identidade judaica, senão não serão salvos. Ele
aborda a mesma Promessa de Gênesis a Abraão e a bênção das
nações explicando que a bênção das nações não estava na identidade
judaica, mas na fé. Todas as nações são abençoadas através da
justificação pela fé em Jesus Cristo, não por um Israel físico com
poder e glória terrenos (Gálatas 3:8–9).

O apóstolo é muito claro que "Em ti serão abençoadas todas as


nações" significa que os gentios serão justificados pela fé de Abraão,
não por sua descendência ou por uma Israel nacional separada dos
gentios. Abraão é o pai dos gentios que vêm de todas as nações e
creem em Jesus Cristo.

16
Isso não quer dizer que somente os gentios são aqueles que Deus
está salvando ou justificando, mas sim tanto judeus quanto gentios
que creem. Não há favoritismo de um sobre o outro, há apenas favor
daqueles que creem. E aqueles que creem vêm "de toda nação, de
todas as tribos, povos e línguas" (Apocalipse 7:9). É assim que
Abraão é pai de muitas nações. Ele é o pai daqueles que têm fé de
todas as nações.

O que nos leva ao segundo elemento da Promessa cumprida.

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Três
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Os filhos de Abraão

“Estabelecerei a minha aliança entre mim e ti e a tua descendência


no decurso das suas gerações, aliança perpétua, para ser o teu Deus
e da tua descendência”.
- Gênesis 17:7

A segunda parte da promessa de Deus a Abraão, “e a tua


descendência no decurso das suas gerações”, é na verdade outro
aspecto do primeiro elemento de Abraão ser o pai de muitas nações.
No entanto, eu a separei porque é a base do conceito de
"descendência de Abraão" ou "filhos de Abraão" que é
frequentemente mencionado nas Alianças Antiga e Nova. O que
quero provar aqui é que a "descendência" abraâmica à qual Deus se
refere nunca foi apenas a descendência física da carne, mas sempre
foi a descendência espiritual da fé.

Em Gálatas, Paulo escreve sobre os judaizantes, ou o "partido da


circuncisão" (Gálatas 2:12). Esses homens estavam dizendo aos
crentes gentios que eles deveriam se tornar judeus além de sua fé,
marcando-se fisicamente pela circuncisão, ou não seriam
considerados os verdadeiros filhos de Abraão (Gálatas 2:4; 5:1-6). Os
judaizantes estavam afirmando o status especial dos judeus
circuncidados fisicamente como filhos de Abraão, filhos da

18
Promessa, receptores "da bênção". Mas Paulo discordava
veementemente, explicando que é a fé que torna alguém filho de
Abraão para receber a bênção prometida, não a genética ou o fato de
ser judeu segundo a carne.

Gálatas 3:6-9:

“É o caso de Abraão, que creu em Deus, e isso lhe foi imputado


para justiça.
Sabei, pois, que os da fé é que são filhos de Abraão.
Ora, tendo a Escritura previsto que Deus justificaria pela fé os
gentios, preanunciou o evangelho a Abraão:
Em ti, serão abençoados todos os povos.
De modo que os da fé são abençoados com o crente Abraão.

Novamente, aqui, a mesma promessa abraâmica de Gênesis é citada


como sendo feita aos que têm fé, não à carne. Ele explicitamente diz
que "os que são da fé são filhos de Abraão", "os que são da fé são
abençoados com Abraão". Ele diz que foi a promessa da fé que foi
pregada a Abraão quando ele fez a Promessa de todas as nações e
descendentes. Não poderia haver prova mais clara de que Deus
sempre quis dizer que a fé é o meio da filiação, não a carne,
descendência física ou marcadores de identidade nacional judaica.

Mas apenas para o caso de o Dispensacionalista não conseguir ver


o óbvio, Paulo vai mais longe para explicar que a promessa feita à
descendência ("semente") de Abraão era para a pessoa singular de
Cristo, não para o povo plural da terra.

Gálatas 3:16:

“Ora, as promessas foram feitas a Abraão e ao seu descendente.


Não diz: E aos descendentes, como se falando de muitos, porém
como de um só: E ao teu descendente, que é Cristo”.

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A palavra que traduzimos como "descendência" também é
traduzida como "semente", mas o ponto permanece o mesmo.
Portanto, Paulo escreve que todas essas promessas - todos os seis
pontos da aliança - que foram feitas a Abraão, foram realmente feitas
a Cristo (singular), NÃO aos descendentes físicos (plural).

De acordo com a Palavra de Deus, Jesus Cristo é a Semente de


Abraão a quem a Promessa foi feita. Ele não poderia ter sido mais
claro. Em seguida, ele iguala "filhos de Abraão" a "filhos de Deus".
Participamos dessa Promessa Abraâmica ao estarmos "em Cristo"
por meio de nossa fé.

Gálatas 3:26–29:

“Pois todos vós sois filhos de Deus mediante a fé em Cristo


Jesus; porque todos quantos fostes batizados em Cristo de Cristo
vos revestistes.
Dessarte, não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem
liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em
Cristo Jesus.
E, se sois de Cristo, também sois descendentes de Abraão e
herdeiros segundo a promessa.

Observe a última linha. Os descendentes de Abraão, aqueles que


são herdeiros da promessa a Abraão, não são os descendentes físicos
da carne, mas os fiéis em Cristo. Nós, os crentes, herdamos a
Promessa feita a Abraão! A Promessa de herança nunca foi destinada
por Deus a se referir a uma Israel genética ou a um estado-nação, mas
aos fiéis em Cristo. Claro, os fiéis judeus no Antigo e no Novo
Testamentos estão incluídos nessa Promessa (o crente do Antigo
Testamento olhava para o Messias, o crente do Novo Testamento
olha para trás para o Messias), mas tanto judeus quanto gentios estão
incluídos na Promessa por meio da fé! O ponto é que não há um
status especial para uma nação de Israel física de carne no plano de

20
Deus. Nunca houve. Sempre foram os fiéis aos quais Deus estava
fazendo a Promessa.

Mais adiante no mesmo livro de Gálatas, Paulo leva essa dicotomia


entre fiel versus físico ainda mais longe e torna a separação ainda
mais acentuada.

Esta passagem é particularmente acusadora contra o


Dispensacionalista, porque Paulo fala especificamente sobre a
diferença entre a Israel carnal e a Israel fiel, e enfatiza que a Israel
carnal nunca foi o que a promessa de Deus se tratava. Paulo compara
de forma alegórica Israel físico ("segundo a carne") com a Jerusalém
física que estava em escravidão no primeiro século e os descendentes
físicos de Hagar como símbolo desses descendentes carnais. Em
seguida, ele compara os fiéis crentes à Jerusalém celestial que ele
chama de livre, e são esses fiéis livres que são os herdeiros da
promessa, não a nação física.

Gálatas 4:22-26:

“Pois está escrito que Abraão teve dois filhos, um da mulher


escrava e outro da livre.
Mas o da escrava nasceu segundo a carne; o da livre, mediante a
promessa.
Estas coisas são alegóricas; porque estas mulheres são duas
alianças; uma, na verdade, se refere ao monte Sinai, que gera para
escravidão; esta é Agar.
Ora, Agar é o monte Sinai, na Arábia, e corresponde à Jerusalém
atual, que está em escravidão com seus filhos.
Mas a Jerusalém lá de cima é livre, a qual é nossa mãe...”.

Os "filhos da promessa" são mencionados aqui de forma definitiva


como sendo aqueles que têm fé, não aqueles que são judeus físicos
"segundo a carne". Na verdade, Paulo escreve que os judeus físicos
que estavam perseguindo os cristãos durante sua vida eram aqueles

21
"escravos carnais" de Hagar (Gálatas 4:29). E então ele conclui
afirmando que os judeus físicos que não têm fé em Cristo não
herdarão a Promessa juntamente com os fiéis (Gálatas 4:30–31).

Não poderia haver uma negação mais forte de que os descendentes


judeus físicos herdarão a Promessa de Abraão. De acordo com a
Escritura, isso não vai acontecer. Os descendentes físicos "não
herdarão" com os fiéis filhos de Abraão. Nem no tempo de Paulo,
nem no futuro. Não existem dois planos, um para gentios crentes e
outro para judeus físicos. Apenas judeus que acreditam no Messias
herdarão a Promessa juntamente com os gentios crentes. Somente os
crentes são os "filhos da promessa". A promessa de Deus a Abraão
não é para Israel segundo a carne, mas para Israel segundo a fé - que
inclui tanto judeus quanto gentios (Gálatas 4:23).

O texto de Romanos 9 enfatiza que a promessa de Deus a Abraão


não é para os descendentes físicos, mas sim para os crentes fiéis
como Abraão. Paulo explica que nem todos os descendentes de Israel
pela carne são verdadeiramente Israel. Ele destaca que os "filhos da
carne" não são filhos de Deus, mas os "filhos da promessa" são
considerados descendentes. Isso é apoiado por outras passagens,
como em Gálatas, onde os crentes são considerados descendentes de
Abraão e Isaque, enfatizando que a promessa de Deus não é para os
judeus físicos, mas para os que têm fé. Com a Nova Aliança, os
gentios também são incluídos na promessa. Portanto, um crente
gentio é um verdadeiro judeu espiritual, enquanto um judeu físico
incrédulo e circuncidado não o é.

“Porque não é judeu quem o é apenas exteriormente, nem é


circuncisão a que é somente na carne.
Porém judeu é aquele que o é interiormente, e circuncisão, a que é
do coração, no espírito, não segundo a letra, e cujo louvor não
procede dos homens, mas de Deus”.
- Romanos 2:28,29

22
O Novo Testamento enfatiza que os descendentes de Abraão, aos
quais Deus fez suas promessas, não são os judeus físicos em Israel,
mas todos os crentes, judeus e gentios, unidos em Cristo. Paulo
afirma que Cristo uniu esses grupos, eliminando as barreiras da lei. A
distinção entre judeus e gentios não se aplica mais, pois a separação
foi abolida em Cristo. A ideia de um plano separado para judeus
incrédulos nega o cumprimento da promessa de Deus à verdadeira
Israel, a união espiritual de judeus e gentios que creem em Jesus.

23
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Quatro
_____________________________

Aliança eterna

“Estabelecerei a minha aliança entre mim e ti e a tua


descendência no decurso das suas gerações, aliança perpétua, para
ser o teu Deus e da tua descendência”.
- Gênesis 17:7

A promessa eterna de Deus a Abraão é fundamental para os


Dispensacionalistas, que acreditam que ela persiste apesar do Novo
Testamento. Eles veem dois planos, um para a Nova Aliança e outro
para a "promessa eterna" da Antiga Aliança. No entanto, a
interpretação equivocada leva a equívocos sobre quem são os filhos
de Abraão. Na realidade, os filhos de Abraão são os que têm fé em
Jesus, como argumentado anteriormente. Portanto, os crentes na
Nova Aliança são os verdadeiros herdeiros da promessa eterna a
Abraão. A Nova Aliança continua a cumprir eternamente a promessa
de herança a Abraão e sua descendência (Hebreus 9:15).

Sim, a promessa é eterna, apenas não é herdada apenas por judeus


circuncidados fisicamente, mas sim por aqueles que creem em Cristo.
De acordo com as Escrituras, os crentes do Novo Testamento são os
que recebem a aliança eterna de Deus feita a Abraão, que garante uma
herança eterna. E qual é essa herança, senão a terra da Promessa, a
terra de Canaã? Novamente, essa herança é mal compreendida por

24
muitos. Então, vamos explorar a conquista dessa terra prometida a
seguir.

25
_____________________________

Cinco
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A Promessa de Terra

“Dar-te-ei e à tua descendência a terra das tuas peregrinações, toda


a terra de Canaã, em possessão perpétua, e serei o seu Deus”.
- Gênesis 17:8

Por que Deus prometeu a Abraão a terra de Canaã? Foi apenas uma
tentativa de conquistar território? Para compreender o conceito de
"herança", precisamos voltar à Torre de Babel. Moisés escreveu sobre
esse incidente em Deuteronômio 32:8–9

“Quando o Altíssimo distribuiu as nações e separou os povos,


fixou os limites das nações de acordo com o número dos filhos de
Deus.
Mas a parte do Senhor é o seu povo, Jacó é a sua herança”.

Este trecho revela que a origem da herança da terra ("herança")


remonta à Torre de Babel. A humanidade estava unida no mal,
buscando a idolatria e a autodeificação ("vamos fazer um nome para
nós mesmos"). Gênesis 10 apresenta as setenta nações que surgiram
desse incidente em Babel. Moisés escreve que as fronteiras dessas
nações foram estabelecidas, e a humanidade rebelde foi entregue à
autoridade dos filhos de Deus.

26
Quem são esses filhos de Deus? Embora haja divergência sobre
essa questão, alguns argumentam que eram os Gigantes que
Habitavam a Terra" e que eles eram, na verdade, seres divinos
rebeldes que caíram na Terra durante os dias de Noé.

Por que Deus alocaria nações gentias para esses seres angélicos
caídos? Porque eles se recusaram a adorar Yahweh e continuaram a
adorar outros deuses. Outro trecho de Deuteronômio esclarece essa
atribuição dos gentios a deuses falsos.

Deuteronômio 4:19–20:

“E tenham cuidado para não levantarem os olhos para o céu e, ao


verem o sol, a lua e as estrelas, todo o exército dos céus, sejam
seduzidos a se curvar diante deles e adorá-los, coisas que o Senhor,
o seu Deus, distribuiu a todos os povos debaixo de todo o céu.
Mas o Senhor os tirou do ferro forjado, do Egito, para ser o povo
da sua herança, como vocês são hoje”.

