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Editora Reflexão, 2020 – Todos os direitos reservados.

© Roney Cozzer

Editora Executiva: Caroline Dias de Freitas


Revisão: Samuel Candido Henrique e Nilcelene Candido Henrique
Capa: César Oliveira
Diagramação e Projeto Gráfico: Estúdio Caverna
Impressão: Meta Solution

1ª Edição – Novembro/2020

DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)


CÂMARA BRASILEIRA DO LIVRO, SP, BRASIL
COZZER; Roney.
Enciclopédia Teológica numa perspectiva transdisciplinar - Volume 1. Editora Reflexão,
São Paulo: 2020.

ISBN: 978-85-8088-442-5
1006 páginas.

1. Enciclopédia 2. Artigos 3. Teologia 4. Verbetes I. Título. II. Série.

06‑6456 CDD‑809
Índices para catálogo sistemático:
1. Enciclopédia 2. Teologia 3.Bíblia

Editora Reflexão
Rua Fernão Marques, 226 ­‑ Vila Graciosa ­‑ 03160­‑030 São Paulo
Fone: (11) 4107­‑6068 / 3477­‑6709
www.editorareflexao.com.br
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Recomendar a obra do Professor Roney Cozzer é um prazer, pois ele se
mostra, nestas páginas, como alguém extremamente capacitado e, ao mesmo tem-
po, reconhecedor de que suas habilidades vêm de Deus. Um trabalho de fôlego
como este, transdisciplinar, de teor pentecostal, escrito com esmero, em lingua-
gem pessoal, mas técnico onde necessário, é uma grande contribuição para os
interessados em boa teologia. Além do adequado embasamento teológico, o autor
também nos brinda com excelentes auxílios práticos, como, por exemplo, esboços
de mensagens bíblicas em estilo próprio. Destaco ainda a importância do que o
autor chamou de índice temático, uma utilíssima relação de obras sobre temas
variados, o que será de grande valia para os pesquisadores. Sem dúvida, esta é uma
obra que merece um lugar especial em todas as bibliotecas.

Antônio Renato Gusso, pastor, escritor e professor de Teolo-


gia. Também é Mestre e Doutor em Ciências da Religião, e Mes-
tre, Doutor e Pós-doutor em Teologia. Professor e Pró-reitor nas
Faculdades Batista do Paraná (FABAPAR).

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Enciclopédias visam trazer informação rápida e confiável ao leitor. E é isso
que a obra de Roney Cozzer faz. Ela traz ao leitor informação sobre um vasto
campo de conhecimento da teologia. Faz isso de maneira transdisciplinar. Mas
não é só isso. O leitor percebe nos artigos o cuidado pastoral de quem escreve e
sua paixão pelo estudo da Palavra de Deus. Posso imaginar a ajuda que uma obra
como essa vai representar aos milhares de Pastores e Líderes da Igreja Brasileira
que precisam ensinar em suas Igrejas e não tem tempo para fazer a sua pesquisa
mais aprofundada. Esta Enciclopédia será para eles uma ferramenta de grande
ajuda que lhes abrirá a porta do conhecimento para temas complexos e difíceis. A
Bibliografia indicada ao longo das páginas é outra ferramenta muito útil pois in-
dica a continuação dos estudos que serão iniciados com a leitura da Enciclopédia.

Rev. Erní Walter Seibert, escritor, articulista, Mestre em Teo-


logia pelo Seminário Concórdia de São Leopoldo (RS), Doutor
em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Ber-
nardo do Campo (SP), MBA em Marketing de Serviços pela Fun-
dação Instituto de Administração da Universidade de São Paulo
(USP) e Diretor Executivo da Sociedade Bíblica do Brasil (SBB). 

É com alegria que recomendo a Enciclopédia construída pelo amigo Pro-


fessor Roney Cozzer. Sua habilidade empreendedora, rica e diversa formação aca-
dêmica é percebida nos prazerosos textos bem redigidos e de fácil leitura presentes
ao longo das páginas desta obra. O leitor ávido pelo conhecimento atualizado
terá neste conjunto de textos a oportunidade de ter contato com temas multidis-
ciplinares, fruto de intensa labuta de um decênio de produção. Ao público que se
ressente da existência de uma Enciclopédia que vá além de textos permeados pelo
rigor acadêmico científico, às vezes frios e sisudos, o presente trabalho, sem dúvi-
da, atende adequadamente, e com profundidade, esta necessidade, pois transbor-
da de paixão e calor redacional.

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Marco Antônio de Oliveira, pastor, professor de Teologia e
Filosofia, graduado e licenciado em Teologia, Doutor em Teo-
logia (PUC-RJ) e membro do Banco Nacional de Avaliadores do
Sistema de Ensino Superior para os Cursos de Filosofia, Teologia
e Ciência da Religião (BASIs/Inep/MEC/Brasil).

Nesta obra, o professor Roney Cozzer nos convida a fazer parte de seus
estudos e a partilhar de suas reflexões acerca de variados temas necessários à pro-
dução de uma cultura cristã. Com maestria transdisciplinar, ele debate assuntos
ligados à religião, educação e ciências. Foram anos de pesquisas! Com humilda-
de, ele se pergunta: por que mais uma enciclopédia teológica e devocional? Sua
resposta, bem objetiva, traça sua intenção: compartilhar e multiplicar sua singela
contribuição para o conhecimento. Esta obra interessa a todos que buscam, atra-
vés do conhecimento, um mundo melhor. Rubem Alves dizia: “as palavras só têm
sentido se nos ajudam a ver um mundo melhor”. É isso! Acredito que os leitores
serão edificados com esta obra cujas palavras nada pretendem a não ser provocar
em nós a sede de conhecimento.

José Neivaldo de Souza, Doutor em Teologia (Universidade


Gregoriana de Roma) e Mestre em Filosofia (UERJ) e Psicologia
(Universidade Tuiuti do Paraná). É professor-pesquisador e atua
como psicanalista.

O Professor Mestre Roney Cozzer apresenta-nos a Enciclopédia Teológi-


ca: numa perspectiva transdisciplinar, um trabalho constituído de ousadia e,
sobretudo, da singularidade com a qual se nomeia Enciclopédia. Porque não reco-
lhe saberes estilhaçados, mas religa-os pelo fio abstrato da transdisciplinaridade.
Esta publicação reconhece na teoria e manifesta na prática a necessidade dos múl-

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tiplos olhares para a compreensão da Bíblia. Eis uma grata surpresa em tempos
de fragmentação tecnológica: uma publicação enciclopédica que religa áreas de
conhecimento e que também mira “o outro”, anônimo em seus estudos bíblicos,
ou “professores cheios de amor pelo que fazem nas escolas bíblicas dominicais” ou
aqueles que precisam dialogar com estes caminhos por aqui trilhados. É grande e
fundamental a contribuição do foco declarado pelo autor. E eu endosso.

Sonia Almeida [Sonia M. C. P. Mugschl] é Mestra em Educa-


ção pela UFMA; Doutora em Educação pela USP; Pós-Doutora
pela Ruhr Universität Bochum (Alemanha); Membro da Acade-
mia Maranhense de Letras e Professora Titular da Universidade
Federal do Maranhão.

Roney Cozzer é um estudioso das Escrituras, um pesquisador cuidadoso


e um homem comprometido com a verdade. Esta é uma obra robusta, uma fer-
ramenta indispensável para aqueles que desejam conhecer as profundezas inson-
dáveis da Palavra de Deus. Recomendo, com entusiasmo, este revelante trabalho,
convicto de que será uma preciosa ferramenta para a edificação do povo de Deus.

Rev. Hernandes Dias Lopes, pastor presbiteriano, autor de mais


de 130 livros, conferencista, Bacharel em Teologia, Doutor em Mi-
nistério e Membro da Academia Evangélica Brasileira de Letras.

Em tempos clássicos o saber enciclopédico era um dos únicos a ter valor


em ambientes de produção de conhecimento. A erudição e o acúmulo de infor-
mação eram sinônimos. A sociedade moderna trouxe uma avalanche de acesso
à informação e mostrou a necessidade de especialização. Com isso, sabe-se “cada
vez mais de cada vez menos”. Não obstante, um recurso enciclopédico transdisci-

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plinar é muito bem-vindo. Sobretudo em um período onde o amplo acesso não
oferece muita segurança acerca da veracidade das informações. Com essa obra do
professor Roney Cozzer, essa questão pode ser facilmente resolvida, pois ele colo-
ca à disposição dos estudiosos, um excelente material que é fruto de suas pesquisas
em diversas áreas.

César Moisés Carvalho, pastor assembleiano, pedagogo e pós-


-graduado em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do
Rio de Janeiro (PUC-RJ).

Foi um privilégio ler tão grande obra. A Teologia é um conhecimento que


se vale entrelaçar ou mesmo transpassar por outros conhecimentos, por outras
ciências, crendo assim, que este é o diferencial deste conteúdo denso e rico. Feliz
em ler a transdisciplinaridade com a Filosofia, Sociologia, Psicanálise, Educação,
Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva, Sexualidade, Oratória,
dentre outros tantos assuntos de forma relevante e atual. A proposta é ousada e
qualificada, diante da experiência e vivência do autor, tanto no âmbito acadêmico
como também ministerial, dando-lhe assim autoridade para tratar de todos esses
assuntos. Desejo uma boa leitura e um bom crescimento em conhecimento para
cada leitor assim como foi comigo. Que o compartilhar da sapiência do autor seja
fonte de informação para cada leitor.

Daniele Gotardo Veloso, Bacharel em Fonoaudiologia, Es-


pecialista em Educação Especial, Especialista em Educação
Bilíngue para Surdos Letras Libras/Língua Portuguesa, Bacharel
e Mestre em Teologia Profissional pelas Faculdades Batista do
Paraná (FABAPAR), docente na FABAPAR, Assessora em Aces-
sibilidade na FABAPAR e Ministra Auxiliar na Primeira Igreja
Batista de Curitiba.

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Recomendo efusivamente  esta magnifica Enciclopédia Teológica: numa
perspectiva transdisciplinar, escrita com excelência, para o uso do estudante da
Bíblia e de todos aqueles que levam a sério o estudo das Sagradas Escrituras, tanto
o principiante como o avançado. Esta obra de referência certamente transformará
o estudo e o ensino da Palavra de Deus mais gratificante e proveitoso. Parabéns
Professor Roney Cozzer por essa “epopeia teológica”, que será sem duvida, um
marco editorial da literatura evangélica em língua portuguesa.

Anthony Donizeti Romualdo, pastor, articulista, Licenciado


em Teologia (ISUM), bacharel em Teologia pela Faculdade de
Educação Teológica das Assembleias de Deus (FAETAD), Licen-
ciado em Estudos Sociais (Faculdade Don Domenico) e em Letras
Português-Inglês (Faculdade da Região dos Lagos) e Mestran-
do em Estudos Bíblicos (SETECA). Reside em Tampa, Flórida
(EUA), onde atua como segundo pastor na Igreja Batista Identi-
dade (Identity Baptist Church), filiada a Convenção Batista do Sul
dos Estados Unidos.

A experiência acadêmica nos ensina, especialmente nos níveis de mestrado


e doutorado, a importância da bibliografia na construção de uma obra, seja ela
um livro, uma tese ou uma enciclopédia como esta. Antes de consultar o primeiro
verbete, fui direto às fontes pesquisadas pelo Professor Roney Cozzer. Embora a
obra siga uma linha teológica ortodoxa e pentecostal, o autor dialogou com os
mais variados estudiosos. Na Teologia, há obras de autores pentecostais e refor-
mados, conservadores e liberais. A bibliografia engloba diferentes enciclopédias
e dicionários, obras de teologia sistemática, traduções diversas da Bíblia, além de
trabalhos que já se tornaram clássicos. Autores da Filosofia que mudaram a nossa
forma de ver a vida, como Aristóteles e Hegel, ou da Psicologia e Psicanálise,
como Freud e Jung, também compõem a galeria de pensadores indispensáveis
numa obra desta envergadura.

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Trata-se, essencialmente, de uma enciclopédia de Bíblia e Teologia, e o
leitor observará que a maioria dos verbetes se debruça sobre livros da Escritura Sa-
grada, interpretação da Bíblia, passagens bíblicas, Apologética, Bibliologia e Crí-
tica Textual. Mas esta obra, que já seria rica se tratasse “apenas” dos assuntos men-
cionados, vai além disso. Há uma notória preocupação do autor com problemas
atuais, como saúde mental e injustiça social – citando apenas alguns – além de
uma atenção a temas com os quais a Teologia necessariamente se relaciona, como
Educação, História, Filosofia, Psicologia. O leitor encontrará nesta Enciclopédia
uma rica fonte de conhecimento e pesquisa e terá nela uma obra para a sua vida
inteira, que poderá ser permanentemente consultada para diferentes propósitos.

Julio Cezar Lazzari Junior, graduado em Teologia (Metodis-


ta) e Marketing, pós-graduado em Marketing e em Ciências da
Religião (PUC-SP), Mestre e Doutor em Filosofia (Universidade
São Judas e UNIFESP). É pastor e professor de Teologia.

Ter o prazer de ler uma obra de tão grande envergadura é uma honra.
Roney Cozzer fez uma excelente pesquisa, fruto de anos de labuta e dedicação.
Um teólogo aplicado e que se superou com esta enciclopédia. Ter uma ferramenta
deste porte, escrita por um brasileiro, deve nos encher de orgulho e satisfação.
Obra abrangente e útil para todos os públicos. Com uma linguagem simples e
contextualizada, o mestre Roney satisfaz a Academia, sem deixar de prestar um
grande serviço às igrejas e irmãos sem formação teológica. Obra de referência e
leitura obrigatória.

Carlos Alberto Bezerra, pastor, formado em Teologia pelo


Seminário Batista do Cariri com validação pela Faculdade Kurios,
Mestre em Teologia pelas Faculdades Batista do Paraná (FA-
BAPAR) e professor na Faculdade Batista do Cariri, no Ceará.

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Uma pergunta que todo ser humano precisa fazer a si mesmo é “qual a con-
tribuição que está deixando para o mundo desta geração e, por que não, também
para a posteridade?” Alguns terão mais dificuldades para responder esta questão
e outros nem tanto. A iniciativa do professor Roney Cozzer é uma resposta a esta
pergunta, reunindo uma série de textos e artigos úteis tanto para leigos quanto
para acadêmicos, expondo a sua maneira de pensar e refletir sobre diversos temas,
numa perspectiva transdisciplinar. Aprecio a sua dedicação nos estudos e no en-
sino, procurando fazer tudo com excelência. Meu desejo é que esta obra possa
auxiliar muitas pessoas que estão em busca de conhecimento e respostas para
temas abordados na obra.

Claiton André Kunz, pastor e professor, graduado em Teologia


e Filosofia, Mestre em Novo Testamento e em Teologia, e douto-
rado em Teologia (com ênfase em Bíblia). Diretor da Faculdade
Batista Pioneira e professor do Mestrado Profissional em Teolo-
gia das Faculdades Batista do Paraná (FABAPAR).

O professor Roney Cozzer já há alguns anos tem contribuído muito para


a pesquisa teológica no nosso país. Embora esta seja sua Magnum opus, Roney já
publicou outros títulos que de igual modo tem abençoado a igreja brasileira. Her-
menêutica, Teologia Bíblica e Sistemática, Liderança Cristã, Homilética, Educa-
ção e Ética Cristã, dentre tantos outros temas, são áreas sobre as quais o Professor
Roney tem se debruçado. Com a sensibilidade que lhe é pertinente e com a habi-
lidade que já é a sua marca em todos os seus escritos, ele agora nos brinda com a
Enciclopédia Teológica: numa perspectiva transdisciplinar, obra que vem para
revolucionar o mercado editorial por causa da proposta ousada e necessária. Esta
enciclopédia, diferente de muito do que vem sendo produzido no Brasil, propõe
estabelecer um diálogo sobre as mais diversas áreas do conhecimento tais como
Teologia, Filosofia, História, Crítica Literária, Educação na Pós-modernidade,
Geografia Bíblica, etc. Certamente este é um legado que ficará para a posteridade

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e abençoará as próximas gerações. Oro para que Deus abra os nossos olhos para
apoiar cada vez mais homens como Roney que tem gastado sua vida com o pro-
pósito de edificar a igreja do Senhor.

Thyago de Souza Siqueira, Licenciado em História (UNIN-


TER), graduando em Filosofia (UEPB), formado em Teologia
com ênfase em Teologia Sistemática (STEMES), coordena o Ins-
tituto Teológico Superior de Missões (ITESMI) e é professor de
História e Teologia na cidade de Campina Grande, Paraíba.

Enciclopédia Teológica: numa perspectiva transdiciplinar, escrita pelo


professor Roney Cozzer, é uma ferramenta de grande valor para aqueles que
amam e estudam a Palavra de Deus. O trabalho, escrito com profundidade e
diversidade de temas, apresenta o resultado de estudos e debates teológicos numa
perspectiva transdiciplinar. Impressiona a objetividade e clareza na exposição do
conteúdo, além do diálogo com diversos pensadores. O texto é uma fonte de in-
formações escrita para compartilhar conhecimento. Por isso, na leitura desta obra
você encontrará inspiração e será desafiado a crescer e refletir em áreas diversas
das Escrituras.

Marivete Zanoni Kunz, professora graduada em Teologia e Pe-


dagogia. Possui mestrado e doutorado em Teologia (com ênfase
bíblica). Professora da Faculdade Batista Pioneira e professora e
coordanadora adjunta do Mestrado Profissional em Teologia das
Faculdades Batista do Paraná (FABAPAR).

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“Um ser humano descobre sua finitude no fato de que, primeira-
mente, ele se encontra dentro de uma tradição ou tradições”.1

— Paul Ricoeur

“Quando você vier, traga a capa que deixei na casa de Carpo, em


Trôade, e os meus livros, especialmente os pergaminhos”.2

— Apóstolo Paulo

“Eu nunca assumi, eu nunca assumi; eu não sou uma profissional,


eu só escrevo quando eu quero. Eu sou uma amadora e faço questão
de continuar sendo uma amadora. Profissional é aquele que tem
uma obrigação consigo mesmo, de escrever, ou então, com o outro,
em relação ao outro. Agora eu faço questão de não ser uma profis-
sional, para manter minha liberdade”.3

— Clarice Lispector

1 RICOEUR, Paul apud: McGRATH, Alister E. A gênese da doutrina: fundamentos da crí-


tica doutrinária. Trad.: A. G. Mendes. São Paulo: Vida Nova, 2015, p. 5.
2 2 Timóteo 4.13 na Nova Versão Internacional.
3 Clarice Lispector em entrevista à TV Cultura em 1977, respondendo à pergunta sobre quan-
do havia se descoberto como uma escritora profissional. Panorama com Clarice Lispector.
[vídeo]. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=ohHP1l2EVnU> Acesso em 28
jul. 2019.

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S UM ÁR IO

lista de siglas utilizadas nesta obra.......................................25


colaboradores...........................................................................29
agradecimentos.........................................................................31
dedicatória................................................................................35
o autor.......................................................................................39
o que é escrever?........................................................................41
apresentação..............................................................................45

artigos & verbetes em ordem alfabética – A — G...................59

144 mil de apocalipse 7.1-8 e 14.1-5, os....................................61


24 anciãos de apocalipse, os.....................................................61
a ambivalência do contexto religioso: adoecimento e
cura. aportes da terapia cognitivo comportamental.....62
a bíblia como um livro incomparável......................................82
a bíblia e o efeito benéfico que ela exerce sobre
pessoas e nações................................................................82
a bíblia entendida como palavra de deus................................85
a busca do jesus histórico e a cristologia pentecostal:
pontes para um diálogo....................................................85
a clínica psicanalítica na atualidade....................................123
a educação cristã na pós-modernidade.................................129
a igreja deve se posicionar.....................................................133
a igreja no contexto atual e a educação cristã como
ponte de diálogo com a sociedade...............................134
a importância do preparo adequado da aula........................139
a tv e o cristão.........................................................................142

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abordagens educacionais........................................................156
aborto e ética cristã...............................................................161
algumas diferenças entre o hebraico, o aramaico
e o grego..........................................................................166
alta crítica e baixa crítica.....................................................169
amós, o livro de.......................................................................173
análises do texto bíblico, tipos de........................................175
andragogia...............................................................................181
animais de apocalipse 4, os......................................................185
antigo testamento, a importância de se estudar o..............186
antigo testamento, o..............................................................188
antiguidade oriental e antiguidade clássica.......................192
antropologia bíblica...............................................................193
antropologia e sociedade.......................................................198
apocalipse 6.12-17, a interpretação de..................................205
apocalipse 6.6, explicação de..................................................205
apocalipse, o livro de..............................................................206
apocalíptica judaica, a literatura.........................................215
aportes para a educação cristã nos livros de
sabedoria do antigo testamento...................................218
apostasia...................................................................................235
armagedom, o...........................................................................235
arrebatamento da igreja.........................................................236
as bodas do cordeiro..............................................................241
as epístolas da prisão..............................................................242
atos, o livro de........................................................................244
avaliação e intervenção psicopedagógica.............................253
batismo com o espírito santo.................................................261
batismo com o espírito santo na perspectiva
pentecostal clássica.......................................................266

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batismo nas águas.....................................................................273
bíblia.........................................................................................280
bíblia como revelação especial de deus, a.............................281
bíblia e ética............................................................................285
bíblia e seu autor, a.................................................................289
bíblia, a estrutura interna da................................................290
bíblia, a leitura e o estudo constante da.............................296
bíblia, a origem da...................................................................300
bíblia, a unidade ou unicidade da..........................................303
bíblia, depoimentos notáveis sobre a.....................................305
bíblia, o elevado padrão moral da.........................................306
bíblia, o livro incomparável...................................................309
bíblias alexandrinas................................................................309
bíblias da reforma...................................................................310
bibliologia: o estudo da bíblia..............................................310
cânon bíblico...........................................................................313
capelania..................................................................................318
caso entebe..............................................................................320
caso lavon................................................................................322
cavaleiro de apocalipse 6, o....................................................322
célula-tronco..........................................................................323
charles h. spurgeon, dwight lyman moody e
john bunyan....................................................................327
cisma da igreja, o segundo grande........................................329
civilização................................................................................329
civilizações babilônica e grega e o império romano............332
códex sinaiticus ou manuscrito álefh.....................................333
códex vaticanus ou manuscrito b.............................................333
como entender a realidade de injustiça social
brasileira face à enorme presença de cristãos?...........334

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considerações sobre a história da pesquisa histórica
sobre jesus.......................................................................335
contribuições da crítica textual para a compreensão
dos evangelhos sinóticos..............................................348
contribuições da educação cristã para a missiologia..........365
contribuições da hermenêutica para o trabalho do
educador cristão............................................................370
contribuições da igreja para a construção da
subjetividade humana como prevenção à
dependência química......................................................381
controle de natalidade..........................................................402
coríntios, primeira e segunda epístola aos...........................406
cultura.....................................................................................410
daniel, o livro de....................................................................411
david bem-gurion.....................................................................420
declaração balfour e sua promulgação, a............................421
desafios à igreja na pós-modernidade...................................423
desentulhando os poços antigos..........................................428
deus preserva sua palavra........................................................429
dia do senhor, o......................................................................429
dificuldades bíblicas...............................................................430
dificuldades bíblicas: como superá-las e os problemas
decorrentes de não se superá-las.................................439
dificuldades bíblicas, exemplos de........................................444
divórcio, repúdio e a igreja....................................................458
documento histórico.............................................................465
eclesiologia.............................................................................467
educação cristã.......................................................................468
educação cristã como aliada à constituição saudável
do caráter.......................................................................475

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educação cristã e hermenêutica:
um diálogo necessário...................................................481
educação cristã e leitura popular da bíblia:
propondo mediações hermenêuticas............................484
educação cristã e pós-modernidade......................................502
educação de jovens e adultos................................................515
educação especial e a pessoa com necessidades especiais.....518
educação infantil....................................................................521
educação teológica nas assembleias de deus,
breve apanhado histórico da........................................523
educador cristão, o................................................................526
educador cristão, o................................................................528
ensino.......................................................................................530
ensino bíblico e sua importância para a igreja.....................541
epístolas do novo testamento................................................548
epístolas gerais, as...................................................................552
epístolas pastorais, as.............................................................553
epístolas soteriológicas, as....................................................554
epístolas, a questão contextual das......................................554
escatologia bíblica..................................................................556
escatologia bíblica, o homem na............................................561
escatologia bíblica, palavras e expressões
fundamentais da.............................................................562
escola bíblica dominical........................................................564
escola dominical, administração financeira na..................570
escola dominical: organização, funções e
cronogramas...................................................................572
escolas psicanalíticas.............................................................577
espírito santo..........................................................................584
ética e liderança na perspectiva cristã.................................589

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ética cristã...............................................................................605
ética cristã e comunicação pós-moderna:
um olhar crítico à luz das escrituras..........................614
ética cristã e família...............................................................625
ética cristã e igreja.................................................................628
ética cristã, o valor da...........................................................633
ética vista na bíblia.................................................................633
evangelização e mídias sociais................................................641
exegese e leitura popular da bíblia.......................................642
exegese bíblica.........................................................................644
êxodo, o livro de.....................................................................657
ezequiel, o livro de.................................................................659
família e pós-modernidade.....................................................667
fato histórico..........................................................................670
figuras de linguagem da bíblia..............................................671
filosofia da educação.............................................................676
filosofia da educação e pedagogia........................................681
filosofia, educação e cosmovisão cristã...............................688
gálatas, a epístola aos.............................................................695
genealogia................................................................................697
gênesis, o livro de...................................................................698
geografia bíblica.....................................................................705
golda meir................................................................................706
grande tribulação e o armagedom........................................708
guerra de suez.........................................................................721

cronologia bíblica.................................................................723
cronologia eclesiástica.........................................................731
cronologia teológica............................................................743

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para pregadores & educadores cristãos
esboços de sermões e de palestras..................................751
sobre esta seção.......................................................................753
esboço 1....................................................................................755
esboço 2....................................................................................762
esboço 3....................................................................................770
esboço 4....................................................................................773
esboço 5....................................................................................781
esboço 6....................................................................................788
esboço 7....................................................................................791
esboço 8....................................................................................797
esboço 9....................................................................................808
esboço 10..................................................................................812
esboço 11..................................................................................823
esboço 12..................................................................................826
esboço 13..................................................................................828
esboço 14..................................................................................831
esboço 15..................................................................................836
esboço 16..................................................................................839
esboço 17..................................................................................842
esboço 18..................................................................................848
esboço 19..................................................................................860
esboço 20..................................................................................866
esboço 21..................................................................................869
esboço 22..................................................................................873
esboço 23..................................................................................876
esboço 24..................................................................................881
esboço 25..................................................................................885
esboço 26..................................................................................888
esboço 27..................................................................................891

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esboço 28..................................................................................894
esboço 29..................................................................................901
esboço 30..................................................................................905
esboço 31..................................................................................919
esboço 32..................................................................................923
esboço 33..................................................................................928

índice temático para estudantes e pesquisadores


de teologia. ..................................................................937
referências. ...........................................................................969

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L ISTA D E S I G L A S U T I L I ZA DA S
NESTA O BR A

Com o intuito de ganhar tempo e espaço, no decorrer desta obra são uti-
lizadas algumas siglas. Uma sigla nada mais é do que a abreviatura de um título
ou de uma denominação, geralmente composta pelas letras iniciais das palavras
que compõe este título ou denominação. Tomemos como exemplo a sigla ARC,
que remete ao título Almeida Revista e Corrigida, uma das versões da Bíblia em
português publicada pela Sociedade Bíblica do Brasil.1
Quanto à uma possível versão bíblica a ser adotada como padrão nesta En-
ciclopédia, optei por não escolher uma “versão oficial para as referências bíblicas”
transcritas, mas optei pela utilização de várias versões. E na verdade não era para
ser diferente já que esta enciclopédia é fruto de anos de pesquisa e por hábito,
sempre trabalhei com várias versões.
A seguir, você tem as siglas que utilizamos nesta enciclopédia com seus res-
pectivos significados e também as siglas dos livros da Bíblia, em ordem alfabética:

[s.p.]: Sem página; quando a página não está indicada.


1 Co: 1 Coríntios
1 Cr: 1 Crônicas
1 Jo: 1 João
1 Pe: 1 Pedro
1 Re: 1 Reis
1 Sm: 1 Samuel
1 Tm: 1 Timóteo
1 Ts: 1 Tessalonicenses
2 Co: 2 Coríntios
2 Cr: 2 Crônicas

1 Também representada por uma sigla: SBB.

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2 Jo: 2 João
2 Pe: 2 Pedro
2 Re: 2 Reis
2 Sm: 2 Samuel
2 Tm: 2 Timóteo
2 Ts: 2 Tessalonicenses
3 Jo: 3 João
ACRF: Almeida Corrigida e Revisada Fiel
Ag: Ageu
Am: Amós
Ap: Apocalipse
Apud: Expressão latina que significa “Citado por”. Usada em citações com
intermédio.
ARA: Almeida Revista e Atualizada
ARC: Almeida Revista e Corrigida
AT: Antigo Testamento
At: Atos
Cap.: Capítulo
Cf.: Confira
Cl: Colossenses
Ct: Cantares de Salomão
Dn: Daniel
Dt: Deuteronômio
Ec: Eclesiastes
Ed: Esdras
Ef: Efésios
Et: Ester
Êx: Êxodo
Ez: Ezequiel
Fl: Filemon
Fp: Filipenses
Gl: Gálatas

26 | R O N E Y C O Z Z E R

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enciclopédia teológica: numa perspectiva transdisciplinar

Gn: Gênesis
Hb: Habacuque
Hb: Hebreus
Is: Isaías
Jd: Judas
Jl: Joel
Jn: Jonas
Jo: João
Jr: Jeremias
Js: Josué
Jz: Juízes
Lc: Lucas
Lm: Lamentações de Jeremias
Lv: Levítico
LXX: Septuaginta (a Tradução dos Setenta, que verteu o Antigo Testamento
hebraico para o grego)
Mc: Marcos
Ml: Malaquias
Mq: Miquéias
Mt: Mateus
Na: Naum
NAA: Nova Almeida Atualizada
Ne: Neemias
Nm: Números
NT: Novo Testamento
NTLH: Nova Tradução na Linguagem de Hoje
NVT: Nova Versão Transformadora
Ob: Obadias
Os: Oséias
Pv: Provérbios
Rm: Romanos
Rt: Rute

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Sf: Sofonias
Sl: Salmos
Ss: Seguintes. Refere-se aos versículos seguintes que podem ir até o fim do
capítulo citado ou não.
Tg: Tiago
Tt: Tito
Vv: Indica pluralidade de versículos.
Zc: Zacarias

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COL ABO R AD O R E S

Não poderia deixar de fazer deferência aqui a algumas pessoas especiais


que contribuíram direta e indiretamente para a construção desta Enciclopédia.
Conquanto eu tenha despendido muitas e incontáveis horas para concluir este
grande projeto, me vejo, felizmente, impedido de encará-lo como uma caminha-
da solitária. Pessoas foram fundamentais para que ele fosse concluído e pudesse
chegar ao público.

ELIAS MENDONÇA, um grande amigo com quem compartilhei e compartilho


muitos sonhos pessoais e que tem sido um incentivador incansável do meu minis-
tério. O projeto desta Enciclopédia nasceu quando eu estava em meu escritório, à
época, na minha residência em Porto de Santana, Cariacica, Espírito Santo. Elias
foi a primeira pessoa com quem compartilhei a ideia e foi ele quem primeiro se
deu ao trabalho de reunir dezenas de textos meus num arquivo só, de Word, aten-
dendo a um pedido meu. Este trabalho inicial foi o “embrião” desta Enciclopédia.

SAMUEL CANDIDO HENRIQUE, grande amigo que prontamente se dispôs


a revisar ortograficamente esta Enciclopédia, e o fez voluntariamente! Esse gesto
me tocou profundamente. Ele é licenciado em Letras pela Universidade Estadual
do Paraná (UNESPAR), pós-graduado em Novo Testamento, mestre em Teologia
pelas Faculdades Batista do Paraná (FABAPAR), e doutorando em Educação pela
Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR). E quero mencionar ainda
que sua cumplicidade e conselhos sábios tem sido uma bênção para mim.

NILCELENE CANDIDO HENRIQUE, que juntamente com seu irmão Sa-


muel Cândido Henrique, acima citado, trabalhou na revisão ortográfica desta
obra voluntariamente. Minha profunda gratidão a ela!

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SAMUEL DA SILVA COSTA, um grande amigo com quem escrevi o artigo
Religião, periferia e Leitura Popular da Bíblia: uma análise do Documen-
tário Santa Cruz à luz da Pneumagiologia Pentecostal. Este artigo veio a ser
publicado pela Revista de Estudos Pentecostais Assembleianos1 e adaptado à
esta Enciclopédia. Sem o Samuel, este importante artigo (e agora, parte desta
obra) não teria vindo à luz. Ele é bacharel em Teologia pela Faculdade Unida de
Vitória (ES).

SANDRA HELENA DO NASCIMENTO, psicóloga, com quem escrevi dois


artigos que fazem parte desta enciclopédia: A ambivalência do contexto reli-
gioso: adoecimento e cura. Aportes da Terapia Cognitivo Comportamental
e Contribuições da Igreja para a construção da subjetividade humana como
prevenção à dependência química.

IZAÍAS DA CRUZ PAIVA, um ex-aluno do seminário de Teologia com quem


escrevi o artigo Contribuições da Hermenêutica para o trabalho do educador
cristão. Ele tem sido um amigo precioso!

1 Publicado originalmente em: COSTA, Samuel Silva da. COZZER, Roney Ricardo. Religião,
periferia e leitura popular da Bíblia: uma análise do documentário Santa Cruz à luz da Pneu-
matologia Pentecostal. Revista de Estudos Pentecostais Assembleianos. vol. 5. abr. 2019.
Disponível em: <http://revista.repas.com.br/index.php/repas/article/view/62> Acesso em 20
abr. 2019.

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AGR AD E C I M E N TOS

AGRADEÇO:

EM PRIMEIRO LUGAR A JESUS, “Senhor meu, e Deus meu!” (Jo


20.28), Amigo inseparável, Divino Companheiro no Caminho, Aquele para
Quem fui lançado desde a madre, Aquele em Quem convergem todas as coisas,
no Céu a na Terra. Ele, a quem amo, imito e compartilho com outros. A Ele toda
honra e glória pelos séculos dos séculos!

À MINHA AMADA ESPOSA DOLARIZE ALVES VIEIRA COZZER,


por seu incansavável companheirismo e cuidado zeloso que tem tido para comigo e
para com a nossa família durante todos esses anos. Sua presença e companheirismo
tem sido fonte de renovação constante para minhas forças. Simplicidade, simpatia
e paciência são suas marcas registradas... Ela é, sem dúvida, um ser humano
incrivelmente incrível.

À NOSSA AMADA FILHA, ESTER ALVES COZZER, de oito anos


apenas, mas cuja “simples” existência representa um grande impulso à minha
própria vida. Quem poderá calcular o impacto de um radiante sorriso dado por
uma uma filha amada em horas difíceis?

À EDITORA REFLEXÃO, na pessoa da sua Gerente Editorial, Caroline


Dias de Freitas, que acreditou no projeto, tornando-se ela mesma uma grande
entusiasta da Enciclopédia Teológica. Obrigado por ter valorizado a obra e por
ter aberto espaço junto à Editora Reflexão para tornar real a publicação desta
obra.

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A ADSON THIAGO, amigo de alguns anos cuja amizade tem sido uma
bênção para mim. Seu esforço no sentido de obter patrocínio para a publicação
desta obra tocou-me de um modo muito especial e me fez lembrar que um desafio
compartilhado com grandes amigos é um desafio mais fácil de ser superado, e
que um sonho compartilhado com grandes amigos representa uma alegria
multiplicada.

AO PROF. DR. GILSON VIANA, escritor, professor e Diretor


Acadêmico da Faculdade União Araruama de Ensino (Faculdade Unilagos), em
Araruama, no Rio de Janeiro. À ele, minha profunda gratidão pela confiança
e pela oportunidade que me concedeu, introduzindo-me profissionalmente no
contexto do ensino superior, num gesto de profunda generosidade para comigo e
por extensão, para com a minha família. Jamais esquecerei esse gesto, o que torna
minha gratidão um ato permanente.

AOS PRECIOSOS AMIGOS, “lenitivos à minha alma”, de longa


e de curta data, meus confidentes, ouvintes, conselheiros sábios, apoiadores e
incentivadores incansáveis:

Pr. Evaldo Cassotto, o “meu pastor”, líder da igreja onde congrego e à


qual sirvo, a Assembleia de Deus Central de Porto de Santana, Cariacica (ES).
Obrigado por seu apoio, abertura junto ao ministério local e confiança em meu
trabalho, sempre;

Pr. Ivan Kleber, “o homem cuja voz marcante reflete a profundidade de


sua própria alma”, pregador eloquente, hábil ensinador, amigo sempre presente
em vitórias e derrotas, alegrias e tristezas e nos grandes desafios e conquistas
ministeriais que vem marcando minha vida nestes últimos anos. Seus conselhos,
sua cumplicidade e amizade sincera muito tem contribuído para meu crescimento
pessoal, espiritual e profissional;

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enciclopédia teológica: numa perspectiva transdisciplinar

Pr. Eliel de Souza, líder da Assembleia de Deus em João Neiva (ES),


escritor, pregador, palestrante e professor de Teologia. Foi ele uma das primeiras
pessoas com quem compartilhei a ideia, num momento em que ainda estava
refletindo se valeria a pena despender tanto esforço numa obra desta magnitude.
Seu apoio e incentivo foram fatores de grande motivação para mim naquele
momento. Mais tarde, quando comentei com ele que havia acordado com a
Editora Reflexão a publicação da obra, ele prontamente se dispôs a adquirir, na
pré-venda, alguns exemplares, para me ajudar;

Luciene Belo, “a mulher dos insights psicológicos”, sempre capaz de ouvir


o não dito e ver o que não foi mostrado; sua amizade, prontidão para ouvir (algo
raro hoje em dia!) e cumplicidade foram, ao longo de muitos anos, um verdadeiro
“oásis” para mim nessa minha “inelutável peregrinação melancólica”;

Luiz Eduardo, meu “irmãozão” de longa caminhada... desde os tempos do


ensino fundamental. Sei que ele não gosta muito desse “longa caminhada”, por
causa de sua insistência em acreditar que ainda é jovem, mas é só uma forma de eu
dizer o quanto ele é especial para mim, afinal, amizades longas, hoje, são cada vez
mais raras. Ele, com sua simpatia e alegria, tem tornado mais alegre a minha vida;

Luís Carlos Romualdo Damasceno, amigo precioso que pude conhecer


durante o mestrado em Teologia, na cidade de Curitiba (PR). Luís, assim como
sua esposa Glenir, tem sido para mim e para minha família pessoas especiais e
como é bom saber que podemos contar com sua amizade sincera;

Lorayne Costa de Oliveira, que insiste em me chamar de “mestre” e não


de Roney, pelo profundo respeito que nutre pela minha pessoa. Seus generosos
elogios dispensados a mim, ora me fazem sentir constrangimento, ora vaidade...
Para ser honesto, não sei ao certo se sou a pessoa que ela descreve (sinceramente
acho que não!), mas seu respeito e amizade tem sido uma bênção para mim;

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Pr. Leandro Bochou, também um amigo de longa data. Há mais de uma
década ele me pedia para escrever uma apostila, no formato 14 x 21 cm, com 60
páginas aproximadamente, contendo 13 lições sobre missões para ser usada numa
classe de adolescentes na igreja onde congregávamos naquele tempo. Nascia o
Discipulado Missiólogo, meu primeiro trabalho escrito... Mas não apenas isto:
nascia o autor desta enciclopédia! De algum modo sou profundamente grato a
ele por ter visto em mim um escritor tão antecipadamente. Pr. Bochou não sabia
(nem eu), mas era o humilde começo de uma jornada literária...

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DE D ICAT Ó R I A

DEDICO ESTA OBRA À MEMÓRIA DE MEU PAI, SEBASTIÃO


GREGÓRIO. Homem de origem pobre, vindo de zona rural no Estado das
Minas Gerais, que mudou-se com a família para a região da Grande Vitória (ES),
onde trabalhou como portuário durante muitos anos. Embora fosse uma pessoa
de hábitos muito simples, sua vida marcou profundamente a minha vida e a vida
de toda a nossa família, composta por ele, nossa mãe e cinco filhos, sendo dois
adotivos (eu, um deles).

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Lembro-me vividamente que na minha adolescência, o meu primeiro
contato com as Escrituras se deu por meio daquele Novo Testamento com Salmos
e Provérbios, de capa azul, que era distribuído pelos Gideões Internacionais. Era
um livrinho, que não continha todo o Antigo Testamento e “as passagens não
possuíam títulos como na Bíblia da minha mãe”. Meu sonho à época era ganhar
uma Bíblia completa. Pois bem, ainda me lembro dele chegando em casa num dia,
a tardezinha, com sua velha bicicleta, trazendo nas mãos um livro, embrulhado
em papel de presente, quando eu contava 12 anos de idade; era um exemplar da
Bíblia Sagrada, completa. Meu sonho estava realizado!

Mais tarde, em torno dos meus 14 anos, foi ele quem me levou àquela
livraria evangélica, no Centro de Vitória (ES), para ali escolher meu primeiro
livro de teologia. Selecionei na estante um pequeno comentário bíblico de
um antigo teólogo pentecostal chamado Frank M. Boyd. Isso foi há 22 anos
aproximadamente, mas até hoje me pego pensando (emocionado) em quão
curioso é imaginar um homem analfabeto, que não tinha condições de assinar o
próprio nome, dando livros de presente ao filho adotivo, e dentre esses livros, o
Livro dos livros, a Bíblia Sagrada. Àquela época, o que eu jamais seria capaz de ao
menos imaginar é que eu mesmo me tornaria um escritor e que viria a produzir
livros direcionados ao conhecimento e a difusão das Escrituras. Hoje, passados
tantos anos após o seu falecimento, louvo a Deus por sua vida como também pelo
legado que deixou. Agradeço a Deus pelo milagre incrível de um analfabeto pobre
introduzindo um garoto na vida de leitura e no amplo universo da Teologia.
Curiosamente, mesmo tendo lido grandes teólogos e mesmo tendo estudado
com grandes teólogos, foi o meu pai, um homem iletrado e leigo, a pessoa
mais influente na minha carreira acadêmica, literária e de ensino cristão.

DEDICO ESTA OBRA À MEMÓRIA DE MINHA MÃE, CLEUZENI


SOARES COZZER. Ela que com seu amor me ensinou a amar a Bíblia e a
viver no seguimento do Senhor Jesus Cristo, a saber, Aquele a quem ela mesma
conheceu, amou e serviu. Ela, que sendo pobre, ousou adotar um recém-nascido,
oriundo de uma família tradicional e rica, mas rejeitado pela mãe biológica. Ela

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enciclopédia teológica: numa perspectiva transdisciplinar

que sempre me ensinou a nunca odiar ou rejeitar minha mãe biológica por isso,
e sempre me deixou livre para escolher com quem viver. O verdadeiro amor é
assim: nos “amarra” com cordas invisíveis, das quais não queremos jamais nos
libertar. Na prática, eu realmente nunca soube exatamente a diferença entre ser
um filho adotivo e ser um filho biológico. Seu tratamento para comigo evidenciou
ao longo dos anos um amor incondicional, duradouro e profundamente terno.

No verso de uma antiga fotografia em que ela aparece ao meu lado, me


entregando o certificado da minha formatura do pré-escolar, datada de 14 de
dezembro de 1990, ela escreveu o seguinte: “De Cleuzeni S. Cozer para o meu
fofinho com muito amor e carinho. Me leva com você porque você está sempre
dentro de mim. Te amo demais. Beijos para você. Continua estudando. Deus
te abençoe e te guarde”. Procuro seguir seu conselho, até os dias de hoje! Sua
lembrança segue absolutamente viva comigo...

DEDICO ESTA OBRA À MINHA PROFESSORA DE ESCOLA


DOMINICAL, EUNICE CORDEIRO. Ainda me lembro dela, com a Bíblia
aberta em suas mãos, ensinando a Palavra de Deus com uma firme convicção.
Quem poderá calcular o valor de uma professora ou de um professor leigo de
Bíblia (em termos acadêmicos), mas absolutamente dedicada(o) e que se interessa
sinceramente por seus alunos? Todas as vezes que tenho a oportunidade de revê-
la, continuo reverenciando-a como a minha “mestra indelével”.

DEDICO ESTA OBRA A TODOS OS PROFESSORES LEIGOS DE


BÍBLIA E DE TEOLOGIA ESPALHADOS PELO BRASIL. Na realidade da
Igreja brasileira são inúmeros os mestres e mestras leigos e leigas que se dedicam
ao ensino da Palavra de Deus em suas congregações locais, e o fazem com amor
e esmero. Conquanto reconheça a irrevogável necessidade do educador cristão
percorrer o caminho da formação continuada, e eu mesmo tenha procurado
seguir por este trilho, não posso deixar de reconhecer o valor do trabalho dessas
pessoas que levam a sério o ministério do ensino bíblico e a ele se dedicam com
amor e, em muitos casos, com poucos recursos. Conhecimento nem sempre é

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acessível sem dinheiro, como sabemos, mas vi homens e mulheres dedicarem
suas vidas a ensinar a Palavra viva de Deus a outras pessoas dando o melhor de
si nessa sublime tarefa. Esses verdadeiros “heróis” atuam em Escolas Dominicais,
classes de discipulado, pequenos grupos, cursos livres de Teologia e em outras
atividades educacionais da Igreja. Suas contribuições, sem dúvida, só poderão
ser realmente mensuradas na Eternidade. O impacto do trabalho desses heróis,
contudo, alcança-nos no agora...

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O AU TO R

Roney Cozzer serve a Deus e a Igreja como presbítero, palestrante,


escritor e professor de teologia. É membro da Assembleia de Deus Central de
Porto de Santana, em Cariacica (ES), igreja esta liderada pelo Pastor Evaldo
Cassotto.

É casado com Dolarize Alves Vieira Cozzer desde 2003, com quem tem
uma linda filha, a Ester Alves Cozzer, de oito anos.

Sua formação teológica inicia no Curso de nível Médio de Teologia


da Escola de Educação Teológica das Assembleias de Deus (EETAD), que ele
concluiu em 2011, vindo depois a graduar-se em Teologia em 2014. Realizou
o Curso de Extensão Universitária “Iniciação Teológica” pela Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), entre os anos 2014 a
2016. Cursou o mestrado em Teologia pelas Faculdades Batista do Paraná
(FABAPAR), entre os anos 2016 a 2018, na Linha de Pesquisa “Leitura e Ensino
da Bíblia”, realizando a defesa de sua dissertação em março de 2018. O título
da dissertação foi: “Contribuições da Leitura Popular da Bíblia para a formação
integral do indivíduo: uma proposta de ensino a partir da educação cristã e sua
cosmovisão”.  Fez complementação pedagógica em História (2013), possui
formação em Psicanálise (2014), pós-graduação em Metodologia do Ensino

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de História e Geografia (2014) e em Psicopedagogia Clínica e Institucional
(2015). Atualmente, cursa Licenciatura em Letras Português pelo Centro
Universitário Internacional Uninter.

Participou como autor e pesquisador do Projeto Historiográfico do


Departamento de Missões das Assembleias de Deus do Vale do Rio Doce e
Outros (DEMADVARDO) entre os anos de 2016 e 2018, que culminou com a
publicação do livro O Vale em chamas: história do Departamento de Missões
das Assembleias de Deus do Vale do Rio Doce e Outros (2018).

Serviu e serve como professor de teologia em seminários e cursos de


teologia na Grande Vitória, além de ministrar palestras relacionadas à Bíblia,
Teologia, Família e Educação Cristã. No ensino superior, vem atuando desde
2018 como docente, coordenador pedagógico, conteudista e gestor de polos.
Atualmente, é docente, coordenador pedagógico e gestor de polos na Faculdade
FABRA.

Para mais informações sobre o autor e acesso gratuito a diversos


conteúdos de sua autoria, como artigos científicos, sua dissertação de mestrado,
reflexões, apresentações em Power Point de palestras e aulas, palestras em vídeo e
videoaulas e esboços, acesse o Blog Teologia & Vida
(disponível em: <www.teologiavida.com> Acesso em 17 mai. 2019).

CONTATOS E ATIVIDADES DO AUTOR NA INTERNET


E-mail: roneyricardoteologia@gmail.com
Blog: Teologia & Vida (www.teologiavida.com)
Canal no Youtube: Repensando meu Cristianismo
Currículo Lattes: lattes.cnpq.br/3443166950417908

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O QU E É E S C R EV E R ?

Escrevo há vários anos e tenho aprendido que o ato de escrever é sim uma
arte. Para um escritor, o texto final que se apresenta bem escrito, rico de conteúdo
e rico no arranjo ortográfico, é sem dúvida uma bela obra de arte a enobrecer a
mente. Mas escrever também requer técnica e muito empenho. Neste sentido,
escrever, para mim, é como ler: requer trabalho, muito trabalho!

Sei do imenso valor de uma produção original. Sabemos que não há total
consenso quanto à definição do que significa ser um teólogo e ser um filósofo.
Para alguns, só é teólogo e só é filósofo aquele que produz algo com originalidade,
tipo o que fizeram pensadores como Barth, Bultmann, Bonhoeffer, Nietzsche,
Heidegger, Ricoeur, etc. Para outros, uma vez tendo concluído um bacharelado
em Teologia ou em Filosofia, já se pode afirmar que o indivíduo é teólogo ou filó-
sofo. Particularmente, prefiro pensar que mesmo não construindo uma categoria
nova na Teologia ou na Filosofia, se um indivíduo pesquisa e produz em Teologia
e em Filosofia, ele pode sim ser considerado um Teólogo ou Filósofo.

É fato que o conhecimento se sobrepõe, precisa ser preservado e retransmi-


tido tanto a novas gerações, como às gerações que não o possuem. Neste sentido,
me coloco entre aqueles que mesmo não sendo capazes de oferecer uma nova
categoria na Teologia, leem, pesquisam e escrevem sobre Teologia objetivando
levar a outros o conhecimento da área. E o faço com prazer. O conhecimento da
Teologia que se alicerça sobre as Escrituras produz libertação intelectual, amadu-
recimento espiritual e vida cristã prática na realidade concreta.

Escrever, portanto, no sentido aqui abordado, não significa necessariamen-


te trilhar uma via de total ineditez e originalidade, mas também não é o mesmo
que produzir uma escrita estéril, não própria e que não ofereça contribuições
novas.

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Escrever é repisar conceitos antigos, mas os conectando com a realidade
abordada, no hoje, no agora. Escrever é reafirmar verdades outrora pensadas e
ditas por outros pensadores, na mesma medida em que elas são conectadas com
o presente.

Escrever é também afirmar por meio das letras aquilo em que creio, mas
uma crença na qual não estou solitário. Outros teólogos afirmaram essas mesmas
verdades sobre as quais agora me debruço. Escrever é o reflexo de como encaro e
reajo a essas mesmas verdades e então as comunico a outros por meio da palavra
escrita.

Escrever, assim como ler, é viajar. É deslocar-se do “claustro” do escritório


particular na minha casa para falar ao coração e à mente de pessoas que eu nunca
verei, mas com as quais me conecto por meio dos assuntos de interesse comum e
do ideário bíblico, ético e teológico que nos une (no meu caso, que sou teólogo).
Escrever, diante disto - penso que não é exagero afirmar - é também um milagre
fantástico.

Escrever, para mim, é um ato fundante, no sentido de que enquanto es-


crevo me construo, refaço-me, reflito e repenso. É um retorno constante que
enquanto abre novos horizontes, e também reafirma marcos antigos, leva-me para
frente, propulsiona-me ao crescimento. Um paradoxo, sem dúvida: como pode
um ato que me faz rever e repensar tantas vezes conceitos e fatos me fazer avançar?
Para mim, escrever constitui assim um delicioso paradoxo...

Escrever, como afirmei no início desse texto, é sim uma arte, mas também
uma técnica. Às vezes escrever é caminhar por um deserto: uma tarefa árida e
solitária. A tecnicidade necessária em alguns textos, a pesquisa em campos ainda
inexplorados que nos desafiam com suas palavras novas (parecem-me até neolo-
gismos) e o contato com textos muito complexos no campo da Teologia e da Fi-
losofia representam um grande desafio a ser continuamente superado e que pode
tornar o ato da escrita até mesmo muito cansativo. Mas o fruto desse trabalho é

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enciclopédia teológica: numa perspectiva transdisciplinar

arte! Escrever também é arte! Mesmo um texto mais técnico requer sim a com-
binação de sensibilidade e perícia, profundidade e leveza, subjetividade e clareza.

Escrever – afirmo por fim – é de certo modo “imprimir a alma”. É um ato


que vai ao encontro da razão e do coração de quem me lê. Escrever requer diálogo
com as grandes mentes do mundo, afinal, só escreve de fato quem lê constante-
mente. Escrever é um “êxtase do agora” que documenta para a posteridade. O que
é escrever? É arte e técnica a serviço do outro!

O autor
escrevendo, claro.

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APR E S E NTAÇ ÃO

A ideia desta enciclopédia nasceu em abril de 2018 quando trabalhava em


meu escritório, em minha casa, em Porto de Santana, Cariacica (ES). Sentindo
necessidade de reunir todos os meus trabalhos literários em um só arquivo de
Word, com objetivo de facilitar a consulta, pedi ao amigo Elias Mendonça que
viesse ao meu escritório e fizesse esse trabalho para mim, pois eu me encontrava
muito ocupado com outras atividades. E ele prontamente me atendeu. Passados
dois ou três dias, enquanto cumpria meus afazeres normais do dia a dia, de re-
pente me ocorreu um insight: Por que não transformar todo este conteúdo1 em
uma espécie de enciclopédia para, assim, poder disponibilizar o meu traba-
lho, que é resultado de mais de uma década de pesquisa e produção textual,
para leitores e leitoras? A ideia me foi muito agradável, pois isso me levaria a
reorganizar todo o conteúdo – o que fiz ao longo de quase dois anos de trabalho
– e deixá-lo mais organizado e útil.
Pois bem. Enviei uma mensagem em áudio via WhatsApp ao Elias, co-
mentando a respeito da ideia. No dia seguinte conversei por telefone com outro
amigo, o Pastor Eliel de Souza, líder da Assembleia de Deus em João Neiva (ES),
ele também um escritor, buscando uma segunda opinião. Tanto ele quanto o Elias
deram total apoio e incentivo ao projeto. A ideia começava assim a ganhar forma.
Logo comecei a editar a enciclopédia e pude visualizar um sonho que haveria de
se realizar, pela graça de Deus. Foi uma tarefa árdua, e que me fez lembrar algu-
mas vezes uma frase inesquecível para mim: “Uma ideia pela qual não sofreste
não lhe pertence”.
Passados alguns meses, este projeto que começou com um insight e foi
prontamente incentivado por amigos, chegou ao conhecimento da Gerente Edi-
torial da Editora Reflexão, Caroline Dias de Freitas, por meio de um primeiro
contato que fiz com ela via Facebook e depois por telefone. Nosso diálogo se
estendeu durante alguns meses, tempo que eu mesmo demandei para prosseguir

1 O arquivo original, sem editoração, havia ficado com mais de 2.400 laudas!

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editando a Enciclopédia e fazendo os ajustes necessários para que, finalmente, a
publicação pudesse assim acontecer. Desse modo, o que inicialmente seria apenas
um arquivo para uso individual, tornou-se uma obra a serviço do público ledor.
Me senti imensamente honrado quando a Caroline me comunicou que por oca-
sião da publicação desta Enciclopédia, ela representa o maior projeto editorial da
Editora Reflexão até então, uma editora que naquele momento do nosso conta-
to, dispunha de um catálogo de mais de 550 obras, conforme me foi informado
pela própria Caroline.

Uma pergunta a mim mesmo

Durante a construção deste projeto, uma pergunta me “perseguiu”: “Por


que mais uma enciclopédia teológica?” Confesso ao leitor ou leitora que pro-
curo admitir – humildemente – que meu trabalho não possui a qualidade de ser
totalmente inédito, o que poderia levá-lo a ser considerado uma contribuição
ímpar na literatura cristã. E embora eu possua formação teológica a nível de mes-
trado, isto também não faz com que minha obra seja algo totalmente original. Na
verdade, ela é resultado de pesquisa, ressalto, de vários anos de pesquisa e produ-
ção. É óbvio que muitos insights são meus, propriamente meus e nesse sentido
creio que em alguns momentos apresentarei contribuições específicas, mas nada
que me permita afirmar que esta obra surge como algo totalmente inédito. Devo
mencionar ainda que, de certo modo, esta pergunta (“Por que mais uma enciclo-
pédia teológica?”) não me ocorreu exclusivamente a partir da construção deste
projeto, pois ela já me segue há vários anos em minha atividade como escritor
de livros: “Por que trazer mais livros à lume?” E tenho encontrado, sim, algumas
respostas ao longo da jornada que me motivaram e que aqui uso para justificar
esta enciclopédia.
Em primeiro lugar, o conhecimento precisa ser multiplicado. A pro-
dução literária replica, multiplica, inova, renova e também preserva o conhe-
cimento. Novos livros não são só um amontoado de papel com tinta impressa
neles. Obras novas circulando são veículos de comunicação e de transmissão

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de saberes, inclusive para as novas gerações. A leitura nos demove de nossos


“guetos existenciais”, que tendem a nos “confinar”, e nos permite “olhar além,
ouvir além e ir além”. Como Clarice Lispector, não procuro ser um profissional
da escrita. Escrever para mim é uma missão, no sentido de servir ao outro, mas
não uma obrigação. Escrevo alegre, livre e de modo independente, sabendo que
me uno a muitos que, como eu, ajudam a tornar melhor a Igreja e a sociedade
por intermédio das letras.
Em segundo lugar, quero dar a minha singela contribuição. Em muitos
momentos, na condição de escritor, me senti apenas mais um autor dentre tantos
produzindo livros. E até cheguei a pensar se alcançaria de fato as pessoas com as
minhas obras. Mas pude perceber que tenho leitores! Parece óbvio, e talvez até
seja, mas fato é que a despeito de possuirmos excelentes obras no mercado edi-
torial cristão, sempre teremos leitores ávidos por conhecimento que ao lerem os
nossos livros irão conhecer e/ou rever conceitos importantes por meio da nossa
escrita. Neste sentido, sinto-me feliz por poder agora oferecer ao leitor e a leitora
a minha contribuição, que é fruto de anos de pesquisa séria e de produção tex-
tual. Ouso encaixar esta obra e a mim mesmo na descrição que o editor-livreiro
parisiense Edouard Rouveyre fez, em 1880, a respeito dos livros. Ele comenta o
seguinte: “[...] reputa-se bom um livro que alcança com êxito a finalidade propos-
ta pelo autor, mesmo que consinta erros. Desse modo, um livro poderá ser bom
ainda que seu estilo seja ruim. Consequentemente, um historiador bem infor-
mado, sensato e diligente, um filósofo que raciocina com apuro sobre princípios
corretos, um teólogo ortodoxo que não se afasta das Escrituras e das máximas da
Igreja (primitiva), todos estes devem ser considerados bons autores, mesmo que
em seus livros sejam encontrados algumas negligências, problemas de estilo e
erros banais”.2
Outra razão para trazer a público esta enciclopédia é que ela me permite
consolidar uma obra. Ao longo dos anos, estudei de modo considerável, uma
atividade que continua fazendo parte de minha rotina. Meus textos brotam
desse esforço contínuo. Minha formação maior é em Teologia (Bacharelado

2 ROUVEYERE, Edouard. Dos livros. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2003. p. 57-9.

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e Mestrado), mas também fiz Segunda Licenciatura em Pedagogia e Pós-gra-
duação em Psicopedagogia Clínica e Institucional. Fiz estudos de Comple-
mentação Pedagógica em História e uma Pós-graduação em Metodologia do
Ensino da História e da Geografia. Logo após concluir minha graduação em
Teologia, iniciei meu curso de Psicanálise Clínica3 e também o meu Curso de
Extensão Universitária “Iniciação Teológica” pela Pontifícia Universidade Ca-
tólica do Rio de Janeiro (PUC-RJ). Mas além dessas áreas, também sou apai-
xonado por livros, o que me levou a fazer alguns cursos pela UNIL-UNESP
na área de editoração de livros. Assim, diversas áreas de estudos são contem-
pladas nesta enciclopédia justamente porque meus estudos, nesses campos de
conhecimento, foram gerando textos. Desse modo, você encontra aqui um
pouco de Teologia, Psicanálise, Educação, Filosofia, Sociologia, História, edi-
ção de livros, dentre outros assuntos. Para mim, é muito gratificante poder
colocar no papel o resultado de tanto tempo de trabalho, pelo que louvo
a Deus por isto e anseio profundamente que esta obra possa contribuir
de modo efetivo para com todos os leitores, e espero que sejam muitos!

E o estilo?

Isto foi um desafio, confesso! Como a Enciclopédia reúne textos meus


escritos durante vários anos, na editoração dela senti a dificuldade de unificar
o estilo, visto que o estilo de um autor pode mudar com o passar do tempo. E
comigo isto de fato aconteceu. Os meus textos recentes, especialmente os que
produzi depois do mestrado, que iniciei em 2016, são bem menos pessoais. Aliás,
é comum na escrita acadêmica evitar-se a pessoalidade. Mas na editoração da En-
ciclopédia fiz questão de manter a pessoalidade em diversos textos que produzi há
vários. Procurei reduzir um pouco, mas realmente não quis remover de todo essa
característica dos meus textos.
Esta escolha teve uma razão de ser. Não quis ser tão acadêmico ou formal
demais, ainda que minha formação acadêmica tenha incidido direta e positiva-

3 Atualmente nem se usa mais esta palavra – “clínica” – em conexão com a Psicanálise, por ela
constituir uma prerrogativa médica.

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mente na editoração desta Enciclopédia. Vi nessa escolha uma forma de me


manter mais “próximo” dos meus leitores. E creio que essa característica dos
meus textos é reflexo da minha atuação como professor de Teologia, lidando com
alunos em sala de aulas durante vários anos. Devo mencionar ainda que a maior
parte dos meus livros, que foram adaptados à esta Enciclopédia, foram escritos
com objetivo didático-teológico. Meu desejo, assim, é que a leitura desta obra
seja, de certo modo, um “diálogo”.
Assim, os pronomes pessoais estão presentes. E por vezes, em determi-
nadas afirmações e informações compartilhadas, faço uso, flexionando ou não,
da primeira pessoa do plural, “nós”, inferindo com isto que essas afirmações e
informações não são exclusivamente minhas, mas encontram paralelo em teó-
logos, comentaristas bíblicos, exegetas e demais especialistas nas áreas abordadas
nos artigos, verbetes, esboços e outros conteúdos. Noutros momentos, o “nós” é
também usado para indicar a participação dos leitores no que se está afirmando
ou mencionando.
Na verdade, esta enciclopédia reúne textos meus produzidos ao longo de
mais de uma década e, portanto, reflete vários momentos da minha produção
intelectual, bem como registra, de certo modo, a evolução na qualidade da es-
crita. Faço convergir nesta obra a experiência adquirida durante os anos, seja
como leitor, seja como escritor, seja como revisor, seja como diagramador, seja
como pesquisador e seja como acadêmico. Neste último caso, com efeito, minha
experiência no mestrado em Teologia contribuiu muito para o melhoramento na
qualidade da minha escrita e na qualidade da minha pesquisa, todavia, mesmo
trazendo de lá essas contribuições, como o cuidado com as fontes utilizadas e o
uso adequado delas, ainda assim optei por manter a pessoalidade nesta obra em
vários momentos, demonstrando com isto o desejo de “estar próximo do meu lei-
tor ou leitora”, como mencionado anteriormente. Quero imaginar a leitura desta
enciclopédia como um processo dialogal. Assim, não se escandalize com o uso das
pessoas verbais nesta obra.

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E o ethos?

Toda a minha vida como cristão tem sido desenvolvida no contexto


pentecostal. Mesmo tendo amadurecido ao longo dos anos um ministério de
ensino, de palestras e de pregações de caráter interdenominacional, eu mesmo só
fui membro de duas denominações ao longo de toda a minha vida, e todas elas
pentecostais.
A primeira, um ministério independente que durou 12 anos aproximada-
mente chamado Igreja Missionária Caminho do Céu, igreja essa que foi fun-
dada por minha mãe e que, por sua vez, teve sua formação cristã na Igreja de
Deus no Brasil, uma das denominações pioneiras do pentecostalismo.4 Minha
mãe levou toda a tradição recebida para a Igreja Missionária o que a definiu
exatamente como uma igreja local bem ao ethos pentecostal. Ainda sinto muitas
saudades da “igrejinha”... Em 2002, mais precisamente, em seis de janeiro de
2002, filiei-me à Assembleia de Deus onde permaneço até hoje.5
Embora eu só tenha falado em línguas por ocasião da minha experiên-
cia com o batismo com o Espírito Santo, penso ser justo considerar-me como
um cristão genuinamente pentecostal, e convicto, seja por experiência pessoal,
seja pela tradição a que sempre pertenci e seja pela Teologia Pentecostal que co-
nheço e que ensino. Cresci lendo teólogos pentecostais, brasileiros e estrangeiros,
esses últimos através de obras traduzidas, além das profundas e marcantes ex-
periências pentecostais que tive ao longo da minha vida no interior da vivência
eclesial pentecostal.
Conquanto meu trabalho, aqui, seja dialogal, transdisciplinar, não
nego meu ethos. Sou pentecostal! E tenho alegria de ter conhecido o evangelho
em uma “igrejinha” pentecostal, onde pude experienciar na prática “o significa-
do de ser igreja” e o significado de conhecer um Cristo vivo e real, e não o Jesus

4 A Igreja de Deus no Brasil é, na verdade, uma vertente da Igreja de Deus de Cleveland, nos
Estados Unidos, esta uma das denominações pentecostais surgidas na década de 1880, antes
ainda de Azusa.
5 Por razões diversas, mudei de igreja local algumas vezes, mas sempre vinculando-me, com
minha família, a alguma Assembleia de Deus, nunca outra denominação.

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enciclopédia teológica: numa perspectiva transdisciplinar

empoeirado da Busca6, ou o Jesus existencialista de alguns filósofos, ou mesmo o


Jesus distante que nos é apresentado por religiosidades evangélicas em excesso for-
mais e sem vida. Portanto, não estranhe o leitor se em algum momento da leitura
desta Enciclopédia, você se deparar com expressões – que fiz questão manter na
revisão geral – que “denunciem” meu estilo e ethos pentecostal. E claro: as muitas
referências a autores pentecostais espalhadas pelos artigos, esboços e indicações
que faço nesta Enciclopédia.
Minha oração é no sentido de que esta obra possa, inclusive, contribuir
para reduzir os “espantalhos”, as caricaturas e os preconceitos nutridos por irmãos
de outras denominações contra pentecostais. É fato que o Pentecostalismo tomou
alguns rumos muito tristes, e a nossa querida Assembleia de Deus enfrenta sérios
desafios doutrinários, relacionais e institucionais, mas quem, assim como eu, co-
nheceu o Pentecostalismo em seu “estado da arte”, como suspeito que seja o meu
caso, não consegue simplesmente esquecê-lo e prossegue crendo que “o vento
sopra onde quer...”.

Por que uma “Enciclopédia Teológica numa perspectiva


Transdisciplinar”?

Minha pesquisa tem se concentrado, ao longo de todos esses anos, ma-


joritariamente no campo da Teologia. E esse foi um processo natural, visto que
Teologia para mim é questão de vocação e formação. Minha formação maior é
em Teologia (Curso Médio, Bacharelado e Mestrado em Teologia até o momen-
to). Admito, contudo, que nunca consegui me concentrar exclusivamente nos
estudos sobre Teologia, e não por qualquer possível insatisfação pessoal com os
estudos teológicos, mas porque a própria Teologia reivindica esse diálogo com
outras disciplinas. E confesso aos leitores que tem sido muito gratificante para
mim manter esse diálogo ao longo do tempo.
Para minha pesquisa teológica é muito enriquecedor realizar esse “per-
curso” e manter diálogo com outras grandes mentes que pesquisaram, produ-

6 Referência à Busca do Jesus Histórico.

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ziram e escreveram em outras áreas de conhecimento como a Psicanálise, a
Filosofia, a Pedagogia, a Didática, a História, dentre outras. E louvo a Deus
porque, de certo modo, posso agora compartilhar com você, por meio desta
Enciclopédia, os resultados desse “percurso transdisciplinar”. Você poderá
perceber durante a leitura desta obra, que de maneira recorrente correlacionei
disciplinas, em diversos artigos, alinhando temas e buscando contribuições de
uma área para outra.
Hoje, se valoriza muito a transdisciplinaridade. Fala-se e escreve-se
sobre Transdisciplinaridade, Multidisciplinaridade e Interdisciplinaridade.
Cada conceito possui sua especificidade, mas eles mantêm certa relação en-
tre si. Neste trabalho optei pelo conceito de “Transdisciplinaridade” porque
ele é de fato o conceito que melhor corresponde ao conteúdo desta Enciclo-
pédia. A palavra “Transdisciplinaridade” representa, basicamente, o esforço
no sentido de diminuir a fragmentação do conhecimento humano, um fato
constatado por pesquisadores da área da Epistemologia. Foi o psicólogo suí-
ço Jean Piaget o primeiro a usar, na literatura, o termo “Transdisciplinarida-
de” oferecendo uma clara definição do conceito: “[...] enfim, no estágio das
relações interdisciplinares, podemos esperar o aparecimento de um estágio
superior que seria “transdisciplinar”, que não se contentaria em atingir as
interações ou reciprocidades entre pesquisas especializadas, mas situaria es-
sas ligações no interior de um sistema total sem fronteiras estáveis entre as
disciplinas”.7
A transdisciplinaridade é assim um esforço no sentido de produzir
um conhecimento unificado, a partir das contribuições de disciplinas especí-
ficas, sem que elas se fechem no sistema rígido não dialogal. A Transdiscipli-
naridade é uma reação assim ao ensimesmamento de disciplinas, que rejeitam
a interrelação entre saberes. A Transdisciplinaridade – é fundamental destacar
– não necessariamente propõe que as disciplinas em diálogo se descaracteri-
zem em suas especialiadades e especificidades, mas sim que proporcionem in-

7 PIERRE, Weil. Rumo à nova Transdisciplinaridade: sistemas abertos de conhecimento.


São Paulo: Summus, 1993, p. 30.

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enciclopédia teológica: numa perspectiva transdisciplinar

terações úteis, reconhecendo assim “a interdependência de todos os aspectos


da realidade”.8,9
Para mim, a experiência de pensar a Teologia em termos transdisci-
plinares tem sido fantástica, visto que uma Teologia “fechada”, não-dialogal
e que “não olha para os lados” nem mantém os “pés no chão”, por mais que
arvore dar toda glória somente a Deus, haverá de ser uma Teologia pobre, ensi-
mesmada e que acaba limitando seriamente sua própria contribuição. Teologia
precisa abrir-se ao diálogo com outros saberes, com outras disciplinas; o teólogo
deve assumir para si o desafio “psicanalítico temporal” de ser capaz de ouvir o
seu próprio tempo, e a Transdisciplinaridade se coloca como grande contribuin-
te nesse sentido. Estou convencido que, no final das contas, estamos apenas
recorrendo a recursos e reflexões que, de modo embrionário, já se encontram no
ensino do Mestre amado, o Senhor Jesus: Ele ensinava à partir de seu tempo e
para o seu tempo (ainda que seu ensino tenha transcendido sua própria época).
Ele falava a linguagem das pessoas com as quais convivia, sendo capaz de emu-
decer os doutores da Lei e falar ao coração do povo simples. Ele soube, como
ninguém, conjugar simplicidade e profundidade em seu ensino. Como teólogo
que comunico pela internet, pelo ensino, pela pregação e pela escrita, assumo
para mim este desafio.

8 PIERRE, 1993, p. 31.


9 Weil Pierre discorre, citando Erich Jantsch (1980), sobre as diferenças entre Multidiscipli-
naridade, Interdisciplinaridade e Transdisciplinaridade: “A pluri ou multidisciplinaridade
é a justaposição de várias disciplinas sem nenhuma tentativa de síntese. É o modelo que
predomina na universidade francesa. A interdisciplinaridade trata “da síntese de duas ou
várias disciplinas, instaurando um novo nível do discurso (metanível), caracterizado por
uma nova linguagem descritiva e novas relações estruturais”. A transdisciplinaridade, se-
gundo o autor, “é o reconhecimento da interdependência de todos os aspectos da realida-
de”. A transdisciplinaridade é a consequência normal da síntese dialética provocada pela
interdisciplinaridade, quando esta for bem sucedida. Esse ideal, disse o autor, nunca estará
completamente ao alcance da ciência, mas poderá orientar de modo decisivo a sua evolu-
ção” (PIERRE, 1993, p. 31).

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Conteúdo devocional numa enciclopédia teológica?

Pois é! E por que não? Esta enciclopédia tem vários conteúdos voltados ao
aspecto devocional. Não podemos negar que a devoção é uma bênção em nossas
vidas e representa, de certa maneira, a própria vida cristã. Sem devoção não há
vida cristã. O que somos na vida devocional reflete diretamente na vida que vi-
vemos perante o mundo. Por que não incluir temas devocionais numa obra desta
natureza? Julgo que assim como foi e tem sido útil a mim, será também ao leitor.
Embora não tenha preenchido grande parte desta obra com temas devocionais, o
teor devocional a perpassa.
Sendo esta obra também direcionada ao aspecto devocional da vida cristã,
e não apenas à pesquisa teológica, decidi, na medida em que o trabalho foi avan-
çando, incluir seções práticas como a seção PARA PREGADORES E EDUCA-
DORES CRISTÃOS: ESBOÇOS DE SERMÕES E DE PALESTRAS. Você
encontrará também textos distribuídos ao longo da obra intitulados DEVOCIO-
NAL e REFLEXÃO. São abordagens sobre temas variados, sempre pensados em
relação à vida cristã, à condição atual da Igreja brasileira e a outros temas atrela-
dos à vida. No caso da seção PARA PREGADORES E EDUCADORES CRIS-
TÃOS: ESBOÇOS DE SERMÕES E DE PALESTRAS, o que ocorre é que ao
longo dos anos, produzi vários esboços de sermões e palestras, demandados pelas
minhas ministrações em diversas igrejas por alguns estados do Brasil, mormente
em meu estado, o Espírito Santo. Não espero – como professor de Homilética
– que o leitor ou leitora reproduza de modo automático esses esboços, mas sim
que eles sirvam de ponto de partida, um a priori, para fins de comparação e como
fontes de informação para a análise bíblica, histórica e teológica.

Resultado de mais de 10 anos de pesquisa e produção literária

Esta enciclopédia reúne diversos livros que escrevi a partir de 2008, vários
outros trabalhos produzidos em cursos que realizei, também alguns artigos cien-
tíficos, apostilas e comunicações acadêmicas preparadas durante o meu mestrado

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enciclopédia teológica: numa perspectiva transdisciplinar

em Teologia.10 Naturalmente, ela passou por um processo de revisão geral, em que


os textos foram adaptados para atender ao ideal deste projeto. É importante des-
tacar isto até para que o leitor entenda a razão de eu não ter me preocupado em
apresentar uma obra que fosse exaustiva e que trouxesse artigos e verbetes de
outros diversos assuntos que poderiam ter sido abordados. E neste sentido,
não sou o único autor de uma enciclopédia a fazer isto.

O que você encontrará nesta Enciclopédia?

Artigos e verbetes
São quase 300 ao todo. Artigos de Teologia, de História, de Educação,
de Psicanálise e de outras áreas do conhecimento com as quais tenho dialogado
ao longo de vários anos. Eles foram dispostos em ordem alfabética objetivando
facilitar a sua localização pelo leitor e leitora, como acontece em obras desta
natureza. Esses artigos e verbetes – deve ser lembrado aqui – foram adaptados
a partir de diversos trabalhos que escrevi ao longo de uma década. Eles podem
ser encontrados em alguns livros meus, inclusive, mas aqui reorganizei todo esse
conteúdo na forma enciclopédica a fim de torná-lo mais “acessível”, didático e
útil. Esta foi a intenção original e agora, com alegria, posso compartilhar com
os meus leitores.

Cronologia Bíblica
Situar os textos bíblicos e os fatos da História (bíblica e não bíblica) é
fundamental para entender as Escrituras e a História de um modo mais amplo.
A cronologia bíblica é fundamental para nos ajudar a compreender as narrativas
bíblicas, quando nos auxilia a situá-las no tempo. Um princípio hermenêutico
fundamental para o correto entendimento das Escrituras é justamente considerar
o contexto histórico, pois isto nos permite perceber o porquê de determinadas
expressões, modos, costumes e crenças que são refletidos no texto bíblico. Essa
Cronologia Bíblica, assim como as outras duas (Cronologia Eclesiástica e Crono-

10 Optei por não incluir a minha dissertação de mestrado, objetivando publicá-la no futuro
como obra independente.

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logia Teológica), não são exaustivas, mas creio que serão muito úteis no sentido de
sumariar eventos importantes e tecer comentários elucidativos sobre eles.

Cronologia Eclesiástica
Uma cronologia eclesiástica nos auxilia na compreensão do nosso próprio
ethos cristão, de modo que aquilo em que cremos, que pregamos e que praticamos
hoje, como ekklesia, é em grande medida o resultado de séculos de fatos ocorridos
no passado na vida da Igreja. Se a cronologia bíblica foca nos eventos bíblicos,
uma cronologia eclesiástica foca na história da Igreja.

Cronologia Teológica
Para estudantes da disciplina Teologia, mas, especialmente para estudantes
de Teologia Contemporânea e História do Cristianismo, aqui reside uma im-
portante ferramenta. O objetivo desta seção é alistar os principais eventos do
pensamento teológico ao longo da história do Cristianismo. Ainda que esta se-
leção passe pela minha escolha pessoal, evidentemente ela encontra amparo na
comunidade acadêmica teológica que reconhece esses eventos e sua importância
para a Teologia.
Por mais que o aprofundamento nos eventos históricos da Teologia seja
fundamental, considerar de modo objetivo os principais fatos da história da refle-
xão teológica cristã, a partir de uma cronologia como esta, disponível aqui, ajuda
muito no sentido de obter uma visão panorâmica, conhecer autores principais e
que ajudaram a consolidar teologias e conhecer essas teologias. Isto, além de con-
tribuir para perceber o impacto desses eventos não apenas nos círculos teológicos,
mas na cristandade de um modo geral.

Esboços de Sermões e Palestras


Ao longo dos anos, venho proferindo palestras e pregações em algumas
centenas de igrejas. Com grata satisfação disponibilizo aqui aos leitores este
material que poderá auxiliá-lo na assimilação do que é e como se prepara um
esboço, de sua importância para o ministério do ensino e da pregação, auxi-
liando também na elaboração de novos esboços e ainda, sendo fonte de muitas

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enciclopédia teológica: numa perspectiva transdisciplinar

informações nas áreas da Teologia, da Teologia Bíblica, da Educação Cristã en-


tre outras.

Índice Temático
A ideia do Índice Temático me ocorreu há alguns anos enquanto pesqui-
sava e sentia a necessidade de ir anotando, por área de estudos, as obras às quais
eu estava recorrendo. Daí surgiu o Índice Temático que agora compartilho com
você, prezado leitor ou prezada leitora. Obviamente, ele não pretende ser exaus-
tivo, mas alista centenas de referências bibliográficas e não bibliográficas às quais
recorri. Ele está organizado por assuntos em diversas áreas do conhecimento.
Meus alunos e também leitores da internet sempre me pedem indicações de lei-
tura, o que de algum modo evidencia a necessidade de boas indicações de leitura.

Outros conteúdos
Informações de cunho biográfico sobre importantes personagens bíbli-
cos, da História da Igreja e da História Geral são também encontradas nesta
Enciclopédia. Grandes teólogos são revisitados, bem como o seu pensamento,
além de outros personagens importantes. Por vezes, para entender o pensamento,
a obra e determinados fatos que envolvem pessoas, é preciso conhecer um pouco
sobre quem elas foram.
Você também encontrará textos devocionais, como mencionado ante-
riormente. Esses devocionais aparecem em separado, como também em trechos
menores inseridos nos próprios artigos e verbetes. Não deve o leitor ou leitora
presumir que esses textos indicam que esta obra, em seu conjunto, não tenha
rigor metodológico e conceitual. Em minha jornada na leitura e pesquisa acadê-
mica sempre procurei conjugar espiritualidade e razão, devoção e episteme e, a
propósito, ler autores competentes enquanto lia autores tementes a Deus, asso-
ciando sensibilidade com racionalidade. Penso que a devoção aplicada à vida pes-
soal do estudante de Teologia, do professor de Teologia, do pesquisador, enfim,
contribui para a construção de uma jornada teológica que nos mova para Deus e
para o próximo, que nos permita ouvir, com nosso coração, a Deus e ao próximo.

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Concluindo...

Concluo esta apresentação desejando a você uma ótima leitura e pesquisa


nesta Enciclopédia. Minha oração a Deus, por ocasião da editoração e publicação
desta obra, é que ela seja uma ferramenta útil a muitos leitores espalhados pelo
nosso Brasil.

7 de fevereiro de 2020,
Araruama, Rio de Janeiro,
Em Cristo,
Roney Cozzer... apenas um escritor que não deu certo.

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A RT IGOS
&
V E R BETES

E M O R D E M A L FA B É T I CA

A — G

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parável amor proverá 144 mil testemunhas,
que anunciarão ao mundo o evangelho. Esses
144 mil são judeus, santos homens de Deus,
advindos das doze tribos de Israel, como fica
claro nos textos bíblicos em apreço. Eles serão
perseguidos pelo Anticristo e provavelmente2
144 MIL DE APOCALIPSE 7.1- serão martirizados, haja vista a diferença dos
8 E 14.1-5, OS.1 cenários: no capítulo sete eles são vistos na
Terra, ao passo que no capítulo 14 eles são
É glorioso observar que mesmo nos tempos
vistos juntos ao “[...] Cordeiro em pé sobre
de maiores trevas espirituais sobre a humani-
o monte Sião”.
dade, Deus não ficou sem testemunhas para
testificar do Seu nome. Isso aconteceu no pas-
sado bíblico, com Elias, que chegou a pensar 24 ANCIÃOS DE APOCALIPSE,
que somente ele havia restado dos profetas do OS.
Senhor: “Ele respondeu: Tenho sido zeloso
Afinal quem são os 24 anciãos descritos
pelo Senhor, Deus dos Exércitos, porque os
no livro de Apocalipse (4.4,10; 5.8; 11.16
filhos de Israel deixaram a tua aliança, derri-
e 19.4)? Várias respostas são dadas aqui: há
baram os teus altares e mataram os teus pro-
os que creem que eles são anjos governantes,
fetas à espada; e eu fiquei só...” (1 Re 19.10).
outros creem que 12 desses anciãos são os 12
Deus, no entanto, reservara para Si sete mil
patriarcas de Israel e 12 são os doze apóstolos
que não haviam se contaminado com o cul-
do Cordeiro, representando Israel e a Igre-
to idólatra a Baal (1 Re 19.18). Considerar o
ja em adoração a Deus e ainda outros que
significado dessas passagens do livro de Apo-
acreditam que eles representam a totalidade
calipse significa também refletir sobre este as-
da Igreja no Céu. Quanto a primeira posição
sunto. No período da Grande Tribulação não
será diferente. Mesmo estando a humanidade
mergulhada no pecado, Deus, em seu incom- 2 “Provavelmente” porque há escatólogos
que advogam outras possibilidades; há
quem defenda a possibilidade de que eles
1 Este artigo foi produzido na perspectiva dis- não serão mortos, e ainda, quem defenda
pensacionalista e pré-tribulacional. Natural- a possibilidade de que eles poderão vir a
mente, há outras perspectivas interpretativas serem mortos ou não, estando a questão
desses textos do livro de Apocalipse. em aberto.

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citada, não creio ter ela boa base bíblica, pois A AMBIVALÊNCIA DO
vemos que os anjos são citados como estan- CONTEXTO RELIGIOSO:
do ao redor dos anciãos (Ap 5.11 e 7.11) o ADOECIMENTO E
que indica distinção entre os anjos e os an- CURA. APORTES DA
ciãos. Quanto a segunda posição citada, de TERAPIA COGNITIVO
que 12 seriam os 12 patriarcas e 12 seriam COMPORTAMENTAL
os 12 apóstolos do Cordeiro, também não
Sandra Helena do Nascimento4
creio nessa posição por uma razão: não vejo
Roney Ricardo Cozzer
motivo para os doze patriarcas, filhos de
Jacó, aparecerem numa posição tão distinta INTRODUÇÃO
como a que vemos aqui, pois eles não tive-
A Terapia Cognitivo Comportamental
ram uma vida com Deus tão expressiva, não
(daqui para frente, apenas TCC) se coloca
todos. Aliás, eles aparecem nas páginas anti-
como uma das várias terapias, hoje existen-
gotestamentárias de forma negativa. Dentre
tes, com vistas a auxiliar as pessoas em pro-
eles, o que se destacou quanto ao andar com
blemas relacionados à sua psique. Como se
Deus foi José, vendido pelos seus irmãos – os
sabe, a TCC é desenvolvida principalmente
demais patriarcas. A posição aqui adotada é
a partir dos estudos em torno de quadros de
a terceira, de que são representantes da Igre-
depressão realizados pelo psiquiatra e pes-
ja em todos os tempos, em sua totalidade.
quisador norte-americano Aaron T. Beck
Essa é a posição de C. I. Scofield, que afir-
(1921-) na década de 1960 e atualmente é
ma: “Estes anciãos representam a Igreja. A
entendida como uma forma de lidar com
palavra “ancião” tem importância eclesiástica
diversos tipos de problemas e transtornos
(1 Tm 5.17; Tt 1.5). No Novo Testamento,
psicológicos.5 O interesse pelos problemas
as coroas são apresentadas exclusivamente
como recompensa para os fiéis na Igreja. Os
anciãos sentam-se em tronos que estão asso- 4 Psicóloga e pós-graduanda em Psicopa-
tologia em Dependência Química pela
ciados com o trono do juízo de Deus (Ap
Unyleya. Contato: sandrahelena67@
4.2-4; comp. 1 Co 6.2,3; 2 Tm 2.12)”.3 yahoo.com
5 NEUFELD, Carmem Beatriz. RAN-
GÉ, Bernard P. (org.s.). Terapia cog-
3 SCOFIELD, C. I. Bíblia de Estudo Sco- nitivo-comportamental em grupos:
field. São Paulo: Holy Bible, 2009, p. das evidências à prática [recurso ele-
1.166. trônico]. Porto Alegre: Artmed, 2017.

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de ordem psicológica vem crescendo e esses licas ou protestantes; e vale destacar ainda
problemas vêm recebendo atenção especial que até mesmo os problemas são comuns,
da comunidade médica também. Reconhe- muitas vezes, bem como as saídas possíveis
ce-se que não apenas o aspecto patológico são também tangíveis a todas elas, respei-
deve ser considerado no tratamento de pes- tando-se, é claro, suas especificidades.
soas que sofrem, mas também os aspectos Duas áreas de estudos “encontram-se” na
psicológicos devem ser observados. Assim, presente pesquisa: a Teologia e a Psicolo-
a avaliação psicológica se apresenta como gia. De um lado, a Teologia em face da
um caminho necessário. sua relação com o contexto eclesial, com
O foco da presente pesquisa recai sobre a Igreja. A Teologia dedica parte de seus
o contexto religioso e as possíveis con- esforços a entender justamente o que é a
tribuições para o melhoramento das re- Igreja, em seu aspecto bíblico-teológico,
lações nesse ambiente a partir da TCC. bem como em seu aspecto funcional, orgâ-
É reconhecido aqui que o ambiente reli- nico e institucional. A disciplina teológica
gioso provoca uma ambivalência: tanto é dedicada a esses estudos é a Eclesiologia,
terapêutico como é adoecedor, do ponto que o teólogo M. Semerano define como
de vista emocional e psíquico. A fim de sendo “[...] a parte da teologia dogmáti-
situar e delimitar a presente pesquisa, o ca que estuda a realidade da Igreja”.6 Para
interesse recaiu sobre o contexto eclesial o teólogo protestante norte-americano
protestante, que abarca segmentos com Wayne Grudem, “Igreja” é: “[...] a comu-
uma enorme variedade de denominações. nidade de todos os cristãos de todos os
A despeito dessa variedade, há elementos tempos. Essa definição compreende que a
cúlticos e doutrinários comuns que per- igreja é feita de todos os verdadeiramente
mitem que essas igrejas sejam agrupadas salvos. Paulo afirma: “Cristo amou a igre-
debaixo da mesma nomenclatura: evangé- ja e entregou-se a si mesmo por ela” (Ef
5.25). Aqui o termo “igreja” é usado para
Disponível em: <https://books.google.
referir-se a todos aqueles pelos quais Cris-
com.br/books?id=1tCuDgAAQBA-
J&printsec=frontcover&dq=Terapia+-
Cognitivo+Comportamental&hl=p- 6 SEMERANO, M. Eclesiologia in: LEI-
t-BR&sa=X&ved=0ahUKEwil5beZ0obe- TE, Silvana Cobucci. MARCIONILO,
AhWLj5AKHfQmATYQ6AEIKDAA#- Marcos. et al. Lexicon: Dicionário Teo-
v=onepage&q&f=false> Acesso em 14 lógico enciclopédico.  São Paulo, SP:
out. 2018. Loyola, 2003, p. 221.

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to morreu para redimir, todos os salvos 1. A TERAPIA COGNITIVO


pela morte de Cristo”. 7
COMPORTAMENTAL
A definição acima apresentada representa A presente pesquisa aceita o desafio con-
muito bem o sentimento de muitos pro- siderável de refletir sobre práticas saudá-
testantes em relação a sua compreensão veis do ambiente eclesial e sobre os pro-
quanto à Igreja. Denota o elo para a sua blemas desse mesmo ambiente, em diálo-
pertença ao “corpo de Cristo”. Esta é, pois, go com as contribuições da TCC. Tal re-
uma definição importante neste trabalho. flexão exigiu dos autores, naturalmente,
Todavia, esse mesmo “corpo de Cristo” a capacidade de pesquisar e dialogar com
também lida com problemas sérios em seu diferentes áreas de conhecimento, mais
interior, o que requer de líderes o diálogo especificamente a Psicologia e a Teologia,
com saberes não teológicos para lidar com tendo exercido influência o fato de que os
o complexo psíquico das pessoas. O fecha- próprios autores estão, eles próprios, in-
mento em si do saber teológico não só é seridos no contexto eclesial, desenvolven-
inviável nos dias atuais, como pode gerar do atividades junto a comunidades cristãs
complexos e caricaturas dos problemas en- em regiões de carência social e, no caso da
frentados pelas pessoas, inclusive no am- Sandra, por sua relação com a Psicologia,
biente eclesial que, não poucas vezes, é ele tanto pela formação como pelo exercício
mesmo o gerador de problemas de ordem da profissão.
psíquico-emocional. Assim, a TCC é vista
Iniciamos este artigo definindo o que é a
aqui como uma dessas possíveis ferramen-
TCC, no segundo tópico considera-se al-
tas para se lidar com essa ambivalência
guns dos desafios presentes no contexto
presente no contexto religioso.
religioso, atualmente, o que, naturalmente,
implicará numa mudança considerável de
linguagem neste artigo, visto que a reflexão,
neste caso, recairá sobre o contexto eclesial.
Todavia, ao desembocar no tópico três, o
presente trabalho apresentará uma reflexão
7 GRUDEM, Wayne A. Teologia
Sistemática. Trad.: Norio Yamakami.
que é baseada justamente no diálogo entre
Lucy Yamakami. Luiz A. T. Sayão. Teologia e Psicologia, verificação psicológi-
Eduardo Pereira e Ferreira. São Paulo: ca e realidade eclesial.
Vida Nova, 1999, p. 715.

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A TCC pode ser considerada uma psico- algumas especificidades desse grupo social
terapia e os psicanalistas Elisabeth Roudi- que envolve o indivíduo.
nesco e Michel Plon definem “psicoterapia” A sociedade humana de um modo geral
como sendo um “método de tratamento reúne vários tipos de grupos sociais, cada
psicológico das doenças psíquicas que uti- qual com suas características próprias. Sig-
liza como meio terapêutico a relação entre mund Freud (1856-1939) comenta que
o médico e o paciente, sob a forma de uma “[...] é possível distinguir tipos muito di-
relação ou de uma transferência”. A TCC 8
ferentes de grupos e linhas opostas em seu
tem ganhado força e se apresenta também desenvolvimento”. O “pai da Psicanálise”
em modalidades diferentes: pode ser dire- prossegue afirmando:
cionada ao indivíduo como também a um
grupo. A TCC também vem sendo usada
Há grupos muito efêmeros e outros
no tratamento de diversos tipos de pro-
extremamente duradouros; grupos ho-
blemas psicológicos. “Com suas diferentes
mogêneos, constituídos pelos mesmos
modalidades, ela trouxe várias inovações e
tipos de indivíduos, e grupos não homo-
obteve um crescimento significativo nos úl-
gêneos; grupos naturais e grupos artifi-
timos anos, quando comparada com outras
ciais, que exigem uma força externa para
formas de psicoterapia”.9
mantê-los reunidos; grupos primitivos e
A TCC lida com questões fundamentais grupos altamente organizados, com es-
à constituição da subjetividade humana trutura definida.10
como a ressignificação de conceitos, de
práticas e de emoções. Comportamento, Ele coloca a igreja como um grupo artifi-
sintomas evidenciados e o contexto social cial que requer certa força externa para se
que envolve. Por isto mesmo, é importante manter agregada e ainda, para sustentar sua
– ou mesmo fundamental – que se conheça estrutura. Para Freud, um elemento im-
portante para manter essa coesão na Igreja
8 ROUDINESCO, Elisabeth. PLON, Mi-
chel. Dicionário de Psicanálise. Trad.: 10 FREUD, Sigmund. Obras psicológicas
Vera ribeiro. Lucy Magalhães. Rio de Ja- completas de Sigmund Freud: edição
neiro: Zahar, 1998, p. 624. standard brasileira. vol. 18: Além do
9 BESSA, Larissa Medeiros. Técnicas de princípio do prazer, psicologia de grupo
Terapia Cognitivo Comportamental. e outros trabalhos. Rio de Janeiro: Imago
Brasília, DF: Unyleya, [s.d.], p. 8. Editora, 1996, p. 99.