No mundo antigo, as pessoas consideravam as estrelas tanto como


sinais nos céus quanto como deuses. Eles as chamavam de "exército
dos céus", pois acreditavam que eram seres divinos que habitavam os
céus. Portanto, Deus está dizendo que ele "distribuiu" essas nações
gentias aos seus falsos deuses como herança deles. Os falsos deuses
eram autoridades espirituais sobre a humanidade caída e seus
territórios geográficos.

Ao mesmo tempo, da mesma maneira, Deus alocou os


descendentes de Abraão para serem a sua herança, e o território deles
seria a terra de Canaã. Portanto, o conceito de herança estava
intimamente ligado à noção de terra e à autoridade territorial
espiritual sobre essa terra. O livro de Daniel chama esses poderes
espirituais territoriais de "Vigias" e "Príncipes" sobre as nações
(Daniel 4:13, 21; 10:13, 20-21).

27
Assim, quando Deus prometeu a Abraão a terra de Canaã como sua
possessão herdada, ele estava apenas atualizando a sua alocação
original de terras feita em Babel. Os títulos de propriedade do
restante da Terra estavam nas mãos dos Vigias, os filhos caídos de
Deus. Mas Deus detinha o título de propriedade de Canaã para a
herança de Israel. Por isso, herdar a terra e mantê-la dentro das tribos
de Israel era tão importante na Lei de Deus. Tudo se tratava de
preservar essa atribuição, essa herança prometida.

A transformação ocorreu na jornada para a Nova Aliança. A


herança de Israel evoluiu de ser uma terra local, Canaã, para abranger
toda a Terra por causa do Messias.

O Messias tomaria o título de propriedade da terra dos falsos


deuses das nações e acabaria herdando não apenas Canaã, mas toda a
Terra. Jesus concretizou isso com sua morte, ressurreição e ascensão,
derrotando as potestades malignas sobre as nações e retomando seus
títulos de propriedade. Ele liderou uma marcha triunfal de vitória
sobre elas. Agora, pessoas de todas as tribos e nações seriam a
herança de Deus, e Ele seria deles. A separação entre judeus e gentios
foi eliminada por Jesus (Efésios 2:11-22). A herança do povo de Deus
já não é apenas uma parcela de terra no Oriente Médio chamada
Israel, mas abrange toda a Terra, pois o povo de Deus é de todas as
nações.

No Novo Testamento, não há mais referências literais ou diretas à


herança terrestre. Devido à Nova Aliança, a herança nacionalista e
localizada foi redirecionada por Deus para o cumprimento espiritual
em Cristo. O reino de Deus é a Terra da Promessa em Cristo. Nossa
herança como povo de Deus não é uma terra física, mas uma terra
celestial, não é um reino terreno, mas um reino espiritual, o reino de
Deus (1ª Pedro 1:3–4).

Hebreus 9:15:

28
“Portanto, ele é o mediador de uma nova aliança, para que os
chamados possam receber a prometida herança eterna...”.

Observe neste trecho de Hebreus que o escritor afirma que a terra


prometida a Abraão nunca foi a verdadeira terra prometida, mas
apenas uma referência terrena que antecipava o verdadeiro
cumprimento de uma terra celestial, uma cidade celestial (Hebreus
11:8–10, 15-16).

Essa cidade celestial da herança eterna é a Nova Jerusalém, uma


metáfora para a Nova Aliança em Jesus Cristo, o Messias. A terra
prometida física e a cidade terrena de Deus foram cumpridas
espiritualmente em Cristo.

Hebreus 12:22–24:

“Mas vocês [cristãos] chegaram ao monte Sião, à cidade do Deus


vivo, à Jerusalém celestial... e a Jesus, o mediador de uma nova
aliança”.

A herança da terra na Antiga Aliança foi transformada em uma


herança de terra internacional e ilimitada, criada pelo "derrubamento
do muro de separação" entre judeus e gentios. Não pode mais existir
uma terra geográfica que Deus está prometendo ao seu povo, pois o
seu povo é internacional, de todas as línguas e nações. Afirmar um
plano terreno e nacionalista de Deus é reintroduzir as Leis de
separação entre judeus e gentios que Cristo aboliu. Isso é quebrar o
"homem único" em dois, o que o Dispensacionalista tenta fazer ao
postular duas "promessas" de Deus, dois "povos escolhidos", dois
"filhos de Abraão".

Gálatas 3:28-29:

“Não há judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem


mulher; pois todos vocês são um em Cristo Jesus.

29
Se pertencem a Cristo, então são descendência de Abraão e
herdeiros segundo a promessa”.

"Abolir" é uma palavra muito poderosa. No grego original, é a


palavra "katargeo", que significa "tornar inoperante". Em outras
partes da Bíblia, é traduzida como "pôr fim a", "anular", "remover" e
"tornar impotente". Os descendentes de Abraão (a "descendência"),
os herdeiros da promessa, aqueles que estão "em Cristo", não estão
separados de outras nações. Isso é fundamental para compreender a
natureza da Nova Aliança: as leis de separação entre judeus e gentios
foram abolidas, "postas de lado", anuladas, removidas, tornadas
impotentes!

E qual é a maior expressão de separação entre nações? TERRA!!!


No Antigo Testamento, Deus estava separando um povo nacional
para Si mesmo e dando-lhes uma porção de terra separada entre as
nações. Mas com a Nova Aliança, essa separação entre terra e povo
foi abolida. Por isso, na Fé Cristã se afirma que não há mais Guerras
Santas nesta era da Nova Aliança, porque as Guerras Santas de Jeová
estavam diretamente ligadas à herança da terra geográfica no Antigo
Testamento. Separação entre judeus e gentios. Como não há mais
distinção nacional feita por Deus, Ele não tem mais interesse nacional
ou geográfico específico em uma parcela de terra.

Deus tem um interesse geográfico na terra. Ele deseja que toda a


terra seja a possessão do povo de Deus, não apenas uma parcela no
Oriente Médio! O Reino de Deus está crescendo como um grão de
mostarda em uma grande árvore (Mateus 13:31-32). Está se
espalhando como fermento por toda a terra (Mateus 13:33). A pedra
fundamental de Jesus Cristo e Seu reino está crescendo para ser uma
montanha que preenche toda a terra e supera todos os outros reinos
(Daniel 2:35), não apenas um pedaço de areia e rocha no deserto!

30
Colossenses 1:15:

“Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a


criação... todas as coisas foram criadas por Ele e para Ele”.

Neste versículo, Jesus é chamado de "primogênito de toda a


criação". Isso não se refere a Seu nascimento ou criação, mas indica
status. Na economia do Antigo Testamento, o filho primogênito era
o principal herdeiro da propriedade do pai. O primogênito tinha o
direito de primogenitura (Gênesis 43:33), o lugar de preeminência e
poder (Gênesis 49:3) e recebia uma porção dupla da herança
(Deuteronômio 21:17). Assim, Colossenses 1:15 indica que Cristo
herdou toda a criação, não apenas uma parte dela. A promessa de
terra é uma metáfora para uma herança que abrange toda a criação.

Além disso, as Escrituras afirmam que os cristãos são coerdeiros


com Cristo e herdarão todas as coisas da criação com Ele:

Romanos 8:17:

“Se somos filhos, também somos herdeiros; herdeiros de Deus e


coerdeiros com Cristo”.

1ª Coríntios 3:21-22:

“Portanto, ninguém deve se orgulhar nos homens, pois todas as


coisas são suas... o mundo, a vida, a morte, o presente e o futuro;
todas as coisas são suas”.

O erro grave do Dispensacionalismo se torna evidente no contexto


da "herança": alegar que Deus mantém a promessa de uma terra física
para um grupo nacional racialmente separado nega a essência da
Nova Aliança. As leis de terra e separação são abolidas em Cristo; a
terra prometida agora é toda a Terra em Cristo, não uma pequena
área desértica. O Reino de Deus cumpre a promessa da terra. O povo

31
escolhido de Deus são os crentes em Cristo, tanto judeus como
gentios, não judeus incrédulos fisicamente circuncidados. Defender
interesses raciais nacionalistas nega o internacionalismo interracial da
Nova Aliança de Deus. Em essência, o Dispensacionalismo pode ser
visto como uma forma de racismo.

Relacionados a essa promessa geográfica estão os termos "Monte


Sião" e "Jerusalém". Na Escritura, frequentemente simbolizam o
Reino de Deus e o reinado de Deus. Versículos específicos, como
Zacarias 8:3 e Miquéias 4:2, usam esses termos em referência ao
Messias, que é Jesus Cristo. Embora Dispensacionalistas interpretem
isso como referências literais a lugares terrenos, o Novo Testamento
define Sião e Jerusalém como conceitos celestiais ou transcendentais,
usando locais literais como metáforas para ideias espirituais mais
profundas. Hebreus 12 explica como a Nova Aliança cumpre os
"tipos e sombras" da Antiga Aliança, mostrando que o Novo não é
apenas maior, mas o verdadeiro cumprimento espiritual.

Hebreus 12:22–24:

“Mas vocês chegaram ao Monte Sião, à cidade do Deus vivo, à


Jerusalém celestial e a milhares de anjos em festa, à assembleia dos
primogênitos inscritos nos céus, a Deus, o juiz de todos, aos
espíritos dos justos aperfeiçoados, a Jesus, o mediador de uma nova
aliança”.

Neste trecho, vemos que a Nova Aliança é o Monte Sião


mencionado na Antiga Aliança. Chegar a Jesus é chegar à Jerusalém
celestial, à verdadeira realidade espiritual que os tipos da Antiga
Aliança apontavam. Não pode haver uma Jerusalém terrena ou um
Monte Sião físico que Deus esteja prometendo fazer algo, porque Sua
promessa foi cumprida em Cristo e em Seu Reino, o Monte Sião e a
Jerusalém celestiais (espirituais)!

32
Esse é o tema de Hebreus: que a Antiga Aliança era um tipo físico
ou sombra da realidade espiritual que está em Jesus Cristo:

Hebreus 8:5:

[Os sacerdotes da Lei da Antiga Aliança] servem de cópia e


sombra das coisas celestiais”.

Hebreus 9:23:

“Portanto, era necessário que as cópias das coisas nos céus


fossem purificadas com esses [sacrifícios físicos], mas as coisas
celestiais propriamente ditas, com sacrifícios melhores do que estes.
Pois Cristo não entrou num lugar santo feito por mãos, uma mera
cópia do verdadeiro, mas no próprio céu, para agora comparecer
diante de Deus em nosso favor”.

Esta Jerusalém celestial corresponde à "Nova Jerusalém que desce


do céu" em Apocalipse 21. A Jerusalém celestial é a verdadeira
Jerusalém, não a física. E a verdadeira e nova Jerusalém é a Nova
Aliança povoada por crentes em Cristo, não meros israelitas
geneticamente circuncidados.

Se houver alguma dúvida sobre essa realidade celestial, o Apóstolo


Paulo, em um trecho que vimos antes, enfatiza essa verdadeira
Jerusalém da promessa como a Igreja de Cristo composta por crentes
em Cristo (Gálatas 4:22–31).

A Jerusalém terrestre está correlacionada com judeus terrestres


("segundo a carne"). Esses judeus terrestres incrédulos estão em
escravidão e não serão herdeiros da promessa de Deus porque não
são filhos da promessa. Os crentes em Cristo são os livres, que serão
herdeiros da promessa de Deus a Abraão e Isaque. Monte Sião e
Jerusalém são simplesmente metáforas para o reino de Deus, que é o
Reino de Deus na Igreja de Jesus Cristo!

33
Portanto, quando o Novo Testamento usa a palavra "herança", está
falando sobre a herança terrena transformada no Reino que é a
herança que engloba toda a criação que Cristo herdará, e nós
herdaremos com Ele porque estamos "em Cristo". Ao ler esses
trechos do Novo Testamento sobre herança espiritualizada, você
entenderá por que os autores deixaram de se referir diretamente a
uma promessa de terra, pois o Reino de Deus é agora nossa herança e
abrange toda a terra (Efésios 1:11–14; Hebreus 9:15; Mateus 5:5; Atos
13:17–33; Efésios 1:9–14; Colossenses 1:12–14; Hebreus 11:8–16; 1ª
Pedro 1:3–4).

O Novo Testamento claramente transformou a noção de uma


herança física de terra para Israel em uma herança espiritual em
Cristo, com uma expansão para herdar toda a terra. No entanto, os
Dispensacionalistas ainda se apegam às profecias do Antigo
Testamento que prometem que Deus reunirá novamente as doze
tribos terrenas de Israel de entre as nações para a terra física de Israel.
Eles acreditam que essa reunião ainda não foi cumprida em nosso
futuro. Isso ainda não aconteceu em sua perspectiva. Com o objetivo
de manter essa narrativa focada na promessa de seis partes a Abraão,
expliquei como essa reunião é cumprida no Novo Testamento em um
capítulo adicional no final deste e-book, intitulado de forma
apropriada, “O Reajuntamento de Israel”.

34
_____________________________

Seis
_____________________________

Um Pacto Condicional

“Disse Deus a Abraão: Quanto a ti, guardarás o meu pacto, tu e a


tua descendência no decurso das suas gerações”.
- Gênesis 17:9

Neste trecho, chegamos à parte do pacto que os


Dispensacionalistas não gostam, a cláusula condicional. Por um lado,
esses cristãos bem-intencionados afirmam a natureza eterna do pacto,
mas, por outro lado, parecem perder sua condição expressa. Sim, o
pacto é eterno, mas a quem se aplica, ao físico ou ao fiel? E qual
preço a desobediência ao pacto traz? Jesus disse claramente na
parábola da vinha:

“Por isso, vos digo que o reino de Deus vos será tirado e será
dado a um povo que produza os seus frutos”.
- Mateus 21:43

O Reino de Deus foi retirado da Israel terrena dos judeus


observantes da Torá e dado ao verdadeiro Israel espiritual, a Igreja de
judeus e gentios crentes. O Reino de Deus não está ligado a um
estado geopolítico que herda uma terra física. Na verdade, na
parábola, Jesus compara os judeus antigos a lavradores que rejeitam o

35
dono da vinha e perdem todos os direitos sobre a terra (Mateus
21:33-41).

Resumindo, esse trecho fala sobre o pacto de Deus com Abraão e a


natureza condicional desse pacto, além de discutir a transferência do
Reino de Deus da antiga Israel terrena para a Igreja espiritual,
exemplificada na parábola da vinha.

Os cristãos às vezes são falsamente acusados de anti-semitismo por


apontarem o fato de que os judeus do primeiro século são culpados
por rejeitar o Messias e, portanto, condenados por Deus. Dizem que
pessoas que argumentavam essas coisas no passado usavam essas
crenças para justificar a morte de judeus por serem "assassinos de
Cristo". Essa acusação de anti-semitismo é não apenas falsa, mas uma
calúnia e difamação. Afinal, apenas porque alguém cita a Bíblia para
racionalizar o mal, não significa que a Bíblia endosse tal mal. Deus
mesmo declarou os judeus do primeiro século culpados por
assassinar o Messias, mas ele nunca ordenou que alguém saísse para
matar judeus por causa disso.

Mas ainda mais evidente e importante, os Dispensacionalistas


parecem completamente perder o ponto de que foi o próprio Jesus
que acusou os judeus do primeiro século de serem seus assassinos! E,
como veremos abaixo, os apóstolos também eram JUDEUS que
condenaram seu próprio povo por rejeitar o Messias, assim como os
antigos profetas JUDEUS fizeram. Esses homens de Deus não eram
anti-semitas, eles eram a voz de Deus contra seu próprio povo!

A questão é que, dentro da história redentora de Deus, os judeus


físicos rejeitariam constantemente a ele, a ponto de matar Seu Filho,
de forma que Ele retiraria Seu Reino deles para dar a outro "povo"
(incluindo os gentios) que originalmente não eram Seu povo, para
serem os herdeiros de Seu Reino. Os judeus modernos não são
culpados judicialmente por matar Cristo, os judeus do primeiro

36
século eram culpados por esse crime e, portanto, foram julgados por
Deus na destruição do templo e da cidade santa.

Atos 7:51-52:

“[Estêvão:] Homens de cerviz dura e incircuncisos de coração e


ouvidos! Vós sempre resistis ao Espírito Santo; assim como vossos
pais fizeram, vós também o fazeis. A qual dos profetas vossos pais
não perseguiram? Mataram até os que anteriormente anunciaram a
vinda do Justo, do qual vós agora vos tornastes traidores e
assassinos”.

1ª Tessalonicenses 2:14-16:

“Porque vós, irmãos, vos tornastes imitadores das igrejas de Deus


em Cristo Jesus que estão na Judéia; porque também padecestes,
igualmente, as mesmas coisas por parte dos vossos próprios
concidadãos, como eles [os judeus] pelos judeus, que tanto mataram
o Senhor Jesus, como os profetas, e a nós nos perseguiram; não
agradando a Deus, e sendo contrários a todos os homens;
impedindo-nos de pregar aos gentios para que sejam salvos; para
encherem sempre a medida de seus pecados. Mas a ira caiu sobre
eles até ao fim”.

Esses versículos mostram que os judeus não obedeceram às


condições do pacto abraâmico. Eles rejeitaram o Messias, portanto,
estão sendo julgados ao máximo por Deus. Como resultado, os
gentios estão se tornando o Povo de Deus.

O trecho clássico sobre a natureza condicional do pacto e como os


gentios agora cumprem as promessas de Deus a Abraão está em
Romanos 11:1-7. Este trecho não está indicando que Deus cumpriu
Sua promessa somente aos descendentes físicos de Israel. Pelo
contrário, está enfatizando que Deus manteve Sua promessa àqueles
dentro de Israel que são verdadeiros crentes, formando um
remanescente fiel. A nação de Israel como um todo não alcançou as

37
promessas divinas, mas indivíduos escolhidos dentro dessa nação o
fizeram. Portanto, a promessa divina nunca esteve destinada à
maioria física, mas sim àqueles que eram fiéis. Os demais se
beneficiaram apenas por estarem exteriormente associados aos fiéis.
As pessoas que Deus não está rejeitando aqui não são os israelitas
físicos, mas sim os crentes do remanescente. Os outros judeus estão
endurecidos e não recebem a promessa porque não fazem parte do
verdadeiro Israel.

Sobre Romanos 11:11–24, a chave para compreender este trecho


está na raiz da árvore, que é o verdadeiro Israel espiritual da
Promessa. E o verdadeiro Israel da Promessa não é o Israel físico, a
terra ou os descendentes naturais. O verdadeiro Israel é simplesmente
o termo para o povo de Deus - quem quer que sejam. Os ramos
naturais representam os descendentes físicos de Israel, enquanto os
ramos da oliveira selvagem representam os gentios que creem. A
natureza condicional é enfatizada aqui, pois Paulo diz que os judeus
terrenos foram cortados devido à sua incredulidade. A fé é a raiz, não
a descendência física.

Judeus são rejeitados por Deus e cortados por desobedecerem ao


pacto. Eles são enxertados de volta pela fé, assim como os gentios
são enxertados pela fé. Um judeu é salvo e se torna escolhido de
Deus da mesma forma que um gentio: através da fé em Cristo, não
pela descendência física. Não se trata de Israel físico ou geopolítico
aqui. O verdadeiro Israel é o fiel, não o físico; o celestial, não o
terreno. Sempre foi, sempre é, sempre será.

A seguinte conclusão do trecho, aos olhos de alguns, reforçou que


Deus ainda tem um plano especial para Israel físico (Romanos 11:25–
31). Mesmo que se considere isso como uma referência ao Israel
físico, o contexto de todo o trecho exige que Deus demonstre Sua
misericórdia eleitora tanto ao judeu físico quanto ao gentio da mesma
maneira - através da fé em Cristo, não por meio de uma Antiga

38
Aliança que se tornou obsoleta. É possível que Deus provoque um
grande avivamento de fé na comunidade judaica no futuro, mas Ele
não o fará separado da fé em Cristo. Ele não restabelecerá leis
cerimoniais de separação judaica e, com isso, uma promessa de terra
física e sacrifícios no templo, pois essas promessas já foram
cumpridas em Cristo e não há mais separação entre judeu e gentio em
Cristo. Uma vez que o antigo se foi, desaparece para sempre. Não há
retorno possível.

Hebreus 8:13 diz:

“Quando Ele diz: "Uma nova aliança", Ele tornou obsoleta a


primeira”.

Se esse trecho de Romanos 11 significa que Deus salvará uma


multidão de judeus no futuro, Ele o fará por meio da fé em Jesus
Cristo, não por meio de uma apropriação de terras que já foi
cumprida em Cristo, nem retornando a um entendimento obsoleto de
promessa de terra física e separação nacional. Voltar a um
preconceito nacionalista seria negar todo o internacionalismo da
Nova Aliança. Seria uma negação do próprio Evangelho.

Mas, na realidade, eu não acredito que esse futuro avivamento de


Israel é o que Romanos 11 está ensinando. Paulo simplesmente está
explicando a natureza do Evangelho sob a Nova Aliança.

Lembre-se de que, mais cedo neste mesmo trecho, Paulo


diferenciou entre o Israel étnico e o verdadeiro Israel da fé pelo
conceito do remanescente. Ele escreveu que Deus não rejeita Seu
povo Israel, mas então ele define exatamente quem são essas pessoas
em Israel, e elas não são os descendentes étnicos, mas sim aqueles
dentro do Israel étnico que são verdadeiros crentes! O remanescente
é o verdadeiro Israel, o remanescente são aqueles que Deus não
rejeita. O remanescente são os fiéis "eleitos" ou "escolhidos". A
descendência genética é o veículo externo pelo qual Deus cria a

39
linhagem do Messias, mas apenas os eleitos dentro desse grupo da
aliança obtêm salvação pela graça de Deus. Os demais são
endurecidos e não a recebem. A judaicidade étnica não confere a
ninguém o status de povo de Deus.

Quando Paulo escreveu sobre a raiz e os galhos, onde os galhos são


quebrados devido à falta de fé, ele está dizendo que o Israel étnico
incrédulo rejeita o Messias para que Deus possa oferecer aos gentios
a mesma salvação pela fé que os verdadeiros israelitas fiéis tinham.
Paulo se refere ao verdadeiro Israel (da fé), judeus e gentios, quando
escreveu: "e assim, todo Israel será salvo". Ele não está dizendo que
todo Israel étnico será salvo depois que Deus terminar de salvar
todos os gentios que Ele planejava salvar. Paulo está dizendo que a
Nova Aliança é a plenitude das nações, e que "desta maneira", tanto
judeus quanto gentios serão salvos - pela fé em Cristo.

O Libertador vindo de Sião para remover a impiedade e perdoar os


pecados é a primeira vinda de Jesus, não a segunda. A segunda vinda
é quando Jesus traz o julgamento, não o perdão.

Então, o que Paulo quer dizer quando diz: "Os dons e o chamado
de Deus são irrevogáveis"? O Dispensacionalista argumenta que isso
significa que Deus não revoga suas promessas a Israel. E com essa
afirmação, eu concordaria. MAS a quem ele está se referindo? A todo
Israel étnico? De maneira nenhuma! Ele fala explicitamente de
"eleição". São os eleitos dentro de Israel étnico cujo chamado e dons
são irrevogáveis. E esses "eleitos" são o remanescente de crentes, não
os descendentes físicos. Lembre-se de que apontamos anteriormente
neste trecho de Romanos 11 que Paulo afirma que o "remanescente"
eleito ou escolhido são os verdadeiros crentes dentro do Israel étnico.
A palavra grega para "escolhido" nesse trecho sobre o remanescente é
a mesma palavra grega para "eleição" no início do mesmo capítulo.
Portanto, "endurecimento parcial" não se refere a um tempo
temporário de endurecimento, mas a uma parte do povo sendo
endurecida. Isso significa que parte de Israel acreditou no Messias. E

40
esses são os israelitas que são salvos [incluindo os gentios crentes].
Um endurecimento parcial aconteceu ao Israel étnico para que Deus
trouxesse a plenitude das nações (gentios), pela fé, juntamente com o
verdadeiro Israel da fé. Assim, Deus salva todo o verdadeiro Israel
[judeus e gentios], em oposição a todo Israel étnico.

Romanos 9:6–8 diz:

“Porque nem todos os que são descendentes de Israel pertencem


a Israel, e nem todos são filhos de Abraão simplesmente por serem
seus descendentes. Pelo contrário, "Por meio de Isaque a sua
descendência será considerada".
Isso significa que não são os filhos da carne que são filhos de
Deus, mas os filhos da promessa são considerados descendentes”.

"Todo Israel" em Romanos 11:26 não se refere ao Israel étnico,


mas é um termo que se aplica aos judeus eleitos e aos crentes gentios
em Cristo. Esses crentes remanescentes eleitos são o "todo Israel"
que é salvo com a vinda da Nova Aliança em Jesus.

O vaivém difícil que Paulo faz em referência ao Israel étnico e


Israel espiritual pode ter causado confusão ao longo dos anos na
interpretação bíblica, mas é uma técnica comum na Bíblia. Jesus
também faz essa alternância na definição de "descendência de
Abraão".

João 8:37–40:

“Eu sei que vocês são descendentes de Abraão, mas procuram me


matar, porque a minha palavra não tem lugar em vocês. 38Eu falo
do que vi junto do meu Pai, e vocês fazem o que ouviram do pai de
vocês."
Eles responderam: "Abraão é o nosso pai". Jesus disse: "Se vocês
fossem filhos de Abraão, vocês fariam as obras de Abraão".

41
Primeiro, Jesus diz que Abraão é o pai deles, depois ele diz que
Abraão não é o pai deles, mas sim Satanás. Jesus não está se
contradizendo, apenas está fazendo uma distinção entre descendência
étnica e verdadeira descendência espiritual. Esse tipo de alternância
nas definições é exatamente o que Paulo fez em Romanos 11. Pode
causar dificuldade, mas Deus nunca disse que seria fácil discernir as
palavras da verdade. Devemos estudar a Bíblia em seu contexto
cultural do Oriente Próximo para nos mostrarmos aprovados, não
apenas interpretar as coisas de acordo com nosso hiperliteralismo
ocidental do século 21. E se há algo que o Novo Testamento deixou
claro, é que o Israel étnico como um todo não obedeceu à Antiga
Aliança. Eles não acreditaram no Messias prometido na Antiga
Aliança, então eles renunciaram ao seu direito de nascença como um
todo. No entanto, havia um remanescente dentro desse todo terreno
que obedeceu e acreditou no Messias. Esse Remanescente recebeu a
promessa dada a Abraão, porque os filhos de Abraão são aqueles da
fé, não da carne.

42
_____________________________

Sete
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A Circuncisão

“Este é o meu pacto, que você deve guardar, entre mim e você e
sua descendência depois de você: todo macho entre vocês será
circuncidado”.
- Gênesis 17:10

Nessa conclusão da Promessa de Deus a Abraão, vemos que Ele


sela o pacto com o ato da circuncisão. O importante é entender que o
ato físico da circuncisão nunca foi a garantia para que os judeus
físicos herdassem a promessa. Era um sinal físico da circuncisão
espiritual que verdadeiramente justifica uma pessoa.

No Novo Testamento, vamos perceber que esse era o ponto, mas


de maneira irônica, até mesmo no Antigo Testamento, Deus já
afirmava que a circuncisão física não era o que determinava um
verdadeiro israelita, mas sim a circuncisão espiritual (Deuteronômio
30:6; Jeremias 4:4; Jeremias 9:25–26).