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é justamente a convicção de que há um lí- e do aprendizado, e de modo cumulativo,


der, o “cabeça da Igreja”, Cristo. Ele chama avaliativo e seletivo, vai reagindo às deman-
esta convicção de ilusão. Nesse grupo, os
11
das do cotidiano. Desse modo, emoções,
sujeitos estão ligados a Cristo e uns aos ou- ações e pensamentos prosseguem numa
tros, partindo do princípio de que Cristo é constante interação. Naturalmente, as téc-
uma espécie de “pai substituto” para eles. nicas aplicadas pela TCC consideram esses
A despeito dessa relação fraterna, ele indica aspectos:
que há certa falta de liberdade do indivíduo
no grupo, que implica em limitação na sua [...] de modo abrangente, as técnicas
própria personalidade. Aqui, já se começa
12
da terapia cognitiva-comportamental
a exemplificar, a partir da teoria freudiana, visam trabalhar, em termos de ajustes
uma das possíveis razões para o adoeci- cognitivos, os padrões e modos de fun-
mento emocional e psíquico no ambiente cionamentos prejudiciais aos indivíduos,
eclesial. Mas vale destacar que na relação de considerando o sistema de mútua influ-
fraternidade também residem possibilida- ência entre pensamento, emoção e com-
des, que podem ser exploradas pela TCC. portamento. Dessa forma, por meio de
A TCC direciona seu enfoque de modo es- registros de pensamentos disfuncionais,
pecial ao comportamento e à cognição. Di- técnicas de reestruturação cognitiva e
reciona seu interesse pela cognição humana sistemas de análise das crenças irracio-
e seus reflexos sobre o comportamento. É nais, busca-se a reformulação ou ressig-
claro que aqui está se falando da teoria13, nificação dos padrões disfuncionais por
nem tanto da terapia, ainda que na terapia padrões mais funcionais do pensamento,
isso haverá de ser considerado orientando algo que, por sua vez, refletirá também
assim o trabalho do terapeuta. nas emoções e no comportamento da
pessoa.14
A cognição humana vai sendo desenvolvida
ao longo da vida, por meio das experiências
Aaron T. Beeck comenta a respeito do cres-
cimento da TCC e afirma que “[...] um nú-
11 FREUD, vol. 18, 1996, pp. 99,100. mero crescente de diferentes transtornos, e
12 FREUD, vol. 18, 1996, pp. 100,01. transtornos mais graves, são agora tratados
13 Naturalmente, há distinção entre teoria e
terapia; aquela enfatiza o aspecto concei-
tual, esta o aspecto prático. 14 BESSA, [s.d.], p. 10.

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com terapia cognitiva [...]”.15 Beeck defen- der como a melhora é conseguida a fim
de ainda a possibilidade de que a TCC seja de verem a si próprios como parceiros
usada como um meio integrador na prática colaboradores no empreendimento tera-
clínica. De um modo geral, pode ser dito pêutico. Para ensinar isso a seus pacientes,
que a TCC é resultado de um trabalho teó- os terapeutas devem possuir um aporte
rico em redor do efeito causado pelas teo- teórico para técnicas de tratamento espe-
rias pessoais na vida dos indivíduos. Esses cíficas. De outro modo, não há estrutura
construtos pessoais refletem de modo dire- sobre a qual basear o processo de colabo-
to na vida do sujeito, mas nem sempre de ração. Por outro lado, sem a teoria a prá-
modo positivo, podendo ser mal adaptados tica de psicoterapia se torna um exercício
e assim causar danos à sua saúde emocional puramente técnico, destituído de qual-
e até física. Na TCC, a psicopatologia e a quer base científica.17
psicoterapia se encontram.16
Na TCC, a cognição é vista como a cha-
É defendido no âmbito da TCC que as prá-
ve para detecção e consequente tratamento
ticas clínicas sejam orientadas pelas detec-
para os transtornos psicológicos. A cogni-
ções psicoterapêuticas, e o terapeuta atua
ção é fundamental para equilibrar o mundo
numa constante interação com o paciente.
interior do sujeito e a realidade externa que
Essa aceitação por parte do paciente é fun-
o envolve. A estrutura cognitiva do sujeito,
damental, pois é justamente neste ponto
para adaptar-se ao mundo, precisa dispor
que o terapeuta consegue mediar sua cogni-
de um significado, e em seguida ele com-
ção ou participar de seu mundo cognitivo.
bina esse significado cognitivo com o con-
Beck comenta a respeito da importância da
texto social que interage com aquilo que na
participação dos pacientes no processo te-
Psicanálise é chamado de self. O self é o eu
rapêutico:
autêntico que pode ser “soterrado” ao longo
da vida por meio da distorção da persona-
Para que haja colaboração é necessário ha-
lidade.18
ver estrutura. Os pacientes devem apren-
O interesse pelo mundo cognitivo do indi-
15 BECK, Aaron T. O poder integrador da víduo, pela sua subjetividade e constituição
terapia cognitiva. Trad.: Maria Cristina
Monteiro. Porto Alegre: Artes Médicas
Sul, 2000, p. 14. 17 BECK, 2000, p. 22.
16 BECK, 2000, p. 21. 18 ROUDINESCO, 1998, p. 699.

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artigos & verbetes

psíquica não é exclusivo da Psicologia ou da Mesmo quando a interação terapêutica


Psicanálise. A Teologia também se aproxima clínica inclui a aplicação de outras tera-
do tema, ainda que ao seu modo, como se pias nominais (tais como técnicas com-
verá adiante, e esse interesse deve, inclusive, portamentais ou a livre associação de
ser visto de modo muito positivo, frente aos produtos cognitivos conscientes), a psico-
novos desafios que se colocam diante do su- terapia é indiscutivelmente um exercício
jeito contemporâneo, como o esvaziamento de troca de informação.21
da subjetividade na Pós-modernidade.
Naturalmente, o terapeuta poderá usar
Na TCC, a cognição tem sido vista como
conceitos variados, oriundos da Psicologia
uma espécie de “ponte clínico-teórica”.19 In-
e/ou da Psicanálise para o prosseguimento
dependentemente da abordagem adotada
do atendimento ao cliente, mas o histórico
no tratamento de um distúrbio psicológi-
desse paciente será fundamental para que o
co, a comunicação verbal é um caminho
terapeuta possa assim direcionar seu aten-
fundamental para se chegar ao ponto de
dimento e ajudar o cliente de modo mais
o terapeuta conseguir auxiliar o sofrente.
efetivo. Os transtornos psicológicos muitas
“Portanto, um aspecto comum entre as vá-
vezes têm origem num longo histórico que
rias psicoterapias é que a terapia envolve co-
vai sendo construído no decurso da vida do
municação, ou a troca de informação, entre
cliente. O contexto eclesial, como será de-
terapeuta e paciente”.20
monstrado a seguir, também contribui de
O acesso a esse “mundo interior”, ou in- modo significativo para esse adoecimento
consciente para falar freudianamente, passa emocional. Por vezes, quando a pessoa che-
pela comunicação entre o terapeuta e o pa- ga a procurar ajuda, ela já está na ponta de
ciente. Por meio dessa comunicação estabe- um longo processo que se agravou e agora
lecida, tem lugar uma interação cognitiva. precisa ser revertido.
Por mais que pareça simples, essa interação
tem sua complexidade e envolve transfe-
2. MARCAS DO CONTEXTO
rência e contratransferência, objetividade
RELIGIOSO
e subjetividade, comunicação verbal e não
verbal. Para Beck: O contexto eclesial coloca diversos desafios
que podem ser atendidos pela Terapia Cog-
19 BECK, 2000, p. 47.
20 BECK, 2000, p. 47. 21 BECK, 2000, pp. 47,48.

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nitivo Comportamental. Atualmente, o tos casos, inédito). O ambiente religioso
número de fobias e transtornos é realmente proporciona muitos fatores positivos que
muito grande. O pânico, por exemplo, é aqui podem ser, inclusive, elencados, bre-
um mal que vem atingindo muitas pessoas vemente, e que muito contribuem para a
e que ainda intriga. Sigmund Freud comen- saúde e em alguns casos, para a recupe-
ta que não necessariamente é a magnitude ração emocional das pessoas. Pessoas que
de um risco ou perigo que se coloca como a foram vítimas de preconceito social, vio-
fonte originadora do pânico, visto que por lência sexual, assédio moral, abandono
vezes ele se manifesta em situações triviais familiar, dentre outros males, encontram
em que a maioria das pessoas não se sen- na igreja um lugar de apoio e acolhida,
tem ameaçadas de algum modo. Freud co- podendo trilhar assim o caminho da res-
menta: “[...] pertence à própria essência do tauração emocional.
pânico não apresentar relação com o perigo Mas não se pode negar que há também
que ameaça, e irromper frequentemente fatores altamente destrutivos no aspecto
nas ocasiões mais triviais”.22 Mas o pânico é psicológico e que até se perpetuam na con-
apenas um dentre tantos outros exemplos. vivência eclesial. A seguir, serão considera-
Não seria o contexto religioso devedor, em dos alguns fatores positivos e depois alguns
parte, à multiplicação desses males? Fato negativos.
é que o número de pessoas com doenças
Começando, pois, por fatores positivos,
emocionais e psicológicas no contexto ecle-
pode ser citado o da convivência sau-
sial é elevado.
dável entre as pessoas, em torno das ati-
O que se procura demonstrar no presente vidades religiosas que são praticadas no
trabalho é que o ambiente cristão muitas interior das igrejas locais. Do ponto de
vezes apresenta um aspecto vivencial que vista da Teologia, o próprio conceito de
é duplo. De um lado, se mostra terapêuti- “Igreja” está atrelado diretamente a ideia
co, o que não pode ser negado. São mui- de comunidade. O termo “igreja” indica-
tas as pessoas profundamente restauradas ria assim um grupo de pessoas redimidas
pelo encontro pessoal que tiveram com a pelo sacrifício de Jesus que vivem numa
espiritualidade presente em muitos con- comunhão entre si, e daí a expressão “ir-
textos evangélicos (encontro esse, em mui- mão” (ou “irmã”) usada entre os cristãos.
A igreja é uma comunidade que, inspirada
22 FREUD, vol. 18, 1996, p. 102.

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artigos & verbetes

no livro de Atos dos Apóstolos, reparte o Os anseios de fraternidade e de convivên-


pão com seus membros e se reúne regular- cia que a igreja procura encontram base
mente para o culto cristão, onde também em textos neotestamentários como esse.
encontram instrução mútua nos princí- Documentos oficiais de denominações
pios doutrinários extraídos da Bíblia. No evangélicas procuram também definir o
livro de Atos dos Apóstolos há um trecho que vem a ser a Igreja e qual a sua missão
que pode ser destacado e que aponta jus- no mundo. Reconhece-se a igreja como
tamente para esse arquétipo em relação à uma espécie de “assembleia universal”,
comunidade eclesial: mas se reconhece também seu aspecto lo-
cal comunitário:
E eles perseveravam no ensino dos após-
tolos e na comunhão, no partir do pão e Cremos, professamos e ensinamos que a
nas orações. Em cada alma havia temor, Igreja é a assembleia universal dos santos
e muitos sinais e feitos extraordinários de todos os lugares e de todas as épocas,
eram realizados pelos apóstolos. Todos cujos nomes estão escritos nos céus: “À
os que criam estavam unidos e tinham universal assembleia e igreja dos primo-
tudo em comum. Vendiam suas proprie- gênitos, que estão inscritos nos céus, e
dades e bens, e os repartiam com todos, a Deus, o juiz de todos, e aos espíritos
segundo a necessidade de cada um. E dos justos aperfeiçoados” (Hb 12.23).
perseverando de comum acordo todos A Igreja foi fundada por nosso Senhor
os dias no templo, e partindo o pão em Jesus Cristo, pois Ele mesmo disse: “so-
casa, comiam com alegria e simplicidade bre esta pedra edificarei a minha igreja,
de coração, louvando a Deus e contando e as portas do inferno não prevalecerão
com o favor de todo o povo. E o Senhor contra ela” (Mt 16.18). Essa pedra é o
lhes acrescentava a cada dia os que iam próprio Cristo: “Ele é a pedra que foi re-
sendo salvos.23 jeitada por vós, os edificadores, a qual foi
posta por cabeça de esquina” (At 4.11),
tendo a doutrina dos apóstolos por fun-
23 BÍBLIA. Português. Almeida Século 21. damento e Jesus a principal pedra de es-
2008. SAYÃO, Luiz Alberto Teixeira. Bí- quina: “edificados sobre o fundamento
blia Sagrada Almeida Século 21/ [Anti-
dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus
go e Novo Testamento]. São Paulo: Vida
Nova, Hagnos 2008, Atos 2.42-47. Cristo é a principal pedra da esquina” (Ef

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PAR A PR EGA DOR E S

&

E DUCAD O R E S CR I ST Ã OS

E S BO Ç OS DE

S E R M Õ E S E DE PA L E ST R A S

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S O BR E E STA S E Ç Ã O

A seguir, disponibilizo diversos esboços de sermões e palestras que preparei


ao longo de anos de ministério. A proposta não é, de modo algum, dar ao pre-
gador ou a pregadora o sermão pronto para ser ministrado em alguma ocasião.
Isto contrariaria minha posição como educador cristão e professor de Teologia ao
longo de anos que sempre insiste com seus alunos e leitores no sentido de que
eles próprios desenvolvam a capacidade de pesquisa, escrita e construção de seus
próprios sermões, palestras e aulas.
A ideia de compartilhar estes esboços se dá por algumas razões que jus-
tificam a presença deste conteúdo nesta enciclopédia. Não é mera tendência. A
primeira razão que destaco para disponibilizar estes esboços é que eles são fruto
de pesquisa séria, que reúne e cataloga informações importantes sobre temas
variados, que o leitor poderá então explorar. A segunda razão é que tenho leitores
que estão iniciando no ministério de pregação e/ou de ensino, e por vezes não
sabem como preparar um esboço. Modelos ajudam muito! E foi pensando nisto
que decidi incluir este conteúdo nesta obra. E mesmo pregadores e educadores
experientes poderão colher ideias e gerar novos esboços a partir destes. Eu mesmo
uso sermonários e sua utilidade para mim, neste sentido, é muito válida.

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enciclopédia teológica: numa perspectiva transdisciplinar

E S BO Ç O 1

TEMA DO SERMÃO: A PREMENTE NECESSIDADE DE OBEDECER


AOS PRECEITOS DO SENHOR1TEXTO BÍBLICO BASE: “E estas
palavras, que hoje te ordeno, estarão no teu coração” (Deuteronômio 6.6).

INTRODUÇÃO

O livro de Deuteronômio2 faz parte do Pentateuco e é tradicionalmente


atribuído a Moisés, tanto entre cristãos quanto entre judeus. Um fato interessan-
te sobre o título grego do livro é que ele seria uma interpretação equivocada de
17.18 que conclui ser uma “segunda lei”, quando na verdade não se trata de uma
segunda (outra) lei, mas sim da repetição da mesma Lei do Senhor, às vésperas de
adentrarem na terra da promessa.3 Assim, o livro reafirma e reaplica preceitos que
estão contidos nos livros anteriores do Pentateuco para o povo de Israel.
Embora se admita que Moisés seja o seu autor, é inegável que houve o
trabalho de um editor posterior4, até pelo fato do livro trazer o relato da morte de
Moisés, no capítulo 34. O postulado defendido pela Hipótese Documentária5 de

1 Esboço apresentado como atividade avaliativa no programa de mestrado profissional das Fa-
culdades Batista do Paraná (FABAPAR) na disciplina de Pregação Expositiva ministrada pelo
professor Dr. Antônio Renato Gusso, enviado em 13 de novembro de 2016.
2 Confira o artigo Pentateuco, O.
3 cf. CARSON, D. A. et al. Comentário Bíblico Vida Nova. São Paulo: Vida Nova, 2009, p.
305.
4 E bem possivelmente de editores posteriores.
5 Esta teoria, atualmente, não se acha mais em sua forma original, mas seus desdobramentos
continuam sendo uma constante na Academia Teológica. Com efeito, muitos comentadores
bíblicos adotam as posições relacionadas à esta teoria. Todavia, a Hipótese Documentária vem
sofrendo questionamentos e mesmo autores que a adotam reconhecem que ela possui sim suas
limitações. Cf. BROWN, Raymond E. FITZMYER, Joseph A. MURPHY, Roland E. Novo
Comentário Bíblico São Jerônimo: Antigo Testamento. Trad.: Celso Eronides Fernandes.
São Paulo: Ed. Academia Cristã; Paulus, 2007, p. 51.

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Esboços

que o livro seria resultado de vários autores, oriundos de várias escolas, é rejeitada
neste esboço. No próprio Novo Testamento (e mesmo no Antigo) encontramos
claras evidências de que Moisés foi o autor deste grupo de livros que contém im-
portantes preceitos que são, vários deles, reiterados nos textos neotestamentários.

1. ESBOÇO RESUMIDO

1. Introdução e chamado à obedecer aos preceitos que seguem (vv. 1-3).


2. O Shemá de Israel e o chamado à obediência (vv. 4-9).
3. O Senhor faz promessas ao seu povo quanto à posse da terra (vv. 10, 11).
4. Instruções diversas ao povo sobre como proceder na terra da promessa
(vv. 12-19).
5. Instruções quanto às gerações futuras (vv. 20-25).

2. ESBOÇO HOMILÉTICO

O presente sermão reflete sobre a importância de obedecer aos preceitos


do Senhor. Note-se que já no início do capítulo seis do livro de Deuteronômio
o povo é convidado a obedecer a Iavé pondo em prática os seus mandamentos.

2.1 Introdução e chamado à obedecer aos preceitos que seguem (vv. 1-3)
É interessante observar que Moisés orienta o povo a respeito dos “[...]
mandamentos, os estatutos e as normas que Iahweh vosso Deus ordenou ensinar-
-vos, para que os coloqueis em prática [...]” (v. 1, BJ). Esses preceitos deveriam ser
postos em prática na terra que agora o povo passava a dominar. A bênção de Deus
por vezes é condicional. Conquanto Deus prometa a bênção e a ministre sobre
seus filhos, em muitos momentos ela vem mediante a observância de preceitos ao
longo de nossa vida.

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2.1.1 Deus estabelece seus preceitos (v. 1)

“Estes, pois, são os mandamentos [...]” (v. 1, ARC6). Os mandamentos de


Deus precisam ser conhecidos para então serem obedecidos. O salmista escreveu:
“Tu ordenaste os teus mandamentos, para que diligentemente os observássemos”
(Sl 119.4).

2.1.2 O temor ao Senhor na observância dos mandamentos (v. 2)

“Para que temas ao Senhor, teu Deus” (v. 2). O temor do Senhor é o prin-
cípio da sabedoria, como ensina o livro de Provérbios (1.7). O temor do Senhor,
não o medo, nos leva a evitar o mal. Um ser humano que não teme nada e nem
ninguém tende a ser inconsequente em suas ações.

2.2 O Shemá de Israel e o chamado à obediência (vv. 4-9)


Nos deparamos agora com um dos textos mais conhecidos do Antigo Tes-
tamento, tanto entre judeus como entre cristãos. É um texto que exalta o Senhor,
o Deus de Israel, como o único Deus verdadeiro. Este texto tem servido como um
pilar ao monoteísmo judeu e ao monoteísmo cristão, ainda que cada uma dessas
religiões entenda o monoteísmo ao seu próprio modo.

Moisés instrui o povo na vontade de Deus


Nesta seção, temos o conteúdo transmitido por Moisés ao povo quanto ao
seu procedimento na terra da promissão. O texto começa conclamando Israel a
ouvir: “Ouve, Israel [...]” (v. 4). Obedecer ou não aos mandamentos e preceitos
que se seguem serão determinantes sobre o futuro de Israel. Ouvir aqui é muito
mais do que um simples escutar. É atentar. Um olhar sobre o futuro é lançado
nesta passagem. “Esse olhar para o futuro suscitou, mais uma vez, a necessidade
de que o ensino fosse passado adiante - daí a expressão tu, e teu filho, e o filho
de teu filho”.7 Vale ressaltar que toda a religião e vida do povo israelita deve girar

6 Versão utilizada neste esboço.


7 BROWN. FITZMYER. MURPHY, 2007, p. 318.

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Esboços

em torno da verdade de que “o Senhor nosso Deus, é o único Senhor” (v. 4). A
adoração e o serviço de Israel devem ser exclusivos a Iavé. “As quatro palavras
(Javé, nosso Deus, Javé, Um) podem ser traduzidas de diversas maneiras, mas
destacam que o Deus de Israel não era um de um panteão, mas soberano e objeto
de toda a dedicação”.8

2.2. A preservação deste ensino


Um fato interessante que se observa em Deuteronômio capítulo seis é o
cuidado exigido por Deus ao povo no sentido de que ele preservasse “estas pa-
lavras” (v. 6). As gerações futuras precisam ser cientificadas deste ensino. Estas
palavras deveriam fazer parte da rotina do povo, de sua vivência diária e não ape-
nas num dia específico da semana (o sábado). Com efeito, esta preocupação deve
fazer parte também da realidade da Igreja, no século 21. O cuidado com o ensino
das verdades bíblicas é essencial para que tenhamos filhos saudáveis e adultos te-
mentes a Deus. Deuteronômio 6, neste sentido, pode ser unido a outros diversos
textos, inclusive os neotestamentários, que tratam da questão da instrução e do
ensino bíblico.

2.3 O Senhor faz promessas ao seu povo (vv. 10,11)


Embora Israel, ao longo de sua trajetória, tenha sido por vezes infiel ao
Senhor, Ele, contudo, reitera Sua aliança com Seu povo. Esta aliança retorna aos
antepassados dos israelitas: “[...] na terra que jurou a teus pais, Abraão, Isaque
e Jacó” (v. 10). Deus não esquece as Suas promessas. Ele as cumpre no tempo
devido.
Interessante considerar que o povo sofredor no Egito havia esquecido essa
promessa, mas Deus não! O que os israelitas estavam para ver com seus olhos era
uma terra desejada por um povo do deserto, mas o desfrute dessa dádiva de Deus
estava assim condicionada a que as pessoas ouvissem os preceitos do Altíssimo. O
recebimento de uma promessa de Deus requer responsabilidade também. Mais

8 COUSINS in: BRUCE, F. F. Comentário Bíblico NVI: Antigo e Novo Testamentos. Trad.:
Valdemar Kroker. São Paulo: 2009, p. 363.

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do que pedirmos a Deus para que Ele cumpra o que nos tem prometido, devemos
pedir que Ele nos dê estrutura e sabedoria para receber suas dádivas e para as ad-
ministrarmos com prudência. Riquezas nas mãos de tolos podem ser destrutivas
e reduzidas a nada.

2.4 Advertências ao povo (vv. 12-19)


Encontram-se neste trecho algumas advertências ao povo de Israel. Es-
sas advertências podem ser contextualizadas para nós, hoje, e nos trazer assim
orientação. É interessante lembrar que por ocasião de sua tentação no deserto, o
Senhor Jesus usou versículos desta seção.

2.4.1 O povo deve cuidar para não esquecer-se do Senhor, seu Deus

Aqui, o Decálogo é reiterado. Na prosperidade a que estavam prestes a ser


introduzidos, o povo não deveria esquecer-se do Seu Deus. A idolatria tão pre-
sente entre os povos ao redor deveria ser evitada, sempre: “Não seguireis outros
deuses, os deuses dos povos que houver à roda de vós” (v. 14). O versículo 13 viria
a ser usado séculos mais tarde pelo Redentor para repelir uma das tentações de
Satanás contra Ele, o que sugere que o valor doutrinário deste texto não está con-
finado aos tempos de Israel no deserto ou mesmo em Canaã. Noutras palavras,
este versículo foi reatualizado em uma circunstância específica vivida por Jesus e
pode ser reatualizado também em nossas vidas.

2.4.2 Advertência contra o perigo de se tentar o Senhor

Massá é lembrado como um evento que pode ensinar o povo (v. 16. cf.: Êx
17.1ss), que deve aprender as lições do passado. Jesus reiterou isso ao responder
a Satanás: “Também está escrito: não tentarás o Senhor, teu Deus” (Mt 4.7),
citando justamente Deuteronômio 6.16. “Pôr Deus à prova é tentar forçá-lo a
demonstrar a sua divindade ao impor condições à ele”.9 Deus está para muito
além desse tipo de categoria humana.

9 COUSINS in: BRUCE, 2009, p. 364.

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Esboços

2.4.3 O povo deve ser contínuo em observar os mandamentos do Eterno

A palavra usada é “diligentemente” (v. 17). Essa observância é para a vida.


É diária. É contínua. Como visto em 6.6,7: “E estas palavras que hoje te ordeno
estarão no teu coração; e as intimarás a teus filhos e delas falarás assentado em tua
casa, e andando pelo caminho, e deitando-te, e levantando-te”. Requer esforço.
A obediência é condição para que o povo desfrute das bênçãos de Deus. O povo
deve viver em retidão: “E farás o que é reto e bom aos olhos do Senhor” (v. 18).
Essa conduta ética é muitíssimo reforçada nos ensinos do Novo Testamento, co-
meçando pelos preceitos de Jesus e indo até os textos epistolares. Os discípulos
serão reconhecidos por suas obras e frutos (Mt 5.16; Ef 5.7-11; Fp 2.12-18).

2.5 Instruções quanto às gerações futuras (vv. 20-25)


Assim como nós mesmos somos beneficiários de outros que nos antecede-
ram em temor e obediência a Deus, assim também devemos nós prosseguir em
transmitir às novas gerações os preceitos valiosos e indeléveis das Escrituras. O
inesquecível comentarista devocional da Bíblia, F. B. Meyer, comentando Deu-
teronômio 6.1-19 afirma o seguinte: “Não nos esqueçamos de quantos de nossos
privilégios e vantagens espirituais do presente devem ser creditados às orações e
lágrimas, aos trabalhos e sofrimentos dos que nos legaram preciosas heranças, a
nós, seus filhos e herdeiros! Estamos bebendo de cisternas que nunca cavamos!”.10
Essa transmissão passa pelo “dirás a teu filho” (v. 21) e também pelo “E o Senhor
nos ordenou que fizéssemos” (v. 24). O dizer precisa ser confirmado pelo fazer.
“Vós sois o sal da terra” (Mt 5.13), ensinou o Mestre Supremo.

CONCLUSÃO

A Pós-modernidade (uma das expressões usadas para tentar definir nosso


tempo) tem como uma de suas principais características a abolição dos valores.

10 MEYER, F. B. Comentário Bíblico F. B. Meyer. 2ª ed. Trad.: Amantino Adorno Vassão. Belo
Horizonte: 2002, p. 94.

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Na Pós-modernidade, o valor maior é não ter nenhum valor. Falar de preceitos,


princípios doutrinários e de observância a mandamentos pode soar até como algo
ofensivo, na “era das opiniões”. Nas Escrituras, contudo, encontramos a ação
redentora de Deus descrita em termos progressivos e em favor da humanidade.
Israel deveria responder a seus filhos relatando os feitos do Senhor no passado.
Essa atividade redentora de Deus para com Israel era complexa, mas simples ao
mesmo tempo. Israel fora escravo no Egito e Deus atentou para seu sofrimen-
to realizando feitos prodigiosos e libertando-o da escravidão (vv. 21-25). Assim
também Deus fez conosco, tirando-nos da escravidão do pecado (Jo 8.31-36).
Trouxe-nos das trevas para Sua maravilhosa luz. E agora, devemos viver conforme
o padrão estabelecido pelas Escrituras, que está acima de opiniões e visões filosó-
ficas. O que éramos e quem somos deve servir para demonstrar a ação redentora
de Deus em nossas vidas também, para nossos filhos, que poderão perceber assim
que Deus é real e que Sua ação salvadora é eficaz. Obedecer, pois, ao Senhor, é
uma necessidade premente, pois só fazendo assim seremos capazes de comunicar
uma vida transformada a nossos filhos e a outros que nos cercam inspirando-os
também a uma vida feliz na presença do Senhor.

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Esboços

ESB O Ç O 2

TEMA DA PALESTRA: “DOUTRINAS BÍBLICAS”


TEXTO BÍBLICO BASE: “Santifica-os na tua verdade; a tua palavra é a
verdade” (João 17.17).

INTRODUÇÃO

O presente texto constitui apenas um esboço das doutrinas que serão abor-
dadas nesta palestra, doutrinas que estão entre as principais da fé cristã e consti-
tuem o núcleo não apenas da convicção doutrinária do Protestantismo, mas tam-
bém de sua práxis, tendo em vista que fé implica ação no mundo e que doutrina
exige resposta na vida.
Discorreremos também sobre o valor da convicção doutrinária para a vida
da Igreja. Sua saúde espiritual, seu equilíbrio doutrinário e sua coerência na litur-
gia, dependem, via de regra, de uma boa base doutrinária, que acima de tudo, seja
bíblica, cristológica, evangélica e sensível ao tempo que nos envolve.

1. DOUTRINA

A palavra “doutrina” por vezes é confundida com “usos e costumes” e hoje


em dia causa asco até mesmo em muitos crentes. No contexto assembleiano, era
comum o “Culto de doutrina”, que em face do sentido pejorativo que a palavra
“doutrina” acabou assumindo vem deixando de ser realizado em algumas igrejas.
Noutra mão, alguns pastores buscam outra nomenclatura para este culto que, em
essência, objetiva o ensino dos preceitos bíblicos para a igreja local.
Conquanto a doutrina tenha sim relação com usos e costumes, reconhece-
mos que não devem ser confundidos. E conquanto a palavra “doutrina” tenha assu-
mido uma conotação negativa em nosso contexto, é preciso que se resgate o valor
da doutrina e o entendimento correto da palavra, sobretudo à luz das Escrituras.

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O termo “doutrina” deriva do latim doctrina e significa basicamente “ensi-


nar”. A palavra tem um sentido lato, podendo apontar para o ensino de algo em
particular ou mesmo a qualquer tipo de ensino.11 No contexto bíblico, indica o
ensino dos preceitos do Senhor, do Evangelho, tanto no Antigo Testamento como
no Novo. As doutrinas bíblicas são riquíssimas. São o desdobrar da Revelação de
Deus ao homem através da História e registradas nas Escrituras. Apontam para
o modo de Deus se relacionar com as pessoas, seu plano redentor e sua mensa-
gem de esperança para o futuro. Indicam ainda o que Deus espera do homem
em termos de comportamento, de relacionamento com o outro, em termos de
vida. Que nossa oração seja a de Deuteronômio 32.2: “Goteje a minha doutrina
como a chuva, destile a minha palavra como o orvalho, como chuvisco sobre a
erva e como gotas de água sobre a relva”. Cumpre destacar aqui que a doutrina
bíblica exige uma resposta prática. Russell N. Champlin comenta acertadamente
o seguinte:

[...] Quando Jesus convidou: “[...] aprendei de mim [...]” (Mt


11.29), certamente ele não estava penando em alguma sistematiza-
ção de ideias a seu respeito, e, sim, na capacidade transformadora
de sua doutrina e Espírito, capaz de transformar seus discípulos
(aprendizes).12

Conquanto a sistematização seja necessária, ela deve possuir uma finali-


dade didática e contribuir para a organização das doutrinas tal como elas se en-
contram nas Escrituras. Essa sistematização não deve ser entendida apenas como
mero agrupamento de ideias que se limitam ao campo teórico. As doutrinas bíbli-
cas exigem uma resposta prática e ética da Igreja, resposta que deve ser concreta,
real, sensível, visível, moral, vivencial.

11 CHAMPLIN, Russell N. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. vol. 2. São Paulo:


Candeia, 1991, p. 228.
12 CHAMPLIN, vol. 2, 1991, p. 229.

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Esboços

2. BREVE ESBOÇO DE DOUTRINAS BÍBLICAS

Estabelecendo um diálogo com a Declaração de Fé das Assembleias de


Deus (2017), principalmente, e também com outros autores, de outras matrizes
protestantes, lançaremos a seguir um olhar panorâmico sobre algumas doutrinas
bíblicas centrais da fé cristã. Enfatizo, já de partida, que buscarei sempre “linkar”
os temas da Dogmática Cristã com o nosso contexto, com a nossa realidade, visto
que reconheço que a Teologia Sistemática precisa, de fato, ser “oxigenada” para
não cair no ostracismo ou na irrelevância para a vida da Igreja.

2.1 As Sagradas Escrituras


Área da Teologia Sistemática que estuda questões relacionadas à Bíblia
como sua inspiração13, sua mensagem, as Escrituras entendidas como a Revela-
ção escrita de Deus à humanidade, sua autoridade e autenticidade, a questão da
inerrância e da infalibilidade, dentre outros temas. James H. Railey Jr. e Benny C.
Aker (1996) comentam que “[...] a boa teologia é escrita por aqueles que tomam
o devido cuidado em deixar que suas perspectivas sejam moldadas pela revelação
bíblica”.14 Nosso entendimento e convicção é que as Escrituras são normativas
para a Igreja e delas deriva nossa Teologia. Noutras palavras, nossa Teologia está
alicerçada sobretudo na Palavra de Deus.

2.2 Teontologia
Do grego ontos (“ser”). É a doutrina de Deus. Estuda o caráter e os atri-
butos de Deus, tal como revelados pelas Escrituras. Deus pode ser estudado? A
resposta a esta pergunta é “Não!”, mas o que Ele dá a conhecer de Si mesmo, por
meio das Escrituras, da Pessoa bendita de Jesus Cristo e da Revelação Geral deve
ser explorado pelo homem.

13 Tanto a inspiração do Antigo Testamento, atestada por Jesus e pelos autores neotestamentá-
rios, como também a inspiração do Novo Testamento, também afirmada, de certo modo, por
Jesus e pelos próprios autores neotestamentários.
14 HORTON, Stanley M. (ed.). Teologia Sistemática: uma perspectiva pentecostal. Trad.:
Gordon Chown. Rio de Janeiro: CPAD, 1996, p. 43.

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Em linhas gerais, esta doutrina da Teologia Sistemática busca classificar ou


categorizar os atributos morais e naturais de Deus e perceber como Ele vem se
relacionando com o homem ao longo da História. Uma classificação recorrente é
a que divide os atributos de Deus em comunicáveis e incomunicáveis (Wayne
Grudem [1999] e Louis Berkhof [2009], por exemplo).15
A Declaração de Fé das Assembleias de Deus (2017) classifica os atribu-
tos de Deus em naturais, morais e de poder. Por atributos de poder a Declaração
destaca sua onipotência, onisciência e onipresença.16

2.3 Cristologia
É a doutrina de Cristo. Estuda a respeito de sua natureza divina e a respeito
de sua natureza humana. Reconhece que Ele é a Palavra viva encarnada, como
afirma João 1.1,14. Estuda sua obra: a promessa de sua vinda já à partir do pro-
toevangelho (Gn 3.15), seu nascimento virginal, seu ministério, sua morte vicá-
ria, sua ressurreição e ascensão. Considera seus nomes e títulos, bem como os seus
ofícios.17 Algumas Teologias Sistemáticas costumam ainda abordar as principais
heresias cristológicas, que surgiram já nos primórdios do Cristianismo.

2.4 Pneumagiologia
Do grego hagios. É a doutrina do Espírito Santo. Uma doutrina funda-
mental, mormente no pensamento pentecostal. Esta doutrina estuda a respeito
dos atributos do Espírito Santo, seus nomes e títulos, sua deidade e ainda, sua
personalidade. Nas Escrituras o Espírito Santo é representado de maneira recor-
rente por meio de símbolos, que são estudados também no âmbito da Dogmática
Cristã.

15 GRUDEM, Wayne A. Teologia Sistemática. Trad.: Norio Yamakami. Lucy Yamakami. Luiz
A. T. Sayão. Eduardo Pereira e Ferreira. São Paulo: Vida Nova, 1999; BERKHOF, Louis.
Teologia Sistemática. Trad.: Odayr Olivetti. 4ª ed. rev. São Paulo: Cultura Cristã, 2009.
16 Declaração de Fé das Assembleias de Deus, 2017, p. 33.
17 A Epístola aos Hebreus é uma rica fonte quanto a este tema.

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Esboços

2.5 Soteriologia
Do grego soteria. É a doutrina da salvação. Estuda aspectos da salvação
como o arrependimento, a regeneração, a justificação, a santificação do crente,
dentre outros. Assim se pronuncia nossa Declaração de fé:

Cremos, professamos e ensinamos que a salvação é o livramento


do poder da maldição do pecado, e a restituição do homem à
plena comunhão com Deus, a todos os que confessam a Jesus
Cristo como seu único Salvador pessoal, precedidos do perdão
divino: “A este dão testemunho todos os profetas, de que todos os
que nele crerem receberão o perdão dos pecados pelo seu nome”
(At 10.43).18

Nosso ensino a respeito da salvação de Deus em Cristo é de base arminia-


na. Ainda que o calvinismo se mostre presente no contexto pentecostal, majoritá-
ria e oficialmente nosso ensino é de base arminiana. Reconhecemos, assim, que a
salvação em Cristo é oferecida a todos os homens, sendo ela dom de Deus, dom
gratuito e pelo mérito de Cristo, não por meio de boas obras (Ef 2.8,9), e que o
homem, auxiliado pelo Espírito Santo, deve esforçar-se por uma vida de santida-
de, correspondente à salvação que ele recebeu de Deus em Cristo.

2.6 Hamartiologia
Doutrina do pecado. O tema “pecado” é recorrente nas Escrituras. Apre-
sentado como uma terrível realidade, o pecado é visto como a transgressão da Lei
de Deus, como consta em 1 João 3.4. Implica quebra do relacionamento do ser
humano com Deus e se manifesta de diversas formas.

Atanásio, um dos pais da Igreja, dizia que o pecado é a introdu-


ção dentro da criação de um elemento desintegrador que conduz à

18 SILVA, Esequias Soares da. (org.). Declaração de Fé das Assembleias de Deus: Jesus salva,
cura, batiza no Espírito Santo e breve voltará. Rio de Janeiro: CPAD, 2017, p. 109.

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destruição e que somente pode ser expelido por meio de uma nova
criação. Daí a necessidade do novo nascimento.19

A Harmatiologia analisa os diversos termos traduzidos, das Escrituras, por


“pecado”, justamente no esforço de entender o que é o pecado e quais são as suas
terríveis consequências. Estuda o pecado original, de nossos primeiros pais, Adão
e Eva. É uma doutrina que necessita ser considerada à luz da Soteriologia, bem
como da Antropologia Bíblica.

2.7 Eclesiologia
Essa é outra disciplina muito importante no âmbito da Teologia Sistemá-
tica e para a vida da Igreja do Senhor, bem como para a comunidade de fé local,
que se reúne regularmente para cultuar a Deus. Noutro trabalho escrevi o seguin-
te sobre a Eclesiologia:

A disciplina [Eclesiologia] é fundamental para o cristão individu-


almente e para a Igreja de Cristo em sua coletividade. Entender o
que é a Igreja na perspectiva bíblica, sua natureza, sua missão no
mundo e sua importância é crucial para que compreendamos qual
é nossa identidade e como devemos prosseguir.

A Igreja exerce uma atividade na sociedade que irradia em vá-


rias direções e que tem sido bênção para milhões de vidas, no
mundo todo. É inegável que os hábitos desenvolvidos a partir
do ambiente e da convivência eclesial são muito salutares sobre
as nossas vidas, lançando raízes que são profundas e que refleti-
rão naquelas decisões importantes da vida. Não negamos o fato
de que a Igreja se depara atualmente com grandes desafios, e
que muitas vezes as pessoas também são adoecidas em muitos
ambientes eclesiais. Mas se assim acontece, pode ser que aquela

19 Declaração de Fé das Assembleias de Deus, 2017, p. 97.

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Esboços

comunidade local esteja deixando de ser Igreja, no sentido que


as Escrituras requerem.

Uma das figuras bíblicas para a Igreja é a do corpo, que aponta para
a relação direta das pessoas umas com as outras, numa cooperação
mútua em favor do todo. É o que aprendemos da Palavra de Deus
a respeito da Igreja em 1 Coríntios 12.

Há uma tendência que, ao que parece, generalizada, no sentido


de desacreditar a importância da Igreja para a sociedade, apon-
tando-a como irrelevante e desnecessária. Todavia, como estaria
a sociedade não fosse a presença da Igreja de Cristo? Temos real-
mente condições de avaliar esse quadro que não conhecemos de
maneira factual? Aí está uma importante pergunta que precisa
ser feita para aqueles que afirmam que a Igreja não muda em
nada a sociedade, já que a violência cresce, o quadro social não
muda, etc. Mas, e os tantos que já foram alcançados pela família
de Deus? Onde estariam eles não fosse a “coluna e firmeza da ver-
dade”? A Igreja de Cristo está viva e vibrante! Nada pôde pará-la
no passado e não será diferente agora, já que sobre nós repousa a
promessa Daquele que é o Todo-Poderoso: “As portas do Inferno
não prevalecerão contra ela”.20

Diversos assuntos são contemplados pela Eclesiologia: a natureza da Igreja,


a missão da Igreja, o conceito de Reino de Deus, formas de governo da Igreja, a
Igreja em seu aspecto visível e invisível, dentre outros temas.

2.8 Escatologia Bíblica


É a doutrina das últimas coisas. Estuda o futuro da Igreja e da humanidade
de modo geral, mas sempre à luz das Escrituras. É importante destacar que as

20 COZZER, Roney R. Eclesiologia: a doutrina da Igreja. Instituto de Educação Cristã CRER


& SER: Cariacica, ES, 2018, pp. 17,18.

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religiões possuem suas escatologias também, mas a Escatologia Cristã orienta-se


pela Palavra de Deus, a Bíblia Sagrada.
Diversos temas são aqui abarcados: o estado intermediário dos mortos em
Cristo e fora de Cristo, os sinais dos tempos, a Segunda Vinda de Jesus21, Milênio,
a Ressurreição dos mortos, o Juízo Final e o Novo Céu e a Nova Terra.
A Escatologia Bíblica constitui uma mensagem de alerta e de desperta-
mento, mas também de esperança para a Igreja e para a humanidade. Repare
que Paulo conclui seu ensino escatológico em 1 Tessalonicenses 4.13-18 com as
palavras “consolai-vos” e antes fala de esperança. Isto nos ensina algo de muito
valioso sobre como Deus vê o futuro e o prepara para nós.

CONCLUSÃO

Como mencionado anteriormente, nossa oração é no sentido de que dou-


trina reflita na vida, na vida da Igreja. Que nossa preocupação seja sempre con-
duzir da teoria à prática, lembrando aqui as palavras de Jesus: “Assim resplandeça
a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a
vosso Pai, que está nos céus” (Mt 5.16). Cremos que o conhecimento doutrinário
sadio nos conduz nesta direção. Amém!

21 Na visão Pré-milenista dispensacionalista pré-tribulacional, se dará em duas fases distintas:


Arrebatamento e sete anos depois, na Manifestação de Cristo, ao final da Grande Tribulação.

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Esboços

ESB O Ç O 3

TEMA DA PALESTRA: SEXUALIDADE À LUZ DAS ESCRITURAS


TEXTO BÍBLICO BASE: “Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à
imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou” (Gn 1.27, ARA).

INTRODUÇÃO

O tema sexualidade é de grande importância para o homem e é contempla-


do pelas Escrituras. Por vezes o assunto “sexualidade” é encontrado nas Escrituras,
ainda que ao modo e linguagem das Escrituras. No texto bíblico acima, temos
um fato muito interessante: a palavra “homem” aparece no versículo como tradu-
ção do hebraico ‘adam cujo significado básico é “humanidade”; isto na primeira
vez que ela aparece. Na segunda vez que ocorre a palavra “homem” no mesmo
versículo, ela é tradução do hebraico zakar, que tem sentido de “macho”, fazen-
do assim uma clara distinção entre homem e mulher, macho e fêmea. De certo
modo, a Bíblia está justamente evidenciando a distinção entre homem e mulher
com conotação de sexualidade.

1. O QUE É A SEXUALIDADE?

Sigmund Freud (1856-1939), considerado o “pai da Psicanálise”, teve


coragem suficiente para indicar o lugar do sexo na existência humana desde
a infância. O ser humano é sexual desde o nascimento – foi o que a teoria
freudiana procurou demonstrar. Os complexos de Édipo e de Electra demons-
tram justamente isto. Uma pessoa bem ajustada sexualmente no casamento
tende a render muito bem em diversas áreas da sua vida. O contrário também
é verdadeiro!

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2. A IMPORTÂNCIA DO SEXO

O sexo deve ser encarado como uma dádiva de Deus para as pessoas, isto
é, como um presente de Deus. Infelizmente, em nossos dias, o sexo vem sendo
banalizado pela sociedade. Cumpre resgatar seu valor, sobretudo, à luz das Escri-
turas. Richard Foster apud Dionatam Cardoso afirma o seguinte:

Você percebeu que o erotismo não contaminado pela vergonha


existia antes da queda? A queda não criou eros (erotismo) apenas
o perverteu. Na história da Criação, vemos o homem e a mulher
atraídos um para o outro, nus e não envergonhados. Sabem que
masculinidade e sua feminilidade são obra das mãos de Deus,
assim como o afeto apaixonado de um pelo outro. Também suas
diferenças os unem; são homem e mulher, mas são também uma
só carne. Os dois num relacionamento, em amor – por que de-
veria estar presente a vergonha? Sua sexualidade é criação de
Deus.22

Esses “mecanismos” emocionais e biológicos atrelados à sexualidade foram


colocados em nós pelo próprio Deus. E louvamos a Ele por ser assim. Como
veremos a seguir, uma sexualidade equilibrada muito pode contribuir para o bem
estar das pessoas.

2.1 A importância de uma sexualidade saudável


 O sexo é fundamental para a saúde emocional;
 Uma sexualidade saudável é importante para o equilíbrio da relação conjugal;
 Sexualidade saudável é importante para a saúde espiritual;

22 CARDOSO, Dionatam. Sexualidade e espiritualidade. Disponível em: <ultimato.com.br/


sites/estudos-biblicos/assunto/vida-crista/sexualidade-e-espiritualidade/> Acesso em 04 jul.
2018.

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Esboços

 O sexo, quando resultado de uma construção conjunta, é fundamental para


a consolidação da intimidade entre o casal. A Bíblia diz que o primeiro casal
estava nu, “[...] e não se envergonhavam” (Gn 2.25).