Nos textos da Antiga Aliança, percebemos que Deus já insinua que


a desobediência à Sua aliança era ser incircunciso de coração, o que é
o mesmo que os pagãos incircuncisos ao redor da nação de Israel. Na
Nova Aliança, essa distinção é feita de forma mais clara por Paulo,
quando ele nos diz em Romanos 3 que a circuncisão que Deus tinha

43
em mente desde o início era a circuncisão espiritual do coração. Um
"verdadeiro judeu" é aquele que é circuncidado de coração, o que
significa que um gentio que crê é um verdadeiro judeu, mas um judeu
terreno ou étnico que não crê é na verdade um pagão incircunciso
(Romanos 2:28–29; Colossenses 2:11).

De acordo com a Nova Aliança, o gentio crente batizado é


circuncidado de coração, que é o que Deus pretendia desde o início
quando ordenou a circuncisão. É o crente (judeu e gentio) que é
descendente de Abraão e é circuncidado de coração, recebendo assim
o sinal e o selo da aliança eternamente prometida por Deus.

Paulo amplia esse argumento em Romanos 4 quando prova que a


circuncisão do coração (fé) é o selo ao qual Deus se referia quando
declarou Abraão justo. A circuncisão física era apenas um sinal
exterior da realidade interior.

Em Romanos 4:9–13, o ponto de Paulo é que a circuncisão física


não é o acordo, mas sim o selo de um acordo já feito pela fé. Ser
fisicamente circuncidado significa que você deve ser espiritualmente
circuncidado de coração, mas se você não for, então você não está
circuncidado na verdade. A circuncisão do incrédulo se torna
incircuncisão.

Então, você vê como a circuncisão do coração na verdade cumpre


as intenções originais de Deus? Não é que ele tenha feito a
circuncisão física a chave na Antiga Aliança e depois a tenha mudado
com a Nova Aliança, mas é que Deus desde o início quis que a
circuncisão do coração pelo Espírito fosse o verdadeiro sinal e selo
da aliança, do qual a circuncisão carnal era apenas uma representação
exterior. Portanto, a Nova Aliança não muda o significado da
circuncisão, mas sim ilumina seu verdadeiro significado.

44
No entanto, os Dispensacionalistas acreditam que há Escrituras que
parecem apoiar a ideia de que Deus ainda tem um lugar em seu plano
para Israel físico. Romanos 2:1-4 é uma delas.

Romanos 3:1–4:

“Que vantagem, então, tem o judeu? Ou qual é o valor da


circuncisão?
Muito, em todos os sentidos. Primeiramente, os judeus foram
encarregados dos oráculos de Deus.
E se alguns foram infiéis? Isso anula a fidelidade de Deus? De
maneira nenhuma!”

À primeira vista, pode parecer que Deus ainda considera o Israel


terreno especial em Seus olhos ou que Ele permanece "fiel" ao Israel
terreno. No entanto, no contexto, está claro que não é isso que Ele
está discutindo. Essa declaração de que a fidelidade de Deus não é
anulada por alguma incredulidade se refere à fidelidade de Deus ao
remanescente de crentes espirituais dentro do Israel terreno. Em
outras palavras, Deus mantém Sua aliança por causa dos poucos fiéis
e somente para os poucos fiéis. Apenas porque alguns não creem não
significa que Deus se afastará dos fiéis. Deus permanece fiel aos
judeus crentes circuncidados fisicamente, que são descendentes de
Abraão, junto com os gentios crentes. Isso não é uma exceção para o
Israel terreno, mas sim uma definição do verdadeiro Israel, que inclui
tanto os gentios crentes quanto os judeus crentes.

Conclusão
Ao explorarmos os seis elementos da promessa de Deus a Abraão e
sua descendência, fica claro que todos eles são cumpridos
espiritualmente na fé da Nova Aliança, como Deus pretendia desde o
início.

45
1) Abraão é pai de muitas nações através da fé, incluindo gentios
crentes junto com judeus crentes;
2) Os filhos de Abraão sempre foram aqueles que creem como
Abraão, não os nascidos da carne;
3) A aliança eterna permanece eterna porque é cumprida em
Cristo, que é capaz de salvar aqueles que se aproximam dele pela fé,
não porque seja um título de posse de um pedaço de terra no
Oriente Médio;
4) A Terra Prometida é cumprida em Jesus, onde descansamos de
nossas obras em fé e herdamos a terra. Deus não lida com parcelas
físicas de terra para separar seu povo das nações, pois agora,
pessoas de todas as nações são seu povo, e Deus é internacional,
não respeitando fronteiras terrenas. Todas as leis de separação entre
judeus e gentios foram abolidas em Cristo;
5) A aliança era condicional à obediência, então Jesus tirou a
herança daqueles judeus incrédulos do primeiro século para abrir
espaço para os gentios;
6) Deus sempre quis que a circuncisão espiritual fosse o sinal e
selo da aliança, não apenas a circuncisão física. Portanto, a fé realiza
a circuncisão espiritual para os crentes, e a incredulidade funciona
como "incircuncisão" para judeus circuncidados fisicamente que
rejeitam o Messias.
Muitos cristãos desejam que o moderno Israel continue a ser o
Povo Escolhido de Deus, como se ainda fossem o centro do plano
profético de Deus para o futuro da humanidade. Esses cristãos
afirmam que a Promessa de Deus a Abraão ainda está em vigor com a
existência do atual Israel físico. No entanto, ao atribuir essa falsa
identidade ao Israel moderno, eles estão negando o Evangelho da
salvação pela graça, por meio da fé em Jesus Cristo, que aplica todas
as promessas de Abraão espiritual e verdadeiramente a Cristo e, em
seguida, àqueles que creem em Cristo.
Há mais nos próximos capítulos!

46
_____________________________

Oito
_____________________________

O Templo

Outro problema com a obsessão Dispensacional pelo Israel terreno


é uma preocupação igualmente perturbadora com o templo físico de
Jerusalém. O discurso popular sobre a Vaca Vermelha, a Arca da
Aliança e outros eventos políticos em torno de Jerusalém e do Monte
do Templo revela a crença de que a reconstrução de um templo físico
em Jerusalém será um presságio da Segunda Vinda de Cristo, que, de
alguma forma híbrida, reintroduzirá as leis dos sacrifícios de animais
que foram abolidas sob a Nova Aliança. Esse cenário retrógrado e
bizarro não apenas desafia a imaginação, mas também desafia as
Escrituras! Se Deus reintroduzisse o templo com seus sacrifícios, Ele
estaria negando Seu próprio sacrifício único feito por Cristo (Hebreus
7:27, 9:12, 26).
Apesar do Novo Testamento em nenhum lugar afirmar que o
templo será reconstruído, esses futuristas ainda acreditam que haverá
um, porque eles assumem que passagens como Apocalipse 11 se
referem ao futuro, em vez do passado (por isso, o nome, futurista).

Apocalipse 11:1:

“Então me foi dada uma vara semelhante a uma vara de medir e


me disseram: “Levanta-te e mede o templo de Deus e o altar, e os
que nele adoram”.

47
Esta passagem claramente se refere ao segundo templo no primeiro
século da era cristã (no tempo da Igreja primitiva), que ainda não
havia sido destruído quando o livro do Apocalipse foi escrito. No
entanto, como os futuristas negam esse cumprimento passado, eles
projetam isso para o futuro e assumem que outro templo deve ser
construído, já que o templo está em ruínas desde que os romanos o
destruíram no ano 70 d.C. Isso é um exemplo de como o viés
teológico coloca suposições sobre fatos para reinterpretar o óbvio e
claro como algo complexo e obscuro, a fim de manter a consistência
diante da contradição. O fato bíblico simples é: o novo templo de
Deus na era da Nova Aliança não é um templo terreno construído
por mãos humanas, mas um templo celestial construído pelo Espírito.

Mas não aceite apenas minha palavra, os apóstolos que escreveram


as Escrituras também nos disseram que o templo foi transformado na
realidade espiritual de Jesus Cristo. Jesus é o Novo Templo.

Sobre isto João 1:14 diz:

“E o Verbo se fez carne e habitou [fez sua tenda] entre nós, e


vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai, cheio de graça
e verdade”.

Neste trecho, Jesus é descrito usando o termo "tenda", que foi


precursor do templo. Como argumentado acima, a "Nova Jerusalém"
é uma metáfora espiritual para a Nova Aliança (Hebreus 12:22-24;
Gálatas 4:22–31). Nessa "cidade" da Nova Aliança, não há um templo
físico de pedra, porque Jesus é o verdadeiro e espiritual templo de
Deus como diz em Apocalipse 21:22:

“E na cidade [Nova Jerusalém] não vi templo, pois o seu templo é


o Senhor Deus Todo-Poderoso e o Cordeiro”.

Essa revelação da Nova Jerusalém em Apocalipse não é uma


realidade futura, mas presente. A Nova Jerusalém é a Nova Aliança

48
(Hebreus 12:22). Em outro lugar, Jesus se referiu a si mesmo como a
pedra angular principal do verdadeiro templo de Deus.

Mateus 21:42 diz mais:

“Jesus lhes disse: "Nunca lestes nas Escrituras: 'A pedra que os
construtores rejeitaram, essa veio a ser a principal, esta foi feita pelo
Senhor e é maravilhosa aos nossos olhos'?”

Alguns argumentariam que Jesus não está se referindo ao templo


aqui, mas apenas à metáfora de ser a pedra angular principal de uma
construção. Bem, sim, mas dentro de seu contexto, onde a casa de
Deus é a metáfora principal da construção para o povo de Deus,
"pedra angular principal" era comumente compreendida como uma
referência ao templo (Atos 4:11).

O apóstolo Paulo deixa essa conexão com o templo bem clara


quando fala do novo templo santo de Deus, "edificado sobre o
fundamento dos apóstolos e profetas, sendo Cristo Jesus mesmo a
principal pedra angular" (Efésios 2:20).

Efésios 2:19–22 acrescenta:

“Assim, já não sois estrangeiros nem forasteiros, mas concidadãos


dos santos e membros da família de Deus, 20 edificados sobre o
fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo
Jesus, a pedra angular, no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce
para ser um santuário santo no Senhor, no qual também vós
juntamente estais sendo edificados para habitação de Deus no
Espírito”.

O novo templo de Deus aqui não é um templo físico reconstruído


em pedra, mas uma casa espiritual que consiste no corpo de Cristo.
Isso não é mera "espiritualização", como se não tivesse realidade
tangível. Não, a Igreja de Jesus Cristo é uma presença real de pessoas

49
neste mundo, e também é a verdadeira presença de Jesus Cristo, não
uma mera metáfora. Na Bíblia, "espiritualização" não significa que
algo seja menos real, na verdade, de certa forma, é mais real. O Corpo
de Cristo como o templo "espiritual" de Deus é uma presença muito
real e tangível de Deus na Terra.

O apóstolo Pedro reafirma essa mesma ideia do corpo de Cristo ser


o "templo espiritual" sagrado de Deus na nova aliança.

1ª Pedro 2:4–6:

“À medida que vocês se aproximam dele, a pedra viva rejeitada


pelos homens, mas escolhida e preciosa aos olhos de Deus, vocês
próprios, como pedras vivas, estão sendo edificados como uma casa
espiritual, para serem um sacerdócio santo, a fim de oferecerem
sacrifícios espirituais aceitáveis a Deus por meio de Jesus Cristo.
Pois está escrito na Escritura: "Eis que ponho em Sião uma pedra,
uma pedra angular escolhida e preciosa; e aquele que crê nela jamais
será envergonhado”.

2ª Coríntios 6:16:

“Pois somos santuário do Deus vivo. Como Deus disse:


"Habitarei entre eles e entre eles andarei; serei o seu Deus, e eles
serão o meu povo”.

O estudioso Richard Bauckham aponta que durante o concílio de


Jerusalém, conforme narrado em Atos 15, Tiago descreve um templo
escatológico que Deus profetiza para reconstruir como sendo o
corpo de Cristo, composto por crentes gentios acrescentados a judeus
crentes.

Atos 15:13–17:

“Depois que terminaram de falar, Tiago disse: "Irmãos, ouçam-me.

50
Simão contou como Deus primeiramente se preocupou em visitar
os gentios para escolher deles um povo para o seu nome.
As palavras dos profetas concordam com isso, como está escrito:
'Depois disso, voltarei e reconstruirei a tenda de Davi que caiu. Vou
reconstruir suas ruínas, e a levantarei novamente, para que o restante
dos homens possa buscar o Senhor, e todos os gentios que são
chamados pelo meu nome', diz o Senhor, que faz estas coisas”.

“A interpretação considera 'a morada de Davi' como o templo


escatológico que Deus construirá, como o lugar de sua presença
escatológica, na era messiânica, quando o reinado de Davi for
restaurado em Israel. Ele construirá este novo templo para que todas
as nações gentias possam buscar sua presença ali”.1

Portanto, há de fato um templo reconstruído. E Deus está


reconstruindo esse templo agora. Mas é um templo celestial, com
cristãos como pedras vivas (1ª Pedro 2:5), em contraste com pedras
inanimadas, e apóstolos e profetas como alicerce e pilares (Efésios
2:20), e Jesus Cristo como a pedra angular (1 Coríntios 3:11; Efésios
2:20). Jesus Cristo é o novo templo e sumo sacerdote desse
verdadeiro templo/tabernáculo celestial (Hebreus 9:11, 23-24)!
Além disso, a Igreja também é o sacerdócio santo que ministra a
expiação de Deus ao mundo por meio do Evangelho. Não existe
mais um sacerdócio judaico físico diante de Deus. Na verdade, Deus
chama a Igreja de sua raça escolhida, uma nação santa, um povo para
sua própria posse, termos todos aplicados a Israel na Antiga Aliança.
1ª Pedro 2:9–10:
“Mas vocês são uma raça eleita, um sacerdócio real, uma nação
santa, um povo exclusivo de Deus, para que proclamem as virtudes

1
Richard Bauckham, “James and the Jerusalem Church,” in The Book of Acts in Its First
Century Setting: The Book of Acts in Its Palestinian Setting, ed. Richard Bauckham and
Bruce W. Winter, vol. 4 (Grand Rapids, MI; Carlisle, Cumbria: William B. Eerdmans
Publishing Company; The Paternoster Press, 1995), 453–454.

51
daquele que os chamou das trevas para a sua maravilhosa luz; vocês,
que antes não eram um povo, mas agora são o povo de Deus; vocês
que antes não tinham alcançado misericórdia, mas agora a
alcançaram”.

O templo físico de pedra em Jerusalém era uma sombra física fraca


do verdadeiro templo celestial explicado em Hebreus capítulos 8 a 10.
Seria sacrilégio sugerir que Deus retornaria a uma sombra física
inferior depois que a perfeita realidade espiritual chegou. Cristo fez
seu sacrifício de uma vez por todas. Seria uma abominação e negação
da Nova Aliança retornar ao sacerdócio e aos sacrifícios do Antigo
Testamento. O livro de Hebreus chama esse retorno ao Antigo de
"apostasia" (Hebreus 6:4-8).

A total desolação do templo terreno no ano 70 d.C. foi a maneira


de Deus dizer que os últimos dias da Antiga Aliança haviam chegado,
o cumprimento das eras estava em andamento (Hebreus 9:26), a
Antiga Aliança e seu sacerdócio e sistema sacrificial estavam
obsoletos (Hebreus 8:13). A Nova Jerusalém Celestial e Sião saíram
do céu e substituíram a antiga Jerusalém e Sião físicas (Hebreus
12:22-24; Apocalipse 21).

Se a nação geopolítica atual de Israel algum dia reconstruir o


templo, será um cadáver espiritual de uma carta obsoleta da morte,
em vez de um lembrete vivo de uma realidade espiritual viva (1ª
Coríntios 3). Embora eu suspeite que haja uma razão pela qual Deus
nunca permitiu que o templo terreno fosse reconstruído. É a maneira
dele de verificar historicamente que a Antiga Aliança é obsoleta e
nunca pode ser reintroduzida.

Deixe o autor de Hebreus ter a palavra final sobre a natureza


temporária do tabernáculo/templo físico terreno, que representa a
Antiga Aliança, em comparação com a natureza eterna e permanente
do templo celestial que representa a Nova Aliança.

52
Hebreus 8:1–7:

“Agora, a essência do que estamos dizendo é esta: temos um


sumo sacerdote tão elevado, assentado à direita do trono da
verdadeira tenda que o Senhor estabeleceu, não feita por mãos
humanas...
Mas, na realidade, Cristo obteve um ministério muito mais
excelente do que o antigo, assim como a aliança que ele medeia é
superior, visto que é baseada em promessas melhores.
Pois, se aquela primeira aliança tivesse sido sem falhas, não
haveria motivo para buscar uma segunda”.

O autor de Hebreus então conclui que esta "segunda" aliança ou


templo celestial não é consumada historicamente até que o templo
físico seja destruído. "O Espírito Santo está mostrando isso, que o
caminho para o Santo dos Santos ainda não foi revelado enquanto a
tenda exterior ainda está de pé" (Hebreus 9:8).

O livro de Hebreus foi escrito antes da destruição do templo em 70


d.C. O escritor e sua audiência cristã sabiam que a desolação estava
chegando, pois Jesus havia previsto isso (Mateus 23:37-24:1). Eles
estavam em um período de transição entre alianças. A Nova Aliança
havia sido inaugurada espiritualmente na morte, ressurreição e
ascensão de Cristo. No entanto, os elementos terrenos da Antiga
Aliança ainda estavam de pé. A Antiga Aliança estava se tornando
obsoleta à medida que a Nova Aliança estava tomando seu lugar. A
Antiga Aliança estava prestes a finalmente desaparecer — quando a
encarnação terrena daquela Antiga Aliança foi destruída: a cidade
santa e o templo.

Hebreus 8:13:

“Ao falar de uma nova aliança, ele torna obsoleta a primeira. E o


que está se tornando obsoleto e envelhecendo está prestes a
desaparecer”.

53
No sentido terreno, a Antiga Aliança não havia sido completamente
abolida até que a encarnação terrena dessa aliança fosse destruída.
Quando os exércitos romanos destruíram a cidade terrena de
Jerusalém e seu templo, isso marcou historicamente a consumação da
Nova Aliança que ele havia anteriormente inaugurado
espiritualmente.

54
_____________________________

Nove
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Benção e Maldição

Portanto, nenhuma das promessas feitas a Abraão pode se referir de


fato ao Israel físico no cenário nacional atual, pois todas elas se
cumpriram em Cristo e na Nova Aliança. A nação física de Israel não
é o Povo Escolhido de Deus; a Igreja de Jesus Cristo é o "Israel de
Deus" (Gálatas 6:16), o Povo Escolhido de Deus de todas as nações
da Terra. A promessa que os Dispensacionalistas usam do Antigo
Testamento para se referir às bênçãos e maldições do Israel físico é
na verdade uma promessa relacionada ao verdadeiro Israel espiritual,
a Igreja de Deus (Gênesis 12:3).

Isso faz parte da mesma Promessa que Deus fez a Abraão. A frase
"em ti serão benditas todas as famílias da terra" é uma frase conectiva
à promessa original feita a Abraão. Já mostramos como isso se
cumpriu na Igreja do Novo Testamento de Jesus Cristo, então a
bênção e a maldição não recaem sobre aqueles que abençoam e
amaldiçoam o Israel físico, mas sobre aqueles que abençoam e
amaldiçoam o Israel espiritual, o Corpo de Cristo.

Os Estados Unidos foram fundados sobre o Cristianismo. Ao


desmantelar suas raízes cristãs, ele se afasta dessa bênção e, assim,
perderá o favor de Deus. Os Estados Unidos e nem qualquer outra
nação não são abençoados porque abençoaram Israel. Na verdade, a

55
atual nação de Israel é abençoada porque abençoou os Estados
Unidos, que em algum momento foi um país baseado em uma visão
de mundo cristã. Isso não significa que os Estados Unidos sejam a
Terra Prometida ou qualquer absurdo desse tipo. Isso simplesmente
quer dizer que os Estados Unidos colheu bênçãos ao honrar a Deus,
à medida que a Igreja seguia o caminho de Cristo e crescia em seu
meio (lembra-se do Remanescente fiel?). Os Estados Unidos foram
abençoados muito antes da fundação do estado moderno de Israel
em 1948. No entanto, à medida que a América se afasta de suas raízes
cristãs, à medida que os vestígios restantes do Cristianismo em nossos
sistemas judiciário, político, social e econômico desaparecem,
compreenderemos como é perder o favor divino. Que as bênçãos
divinas alcancem a América devido à sua generosidade para com o
Senhor e Sua Igreja. Ainda assim, busquemos a misericórdia divina ao
nos desviarmos de Sua luz orientadora.

56
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Dez
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O Reajuntamento de Israel

A promessa duradoura de uma terra física para Israel na Terra


permanece intacta, conforme previsto repetidamente pela maioria dos
profetas do Antigo Testamento, sobre um "reagrupamento" das doze
tribos de Israel de volta à Terra por meio do Messias. Isso também é
chamado de "restauração de Israel". Embora o antigo Israel foi
exilado e disperso até os confins da terra (Diáspora) devido à sua
desobediência a Yahweh, mesmo assim, um dia o Senhor os traria de
volta à terra prometida ao seu ancestral, Abraão. As "dez tribos
perdidas" do exílio assírio, coletivamente conhecidas como Israel (o
reino do norte), agora na Diáspora por toda a Terra, um dia voltarão
e se unirão a Judá (o reino do sul, incluindo Benjamim). Esses
exilados que retornam serão chamados de "o remanescente", e o
Messias será o seu Pastor e Rei. Aqui estão algumas das muitas
passagens que reiteram essa importante profecia (Ezequiel 36:24;
Amós 9:9–15; Miquéias 2:12; Isaías 11:10-12).

O reagrupamento do remanescente de Israel é tão frequentemente


repetido no Antigo Testamento que é sem dúvida um dos temas mais
significativos das promessas de Deus ao Seu povo. Porque o
Dispensacionalista prioriza o Israel terreno da Antiga Aliança sobre o
Israel espiritual do Novo Testamento (a Igreja composta por judeus e
gentios), ele acredita que esse evento ainda está por acontecer em

57
nosso futuro. Claro, eles dizem, alguns judeus acreditaram em Jesus
no primeiro século; claro, Israel se tornou um estado moderno em
1948, com judeus retornando de "todas as nações". Mas, como um
todo, eles ainda não abraçaram Jesus como o Messias, então esse
reagrupamento e restauração devem estar em nosso futuro, tudo de
acordo com sua teologia.

Essa interpretação é perigosamente espiritual para os cristãos


terem. Por quê? Porque ela ignora completamente a Nova Aliança e,
de certa forma, a nega. Opera como se Jesus não tivesse cumprido as
próprias profecias que o Novo Testamento afirma que ele cumpriu.

Uma análise mais detalhada do contexto completo de cada uma


dessas passagens revela diversos elementos entrelaçados da profecia
que os apóstolos e escritores do Novo Testamento afirmam que
foram cumpridos na Nova Aliança:

1) O reagrupamento das doze tribos ocorreria com a vinda do


Messias;

2) Seria uma nova aliança;

3) Envolveria um remanescente de verdadeiros crentes dentre o


restante de Israel incrédulo;

4) Incluiria também gentios, juntamente com judeus; e

5) Deus habitaria no meio deles. Todos esses elementos acima


constituem a definição da Nova Aliança que Jesus, o Messias,
realizou em sua morte, ressurreição, ascensão e estabelecimento de
seu reino. Negar que Deus cumpriu essas promessas equivale a
negar o Evangelho. Não é de surpreender que alguns cristãos
sionistas estejam dizendo aos cristãos para não tentarem converter
judeus incrédulos ao Messias Jesus. Por que deveríamos, eles
argumentam, uma vez que os judeus terrenos ainda são o povo de
Deus e eles eventualmente acreditarão em Jesus mais tarde em seu

58
esquema de tempos finais? Isso é loucura baseada em uma
hermenêutica bizarra de hiperliteralismo que distorce todos os
cinco elementos do reagrupamento em oposição ao Evangelho que
se supõe que eles acreditem.

Vamos dar uma olhada mais detalhada em apenas algumas dessas


passagens sobre o reagrupamento e ver como o Novo Testamento
diz que elas foram cumpridas na inauguração do Evangelho da Nova
Aliança no primeiro século.

O livro de Atos dos Apóstolos


e o Início da Restauração
Em Atos capítulo 2, lemos sobre a primeira explosão do Evangelho
com o primeiro batismo do Espírito Santo. Foi aquilo que Jesus lhes
dissera para aguardar, o que os lançaria para o mundo todo com a
Boa Nova do Evangelho (Atos 1:4). O Pentecostes seria a
inauguração histórica da celestial Nova Aliança conquistada pela
morte, ressurreição e ascensão de Cristo. Seria o derramamento do
Espírito de Deus sobre Seu povo (Isaías 32:12-19; 44:5; Ezequiel
36:25-28; 37:14).

Os discípulos perguntaram a Jesus se aquele era o momento da


restauração de Israel (Atos 1:6), exatamente o que temos discutido
neste trabalho. Jesus lhes disse que a restauração de Israel começaria a
ocorrer quando o Espírito Santo viesse sobre eles, mas eles não
precisavam se preocupar com o momento (Atos 1:8).

E o que era essa restauração, senão o derramamento do Espírito de


Deus e a reunião dos judeus de todas as partes do mundo conhecido
em uma ressurreição espiritual e metafórica? (Ezequiel 37). Assim,
quando os discípulos foram batizados com o Espírito no Pentecostes
e começaram a falar em línguas estrangeiras, isso foi o cumprimento

59
do derramamento do Espírito de Deus. O derramamento é uma
forma de batismo (Hebreus 9:10, 13, 19, 21). Mas também foi o início
da reunião dos judeus, pois "estavam habitando em Jerusalém judeus,
homens piedosos, de todas as nações debaixo do céu" (Atos 2:5). A
lista de nações descritas (Atos 2:9-11) é nada menos que uma
amostragem representativa das setenta nações de Gênesis 10. Para o
antigo judeu, essas setenta eram "todas as nações" para as quais os
judeus estavam dispersos (Amós 9:9). Segundo o apóstolo Lucas, o
Pentecostes do ano 30 d.C. se transformou no início da reunião dos
judeus de todas as nações.

E essa reunião de judeus incluía os gentios. Era uma reunião de


dois corpos em um, que estava ocorrendo ao longo de todo o livro de
Atos. Observem esses trechos que dizem que o evangelismo em Atos
é a própria realização da promessa de reunir os gentios com os judeus
como Seu povo (Atos 15:13–19; Atos 26:23).

O "reagrupamento" baseou-se na unidade de crença em Jesus como


o Messias. Isaías havia profetizado que quando o Messias viesse pela
primeira vez (o rebento de Jessé), naquele mesmo dia, o Senhor
"recuperaria o remanescente que resta do seu povo", de todas as
nações. "Naquele dia", a raiz de Jessé seria "elevada (ressuscitada)
como um sinal para as nações", e "reuniria os banidos de Israel e
juntaria os dispersos de Judá dos quatro cantos da terra" (Isaías 11:1-
2, 10-12). De acordo com a profecia, a reunião do remanescente e
dos gentios ocorreria na primeira vinda do Messias, quando Jesus foi
ressuscitado, não na segunda vinda. Naquele dia da chegada e
ressurreição do Messias (sua elevação como sinal), ele atrairia tanto o
remanescente de Israel quanto os crentes gentios. Isso não começará
no nosso futuro, já começou no livro de Atos! Paulo comparou essa
elevação do sinal à ressurreição de Cristo e confirmou esta promessa
de Isaías como já tendo sido cumprida durante o seu ministério
(Romanos 15:8–9, 12).