2.2 Como o sexo não deve ser encarado


 Apenas como autossatisfação pessoal (egoísta);
 De modo hedonista;
 De modo pervertido.

CONCLUSÃO

Nossa era está presenciando a morte do romantismo. O sexo pode e deve


ser usado para celebrar o romantismo no casamento. Pode ser administrado visan-
do a alteridade conjugal. Não se trata de apenas buscar a satisfação pessoal, mas
produzir satisfação para o cônjuge, numa relação harmoniosa e alegre.

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E S BO Ç O 4

TEMA DA PALESTRA: DOUTRINAS BÍBLICAS E SUA IMPORTÂNCIA


PARA A IGREJA
TEXTO BÍBLICO BASE: “Tem cuidado de ti mesmo e do teu ensino;
persevera nestas coisas; porque, fazendo isto, te salvarás, tanto a ti mesmo como
aos que te ouvem” (1 Timóteo 4.16).

INTRODUÇÃO

A Pós-modernidade manifesta um inelutável sentimento de ojeriza a qual-


quer conceito ou valor que sejam fixos, duráveis, permanentes. O homem pós-
-moderno olha sempre com suspeição para aquilo que é “sólido”, isto é, que não
se desfaz facilmente ou que não seja adaptável, mutável, “líquido”.23
De certo modo – e até em grande medida! – a Igreja e a Academia Teo-
lógica vêm sentindo os reflexos dessa tendência que não é apenas local, mas que
ocorre em escala mundial. Percebe-se, assim, uma resistência entre acadêmicos
cristãos que manifestam ojeriza à Teologia Sistemática, sentimento esse percebido
até entre cristãos leigos. A justificativa para tal rejeição seria justamente o fato
(fato?) de que os teólogos sistemáticos estariam, de certo modo, “engessando”
ou tentando “engessar” Deus, atribuindo-lhe definições, concepções e “limites”
quando na verdade Ele é um Ser ilimitado. Seria a sistematização típica da Dog-
mática Cristã um esforço inócuo no sentido de “confinar” o inconfinável ou “li-
mitar” o que é todo ilimitado. Concluem que o pensamento teológico, hoje, não
suporta mais tal pressuposto. Seria hora de virar a página.
A Teologia Bíblica, isenta dessa sistematização (será?) se apresentaria como
uma saída viável e uma aproximação mais “isenta”, justamente por lidar com o

23 Estou recorrendo ao conceito de “Modernidade Líquida” do sociólogo polonês Zygmund


Bauman. Ver: BAUMAN, Zygmund. Modernidade Líquida. Trad.: Plínio Dentzien. Rio de
Janeiro: Zahar, 2003.

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Esboços

texto bíblico em seu estado puro e simples. A reflexão teológica não suportaria
mais esse tipo de aproximação dogmática do tema Deus. Estaríamos assim pre-
senciando o fim da Teologia Sistemática? O presente trabalho vista justamente
fazer uma apresentação esboçada a respeito de algumas24 das disciplinas que inte-
gram ou fazem parte do estudo da Teologia Sistemática e como elas são importan-
tes para a vida da Igreja, refletindo diretamente na práxis cristã.
Deve ser mencionado aqui que a despeito dessa rejeição pós-moderna a
marcos doutrinários, as doutrinas bíblicas continuam sendo essenciais para o
Cristianismo. O desconhecimento dessas doutrinas se coloca atualmente como
um dos graves problemas para a Igreja, quando convivemos com cristãos que
reproduzem uma religiosidade sem entender seu sentido, à luz das Escrituras.
Na medida em que discorreremos sobre essas doutrinas, buscaremos in-
dicar justamente que elas – e a Teologia Sistemática como um todo – continuam
sendo importantes e necessárias na grande área da Teologia. Vejamos a seguir.

1. DOUTRINA DAS SAGRADAS ESCRITURAS

Nas Teologias Sistemáticas, em geral, é a primeira disciplina sobre a qual


se discorre. O estudo das Sagradas Escrituras pode ser situado dentro do campo
de estudos a respeito da Revelação. Essa Revelação é entendida em termos de Re-
velação Geral (que se dá por meio da natureza) e Revelação Especial (que se dá
por meio da encarnação do Verbo e por meio das Escrituras).

1.1. Breve definição


Esta disciplina considera questões importantes concernentes à maneira
como a Escritura é entendida. Discorre sobre questões como inspiração bíblica,

24 Por questões de tempo e de espaço, me limitarei a discorrer sobre algumas e não sobre todas.
Selecionei aquelas que considerei serem as mais importantes e que merecem atenção especial
para o fim a que se destina este trabalho: atender aos participantes da 43ª Assembleia Geral
Ordinária da Convenção dos Ministros das Assembleias de Deus no Estado do Espírito Santo
e Outros (COMADEESO).

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cânon e canonicidade, a autoridade das Escrituras bem como sua perspicuidade,


dentre outros assuntos diversos.

1.2 Justificativa
O que justifica um estudo desta natureza? Vários fatos. Com propriedade
comentam Alan Myatt e Franklin Ferreira (2007) a este respeito:

Para o homem pós-moderno, a possibilidade da existência e co-


municação da verdade absoluta é algo questionável. Isto não é ape-
nas um problema limitado aos corredores dos departamentos de
Filosofia e literatura nas grandes universidades. A mídia popular,
inclusive filmes, músicas e TV, apresentam um mundo no qual as
pessoas podem criar sua própria verdade, pois a mente humana se
tornou a referência final para a interpretação do mundo. A verdade
não é mais algo fixo, à qual o pensamento deve se conformar.25

O entendimento e convicção da Igreja sempre foi que a Bíblia é Palavra de


Deus, o árbitro em questões de fé e prática. A Igreja busca assim dirigir sua vida
e sua práxis pelas Escrituras, não sobrepondo a tradição à Bíblia. Num mundo
marcado pelo relativismo e incertezas constantes, recebe a Escritura como “mapa
no caminho” que orienta a vida cristã, o serviço cristão e a comunhão cristã.

2. DOUTRINA DE DEUS

Esta doutrina recebe nomes diversos: “Teologia” apenas, “Teologia Pró-


pria” ou “Teontologia” (“estudo do ser de Deus”). É um pressuposto básico do
Cristianismo que Deus quis se dar a conhecer ao homem e que este deve busca-lo
com fé: “De fato, sem fé é impossível agradar a Deus, porquanto é necessário que
aquele que se aproxima de Deus creia que Ele existe e que se torna galardoador
dos que o buscam” (Hb 11.6).

25 FERREIRA. MYATT, 2007, p. 86, grifo meu.

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2.1. Breve definição


A Teontologia ou Doutrina de Deus se ocupa do estudo do ser de Deus
conforme revelado na Bíblia. Reconhece a limitação de uma investigação desta
natureza, visto que Deus é insondável, mas tem claro diante de si o fato “Revela-
ção” e à partir dele constrói seu pensamento e compreensão a respeito da natureza
de Deus, seus atributos e o modo como Ele se relaciona com suas criaturas.

2.2 Justificativa
É por meio de um estudo sistemático, isto é, organizado e esquematizado,
que a Igreja pode ter uma compreensão a respeito de quem é Deus. Tal compreen-
são, inevitavelmente, incidirá na maneira como a Igreja encara Deus e se relaciona
com Ele.

3. PNEUMAGIOLOGIA

A Pneumagiologia nada mais é do que o estudo sistemático sobre a Pessoa e


a Obra do Espírito Santo e sua operação no mundo e na vida da Igreja. Uma dou-
trina muito cara ao Pentecostalismo Clássico, não apenas em termos de Teologia
Pentecostal propriamente dita, mas também em sua práxis pentecostal.

3.1. Breve definição e breves considerações


O termo “Pneumagiologia” significa basicamente “Doutrina ou estudo do
Espírito Santo”. Recebe outros nomes (mais populares) como Paracletologia (de
parácletos, no grego) e Pneumatologia (de pneuma no grego).

3.2 Justificativa
No caso do Movimento Pentecostal, esta disciplina é ainda mais necessá-
ria, dada a relação do movimento com a Pessoa e com a Obra do Espírito Santo.
Sua ênfase nele é notória. Sua hermenêutica, sua pregação, sua liturgia e sua
ação missionária são orientadas por convicções pneumagiológicas. Daí decorre

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a necessidade de uma construção sistematizada a respeito da Pessoa e da Obra


do Espírito de Deus, a partir, claro, do que as Escrituras nos dizem. Estabele-
ce-se, desse modo, uma profunda identificação com o texto bíblico, para citar
aqui o caso dos pentecostais26, como bem escreve o teólogo pentecostal Robert
P. Menzies (2016):

Não, a hermenêutica da maioria dos crentes pentecostais não é


excessivamente complexa. Não está cheia de questões sobre a con-
fiabilidade histórica ou repleta de cosmovisões ultrapassadas. Não
é excessivamente reflexiva sobre os sistemas teológicos, a distância
cultural ou as estratégias literárias. A hermenêutica do crente pen-
tecostal típico é direta e simples: as histórias em Atos são minhas
histórias – histórias que foram escritas para servir de modelo para
moldar a minha vida e experiência. Isso não quer dizer que os
pentecostais não exercem discernimento ou julgamento. Afinal,
nem todas as histórias estão cheias de façanhas de heróis. Há vi-
lões, e nem todos os aspectos da história devem ser imitados. En-
tretanto, permanece o fato de que os pentecostais prontamente
aceitaram (os detratores diriam acriticamente) as histórias de Atos
como nossas histórias, histórias que moldam a nossa identidade,
ideais e ações.27

Pensar o papel do Espírito Santo na vida da Igreja é certamente a grande


contribuição desta disciplina da Teologia Sistemática. Tal contribuição justifica
seu estudo contínuo. Trata-se assim de refletir sobre uma doutrina que acaba por
ter um profundo impacto sobre a vida cristã prática.

26 Claro que reconhecemos que isto ocorre também com qualquer denominação genuinamente
cristã, orientada pelas Escrituras. A menção aqui não tem qualquer teor exclusivista, mas é
feita apenas à guisa de exemplificação.
27 MENZIES, Robert P. Pentecostes: essa história é a nossa história. Rio de Janeiro: CPAD,
2016, p. 22 apud CARVALHO, César Moisés. Pentecostalismo e Pós-modernidade: quan-
do a experiência sobrepõe-se à Teologia. Rio de Janeiro, CPAD, 2017, pp. 51,52.

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4. SOTERIOLOGIA

Assim como nas outras disciplinas teológicas, aqui também várias questões
amplas são levantadas e discutidas. E vale destacar ainda a necessidade constante
de diálogo com outras disciplinas da própria Dogmática Cristã, já que o estudo
teológico possui ou deve possuir um caráter transdisciplinar.

4.1. Breve definição


O termo “soteriologia” deriva de dois termos gregos (soteria e logia) e sig-
nifica basicamente “estudo ou tratado sobre a salvação”. Compreende o estudo
da Obra de Cristo no sentido de redimir a humanidade de seus pecados e da
perdição eterna. No escopo da Soteriologia estuda-se a expiação de Cristo, sua
encarnação, o significado de sua morte e de sua ressurreição e ainda, sua ascensão
como também sua Segunda Vinda28.

4.2 Justificativa
Imagine um culto de Ceia em que os crentes não façam a menor ideia do
que significa a cruz de Cristo. Tente pensar a pregação cristã sem o entendimento
do que é a salvação e do porquê Cristo se fez homem e rendeu sua vida no Cal-
vário. A Soteriologia nos ajuda a entender o sentido da vida e da obra de Jesus.

5. ECLESIOLOGIA

Aqui está outra fundamental doutrina, a “Doutrina da Igreja”. Ela busca


entender o que é a Igreja, isto é, sua natureza, à luz da Palavra de Deus, além de
outros assuntos relacionados à Ekklesia. Noutras palavras, ao estudar a Eclesio-
logia podemos refletir sobre o que é a Igreja, donde decorre nossa compreensão
sobre sua missão no mundo.

28 Ainda que a doutrina da Segunda Vinda de Jesus seja estudada no campo da Escatologia.
Todavia, na Soteriologia ela é pensada em relação à salvação dos crentes.

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5.1. Breve definição


O termo “eclesiologia” deriva também do grego e significa basicamente “Dou-
trina ou tratado sobre a Igreja”. Visa entender o sentido da palavra ekklesia e os aspec-
tos que envolvem a comunidade de todos os salvos no mundo: os aspectos visível e
invisível. Isto diz respeito à Igreja em seu sentido local (visível) e universal (invisível).

5.2 Justificativa
A Eclesiologia explica diversas questões que fazem parte do cotidiano de
tantos milhões de cristãos espalhados pelo mundo. Modelos ou formas de gover-
no eclesiástico, liturgia, símbolos bíblicos que identificam a Igreja bem como a
missão do povo de Deus no mundo.

6. ESCATOLOGIA

Escatologia é uma das disciplinas teológicas mais “temidas” nos cursos de


Teologia, tanto em nível básico como em nível superior. Para muitas pessoas, a
Escatologia tornou-se uma disciplina inócua e mesmo sem qualquer utilidade
para a igreja local. Argumentam alguns que a sua complexidade e ampla varieda-
de de correntes interpretativas mais atrapalham do que ajudam e não conduzem
a nada que seja realmente prático no serviço cristão. Todavia, o que Dwight J.
Pentecost, conhecido escatólogo, escreveu na década de 1960 continua valendo,
de certo modo, ainda hoje:29

A época em que vivemos testemunha uma onda de interesse pela


escatologia bíblica. Se há uma geração um teólogo escrevia: “A es-

29 Ainda que eu, particularmente, continue entendendo que a Escatologia prossegue ocupando
lugar importante no pensamento cristão e na vida da Igreja, suspeito que ao menos em solo
brasileiro, o interesse e o frenesi em torno da Escatologia, à semelhança do que pudemos
observar no final da década de 1990, diminuiu muito. Se eu estiver correto, coloca-se assim
um importante desafio para nós, como protestantes: resgatar o valor desta disciplina e torna-la
mais conhecida da Igreja, em função da sua enorme importância.

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catologia é em geral amada na proporção inversa ao quadrado do


diâmetro mental daqueles que a amam”, hoje outro escreve: “O
problema da escatologia pode tornar-se rapidamente, se ainda não
for, a viga mestra da discussão teológica americana”. O teólogo que
apenas uma geração atrás poderia desprezar inteiramente as ques-
tões escatológicas ou tratá-las com desdém passa a ser antiquado
em sua maneira de pensar se adotar essa atitude hoje.30

Pensar a Escatologia significa pensar o nosso futuro ao lado do Senhor para


sempre. Trata-se de um tema que perpassa o Novo Testamento de maneira muito
especial. Pensar o futuro implica também pensar o presente e agir nele. Estudar
Escatologia é muito mais do que estudar correntes escatológicas. É olhar para as
Escrituras e perceber que o que Deus revela sobre o futuro exige uma resposta
da Igreja no agora e nos enche o coração de esperança. Vale realçar que Paulo,
quando conclui seu ensino em 1 Tessalonicenses 4.13-18, encerra com a palavra
“consolai-vos”.

CONCLUSÃO

O estudo da Dogmática Cristã é fundamental para o cristão individual-


mente e para a coletividade da Igreja. Pode ser pensada apologeticamente, isto é,
no sentido de ser usada para a defesa das doutrinas bíblicas que nos identificam
como Igreja de Cristo. O conhecimento das doutrinas está também diretamente
atrelado à saúde espiritual da Igreja do Senhor. A qualidade da vida espiritual
de uma igreja local e da Igreja universal, passa pelo adequado entendimento das
doutrinas bíblicas, ainda que de modo prolegômeno.

30 PENTECOST, Dwight J. Manual de escatologia. Trad.: Carlos Osvaldo Pinto. São Paulo:
Editora Vida, 2006, p. 05.

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E S BO Ç O 5

TEMA DO SERMÃO: A ÉTICA CRISTÃ COMO RESPOSTA AO


DILEMA DA CORRUPÇÃO MORAL NO BRASIL
TEXTO BÍBLICO: SALMO 15

INTRODUÇÃO

Numa época de grandes tensões políticas e econômicas como a que en-


frenta o Brasil, pensar o papel da Ética Cristã como uma resposta ao dilema da
corrupção é importante. Nossa conduta é orientada pelos valores éticos que carre-
gamos e, portanto, uma ética deficiente resulta num comportamento deficiente.
Criticamos o político que se corrompeu por milhares e até milhões de reais, mas
o fato é que nós, cidadãos, fazemos até pior quando nos “corrompemos” por
muito menos: o troco a mais que recebemos e que devíamos devolver, o dinheiro
inesperado que é depositado em conta e não buscamos saber sua procedência,
dentre outras atitudes como essas que evidenciam que corrupção, no Brasil, in-
felizmente, é “cultural” e não está apenas no coração dos políticos. A mudança
começa em nós. É um esforço individual que reflete na comunidade. E como
cristãos, pesa sobre nós maior responsabilidade. Somos comparados ao sal e à luz,
pelo Senhor Jesus, em Mateus 5, o que significa para nós um chamado a uma
conduta genuinamente cristã. Vejamos a seguir o que é Ética, a corrupção e como
superá-la.

1. O QUE É ÉTICA

Gosto de pensar na ética como “uma poderosa força invisível”. Conquanto


não estejamos obrigados a determinada conduta, a assumimos face a ética que
carregamos conosco. Nossas ações são resultado da nossa ética. E a ética, de certo
modo, sempre retorna para nós. Se nossa conduta é boa e aprovada, certamente

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Esboços

nosso comportamento haverá de gerar confiança nas pessoas quanto a nós. Se


nossa ética, isto é, nossa conduta, é reprovável, então as pessoas olharão para nós
com suspeição. Nossa conduta ética pode abrir ou fechar portas para nós. É pre-
ciso refletir sobre isto.

1.1. Ética na perspectiva secular


O filósofo Mário Sérgio Cortella comenta que “Ética é um conjunto de
valores e princípios que você e eu usamos para decidir as três grandes questões
da vida que são: Quero? Devo? Posso? [...] Tem coisas que eu quero mas não devo,
tem coisas que eu devo mas não posso e tem coisas que eu posso mas não quero!”31
Vivemos uma constante tensão entre desejos que fazem parte, até de ma-
neira inerente, da nossa constituição psíquica e aquilo que é o correto a ser feito.
Nem sempre ética e vontade se encontram. Por vezes, queremos mas não deve-
mos, ou devemos mas não queremos e noutras circunstâncias, queremos e deve-
mos e não queremos e não devemos. Este “dilema” nos acompanha durante toda a
nossa vida fazendo de nossa existência uma sequência de escolhas. Isto é um fato e
fato é que uma escolha errada pode acarretar problemas que teremos que suportar
durante muito tempo, alguns a vida toda.
Nicola Abbagnano (1982) define assim a Ética: “Em geral, a ciência da
conduta”.32 O mesmo autor prossegue explicando que uma das definições para
a Ética é a que considera um fim a ser atingido pelo comportamento humano,
indicando assim o ideal que o homem deve alcançar em seu comportamento.33
Outra definição importante ainda, segundo Abbagnano, é que a Ética é também
um estudo sobre as circunstâncias que envolvem o ser no mundo e que o levam a
assumir determinado comportamento.

31 Fala do filósofo Mario Sérgio Cortella em participação em um programa de TV. Disponível


em: <www.youtube.com/watch?v=L_V0Y0lFJUs> Acesso em 17 jun. 2013.
32 ABBAGNANO, 1982, p. 360.
33 Aristóteles afirma: “Toda arte e toda investigação, bem como toda ação e toda escolha, visam
a um bem qualquer; e por isso foi dito, não sem razão, que o bem é aquilo a que as coisas ten-
dem” (Aristóteles. Ética a Nicômaco. Trad.: Pietro Nassetti. São Paulo: Martin Claret, 2002,
p. 17).

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enciclopédia teológica: numa perspectiva transdisciplinar

1.2. Ética Cristã


As Escrituras certamente abordam a questão do comportamento humano
nessas duas perspectivas englobadas por Abbagnano. Ela tanto apresenta uma
conduta ideal, como também indica as condições que envolvem o homem, fazen-
do isto, é claro, em linguagem teológica.
O conhecido teólogo inglês Matthew Henry comenta que “quando a lei
de Deus é escrita em nosso coração, nossos deveres são nossos prazeres”. Dietrich
Bonhoeffer, conhecido teólogo alemão martirizado no fim da Segunda Guerra
Mundial, é incisivo ao falar sobre a ética cristã. Ele diz que não é tanto uma ques-
tão de perguntar “como eu faço o bem?”, mas antes, “perguntar pela vontade de
Deus”.34 Esta preocupação deve permear nosso coração enquanto cristãos.
O que diferencia a Ética Cristã da Ética numa perspectiva geral, é que
aquela tem a Bíblia como base epistêmica de suas formulações, ao passo que esta
última não necessariamente, ainda que se abra ao diálogo com as Escrituras. A
Ética Cristã é orientada pelas Escrituras, Antigo e Novo Testamentos. O Salmo
15, por exemplo, se coloca como um importante texto veterotestamentário que
serve de base para a articulação da ética cristã. Nele, o salmista fala de assuntos
que estão diretamente ligados à reflexão ética, à conduta. Naturalmente, diversos
outros textos devem ser considerados, mas merecem destaque o Decálogo em
Êxodo 20 e o Sermão do Monte, em Mateus capítulos cinco a sete.

2. A CORRUPÇÃO E SUA NASCENTE

Ao escrever sobre corrupção, me vem à mente o seguinte dito de Jesus:


“Porque do interior do coração dos homens saem os maus pensamentos, os adul-
térios, as fornicações, os homicídios” (Mc 7.21). A Igreja precisa politizar-se, isto
é, abrir-se ao diálogo com temas políticos e refletir sobre seus candidatos e sobre a
postura assumida pelos que ela elege para exercer uma atividade política.

34 BONHOEFFER, Dietrich. Ética: Edción y Traducción de Lluís Duch. Editorial Trotta:


2000, p. 41

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Esboços

Existe uma tendência de associar de modo rígido política e/ou políticos


com corrupção, como se esta fosse exclusiva do ambiente políticos. Mas o fato é
que a corrupção está no coração do homem e se o homem não for regenerado pela
graça salvadora de Deus, não é a simples pertença a uma igreja cristã que fará dele
uma pessoa incorruptível no meio político.

2.1. Corrupção em sentido lato


O termo “corrupção” encontra seus paralelos nas Escrituras. No Salmo
15 o conceito é aludido de certo modo, onde se lê que o justo “jura com dano
próprio” e “nem aceita suborno contra o inocente” (vv. 4,5). Naturalmente, pre-
cisamos ter o cuidado exegético para não impor ao texto bíblico um sentido que
ele não possui de fato. Mas o que o salmista está apontando no Salmo 15 como
conduta esperada do justo, de fato contrapõe a prática homem que se corrompe
por amor ao dinheiro.
Também no Novo Testamento encontramos por vezes advertências quan-
to a avareza. “Avareza” nas Escrituras possuem o sentido de amor ao dinheiro.
Avareza é, no dizer de Werner Kaschel e Rudi Zimmer (2005), “apego exagerado
e nojento ao dinheiro”35, apego que leva pessoas a ignorarem as necessidades do
outro e usurpar o bem coletivo visando seu benefício pessoal. É assim que opera a
corrupção. O coração do homem precisa ser regenerado pelo Espírito Santo para
que ele possa usar o dinheiro como servo e não tornar-se escravo dele.

2.2. Da contribuição micro para uma mudança macro


Infelizmente, no meio cristão, convivemos ainda com uma leitura inade-
quada a respeito da política. Existe uma forte rejeição à política por parte de mui-
tos cristãos sob a argumentação de que o meio político é muito corrupto e que,
via de regra, todo cristão que de algum modo vier a fazer parte de algum projeto
político, especialmente ocupando um cargo, haverá de se corromper também.
Mas nesse pensamento reside um grande erro, visto que ele reflete a tendência
comum de “confinar” a corrupção, quando na verdade a corrupção não é exclusi-

35 KASCHEL. ZIMMER, 2005, p. 30.

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vidade do meio político. Essa leitura radical nos impede de perceber a necessidade
de um envolvimento sadio e equilibrado com a Política. Dito de outra forma, a
participação de cristãos na Política não só é viável, mas necessária, até pelo fato de
representarmos uma enorme parcela da sociedade brasileira.
A corrupção não está apenas na Política. Ela pode ser percebida no dia a dia
das pessoas, no “jeitinho brasileiro” que burla normas e valores morais para beneficiar
pessoas de modo ilícito. Ela pode ser notada quando o troco a mais não é devolvido,
ou nos inúmeros desvios de energia e água que vemos em tantas cidades brasileiras.
O cidadão – e o cristão mais ainda – precisa se conscientizar de que o seu papel in-
dividual ajuda a mudar a realidade maior que o envolve. É não sendo corruptos no
cotidiano e nas pequenas coisas que ajudamos a combater a corrupção de modo
efetivo. É agindo com cidadania e fazendo a nossa parte que contribuiremos de modo
significativo para mudar uma realidade maior que nos envolve.
Não podemos negar que esse discurso de que “o crente não deve se en-
volver com a política” é, muitas vezes, apenas reflexo de uma leitura equivocada
que leva o cristão a rejeitar determinadas instituições sociais, quando na verdade
ele depende delas e está inserido nelas. Aqui, concordamos com o historiador
da Igreja, Alderi Souza de Matos, que afirma: “Em meio às grandes diferenças
nos posicionamentos, surgiu um consenso muito evidente. Não é mais possí-
vel ficar indiferente ao debate político e ao processo político, porque ele produz
consequências que afetam a todos”.36 Com efeito, as decisões políticas refletem
diretamente sobre a coletividade e por isto mesmo é necessário ter participação
nela para que se façam ouvir os valores e princípios cristãos que, inclusive, são
benéficos a toda a sociedade.

3. COMBATENDO A CORRUPÇÃO COM A ÉTICA CRISTÃ


A ética cristã, como forma de conduta real no mundo (e não apenas como
arcabouço teórico), é uma forma concreta de se responder a uma sociedade cor-

36 MATOS, Alderi Souza de. Cristãos e política: uma relação imprescindível. Disponível em:
<https://www.ultimato.com.br/revista/artigos/327/cristaos-e-politica-uma-relacao-impres-
cindivel> Acesso em 18 abr. 2019.

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Esboços

rompida. Partindo-se e valendo-se do conhecimento teórico a respeito da ética


cristã, o crente em Jesus leva para a vida prática os valores exarados pela ética
cristã, orientando assim o seu procedimento diante das pessoas. É aí que se cum-
pre o que ensina Jesus: “Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para
que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus” (Mt
5.16, ACF).

3.1. Na inclusão dos excluídos


É preciso que se reafirme que ética é prática, é um chamado à ação. E a
ética cristã precisa ser pensada também como movimento em direção ao outro.
Vivemos numa sociedade (e também em modelos eclesiais) que são altamente
excludentes. E vários são os mecanismos que promovem exclusão em diversos
níveis: social, emocional, espiritual, de comunhão, dentre outros. Considere por
exemplo a maneira como a mídia apresenta o seu padrão de beleza: corpos per-
feitos, trabalhados sempre por Photoshop antes de serem exibidos ao público e
musculosos. Uma realidade que não é a realidade de milhões de brasileiros que
não tem acesso à boa alimentação, cuidados médicos adequados e a um estilo de
vida mais saudável.
No contexto eclesial lidamos também com formas de exclusão: quando o
ofensor não é chamado pela comunidade eclesial ao arrependimento, mas antes,
“expulso psicologicamente” da congregação; quando aqueles que não podem con-
tribuir de modo semelhante ao restante dos membros da congregação são tratados
de modo diferenciado ou ainda, quando o discordante é tratado sempre como
uma ameaça. Enfim, são maneiras e mecanismos de exclusão que contribuem
para alienar pessoas. O papel da Igreja, contudo, é incluir os marginalizados,
como fez Jesus, que comia e bebia com publicanos e pecadores (Mc 2.16). A ação
solidária em direção às pessoas em condições de exclusão social e eclesial re-
flete a construção de uma postura solidária que é, em essência, antagônica ao
espírito de corrupção que ocupa hoje a Política e a sociedade.

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3.2. Na prática do amor ao próximo


Uma cultura de solidariedade é o caminho eficaz para o combate à corrup-
ção. Aqui, vale lembrar as palavras do Mestre que nos ensina a fazer aos homens
aquilo que esperamos que eles nos façam (Mt 7.12), e ainda, de que devemos
amar ao próximo, mesmo aqueles que nos fazem o mal (Mt 5.44).

3.3. Na prática do amor a Deus


O amor a Deus, real e sincero, é a fonte da qual emana o amor ao próxi-
mo. Só seremos capazes de amar o próximo se de fato amamos a Deus. O amor
demonstrado ao próximo de modo prático é evidência de que amamos a Deus,
como nos ensina o apóstolo João (cf.: 1 Jo 4.20).

CONCLUSÃO

Há uma frase muito conhecida do teólogo de Hipona, Agostinho: “Fé é


crer naquilo que se não vê, e a recompensa dessa fé é ver o que se crê”. Esta fé nos
move de modo concreto na vida. Não é uma fé que nos leva a esperar de modo
passivo e inerte. Longe disso, a fé em Deus nos leva a agir, nos conduz à esperança
e esperança que perspectiva um horizonte melhor. Assim, precisamos ter fé que
podemos construir uma sociedade melhor para todos, amparada pela justiça e
igualdade, bem como de acesso a direitos básicos. O cristão necessita ter esta
expectiva social e evitar assim o dualismo fé-política.

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Esboços

ESB O Ç O 6

TEMA DO SERMÃO: A IMPORTÂNCIA DE SE TER OBJETIVOS


TEXTO BÍBLICO: “Então o anjo do Senhor veio, e sentou-se
debaixo do carvalho que estava em Ofra e que pertencia a Joás, abiezrita,
cujo filho Gideão estava malhando o trigo no lagar para o esconder dos
midianitas. Apareceu-lhe então o anjo do Senhor e lhe disse: O Senhor é
contigo, ó homem valoroso” (Jz 6.11,12).

INTRODUÇÃO

O livro de Juízes alude à uma época sombria para o povo de Israel: havia
desunião política, guerras internas, opressão estrangeira, depravação moral e espi-
ritual. Mas Juízes é também um livro que evidencia o cuidado de Deus com seu
povo, providenciando libertadores para salvá-los da agressão que vinha de fora.
Juízes é também um livro excepcional para se refletir sobre liderança. Ele regis-
tra as histórias de líderes notáveis que, alguns deles, apesar de seus erros crassos,
puderam ser usados por Deus para livrar Israel. Homens como Sansão e Gideão.
No texto em particular, escolhido para servir de base para este sermão,
encontramos justamente Gideão num ato de esforço e sendo chamado pelo anjo
do Senhor de “homem valoroso”. De sua determinação podemos extrair algumas
lições preciosas sobre a importância de se cultivar objetivos nobres e importantes
em nossas vidas.

1. PROSSEGUINDO QUANDO TODOS FAZEM O QUE


NÃO AGRADA A DEUS

“Fizeram os filhos de Israel o que era mau perante o Senhor [...]” (v. 1).
Um homem, Gideão, ousa prosseguir quando todos faziam o que não agradava a
Deus. Manter-se íntegro numa geração de corrompidos não é fácil. Fazer o bem

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quando todos fazem o mal não é fácil. E insistir em fazer o bem quando todos
não acreditam mais no bem, é de fato muito difícil. Todavia, como bem ensinam
as Escrituras, “[...] não nos cansemos de fazer o bem, porque no tempo certo
faremos a colheita, se não desanimarmos” (Gl 6.9, NAA).

2. MATENDO O OBJETIVO MESMO SOB OPRESSÃO

“Porque, cada vez que Israel semeava, os midianitas e os amalequitas, como


também os povos do Oriente, subiam contra ele” (v. 3). Um homem ousa manter
seu objetivo mesmo quando três povos vão contra o seu povo: midianitas, ama-
lequitas e “outros povos da região a leste deles” (v. 3). Como se já não bastasse a
sua própria nação fazer o que desagradava ao Senhor, outros povos vizinhos os
oprimiam. Mesmo assim, ele prossegue. Enfrenta desafios internos e externos.
Mas isso não o impede de manter-se focado em seu objetivo. Era preciso malhar
o trigo e ele assim fazia.
O povo empobreceu por causa da opressão, como se pode ler em 6.6: “Por
causa de Midiã, Israel empobreceu tanto que os israelitas clamaram por socorro
ao Senhor” (NVI). O povo de Israel escondia-se, enquanto Gideão trabalhava:
“Os midianitas dominaram Israel; por isso os israelitas fizeram para si esconde-
rijos nas montanhas, nas cavernas e nas fortalezas” (v. 2); Gideão, contudo, “[...]
estava malhado trigo num tanque de prensar uvas” (v. 11).
Podemos aprender com isto que, em nossas vidas, é preciso manter o ob-
jetivo, confiando no Pai. Os dias difíceis virão, certamente. A noite chegará. A
tempestade nos alcançará. O cristão pode, contudo, permanecer firme em seu ob-
jetivo sabendo que dias alegres ajudarão a esquecer os dias tristes, que o amanhe-
cer dissipará o sombrio noturno e que a bonança superará a tempestade violenta.

3. DEUS AUXILIA NO CONSECUÇÃO DESSE OBJETIVO

“Então, veio o Anjo do Senhor [...] e lhe disse: O Senhor é contigo, ho-
mem valente” (vv. 11,12). Deus vem em favor do seu servo e lhe envia um mensa-

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Esboços

geiro celeste para animá-lo a prosseguir. Nas horas mais difíceis o Senhor mostra-
-se presente e não desampara os seus. Em nossa caminhada nos vemos por vezes
cansados e desanimados. Portas fechadas, críticas injustas, omissão daqueles que
poderiam nos ajudar e ausência de pessoas importantes para nós são alguns dos
diversos fatores que podem nos levar à frustração e à tristeza. Todavia, Ele vem em
nosso socorro. Não nos desampara e quando menos esperamos, nos momentos
improváveis da vida, Ele nos socorre.

CONCLUSÃO

Gideão questiona o Senhor e apela para a história passada de seu povo


dizendo: “[...] Onde estão todas as suas maravilhas que os nossos pais nos contam
quando dizem: ‘Não foi o Senhor que nos tirou do Egito?’ Mas agora o Senhor
nos abandonou e nos entregou nas mãos de Midiã” (v. 13). Mesmo sendo o
menor na casa de seu pai, foi capaz, com o auxílio do Senhor, de se tornar o
libertador de uma nação inteira. A história de Gideão é inspiradora para nós, no
sentido de que devemos prosseguir em busca dos objetivos que são os objetivos
de Deus. O Senhor desejava libertar o Seu povo, e a libertação do povo do Senhor
tornou-se o objetivo de Gideão.

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E S BO Ç O 7

TEMA DA PALESTRA: OBREIRO PREPARADO, OBREIRO


“ATRAENTE”
TEXTO BÍBLICO BASE: “Procura apresentar-te diante de Deus aprovado,
como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da
verdade” (2 Tm 2.15).

INTRODUÇÃO

Um dos maiores desafios para a Igreja brasileira, hoje, é a ausência de


obreiros realmente capacitados. O quadro de obreiros de uma igreja local será
decisivo para o bom andamento e desenvolvimento dessa igreja. Por melhor que
um pastor possa ser, se ele não poder contar com obreiros capazes e servidores, seu
trabalho ficará muito limitado e a congregação sofrerá.

1. O QUE SIGNIFICA SER UM OBREIRO?

O primeiro passo para o exercício do ministério cristão é justamente en-


tender o que significa ser um ministro do evangelho. A maneira como encaramos
o ministério cristão incidirá sobre a maneira como nos conduzimos nele. E nosso
tempo presencia aquilo que tenho chamado de a “morte da vocação”, o que nos
leva a pensar na séria necessidade de resgatar o sentido da vocação cristã e do
ministério cristão.

1.1. Vocação ou profissão?


Existe uma confusão quanto ao ministério. Muitos o tratam como pro-
fissão (na acepção negativa do termo), o que representa um desvio do correto
ensino bíblico a esse respeito. O conhecido pregador John Piper (2009) comenta
o seguinte:

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Nós, pastores, estamos sendo massacrados pela profissionalização


do ministério pastoral. A mentalidade do profissional não é a men-
talidade do profeta. Não é a mentalidade do escravo de Cristo. O
profissionalismo não tem nada que ver com a essência e o cerne do
ministério cristão. Quanto mais profissionais desejamos ser, mais
morte espiritual deixaremos em nosso rastro [...] não existem an-
seios profissionais por Deus (Sl 42.1).

No entanto, nossa primeira atividade deve ser ansiar por Deus em


oração. Nossa atividade é chorar por nossos pecados (Tg 4.9). Por
acaso existe choro profissional? Nossa atividade é prosseguir para
o alvo para ganhar a santidade de Cristo e o prêmio do chamado
soberano de Deus (Fp 3.14).37

Outro grande problema que vem na esteira da “profissionalização do mi-


nistério cristão” é que as funções ministeriais vem sendo reduzidas a meros títulos
ministeriais. O que significa realmente ser um pastor? Qual o sentido do ser
obreiro cristão? Infelizmente, esse desvio tem contribuído para que muitos cris-
tãos se aproximem do ministério com intenções impróprias. Mais interessados no
status que o títuo oferece, pouco ou nada sabem a respeito do que fazer e de como
proceder enquanto obreiros. Temos visto pregadores itinerantes e cantores serem
consagrados ao ministério pastoral sem qualquer vocação para tal, com vistas a
terem mais acessos e serem mais aceitos por onde vão. Percebe-se que o “critério”
para ordenar essas pessoas ao pastorado é contrário ao ensino do Novo Testamen-
to, que nos fala de homens que devem ser provados para serem aprovados e assim
exercerem os ministérios para os quais foram realmente chamados. O ensino
neotestamentário é que cada um deve ficar na vocação em que foi chamado (cf.:
1 Co 7.20).

37 PIPER, John. Irmãos, nós não somos profissionais: um apelo aos pastores para ter um
ministério radical. Trad.: Lilian Palhares. São Paulo: Shedd Publicações, 2009, pp. 15,16.

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enciclopédia teológica: numa perspectiva transdisciplinar

1.2. Servo de Cristo


Sendo servo de Cristo, o obreiro deve ser comprometido com a obra de
Deus. Deve contribuir com seus talentos, seu tempo e finanças. Deve fazer com
amor. Ele trabalha com Deus, não apenas para Deus. Ele serve a Deus de maneira
concreta na medida em que serve aos seus irmãos, em sua comunidade de fé local.

2. CUIDADOS VITAIS À SAÚDE DO MINISTÉRIO

Corremos o risco, como obreiros, de cair numa vida rotineira e mecânica,


o que pode comprometer inclusive a saúde do nosso ministério. Alguns cuidados
são necessários para evitar que isso ocorra.

2.1. Vida devocional


A leitura e o estudo constante das Escrituras acompanhados da oração
constituem o cerne da vida devocional. E uma vida devocional bem cuidada e
equilibrada nos projeta como pessoas melhores para a Igreja, para nossa família e
para a sociedade.

2.2. Relacionamento com a Bíblia e com outras literaturas


Leitura da Bíblia e literatura de qualidade: aqui estão dois hábitos constan-
tes de todo bom obreiro. Convivemos com pregações vazias, repetitivas e monó-
tonas por falta de mais leitura e estudo da Bíblia e de leitura de bons livros.

2.3. Relacionamento com a Teologia


O obreiro deve sim procurar fazer um bom curso teológico, comprome-
tido com o Reino de Deus. Deve ter apreço por disciplinas como Hermenêu-
tica, Exegese, Homilética, Apologética, Teologia Contemporânea, Apologética,
Educação Cristã, Eclesiologia e História da Igreja. Essas disciplinas estão na
base do ministério cristão e ajudam a aprimorar o trabalho do obreiro e da
obreira.

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2.4. Cuidados nos relacionamentos


Não se pode negar que a saúde espiritual e emocional de um homem e de
uma mulher passa também pela qualidade de seus relacionamentos. Esse cuidado
com a manutenção dos relacionamentos e também de como eles se dão, é parte
fundamental do ministério cristão.

2.4.1. Família

O progresso de um obreiro passa, via de regra, pela condição espiritual e relacio-


nal da sua família. O cônjuge assume um papel preponderante na vida do obreiro ou
da obreira, operando como fonte de alegria, companheirismo e presença nas horas de
conquistas e percas, de alegrias e tristezas, de vitórias e fracassos e de saúde ou de doença.

2.4.2. Igreja

Popularidade, pessoas críticas da liderança da igreja local, o sexo oposto,


dentre outros fatores fazem parte dos relacionamentos a nível de Igreja. É preciso
prudência e cuidado, sem contudo engessar-se no tratamento com as pessoas.
Excesso de formalidade pode esconder a humanidade do obreiro. É possível ser
amável, alegre e relacional e mesmo assim evitar os excessos.

2.5. Cuidados com a própria saúde (emocional e física)


Poucos ambientes são tão adoecedores quanto o ambiente eclesial. Esta é
uma constatação chocante para qualquer cristão sincero, visto que nossa expecta-
tiva normal é que o ambiente eclesial assuma um papel terapêutico e não o con-
trário. Mas nem sempre é assim, infelizmente. Desse modo, é preciso por vezes
respirar, ter momentos de lazer e descontração com a família e com amigos e até
mesmo, quando for necessário, reduzir as atividades ministeriais.

2.6. Cuidados com a ética


A postura ética do obreiro é muito observada pelas pessoas na igreja local e
mesmo por pessoas não crentes. A seguir, algumas orientações muito importantes
neste sentido:

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 Jamais use o púlpito para criticar colegas;


 Jamais critique – principalmente em público – seu antecessor;
 Cautela sempre com o que fala; bem disse Dionísio: “Seja sua fala melhor do
que o silêncio – ou então fique calado”;
 Seja pontual;
 Seja discreto;
 Seja capaz de guardar segredos;
 Administre suas emoções; jamais responda no calor das emoções e utilize o
microfone para desabafos;
 Jamais torne público problemas da igreja à que pertence;
 Não seja prolixo; o púlpito destina-se à Palavra!

2.7. Cuidados de etiqueta


Pode não parecer, mas comunicamos muito sobre quem somos pela ma-
neira como nos portamos no cotidiano. A seguir algumas orientações úteis para a
construção de uma boa postura no dia a dia e no ambiente eclesial:

 Vista-se bem, mas sem extravagância;


 Nunca ore outra vez se alguém já o fez antes em prol de alguém e/ou algo,
durante o culto;
 Não seja indiscreto ao púlpito lançando indiretas, expondo questões pessoais
perante a igreja (sua e de outros), proferindo desabafos, criticando outras reli-
giões e denominações evangélicas, etc.
 Cautela com testemunhos pessoais! Eles não são regra para a igreja e podem
expor você e outras pessoas envolvidas;
 Ao ministrar, mantenha as mãos soltas; não as enterre nos bolsos da calça;
 Sente-se corretamente no momento do culto; se estiver na tribuna, jamais cruze
as pernas;

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 Não converse durante o culto;


 Não utilize celular durante o culto;
 Nunca permaneça folheando a Bíblia durante o culto;
 Evite bocejar de maneira indiscreta durante o culto;
 Não ande pelo templo pisando alto; ande normalmente;
 Considere seu público; dê direção para o seu sermão.

CONCLUSÃO

A igreja local tem muito a ganhar quando pode contar com obreiros de-
dicados, que procuram crescer em Cristo mediante o cultivo da vida devocional,
dos bons relacionamentos e de sua postura ética. Pode representar para uma igreja
local uma grande tragédia ter obreiros que se fecham ao aprendizado, ao cresci-
mento e desenvolvimento ministerial e também social.

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E S BO Ç O 8

TEMA DO SERMÃO: A FIDELIDADE NO REINO DE DEUS


TEXTO BÍBLICO BASE: “Digo, porém: andai no Espírito e jamais satisfareis
à concupiscência da carne” (Gl 5.6).

INTRODUÇÃO

Numa era em que os marcos estão sendo removidos, pensar em fidelidade


e falar sobre fidelidade torna-se, sem dúvida, um grande desafio. O Cristianismo
bíblico histórico é uma religião que só opera de fato se seus seguidores forem fieis.
Essa fidelidade é prestada a Deus e essa relação com Deus dardeja para a relação
com a família, com a sociedade, com o trabalho, com a Igreja, etc.

1. O QUE É A IGREJA

Em nosso tempo, o número de pessoas desvinculadas de uma igreja local


vem crescendo. E grande parte das pessoas que optam por esse desligamento, não
necessariamente se identificam mais como “desviadas”, como é costume ainda
muito comum com pessoas nessa condição. Longe disto, muitas pessoas nessa
condição se definem como cristãs praticantes, mas não ligadas a um templo ou
denominação.
As nomenclaturas variam: “desigrejados”, “cristãos sem igreja”, dentre outros
termos possíveis. A despeito da compreensão que possamos ter sobre a condição
dessas pessoas, o fato em si acaba por exigir de nós uma reflexão a respeito do que
significa ser Igreja de Cristo. De um lado, precisamos ser honestos para admitir
que muitos argumento usados por essas pessoas “desigrejadas” são legítimos e ver-
dadeiros, mas noutra mão, não deixamos de reconhecer a contribuição e mesmo a
necessidade de uma forma de união com o corpo de Cristo, pelas vias institucionais
estabelecidas. Esta reflexão é muito importante pois nos permite compreender que

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o conceito de Igreja de fato não pode ser reduzido apenas ao aspecto institucional,
mas nos permite perceber ainda que ele não prescinde da institucionalidade. Assim,
o que vem a ser a Igreja? Consideremos à luz das Escrituras.

1.1. O corpo de Cristo


A figura “corpo” para aludir à Igreja de Cristo é, sem dúvida, uma das mais
belas, interessantes e profundas. Paulo, em 1 Coríntios 12, ao usar a imagem do
corpo humano para falar dos membros do corpo de Cristo, está discorrendo sobre
o valor da diversidade presente nesse corpo. E evidencia de modo muito simples,
mas claro e profundo, o valor dessa diversidade. Membros muito diferentes e com
funções bem específicas, mas todos operando juntos e em codependência. Que
verdade maravilhosa!

1.2. A Igreja em duas perspectivas


As Teologias Sistemáticas comumente consideram a Igreja em duas pers-
pectivas: a local e a universal.38 São formas de identificar a Igreja também em seu
aspecto visível e invisível, já que não podemos visualizá-la em sua totalidade e no
mais, só mesmo Deus, “que conhece os corações” (At 15.8), sabe quem são os
verdadeiros cristãos que integram o corpo de Cristo na terra.

1.2.1. Visível

A Igreja em seu aspecto visível diz respeito ao corpo local de cristãos que se
reúnem regularmente para adorar a Deus, cultuando-o e também para o ensino
bíblico coletivo. Este ajuntamento local de cristãos é uma marca do Cristianismo
e sempre ocorreu. Ele é fundamental, pois ser cristão não representa uma cami-
nhada solitária e isolada. Mais uma vez devemos aludir à figura do corpo, que fala
de unidade e cooperação no corpo de Cristo (1 Co 12.12-31). E essa organização
local contribui de modo decisivo para realização de outras atividades que muito
colaboram não apenas para a Igreja de um modo geral, mas para a sociedade.