60
Quais foram as promessas dadas aos patriarcas que Paulo diz terem
sido confirmadas na ressurreição de Cristo? Todas elas, incluindo o
reagrupamento (Atos 3:24, 32; 15:13-15; 24:24; 26:6). Na verdade, a
maioria das profecias sobre o reagrupamento de Israel quase sempre
inclui a inclusão dos gentios como um evento simultâneo (Veja mais
abaixo). Mas o ponto é que o livro de Romanos afirma explicitamente
que a profecia de Isaías sobre a reunião do remanescente juntamente
com os gentios já estava sendo cumprida em seu próprio tempo. Isso
não é um sistema escatológico exigindo que algo deva ser cumprido
no futuro; isso é o próprio Novo Testamento afirmando que a
profecia foi cumprida no primeiro século, naquele dia.

Uma das maneiras pelas quais os Dispensacionalistas tentam negar


o cumprimento do reagrupamento é sugerir que a inclusão dos
gentios foi cumprida em Cristo, mas a reunião de Israel ainda não foi
realizada. Eles argumentam que a "confirmação" das promessas aos
patriarcas não é o mesmo que "cumprimento". Deus apenas verificou
as promessas a Israel, mas não as cumpriu. Eles veem essa separação
porque não enxergam uma nação terrena chamada Israel reunida na
terra da forma como esperam. Mas o problema deles é que, como
vimos, a reunião dos judeus foi simultânea à reunião dos gentios. Se
voltarmos a Atos 2, a Sagrada Escritura novamente afirma que tanto
a reunião quanto a inclusão dos gentios estavam sendo cumpridas em
seu tempo.

Era o Final dos Dias da Antiga Aliança


De volta ao Pentecostes. Pedro então prega um sermão sobre como
eles estavam nos últimos dias, conforme descrito por Joel, um tempo
em que o "Dia do Senhor" estava chegando para Israel. Esse Dia do
Senhor foi a destruição de Jerusalém e do templo no ano 70 d.C. Isso
deve ser o caso porque Pedro afirma claramente que os "últimos
dias" e o "Dia do Senhor" de Joel estavam sendo cumpridos em 30

61
d.C., não em um futuro distante (Atos 2:16). Não poderia haver uma
afirmação mais explícita de que Joel 2 estava sendo cumprido em seu
tempo do que Pedro dizendo: "Isto é o que foi dito pelo profeta
Joel." (Atos 2:16). Isto é o que foi dito. Não "isto será" ou "isto é
como será". Isto é o que foi dito.

Então ele descreve as palavras de Joel sobre o derramamento do


Espírito de Deus, maravilhas nos céus e o Dia do Senhor. Alguns
intérpretes modernos dizem que apenas o derramamento do Espírito
foi cumprido. Mas Pedro diz que tudo estava sendo cumprido, e eles
estavam prestes a testemunhar o Dia do Senhor. Pedro não cita a
profecia completa. Não porque ele está citando apenas o que foi
cumprido, mas porque eles estavam apenas no início do
cumprimento dessa profecia completa, que era um todo coeso e
integrado. E adivinha só? Se você examinar mais detalhadamente essa
profecia de Joel, encontrará uma pequena joia logo após a seção
citada por Pedro:

Joel 3:1:

“Pois vejam, naqueles dias e naquela época, quando eu restaurar a


sorte de Judá e de Jerusalém”.

Assim, Pedro cita a profecia de Joel que liga a restauração aos


últimos dias e ao derramamento do Espírito de Deus, que Pedro disse
estar sendo cumprido bem em meio a eles, levando ao Dia do Senhor
(a destruição de Jerusalém e do templo). Os cristãos tendem a
presumir que o "Dia do Senhor" é uma referência a um julgamento
universal de fim dos tempos. Mas na Bíblia, não é assim. Na Bíblia, é
usado para julgamentos locais de Deus sobre nações, povos ou
cidades (Sofonias 1:7-15; Isaías 13:6-19). O Dia do Senhor ao qual
Pedro se refere não é o julgamento universal mundial, mas o
julgamento nacional e localizado de Deus sobre Jerusalém, que Jesus
também havia profetizado (Mateus 23:37-24:2; 21:37-45; 22:1-9;
Lucas 19:41-44).

62
Os apóstolos sabiam que estavam vivendo nos últimos dias no
primeiro século da era cristã. Eles afirmaram isso sem ambiguidade
(Hebreus 1:1; 9:26; 1ª Pedro 1:20; 4:7; 1ª Coríntios 10:11; 1ª João
2:18; 4:3). O Novo Testamento declara explicitamente que o primeiro
século foi marcado como sendo os últimos dias. Portanto, esses não
poderiam ter sido os últimos dias do mundo todo, mas sim os
últimos dias da Antiga Aliança. E uma parte desses últimos dias da
Antiga Aliança foi o reagrupamento de Israel na vinda do Messias.
Quando o Messias viesse pela primeira vez (não a segunda vez), ele
reuniria Israel e seria uma luz para as nações. Isaías faz essa conexão
no capítulo 49 (Isaías 49:6–8).

Primeiro, observe que trazer de volta os preservados de Israel tinha


a ver com torná-los uma luz para as nações ou gentios. Essa frase
tinha um significado messiânico. Quando o idoso Simeão, cheio do
Espírito Santo, viu o bebê Jesus no templo, ele citou Isaías 49:

“Pois os meus olhos já viram a tua salvação, 31 a qual preparaste


na presença de todos os povos, uma luz para revelação aos gentios,
e para glória do teu povo Israel”.
- Lucas 2:30–32

Quando os judeus rejeitaram a pregação do Evangelho do apóstolo


Paulo, ele concluiu que Isaías 49 estava se cumprindo em seu
ministério ao pregar o Evangelho aos gentios (Atos 13:46–47).

Portanto, o Novo Testamento afirma que Isaías 49:6-8 estava


sendo cumprido na vinda do Messias no primeiro século. Mas isso
abrange apenas metade da profecia cumprida? A passagem de Atos
13 menciona apenas a inclusão dos gentios, não o reagrupamento. Os
dispensacionalistas acreditam que Jesus é a luz para os gentios agora,
mas que o tempo de reagrupamento de Israel, o tempo de sua
salvação, está ainda no futuro. No entanto, há apenas um problema:
Paulo discorda deles. Paulo escreveu aos coríntios e cita Isaías 49

63
novamente, afirmando que o tempo de salvação de Israel (outra
expressão para o reagrupamento) estava ocorrendo em seu tempo (2ª
Coríntios 6:1–2).

Se voltarmos à passagem de Isaías que Paulo está citando, vemos


que o "tempo aceitável de salvação" inclui o reagrupamento na Terra!
Restaurar a terra e herdar os lugares desolados é precisamente o
cumprimento da Promessa de Deus de restaurá-los à Terra de sua
herança. No entanto, os autores do Novo Testamento afirmam que a
restauração é um retorno espiritual em Cristo, não um retorno físico
a uma terra física.

Devemos deixar de lado nossos próprios pressupostos modernos


tendenciosos sobre como o cumprimento ocorre e buscar
compreender qual é o significado de cumprimento para os apóstolos
e profetas do Novo Testamento. Se eles dizem que foi cumprido,
então precisamos ajustar nossa definição de cumprimento à definição
de cumprimento deles. E com muita frequência, o hiperliteralismo do
Dispensacionalismo moderno interpreta profecias de maneira literal,
quando elas são claramente metáforas poéticas ou interpretações
espirituais do hebraico antigo.

Conforme continuamos em Atos 2, vemos essa realização poética e


espiritual ainda mais presente.

O Trono de Davi
Após afirmar que os últimos dias estavam se cumprindo em seu
tempo, o apóstolo Pedro descreve Jesus como sentado no trono de
Davi em sua ressurreição e subsequente ascensão à mão direita de
Deus (Atos 2:30–33).

64
O que é importante sobre esse cumprimento é que o apóstolo do
Novo Testamento disse que Jesus foi entronizado como o Filho de
Davi em sua ressurreição e ascensão, não em um dia futuro ao nosso.
Isso é crucial porque as profecias do Antigo Testamento diziam que
o Filho de Davi seria entronizado no momento do reagrupamento do
remanescente! (Ezequiel 37:7–14, 24).

Ezequiel 34:11–24:

“Pois assim diz o Senhor DEUS: Assim como um pastor busca


seu rebanho quando está entre as ovelhas dispersas, assim eu
buscarei minhas ovelhas e as resgatarei de todos os lugares onde
foram dispersas.
Eu as trarei das nações, as reunirei dos países e as trarei para sua
própria terra...
E sobre elas eu estabelecerei um único pastor, meu servo Davi, e
ele as alimentará; ele as alimentará e será o seu pastor”.

A referência aqui a Davi é claramente um símbolo espiritual do


Messias. Davi não se levantará literalmente dos mortos, mas sim, um
Filho de Davi, ou seja, alguém de sua linhagem, será entronizado
como uma figura davídica de salvação: o Messias! Jesus não reinará de
um trono terreno de Davi no futuro, ele já está reinando agora no
trono de Davi no Céu! (Efésios 1:20-23).

Os hiperliterais querem acreditar que Jesus se sentará em um trono


literal de Davi na cidade geográfica terrena de Jerusalém em nosso
futuro. No entanto, Pedro, o apóstolo de Deus, declara, com a
própria autoridade de Deus, que Jesus foi assentado no trono de Davi
em sua ascensão. E Ezequiel diz que esse entronamento ocorre no
momento do reagrupamento de Israel e na inclusão dos gentios em
um povo com um único Pastor e Rei (Jeremias repete o mesmo
reagrupamento do remanescente no reinado do Messias em Jeremias
23:3-6).

65
Novamente, a união dos dois povos, judeus e gentios, em um só
povo já foi declarada por Jesus e seus apóstolos como tendo sido
cumprida. Jesus certamente alude a esta profecia de Ezequiel quando
se refere aos gentios como "ovelhas que não são deste aprisco" de
Israel, que ele tornaria uma só com os judeus (João 10:16).

O Senhor Jesus afirmou que ele era o cumprimento do pastor de


Ezequiel, unindo judeus e gentios em um só rebanho. Mas mais
importante ainda, o apóstolo Paulo escreve que essa união dos
gentios com os judeus (pela fé - Efésios 2:8) já ocorreu por meio da
morte e ressurreição de Cristo. A profecia de Ezequiel sobre o
reagrupamento de judeus e gentios de todas as nações em um único
rebanho de ovelhas de Deus é o Evangelho de Jesus Cristo! Efésios
afirma que o reagrupamento é cumprido na Igreja de Jesus Cristo:
judeus e gentios, um em Cristo.

Efésios 2:13-15:

“Mas, agora, em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, fostes
aproximados pelo sangue de Cristo.
Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos fez um; e, tendo
derribado a parede da separação que estava no meio, a inimizade,
aboliu, na sua carne, a lei dos mandamentos na forma de
ordenanças, para que dos dois criasse, em si mesmo, um novo
homem, fazendo a paz...”.

Para concluir minha breve análise do livro de Atos, vamos examinar


outro sermão proferido por Pedro em Atos 15. Neste caso, ele se
dirige a outros crentes que estavam lidando com os judaizantes. Esses
judaizantes estavam insistindo que os gentios precisavam obedecer às
leis de Moisés para serem considerados o povo escolhido de Deus. O
apóstolo Tiago então cita as palavras do profeta Amós para justificar
a inclusão dos gentios:

Atos 15:13–19:

66
“Tiago falou, dizendo: "Irmãos, escutem-me.
Simão relatou como Deus inicialmente se voltou aos gentios para
estabelecer um povo para o Seu nome.
Isso está de acordo com as palavras dos profetas, como está
escrito: 'Depois disso, retornarei e reconstruirei a tenda caída de
Davi. Vou reparar suas ruínas e restaurá-la, para que o restante da
humanidade busque o Senhor—sim, até mesmo todos os gentios
que são chamados pelo Meu nome.'
Isso está em conformidade com revelações antigas.'
Portanto, concluo que não devemos impor fardos aos gentios que
se voltam para Deus”.

A reconstrução metafórica da tenda ou tabernáculo de Davi


simboliza a reunião de Israel por meio do Messias (Jesus).
Notavelmente, essa metáfora está intimamente ligada à incorporação
dos gentios. Os dois conceitos estão perpetuamente entrelaçados.
Deus reunirá o remanescente de Israel das nações e os unirá aos
gentios crentes. Tiago não indica que a inclusão dos gentios está
cumprida enquanto a reconstrução do tabernáculo de Davi não está.
Ele cita o contexto completo como cumprido, afirmando
explicitamente que Deus adotar os gentios como Seu povo com Seu
nome significa o cumprimento da restauração de Israel e do
remanescente, que coletivamente constituem a restauração do
governo davídico do Messias.

Aqui está a profecia original de Amós que Tiago mencionou.


Observe como a reunião de Israel das nações e sua restauração são
componentes de um todo interconectado que também engloba os
gentios:

Amós 9:9–15:

“Pois eis que darei ordens e abalarei a casa de Israel entre todas as
nações, assim como alguém sacode com uma peneira…
'Naquele dia, vou erguer a cabana de Davi que caiu, reparar suas
brechas, erguer suas ruínas e reconstruí-la como nos dias antigos.

67
Eles possuirão o remanescente de Edom e todas as nações que
são chamadas pelo Meu nome'...
Restaurarei a fortuna do Meu povo Israel; eles reconstruirão
cidades arruinadas e as habitarão...
Eu os plantarei em sua terra, e eles nunca mais serão arrancados
da terra que lhes dei', declara o SENHOR, o seu Deus”.

Então, por que o Novo Testamento não enfatiza a terra física para
os judeus? Isso ocorre porque o Evangelho do Reino de Deus
transformou a terra física de Israel em uma representação de toda a
Terra (planeta), como explicado no Capítulo 5. Além disso, o
"desejo" de Abraão e dos profetas por uma pátria foi revelado no
Novo Testamento como cumprido em uma pátria celestial, cidade e
templo, em vez de lugares físicos. No trecho inicial de Hebreus 11,
observe como a terra prometida é descrita como "herança" de Abraão
(Hebreus 11:8-10).

O autor de Hebreus então explica que a terra prometida como


herança, essa mesma terra prometida a Abraão, Isaque e Jacó, é
espiritualizada ou transformada no Novo Testamento em uma
herança de uma cidade celestial e de uma terra celestial da Nova
Aliança (Hebreus 9:15). Hebreus 11:14–16 expande ainda mais, pois
Deus preparou uma cidade para eles - uma cidade celestial, como
mencionado em Hebreus 12:22-24.

No Novo Testamento, a terra sagrada assume uma essência


celestial, não terrena; a cidade venerada de Jerusalém se torna uma
cidade celestial, não terrena; o templo sagrado se transforma em um
templo celestial, não terreno. As representações terrenas da Antiga
Aliança são concretizadas como verdades celestiais na espiritualidade
da Nova Aliança (Hebreus 8:5-13). O Novo Testamento transforma a
promessa da terra na nova aliança em Cristo.

A afirmação dos autodenominados literalistas de que


"espiritualizar" profecias carece de legitimidade como um método

68
hermenêutico (de interpretação) é uma contradição flagrante à Bíblia.
O Novo Testamento está repleto de "espiritualização". A crucificação
de Cristo como o "Cordeiro de Deus" foi uma interpretação espiritual
dos sacrifícios de cordeiros físicos no templo terreno. Jesus era uma
representação figurativa de Davi, não o Davi histórico literal (Atos
13:34-37). O Corpo de Cristo simboliza a morada espiritualizada de
Deus (Efésios 2:19-22). Além disso, o Novo Testamento proclama
que a congregação unida de crentes judeus e gentios sob a Nova
Aliança também representa o cumprimento espiritualizado da
promessa da terra. O Monte Sião, Jerusalém e o templo da Antiga
Aliança passaram por um processo de espiritualização, tornando-se as
realidades celestiais da Nova Aliança: o Monte Sião celestial, a
Jerusalém celestial e o templo celestial (Hebreus 12:22–24; Efésio 2:9-
12).

De acordo com o Novo Testamento, a Igreja da Nova Aliança


representa a terra prometida celestial. A Igreja da Nova Aliança
simboliza a cidade celestial de Jerusalém, e o corpo de Cristo na terra
é visto como o templo celestial reconstruído. A Nova Aliança
significa a criação de novos céus e uma nova terra, uma metáfora
consistente com as Escrituras (2 Coríntios 5:17).

Agora, vamos focar em um ponto específico do trecho de Efésios


mencionado anteriormente. Ele destaca que, por meio de Cristo, os
crentes estão "sendo edificados juntos para serem morada de Deus
no Espírito". Isso não apenas descreve a Igreja de Jesus Cristo como
o novo templo sagrado de Deus na terra, mas também alude à
realização profética de Israel e os gentios sendo unidos sob a Nova
Aliança. Permita-me elaborar mais sobre isso.

Em outro contexto, Paulo utiliza uma analogia similar de um


templo espiritual onde Deus habita. Notavelmente, ele cita
intencionalmente o Antigo Testamento:

2ª Coríntios 6:16:

69
“Porque nós somos santuário do Deus vivo; como Deus disse:
"Habitarei e andarei entre eles; serei o seu Deus, e eles serão o meu
povo”.

Jeremias 31:31-33 conecta essa presença divina entre o povo de


Deus com a Nova Aliança. Além disso, Ezequiel 37-38 também
associa essa habitação da Nova Aliança com a reunião de Israel. Esses
elementos interligados formam um conceito unificado. Vamos
explorar essa profecia com um exame mais detalhado.

Ezequiel 37:7-14 apresenta uma visão que Ezequiel recebeu,


retratando a reunião e restauração de Israel como uma grande
ressurreição. Conforme ele continua a detalhar a extensão completa
dessa restauração, ele registra as seguintes palavras proferidas por
Deus em Ezequiel 37:21–28.

Em uma ampliação daquela profecia mencionada anteriormente no


texto, Deus acrescenta outra promessa de que Ele colocará o Seu
Espírito dentro deles e dará a eles um coração de carne para substituir
o coração de pedra (lembre-se do "derramamento do Espírito"
cumprido em Atos?).

Em todos os aspectos, essa profecia integral trata da chegada da


Nova Aliança, e não de alguma reinstituição distante futura das
sombras da Antiga Aliança, como o templo físico e a terra. Cada um
dos elementos constituintes da profecia encontra cumprimento nas
Escrituras do Novo Testamento durante o primeiro século. Vamos
analisar esses elementos:

A reunião de Israel de todas as nações (v. 21): Como já explicado


anteriormente, isso teve início por volta de 30 d.C. em Pentecostes
(Atos 2). A Nova Aliança foi cumprida no primeiro século.

Uma nação com um único rei, Davi (v. 24-25): Já foi


detalhadamente explicado acima que essa referência messiânica era

70
Jesus, sentado no trono de Davi em sua ressurreição e ascensão (Atos
2:30-33), unindo assim os seus rebanhos (João 10:16). Isso é a Nova
Aliança cumprida no primeiro século.

A aliança eterna de paz com Israel (v. 26): O Novo Testamento


confirma que essa aliança eterna de paz é a Nova Aliança trazida por
Cristo e cumprida durante o primeiro século. Hebreus 13:20 declara:

"O Deus da paz, que trouxe dos mortos a Jesus, nosso Senhor, o
grande Pastor das ovelhas, pelo sangue da eterna aliança,"

Colossenses 1:20 também afirma:

"E por meio dele reconciliasse consigo todas as coisas, tanto as


que estão na terra, como as que estão no céu, estabelecendo a paz
pelo seu sangue derramado na cruz."

O local de habitação de Deus estará com eles (v. 27-28): Em várias


passagens do Novo Testamento, a Igreja de crentes em Jesus é
descrita como o templo de Deus (1 Coríntios 3:16-17; Efésios 2:19-
22), mas Paulo explicitamente menciona a profecia de Ezequiel sobre
a reunião e a habitação de Deus, cumprida na Igreja da Nova Aliança,
começando no primeiro século (2ª Coríntios 6:16).

Remover o coração de pedra e substituí-lo por um coração de carne


(36:26): Paulo escreveu que essa promessa de substituição de coração
foi cumprida com a chegada da Nova Aliança de Cristo no primeiro
século (2ª Coríntios 3:3).

Deus colocará o Seu Espírito neles e os fará obedecer (36:27). Ele


será o Deus deles e eles serão o Seu povo (36:27): Não apenas o
Antigo Testamento associa essas duas frases à Nova Aliança
(Jeremias 31:31-34), mas também o Novo Testamento afirma que
essa promessa foi cumprida a partir do primeiro século com a

71
chegada da Nova Aliança (Efésios 1:13 - ver também João 7:37-39, 1ª
Coríntios 6:19).

Leia Hebreus 8:6–13 e note como o escritor autorizado pelo


Espírito Santo de Hebreus afirma claramente que a promessa à casa
de Israel e Judá é cumprida com a chegada da Nova Aliança no
primeiro século, e não em algum futuro ainda por vir. Deus coloca o
Seu Espírito em todos os crentes em Jesus, eles são Seu povo da
Nova Aliança.

Os dispensacionalistas alegam que a reunião dos gentios aconteceu


com a chegada de Jesus, mas a reunião prometida de Judá e Israel
ainda está por vir. No entanto, o Novo Testamento afirma
repetidamente que a Nova Aliança cumpre a promessa de reunião de
Judá e Israel. Se o Novo Testamento declara um cumprimento, negá-
lo é anti-bíblico.

Os capítulos 36 e 37 de Ezequiel são ricos em temas e promessas


da chegada da Nova Aliança do Messias, não de uma segunda vinda e
restauração das sombras da Antiga Aliança. É importante lembrar que
o Antigo Testamento não aborda a segunda vinda do Messias. Para
os profetas, era sobre a primeira vinda. A doutrina da segunda vinda é
do Novo Testamento, não do Antigo.

Os profetas esperavam que o Messias cumprisse as promessas e


iniciasse a era messiânica. A Nova Aliança é essa era, incluindo Jesus
no trono de Davi, a reunião de Israel, a inclusão dos gentios, o
derramamento do Espírito Santo, a nova aliança eterna e a
transformação dos corações. Tudo isso se cumpre em Cristo.

Quando cristãos leem essas profecias como se fossem cumpridas de


forma fragmentada, com a última parte na segunda vinda de Cristo,
eles impõem sua teologia preconcebida em um texto já cumprido,
ignorando o contexto original da Antiga Aliança.

72
Surge a pergunta: Como Israel pôde ser reunido no primeiro século,
quando muitos rejeitaram Jesus? Isso nos leva à teologia do
remanescente.

O autor destaca que a reunião de Israel na Terra não se aplica a


todos os membros, mas a um pequeno grupo fiel. Ele cita profecias
que conectam o remanescente aos gentios. Deus sempre priorizou o
remanescente verdadeiro. As promessas eram para eles, não para os
incrédulos. O Novo Testamento confirma isso, definindo o
remanescente como os seguidores fiéis de Deus. Ser parte do Israel
físico não significava ser escolhido. A fé era mais importante.

Jesus deixou claro que os judeus incrédulos não eram


verdadeiramente considerados filhos de Abraão, pois não
reconheciam nEle o Messias. Ele chegou até a chamar esses judeus de
opostos aos filhos de Abraão, os chamando de filhos do diabo (João
8:39-44). Sim, você leu corretamente. Jesus se referiu aos
descendentes físicos de Abraão que não aceitavam a sua messianidade
como filhos do diabo.

De acordo com o Novo Testamento, as promessas de Deus sempre


estiveram voltadas aos fiéis, não à nação como um todo. Os demais
integrantes da nação apenas se beneficiavam, iam junto, por estarem
fisicamente ligados ao remanescente que Deus abençoava.

Essa teologia do remanescente é explicada por Paulo em Romanos


11. Ele narra a história de Elias e os profetas de Baal no Monte
Carmelo. Elias desespera-se, usando a típica hipérbole dos profetas, e
declara que ele é o único judeu fiel restante em meio a Israel
dominado por idólatras. Deus o corrige, dizendo que isso não é
verdade. Na realidade, Deus ainda mantém sete mil homens que não
se curvaram perante Baal (Romanos 11:1-4).

Paulo então conclui em Romanos 11:5–7 que, na época em que


viveu, havia um grupo seleto de eleitos em Israel, o que contrasta

73
com a noção de que todos os judeus seriam parte desse grupo. Esse
remanescente, sem dúvida, consistia dos crentes cristãos em Jesus,
escolhidos pela graça divina através do Evangelho (Efésios 2:8-10).

No entanto, Paulo não se contenta em apenas afirmar a existência


desse remanescente; ele vai além e chega a concluir que esses crentes
fiéis são o cumprimento das profecias de reunião de Israel
mencionadas nos trechos de Oseias e Isaías citados anteriormente.

Ao citar Romanos 9:25-27, Paulo apresenta a ideia de que os


crentes gentios e judeus em Cristo, unidos pelo mistério do
Evangelho, representam o cumprimento das profecias de um
remanescente restaurado nos últimos dias, profetizadas por Isaías e
Oseias (Efésios 3:6). A ideia de "Israel" em Romanos 11 refere-se ao
remanescente de fiéis espiritualmente, e não à nação física ou terrena
chamada Israel. É importante recordar que "nem todos os
descendentes de Israel pertencem a Israel" (Romanos 9:6-7). Judeus
terrenos descrentes são comparados a ramos cortados da raiz
espiritual de Israel, enquanto crentes gentios são incorporados a essa
raiz por meio da fé (Romanos 11:13-24). Portanto, quando Paulo
afirma que "todo Israel será salvo", ele não se refere à nação física de
Israel, mas sim ao remanescente espiritual de fiéis, tanto judeus
quanto gentios.

Logo após essa definição do remanescente, Paulo cita outra


profecia messiânica que se refere à primeira vinda do Messias
(Romanos 11:26–27). Aqueles que interpretam "Israel" como uma
nação geopolítica terrena em vez de um remanescente espiritualmente
fiel têm que aplicar esse versículo a uma futura segunda vinda de
Cristo. No entanto, o problema é que é a primeira vinda do Messias
trouxe a Nova Aliança que salva judeus e gentios pela fé. E lembre-
se, a teologia do remanescente prova que Deus estava falando do
verdadeiro Israel espiritual, não dos descendentes físicos de Abraão;
os crentes em Cristo. A aliança que remove os pecados de Israel é a
Nova Aliança (Jeremias 31:31-34). "Todo Israel será salvo" não é uma

74
profecia futura sobre uma nação terrena, mas a declaração do
Evangelho: "Dessa maneira [pela fé em Cristo], todo Israel [judeus e
gentios crentes] será salvo."

Portanto, se apenas um remanescente é salvo, o que acontece com


o restante de Israel incrédulo? Jesus e os apóstolos são claros em sua
proclamação de que o restante da nação judaica será julgado e
excluído do reino da Nova Aliança. Esse julgamento resultou na
destruição de sua cidade sagrada e templo no ano 70 d.C.

Isaías também profetizou essa destruição dos judeus incrédulos em


correlação com a reunião do remanescente na festa do reino do
Messias (a Nova Aliança) - Isaías 65:8–16.