38 Louis Berkhof, por exemplo: cf.: BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. 4ª ed. rev. Trad.:
Odayr Olivetti. Campinas, SP: Cultura Cristã, 2012, p. 523.

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enciclopédia teológica: numa perspectiva transdisciplinar

1.2.2. Invisível

Berkhof (2012) busca distinguir a Igreja, neste sentido universal, do Reino


de Deus: “Conquanto o reino de Deus e a Igreja invisível sejam até certo ponto
idênticos, não obstante deve-se fazer cuidadosa distinção entre eles”.39 Mesmo
fazendo esta distinção, Berkhof é claro ao afirmar que para ser partícipe tanto do
reino quanto da Igreja, é preciso experimentar a regeneração em Cristo Jesus. Para
Berkhof, o que distingue a Igreja em relação ao reino é “[...] em sua separação
do mundo na devoção a Deus, e em sua união orgânica uns com os outros”.40 E
aqui pegamos um fio condutor ao próximo ponto, em que refletiremos sobre os
desafios que se colocam para a comunidade dos salvos em Cristo.

1.3. Alguns desafios pós-modernos à Igreja

Nossa visão sobre a Pós-modernidade não é de todo negativa.41 Vemos

39 BERKHOF, 2012, p. 523.


40 BERKHOF, 2012, p. 523.
41 O Pastor César Mosés Carvalho comenta justamente sobre como o Pentecostalismo respon-
deu, de certo modo, muito positivamente à Pós-modernidade. Não no sentido de absorver
suas características negativas, é claro, pois ele mesmo afirma: “[...] constatei simplesmente
o seguinte: não há tempo algum favorável à pregação do Evangelho. Os que servem a Deus
sempre estarão no “reverso” e na contramão do sistema” (CARVALHO, César Moisés. Pen-
tecostalismo e Pós-modernidade: quando a experiência sobrepõe-se à Teologia. Rio de
Janeiro: CPAD, 2017, p. 45). O mesmo autor prossegue procurando demonstrar a falha do
sistema calvinista no sentido de explicar a realidade e entender o mundo ancorando-se numa
leitura racionalista, numa época em que o racionalismo é fortemente questionado (Antonio
Cruz, um dos intérpretes da Pós-modernidade, fala do “retorno ao sentimento” na Pós-mo-
dernidade, visto que na Modernidade a ênfase recaía sobre a razão [cf.: CRUZ, Antonio.
Postmodernidad: el evangelio ante el desafio del bienestar. Espanha: Siglo 21, 1996, p.
57ss). Não por acaso autores calvinistas se levantam fortemente contra a Pós-modernidade,
justamente porque esse sistema teológico não encontra “ancoragem” nesta época. Carvalho
lança uma pergunta provocante: “O que aconteceu com o protestantismo cuja ênfase recai
sobre um encontro com Jesus mediado unicamente pelo assentimento apriorístico de pro-
posições teológicas que foram desenvolvidas numa época de racionalismo?” E responde em
seguida de modo ainda mais provocador: “Seu discurso não faz mais sentido, posto que há
controvérsias para cada um dos seus pontos que, por serem de natureza teórica, dependem de
verificação, análise e interpretação” (CARVALHO, 2012, p. 46). Assim, prossegue Carvalho,

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pontos positivos na Pós-modernidade, mas não podemos negar que ela também
oferece perigos concretos à fé cristã. Consideremos alguns a seguir.

1.3.1. Consumismo religioso

Vimos crescer e ganhar espaço nas igrejas uma espécie de “consumismo


religioso”. Não estamos aqui aludindo diretamente à Teologia da Prosperidade
(ainda que ela esteja incluída aqui), que gera um tipo de religiosidade ancorada
no interesse e apego a bens, em que os crentes se aproximam de Deus objetivando
benesses financeiras pessoais. Mas nas Escrituras somos ensinados a amar a Deus
e ao próximo (Dt 6.5; 11.1; Mc 12.30), não nos relacionarmos com eles de modo
egoísta e interesseiro.
Encontramos nas Escrituras o exemplo de dedicados servos de Deus que
se doaram à causa do Evangelho, como Paulo: “Eu de boa vontade me gastarei e
ainda me deixarei gastar em prol da vossa alma” (2 Co 12.15), e ainda, Epafrodi-
to, que “chegou ele às portas da morte e se dispôs a dar a própria vida, para suprir
a vossa carência de socorro para comigo”. São posturas de homens de Deus que se
doaram a Cristo e à sua noiva que devem nos inspirar hoje.

1.3.2. Hermenêutica da suspeição

Sobre nosso tempo, é correto afirmar que ele marcado também pela “her-
menêutica da suspeição”, onde o critério de interpretação é a dúvida constante.
O problema dessa postura é que ela só duvida, e nada apresenta de concreto e
definitivo. Questiona tudo e nada afirma. É claro que reconhecemos o valor e a
necessidade de se questionar42, mas é preciso ter em mente que “a dúvida pela dú-

o pentecostalismo, acusado justamente de não ter uma Teologia, que “[...] não apoia a crença
absoluta no poder absoluto da razão, posto que a experiência é algo concreto para o indivíduo
que a vive, mas subjetiva para o observador que, com pretensões cartesianas, a olha à distância
e pesquisa; e muito menos fecha com o relativismo pós-moderno, visto que no encontro com
o Espírito ocorre a ‘subsequente transformação de indivíduos’” (CARVALHO, 2012, p. 47),
experimentou (e continua experimentando) um crescimento exponencial.
42 Eu mesmo tenho assumido essa “postura crítica” na vida, em relação às minhas próprias ações
e ao contexto que nos cerca, inclusive o eclesial. A mudança para melhor passa justamente pela

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vida” também não leva a nada. O Evangelho apresenta-nos imperativos, verdades


absolutas e a possibilidade de crer em algo e sobretudo, em Jesus!43

1.3.3. Relativismo pós-moderno

A palavra “relativismo” é definida na Filosofia da seguinte maneira: “A


doutrina que afirma a relatividade do conhecimento, no sentido que foi dado a
esta expressão no século 19 [...]”.44 Na Teologia, a palavra é definida assim: “Con-
cepção filosófica que exclui a possibilidade de princípios absolutos no campo
gnosiológico, ético e religioso”.45
Não podemos negar que relativismo no campo do conhecimento por ve-
zes também desemboca na vida produzindo relativismo ético, e este por sua vez
conduz à mentira, ao engodo, ao “jeitinho brasileiro” que trapaceia, que gera
prejuízo para outros e afasta assim as pessoas do Pai. Nas Escrituras, contudo,
encontramos o ensino para a formação do homem ideal e da mulher ideal, que
se orientam não por esse relativismo pós-moderno, mas pelos valores eternos da
Palavra de Deus (cf.: 2 Tm 3.14-17).

1.3.4. Diluição das relações humanas

A Pós-modernidade é também a era da diluição das relações humanas.


Dizendo de outra forma, é a era da fragilização das relações humanas. Pessoas

percepção crítica da realidade. Naturalmente, o uso do termo “crítica” aqui não se dá em sua
acepção popular, mas sim com sentido de avaliação, questionamento pelo que é bom de fato.
43 Proponentes da Hermenêutica da Suspeita entenderam que a consciência é limitada na apre-
ensão da realidade que envolve o sujeito. Paul Ricoeur, filósofo francês, escreveu que “[...]
o cogito cartesiano “penso, logo existo”, a auto-apreensão imediata do sujeito foi posta em
questão pela descoberta do insconsciente em Freud, do ser social em Marx e da vontade de
poder em Nietszche” (ZUBEN, Marcos de Camargo von. Ricoeur, Foucault e os mestres da
suspeita: em torno da hermenêutica e do sujeito. Disponível em: <http://periodicos.uern.
br/index.php/trilhasfilosoficas/article/view/13/13> Acesso em 01 jun. 2019).
44 ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. Trad.: Alfredo Bossi. 2ª ed. São Paulo: Edi-
tora Mestre Jou, 1982, p. 812, grifo do autor.
45 DOTOLO, B. Relativismo in: LEITE, Silvana Cobucci. MARCIONILO, Marcos. et al. Le-
xicon: Dicionário Teológico enciclopédico. São Paulo, SP: Loyola, 2003, p. 654.

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importam menos na medida em que nos sacrificamos diariamente por coisas.


Gastamos um tempo enorme com mídias sociais e nem tanto para interagir com
seres humanos, e cada vez mais dialogamos menos. O número de curtidas e likes
aumentam enquanto nossa sensibilidade diminui para as necessidades do outro.
Ou, noutra mão, estamos presenciando uma sociedade que mede seus níveis de
relacionamento pelo número de comentários e curtidas no Facebook. Precisamos
realmente refletir sobre que tipo de relacionamentos estamos construindo.
Em tempos pós-modernos, na “era líquida”, precisamos resgatar valores
bíblicos. Cultivar amizades, fortalecer elos fraternos e movermos-nos em direção
ao próximo é uma forma de cultivar esse resgate. “Ajudem a levar os fardos uns
dos outros e obedeçam, desse modo, à lei de Cristo” (Gl 6.2), e ainda, em Roma-
nos 15.1 lemos: “Nós que somos fortes devemos ter consideração pelos fracos, e
não agradar a nós mesmos”.46 Neste sentido, a Igreja deve se colocar como uma
contracultura, prosseguindo na contramão dessa tendência pós-moderna e resga-
tando a alteridade.

2. O QUE É SER CRISTÃO

Depois de termos feito algumas considerações em torno do nosso tempo,


dos desafios que ele apresenta ao verdadeiro Cristianismo e que respostas pode-
mos dar como servos de Deus, vamos agora refletir sobre a vida cristã verdadeira.
E este esforço precisa considerar, indubitavelmente, o discipulado cristão.
O mártir cristão alemão Dietrich Bonhoeffer comenta que Jesus é quem
realmente importa encontrar e afirma já na introdução do clássico Discipulado
(2016): “Para nós, é menos importante o que requer este ou aquele indivíduo da
Igreja, mas sim o que deseja Jesus, é isso o que queremos saber”.47 Ser cristão é
seguir a Cristo, é amá-lo, é imitá-lo e “andar como ele andou” (1 Jo 2.6).

46 Bíblia Sagrada: Nova Versão Transformadora. São Paulo: Mundo Cristão, 2016, Gálatas
6.2, Romanos 15.1.
47 BONHOEFFER, Dietrich. Discipulado. Trad.: Murilo Jardelino. Clélia Barqueta. São Pau-
lo: Mundo Cristão, 2016, p. 11.

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2.1. No Novo Testamento


No Novo Testamento encontramos o ensino a respeito do significado do
ser cristão. Se na Filosofia existe um profundo interesse pelo ser, numa busca
ontológica, no ensino neotestamentário existe um interesse manifesto pelo “ser
discípulo”. As epístolas em grande medida são ensinos sobre como deve ser a
vida que deve ser vivida por um cristão verdadeiro, o que faz delas escritos muito
práticos.

2.2. Novo homem em Cristo: o preço do discipulado


O preço do discipulado está na reunúncia do “eu”, do próprio ego. Não é o
mesmo que subversão da própria individualidade. Pelo contrário e bem longe
disso, encontrar-se com Cristo de fato, propicia um verdadeiro encontro con-
sigo mesmo. É resgate da própria identidade, mas que implica na negação do eu,
do ego. Mais uma vez, “ouçamos” Bonhoeffer: “Quando as Escrituras Sagradas
tratam do discipulado de Jesus, proclamam a libertação do ser humano de todos
os preceitos humanos, de tudo que o oprime, de tudo que o sobrecarrega, de tudo
que lhe suscita preocupação e dor na consciência”.48 O novo homem, portanto,
diz um forte não ao pecado, mas um forte sim a Cristo e prossegue crescendo
Nele.

3. A FIDELIDADE A DEUS

A fidelidade a Deus é, sem dúvida, uma marca do verdadeiro seguimento


de Cristo. A palavra “fidelidade” no grego é pistis (Gl 5.22) e denota lealdade, o
caráter de alguém em quem se pode confiar (Strong). Numa definição geral:

A fidelidade é caracterizada pela firmeza e pela certeza de propósi-


tos, por uma atitude e uma conduta justas, pela devoção de alguém
a uma pessoa ou a uma causa, pela incorruptibilidade, pela sinceri-

48 BONHOEFFER, 2016, p. 13.

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dade, pela confiabilidade, pelo cumprimento das promessas e votos


feitos e pela lealdade sincera.49

Nosso tempo tem presenciado a morte da fidelidade, inclusive entre cris-


tãos que, seduzidos pelos atrativos de uma época marcada por imoralidade, cor-
rupção e abandono de valores, se deixam levar para uma vida corrompida. O
chamado do discipulado cristão, contudo, é para a fidelidade a Deus e ao nosso
próximo. Deus conta com homens e mulheres que sejam fieis. O apóstolo João
pôde se alegrar pela fidelidade de Gaio, seu amigo, alegria que ele expressou num
dos textos mais emblemáticos do Novo Testamento: “Alguns dos irmãos regres-
saram e me deixaram muito alegre quando falaram de sua fidelidade e de como
você vive de acordo com a verdade” (3 Jo v. 3).50 Como é bom ter amigos fieis,
como é bom sermos fieis e servirmos a Deus fielmente! Cumpre perguntar como
a fidelidade pode ser manifestada, hoje? A seguir, alguns exemplos concretos.

3.1 Na vida em sociedade


O cristão não é gerado em Cristo para viver numa bolha. Pelo contrário,
ele é chamado a interagir com as pessoas; ele também é a sociedade, mas sobre-
tudo, ele é “cidadão do céu” e pelo seu exemplo pode impactar outras pessoas.
Bonhoeffer (2016), escrevendo a respeito da graça barata, indica justamente a
ineficiência da “graça barata” (em suas próprias palavras) no sentido de impactar
o mundo:

A graça barata, em vez de justificar o pecador, justifica o pecado.


Desse modo, resolve tudo sozinha, nada precisa mudar e tudo pode
permanecer como antes. “Nossos esforços são vãos”. O mundo
continua mundo, e nós continuamos pecadores, “mesmo na vida
mais piedosa”. O cristão pode, então, viver como toda gente, em pé
de igualdade com todos, e não se atreve a, sob essa graça, ter uma

49 CHAMPLIN, Russell N. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. vol. 2. São Paulo:


Candeia, 1991, p. 725.
50 Bíblia Sagrada: Nova Versão Transformadora. São Paulo: Mundo Cristão, 2016, 3 Jo v. 3.

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vida diferente da que tinha sob o pecado, a fim de não ser acusado
de herege fanático.51

Alcançados pela graça preciosa de Deus, os cristãos vivem em meio à so-


ciedade, exalando o suave odor de Cristo. São pecadores sim, mas pecadores que
evitam o pecado, porque alcançados pela graça que, como explica Bonhoeffer,
“[...] é preciosa porque condena o pecado; é graça porque justifica, perdoa o pe-
cador”.52 É sob esta graça que vivemos cada dia, na presença viva de Cristo que
conosco sempre está.

3.2 Na vida conjugal


Pode nosso cônjuge identificar em nós as marcas do discipulado cristão? O
cônjuge é, sem dúvida, a pessoa mais próxima de nós e que melhor nos conhece.
Se somos fieis ao nosso cônjuge isto já é um sinal indicador de nossa fidelidade
a Deus. Creio que a demonstração de que somos realmente fieis começa no
casamento.

3.3 Na administração financeira


As finanças representam uma das áreas em que somos mais tentados. Fide-
lidade a Deus e ao próximo nessa área é um exercício contínuo, visto que precisa-
mos constantemente trabalhar nosso homem interior para não se deixar levar pela
sedução do amor ao dinheiro. Paulo escreve a Timóteo o seguinte a respeito das
riquezas: “Ensine os ricos deste mundo que não se orgulhem nem confiem em seu
dinheiro, que é incerto. Sua confiança deve estar em Deus, que provê ricamente
tudo de que necessitamos para nossa satisfação” (1 Tm 6.17).53 De fato, o dinhei-
ro é incerto e nossa confiança deve estar sempre depositada em Deus, Aquele que
sempre cuida de nós em nossa peregrinação.

51 BONHOEFFER, 2016, p. 19.


52 BONHOEFFER, 2016, p. 21.
53 Bíblia Sagrada: Nova Versão Transformadora. São Paulo: Mundo Cristão, 2016, 1 Timóteo
6.17.

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3.4 Na mordomia cristã


A doutrina da mordomia cristã é uma das mais relevantes para a vida cris-
tã, mas infelizmente, muito esquecida em nossos dias. É preciso resgatá-la! Em 1
Coríntios 4.1 temos um dos textos bíblicos que mais servem para fundamentar a
doutrina da mordomia cristã: “Assim, pois, importa que os homens nos conside-
rem como ministros de Cristo e despenseiros dos mistérios de Deus”.54 Craig S.
Keener (2017) comenta que:

Os “mordomos” ou “administradores” (“encarregados”, NVI)


eram, em geral, servos, como aqui, ou libertos. Esses servos e liber-
tos eram incumbidos de administrar a propriedade de seu senhor,
em especial seus negócios financeiros. Desfrutavam de grande au-
toridade e prestígio. Alguns filósofos consideravam-se administra-
dores das verdades divinas.55

O ministro de Cristo é aquele que administra os bens celestiais compar-


tilhados conosco através da Revelação. Ele recorre à despensa de Deus, a Bíblia,
para dela ele próprio se alimentar e em seguida, compartilhar com outros. E o
faz com alegria, visto que é muito satisfatório poder levar a outros as riquezas da
Revelação de Deus.

3.5 Na prática dos dízimos e das ofertas: um exercício de alteridade


Atualmente, se discute muito a validade da prática do dízimo, especial-
mente na internet muita coisa se acha sobre o assunto, de vozes autorizadas e não
autorizadas. No presente esboço, o enfoque, contudo, é “saltar por cima” desta
discussão (muitas vezes inócua) e considerar a prática do dízimo e das ofertas
como uma exercício de alteridade cristã.

54 Bíblia: Almeida Revista e Atualizada. 1 Coríntios 4.1. Disponível em: <https://www.bible.


com/pt/bible/1608/1CO.4.ARA> Acesso em 02 jun. 2019.
55 KEENER, Craig S. Comentário histórico-cultural da Bíblia: Novo Testamento. Trad.: José
Gabriel Said. Thomas Neufeld de Lima. São Paulo: Vida Nova, 2017, p. 556.

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Não se pretende aqui definir esta questão em termos de ação social ou fi-
lantrópica, pois cremos que essa seria uma visão reducionista sobre dízimos e ofer-
tas, à luz do que a Bíblia ensina sobre o tema. Esta disciplina da vida cristã implica
relacionamento com Deus e fidelidade à Ele, muito mais do que simplesmente
fidelidade à uma instituição e à ação social. Aliás, é claro nas Escrituras que o pro-
pósito maior dos dízimos não é fazer ação social, mas sim, atender a manutenção
da obra de Deus. Mas é possível concluir que a entrega de parte dos rendimentos
pessoais numa igreja local é também um exercício de alteridade, embora essa não
seja a finalidade maior. Pensar em benefício de outrem ou de outras pessoas é algo
essencial à vida cristã. Colaborar financeiramente com uma comunidade de fé é
um exercício de alteridade, pois requer renúncia pessoal e liberalidade no sentido
de retirar dos próprios recursos para compartilhar com outros.

CONCLUSÃO

O mordomo, para ser mordomo, precisa ser fiel. Paulo usa justamente este
fato para falar dos ministros de Cristo, que deveriam ser fieis ao seu Senhor. Ele
escreve: “De um encarregado espera-se que seja fiel” (1 Co 4.2).56 Como minis-
tros – ou despenseiros – de Deus, nossa missão não consiste em chamar a atenção
para nós mesmos, mas sim conduzir as pessoas às riquezas de Cristo.

56 Bíblia Sagrada: Nova Versão Transformadora. São Paulo: Mundo Cristão, 2016, 1 Corín-
tios 4.2.

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ESB O Ç O 9

TEMA DO SERMÃO: PECADOS CATÓLICOS DA IGREJA


EVANGÉLICA BRASILEIRA
TEXTO BÍBLICO BASE: “Assim brilhe também a vossa luz diante dos
homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está
nos céus” (Lc 24.49, NVI).

INTRODUÇÃO

A Igreja evangélica brasileira cresceu muito nas últimas décadas no Brasil,


surpreendendo de modo geral a sociedade com esse crescimento. Neste contexto de
crescimento, muitos problemas também ganharam espaço entre nós, ao ponto de se
tornarem uma verdadeira ameaça à nossa identidade como Igreja do Senhor. Que pro-
blemas são esses? Neste esboço os denomino de “pecados católicos” da Igreja evangélica
brasileira. É curioso que nós, evangélicos, durante muitos anos criticamos os católicos
por alguns de seus pecados, mas agora, temos visto esses pecados serem reproduzidos
por nós, ainda que sob formas distintas, mas em essência, os mesmos pecados.

1. PECADOS CATÓLICOS DA IGREJA EVANGÉLICA


BRASILEIRA

A Igreja Católica Romana, em séculos de existência, trouxe muitas contri-


buições para a humanidade, mas também cometeu muitos pecados ao longo da
História. Alguns desses erros ficaram no passado, como por exemplo a venda de
indulgências, mas outros se perpetuaram e chegaram até mesmo ao nosso tempo.
Nós, evangélicos, sempre fomos hábeis em criticar a Igreja Católica Roma-
na por esses pecados, do passado e de hoje. Curiosamente, o movimento evan-
gélico brasileiro experimentou um crescimento extraordinário e hoje pode, com
justiça, ser acusado de praticar os mesmos pecados a respeito dos quais tanto

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condenou na Igreja Católica Romana. De algum modo, tornamo-nos cúmplices


dos mesmos “pecados católicos”, até excedendo aos católicos em alguns sentidos.
Consideremos, neste primeiro tópico, alguns desses pecados e busquemos nas
Escrituras o caminho do arrependimento e da orientação.

1.1. A pompa
O Cristianismo bíblico, desde seu nascimento, sempre foi marcado pela
simplicidade. Isto é muito significativo! O Senhor Jesus era simples, acessível às
pessoas e Lucas registra ainda que Ele não tinha onde reclinar a cabeça (cf.: Lc
9.58). Os primeiros cristãos foram marcados pela simplicidade: “Diariamente
perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as
suas refeições com alegria e singeleza de coração” (At 2.46).57
Em nossos dias temos presenciado na Igreja brasileira uma obsessão pelo
que é grande, pela ostentação, pela fama e pelo espetáculo. O Protestantismo,
historicamente, foi marcado pela simplicidade. O que presenciamos hoje rompe
com o Evangelho, com o estilo de vida proposto por Jesus e com a história do
Protestantismo. O culto a Deus, numa igreja protestante, conquanto deva ser
profundo e reverente, não pode deixar de ser simples.

1.2. A centralização de figuras humanas


Diferentemente – e para muito pior – os ídolos dos evangélicos estão vivos!
Não são aquelas estátuas de santos do passado. Idolatramos cantores, pregado-
res, apóstolos, pastores, teólogos, televangelistas e outras figuras que se destacam
entre nós, e que se destacam não por sua virtude, piedade cristã, mas por serem
agressivos, iracundos, homofóbicos58, egocêntricos e que não dão a Deus a glória
devida. Essas pessoas, infelizmente, são tidas como “referências” entre nós. Nosso

57 Bíblia: Almeida Revista e Atualizada. Atos 2.46. Disponível em: <https://www.bible.com/


pt/bible/1608/ACT.2.ARA>. Acesso em 02 jun. 2019.
58 Reitero que, como cristão, naturalmente entendo que a prática homossexual não representa o
padrão de sexualidade estabelecido por Deus, mas me posiciono contra as diversas formas de
agressão e abordagens caricatas que tem sido feitas contra e a respeito dos homossexuais no
contexto evangélico.

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paradigma maior, contudo, deve ser Jesus, o Filho de Deus, o Verbo encarnado,
que com sua vida e palavras nos ensinou como viver para agradar a Deus.

1.3. A venda de indulgências contemporânea


Seguindo na trilha do pensamento do mártir cristão alemão, Dietrich Bo-
nhoeffer, a graça de Deus, manifestada em Cristo, não é barata. Bonhoeffer co-
menta que “[...] a graça preciosa é o tesouro oculto no campo, pelo qual o ser
humano vende feliz tudo que possui [...]; é o chamado de Jesus Cristo, pelo qual o
discípulo deixa suas redes para trás e o segue”.59 E conquanto o cristão tenha sido
comprado por bom preço (cf.: 1 Co 6.20), ele não pode nada pagar por essa graça.
Ele a recebe gratuitamente; ela é um presente impagável, dado graciosamente por
Deus ao homem que recebe a Jesus pela fé.
Infelizmente, em nossos dias, estamos convivendo com condicionamentos
absurdos que ferem claramente o ensino neotestamentário. Esses condiciona-
mentos são do homem, não de Deus. Ouvimos a respeito de campanhas que pro-
metem bênçãos mas sob a condição de ofertar valores altos, e que é necessário fazer
“sacrifícios” e assumir ideias absurdas e bizarras, como por exemplo, a Confissão
Positiva. Isto cria nos cristãos uma ideia divorciada da Palavra, que pressupõe que as
bênçãos de Deus estão condicionadas ao que o crente fará ou deixará de fazer, e não
que as bênçãos de Deus sejam resultados da graça de Deus sobre ele.

2. REPENSANDO NOSSA ECLESIOLOGIA

Diante do cenário acima descrito, do atual estado de coisas em grande par-


te do movimento evangélico, precisamos repensar nossa eclesiologia. O primeiro
passo nesse esforço é voltar às Escrituras. A superação dos “pecados católicos da
igreja evangélica brasileira” passa, via de regra, pelo compromisso com a Palavra
de Deus. É o conhecimento crescente da Palavra que nos purifica de falsos ensinos
e/ou nos previne deles, e ainda, produz em nós uma ética genuinamente cristã.

59 BONHOEFFER, Dietrich. Discipulado. Trad.: Murilo Jardelino. Clélia Barqueta. São Pau-
lo: Mundo Cristão, 2016, p. 20.

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Outro passo fundamental que precisamos dar, neste esforço de repensar


nossa eclesiologia brasileira, é buscar o conhecimento de Jesus Cristo. O Cris-
tianismo verdadeiro consiste do relacionamento com a Pessoa bendita de Jesus.
É muito mais do que o acúmulo de conhecimento teológico e de sistemas teoló-
gicos. O verdadeiro seguimento de Cristo consiste justamente do conhecimento
crescente de Cristo. Esta é uma preciosa verdade. Deus quis fazer Seu Filho co-
nhecido entre os gentios, diz Colossesnses 1.27. Em Filipenses 3.10 Paulo fala de
seu desejo de conhecer a Cristo. Este é um sentimento que precisa ser restaurado
em nossos corações, hoje.
Um terceiro passo no sentido de repensarmos nossa eclesiologia consiste
de movermos-nos em direção ao próximo. O egoísmo tem sido a marca de
muitas pessoas, inclusive cristãs. Mas precisamos lembrar que a negação do eu, do
ego, consiste também da superação do egoísmo. Precisamos olhar para os lados! É
preciso seguir o exemplo do Mestre: “Quando viu as multidões, teve compaixão
delas” (Mt 9.36).

CONCLUSÃO

O denominacionalismo, a luta pelo poder eclesiástico, a busca irrefletida


por fama e visibilidade e outras práticas e tendências ruins no seio do movimento
evangélico, tem contribuído de modo muito acentuado para a descaracterização
dos cristãos evangélicos como reais seguidores de Jesus. Jesus era simples, amoroso
e misericordioso. Sua obra consistia em fazer a obra do Pai (cf.: Jo 10.32,37). Ele
não estava imerso no próprio “Eu”, mesmo sendo Deus, o Criador dos Céus e da
Terra. Em Filipenses capítulo dois encontramos uma das mais profundas e tocan-
tes cristologias do Novo Testamento, onde o Filho de Deus nos é apresentado em
condição de humildade a fim de resgatar a humanidade. Ali, Ele nos é apresen-
tando despindo-se de sua glória em favor de nós. Nossa obsessão por poder, por
transformar o ministério cristão numa espécie de plataforma para autopromoção
pessoal e promoção da nossa própria visibilidade tem nos distanciado do real se-
guimento de Cristo. É preciso voltar à cruz, ao evangelho, ao discipulado cristão.

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ESB O Ç O 10

TEMA DA PALESTRA: ÉTICA CRISTÃ E TEOLOGIA MINISTERIAL


TEXTO BÍBLICO BASE: “Portanto, já que vocês ressuscitaram com Cristo,
procurem as coisas que são do alto, onde Cristo está assentado à direita de
Deus. Mantenham o pensamento nas coisas do alto, e não nas coisas terrenas.
Pois vocês morreram, e agora a sua vida está escondida com Cristo em Deus.
Quando Cristo, que é a sua vida, for manifestado, então vocês também serão
manifestados com ele em glória” (Colossenses 3.1-4, NVI).

INTRODUÇÃO

De fato, ética cristã e teologia ministerial são dois assuntos que andam de
mãos dadas. A Igreja Brasileira enfrenta uma séria crise ética. Convivemos com
escândalos financeiros, morais e ministeriais. E também convivemos com uma
carência muito grande – mormente no Movimento Pentecostal – de obreiros
realmente qualificados e preparados, preparados não apenas bíblica ou teologi-
camente, mas em termos de conduta também, tal como lemos em 1 Timóteo 3.
Estudar Ética Cristã e a Teologia Ministerial ajudam muito para que possamos
diminuir esse “fosso” ético e ministerial presente na Igreja, gerando obreiros sau-
dáveis e vibrantes para a Obra de Deus!

1. ÉTICA CRISTÃ

Pode-se falar de Ética não apenas em termos cristãos, ainda que esta seja
por excelência superior à qualquer outra, por estar embasada nas Sagradas Es-
crituras. Diversos cursos superiores incluem em seus currículos acadêmicos uma
disciplina específica sobre Ética. É um assunto que desperta muito interesse e
que tem fomentado a publicação de diversas obras em nosso país sobre o tema. E
realmente é um assunto a ser estudado, mas não apenas estudado. Não deve ficar

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enciclopédia teológica: numa perspectiva transdisciplinar

retido no campo do pensamento e da reflexão, mas deve de lá chegar à práxis e


contribuir para a construção de uma sociedade mais justa e equilibrada e para o
melhoramento da Ekklesia.

1.1 Ética: definição


O filósofo brasileiro Mario Sérgio Cortella define ética como sendo o que
“[...] marca a fronteira da nossa convivência. Seja com as outras pessoas, seja com
o mercado, seja com os indivíduos. Ética é aquela perspectiva para olharmos os
nossos princípios e os nossos valores para existirmos juntos”.60 Mas esta é uma
definição genérica para ética, conquanto seja muito importante. No estudo da
Ética como disciplina, encontramos tipos específicos de ética, como podemos ver
nos dois exemplos a seguir.

1.1.1 Ética deontológica

É aquele tipo de ética específica para as variadas atividades profissionais.


A palavra “deontologia” deriva de duas palavras gregas, a saber, déon, e logia. A
primeira significa “dever” ao passo que a segunda já é nossa conhecida: significa
basicamente “tratado”, “discurso racional”. Toda profissão possui seu próprio có-
digo de ética, muitas vezes refletido no juramento feito pelos alunos no momento
da formatura.

1.1.2 Ética e epistemologia na Pós-modernidade

Considerar a Ética sob o prisma da epistemologia (teoria do conhecimen-


to) face à Pós-modernidade é mais que uma opção: é uma necessidade premente.
É preciso entender nosso tempo, e entender como o entendemos...

1.2 Ética e moral: a distinção e a relação


A palavra “ética” procede do grego ethos e significa basicamente “estábulo”,
daí deriva-se a palavra “estabilidade”. O termo “moral” vem do latim mores e sig-

60 CORTELLA, Mario. Qual é a tua obra? Inquietações propositivas sobre gestão, liderança
e ética. 19ª ed. São Paulo: Vozes, 2012, p. 105.

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nifica “costumes”. Enquanto a Ética está mais relacionado ao meio social em que
se insere o indivíduo, a moral está ligada à formação do caráter do indivíduo, às
normas que regulam o seu comportamento nessa sociedade.

1.3 Ética cristã: conceituação


Conjunto de princípios e valores extraídos das Sagradas Escrituras que de-
vem reger o comportamento do cristão em todas as instâncias de sua vida: família,
trabalho, ministério, sexualidade, sociedade. Podemos afirmar que a Ética cristã
representa, de certo modo, o próprio ethos do nascido de novo em Cristo Jesus.
Noutras palavras, é quem ele é.

1.4 Bases bíblicas da Ética Cristã


Várias são as bases bíblicas para a Ética Cristã. Dois exemplos fortíssimos
que devem ser destacados, um no Antigo e outro no Novo Testamento: o Decá-
logo e o Sermão do Monte.

1.5 Desafios pós-modernos à Ética Cristã


A Ética Cristã é confrontada por práticas e ideologias fortemente presentes
na sociedade, hoje. Com efeito, a Igreja precisa considerar esses enfrentamentos
e como lidará com eles, de modo a não se descaracterizar como Igreja de Cristo e
nem ficar descontextualizada neste mundo.

1.5.1 Consumismo pós-moderno

Aqui, a ideia central é que o consumismo na Pós-modernidade está para


além dos limites do consumo de bens e serviços e entrou nas relações humanas
e institucionais. Igrejas são vistas como empresas, cristãos como clientes, pessoas
como objetos, dentre outros fatores que evidenciam este triste fenômeno.

1.5.2 Relativismo moral

Cada vez mais os marcos antigos são removidos. Se fala de novos modelos
familiares que são, em grande medida, o reflexo e a tentativa da sociedade se

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adaptar à sua própria incapacidade de preservar o núcleo familiar, propriamente


dito. Conquanto reconheçamos que esta é uma realidade, isto não nos obriga
necessariamente a não criticar e a não propor um padrão ético e moral que seja
norteado pelas Escrituras. O relativismo moral presente na Pós-modernidade por
vezes se mostra bem “fundamentalista” e nada relativo quando confrontado pela
Ética Bíblica... Pensemos nisso!

1.5.3 “Liquefação” das relações humanas

Pegando emprestada uma metáfora do sociólogo polonês Zygmunt Bau-


man, na Pós-modernidade as relações são líquidas, isto é, se desfazem muito facil-
mente, não se firmam, não são “sólidas”. Na verdade, as relações humanas senti-
ram profundamente o impacto da Pós-modernidade. O que está ocorrendo com
outras instituições e estruturas sociais em nossa era, está acontecendo também
com as relações humanas: elas estão “derretendo!”

1.5.4 Remoção dos marcos antigos

A Pós-modernidade tem, de fato, ojeriza à valores e marcos estabelecidos


na Modernidade, como a cultura judaico-cristã, por exemplo. Isso representa um
grande desafio para a Igreja que é depositária de valores e referenciais para a so-
ciedade.

2. TEOLOGIA MINISTERIAL61

Já é sabido por nós, cristãos, que Deus sempre escolheu e dotou de capa-
cidade homens e mulheres para cumprirem a Sua vontade. Vemos isso no Antigo
Testamento, na vida de vários personagens, como Abraão, Moisés, Aarão, Débora,
os sacerdotes, os levitas, dentre tantos outros. E no Novo Testamento vemos Deus
levantando ministros para servirem à Ele e à Sua Igreja, homens vocacionados e
investidos de autoridade por Deus para levarem a mensagem salvadora do Evan-

61 Extraído de: COZZER, Roney Ricardo. Obreiro excelente: curso de formação e capacita-
ção de obreiros. Instituto de Educação Cristã Doceo: Cariacica / ES: 2017, pp. 45-51.

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gelho aos judeus e aos gentios. Com efeito, Deus sabe que Sua Igreja necessita de
obreiros que sejam abnegados por amarem a causa de Cristo e Ele sempre supre-a
desses ministros. É preciso ter claro em nossa mente que os ministros são dados
por Deus à Igreja para dela cuidarem, zelando por ela como noiva do Cordeiro
que é (Ef 5.25-33) e pela sã doutrina, tal como encontramos Paulo ensinando ao
seu filho na fé, Timóteo (cf.: 1 Tm 4.16).

2.1 O que é o ministério?


No Antigo Testamento, a palavra “ministério” está mais relacionada aos
serviços religiosos realizados pelos levitas e sacerdotes. Com efeito, lemos, por
exemplo, em Êxodo 38.21 sobre o “ministério dos levitas” (Êx 38.21, ARA). Vine
(2002) define “ministério” como “o cargo e trabalho de um diakonos”.62 No Novo
Testamento a ideia de ministério é aplicada a todos os crentes num certo sentido;
depois da morte de Cristo, todo crente é um sacerdote. Em Apocalipse 1.6 lemos
que Cristo nos fez “sacerdotes” e em Hebreus 10.19 o autor convida os crentes a
que entrem, pela fé (Hb 10.22), naquele local onde só o sumo sacerdote entrava.

2.2 O ministro à luz da Bíblia


Tal abordagem se faz muito necessário no momento atual da Igreja Brasi-
leira. Grande confusão tem havido, notadamente, entre “função” e “título”. Con-
quanto o título indique a função, a função precisa ser exercida de fato. Ministério
se confunde com trabalho. Convivemos com uma espécie de “esvaziamento” das
funções ministeriais, na Igreja, hoje, infelizmente. Antes do título se percebe a
aptidão, a dedicação. O fazer precede o reconhecimento e não o contrário.

2.3 O ministro à luz do Novo Testamento


Encontramos a palavra grega diakonia traduzida como “ministério”, cujo
sentido é amplo em sua aplicação. Se aplica a indivíduos, como aos apóstolos, por

62 VINE, W. E. UNGER, Merril F. WHITE JR, William. Dicionário Vine: o significado exe-
gético e expositivo das palavras do Antigo e do Novo Testamento. Trad.: Luís Aron de
Macedo. Rio de Janeiro: CPAD, 2002, p. 791.

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exemplo (cf.: At 1.17), e até mesmo à uma igreja local (cf.: Ap 2.19 – neste texto
encontramos o termo diakonia traduzido por “serviço”). A ideia principal atrelada
à “ministro” é a de alguém em algum tipo de trabalho e atividade.
O Novo Testamento emprega três palavras para “ministro”; são elas leitour-
gos, hyperetes e diáconos.63 A primeira, leitourgos, refere-se originalmente à uma
espécie de empregado público. A segunda palavra, hyperetes, “[...] é um termo
grego composto que significa trabalhador de um navio de escravos. Com o tempo
passou a significar qualquer pessoa em uma posição subordinada, um assistente
pessoal ou ajudante de um superior (Lc 1.2; At 13.5; 26.16; 1 Co 4.1)”.64 O
diakonos era aquele que servia as mesas. Evidentemente, esses termos assumiram
conotação religiosa e com ela foram usadas pelos autores neotestamentários. O
termo hyperetes, por exemplo, é usado por Paulo: “ Que os homens nos conside-
rem, pois, como ministros (hypēretas) de Cristo, e despenseiros dos mistérios de
Deus” (1 Co 4.1, ARA).65

2.4 Os dons ministeriais


No ensino do Novo Testamento lemos sobre “dons espirituais”, como em
1 Coríntios 12.1.66 Mas encontramos também o ensino de que o Senhor conce-
deu dons ministeriais à Igreja, para a sua edificação, tal como lemos em Efésios
4.11,12: “E ele deu uns como apóstolos, e outros como profetas, e outros como
evangelistas, e outros como pastores e mestres, tendo em vista o aperfeiçoamento
dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo” (ARA).
Vale considerar aqui o sentido da palavra “dom”. Para o Pastor Antonio
Gilberto, “[...] em seu sentido geral, o termo “dom” tem mais de um emprego.
Há os dons naturais, também vindos de Deus na criação, na natureza: a água, a
luz, o ar, o fogo, a vida, a saúde, a flora, a fauna, os alimentos, etc.” O mesmo au-
tor prossegue afirmando que: “[...] Há também os dons por Deus concedidos na

63 PFEIFFER. HOWARD. REA. 2007, p. 1287.


64 PFEIFFER. HOWARD. REA. 2007, p. 1287.
65 Grifo meu.
66 Neste capítulo Paulo dedica-se a comentar sobre o uso adequado dos dons.

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esfera humana: os talentos, os dotes, as aptidões, as prendas, as virtudes, as quali-


dades, as vocações inatas, etc.”67 Para Elinaldo Renovato, os ministérios “[...] são
serviços ou funções exercidos na igreja local, como parte do Corpo de Cristo, que
é a sua Igreja. No âmbito cristão, ministérios são serviços que devem ser exercidos
por pessoas que tenham a mentalidade de servas de Cristo. Ele disse que não veio
para ser servido, mas para ser servo (Mt 20.28)”.68 Sigamos o exemplo de Cristo,
que foi humilde, servo sofredor, e que amou ao ponto de dar a própria vida.

3. AS FUNÇÕES MINISTERIAIS À LUZ DA BÍBLIA

Os dons ministeriais são dados, sem dúvida, para a edificação mútua da


Igreja (cf.: 1 Co 14.12). E há variedade de dons, uma vez que a Igreja é vista
nas Escrituras como a “multiforme sabedoria de Deus” (Ef 3.10). Também em
1 Coríntios 12.4-6 o apóstolo insiste em que há variedade de dons, ministérios
e operações. Essa multiforme ação de Deus é demonstrada justamente por essa
variedade de dons. E a Igreja é vista como um corpo, que tem vários órgãos, sendo
uma espécie de unidade composta.

3.1. As funções ministeriais à luz do Novo Testamento


É importante que tenhamos claro com base na Bíblia os papeis e a missão de
cada um desses ministérios, a fim de que sejam assim realizados com alegria, eficiência
e produtividade, para glória de Deus, edificação da Igreja e salvação dos perdidos.

3.1.1 O diácono

É interessante considerar o contexto em que são levantados os primeiros


diáconos na Bíblia. O pano de fundo histórico está em Atos 6, onde lemos que
houve grande crescimento no número de discípulos, de modo que a demanda
quanto às viúvas por parte “dos helenistas” (v. 1) não estava sendo suprida.

67 GILBERTO in: GILBERTO. 2008, p. 195.


68 LIMA. 2014, p. 20.

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O crescimento da Igreja deu-se de várias formas, conforme podemos ler


no livro de Atos: crescimento em Jerusalém, entre os judeus de língua grega, o
alcance de Samaria, a conversão de Saulo, as viagens missionárias, etc. O cuidado
com esses cristãos pobres de fala grega, ao que parece, recaiu a princípio sobre
os apóstolos, como se pode ler em Atos 4.34,35. Adiante, contudo, eles vieram
a reconhecer que este trabalho era excessivo para eles e que essa não deveria ser
a sua prioridade. Em resposta, nomearam sete homens, com qualificações espiri-
tuais, de modo que eles, os apóstolos, perseverariam “na oração e no ministério
da Palavra” (v. 4, ARA).
Encontramos em Atos 6 a instituição dos diáconos como uma resposta à
“murmuração” registrada no versículo um e também à bênção do crescimento
extraordinário da Igreja, conforme bem observa Lima (2014).69 É preciso destacar
que os diáconos são estabelecidos para atender a uma necessidade social da Igreja.
E ainda: eles são escolhidos pelos líderes da Igreja, os apóstolos, numa assem-
bleia (não de forma isolada), pela própria Igreja e à serviço da Igreja: “E os doze,
convocando a multidão [...]” (v. 2, ARA). Infelizmente, esse “pegada” social do
ministério dos diáconos hoje é, em grade medida, negligenciada.
Os diáconos precisam ser, conforme o texto bíblico, “homens de boa re-
putação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria” (v. 3). Como podemos ver, não
é uma função de somenos importância e não é para uma pessoa que não assuma
um compromisso sério com uma vida cristã verdadeira. Mas as qualificações ne-
cessárias aos diáconos não são encontradas apenas aqui; também em 1 Timóteo
3.8-10 e 11 a 13 encontramos mais especificações:

 Precisam ser honestos;


 Não de língua dobre, isto é, que sejam verdadeiros e não “duas caras”;
 Não dados a muito vinho;
 Não cobiçosos de torpe ganância;

69 LIMA, Elinaldo Renovato de. Dons espirituais e ministeriais: servindo a Deus e aos ho-
mens com poder extraordinário. Rio de Janeiro: CPAD, 2014, p. 141.

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 Devem guardar o mistério70 da fé numa consciência pura;


 Devem primeiro ser provados para depois exercitarem o diaconato e isso ainda
sob a condição de terem sido achados irrepreensíveis para exercerem o ministé-
rio;
 Devem ser maridos de uma só mulher;71
 Deve ser um bom líder em casa.

Há recompensa para os diáconos que servem com amor e dedicação sin-


cera: “Porque os que servirem bem como diáconos, adquirirão para si um lugar
honroso e muita confiança na fé que há em Cristo Jesus” (1 Tm 3.13, ARA).

3.1.2 O presbítero

A palavra “presbítero” significa, no grego, uma espécie de “supervisor ge-


ral” e “obreiro auxiliar”. Denota uma pessoa mais velha, um ancião. Associado
ao termo grego episkopoi “[...] diz respeito ao obreiro maduro, preparado, não
necessariamente idoso”.72

3.1.3 O evangelista

São os pregadores da Palavra de Deus. O termo “evangelista” (Ef 4.11) sig-


nifica literalmente, segundo Vine (2002), “mensageiro do bem”.73 É outra função
ministerial que lamentavelmente tornou-se obsoleta para muitos que são nomea-
dos para ela. Ser evangelista por vezes é apenas uma filiação convencional, um
título eclesiástico, enfim, mas não um exercício de fato.

70 A palavra “mistério” no corpus paulinum não é algo desconhecido, que ninguém conheça, mas
indica uma verdade antes não conhecida, mas agora revelada.
71 Há discussão entre os intérpretes quanto ao sentido da expressão “maridos de uma só mulher”:
poligamia? adultério? As opiniões de fato divergem. Me inclino à posição que defende que
neste texto Paulo está advertindo contra a poligamia.
72 SANCHEZ in: RIBEIRO. 2015, p. 09.
73 VINE. UNGER. WHITE JR. 2002, p. 629.

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3.1.4 O pastor

No grego é poimen e significa “aquele que cuida de rebanhos”.74 Evidente


é que o termo assumiu outro sentido. Não se refere, no Novo Testamento, a pas-
tores de ovelhas literalmente, mas assume sentido figurado para falar dos líderes
cristãos que cuidam (pastoreiam) dos seus liderados. Em alguns casos sim, se trata
de pastores de rebanhos, mas o termo foi incorporado na linguagem cristã para
fazer referência àqueles que “ velam por vossas almas como quem há de prestar
contas delas” (Hb 13.17, ARA).

CONCLUSÃO

Louvamos a Deus que em Sua presciência e em Seu amor eterno nos tem
dado ministros, que cuidam deste santo ministério presente na Igreja, em sua
variegada forma. Homens e mulheres também que não poucas vezes investem
seu tempo e seus recursos na Obra de Deus e em favor da Obra de Deus. Vidas
inspiradoras para nós.
Juntemo-nos também, em esforço, na causa do Mestre e não sejamos ape-
nas observadores daqueles que trabalham de modo incansável na Seara. Com
efeito, é digna de ser lembrada a narrativa contada pelo antigo escritor das As-
sembleias de Deus, Orlando S. Boyer (2005): “Diz-se que Martinho Lutero tinha
um amigo íntimo, cujo nome era Miconio. Ao ver Lutero sentado dias a fio traba-
lhando no serviço do Mestre, Miconio ficou penalizado e disse-lhe: “Posso ajudar
mais onde estou; permanecerei aqui orando enquanto tu perseveras incansavel-
mente na luta”. Miconio orou dias seguidos por Martinho. Mas enquanto perse-
verava em oração, começou a sentir o peso da própria culpa. Certa noite sonhou
com o Salvador, que lhe mostrou as mãos e os pés. Mostrou-lhe também a fonte
na qual o purificara de todo o pecado. “Segue-me!” disse-lhe o Senhor, levando-o
para um alto monte de onde apontou para o nascente. Miconio viu uma planície
que se estendia até o longínquo horizonte. Essa vasta planície estava coberta de

74 VINE. UNGER. WHITE JR. 2002, p. 856.

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ovelhas, de muitos milhares de ovelhas brancas. Somente havia um homem, Mar-


tinho Lutero, que se esforçava para apascentar a todas. Então o Salvador disse a
Miconio que olhasse para o poente; olhou e viu vastos campos de trigo brancos
para a ceifa. O único ceifador, que lidava para segá-los, estava quase exausto, con-
tudo persistia na sua tarefa. Nessa altura, Miconio reconheceu o solitário ceifeiro,
seu bom amigo, Martinho Lutero! Ao despertar do sono, tomou esta resolução:
“Não posso ficar aqui orando enquanto Martinho se afadiga na obra do Senhor.
As ovelhas devem ser pastoreadas; os campos têm de ser ceifados. Eis-me aqui,
Senhor; envia-me a mim!” Foi assim que Miconio saiu para compartilhar do labor
de seu fiel amigo. Jesus nos chama para trabalhar e orar. É de joelhos que a Igreja
de Cristo avança”.75

75 BOYER, Orlando. Heróis da fé. 29ª ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2005.

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E S BO Ç O 11

TEMA DA PALESTRA: O BATISMO COM O ESPÍRITO SANTO NA


PERSPECTIVA DO PENTECOSTALISMO CLÁSSICO
TEXTO BÍBLICO BASE: “Mas receberão poder quando o Espírito Santo
descer sobre vocês, e serão minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia
e Samaria, e até os confins da terra” (At 1.8, NVI).

INTRODUÇÃO

Aqui está uma das doutrinas pentecostais76 mais importantes para o Pen-
tecostalismo Clássico: a do batismo com o Espírito Santo. E vale destacar que
não apenas como doutrina, mas como prática desejada e fomentada entre nós. De
certo modo, podemos reconhecer que esta doutrina se coloca como um distintivo
do Pentecostalismo que, como uma das várias tradições cristãs, realça algumas
doutrinas sem, necessariamente, negligenciar outras.

1. A IMPORTÂNCIA DA PNEUMAGIOLOGIA PARA O


PENTECOSTALISMO

“Pneumagiologia” é a fusão de três palavras gregas (pneuma + hagios + lo-


gia) e significa literalmente “estudo do espírito santo”. A relação dessa doutrina
com o Movimento Pentecostal é muito estreita tendo em vista a ênfase que o
Movimento dá à Pessoa e à obra do Espírito Santo. Esta parte da Teologia Siste-

76 Já li comentários depreciativos a respeito da expressão “doutrinas pentecostais”, baseando-se


no argumento de que só existam doutrinas bíblicas. Mas em certa medida, esse comentário
reflete o que tenho chamado de “pentecostalfobia” tão presente no cenário evangélico, hoje,
muitas vezes percebida nas mídias sociais. Essa isenção, contudo, simplesmente não exis-
te. Todos nós lemos as Escrituras pelas lentes da nossa tradição, por mais “exegéticos” que
procuremos ser. Desse modo, não tenho problema algum com expressões como “doutrinas
reformadas”, “doutrinas pentecostais”, “doutrinas católicas” e outras possíveis.

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mática é de fundamental importância para o Pentecostalismo a fim de que sejam


evitados excessos em relação à atuação do Espírito Santo. Se nós entendemos
corretamente a Pessoa e a obra do Espírito, então também nos relacionaremos de
maneira correta com Ele.

2. O BATISMO COM O ESPÍRITO SANTO NA VISÃO


PENTECOSTAL CLÁSSICA

Muita dúvida permanece no que tange ao que vem a ser o batismo com o
Espírito Santo, quem pode recebê-lo, qual a sua finalidade e sobre o como rece-
bê-lo. Com o crescimento do Neopentecostalismo, houve muita deturpação e ba-
nalização dessa doutrina bíblica pentecostal, muito sadia para a Igreja de Cristo.

2.1 É uma promessa do Pai aos salvos


Jesus ordena que os discípulos permaneçam na cidade e lhes afirma: “sobre
vós envio a promessa de meu Pai [...]” (Lc 24.49). Também em Atos 1.4,5 temos
a repetição desta promessa. Vale destacar que as ocorrências dessa promessa e o do
recebimento dela no livro de Atos sempre foi com salvos.

2.2 Não é santificação


A santificação, conquanto possa ser entendida como instantânea, não deixa
de ser um processo contínuo, diário, na vida do cristão. O batismo com o Espírito
Santo é uma ocorrência pontual na vida do salvo. É perfeitamente possível uma
pessoa receber o batismo e ainda sim não progredir em sua vida de santificação,
não demonstrando em seu modo de viver o fruto do Espírito (Gl 5.22).

2.3 É uma experiência com o Espírito Santo


A Pneumagiologia pentecostal é categórica, assim como a teologia da
maior parte das denominações protestantes, em afirmar que o Espírito Santo é
uma Pessoa, Pessoa Divina, constituinte da Trindade. Ele não é uma espécie de
força subjetiva ou mera adjetivação oriunda do hebraico e do grego. Ser batizado

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enciclopédia teológica: numa perspectiva transdisciplinar

com o Espírito Santo é, pois, ter uma experiência com Ele. É descrito na Bíblia
como “enchimento” (At 2.4).

2.4 É uma experiência poderosa!


A Bíblia a descreve em termos de “enchimento” (At 2.4), “derramar” (Jl
2.28,29; At 2.33; 10.45) e em Atos 10 lemos (na ARC) que “caiu o Espírito Santo
sobre todos os que ouviam a palavra” (v. 44). Os que experimentaram o batismo
com o Espírito Santo atestam o que afirmo aqui.

2.5 É uma experiência contínua


Conforme se pode depreender da profecia de Joel e do modo como Pedro a
interpretou no dia de Pentecostes, essa é uma experiência que se repetirá de modo
contínuo até “os últimos dias”. “A promessa”, diz Pedro, inclui até mesmo aqueles
que estão longe, a tantos quantos ele chamar (cf.: At 2.39).

CONCLUSÃO

A busca pelo batismo com o Espírito Santo deve brotar de um coração


sincero, que deseja servir melhor ao Senhor numa vida cristã mais profunda. Não
deve ser fruto de um coração vaidoso, que deseje ostentar certa espiritualidade
para a comunidade eclesial, onde convive. Pode parecer até paradoxal, mas há
pessoas que se envaidecem pela sua própria espiritualidade e pelas manifestações
do Espírito em sua vida, e o autor desta enciclopédia é testemunha disso. Todavia,
a busca pelo batismo e pelos dons espirituais deve ser regida pelo crescimento no
conhecimento das Escrituras e em maturidade cristã.

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ESB O Ç O 12

TEMA DO SERMÃO: LIÇÕES DA ESPERA


TEXTO BÍBLICO BASE: “Eu lhes envio a promessa de meu Pai; mas fiquem
na cidade até serem revestidos do poder do alto” (Lucas 24.49, NVI).

INTRODUÇÃO

A pressa nos processos da vida pode ser desastrosa. Todavia, quando olha-
mos para as Escrituras, percebemos que grandes homens de Deus, que importantes
contribuições trouxeram, precisaram esperar, e muitas vezes, esperaram muito. Foi
assim com Abraão, Moisés, Eliseu, Paulo e tantos outros personagens bíblicos. E
esse tempo de espera serviu como “escola” para a preparação e maturação desses
homens (e também mulheres) excepcionais. Que lições podemos extrair da espera?
É o que consideraremos a seguir.

1. ESPERA APÓS UM EVENTO EXTRAORDINÁRIO

Os discípulos foram orientados a esperar após o maior evento da História:


a Ressurreição de Jesus. A lição que podemos extrair neste caso é que nem
sempre uma grande bênção em nossa vida é “sinal verde” para ações maiores.
Por vezes, não estamos preparados para os grandes passos e para atividades fun-
damentais, e esperar pode ser uma bênção para nós. É o tempo da maturação, do
preparo e do crescimento pessoal para realizar coisas maiores. Em certa fase de
nossa vida Ele dirá “ide e fazei discípulos”, mas Ele também nos ensina o “esperai
até que do alto sejais revestidos de poder”. Confiemos Nele.

2. ESPERA PARA UM GRANDE EVENTO

A promessa fora dada. Agora, eles deveriam aguardar o revestimento de


poder, o batismo com o Espírito Santo, para serem testemunhas de Cristo entre

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enciclopédia teológica: numa perspectiva transdisciplinar

os povos com poder e graça. Antes de uma grande bênção, um período de espera
foi necessário. Como dito anteriormente, por vezes precisamos ser amadurecidos
para recebermos determinada dádiva, mas é verdade também que essa grandiosa
bênção de Deus que nos sobrevêm é também um chamado ao trabalho, à missão.
Os discípulos esperaram após o maior evento da História, a ressurreição de Jesus,
para experienciarem outro grande evento: o derramamento do Espírito sobre eles,
inaugurando assim e era da Igreja na Terra e preparando-os assim para o cumpri-
mento da ordem de Jesus.

3. O LUGAR DA ESPERA: JERUSALÉM

O lugar onde haviam ocorrido os principais eventos na vida e ministério


de Jesus, conforme indicado pelos discípulos ao próprio Jesus, no caminho para
Emaús, seria também o lugar da espera para os discípulos até o revestimento do
Alto. Jerusalém presenciou o ministério e a crucificação do Senhor Jesus, mas
agora iria ser também o lugar da espera, e o lugar de um grande avivamento que
ocorreu no dia de Pentecostes. A lição que podemos extrair é que Deus, por
vezes, decide, por sua soberana vontade, nos abençoar à partir do lugar justa-
mente onde estamos aguardando e dali nos conduzir a outros lugares.

CONCLUSÃO

Não cremos que a postura do cristão deva ser de uma passividade imersa
em inatividade. O “esperai” de Jesus requer de nós ação, devoção, lágrimas e fé.
A descida do Espírito sobre os cristãos no dia de Pentecostes se deu enquanto
eles estavam reunidos, bem possivelmente num momento cúltico e em oração.
Tem sido assim ao longo da História muitas vezes na vida de incontáveis cristãos.
Esperar sim, parar não. Esperar sim, esmorecer na fé jamais. O que aprendemos
durante a espera usaremos adiante, naquilo em que Deus nos conduzirá a realizar,
para louvor do Seu nome e edificação da Igreja.

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Esboços

ESB O Ç O 13 77

TEMA DA PALESTRA: ESTAMOS MESMO CONECTADOS?


TEXTO BÍBLICO BASE: “Alegrem-se com os que se alegram; chorem com os
que choram” (Rm 12.15, NVI).

INTRODUÇÃO

Nosso tempo presencia um avanço extraordinário na dinâmica da comuni-


cação humana. A internet marca um antes e um depois em nossa história. Criada
inicialmente com fins militares, hoje ela agrega milhões e milhões de usuários e dá
voz a pessoas que de outra forma, nunca teriam. Cumpre perguntar, porém, até
que ponto a maneira como nos comunicamos hoje, nesta era digital, é realmente
saudável para as relações interpessoais e para outras facetas da convivência, espe-
cialmente enquanto Igreja de Cristo que somos.

1. INCLUSÃO DIGITAL, EXCLUSÃO SOCIAL

Fala-se bastante de “inclusão digital”, refletindo-se assim uma preocupação


com parte significativa da população que por razões variadas não tem acesso a
computadores e a internet. Tal cuidado é necessário e legítimo, numa época em
que computadores e a internet são instrumentos essenciais para o coditiano atual.
Mas a inclusão digital apresenta desafios à saúde das relações, um fenômeno que
precisamos considerar com atenção. Percebemos que o uso exagerado das mídias
sociais tem contribuído, de certo modo, para a fragilização das relações humanas.
Não é de surpreender que as relações estejam cada vez mais fragilizadas, uma vez
que elas são com muita frequência mediadas pela tela de um PC, ou tablet, ou ou-

77 Este esboço foi originalmente preparado para o 2º Simpósio Seara News, mas ampliado para
ser incluído aqui. O tema geral do evento foi: “A transformação digital e o futuro da Igreja”,
e ele foi realizado em mais de uma edição no estado do Espírito Santo.

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enciclopédia teológica: numa perspectiva transdisciplinar

tro dispositivo móvel. Na medida em que as pessoas substituem o insubstituível,


vão se tornando cada vez mais frias, apáticas e indiferentes à outridade.

2. O DESAFIO DE REVITALIZAR O ANTIGO

Não podemos deixar de considerar aqui o enorme potencial dos recursos


digitais. Eles podem e devem ser apropriados pela Igreja objetivando glorificar a
Deus, promovendo edificação mútua através de conteúdos sadios e evangelizan-
do através das mídias sociais. Por mais que ainda haja resistência à esses recursos
por parte da Igreja, fato é que os tempos mudaram e a maneira das pessoas se
comunicarem também mudou. Cumpre perguntar pelos limites dos modelos
tradicionais de evangelização numa era marcada por uma comunicação que é
dinâmica, veloz, pictória... Digital.78 É possível preservar a antiga tradição cristã
de evangelizar, mas revitalizá-la através de recursos atuais e dinâmicos.

3. MAIS PREOCUPADOS COM RELAÇÕES DO QUE COM


CURTIDAS E LIKES

“Conviver”. Eis uma palavra hoje cada vez mais esquecida. Esquecida
em termos práticos, não em termos gramaticais. Curiosamente, vivemos um
tempo onde as pessoas estão o tempo todo “conectadas”, mas distantes umas
das outras. Estão online, mas cada dia mais insensíveis ao próximo. Tornamo-
-nos experts em receber e enviar mensagens e, simultaneamente, incapazes de
“chorar com os que choram” (Rm 12.15). Estamos transferindo conversas im-
portantes e relevantes para mensagens curtas e frias de Whatsapp. Em outro
trabalho escrevi o seguinte:

78 E aqui cabe ainda uma pergunta importante: Outra importante indagação que precisa ser
feita neste cenário atual, onde os recursos digitais permitem um acesso e uma exposição sem
precedentes, é se estamos mesmo evangelizando ou exibindo nossa imagem pessoal, numa era
marcada pela obsessão àquilo que é estético, visual, belo.

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Esboços

Tornamo-nos indiferentes à condição do outro. De maneira para-


doxal, estamos próximos e distantes ao mesmo tempo. “Curtimos”
muita coisa no Facebook mas pouco ou quase nada apreciamos e co-
mungamos das alegrias de nossos irmãos. No Facebook temos muita
facilidade para “compartilhar”, mas na vida concreta nossa agenda
nunca tem espaço para a partilha. O chamado do Evangelho é um
chamado em favor do outro. Cristo morreu por nós, pela humani-
dade, e seu sacrifício é de alcance universal em sua eficácia, embora
não em sua aplicabilidade”.79

Precisamos voltar a prática do amor ao próximo e buscar aprofundar as


relações. De fato, presenciamos, inclusive no interior de nossas igrejas, um grande
empobrecimento das relações humanas. Vemos as pessoas construírem corpora-
tivismo, não companheirismo; “feudos” e não comunidades; “contatos” e não
amigos.

CONCLUSÃO

São marcantes as palavras de Paulo em Romanos 12 e nos servem de “re-


médio” numa época tão agitada em que as relações humanas vão sendo diluídas:
“Amem as pessoas sem fingimento [...] Amem-se com amor fraternal e tenham
prazer em honrar uns aos outros”.80 Conquanto os judeus valorizassem o cuidado
com o outro, Paulo está aqui sem dúvida retomando o ensino de Jesus, no sentido
de amar o próximo. Jesus ensinou a perdoar, a não devolver o mal com o mal,
mas o mal com o bem e a abençoar aqueles que nos maldizem (cf.: Lc 6.28-31).
“Senhor, ajude-nos a seguir este precioso ensino e transbordá-lo na convivência
com os outros”. Amém!

79 PEREIRA, Carlos. COZZER, Roney Ricardo. Ética pastoral: O ofício pastoral sob o pris-
ma da Ética Cristã. Instituto Teológico Quadrangular, [obra não publicada], p. 73.
80 Bíblia Sagrada: Nova Versão Transformadora. São Paulo: Mundo Cristão, 2016, Romanos
12.9,10.

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enciclopédia teológica: numa perspectiva transdisciplinar

E S BO Ç O 14

TEMA DO SERMÃO: CONHECIMENTO: BUSCANDO-O,


PRATICANDO-O E COMPARTILHANDO-O
TEXTO BÍBLICO BASE: “Pois Esdras tinha decidido dedicar-se a estudar a
Lei do Senhor e a praticá-la, e a ensinar os seus decretos e mandamentos aos
israelitas” (Esdras 7.10, NVI).

INTRODUÇÃO

Nosso tempo, sem dúvida, é marcado por uma busca incessante pelo co-
nhecimento nos seus mais variados segmentos: Filosofia, Medicina, Biologia, Bio-
tecnologia, Engenharia, etc. E de fato, o conhecimento humano avançou mui-
tíssimo especialmente nos dois últimos séculos. Filosofias como o humanismo
e o cientificismo (filhos do Iluminismo) realçaram, sem dúvida, essa sede pelo
conhecimento.
O próprio Iluminismo foi um momento histórico onde as esperanças para
a solução de muitos problemas da humanidade recaíram justamente sobre a capa-
cidade humana de desenvolver-se por meio do conhecimento. Em nossos dias, o
ritmo na produção e busca de conhecimento é frenético, por assim dizer. O nú-
mero de artigos científicos, dissertações de mestrado e teses de doutorado que são
produzidos é colossal. A Igreja, estando inserida na sociedade e sendo ela mesma
parte da sociedade, sofre os influxos dessa tendência mundial. E de fato, respostas
outrora dadas, agora já não mais respondem.
A Igreja precisa encarar o fato de que o aumento do conhecimento gerou
maior criticidade nas pessoas que, por conseguinte, tornaram-se muito mais exi-
gentes em torno do que leem e ouvem. Fato é que a Igreja reconheceu e reconhece
isso e vem investindo consideravelmente na busca e aquisição de conhecimento
bíblico e teológico. Isso pode ser percebido pelo crescente interesse das pessoas
por literatura evangélica em nosso país e também no aumento no número de

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Esboços

editoras cristãs, nas últimas décadas. Mas nesse contexto, onde tanto se fala em
conhecimento, algumas ponderações são mesmo necessárias, como veremos a se-
guir.

1. O CONHECIMENTO À LUZ DO ANTIGO E DO NOVO


TESTAMENTOS

A palavra “conhecimento”, sem dúvida, é ampla em sua acepção. Neste


texto, ela é usada em seu sentido mais lato, mas também como referência ex-
clusiva ao conhecimento bíblico e teológico que, evidentemente, é o que mais
interessa no contexto desta reflexão.
No Antigo Testamento a palavra “conhecer” é usada, por exemplo, em
referência ao ato sexual, como lemos em Gênesis 4.1: “E conheceu Adão a Eva,
sua mulher, e ela concebeu [...]” (ARC). Pode ser afirmado que são vários os usos
desta palavra ao longo da narrativa veterotestamentária. Um detalhe interessante
sobre o conhecimento na perspectiva hebraica em relação à grega é destacado por
M. H. Cressey (2006):

O ideal grego do conhecimento era uma contemplação da realidade


em seu estado estático e permanente; o ideal hebreu se preocupava
primariamente com a vida em seu processo dinâmico, e, portanto,
concebia o conhecimento, como entrada na relação com o mundo
que se pode experimentar, que impõe exigências não apenas sobre
o entendimento, mas também sobre a vontade.81

Uma grande seção do Antigo Testamento, a dos Livros Poéticos, é, num


certo sentido, dedicada a discorrer sobre o conhecimento, sobre a sabedoria. Os
cinco livros que compõem esta seção são geralmente chamados de “livros sapien-
ciais”.

81 CRESSEY in: DOUGLAS et al: O Novo Dicionário da Bíblia. Trad.: João Bentes. 3ª ed. rev.
São Paulo: Vida Nova, 2006, p. 254.

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enciclopédia teológica: numa perspectiva transdisciplinar

A palavra “sapiência” vem do latim sapientia e significa, basicamente, “sa-


bedoria”. Ali, nos Livros Poéticos, a sabedoria é altamente valorizada e incenti-
va-se muito ao leitor a que ele busque a sabedoria, como se busca “a prata [...]
e [se] como a tesouros escondidos a procurares, então, entenderás o temor do
SENHOR e acharás o conhecimento de Deus” (Pv 2.4,5).
No Novo Testamento encontramos mais de um termo para a palavra “co-
nhecimento”. E o conceito de conhecimento ali está para muito além de sim-
plesmente ter um assentimento intelectual. Em relação a Deus, o conhecimento
implica “obediência a seu propósito revelado, a aceitação de seu amor revelado, e
a comunhão com ele”.82

2. MITOS EM TORNO DO CONHECIMENTO


TEOLÓGICO

Não é novidade que o Movimento Pentecostal apresentou, durante muito


anos, certa ojeriza ao conhecimento teológico.83 Isso, de fato, é histórico entre
nós. Mas não tem sido assim nas últimas décadas. As Assembleias de Deus, maior
denominação pentecostal do Brasil, de modo notável vem se abrindo ao conheci-
mento teológico, embora estando ainda aquém do que já poderia ter sido feito em
termos de implantação de faculdades e até de uma universidade. Além da implan-
tação de instituições de ensino, a denominação desenvolve expressivos programas
de transmissão de conhecimento bíblico e teológico por meio da Escola Bíblica
Dominical, Escolas Bíblicas, Conferências de Escola Bíblica Dominical e demais
eventos de cunho teológico. Ainda é preciso, nas igrejas locais, que sejam supe-
rados determinados mitos em torno do conhecimento teológico que contribuem
para a sua rejeição e para a não implantação de projetos e programas de ensino
teológico. Vejamos alguns exemplos desses mitos, a seguir.

82 CRESSEY in: DOUGLAS et al., 2006, pp. 254, 55.


83 Isso foi indicado pelo pesquisador pentecostal, Dr. Paulo Romeiro in: CARVALHO, César
Moisés. Uma pedagogia para a Educação Cristã: noções básicas da Ciência da Educação
a pessoas não especializadas. Rio de Janeiro: CPAD, 2015, p. 217.

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Esboços

2.1 O conhecimento esfria o crente


Esta expressão, “o conhecimento esfria o crente”, repetidas tantas vezes em
nosso contexto, não deixa de revelar certo preconceito contra o conhecimento em si
e contra aqueles que partem para uma formação teológica. A alegação é que “a letra
mata, mas o Espírito vivifica” (2 Co 3.6). Curioso é notar que neste texto Paulo não
está se referindo ao conhecimento, mas à antiga aliança, substituída agora por uma
“nova aliança”. Seria suspeito da parte de Paulo renegar assim o conhecimento, já
que ele mesmo era profundo conhecedor do Antigo Testamento, poliglota, homem
de grande bagagem cultural e leitor da literatura de seu tempo, como se pode de-
preender de 2 Timóteo 4.13, das citações que ele faz de poetas pagãos em algumas
de suas epístolas e da habilidade de dialogar fluentemente naquele que foi, talvez, o
maior centro intelectual do mundo: Atenas (cf.: At 17.16ss).

2.2 Conhecimento confundido com informação


Ter conhecimento não é a mesma coisa que ter informações a respeito de
determinado assunto. O conhecimento busca ser completo. Olha para o todo.
Ele é capaz de combinar e concatenar as informações recebidas. Pense no conhe-
cimento como uma parede de alvenaria, onde há vários tijolos. Gosto de pensar
que a informação é como cada um desses tijolos. O conhecimento é justamente a
combinação adequada desses “tijolos” que formam uma amarração que sustenta
a parede, de modo que se um buraco for aberto nela, a parte superior não cai em
função dessa amarração dos tijolos.
Há pessoas que tem informação sobre quase tudo sem, necessariamente,
terem conhecimento do assunto. Isso é sério e precisa ser considerado por nós.84
Nem sempre estamos autorizados, de fato, a falar sobre algo pelo simples fato de
termos alguma informação a seu respeito. Infelizmente, convivemos, em nossas

84 Aqui é válido destacar a importância de uma boa formação teológica. Um bom curso teoló-
gico, seja a nível de seminário, seja a nível de ensino superior, é decisivo no sentido de pos-
sibilitar o conhecimento de modo organizado, sistematizado e coerente. É durante um bom
curso que o aluno terá contato com os principais autores das respectivas disciplinas estudadas,
bem como com os principais conceitos referentes a elas. O estudo autodidata, conquanto seja
necessário e muito importante, possui suas limitações.

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enciclopédia teológica: numa perspectiva transdisciplinar

igrejas e em nossos púlpitos, com muitos informados, mas com poucos conhe-
cedores...

3. MAIS CONHECIMENTO? PARA QUÊ?

É fato que muitos cristãos hoje estão indo para cursos de teologia, semi-
nários e faculdades teológicas. E isso além daqueles que mesmo não frequentan-
do um curso investem na aquisição de material teológico e estudam de maneira
individual. Mas, cumpre perguntar, para que toda essa busca? O que fazer com
o conhecimento adquirido? Para que serve esse conhecimento? A seguir, são apre-
sentadas propostas que buscam suporte bíblico para essas questões.

 Mais conhecimento para melhor servir;


 O conhecimento adquirido deve ser usado para expormos mais fielmente a
Palavra de Deus;
 O conhecimento adquirido deve fazer-nos mais humildes; quanto mais sabe-
mos, mais evidente vai ficando o quanto não sabíamos;
 O conhecimento deve ser posto em prática e deve produzir uma ação prática
no mundo; não deve ser só teórico, mas vivo, dinâmico e que redunde em ações
concretas no mundo em favor do outro.

CONCLUSÃO

A Igreja, sem dúvida, precisa de mais conhecimento das Escrituras e de uma


Teologia que a aproxime de Deus. Mas esse conhecimento não deve ser usado para
humilhar outros. Não deve ser usado como forma de ostentação. Duas coisas não
podem, de fato, ser ocultadas: humildade e conhecimento. Elas fluem naturalmen-
te como o rio que corre seu curso desimpedido. Todavia, que assim como o rio, o
nosso conhecimento seja usado para produzir vida e alimentar pessoas.

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Esboços

ESB O Ç O 15

TEMA DO SERMÃO: MARCAS DE UMA VOCAÇÃO


TEXTO BÍBLICO BASE: “Sem mais, que ninguém me perturbe, pois trago
em meu corpo as marcas de Jesus” (Gl 6.17).

INTRODUÇÃO

Com a crescente ênfase naquilo que é material e efêmero no contexto cristão,


temos visto arrefecer o real sentido da vocação. O que vem a ser a vocação ministerial?
Trata-se de algo belíssimo, um extraordinário presente que nos é dado pelo Senhor
para o exercício de determinadas atividades no seio da comunidade eclesial a qual
pertencemos e em meio à sociedade que produzirão frutos satisfatórios e duradouros.
A palavra “vocação” significa, basicamente, “chamada”. O termo aparece em
Efésios 4.1 na Almeida Corrigida Fiel e na Nova Versão Transformadora aparece
como “chamado”. Então perguntamos: Chamado para o quê? O Novo Testamento
nos mostra claramente que Deus vocaciona (chama) homens e mulheres e os capa-
cita com dons espirituais e dinamiza seus talentos naturais para servi-lo em propó-
sitos específicos, contribuindo assim com o seu Reino. Em Efésios 4.11 lemos que
“Ele designou alguns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas,
outros para pastores e mestres”.85 Desse modo, quando lemos a respeito deste tema
nas Escrituras e observamos a vida de determinados personagens bíblicos, encon-
tramos assim algumas marcas que nos permitem perceber uma vocação verdadeira.
Nos tópicos a seguir destaco algumas dessas marcas.

1. A MARCA DA SOLIDÃO

“Estar só” nem sempre é sinônimo de estar longe da companhia das pessoas.
Podemos nos sentir sós mesmo estando cercados por várias pessoas e até interagindo

85 Bíblia Sagrada: Nova Versão Transformadora. São Paulo: Mundo Cristão, 2016, Efésios 4.11.

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enciclopédia teológica: numa perspectiva transdisciplinar

com elas. A solidão pode bater à porta de nosso coração em circunstâncias variadas.
Ela pode vir quando estamos inseridos num grupo cujos recursos sociais são mais
elevados que os nossos, ou mesmo quando estamos inseridos num grupo que não
se interessa pelo nosso “projeto” de vida e de ministério. Esta última circunstância,
inclusive, pode nos acometer até mesmo na igreja local da qual fazemos parte.86
O ministro do evangelho por vezes se vê acometido pela solidão. Paulo se
sentiu assim no auge do seu ministério e já próximo do martírio, e justamente
no momento em que ele mais necessitava, se percebe abandonado e escreve as
seguintes palavras ao seu querido filho na fé, o jovem pastor Timóteo: “Por favor,
venha assim que puder. Demas me abandonou, pois ama as coisas desta vida e foi
para Tessalônica. Crescente foi embora para a Galácia, e Tito, para a Dalmácia.
Apenas Lucas está comigo. Traga Marcos com você, pois ele me será útil no mi-
nistério [...]. Na primeira vez que fui levado perante o juiz, ninguém me acom-

86 Permita-me o leitor ou leitora compartilhar com você algo que eu mesmo, como educador
cristão, vivi durante muitos anos na região onde residi. Desenvolvi muitos projetos voltados à
difusão do conhecimento bíblico-teológico nas igrejas por onde passei, promovendo eventos e
programas de ensino, e abrindo diversas turmas de Teologia a nível de cursos livres. Conquanto
tenha tido um número considerável de alunos e ouvintes, e proferido muitas palestras e estudos
bíblicos, pude perceber que de modo geral, tanto a liderança assembleiana como os crentes
assembleianos, manifestavam total desprezo por trabalhos dessa natureza. Mesmo sendo um
talento local, e destacando-me como escritor e professor de Bíblia e Teologia, nunca recebi qual-
quer incentivo significativo para produzir mais e custear meus estudos. Para ser honesto com o
leitor ou leitora, nunca recebi mesmo qualquer demonstração expressiva de apoio mesmo que
a nível de palavras, que partisse de um pastor ou líder que eu tenha tido na minha trajetória.
Lembro-me de ter lido, há muitos anos, um texto do teólogo pentecostal Antonio Gilberto (in
memoriam), em que ele comentava sobre a parábola das dracmas perdidas, e em seguida afirmava
que na Casa de Deus há muitos talentos perdidos. Me identifiquei imediatamente com suas pa-
lavras. E sei, por conversar com colegas que também são teólogos como eu, que esse desprezo se
reproduz em diversos outros lugares, pelo Brasil, infelizmente. Noutras palavras, esse sofrimento
não é exclusividade minha. Felizmente, e louvo muito ao Senhor por isto, pude encontrar em
meus alunos, ouvintes e leitores motivação para continuar. Foram muitos os pequenos depoi-
mentos e testemunhos que pude ouvir, ao longo de anos de ministério, de pessoas que foram
positivamente impactadas e motivadas através do meu ministério. O teólogo tem um papel
fundamental na vida da Igreja. E nós, que somos pentecostais, precisamos reconhecer o seu valor
e oportunizar mais espaço para o crescimento da Teologia em nosso contexto, uma Teologia que
seja cristocêntrica, bíblica, dialogal e de qualidade acadêmica.

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Esboços

panhou. Todos me abandonaram”.87 Todavia, mesmo enfrentando uma situação


difícil como essa, Paulo encontra em Deus refúgio e amparo: “Mas o Senhor per-
maneceu ao meu lado e me deu forças para que eu pudesse anunciar as boas-novas
plenamente, a fim de que todos os gentios as ouvissem. E ele me livrou da boca
do leão. Sim, o Senhor me livrará de todo ataque maligno e me levará em segu-
rança para seu reino celestial. A Deus seja a glória para todo o sempre! Amém”.88
A solidão, sem dúvida, muitas vezes se coloca como uma marca inevitável para
o ministro de Cristo, mas nunca uma solidão absoluta, porque Deus o ampara.

2. A MARCA DO COMPROMETIMENTO BÍBLICO


Outra marca profunda para uma vocação, para um ministério, é a do com-
prometimento bíblico. Noutras palavras, o obreiro e a obreira realmente voca-
cionados e vocacionadas por Deus são necessariamente comprometidos com a
Palavra de Deus. Todo ministério, seja ele qual for, precisa ser alimentado pela
Palavra, e precisa, ao seu modo, proclamar a Palavra. Quando Paulo está à sombra
do martírio, escreve, como lemos acima, ao seu filho na fé Timóteo, pedindo-lhe
que ele viesse ao seu encontro trazendo exemplares das Escrituras (cf.: 2 Tm 4.13).

CONCLUSÃO
O ministério pode, adequadamente, ser comparado a uma caminhada em
que, na medida em que vamos avançando, vamos colhendo frutos de nosso tra-
balho, mas também vamos pisando espinhos, sentindo o calor fustigante do sol
quente e sentindo o cansaço da jornada. E ao final deste esboço, é válido dizer
que conquanto o ministério possua suas marcas distintivas, ele também deixa em
nós marcas profundas. “Desde agora ninguém me inquiete; porque trago no meu
corpo as marcas do Senhor Jesus” (Gl 6.17).89

87 Bíblia Sagrada: Nova Versão Transformadora, 2016, 2 Timóteo 4.9-11,16.


88 Bíblia Sagrada: Nova Versão Transformadora, 2016, 2 Timóteo 4.16,17.
89 Almeida Corrigida Fiel, Gálatas 6.17. Disponível em: <https://www.bibliaonline.com.br/
acf/gl/6> Acesso em 09 jun. 2019.

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enciclopédia teológica: numa perspectiva transdisciplinar

E S BO Ç O 16

TEMA DO SERMÃO: COMUNHÃO COM DEUS


TEXTO BÍBLICO BASE: 1 REIS 19.2-4,9-13

INTRODUÇÃO

Um dos maiores desafios a ser enfrentado pela Igreja na atualidade é o do


“vazio de comunhão” com Deus. Nossa era, marcada por tantas ocupações, con-
gestionada por tantas fontes de informação, já não tem mais tempo para Deus.
Curiosamente, os crentes são marcados em grande medida por um notável ati-
vismo religioso. A agenda de uma igreja local é sempre muito concorrida. É fre-
quente que uma única pessoa exerça vários cargos e atividades numa determinada
congregação local.
É possível também que os crentes tenham um dia-a-dia bem agitado com
os assuntos da “Obra de Deus”. Paradoxalmente, contudo, podemos estar viven-
do distantes da comunhão com Deus. Atendemos a muitas pessoas, mas quase
não falamos com Deus. Nossos braços são hábeis para desenvolver as tarefas re-
lacionadas ao Reino, mas nossos joelhos já não se dobram mais. Investimos mui-
to tempo atendendo a convites, mas pouco absorvemos das Escrituras, porquê
pouco tempo destinamos à elas. O púlpito cristão hoje, dispõe de mais erudição
bíblico-teológica, mas é pobre de lágrimas. Necessário é, pois, resgatar a comu-
nhão com Deus.

1. É POSSÍVEL AMARGAR UMA GRANDE FRUSTRAÇÃO


LOGO APÓS UMA GRANDE VITÓRIA

Um capítulo antes (1 Re 18) lemos a respeito de dois grandes e extraor-


dinários milagres: o fim da seca e o fogo do céu consumindo o holocausto
e outros elementos diante de Elias e dos profetas falsos de Asera e de Baal.

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Esboços

Agora, no capítulo 19, Elias está fugindo, com medo, frustrado, ressentido e
amargurado.
Muitas vezes, em nossa caminhada, somos surpreendidos por uma má no-
tícia logo após uma grande vitória que acabamos de obter. Circunstâncias adver-
sas da vida que nos sobrevêem de maneira furtiva, totalmente inesperada, criando
uma condição que simplesmente está para além da nossa administração.
Com efeito, no caminho para o Céu, podemos num dia estar segurando
nosso Isaque e dizendo: “Meu sorriso chegou!” Logo em seguida, ouvimos a voz
do Eterno: “Ofereça-me seu sorriso em holocausto na Terra de Moriá”. Na cami-
nhada para o Céu podemos passar anos peregrinando na expectativa da “Terra
da Promessa”, e mesmo assim, no fim, ouvirmos do Senhor: “Você apenas a verá
com seus olhos – não entrará”. Em nossa peregrinação, podemos até desenhar a
planta e fazer planos para a construção, mas ouvimos do Altíssimo que quem fará
não será eu, mas meu sucessor. Tão logo saímos das águas do batismo, tão logo
ouvimos a voz do Pai dizendo “este é meu filho amado”, o Espírito Santo nos
conduz ao deserto para sermos tentados pelo Diabo. A vida com Deus está sujeita
a esses “altos” e “baixos”. Deus não nos garante uma caminhada isenta de aflições
(Jo 16.33), todavia, nos assegura sua companhia fiel e doce.

2. O SENHOR VEM AO ENCONTRO DE ELIAS,


ENQUANTO ELE FUGIA

Elias fugiu para o extremo sul de Israel, para a cidade de Berseba, 80


km ao sul de Jerusalém. Isso denota o quanto ele desejava se afastar de Jeza-
bel, que procurava tirar-lhe a vida. Todavia, na sua fuga, o Senhor vem ao seu
encontro.
Por vezes, em nossa caminhada, simplesmente fugimos. Fugimos do côn-
juge, dos filhos, do trabalho, dos amigos, das consequências de nossos erros, da
abnegação e da renúncia ao pecado, dentre outras “fugas” que empreendemos.
Mesmo assim, o Senhor, em sua grande misericórdia, vem ao nosso encontro.

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enciclopédia teológica: numa perspectiva transdisciplinar

CONCLUSÃO

A Igreja precisa “retirar-se” e ficar mais tempo a sós com Deus. A comunhão com
o Eterno não é uma opção. É uma necessidade premente, inadiável e intransfe-
rível para o crente. Aliás, ela é motivo de deleite e gozo para sua alma. Como ser
cristão em verdade, no íntimo, sem comunhão com Deus. Se o fator “comunhão”
for perdido, poderemos ser tudo: ativistas religiosos, atuantes, nominais, etc., me-
nos cristãos!

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Esboços

ESB O Ç O 17

TEMA DA PALESTRA: TEOLOGIAS AMEAÇADORAS À IGREJA


TEXTO BÍBLICO BASE: “Para que, no caso de eu tardar, saibas como se deve
proceder na casa de Deus, a qual é a igreja do Deus vivo, coluna e esteio da
verdade” (1 Timóteo 3.15)

INTRODUÇÃO

Nosso tempo presencia temas tradicionais da fé cristã histórica perderem


lugar ao púlpito cristão, como a doutrina da parusia de Cristo, e darem lugar às
assim chamadas “novas teologias” e modismos teológicos. Isso vem ocorrendo,
inclusive, em eventos tradicionais promovidos por igrejas historicamente evangé-
licas, como a Assembleia de Deus.
O impacto negativo disso sobre os cristãos é, sem dúvida, muito grande,
levando-os para distante do evangelho de Cristo e para a construção de uma
vida cristã pautada por uma espiritualidade superficial, utilitária e marcada pelo
materialismo. A proposta deste esboço é apresentar aquelas que considero as mais
destacadas e propagadas teologias ameaçadoras à Igreja e a resposta que podemos
dar a elas à luz do evangelho de Cristo Jesus.

1. “TEOLOGIA DO PRAGMATISMO”

Essa teologia pode ser resumida na seguinte sentença: “Não é bíblico, mas
funciona, então vamos usar”. O pragmatismo rompe com paradigmas cristãos
fundamentais objetivando implementar práticas estranhas ao evangelho, estra-
nhas à própria identidade da Igreja, mas que geram “resultados”.
O grande problema do pragmatismo religioso (e teológico) reside no fato
de que ele absorve conceitos que se chocam frontalmente contra a verdade sim-
ples do evangelho. Algumas vezes ele também deturpa esses valores do evangelho

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para a vida cristã atribuindo a eles um significado estranho em relação ao que a


Bíblia de fato ensina. Assim, uma igreja repleta de frequentadores é confundida
com uma igreja sadia, o ato de pagar para participar de programações que deve-
riam ser gratuitas é encarado como “contribuição voluntária” (mas se não pagar,
não entra!), e “show”, espetáculo e autopromoção humana são confundidos com
“culto”. Esses elementos, todavia, deveriam ser claramente separados e eles só são
“fundidos” no pragmatismo religioso porque falta conhecimento bíblico e teo-
lógico equilibrados. Mas não nos enganemos, o evangelho é único e precisamos
conhecê-lo. Ele não admite a existência de outro evangelho (Gl 1.6).90

2. TEOLOGIA DA PROSPERIDADE

Seu mecanismo consiste em trocar ou barganhar com Deus (como se isso


fosse possível). Que sempre houve pessoas que se aproximam de Jesus visando
as benesses que Ele pode propiciar, não é novidade. Basta ler o capítulo seis do
evangelho segundo João. No versículo 26 Jesus diz à multidão: “Eu lhes digo a
verdade: vocês querem estar comigo não porque entenderam os sinais, mas por-
que lhes dei alimento”.91 E neste mesmo capítulo Jesus profere um duro sermão
que o leva a ser abandonado por muitos discípulos.
Com efeito, a verdade do evangelho por vezes nos confronta, o que natu-
ralmente gera em nós incômodo. Mas o seguimento de Cristo implica renúncia
do eu e por vezes, até mesmo de nossos interesses: “Quanto a mim, que eu jamais
me glorie em qualquer coisa, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo.
Por causa dessa cruz meu interesse nesse mundo foi crucificado, e o interesse do
mundo em mim também morreu”.92 Ser discípulo significa servir, amar, trabalhar
para o Senhor e para o próximo, e não se aproximar de Deus objetivando bens,
conquistas financeiras e outras benesses pessoais.

90 A Nova Versão Transformadora (2016) traduz de maneira interessante: “um caminho dife-
rente”.
91 Nova Versão Transformadora, 2016, João 6.26.
92 Nova Versão Transformadora, 2016, Gálatas 6.14.

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Esboços

A Teologia da Prosperidade se coloca como uma grande ameaça à Igreja na


medida em que enaltece o ego humano e leva as pessoas a procederem religiosa-
mente (e existencialmente) pelo viés econômico. Uma tragédia para a vida cristã!
Nessa hora, é preciso resgatar o sentido do discipulado cristão, que consiste em
amar a Cristo, em segui-lo.
O teólogo presbiteriano Augustus Nicodemus, comentando o capítulo seis
de João, afirma que “Jesus poderia ter satisfeito as necessidades da multidão e
saciado o desejo que aquela gente tinha por mais milagres, sinais e pão. Ele te-
ria sido feito rei e contaria com o apoio irrestrito do povo”. Nicodemus prosse-
gue afirmando que o Senhor, contudo, “[...] preferiu conduzir um punhado de
pessoas que o seguiam pelos motivos certos a ser acompanhado por uma vasta
multidão que o fazia por motivos errados. Preferiu discípulos a consumidores”.93
Pensemos nisto.

3. TEOLOGIA DO DETERMINISMO EVANGÉLICO

O determinismo evangélico é identificado numa frase que assume uma


conotação um tanto mística e que também é muito popular nas igrejas evangé-
licas: “Eu determino”. Denota uma atribuição ao homem de algo que a própria
Bíblia não atribui a ele. A teologia do determinismo evangélico mantêm estreita
relação com a Teologia da Prosperidade, sendo chamada na verdade de Confissão
Positiva.
Neste esboço adotei a expressão “determinismo evangélico” porque na prá-
tica é assim que a Confissão Positiva opera. Ela não aceita o fato de que o crente,
como qualquer outra pessoa, pode adoecer e ser pobre e mesmo que seus propo-
nentes (que gozam de amplo espaço na mídia) não afirmem isto muitas vezes e
de modo sempre explícito, é inegável que esses fatos da vida são tratados por eles
como resultado de maldição, pecado não confessado ou falta de fé. Mas Jesus nos
ensina que a chuva cai sobre justos e injustos (Mt 5.45). Todos estamos sujeitos

93 LOPES, Augustus Nicodemus. Polêmicas na igreja: doutrinas, práticas e movimentos que


enfraquecem o cristianismo. São Paulo: Mundo Cristão, 2015, p. 91.

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às doenças e fatalidades da vida. E a História, antiga e recente, depõe em favor do


fato de que homens e mulheres de Deus de grande devoção estão sujeitos a morrer
em decorrência de doenças graves e fatalidades.94

4. “TEOLOGIA DO TRIUNFALISMO RELIGIOSO”

Defende que o crente sempre terá vitória, e que ele deve viver de vitória em
vitória. Pregadores propagadores desse triunfalismo religioso constantemente re-
petem em suas pregações frases como “Você é campeão!”, “Deus vai te exaltar!”, e
sempre usam palavras como “Vencedor”, “Campeão”, dentre outras que apontam
o homem sempre como o centro da pregação; o alvo desse tipo de pregação evan-
gélica passa ser o indivíduo, e não o Cristo ressurreto. Ela fala mais do homem em
seus interesses contemporâneos do que do Cristo que leva à vida eterna. Ela fala
do homem ao homem, enquanto a pregação de fato cristocêntrica fala de Cristo
ao homem e testemunha de Sua obra ao coração humano.
O grande problema dessa teologia é que ela influencia os crentes a viverem
uma utopia, utopia que passa longe do que propõe o evangelho de nosso Se-
nhor Jesus que nos chama à realidade da existência. Essa teologia, na medida em
que promete um tipo de vida surreal, que deve ser marcada por conquistas, pelo
“topo”, pela multiplicação de êxitos pessoais, tem levado muitos cristãos a encara-
rem a vida cristã como uma vida de possibilidades pessoais que, na verdade, não
se concretizarão. O evangelho, pelo contrário, nos chama à realidade, à realidade

94 Escrevendo aqui, lembro-me do registro histórico marcante a respeito de Donald Stamps,


autor das notas e estudos da Bíblia de Estudo Pentecostal (2005), uma das Bíblias de Es-
tudo mais vendidas no mundo e traduzida para diversos idiomas, feito pelo historiador do
Movimento Pentecostal, Isael de Araújo: “Stamps gastou os últimos 11 meses de sua vida
enfermo com câncer, utilizando um aparelho, que injetava comida líquida por uma sonda, e
um grande saco plástico numa cesta de lixo do outro lado de sua mesa, no qual cuspia a bílis
que continuamente subia de seus sistema digestivo conceroso, sentado à sua escrivaninha, até
completar as anotações da Bíblia de Estudo Pentecostal” (ARAÚJO, Isael de. Dicionário
do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007, p. 832). Este, é claro, é um dentre
tantos outros exemplos possíveis de pessoas piedosas que sofreram com doenças e outros tipos
de adversidades da vida.