O Senhor Jesus compartilhou três histórias que ecoaram o tema de


Isaías sobre destruição, remanescente e festa, referindo-se à iminente
devastação de Jerusalém e do templo no ano 70 d.C. Deus preserva o
seu remanescente enquanto castiga o restante. A parábola dos
agricultores descreve os judeus do primeiro século (cultivadores da
vinha) assassinando o Filho de Deus. Jesus conclui que Deus (o dono
da vinha) virá e "eliminará os malfeitores e arrendará a vinha a outros
trabalhadores que lhe deem frutos apropriados no tempo" (Mateus
21:41).

Na parábola do banquete de casamento, Jesus compara o reino de


Deus a um banquete de casamento de um rei, e o Evangelho ao
convite para o banquete. Porém, os judeus incrédulos do primeiro
século não aceitaram o convite do casamento (o Evangelho), optando
por matar os servos de Deus que os chamaram (profetas e apóstolos).
Ele conclui, "O rei ficou irado, e enviou os seus soldados, que
destruíram aqueles assassinos e incendiaram a cidade deles
[Jerusalém]." Então, o rei (Deus) disse aos seus servos (crentes
judeus): 'O banquete está pronto, mas os convidados não eram
dignos'" (Mateus 22:7-8). Ele então estende o convite a qualquer
pessoa que pudessem encontrar (os gentios).

75
A terceira parábola do dono da casa compara os judeus incrédulos
àqueles que pensam conhecer a Deus, mas na realidade não o
conhecem, sendo rejeitados no banquete do reino que está por vir (a
consumação da Nova Aliança). Esse banquete do reino faz parte da
reunião do remanescente dos quatro cantos da terra (Isaías 43:5-7 -
Lucas 13:27–29).

Essas parábolas reforçam a previsão de Jesus sobre a destruição do


templo no ano 70 d.C. no seu Discurso no Monte das Oliveiras
(Mateus 23:37–24:2).

O apóstolo Paulo reforçou esse afastamento do Israel incrédulo ao


contar sua própria alegoria sobre os filhos de Abraão de duas esposas
diferentes, Sara e Hagar, em Gálatas 4:21-31. Como já explicado
acima no capítulo 3 sobre os filhos de Abraão, Paulo comparou os
judeus incrédulos do primeiro século a meros filhos do Velho Pacto
na carne, mas não herdeiros da Promessa a Abraão no Novo Pacto
(v. 24-26). Os filhos da promessa (o remanescente) que ele descreve
são os judeus crentes em Jesus, que estavam sendo perseguidos pelos
judeus incrédulos de sua época (v. 30-31). Os cristãos judeus eram
filhos da mulher livre, e os judeus incrédulos eram filhos da mulher
escrava. E esses judeus incrédulos seriam excluídos da herança do
reino de Deus (herança como uma metáfora para a promessa da
Terra), enquanto somente o remanescente herdaria o reino (Gálatas
4:30–31).

Assim, a entrega divina do remanescente sempre esteve associada à


aliança de Israel e também à união dos gentios, assim como ao
julgamento dos judeus incrédulos restantes e sua expulsão. Deus
estabeleceria seu reinado por meio da Nova Aliança, julgaria os
judeus que rejeitaram o Messias, destruindo a cidade e o templo,
porém resgataria os crentes remanescentes, ou seja, os cristãos. Isso
se desenrolou precisamente no ano 70 d.C., quando as forças

76
romanas arrasaram Jerusalém e os seguidores de Cristo encontraram
refúgio nas montanhas.

O entendimento do livro do Apocalipse é uma tarefa intrincada.


Focar em qualquer elemento específico levanta inúmeras questões
sobre outros aspectos do livro e sua trama intricada de eventos e
teologia. Entretanto, desejo concluir este capítulo sobre a união do
remanescente ao abordar sua presença na conclusão escatológica do
Novo Testamento.

Os 14.000
Eu compartilho da interpretação preterista parcial do Apocalipse, o
que implica que sua principal intenção não é prever o fim dos tempos
ou o fim do mundo, mas sim pronunciar o julgamento definitivo
sobre os judeus por terem rejeitado e crucificado seu Messias
(Apocalipse 1:7). Além disso, o livro afirma o rompimento da Antiga
Aliança de Israel ao casamento de Deus com a Nova Noiva, a aliança
de Cristo (Apocalipse 21). Esses objetivos são alcançados ao prever a
destruição de Jerusalém e do templo pelas legiões romanas de Tito no
ano 70 d.C. Ao eliminar os elementos terrenos da Antiga Aliança,
Deus efetivamente estava dissolvendo-a e substituindo-a pela Nova
Aliança no contexto histórico real. Portanto, o apóstolo João estava
advertindo os cristãos judeus, que ele considerava como o
remanescente escolhido de Deus, simbolizados pelos 144.000, a
deixar Jerusalém e suas cidades vizinhas antes da ira divina atingir os
incrédulos.

Dentro desse contexto, os 144.000 indivíduos representantes das


doze tribos são a concretização do reagrupamento dos crentes
remanescentes de Israel (Apocalipse 7:2-4).

77
Está além do escopo deste e-book explicar em detalhes cada
aspecto dessa passagem. No entanto, deixe-me apenas indicar que o
selamento dos 144.000 simboliza a marca de propriedade e proteção
divina sobre eles, contrastando com aqueles que estão condenados e
selados com a Marca da Besta (Apocalipse 13:16-18). A menção às
doze tribos não apenas aponta para o reagrupamento do
remanescente de Jerusalém/Monte Sião (Isaías 37:31-32), mas
também denota os cristãos judeus em Israel que foram preservados
da ira que se abateu sobre a cidade e a terra no ano 70 d.C. Eles
foram aqueles que fugiram para as montanhas para escapar da
abominação da desolação, conforme instruído por Jesus (Mateus
24:15-21). Além disso, os 144.000 são chamados de "primícias para
Deus e para o Cordeiro" (Apocalipse 14:4), uma expressão que sugere
que eles foram os primeiros convertidos cristãos daquela geração em
Jerusalém (Atos 2).

É claro que esse remanescente não é exaustivo, já que o texto logo


após essa descrição introduz a inclusão dos gentios, um elemento
frequentemente associado com o remanescente nas profecias do
Antigo Testamento.

Apocalipse 7:9–14 relata uma grande multidão proveniente de todas


as nações, tribos, povos e línguas, vestidos de vestes brancas e
segurando palmas nas mãos, adorando diante do trono e do Cordeiro.
Eles proclamam em voz alta que a salvação pertence a Deus no trono
e ao Cordeiro. E o texto continua: "Estes são os que vêm da grande
tribulação. Lavaram as suas vestes e as branquearam no sangue do
Cordeiro".

Os seguidores de Jesus, representados por essa multidão diversa de


todas as nações e tribos, incluindo os gentios, se unem em um só
corpo, como ilustrado em Efésios 3:4-6. A reunião dos crentes
remanescentes de Israel e a união dos gentios frequentemente
aparecem juntas nas Escrituras, retratando dois aspectos da obra de
Deus que não estão separados no tempo, como defendido pelo

78
Dispensacionalismo. Em vez disso, são duas ações intrinsecamente
relacionadas do único Evangelho.

É notável que os 144.000 tenham saído da "grande tribulação".


Muitos cristãos tendem a interpretar isso com base na suposição de
que a tribulação é um evento futuro. No entanto, a Escritura indica
que a tribulação ocorreu no passado, no tempo da Igreja primitiva. O
apóstolo João afirmou que a grande tribulação estava ocorrendo já no
primeiro século, e ele experimentou isso junto com os cristãos
gentios em todo o império romano, especialmente nas igrejas da Ásia
Menor (Apocalipse 2-3; Apocalipse 1:9).

Não é possível encontrar uma perspectiva mais fundamentada nas


Escrituras do que esta. O Apóstolo João afirma que estava
enfrentando a Tribulação enquanto estava redigindo o Livro da
Revelação. A Tribulação não é um evento que aguarda nosso futuro;
ela já ocorreu nos dias de João.

Por volta do ano 65 d.C., a perseguição aos cristãos por parte de


Nero estava em pleno vigor, logo seguida pela investida romana e
pela subsequente devastação da terra de Israel, de sua cidade sagrada,
Jerusalém, e do templo, ocorrida no ano 70 d.C. No entanto, há uma
pergunta que surge: Jesus não afirmou que a Tribulação seria "como
nunca houve desde o princípio do mundo até agora, nem jamais
haverá"? Como, então, João poderia estar fazendo referência ao
primeiro século se aquele período não foi a maior de todas as
tribulações históricas?

A resposta é notavelmente simples. Essa frase é um exemplo


comum de hipérbole hebraica, utilizada para descrever as implicações
espirituais de um evento histórico. Daniel empregou exatamente a
mesma expressão ao narrar a primeira destruição de Jerusalém e do
templo em 586 a.C. ("Porque sob todo o céu não se fez nada
semelhante ao que se fez a Jerusalém." - Daniel 9:12). De maneira
semelhante, Ezequiel também utilizou essa mesma hipérbole ao

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relatar a destruição da cidade e do templo ("E por causa de todas as
abominações [de Israel], farei com você o que nunca fiz e nunca mais
farei." - Ezequiel 5:9).

Isso, então, nos leva a questionar: Deus está se contradizendo?


Seria a destruição inicial da cidade e do templo mais significativa do
que aquela ocorrida no ano 70 d.C.? Claro que não. Esse uso da
hipérbole é uma forma de descrever o mesmo tipo de devastação
espiritual que ocorreu em ambos os períodos. Pode ser comparado ao
nosso uso cotidiano da expressão: "Nunca vi nada igual!" quando, na
realidade, já vimos situações semelhantes antes.

Não há nada que traga consequências espirituais mais sérias do que


a destruição da encarnação da aliança de Deus com Israel.

Fugindo para as montanhas


Houve um comando adicional. Antes de Jesus alertar sobre a
iminente grande tribulação que viria durante a vida de seus
contemporâneos (Mateus 23:36; 24:34), Ele instruiu os cristãos judeus
que viviam na Judéia a fugirem para as montanhas (Mateus 24:16–20).

A ideia de fugir para as montanhas não seria viável em nosso


contexto moderno, onde não há zonas geográficas consideradas
"seguras" em Israel. No entanto, no primeiro século, quando os
romanos sitiaram Jerusalém com suas legiões, havia, de fato, locais
seguros. Era sensato para os cristãos deixarem a cidade e se
refugiarem nas montanhas para escapar da iminente ira que se
aproximava.

E é precisamente isso que eles fizeram. Eusébio, um respeitado


historiador da igreja antiga, relata:

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“Mas o povo da igreja em Jerusalém recebeu revelação, dada a
homens aprovados lá, antes da guerra, de deixar a cidade e morar
em uma certa cidade da Peréia chamada Pela. E quando aqueles que
acreditavam em Cristo vieram de Jerusalém para lá, então, como se
a verdadeira cidade dos judeus e toda a região da Judéia estivessem
completamente privadas de homens santos, o julgamento de Deus
finalmente alcançou aqueles que haviam perpetrado tais atrocidades
contra Cristo e seus apóstolos, e totalmente destruiu aquela geração
ímpia”.

Isso se encaixa bem com a interpretação "preterista" do Livro de


Apocalipse, que considera seu cumprimento no passado. O objetivo
primordial do Apocalipse não é prever o fim dos tempos ou o fim do
mundo, mas sim anunciar o julgamento definitivo sobre os judeus
por rejeitarem e matarem seu Messias (Apocalipse 1:7), e afirmar a
transição da Antiga Aliança de Israel para o casamento de Deus com
a noiva de Cristo, a Nova Aliança (Apocalipse 21). Isso foi realizado
por meio da destruição de Jerusalém e do templo pelas legiões
romanas de Tito no ano 70 d.C. Ao eliminar os elementos da Antiga
Aliança, Deus estava efetivamente dissolvendo aquela aliança antiga e
substituindo-a pela Nova Aliança no contexto histórico real.

Consequentemente, os 144.000 representavam os cristãos judeus


que viviam em Israel durante o primeiro século, com destaque para
Jerusalém. Eles conseguiram escapar da ira de Deus ao abandonar a
cidade e buscar refúgio nas montanhas antes da destruição perpetrada
pelos romanos no ano 70 d.C. A precisão numérica dos 144.000 é
uma questão secundária, pois seu significado simbólico é indiscutível.
Embora a combinação bíblica de números, como as 12 tribos
multiplicadas pelos 12 apóstolos e então multiplicada por 1000 (um
número que simboliza plenitude), seja tão evidente que é difícil negar.

A Tribulação já estava em curso quando João escreveu o Livro de


Apocalipse. A congregação do remanescente perseguido, junto com
os gentios em todo o império, marcou o começo da formação do

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Corpo de Cristo, que rapidamente espalharia o Evangelho além das
fronteiras de Jerusalém e Samaria até os confins da terra (Atos 1:8).
Especialmente na terra santa, os cristãos foram poupados, enquanto
o Israel terreno foi submetido a julgamento. Claro, há nuances a
considerar, mas pelo menos o leitor pode compreender o esboço
geral da narrativa impactante e como tudo se encaixa no
cumprimento da promessa de reunir o remanescente.

Essa breve exploração da teologia da congregação do remanescente


de Israel destaca quão bela e gloriosa é a Nova Aliança, e como a
terra celestial, a cidade e o templo estão incorporados ao Corpo de
Cristo, a sua Igreja. A Bíblia não é um texto que promove racismo,
sustentando a supremacia eterna de uma nação geopolítica ou a
ascendência casual de uma única etnia. Ao longo do Antigo
Testamento, Deus previu que a Antiga Aliança seria eventualmente
substituída por uma Nova Aliança que abrangeria pessoas de todas as
tribos e nações, unindo-as em aliança com o Messias de toda a terra.
Amém.

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