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Esboços

sobre nós mesmos, sobre nossas carências, sobre o mundo onde vivemos e sobre
Deus. O evangelho ilumina nosso entendimento e nos conclama ao amadureci-
mento racional e a que a nossa fé seja corroborada em Cristo (Rm 12.1,2; Ef 3.16;
Cl 1.11; 1 Pe 2.1,2).
Essa “teologia do triunfalismo religioso” leva as pessoas a crerem que por-
que receberam Jesus em suas vidas obterão vitória em tudo e em todos os em-
preendimentos que vierem a fazer. Ouvimos com frequência pentecostais se sau-
darem perguntando em tom quase inquisitório: “Só vitória irmão?” Os fracassos
da vida são sempre vistos com ojeriza e falhas de ordem moral são maximizadas
e muitas vezes usadas para julgamentos, construção de caricaturas, produção de
feridas, para a perpetuação da intolerância entre irmãos em Cristo e para a prática
da exclusão do outro baseada em julgamentos de ordem moral. Na verdade, pura
utopia-hipócrito-religiosa, visto que todos sem exceção estão sujeitos aos fracas-
sos, a erros e a percas. Matthew Henry teria tido que o “melhor dos santos pode
ser tentado pelo pior dos pecados”.
A solução para a superação dessa teologia ameaçadora à vida da Igreja é
voltar à simplicidade do evangelho, ao esforço puro e sincero para viver a vida
santa, que nos leva a evitar o mal, mas permanecermos reconhecendo que pode-
mos falhar porque continuamos sendo pecadores, mesmo depois da experiência
da regeneração. Perceber essa realidade existencial-espiritual nos coloca onde pre-
cisamos estar: Na prática do perdão e da tolerância, amando o próximo e esten-
dendo-lhe a mão.

CONCLUSÃO

O combate a esses falsos ensinos (não o ataque contra pessoas) consiste


em que aprofundemos nosso amor à Palavra de Deus e em que a conheçamos, o
que naturalmente refletirá em nossa vida cristã, em nossa práxis, em nosso serviço
eclesial. Amando a Palavra de Deus, certamente nossa vida conduzirá à glória de
Deus e à edificação do próximo.

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Essas teologias ameaçadoras são sustentadas em grande medida pela men-


talidade de consumismo religioso que invadiu a igreja evangélica brasileira, como
bem explica Nicodemus: “Essa mentalidade tem definido, em grande medida,
a programação das igrejas, a forma e o conteúdo das pregações, a escolha dos
cânticos, o tipo de liturgia e as estratégias para crescimento das comunidades
locais”. O mesmo autor prossegue afirmando que “tudo é feito com o objetivo de
satisfazer os apelos emocionais, físicos e materiais dos frequentadores do templo.
E, nesse afã, prevalece o fim sobre os meios. Métodos se justificam na medida em
que se prestam a atrair novos clientes e torna-los mais felizes, satisfeitos e dispos-
tos a continuar ocupando os bancos da igreja”.95 A superação dessa mentalidade
é fundamental para construirmos uma igreja marcada pela alteridade, pelo amor
ao próximo, pela construção contínua de uma comunidade – a ekklesia – em que
possamos juntos seguir a Cristo, no verdadeiro discipulado.

95 LOPES, 2015, p. 92.

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Esboços

ESB O Ç O 18

TEMA DA PALESTRA: ÉTICA CRISTÃ E PENTECOSTALISMO


TEXTO BÍBLICO: 1 CORÍNTIOS 12.4-12

INTRODUÇÃO

No Brasil, há muitos movimentos estranhos às Escrituras que são colo-


cados sob a alcunha de “Pentecostais”, o que contribui de modo direto para a
depreciação de um movimento genuinamento bíblico, construindo-se assim
caricaturas do Movimento Pentecostal. E um fato curioso sobre alguns desses
movimentos estranhos é que eles ferem princípios éticos que são valorizados
justamente pelo Pentecostalismo, como por exemplo, a ética no culto a Deus.
Neste esboço, consideraremos a ética cristã face a outros conceitos importantes,
objetivando produzir uma base segura para uma reflexão que seja atual e sobre-
tudo, bíblica.

1. ÉTICA CRISTÃ

Nosso tempo é marcado por uma multiplicidade muito grande de ideias,


opiniões, “valores”. Há uma presença muito forte do pluralismo e do relativismo
na cosmovisão secular. A Ética Cristã pode até ser encarada como uma dentre
tantas alternativas éticas, mas para nós, cristãos, que recebemos a Bíblia como
guia de fé e de prática, a Ética Cristã certamente está para muito além de ser sim-
plesmente “uma alternativa”.
A Bíblia, como Palavra de Deus, está acima de qualquer parâmetro e por
mais que admitamos a necessidade de olhar para outras culturas, com seus pa-
drões comportamentais, para poder dialogar e evangelizar, isso não nos leva a
concluir, contudo, que a ética bíblica deva desconfigurar-se com vistas a adap-
tar-se aos diversos contextos. Nesse sentido, reconhecemos que o evangelho é

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supracultural e exige conformação a si mesmo. O salmista declara: “A tua palavra


é muito pura; por isso o teu servo a ama” (Sl 119.40, ARC).

1.1 Conceituação
A palavra “ética” deriva do grego ethos, que significa “disposição”, “costume”,
“hábito”. Nicola Abbgnano (2007) define ética como “ciência da conduta”.96 Clau-
dionor Corrêa de Andrade (2010) apresenta a seguinte definição de Ética Cristã:

Conjunto de princípios baseados nas Sagradas Escrituras, princi-


palmente nos ensinos de Cristo e de seus apóstolos, cujo objetivo é
orientar a conduta do cristão enquanto membro de uma sociedade
politicamente organizada.

A ética cristã orienta e normatiza a conduta da Igreja, sublimando-


-a como a comunidade de ética por excelência, cujos princípios a
ressaltam como povo de Deus.97

Com efeito, o enfoque nessa breve abordagem recai majoritariamente no


aspecto prático da ética cristã, vendo-a como práxis cristã, que toca situações, vi-
vências, posturas, ações, reações no cotidiano e mais especificamente na realidade
eclesial no contexto pentecostal.
A Ética Cristã tem suas especificidades, e a principal delas é que ela está
alicerçada nas Escrituras. Falamos assim de uma ética bíblica. Por mais que a
Pós-modernidade apresente o grande desafio da indefinição em torno de marcos
referenciais antigos, na Bíblia encontramos a presença de absolutos. Compete a
nós conhecê-la e internalizá-la em nossa conduta e vida. Isso permite, inclusive, a
produção de uma teologia do caminho e não da sacada.

96 ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. Trad.: Alfredo Bossi. 5ª ed. São Paulo:
Martins Fontes, 2007, p. 380.
97 ANDRADE, Claudionor Corrêa de. Dicionário Teológico: edição revista e ampliada e um
suplemento biográfico dos grandes teólogos e pensadores. Rio de Janeiro: CPAD, 2010,
p. 173.

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1.2 Sua finalidade prática


A ética é tão prática que isso é percebido até em expressões populares,
como aquela que proferimos quando vemos alguém assumir uma conduta repro-
vável: “Que falta de ética!”. Até para delimitar a ética em parâmetros conceituais,
os hábitos são considerados e incidem sobre essa delimitação.
A Ética Cristã é assunto da mais alta importância para nossas igrejas, líderes
e obreiros. Corretamente entendida e aplicada, ela melhora a convivência, facilita
as relações e aproxima as pessoas. Pode e deve ser vista como aliada do ministério
cristão em seu serviço para com a igreja local e para com a sociedade. Toca áreas
vitais de nossa realidade enquanto Igreja, como a pregação, o ensino, a liderança,
a família, o ministério, dentre outros. Todas essas instâncias de uma igreja local
precisam ser orientadas por uma ética bíblica, cristã, coerente. Um ponto muito
importante a ser lembrado é que condutas éticas voltam para nós, seja positiva,
seja negativamente. Nesse sentido, podemos pensar a ética como multiplicadora.

1.3 Desafios da ética pós-moderna: liquefação, pluralismo, relativismo, orientalização do


Ocidente, dentre outros
Nosso tempo é marcado pela fragilização de estruturas antes sólidas e du-
radouras e também das relações humanas. Vivemos a “era líquida” (nas palavras
do sociólogo polonês Zygmunt Bauman) onde tudo se “derrete”. O pluralismo e
o relativismo dificultam não apenas a vivência dos absolutos morais da Palavra de
Deus, mas até a sua comunicação pelo ensino e pela pregação. O Ocidente vem
sistematicamente absorvendo elementos da religiosidade Oriental. Presenciamos
uma “orientalização do Ocidente”. Como nunca antes ouvimos falar de yoga,
mantra, meditação, entre outros elementos oriundos das religiões orientais. Isso
é uma marca da pós-modernidade, onde o paradigma não é mais a religião judai-
co-cristã. De fato, esse tempo está carregado de grandes desafios para a Igreja. A
Bíblia enfatiza que a Igreja é “a coluna e firmeza da verdade” (1 Tm 3.15, ARC).
O corpo de Cristo continua sendo o referencial para um mundo que se mostra
sempre instável (agora mais do que nunca), cultivando valores eternos, imutáveis,
inegociáveis!

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2. PENTECOSTALISMO

O Movimento Pentecostal completou 100 anos em 200698 e hoje tem


diante de si a necessidade de resgatar suas origens e cosmovisão, que se perdem
na medida em que o neopentecostalismo avança. Por mais que se reconheça que
um movimento sofre alterações e revisões com o passar dos anos, é necessário,
contudo, que seus aspectos distintivos sejam mantidos de modo que não ocorra
uma total descaracterização. E no caso do Movimento Pentecostal, ele tem esses
marcos, como veremos adiante.

2.1 Breve história do Movimento Pentecostal


É claro que houve antecedentes históricos para o grande avivamento
de Azuza Street, em 1906, sob a liderança de Willian J. Seymour, como o
Movimento da Santidade (Holiness Movement), iniciado já em 1860.99 Mas to-
mamos aqui como ponto de referência em nosso estudo, o avivamento em Los
Angeles, em 1906, que foi sem dúvida um divisor de águas e a partir de quando
o Movimento Pentecostal foi fortemente marcado por algumas ênfases, a saber:

 Na Pessoa e Obra do Espírito Santo na Igreja e por meio da Igreja, na História;


 Na obra missionária orientada por um vívido senso escatológico;
 Na necessidade de uma intensa santificação;
 Na própria pneumatologia (doutrina do Espírito Santo) enquanto parte inte-
grante da Teologia, já que essa doutrina vinha sofrendo, como indicam alguns
teólogos, certa negligência por parte dos teólogos sistemáticos.100

98 Toma-se como referência aqui os eventos de Azusa Street, em 1906, que se tornou um marco
para o Pentecostalismo mundial, embora se saiba que o Movimento Pentecostal lança suas
raízes históricas bem antes desses eventos.
99 Para mais informações sobre o Holiness Movement, cf.: ARAÚJO, 2007, p. 587 ss.
100 Grudem comenta que não era comum haver um capítulo, nas Teologias Sistemáticas, que
versasse sobre a Pessoa e a Obra do Espírito Santo. Cf.: GRUDEM, Wayne A. Teologia
Sistemática. Trad.: Norio Yamakami. Lucy Yamakami. Luiz A. T. Sayão. Eduardo Pereira e
Ferreira. São Paulo: Vida Nova, 1999.

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Esboços

Dado o ímpeto e a repercussão dos eventos em Azuza Street e o impacto


missionário sobre o mundo, a partir de 1906, é inegável que essa data se tornou
um referencial. Os missionários Daniel Berg (1884-1963) e Gunnar Vingrem
(1879-1933) vieram de lá trazendo a mensagem do batismo com o Espírito Santo
para o Brasil, surgindo daí a nossa querida Assembleia de Deus.
Uma curiosidade muito interessante é que dentre os antecedentes históri-
cos do Movimento Pentecostal, um fato marcante é que ele lança suas raízes numa
escola de ensino bíblico na cidade de Topeka, Kansas (EUA), onde um professor
chamado Charles Fox Parham (1873-1929) desafiou seus alunos na questão da
atualidade do batismo com o Espírito Santo. Ele os estimulou a buscarem e ao
que fazendo, eles foram assim batizados. Entre esses alunos estava Willian Joseph
Seymour (1870-1922), um jovem negro filho de escravos, que se tornou figura
central no avivamento de Azuza Street.101
Esse é um evento histórico relacionado ao Pentecostalismo que geral-
mente não se menciona. Está fortemente sedimentado na mentalidade do nosso
povo que ensino e poder pentecostal são coisas totalmente antagônicas, quan-
do historicamente percebemos que o Movimento Pentecostal inicia a partir
de um ambiente de ensino bíblico. Com efeito, ao lançarmos um olhar sobre
os grandes avivamentos, na história bíblica (Antigo e Novo Testamentos) e na
história da Igreja em seus dois mil anos de existência, todos tiveram como base
as Escrituras. Nos dias de Josias, houve a redescoberta do “Livro esquecido”;
com Esdras e Neemias, eles liam e faziam com que os ouvintes entendessem
o que se estava lendo; no dia de Pentecostes, Pedro lança mão de um texto
bíblico para embasar seu sermão, e nos dias de Lutero e de Wesley, não houve
a invenção de novas doutrinas, mas o retorno a verdades bíblicas doutrinárias
então esquecidas (Justificação pela fé em Lutero e da Santidade em Wesley).
Com o avivamento pentecostal não foi diferente. Ele contribuiu para ocorresse
um retorno à doutrina do Espírito Santo e isso trouxe resultados indeléveis para
a Igreja no mundo todo.

101 cf. ARAÚJO, 2007, p. 779 ss.

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2.2 Um Movimento com Teologia?


O Movimento Pentecostal já foi acusado de ser um movimento sem uma
teologia própria. Numa obra recente, publicada inclusive pela Casa Publicadora
das Assembleias de Deus (CPAD), dois autores defendem justamente a ideia de
que o Movimento Pentecostal carece ainda de uma elaboração teológica mais
ampla.102 Gary B. McGee (1996), contudo, comenta:

Alguém comentou, certa vez, que o Pentecostalismo é um movi-


mento à procura de uma teologia, como se não estivesse ele radi-
cado à interpretação bíblica e à doutrina cristã. As pesquisas sobre
o desenvolvimento histórico e teológico das crenças pentecostais
tem revelado, contudo, uma tradição teológica bem elaborada. O
Pentecostalismo, conquanto possua muita coisa em comum com as
outras denominações evangélicas, apresenta um vívido testemunho
da obra do Espírito Santo na vida e na missão da Igreja.103

Apesar dessa acusação, o fato é que já no seu nascedouro o Pentecostalismo


teve sim preocupação com a formulação de um pensamento teológico. Antonio
Gilberto (2008) lança um olhar sobre a questão da produção bibliográfica em
nosso contexto brasileiro:

Temos, sim, entre nós, bons tratados de Teologia Sistemática de


outros autores nossos, mas boa parte dessas obras de dimensão re-
duzida, por motivos evidentes, justificadas. Os mestres de nossos
educandários teológicos tem produzido farto material sobre este
campo, que é o principal em Teologia Sistemática – a rainha de
todas as matérias bíblicas. Temos também excelentes obras con-
cernentes ao assunto em apreço, de autores estrangeiros, em nosso

102 OLIVEIRA, David Mesquiati de. TERRA, Kenner R. C. Experiência e hermenêutica pen-
tecostal: reflexões e propostas para a construção de uma identidade teológica. Rio de
Janeiro: CPAD, 2018.
103 HORTON, 1996, p. 11.

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idioma. Não vai aqui qualquer desdouro sobre essas obras e seus
autores; ao contrário, louvamos a Deus, agradecidos por tudo isso;
seu esforço, visão, determinação e trabalho.104

Certamente haverá ainda em nosso país um progresso nessa questão, haja


vista o crescente interesse por uma teologia de qualidade em nosso meio, mes-
mo que sejamos desafiados por tantas distorções da Bíblia. Com efeito, temos
presenciado um avanço significativo entre nós, pentecostais, no que diz respeito
à produção bibliográfica, inclusive no que diz respeito à produção de obras de
caráter acadêmico.

2.3 Panorama atual 


Se percebe que há um crescente interesse pelo aprendizado e pelo conhe-
cimento no contexto do Pentecostalismo. Isso pode ser notado, inclusive, no au-
mento do número de venda de livros e no ingresso de pentecostais no universo
acadêmico teológico. Há um crescimento considerável na quantidade de líderes
pentecostais que estão sendo admitidos em programas de mestrado e de douto-
rado nas mais diversas áreas. O autor destas linhas, por exemplo, no programa
de mestrado em que está inscrito, observou a presença significativa de pastores
assembleianos numa turma de um pouco mais de 30 alunos. Mesmo cursando
numa instituição ligada à Igreja Batista, a presença de pentecostais no curso é
significativa.105

3. DIÁLOGO

Nossa abordagem, daqui por diante, tenciona pensar e aplicar a ética em


seu aspecto bem prático no ambiente pentecostal. Essa praticidade da ética não
é de forma alguma incoerente, tendo em vista que essa disciplina lida diretamente

104 GILBERTO, 2008, p. 13.


105 Quando escrevi este esboço, ainda estava cursando o mestrado em Teologia, que concluí em
março de 2018.

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com o comportamento humano nos seus mais variados aspectos e ambientes.


Assim, podemos assumir um procedimento ético em nossas liturgias, conduta,
liderança, na família, etc.

3.1 Ética como fator preponderante para um culto genuinamente pentecostal


Há uma grande necessidade de se pensar na ética aplicada ao contexto de
nossos cultos. Se alguém tende a pensar que desordem e balbúrdia criam um am-
biente favorável à atuação do Espírito de Deus no culto pentecostal, certamente
absorveu essa impressão de uma leitura totalmente equivocada dos textos bíblicos
ou de uma mentalidade que infelizmente foi construída em muitas igrejas pen-
tecostais.
À luz das Escrituras, o culto a Deus sempre foi marcado pela ordem.
Isso é visto em livros como o de Levítico, no Antigo Testamento, e em epístolas
paulinas, no Novo Testamento, como a de 1 Coríntios. Tal pensamento – de que
desordem é característica do culto pentecostal – tem sido fonte geradora de dis-
cursos e práticas bizarras e antibíblicas em nosso meio. Paulo escreve: “Que fareis,
pois, irmãos? Quando vos ajuntais, cada um de vós tem salmo, tem doutrina,
tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para edificação” (1
Co 14.26). Consideremos algumas dessas práticas que vêm descaracterizando o
genuíno culto pentecostal, prestado a Deus:106

3.1.1 Emocionalismo

Há uma confusão enorme no que tange a esse assunto. Muitos pentecostais


tendem a pensar que o Espírito Santo só opera onde há lágrimas, rugidos, arre-
pios, etc. É inegável que a emoção é fator preponderante para a vida do cristão
em diversos aspectos, mas deve haver equilíbrio aqui. Nem toda manifestação
emocional é pautada pela razão, bom senso e coerência, como temos visto tantas
vezes em nossos cultos. Nessa esteira, o culto e a pregação passam a ser avaliados

106 É fundamental que sejamos capazes de identificar os problemas que desafiam o Movimento
Pentecostal, mas não produzir uma crítica que não ofereça saídas. Identificar é preciso, mas
com vistas a mudar procedimentos, rever conceitos, repensar nossa eclesiologia pentecostal.

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Esboços

quanto à sua qualidade considerando critérios como tom de voz, expressão corpo-
ral, chavões que causam impacto nos ouvintes, dentre outras questões que apelam
diretamente à emoção. Isso tem gerado uma multidão de crentes pentecostais
irreflexivos, acríticos, passivos de serem enganados por falsos ensinos, modismo
teológicos, dentre outros engodos. Sem dúvida alguma que nem sempre sentire-
mos arrepios, nem sempre choraremos, nem sempre “sentiremos algo” em nossos
cultos. Isso, contudo, não é, necessariamente, sinônimo de sequidão espiritual.
Nem sempre! Nossa estrutura emocional sofre altos e baixos, passa por nuances
e isso é característico da estrutura psicológica e espiritual do homem. Avaliar a
espiritualidade de uma pessoa por esses critérios pode nos conduzir a construir
caricaturas e “espantalhos” de irmãos na fé. Pensemos nisso.

3.1.2 Esvaziamento do púlpito cristão pentecostal

Um fato preocupante no contexto pentecostal é o esvaziamento do púlpito


pentecostal no que tange à Palavra de Deus. É curioso observar que em muitas
igrejas pentecostais gasta-se um tempo notável com louvores, música profissional
(o que é uma lástima para a Igreja!), avisos excessivamente demorados e repetiti-
vos, ladainhas, falas informais e que nada tem que ver com o culto a Deus, dentre
outras questões que sufocam o tempo para a Palavra de Deus.
O púlpito cristão não existe, em hipótese alguma, para informalidades, crí-
ticas a outras denominações, indiretas, comentários constrangedores, desabafos,
etc. O púlpito existe em função e a serviço da pregação e do ensino bíblico – nada
mais! Agora, mais do que nunca, precisamos nos perguntar sobre a qualidade de
nossos cultos pentecostais, que dispensam maior tempo para diversas atividades
e extinguem o espaço da Palavra. Talvez por isso mesmo nossas igrejas sejam tão
abertas a heresias e modismos infundados, como temos visto, infelizmente.

3.2 Pentecostalismo confundido com Neopentecostalismo


Infelizmente, o Pentecostalismo no Brasil vem se neopentecostalizando.
Esse é um processo bem adiantado, mas ainda em andamento. Compete lançar
um olhar sobre os aspectos distintivos do Movimento Pentecostal: o que ele prega

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desde seu nascimento, sua postura em relação a doutrinas bíblicas fundamentais,


sua liturgia, dentre outras questões fundamentais.
O movimento neopentecostal se distingue substancialmente do Movimen-
to Pentecostal, em questões teológicas muito claras. Mas devido a esse fenômeno
que foi aqui mencionado, essas distinções acabam sendo simplesmente ignora-
das – ou são mesmo desconhecidas por muitos – que acabam juntando tudo e
colocando debaixo da mesma nomenclatura. Consideremos a seguir os principais
pontos que distinguem os dois movimentos.

3.2.1 A Teologia da Prosperidade107

A Teologia da Prosperidade tem sido um dos pilares teológicos das maiores


denominações neopentecostais. E isso é assumido abertamente por muitos de
seus líderes. Há uma ênfase sempre recorrente no fator monetário e na ideia de
que prosperar financeiramente é decorrente da vida cristã.

3.2.2 A Confissão Positiva

A Confissão Positiva é conhecida pelo seu determinismo religioso, que


acaba por enxergar Deus mais como servo do que como Senhor sobre nossas vi-
das. Contribui para formar uma mentalidade utilitarista em relação à vida cristã e
fomenta uma religiosidade marcada pela expectativa do bem a todo custo. Acaba
por gerar cristãos frustrados que, ao se depararem com a realidade da vida em
suas vicissitudes, percebem que esse sistema simplesmente não funciona e que o
simples ato de dizer “Eu determino a vitória” não resolve determinados dilemas
de nossas vidas.

3.2.3 O misticismo religioso

O misticismo religioso gerado e propagado no ambiente neopentecostal é cho-


cante. Existe uma clara mescla de elementos importados de outras religiões distintas
do Cristianismo bíblico histórico e uma introdução de elementos litúrgicos to-
talmente estranhos ao culto pentecostal. Há uma insistência em se “materializar a

107 Confira o tópico dois do esboço 17.

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Esboços

fé” e criar pontos de contato (alguns até bizarros) para a fé do necessitado.108 Isso tem
produzido uma espécie de Cristianismo mesclado, híbrido... estranho.

3.2.4 Ausência de um ensino bíblico-teológico sistematizado

Isso é claramente perceptível nas igrejas neopentecostais. O discurso é sem-


pre o mesmo, insistentemente marcado pelo viés da teologia da prosperidade e
da confissão positiva, não se percebendo nele uma abordagem que seja teológica
e bíblicamente organizada, sistematizada e profunda. É claro que há cursos de
teologia, programas de ensino bíblico em igrejas neopentecostais, mas o que se
aborda aqui é a ênfase característica, que as delineiam.

3.3 Práticas reprováveis e resposta bíblica


Diante dessas práticas que acabamos de citar, cumpre a nós responder com
a verdade bíblica, simples, pura, profunda e edificante. O culto pentecostal
deve ser assim marcado pela ordem, decência e equilíbrio. O culto a Deus deve
ser racional e nosso entendimento deve ser renovado (Rm 12.1,2).
Elementos do culto como oração e profecia devem ser realizados com en-
tendimento: “Que farei, pois? Orarei com o espírito, mas também orarei com o
entendimento; cantarei com o espírito, mas também cantarei com o entendimen-
to” (1 Co 14.15). Não deve haver absolutamente nada no culto pentecostal que
indique aos descrentes que os crentes estão loucos enquanto cultuam.
A exposição bíblica deve ter seu lugar e os crentes devem ser ensinados
de maneira organizada, sistematizada e séria. É preciso pensar a qualidade dos
eventos que estamos realizando sob o título de “pentecostal”. Nossas convic-
ções pentecostais como o batismo com o Espírito Santo, a atualidade dos dons
espirituais, a convicção na cura divina, dentre outras, devem ser dirigidas pela
Palavra de Deus e corretamente entendidas à luz dela. Não podemos manipular
a nosso bel prazer essas manifestações do Espírito Santo, pois como bem ensina
Paulo, a operação do Espírito Santo “é dada a cada um” [...] (1 Co 12.7). Isso é
assunto da maior seriedade. Devemos refletir nisso.

108 Água ungida, sal grosso, sabonete ungido, peças de roubas ungidas dentre outros elementos.

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CONCLUSÃO

A Bíblia Sagrada continua sendo nossa regra de fé e prática. O culto a


Deus tem como elementos centrais a oração, a exposição bíblica, ação de graças,
confissão de pecados, dentre outros (1 Co 14.26,40). Deus deve ser glorificado
no nosso meio e a reverência deve ser levada a efeito em nossas reuniões. Como
esperar que haja uma operação do Espírito Santo num ambiente onde a desordem
prevalece? As consequências disso serão desastrosas para a Igreja.

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Esboços

ESB O Ç O 19 109

TEMA DA PALESTRA: EDUCAÇÃO CRISTÃ: ISSO FUNCIONA


MESMO?
TEXTO BÍBLICO: “‘Venham, vamos refletir juntos’, diz o Senhor. ‘Embora os
seus pecados sejam vermelhos como escarlate, eles se tornarão brancos como a neve;
embora sejam rubros como púrpura, como a lã se tornarão’” (Isaías 1.18, NVI).

INTRODUÇÃO

Neste esboço, uso a palavra “síndrome” como uma metáfora para me referir
a algumas tendências sociais que são muito perceptíveis em nosso tempo e que de
algum modo foram também absorvidas pela Igreja. Considerar as “síndromes” da
Pós-modernidade e como a Igreja foi afetada por elas, adaptando-as em seu contexto,
e buscar na Educação Cristã respostas a esses desafios é o objetivo deste estudo bíblico.

1. SÍNDROME DA VISIBILIDADE

A Pós-modernidade pode, com justiça, ser encarada como a “era do espe-


táculo”. É notável que nosso tempo é marcado por um inelutável interesse pela
fama, visibilidade e pela redução da privacidade. As mídias sociais podem ser
vistas como um reflexo desse fenômeno.
Como a Igreja incorporou essa tendência? Na pregação e ensino como
“espaços” para visibilidade pessoal em detrimento da divulgação do evangelho de

109 Esboço preparado para ministração da palestra com o seguinte tema: “Educação Cristã: isso
funciona mesmo?” Ela foi proferida por ocasião do Seminário de Educação Cristã promovi-
do pelo Instituto de Educação Cristã Crer & Ser, nas dependências da Assembleia de Deus de
Barra de São Francisco (ES), em 12 de março de 2016. O vídeo da palestra pode ser assistido
no Canal Repensando meu Cristianismo (Youtube). Disponível em: <https://www.youtube.
com/watch?v=2zsxHrIctt8&t=1560s> Acesso em 29 dez.. 2019.

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Cristo. Tornou-se comum as pessoas ambicionarem esses ministérios como meios


de promoção de sua própria imagem e como meio de ganhos pessoais.
A Educação Cristã pode apresentar como resposta o esforço para “ge-
rar” Cristo nas mentes e nos corações a partir do ensino bíblico e no fomento da
constituição de um caráter moldado pelos valores bíblicos. Ela é uma ferramenta
fundamental para a construção do discipulado cristão.

2. SÍNDROME DO CONSUMISMO

Aqui, vemos o consumismo para além das fronteiras econômicas. O con-


sumismo transpôs, na Pós-modernidade, os limites do consumo de bens e servi-
ços e assumiu uma conotação existencial, entrando na vida religiosa e nas relações
humanas.
Como a Igreja a incorporou? No consumismo religioso! Convivemos
com uma religiosidade utilitária, que condiciona a relação com Deus a bens ma-
teriais e a conquistas pessoais, que não leva em conta o fato de que a vida cristã
também é carregada de desafios e lágrimas.
A Educação Cristã pode oferecer como resposta a essa tendência, por
meio do ensino bíblico e teológico, o cultivo da relação com Deus de maneira
incondicional. A Educação Cristã, sendo ministrada sob a ótica bíblica, nos
conduz a amar ao próximo, a encarar o serviço cristão como uma forma de
atender a outros e a entender Deus como nosso Senhor, a Quem amamos e
servimos.

3. SÍNDROME DA ESTÉTICA

A Pós-modernidade é vista como a era em que as pessoas se reúnem dian-


te de ideais estéticos e não éticos, conforme percebeu acertadamente o sociólo-
go Zygmunt Bauman. As mídias sociais, em grande medida, refletem essa triste
tendência. As pessoas valorizam mais o que é visual do que o que é ético. Insistem
em mostrar o que não possuem e quem não são de fato.

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Esboços

Como a Igreja a incorporou? Quando ela valoriza mais a fama e o status


do que o caráter das pessoas. É comum acontecer no contexto eclesial o que vem
acontecendo na sociedade não cristã: multidões reunindo-se em torno de indiví-
duos que são famosos, as “estrelas” gospel, sobre cujas vidas em geral a única coisa
que sabemos realmente é que são famosos. Apenas isto. Não conhecemos sua
vida, sua família e nem o seu caráter. Apenas sabemos que são famosos e por isto
paramos para ouvi-los.
A Educação Cristã trabalha em primeiro plano o caráter, não o ego do
indivíduo, o que por si só já constitui uma forma de responder a essa tendência.
A Educação Cristã está preocupada primeiro com a formação cristã do eu, tendo
Cristo como paradigma.

4. SÍNDROME DAS RELAÇÕES LÍQUIDAS

A Pós-modernidade é também a era da fragilização das relações humanas.


Costumo dizer em algumas palestras que nossas salas de estar já não são mais
projetadas para que nos sentemos de frente uns para os outros. De certo modo,
um reflexo dessa diluição das nossas relações pessoais.
A Igreja incorporou esta característica na medida em que nós, evangéli-
cos, priorizamos o conceito de “membro” em detrimento do conceito de “irmãos”
e “discípulos”. Como evangélicos, absorvemos esta característica quando torna-
mos “tribais” a convivência com irmãos em Cristo e quando encaramos a igreja
local como um “gueto” religioso, que não transborda para outras igrejas locais e
para a sociedade.
A resposta a partir da Educação Cristã consiste do fomento da valoriza-
ção do outro pelo olhar do evangelho. A Educação Cristã contribui para a cons-
trução daquilo que tenho chamado de alteridade cristã.

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5. SÍNDROME DA “HERMENÊUTICA DA SUSPEIÇÃO”


(Jacques Derrida)

Suspeita-se de tudo e a suspeita é estabelecida como pressuposto metodo-


lógico. Uma postura que gera desconfiança e questionamento, mas que acaba não
conduzindo a certeza alguma.
Como a Igreja a incorporou? Ela manifesta incerteza na mensagem e na
instituição. Temos convivido com muitos críticos, mas com poucas vozes profé-
ticas. Temos convivido com muitos informados, que questionam tudo, mas com
poucos entendedores de fato, que contribuem por meio do seu conhecimento e
da construção da criticidade110.
A resposta à partir da Educação Cristã consiste em enfatizar a verdade
do evangelho como verdade absoluta. Consiste em explorar a Bíblia como Pa-
lavra de Deus, fonte de valores imutáveis e eternos para nós.

6. SÍNDROME DA INDEFINIÇÃO

A Pós-modernidade se coloca como a “era do vazio”. Mesmo cercados


por muita tecnologia e envolvidos em diversas atividades, talvez como nunca
antes presenciamos um esvaziamento do próprio eu, da própria subjetividade
humana.
Como a Igreja a incorporou? Na indefinição em torno de sua própria
identidade e missão. Este é um problema sério para nós, como Igreja do Senhor.
Estamos convivendo com adeptos e não discípulos, com simpatizantes e nomi-
nais, e não com cristãos que entenderam realmente a proposta do evangelho.
A resposta que a Igreja pode dar a partir da Educação Cristã é promover
o resgate da identidade da Igreja e de sua missão à luz das Escrituras. Por meio do

110 A criticidade é fundamental na construção do saber e de uma práxis responsável, que seja
coerente com a Bíblia e com a vida concreta, que experimentamos no século 21. É diferente
de uma postura de questionamentos que levam a nada e não produzem reflexão que, por sua
vez, gera mudança comportamental.

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Esboços

ensino bíblico e teológico continuados, esse resgate do sentido de ser Igreja vai
sendo feito.

7. SÍNDROME DAS MUDANÇAS VELOZES

Rápidas e acentuadas mudanças nos diversos setores do conhecimento


humano marcam o nosso tempo. Como a Igreja a incorporou? Mudanças
abruptas em sua liturgia e teologia. A resposta a partir da Educação Cristã
consiste em produzir reflexão bíblica e cristã face às mudanças velozes que nos
cercam.

8. SÍNDROME DA ACELERAÇÃO DOS PROCESSOS


HUMANOS

Aceleração de processos humanos essenciais como infância, puberdade,


vida escolar, amadurecimento ministerial dentre outros. Como a Igreja a incor-
porou? Na busca por resultados rápidos que atropelam o discipulado cristão e a
formação humana equilibrada. A resposta a partir da Educação Cristã consiste
em gerar discipulado cristão que produza nos crentes a cosmovisão genuinamente
cristã. E isso demanda tempo...

9. SÍNDROME DA VALORIZAÇÃO DA ABOLIÇÃO DOS


VALORES

A Pós-modernidade é um tempo cujo valor maior é não ter valor algum!


Como a Igreja a incorporou? Aplicando em suas terminologias (com seus
respectivos significados/conteúdos) a “semântica pós-moderna”111. A resposta a

111 A Pós-modernidade manifesta ojeriza a marcos antigos, buscando demovê-los e relativizá-los.


Palavras e conceitos importantes como “tradição” e “moral” são, hoje, vistos com suspeição e
rejeição. Tenho me referido a esse fenômeno como “semântica pós-moderna”.

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partir da Educação Cristã consiste em que ela, a Educação Cristã, seja usada
como promotora e depositária dos valores bíblicos, cristãos e familiares.

10. SÍNDROME DO “RETORNO AO SENTIMENTO”


(Antonio Cruz)

Regresso ao sentimento em detrimento da razão é o que caracteriza esta


síndrome. O grande pensador cristão do século 20, Francis A. Schaeffer (1912-
1984), falou sobre “a morte da razão”. Como a Igreja a incorporou? Na medida
em que avalia caráter, espiritualidade, qualidade litúrgica, dentre outros caracteres
distintivos do Cristianismo histórico, a partir de fatores emocionais. Resposta a
partir da Educação Cristã: fomento de um Cristianismo que seja coerente em
suas múltiplas dimensões: “fé e razão”, “emoção e coerência”, “liberdade e bom
senso”, ou ainda, como diria John R. W. Stott (1921-2011), “crer e pensar”.

CONCLUSÃO

Não podemos deixar de estar atentos ao fato de que muitas tendências de


nosso tempo são antagônicas à proposta do evangelho e que a Igreja vem, gradati-
vamente, absorvendo essas influências externas. Não é que os cristãos devam viver
isolados, sem contato com a sociedade pós-moderna. Por outro lado, a Igreja não
deve caminhar no sentido de absorver uma cultura que é antagônica ao ensino de
Cristo e que acaba por conduzi-la a um adoecimento, sobretudo espiritual. Ela
necessita ter uma postura crítica, mais precisamente, crítico-bíblica face aos efei-
tos negativos de se dar a essas tendências pós-modernas – aqui indicadas – uma
roupagem religioso-teológica para legitimá-las no contexto eclesial.

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Esboços

ESB O Ç O 20

TEMA DO SERMÃO: SOB A TUA PALAVRA


TEXTO BÍBLICO: “Ao que disse Simão: Mestre, trabalhamos a noite toda, e
nada apanhamos; mas, sobre tua palavra, lançarei as redes” (Lucas 5.5).

INTRODUÇÃO

Este sermão é uma mensagem sobre trabalho que é feito sob a bênção do
Senhor. É um chamado não só a confiar Nele, mas a agir também. Nesse sermão,
encontramos o “lança a rede” de Jesus, mas também o esforço de Pedro e de seus
companheiros para puxar a rede repleta de peixes. Que lições preciosas para a vida
cristã podemos colher dessa passagem de Lucas 5? Vejamos a seguir.

1. ATITUDE CORRETA

Em Lucas capítulo cinco temos um episódio de fato muito interessante.


Ali podemos ler a respeito de uma multidão que se aproxima de Jesus “[...] para
ouvir a Palavra de Deus” (v. 1). Em João 4.48 vemos outra multidão com uma
atitude bem diferente, o que foi percebido pelo próprio Jesus: “[...] Se, porven-
tura, não virdes sinais e prodígios, de modo nenhum crereis”. Também em João
6.26 Jesus novamente denuncia a “aproximação utilitária” da multidão: “[...] Em
verdade, em verdade vos digo: vós me procurais, não porque vistes sinais, mas
porque comestes dos pães e vos fartastes”. Em Lucas 5, contudo, encontramos
pessoas desejosas de ouvir a Palavra de Deus pelo Filho de Deus. E Ele não se
furta de falar ao povo, comunicando-lhes a mensagem do evangelho. Que essa
possa ser sempre a postura do nosso coração. Que o nosso demover-se ao local
de culto seja sempre no sentido de ouvir a Palavra. Que este propósito sincero
jamais seja esvaziado de sentido em nosso coração. E que nossos cultos voltem a
corresponde-lo adequadamente.

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2. LAVANDO AS REDES

O Senhor Jesus, após proferir a Palavra, se aproxima dos discípulos justa-


mente quando eles “[...] lavavam as redes” (v. 2), o que indica término de ativida-
de, cessação do trabalho. Jesus chega justamente nessa hora!
Em nossas vidas é assim muitas vezes: Ele vem com sua bênção e socorro
justamente quando pensamos que o fim chegou, que não há mais saídas possíveis.
Há momentos em nossas vidas que os recursos cessam, nossa administração é
totalmente ineficiente e que os amigos falham. Mas por vezes, nesses momentos,
Ele vem em nosso socorro e dá a ordem “incoerente”: “Lança a rede”.

3. MINISTRANDO EM LOCAL INADEQUADO

Lucas registra: “[...] Entrando em um dos barcos [...] ensinava do barco


as multidões” (v. 3). Um local não muito apropriado para ensinar, mas Jesus
assim o fez, pois a multidão estava desejosa de ouvir a Palavra de Deus. O
Mestre nos legou um exemplo maravilhoso, especialmente a nós, numa era
em que tantas condições são impostas por emissários que se comportam, na
verdade, como “artistas”, e não como despenseiros de Deus (cf.: 1 Co 4.1). A
Bíblia de Jerusalém traduz a expressão “ministros de Cristo” como “servos de
Cristo”112, o que é muito apropriado, sem dúvida. O ministro aceita o desafio
de “ensinar do barco”, mesmo que seja desconfortável, em função do balanço
provocado pelas ondas e pelo sol causticante, mas ele assim o faz pois está
disposto a servir sempre que necessário. Noutras palavras, o ministro fala nas
grandes catedrais, mas fala também no barco; fala à partir de púlpitos caros,
mas fala também em casas simples. Como Jesus, ele compartilha o evangelho
no templo e nas ruas.

112 Bíblia de Jerusalém: nova edição, revista e ampliada. São Paulo: Paulus, 2006, 1 Coríntios
4.1.

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Esboços

4. UM ATO DE FÉ

Mediante a ordem de Jesus no sentido de lançar a rede, mesmo após ele


e seus companheiros terem trabalhado a noite toda, Pedro afirma: “[...] mas sob
a tua palavra lançarei as redes” (v. 5). A ação de Pedro estava sob (debaixo) da
palavra de Jesus, isto é, da autoridade de Jesus. Embora tudo indicasse o contrá-
rio, Pedro lançou as redes e a pesca foi milagrosa. Jesus ordenou que a rede fosse
lançada “ao largo”, ou “mar alto” como na Almeida Corrigida Fiel (v. 4). A fé de
Pedro foi recompensada pela pesca abundante. Mas é claro que ela só aconteceu
em função da junção de dois fatores: a ordem de Jesus, autor do milagre e a ação
de Pedro de ir e lançar a rede.

CONCLUSÃO

Deus nos surpreende muitas vezes, fazendo ocorrer milagres em lugares


para onde nossas previsões jamais apontariam. Há um antigo comentário ao livro
de Lucas, de J. C. Ryle, que afirma que “[...] não é nas águas profundas dos lagos
que geralmente se faz a pesca”.113 Curiosamente, foi justamente para a parte mais
profunda que Jesus determinou que os pescadores se dirigissem. Indo contra o
curso normal de suas atividades, mas sob a palavra de Jesus, agiram, pela fé, e
foram recompensados com uma pesca maravilhosa.

113 RYLE, J. C. Comentário expositivo do evangelho Segundo Lucas. Trad.: Otoniel Mota.
Rio de Janeiro: Confederação Evangélica do Brasil, 1955, p. 68.

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E S BO Ç O 21

TEMA DO SERMÃO: CARACTERÍSTICAS MARCANTES NA VIDA DA


IGREJA PRIMITIVA
REFERÊNCIA BÍBLICA: “E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na
comunhão, e no partir do pão, e nas orações. Em cada alma havia temor, e muitas
maravilhas e sinais se faziam pelos apóstolos. Todos os que criam estavam juntos e
tinham tudo em comum. Vendiam suas propriedades e fazendas e repartiam com
todos, segundo cada um tinha necessidade. E, perseverando unânimes todos os dias no
templo e partindo o pão em casa, comiam juntos com alegria e singeleza de coração,
louvando a Deus e caindo na graça de todo o povo. E todos os dias acrescentava o
Senhor à igreja aqueles que se haviam de salvar” (Atos 2.42-47, ARC).

INTRODUÇÃO

Este é um tema muito caro para mim e já ministrei sob ele algumas vezes,
em algumas igrejas por onde passei. Um dos maiores desafios que a Igreja brasileira
enfrenta atualmente é a perca de sua real identidade bíblica. Convivemos com um
modelo de igreja que se recusa a viver biblicamente, por mais paradoxal que isso
possa ser. Precisamos voltar às Escrituras e encontrar nelas as referências de que
necessitamos para sermos “Igreja” no melhor sentido do termo. Só assumindo essas
referências para nós teremos nossa identidade resgatada e realizaremos com eficácia
nosso ministério eclesiástico. No texto de Atos 2.42-47 enconramos alguns desses
referenciais, ou marcas, que nos permitem ter um ponto de comparação e de mode-
lo muito saudável e, sobretudo, bíblico, pelo qual podemos orientar nossa conduta
como Igreja do Senhor. Veremos a seguir algumas dessas marcas.

1. PERSEVANÇA NA DOUTRINA

A palavra “doutrina” significa basicamente preceito, ensino. É uma palavra


recorrente no texto bíblico. Há uma passagem no Antigo Testamento marcante

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Esboços

que a inclui: “Goteje a minha doutrina como a chuva, destile a minha palavra
como o orvalho, como chuvisco sobre a erva e como gotas de água sobre a relva”
(Dt 32.2, ACF).
No Antigo Testamento, a palavra “doutrina” ocorre principalmente como
tradução de uma palavra hebraica que significa “o que é recebido”, como acontece
justamente no texto acima citado, de Deuteronômio 32.2 (também em Jó 11.4;
Pv 4.2; Is 29.24).114 Há outras palavras importantes correlacionadas com “doutri-
na”, como “ensino”, “lei” e “preceitos”.
No caso da passagem em apreço, a referência é a “doutrina dos apóstolos” (v.
42), que a Nova Versão Transformadora traduziu como “ensino dos apóstolos”.
E em que consistia o ensino dos apóstolos? Devemos lembrar que eles foram os
responsáveis por reproduzir, de maneira imediata, o ensino de Jesus, bem como
registrar Sua vida e obra. No Novo Testamento a palavra didaskalia (“ensino”) pa-
rece indicar justamente um corpo ou conjunto de crenças como padrão de ortodo-
xia.115 Dito de outra maneira, o ensino dos apóstolos era o ensino sobre Jesus, sobre
o evangelho e era nesse ensino que os primeiros cristãos permaneciam.
A Igreja brasileira deve voltar ao ensino apostólico, ao ensino que con-
duz ao conhecimento de Cristo. Paulo, grande doutrinador do Cristianismo, se-
gue nessa trilha quando fala sobre Cristo ser gerado nos corações dos crentes:
“Ó meus filhos queridos, sinto como se estivesse passando outra vez pelas dores
de parto por sua causa, e elas continuarão até que Cristo seja plenamente desen-
volvido em vocês”.116 O ensino apostólico consiste de revelar Jesus às pessoas e
gera-lo no coração delas. Ele não consiste de promoção de instituições, interesses
políticos, sociais e religiosos. O ensino apostólico é muito mais que tudo isso! Ele
aponta para uma Pessoa sublime: o Filho de Deus.
Foi H. Emil Brunner (1889-1966) quem trouxe importante contribuição
ao discorrer sobre o ensino dos apóstolos em sua obra O equívoco sobre a igreja
(2004). Ele comenta que “[...] nossa interpretação da comunidade cristã será de-
cisivamente orientada por nossa interpretação do apostolado e seu significado

114 DOUGLAS, J. D. (et al.). O Novo Dicionário da Bíblia. Trad.: João Bentes. 3ª ed. São
Paulo: Vida Nova, 2006, p. 368.
115 Cf.: DOUGLAS, 2006, p. 368.
116 Bíblia Sagrada: Nova Versão Transformadora. São Paulo: Mundo Cristão, 2016, Gálatas 4.19.

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para a Eclesia”.117 Brunner entende que o evangelho é fato histórico pois Cristo
esteve entre os homens e realizou sua obra salvadora, e que é necessário que ela
seja anunciada. Desse modo, o anúncio do evangelho dependeu de testemunhas
oculares que estiveram com o próprio Jesus. Brunner conclui que “[...] esta é a
comissão básica do Senhor Ressurreto a Seus embaixadores, Seus apóstolos. Este
ofício de dar testemunho em primeira mão é, portanto, o que constitui o aposto-
loado”.118 Sem os apóstolos certamente não haveria Cristianismo, de modo que a
Igreja só tem sentido se for uma comunidade apostólica. Os primeiros discípulos
permaneceram no ensino apostólico, como podemos ver em Atos capítulo dois.
Nós também devemos permanecer!
Deve ser realçado aqui que esse permanecer no ensino dos apóstolos não
pressupõe – de modo algum! – uma dependência infindada dos apóstolos, visto
que eles se foram. Longe disto, implica crescimento, “apropriação” desse ensino,
que denota maturidade espiritual e desenvolvimento em Cristo. A imaturidade
deve ser superada e Brunner comenta: “Esta imaturidade, contudo, não é algo
necessário mas fortuito, algo que deve desaparecer, pode desaparecer e, de fato,
finalmente desaparece”.119 Que este seja nosso anseio constante: crescer em Jesus.

2. SINGELEZA NO MODO DE VIDA

A vida cristã deve ser simples, pois o Evangelho é simples, o Senhor Jesus
foi simples e viveu de modo simples. A pompa, a autoafirmação, a valorização
exacerbada do próprio ego e a ostentação são práticas estranhas à verdadeira vida
cristã. No texto sagrado lemos: “E, perseverando unânimes todos os dias no tem-
plo, e partindo o pão em casa, comiam juntos com alegria e singeleza de coração”
(At 2.46, grifo meu). Sem simplicidade, partir o pão, compartilhar e conviver
tornam-se práticas inviváveis.

117 BRUNNER, H. Emil. O equívoco sobre a Igreja. Trad.: Paulo Arantes. São Paulo: Fonte
Editorial, 2004, p. 31.
118 BRUNNER, 2004, p. 31.
119 BRUNNER, 2004, p. 34.

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Esboços

3. UNIDADE

A comunhão entre os irmãos é uma marca distintiva da Igreja primitiva


que deve ser reproduzida por nós, hoje. Que aqueles primeiros cristãos viviam em
comunhão, podemos depreender do contexto da passagem que escolhemos para
embasar este esboço, que fala justamente da convivência harmoniosa entre eles.
Que havia problemas e divergências entre aqueles irmãos, isto pode ser confir-
mado por passagens como Filipenses 4.2. Precisamos lembrar que a Igreja é uma
unidade na diversidade, como bem explicou Paulo em 1 Coríntios 12. E no mais,
é possível divergir dentro de uma relação saudável. A Igreja do Senhor deve viver
em união, praticando a solidariedade e a tolerância, pautando-se sempre pelo
perdão e pela capacidade de oportunizar a convivência.

4. CRESCIMENTO

O crescimento é resultado de coesão, de comunhão e de convergência en-


tre irmãos. É claro que sem a ação do Espírito na vida da Igreja, esse crescimento
não seria uma realidade. No máximo, eles experimentariam um “inchaço”, não
crescimento de fato, que conjuga qualidade com quantidade.

CONCLUSÃO

Não devemos idealizar demais os primeiros cristãos, pois eles também ti-
veram seus problemas. Isso fica claro, inclusive, em textos como Atos 6. Mas não
podemos negar que aqueles primeiros irmãos nos legaram exemplos muito mar-
cantes de um modelo de Igreja que, sem dúvida, estava muito mais próximo do
Evangelho de nosso Senhor e Redentor Jesus Cristo. O resgate da nossa própria
identidade como Igreja, do Senhor, hoje, passa diretamente pelo resgate dessas
características marcantes na vida da Igreja primitiva.

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enciclopédia teológica: numa perspectiva transdisciplinar

E S BO Ç O 22

TEMA DO SERMÃO: JOVEM, LEVANTA-TE


TEXTO BÍBLICO: “Pouco depois seguiu ele viagem para uma cidade chamada
Naim; e iam com ele seus discípulos e uma grande multidão” (Lucas 7.11).

INTRODUÇÃO

Curiosamente, a cidade Naim, que presenciou tão grande milagre, só é


citada neste texto das Escrituras. Ficava localizada a suleste de Nazaré, à 10 km de
distância. Fora da cidade, do lado oriental, há antigas cavernas que eram usadas
como sepulcros. Como Jesus encontra-se com o cortejo fúnebre à porta da cidade,
certamente eles estavam conduzindo o rapaz morto para aquele local.

1. A MORTE

Podemos definir a morte de modo objetivo como a “cessação da vida”.


Esta palavra também é usada em sentido metafórico, e essa é minha intenção
também aqui quanto ao seu uso. Abordarei pelo menos três tipos de morte nesta
mensagem, a seguir.

1.1 A morte espiritual


Ocorre quando perdemos totalmente a comunhão com Deus. Quando
deixamos de orar, de ler e estudar a Bíblia Sagrada e de alegremente testemunhar
de nossa fé. É quando não sentimos mais prazer nas coisas de Deus. A morte espi-
ritual pode acometer um crente mesmo sendo ele frequentador dos cultos, desde
que esteja fazendo isso por mera formalidade religiosa. Que Deus nos guarde! (cf.:
Ap 3.1-3; Rm 13.11,12).

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Esboços

1.2 A morte moral


É a perca dos valores morais exarados na Palavra de Deus. O mundo vive
uma crise de moralidade, uma crise de valores. Hoje, tudo é relativizado pela so-
ciedade sem Deus. Não há (para eles) verdades absolutas e a Bíblia vem deixando
de ser cada vez mais um referencial em termos de valores morais. Veja o que Paulo
diz sobre os últimos dias: 2 Tm 3.1-9 (cf.: também Rm 12.1,2 – a não conformi-
dade com o mundo; 2 Tm 2.22 – o afastar-se dos prazeres pecaminosos).

1.3 A morte ministerial


Ocorre quando o ministério, isto é, o serviço que prestamos a Deus deixa
de ser desempenhado corretamente. Isto ocorre por várias razões: morte espiri-
tual, falta de aperfeiçoamento da maturidade cristã, líderes que “asfixiam” seus
liderados por falta de visão espiritual e de exercitar a piedade cristã, descaso para
com o dom de Deus, dentre outros fatores (cf.: 1 Co 15.34; 1 Tm 1.6,18,19; 2
Tm 2.15).

2. A VIDA

Cremos que o evangelista está registrando um fato histórico: um jovem


morto que foi realmente trazido à vida pelo Senhor Jesus. Sua ressurreição trouxe
alegria à sua mãe, que tinha apenas aquele filho. O curso normal da natureza
havia sido invertido: uma mãe estava sepultando seu amado filho. Mas a caravana
da morte encontrou-se com a caravana da vida.
Podemos afirmar que a experiência do encontro com Cristo gera vida nova,
gera o “novo homem” e a “nova criatura” (cf.: Ef 4.24; Gl 6.15; 2 Co 5.17,18),
que só podem vir à existência por meio Dele. E esse “novo nascimento” (Jo 3) na-
turalmente traz alegria e felicidade. Possibilita àqueles que o experimentam des-
frutar das bem-aventuranças de Mateus 5 e das riquezas espirituais de Efésios 1.

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enciclopédia teológica: numa perspectiva transdisciplinar

CONCLUSÃO

Nosso tempo é profundamente marcado pela perca do bom senso entre


toda uma geração de jovens, inclusive jovens cristãos. É triste ver jovens morren-
do vitimados pela violência, pelo tráfico e pela cobiça desse mundo tenebroso. Na
Palavra de Deus, contudo, o encontro pessoal com o “Autor da vida” é possível.
E pela Palavra de Deus pode o jovem encontrar-se com seu Criador e viver uma
vida na dimensão do Espírito, orientada para a glória de Deus.

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Esboços

ESB O Ç O 23

TEMA DO SERMÃO: O AVIVAMENTO EM MISPA


TEXTO BÍBLICO: “Sucedeu que, desde aquele dia, a arca ficou em Quiriate-
Jearim, e tantos dias se passaram, que chegaram a vinte anos; e toda a casa de
Israel dirigia lamentações ao Senhor. Falou Samuel a toda a casa de Israel, dizendo:
Se é de todo o vosso coração que voltais ao Senhor, tirai dentre vós os deuses
estranhos e os astarotes, e preparai o coração ao Senhor, e servi a ele só, e ele vos
livrará das mãos dos filisteus. Então, os filhos de Israel tiraram dentre si os baalins
e os astarotes e serviram só ao Senhor. Disse mais Samuel: Congregai todo o Israel
em Mispa, e orarei por vós ao Senhor. Congregaram-se em Mispa, tiraram água
e a derramaram perante o Senhor; jejuaram aquele dia e ali disseram: Pecamos
contra o Senhor. E Samuel julgou os filhos de Israel em Mispa” (1 Samuel 7.2-6).

INTRODUÇÃO

Temos diante de nós um dos mais belos avivamentos da narrativa bíblica, que
envolve o povo de Israel e o profeta Samuel como mediador entre Israel e o Senhor.
A história bíblica e eclesiástica está repleta de grandes avivamentos e em todos eles
encontramos “passos” que contribuíram para que eles ocorressem. Daí podemos ex-
trair grandes e preciosas lições para nossa vida devocional, para o nosso seguimento
de Cristo. Alguém disse que “avivamento é a intervenção divina no curso normal das
coisas”, ou seja, um verdadeiro avivamento impacta, provoca mudanças e por vezes
nos tira de uma vida cristã infrutífera e apática. E necessitamos considerar já de parti-
da: todo verdadeiro avivamento tem sua origem em Deus e Nele só.

1. UM TEMPO DE PROFUNDA SEQUIDÃO ESPIRITUAL

Era um tempo de sequidão espiritual! No versículo dois de 1 Samuel 7


lemos que “[...] lamentava toda a casa de Israel pelo Senhor”. Aprendemos com

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isto que em tempos de sequidão espiritual e de lamentos, Deus pode surpreender


seu povo com um profundo avivamento.
Um cristão normalmente passa por períodos de frieza e até mesmo de apa-
tia espiritual. Na verdade, é até de se esperar que um cristão verdadeiramente
nascido de novo possa experimentar períodos assim e por mais de uma vez ao
longo de sua vida.
Diversos fatores podem contribuir para o nosso esfriamento espiritual,
além da nossa própria condição como pecadores. São feridas ministeriais profun-
das que nos debilitam e nos marcam na caminhada cristã, traições (no ministério
e na família), a cruel indiferença da igreja local onde servimos quanto aos nossos
esforços e quanto ao nosso ministério, dentre outros fatores, que podem contri-
buir diretamente para nosso desânimo espiritual.
Ao considerarmos a passagem escolhida para embasar este sermão é curioso
observar que a sequidão espiritual que marcava Israel naquele momento de sua
História foi justamente o “palco” para a operação divina. Deus nos surpreende
muitas vezes. Por vezes decretam o fim do nosso ministério, mas Jesus ordena que
lancemos a rede outra vez mais; por vezes o rótulo que se aplica é o de “desviado”,
mas para Jesus, o filho continua sendo filho, a despeito de sua condição espiritual.
É gratificante olhar para a Parábola do filho pródigo e perceber que o filho
esbanjador, que gastara seus bens de forma dissoluta, ao retornar à sua casa, foi
recebido como filho, mesmo na condição deplorável em se encontrava (Lc 15.11-
32). E o pai, feliz com seu retorno, oferece uma grande festa para alegrar-se com
os seus por causa do filho que se achava perdido e agora fora encontrado.

2. PASSOS PARA O AVIVAMENTO

Como experimentar um verdadeiro avivamento? O Espírito Santo nos conduz


ao reconhecimento de que necessitamos de refrigério, renovo e de novas experiências
com Deus. Para experimentar essa renovação espiritual, precisamos nos mover, agir e
dar passos em direção ao avivamento. Que passos são esses? Em 1 Samuel 7 encontra-
mos lições preciosas aplicáveis a nós, no século 21. Vejamos a seguir.

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Esboços

2.1 Ouvir o profeta


No versículo três podemos ler: “Então falou Samuel a toda a casa de Israel
[...]”. O profeta Samuel120 é uma figura central no avivamento de Mispa. Deus
sempre levanta homens e mulheres que atuam como “agentes de avivamento”.
Não que o avivamento seja provocado por eles, ou que eles(as) sejam responsáveis
pelo derramamento do Espírito. Longe disto! Mas é fato que pessoas inspiram
outras. É fato que os avivamentos sempre contaram com líderes espirituais mar-
cantes que conduziram o povo a buscar mais de Deus. Ouvir o profeta, portanto,
é um passo fundamental para se experimentar um grande avivamento.

2.2 Conversão de todo o coração


No versículo três, o profeta Samuel condiciona: “[...] Se com todo o vosso
coração vos converterdes ao Senhor [...]”. O velho Comentário Bíblico Bea-
con (2005) comenta que “[...] converter-se ao Senhor é a expressão familiar
do Antigo Testamento para descrever o genuíno arrependimento. Somente um
afastamento sincero dos falsos deuses e um serviço decidido ao Deus verdadeiro
poderia abrir caminho para a libertação divina das mãos de seus inimigos”.121 A
conversão sincera ao Senhor provoca “terremotos” na alma do homem levando-o
a mudanças profundas.

2.3 Remoção dos ídolos


No versículo três lemos: “[...] tirai dentre vós os deuses estranhos”. Quais
ídolos guardamos no coração? De certo modo, todos nós temos nossos ídolos e

120 No Comentário Bíblico Beacon (2005) temos o interessante comentário a respeito do profeta
Samuel: “Samuel havia sido reconhecido como profeta do Senhor há muito tempo. Agora ele
assume o seu lugar na história sagrada como o último dos juízes. Estes eram líderes militares por
cujas mãos o Senhor trouxe libertação para o seu povo. Também serviam em um trabalho civil,
em razão do respeito que os seus companheiros tinham por eles. Embora não saibamos a idade
de Samuel na época da captura da arca pelos filisteus, provavelmente estava na casa dos seus 40
anos na época em que ocorreram os seguintes eventos” (Comentário Bíblico Beacon: Josué a
Ester. vol. 2. 2ª ed. Trad.: Luís Aron de Macedo. Rio de Janeiro: CPAD, 2005, p. 191).
121 Comentário Bíblico Beacon: Josué a Ester. vol. 2, 2005, p. 191. grifo do autor.

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que precisam ser removidos. Muitas vezes os guardamos nas recâmaras secretas de
nosso coração durante muito tempo. O termo bíblico é “baalins”, que é plural de
Baal, um dos principais deuses do panteão cananeu. Perceba: eram vários deuses.
O culto a esses deuses era vicioso e deprevado122, e o Senhor exige então que esses
ídolos fossem retirados. Ele é o Único Deus vivo e verdadeiro: “Ouça, ó Israel!
O Senhor, nosso Deus, o Senhor é único!” (Dt 6.4).123 Ele exige exclusividade de
nós. É necessário remover de nosso coração aqueles ídolos que tomam o lugar do
Senhor, que nos impedem de amá-lo integralmente e de servi-lo melhor.

2.4 Congregar-se
A Bíblia narra que os filhos de Israel congregaram-se em Mispa (ou Mizpá,
conforme a tradução), no versículo seis. Samuel orientou que eles se reunissem e
disse que em seguida oraria ao Senhor pelo povo (v. 5). E foi enquanto eles esta-
vam congregados que o livramento dos filisteus lhes foi dado.
Nenhum cristão pode ser cristão, no melhor sentido da Palavra “cris-
tão”, de modo solitário. Servir ao Senhor implica compartilhar, conviver, co-
mungar, “ter em comum” como lemos em Atos. Extraímos desse relato a preciosa
lição de que avivamento, conquanto possa ser individual, em geral sempre reflete
sobre a comunidade. E como é bom experimentar um grande derramar do Espí-
rito em comunhão com irmãos! Uma igreja local avivada muito pode fazer para
Deus e para a sociedade.

3. OS RESULTADOS DO AVIVAMENTO

O avivamento nos move, nos tira da inércia espiritual. Ele gera resulta-
dos concretos! E os resultados foram arrependimento sincero, o que pode ser
percebido pela confissão dos israelitas: “Pecamos contra o Senhor” (v. 7). Outro
resultado foi a vitória de Israel sobre os filisteus, que até então os oprimiam. No

122 Comentário Bíblico Beacon: Josué a Ester. vol. 2, 2005, p. 191.


123 Bíblia Sagrada: Nova Versão Transformadora. São Paulo: Mundo Cristão, 2016, Deutero-
nômio 6.4.

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Esboços

versículo 9 lemos que o Senhor “lhe deu ouvidos”, isto é, deu ouvidos a Samuel
que clamou ao Senhor para que Ele livrasse Israel das mãos dos filisteus, que vi-
nham contra eles.
Podemos, desse modo, resumir em duas palavras os resultados desse glorio-
so avivamento experimentado pelos antigos israelitas: arrependimento e livra-
mento. Mas não apenas isso, diz a Bíblia que eles experimentaram a vitória sobre
os filisteus e paz em consequência dessa importante vitória: “Assim, os filisteus
foram abatidos, e nunca mais vieram aos termos de Israel [...]” (v. 13). Houve
ainda a restituição de territórios a Israel: “E as cidades que os filisteus tinham
tomado a Israel foram-lhe restituídas” (v. 14).

CONCLUSÃO

Em relação ao relato histórico de 1 Samuel 7, é evidente que nosso tempo


é outro, totalmente distinto daquela época. Mas podemos sim, com prudência,
estabelecer pontos de conto com vistas a aplicação prática, afinal, “essas coisas
foram registradas há muito tempo para nos ensinar” (Rm 15.4).124 Dito isto, pode
ser afirmado: não nos enganemos! Há ameaças a nós hoje, também. Mesmo que
essas ameaças não sejam de ordem militar, como era no caso de Israel, convivemos
com perigos. Os “ídolos do coração”, “a concupiscência da carne, a concupiscên-
cia dos olhos e a soberba da vida” (1 Jo 2.16), o amor ao dinheiro (1 Tm 6.10)
e a falta de amor ao próximo são exemplos de grandes perigos que nos rondam.
Somente com um coração avivado pelo Senhor poderemos vencer e permanecer
no seguimento de Jesus.

124 Bíblia Sagrada: Nova Versão Transformadora. São Paulo: Mundo Cristão, 2016, Romanos
15.4.

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E S BO Ç O 24

TEMA DO SERMÃO: O CRISTÃO COMO SAL DA TERRA


TEXTO BÍBLICO: “Vós sois o sal da terra; ora, se o sal vier a ser insípido,
como lhe restaurar o sabor? Para nada mais presta senão para, lançado fora, ser
pisado pelos homens” (Mateus 5.13, ARA)

INTRODUÇÃO

Jesus, como o Mestre Supremo que é, em sua maneira simples e singular de en-
sinar verdades profundas, em seu sermão proferido em um “uma das colinas próximas
de Cafarnaum” (segundo nota da BJ) faz uso de um elemento muito conhecido de seus
contemporâneos e também por nós – o sal. Jesus sempre fazia assim: usava elementos
da cultura popular, aquilo que o povo conhecia, para lhes trazer profundos ensinamen-
tos de peso e valor eterno. Vários foram os elementos do dia-a-dia que Ele usou em
seus ensinamentos: semente, trigo, joio, campo, denário, ovelha, etc. Aqui, em Mateus
5.13, temos um paralelo entre o cristão e o sal. Jesus é enfático: “Vós sois o sal da terra”.
Vejamos, pois, algumas aplicações dessa verdade para a vida do crente em Jesus.

1. PARALELO ENTRE O CRENTE E O SAL

Não pretendemos aqui fazer uma comparação indevida, entre um elemen-


to inanimado e a pessoalidade. Mas o fato é que o próprio Jesus está estabele-
cendo um ponto de comparação, inclusive muito interessante, do qual podemos
extrair preciosas lições. Craig S. Keener (2017) comenta que “[...] um discípulo
que não vive conforme sua identidade (5.3-12) tem o mesmo valor que o sal sem
sabor ou uma luz invisível”.125

125 KEENER, Craig S. Comentário histórico-cultural da Bíblia: Novo Testamento. Trad.: José
Gabriel Said. Thomas Neufeld de Lima. São Paulo: Vida Nova, 2017, p. 57.

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Esboços

Deve-se lembrar já de partida que o sal possuía várias aplicações na An-


tiguidade, mas nesta passagem em particular a aplicação refere-se ao seu uso
como tempero. Claro que consideraremos outras comparações e aplicações pos-
síveis, como se poderá ver a seguir, mas do ponto de vista exegético esse é seu
sentido.

2. APLICAÇÕES PRÁTICAS

Uma das maiores “pérolas” que podemos garimpar do trabalho hermenêu-


tico é a aplicação possível da mensagem bíblica para as nossas vidas. Por “apli-
cação” aqui entende-se a “transposição” da mensagem bíblica, do seu ambiente
histórico-social para o nosso contexto, mas respeitando-se esse ambiente históri-
co-social. Tomando todo cuidado possível, nesse sentido, caminhamos a seguir
colhendo algumas lições práticas para a vida cristã extraídas do ensino de Jesus
contido em Mateus 5.13.

2.1 O sal como agente de preservação


Um das características salientes do sal é o seu poder de preservar os ali-
mentos da deterioração (cf.: Fp 2.15; 2 Ts 2.1-7; Tg 1.21). Isto nos fala da con-
tribuição profunda da Igreja no sentido de preservar a sociedade de sua total
deterioração espiritual e moral.
A Igreja do Senhor é referida nas Escrituras como a “coluna e firmeza da
verdade” (1 Tm 3.15). Vemos pessoas afundarem na mais profunda degradação
moral, ética e social, em função de vícios, pecados horrendos e de todo tipo de
violação. A Igreja tem sido ao longo de séculos o ponto de restauração para pes-
soas que afundaram no pecado. A Igreja continua sendo o farol de Deus para uma
sociedade em trevas (cf.: Fp 2.15).

2.2 O sal como símbolo de concerto (ou aliança, pacto)


Em Números 18.19 encontramos a expressão “aliança perpétua de sal”,
na ARA, e “concerto perpétuo de sal” na ARC. Estas expressões parecem aludir à

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solenidade de uma aliança que era selada pela participação numa refeição com sal.
O uso do sal para tornar solene uma aliança sugeria simbolicamente as ideias de
continuidade e estabilidade, já que o sal preserva os alimentos da corrupção (cf.:
Lv 2.13 e 2Cr 13.5). O Dicionário Bíblico Wycliffe (2007) explica que “[...]
a expressão “Concerto de sal” provavelmente se refere a um antigo costume de
confirmar uma aliança através de uma refeição entre as partes. Essa prática ainda
perdura em nossos dias em meio aos árabes, que dizem: “Existe sal entre nós”,
após compartilharem uma refeição”.126

2.3 O sal como agente de tempero


O sal deve ser aplicado nos alimentos na medida certa. Não pode estar em
falta e nem pode ser excessivo. De igual modo, devem os crentes em Jesus “ter
sal em si mesmos” (Mc 9.50). Gálatas 5.22 nos fala do domínio próprio como
uma das noves virtudes que constituem o fruto do Espírito. Em Colossenses 4.6
podemos ler assim: “A vossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal,
para que saibais como vos convém responder a cada um” (ACF). Isso nos fala de
equilíbrio, de moderação, de sensatez e de sobriedade.

2.4 O sal: sem destaque, mas essencial


É interessante notar que a aplicação do sal nos alimentos é sempre muito
pequena. Apenas uma colher de sal é suficiente para temperar uma panela de
arroz, por exemplo. Quando vamos ao supermercado, o sal geralmente não fica
nas principais prateleiras, mas sempre nos fundos do estabelecimento e em luga-
res sem muito destaque. As vezes, é até difícil encontrá-lo! Todavia, ele não pode
faltar. É essencial. Dura coisa é comer uma comida com pouco sal e que o digam
as pessoas que precisam fazer dietas em que o sal tem de ser um pouco excluído.
Por aplicação, tomamos essa característica do sal para exemplificar a Igreja
do Senhor em sua missão no mundo. Nem sempre em grande número e ex-
pressividade, mas absolutamente necessária para a sociedade. E mais do que ter

126 PFEIFFER, Charles F. HOWARD, Vos F. REA, John. (ed.s.). Dicionário Bíblico Wycliffe.
2ª ed. Trad.: Degmar Ribas Júnior. Rio de Janeiro: CPAD, 2007, p.

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Esboços

visibilidade, status social e fama, melhor é ser importante na vida daqueles que
nos cercam.

CONCLUSÃO

Essa mensagem nos fala de vida com Deus, de vida ética, mais especifica-
mente, de uma vida conduzida pela ética cristã. Certa vez, em sala de aula, um
aluno disse algo que a princípio, me chocou, mas prosseguindo em ouvi-lo, me vi
constrangido a concordar com ele. Sua fala foi a seguinte: “Professor, chegará um
momento em que nós, evangélicos brasileiros, precisaremos evangelizar não mais
pela fala, mas pela ética”. Com efeito, concluímos consternados que a sociedade
não cristã já não se interessa mais pelo nosso discurso, pela nossa prédica, mas cre-
mos que nossa conduta de fato cristã continua causando um impacto positivo na
vida de outras pessoas que conosco convivem e nos observam. Que se cumpra em
nossas vidas o que Jesus disse: “[...] suas boas obras devem brilhar, para que todos
as vejam e louvem seu Pai, que está no céu”.127 A vida do cristão deve conduzir as
pessoas a Deus, a conhecê-lo e não chamar as atenções para si mesmo, mas para
Aquele que está no céu.

127 Bíblia Sagrada: Nova Versão Transformadora. São Paulo: Mundo Cristão, 2016, Mateus
5.16.

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E S BO Ç O 25

TEMA DO SERMÃO: O SENHOR NOS LEVA AO PORTO DESEJADO


TEXTO BÍBLICO: “Faz cessar a tormenta, e acalmam-se as ondas. Então,
se alegram com a bonança; e ele, assim, os leva ao porto desejado” (Salmo
107.29,30, ARC).

INTRODUÇÃO

Neste salmo, o 107, o salmista lança mão de quatro exemplos para expres-
sar o amor de Deus para com os seus em protegê-los nas diversas circunstâncias da
vida. Ele fala sobre: 1) fome e sede, o livramento de Deus para com aqueles que
andaram por desertos (vv. 4-9); 2) servidão e tirania, prisioneiros que foram li-
bertados (vv. 10-16); 3) enfermidade quase mortal e a cura de Deus (vv. 17-22)
e, 4) tempestades no mar e o livramento de Deus (vv. 23-32). É também digno
de nota que por quatro vezes o salmista declara que os servos de Deus clamaram a
Ele “[...] e ele os livrou das suas tribulações” (vv. 6,13,19,28). Ele já inicia o salmo
convidando os leitores a louvar ao Senhor, “[...] porque Ele é bom, porque a sua
benignidade é para sempre” (v. 1).

1. ELEMENTOS DO TEXTO

Esta mensagem está baseada nos versos 29 e 30, onde o salmista refere-se àque-
les que descem ao mar. Analisemos alguns termos correlatos e outros que são encon-
trados nestes versos, observando assim a aplicação deles para a nossa vida cristã.

1.1 Mar
O mar, para os hebreus dos tempos bíblicos, é um grande ajuntamento
de água, uma grande massa de água, como no caso do “mar da Galiléia”, que na
verdade não é um mar propriamente dito, mas sim um grande lago (Cf Mt 4.18).

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Esboços

A palavra “mar” na Bíblia também aparece em sentido figurado, como no caso de


Daniel 7.2, referindo-se às nações e em Isaías 57.20 para referir-se aos ímpios. No
sentido espiritual, representa o mundo. A nossa embarcação (a nossa vida) está
neste mar, mas não pode naufragar nele.
Diversos fatores envolvem uma navegação em alto mar. A primeira que po-
demos mencionar é a instabilidade devido ao movimento das águas. Outro fator é
a limitação da visão: se ao dia, o marinheiro só consegue enxergar água à sua volta e
nada mais; se à noite, ele não consegue enxergar quase nada, a não ser que haja lua
cheia. Ainda outro fator importante que precisa ser considerado é o perigo constan-
te, ou por que não dizer, os perigos constantes: naufrágio, perda de contato com o
continente, falha no motor da embarcação, temporais, dentre outros riscos.
É interessante pensar a nossa caminhada cristã em termos de uma navegação
que realizamos. Enfrentamos desafios, incertezas e atravessamos situações que esca-
pam à nossa administração pessoal. Nessas horas, é preciso confiar no Senhor, certos
de que Ele pode, conforme Sua soberana vontade, nos conduzir ao porto desejado.

1.2 Tormenta
Esta palavra que aparece no verso 29 é substituída pela palavra “tempes-
tade” na NTLH. O Dicionário Aurélio (2007) define-a assim: “Temporal vio-
lento. Desordem, agitação”.128 Em nossa vida muitas vezes nos vemos em meio
à tempestades, mas a nossa segurança está no fato de que Ele “[...] faz cessar a
tormenta” (v. 29, ARC). O salmista declarou ao Senhor: “Tu dominas o ímpeto
do mar; quando as suas ondas se levantam, tu as fazes aquietar” (Sl 89.9, ARC).
A tormenta nos agita, lançando-nos de um lado a outro. Assim como o navio
se vê pequeno diante da grandeza do mar em fúria, por vezes nos vemos também
impotentes diante de determinadas situações da vida, que nos arremessam para lá
e para cá, gerando em nós ansiedade e incertezas. Instabilidade profissional, percas
financeiras, adoecimento e morte, feridas ministeriais dentre outras dificuldades
nos fazem sentir como que estando à deriva. Lembremo-nos, contudo, que o nosso

128 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Aurélio: o dicionário da língua portuguesa.


Curitiba: Positivo, 2007, p. 467.

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Deus é Aquele a quem o salmista dirige as seguintes palavras: “Dominas a fúria do


mar; quando as suas ondas se levantam, tu as acalmas” (Sl 89.9, NAA).

2. SUPERANDO AS TEMPESTADES DA VIDA

Temos convivido, infelizmente, com um discurso triunfalista, que tomou


conta de nossos púlpitos. Ouvimos com frequência sermões que enaltecem o ego
humano, enfatizam o “eu” e prometem “mundos e fundos” aos ouvintes. Mas
o fato é que na vida enfrentamos tempestades e algumas bem turbulentas. Por
vezes, quase afundamos! Mas nossa alegria é saber que o Senhor, conforme sua
graciosa vontade, “nos leva ao porto desejado”.
A superação das tempestades da vida passa, sobretudo, pela fé depositada
em Deus, nosso socorro bem presente no dia da angústia (Sl 46.1). Como o sal-
mista, podemos dizer que Ele nos ouve (Sl 86.7). E não podemos deixar de con-
siderar que muito podemos crescer através das adversidades que nos acometem.

CONCLUSÃO

Algumas pessoas “afundam” durante as tempestades da existência, mas ou-


tras amadurecem, crescem e avançam. Já foi dito que os grandes navegadores de-
vem a sua fama aos temporais e vendavais. Pode parecer óbvio, mas diante de uma
grande tempestade, só nos restam duas alternativas: prosseguir navegando ou sim-
plesmente entregar a embarcação à fúria do mar e afundar. Com sensibilidade
podemos colher lições preciosas aplicáveis a nossa trajetória e que nos servirão no
sentido de nos ajudar a evitar seguir por rotas erradas. Através das tempestades
da vida, podemos aprender a evitar os mesmos erros passados. A vida cristã é um
processo contínuo de aprendizado, amadurecimento e desenvolvimento espiri-
tual. Infelizmente, há pessoas que ficam velhas mas não amadurecem. Isso passa
justamente pela maneira como nos conduzimos em nossa jornada existencial,
ante as adversidades. Que possamos, como Paulo ensina, “remir o tempo” (Ef
5.16) para sermos melhores a cada dia.

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Esboços

ESB O Ç O 26

TEMA DO SERMÃO: O TESTEMUNHO DA PEDRA


TEXTO BÍBLICO: “E eis que houve um grande terremoto; porque um anjo
do Senhor desceu do céu, chegou-se, removeu a pedra e assentou-se sobre ela”
(Mateus 28.2, ARA).

INTRODUÇÃO

A vida e ministério terreno do Senhor Jesus, como estão descritos nos qua-
tro livros do evangelho, são maravilhosos e surpreendentes. Os momentos que
antecederam a sua crucificação são muito significantes, marcantes e comoventes.
Mateus nos conta que Ele foi ungido em Betânia e que Judas Iscariotes, um dos
doze, aceitou traí-lo por apenas 30 moedas de prata.
Lucas relata as comoventes palavras de Jesus quando ceava com os doze;
Ele disse-lhes: “[...] Tenho desejado ansiosamente comer convosco esta Páscoa,
antes do meu sofrimento” (Lc 22.15). Após a ceia, foram para o monte das Oli-
veiras... Ah! O monte das Oliveiras, um local tão significativo para o Senhor Je-
sus, local onde Ele proferiu ensinamentos, onde esteve com seus discípulos, onde
mandou buscar um jumentinho e onde agonizou em oração no Getsêmani, foi
traído e preso. Não é de se admirar que Ele tenha escolhido esse lugar para pisar
quando regressar em glória como diz a profecia! (Zc 14.4).
Os momentos antecedentes à crucificação do Mestre foram intensos.
Os discípulos o abandonaram, Pedro o nega três vezes e Judas tira a própria
vida. É interessante observar que Pedro acompanha Jesus até a casa do sumo
sacerdote Caifás, onde Ele foi julgado pelos líderes religiosos, “para ver como
aquilo ia terminar” (como traduziu a Nova Tradução na Linguagem de Hoje
[Mt 26.58]), ou ainda, “para ver o fim” (como consta na Almeida Revista e
Atualizada). Assim, como iria terminar tudo aquilo? Certamente, os demais
discípulos também devem ter feito esta mesma indagação em seus corações.

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Seria então o fim para o Senhor Jesus? É com esta pergunta que chegaremos ao
testemunho da pedra.

1. SEM O MESTRE

Certamente o “mundo” dos discípulos havia desabado. Eles agora estavam


sós, sem o Mestre amado que tantas vezes os havia ensinado lições profundas
sobre o Reino de Deus e que tantos milagres realizara à sua vista. Ele agora jazia
morto. É razoável supor que os discípulos deviam estar com suas mentes agitadas
e corações apertados, visto que seu Guia não estava mais agora entre eles.
De igual modo é nossa vida, hoje, sem Ele. Por vezes nos vemos desampa-
rados, sós e sem direção. Não que o Senhor espere que nós sejamos totalmente
passivos. Longe disso, Ele nos chama sim à responsabilidade, a ação e a tomada
de decisões importantes. Mas agir sem a direção dele é totalmente imprudente.
Viver sem Ele significa uma vida que não é vida. A vida abundante, a vida plena
e que satisfaz, só Ele pode nos proporcionar (cf.: Jo 10.10).

2. COM O MESTRE

Os anjos, seres espirituais e sobrenaturais, aguardavam os discípulos junto


ao túmulo, onde Jesus já não mais estava, afinal, a morte não pôde retê-lo. No
versículo dois de Mateus 28, lemos o seguinte: “De repente, houve um grande
terremoto, pois um anjo do Senhor desceu do céu, rolou a pedra da entrada e
sentou-se sobre ela”.129 Aquela pedra que dias antes havia sido usada para selar
o túmulo do Senhor Jesus onde Ele havia sido posto morto, agora, parado-
xalmente, serve para indicar que Ele estava vivo! As mulheres, que chegaram
antes dos discípulos no túmulo, puderam ouvir as maravilhosas palavras do ser
angelical: “Não tenham medo”, disse ele. “Sei que vocês procuram Jesus, que foi
crucificado. Ele não está aqui! Ressuscitou, como tinha dito que aconteceria. Ve-

129 Bíblia Sagrada: Nova Versão Transformadora. São Paulo: Mundo Cristão, 2016, Mateus 28.2.

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nham, vejam onde seu corpo estava” (Mt 28.5,6).130 Era possível ver o local onde
o corpo do Mestre estivera porque a pedra havia sido removida e estava posta de
lado.

CONCLUSÃO

Este sermão nos leva a refletir sobre a importância desta doutrina da res-
surreição para o Cristianismo. Com efeito, trata-se de uma doutrina central para
a fé cristã. Em 1 Coríntios 15.17 lemos as seguintes palavras do apóstolo Paulo:
“E, se Cristo não ressuscitou, a fé que vocês têm é inútil, e vocês ainda estão em
seus pecados”.131 Jesus está vivo, é “[...] aquele que vive” e que esteve morto, mas
agora vive para todo o sempre! (Ap 1.18).

130 Bíblia Sagrada: Nova Versão Transformadora, 2016, Mateus 28.5,6.


131 Bíblia Sagrada: Nova Versão Transformadora, 2016, 1 Coríntios 15.17.

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enciclopédia teológica: numa perspectiva transdisciplinar

E S BO Ç O 27

TEMA DO SERMÃO: REMANDO CONTRA A MARÉ


TEXTO BÍBLICO: “E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-
vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a
boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Romanos 12.2, ARC).

INTRODUÇÃO

Vivemos dias em que toda sorte de imoralidade e davassidão vêm pre-


valecendo na sociedade pós-moderna. Não é preciso ser cristão evangélico para
notar isso. Qualquer pessoa com boa formação moral percebe isso. Valores éticos,
sociais e principalmente os bíblicos, estão sendo cada vez mais relegados pelo
sujeito pós-moderno. Nos tópicos a seguir consideraremos alguns elementos que
identificam a degradação da nossa sociedade e que respostas devemos oferecer
orientados pelas Escrituras.

1. ESVAZIAMENTO DO AMOR AO PRÓXIMO

Vemos ganhar força em nosso tempo o utilitarismo nas relações. As relações


mediadas por interesses econômicos, religiosos e sociais se colocam como objeto
de interesse para muitos. Curiosamente, as pessoas ao invés de evitarem esse tipo
de relação, muitas vezes as procuram. Ao longo dos anos, pude perceber que há
pessoas que não vivem, mas jogam o tempo todo. Sem dúvida, esse é um tipo de
comportamento adoecido e carente da graça de Deus.
Pessoas que pensam e agem assim não se interessam e não se importam
realmente com o próximo, mas precisamos lembrar que o cerne do Evangelho é
amar a Deus e ao próximo como a si mesmo (cf.: Mc 12.33). Ao lermos o Novo
Testamento, especialmente os evangelhos e as epístolas, encontramos ensinos pro-
fundos e perenes sobre fraternidade e comunhão entre irmãos.

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2. UTILITARISMO RELIGIOSO

Uma tendência geral no movimento evangélico, hoje, é a do utilitarismo


religioso. A palavra “utilitarismo” como usada neste esboço aponta para as rela-
ções religiosas que são construídas com base em interesses pessoais e não de modo
altruísta. Deus passa a ser encarado como uma fonte de benesses e não como o
Criador, digno de ser cultuado e adorado e a Quem devemos servir.
No texto de Habacuque 3 encontramos um “retrato” da verdadeira rela-
ção com Deus. Nos versículos 17 e 18 podemos ler assim: “Porque ainda que a
figueira não floresça, nem haja fruto na vide; ainda que decepcione o produto
da oliveira, e os campos não produzam mantimento; ainda que as ovelhas da
malhada sejam arrebatadas, e nos currais não haja gado; Todavia eu me alegrarei
no Senhor; exultarei no Deus da minha salvação” (ACF). Vemos aí uma religião
incondicional, que independe de circunstâncias favoráveis.
A esta altura deste esboço de sermão, precisamos refletir sobre a validade
do amor e de seu impacto sobre as pessoas. A prática do amor nos leva a servir
a Deus de modo livre, desapegado de interesses pessoais que, embora legítimos,
não devem servir para nos escravizar. Esse utilitarismo religioso tem sido um mal
também nas relações eclesiais, em nossas igrejas. Tornou-se muito comum man-
ter os relacionamentos enquanto eles se limitam à mesma Teologia, à mesma
liturgia, à mesma igreja local e à mesma confissão teológica. Essa é também
uma forma de utilitarismo religioso. Precisamos resgatar o amor ao próximo e
também a verdade de que o verdadeiro amor não estabelece condições para amar.

3. EMPOBRECIMENTO DA REFLEXÃO CRISTÃ

A sociedade brasileira, numa tendência geral, experiencia um empobre-


cimento cultural. Nossas formas de lazer e nossas escolhas televisivas e musicais
são uma boa evidência desse fato. No contexto eclesial isto também pode ser
percebido. A capacidade das pessoas refletirem sobre os conteúdos de fé que rece-
bem em suas comunidades eclesiais é muito pobre e, por vezes, vemos em curso

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um processo desumanizador em nome da ortodoxia, da fé e de “dar nomes aos


pecados”. A fé cristã precisa ser assentida não apenas pelas vias da emoção, mas
da criticidade intelectual. Uma fé vivida sem ser entendida nada mais é que
fidelidade cega, sem sentido e desprovida de coerência.
Esse empobrecimento da reflexão cristã pode ser percebido em nossas ho-
milias e “discussões teológicas”. Tornou-se comum no ambiente cristão pregações
carregadas de clichês, frases de efeito e imposições dogmáticas. Em sua grande
maioria, esses conteúdos estão absurdamente desconexos da vida real das pessoas
e do que elas enfrentam em seu cotidiano. Nessa hora, é preciso voltar ao exemplo
de Jesus, que ensinava na vida, à partir da vida e para a vida.

CONCLUSÃO

O texto que escolhemos como base deste sermão é um chamado à reflexão,


ao ato de pensar. O Cristianismo, desde sua origem, sempre se mostrou muito
versátil no sentido de adaptar sua mensagem ao contexto que envolvia. Não por
acaso seu crescimento foi vertiginoso. É necessário à Igreja na contemporanei-
dade manter-se firme ante os desafios éticos que se colocam diante dela, mas na
mesma medida, não isolar-se da sociedade. É possível anunciar ao mundo nossa
mensagem de salvação em Cristo Jesus, sem prejuízo para nossos conteúdos de
fé, na mesma medida em que contextualizamos nossa comunicação tornando-a
assim eficiente.

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ESB O Ç O 28

TEMA DO SERMÃO: SUBSTITUIÇÕES INDEVIDAS NO


MOVIMENTO PENTECOSTAL
TEXTO BÍBLICO: “E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na
comunhão, no partir do pão e nas orações. Em cada alma havia temor; e muitos
prodígios e sinais eram feitos por meio dos apóstolos. Todos os que criam
estavam juntos e tinham tudo em comum. Vendiam as suas propriedades e bens,
distribuindo o produto entre todos, à medida que alguém tinha necessidade.
Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa
e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração, louvando a
Deus e contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso, o Senhor lhes
acrescentava, dia a dia, os que iam sendo salvos” (ATOS 2.42-47, NAA).

INTRODUÇÃO

Este, sem dúvida, é um daqueles sermões difíceis de serem transmitidos.


Uma mensagem “pesada”, mas necessária. No livro de Atos dos Apóstolos encon-
tramos referenciais para nós, hoje, no século 21, e não um padrão de perfeição,
visto que nem a Igreja no primeiro século estava isenta de falhas e imperfeições.
Mesmo assim, em Atos podemos perceber um modus vivendi que deve servir de
inspiração para nós. Ali temos representado um perfil de Cristianismo a ser imi-
tado, a ser experienciado por nós.
O Movimento Pentecostal cresceu muito no Brasil e no mundo. A partir
dos eventos ocorridos em Azusa Street, em Los Angeles (EUA), em 1906, as igre-
jas pentecostais espalharam-se pelo Brasil e por outros países, que foram alcança-
dos pela chama pentecostal.132 Hoje, muitos movimentos são identificados como
“pentecostais”, mas é preciso lembrar que nem todos os pentecostais concordam

132 Confira o artigo Movimento Pentecostal à Teologia, Contribuições do.

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enciclopédia teológica: numa perspectiva transdisciplinar

com tudo que se apresenta como “pentecostal”.133 O Pentecostalismo Clássico


preza por valores cristãos bem definidos, valoriza as Escrituras e a experiência com
Deus e a ordem no culto ao Senhor.
Infelizmente, ante essa confusão em torno da experiência pentecostal ge-
nuína, muitos valores vem sendo deixados de lado e tem ocorrido nas igrejas pen-
tecostais históricas o que chamo, aqui neste esboço, de substituições indevidas
no Movimento Pentecostal. Consideremos elas, a seguir, e também as respostas
que devem ser dadas tendo a Palavra de Deus como base.

1. OBSESSÃO PELO GRANDE

Existe uma busca desenfreada pelo que é grande, pelo que chama a aten-
ção, pelo que é dotado de muitos recursos. O evangélico brasileiro acostumou-se
a conviver com líderes que se comprazem em mostrar estruturas e nem tanto
programas de formação humana e de assistência social. Avalia-se a qualidade de
uma igreja pelo tamanho do prédio que ela tem e quanto maior for o número de
congregações, maior será o ministério. Noutras palavras, o conceito de “maior”
foi reduzido a números.
Jesus, precisamos lembrar, nasceu numa manjedoura, foi criado por pais
paupérrimos e falou a poucas pessoas, por vezes. O Reino de Deus não opera com
a lógica do mercado e para Deus, o maior pode ser o menor, e o menor o maior;
o primeiro poderá ser o último, e o último o primeiro.

2. OBSESSÃO POR FAMA E VISIBILIDADE

Estabeleceu-se no Movimento Pentecostal uma verdadeira obsessão por


fama e visibilidade, o que tem levado nossos púlpitos a serem usados mais para
exibição humana do que para a proclamação da Palavra de Deus. Essa substitui-
ção indevida ocorre também quando preferimos os famosos em lugar dos im-

133 Confira o artigo Pentecostalismo, Uma defesa do.

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portantes. Tornou-se comum pagar caro para trazer em nossas igrejas cantores e
pregadores que cobram altos cachês, enquanto temos entre nós pessoas que por
anos se dedicam à igreja local, produzindo frutos e cujo caráter conhecemos. To-
davia, esse interesse em trazer para nosso meio os “famosos” só evidencia que nos
tornamos obsessivos por fama e por visibilidade. Isto tem contribuído também
para o que pode ser chamado de “estrelismo na casa de Deus”.

3. A POMPA EM LUGAR DA SIMPLICIDADE TÍPICA DO


EVANGELHO

Criticamos tanto o Catolicismo por sua pompa e ostentação, mas infeliz-


mente, neste quesito, nosso pecado vem se tornando pior que o dos católicos. Aqui,
são pertinentes as palavras do pastor protestante francês Laurent Gagnebin (1997):

O templo e o culto protestantes não têm de se vestir de ornamentos


ilusórios e supérfluos; com efeito, a sua nudez remete para a glória
somente de Deus. A precariedade protestante encontra então no
provisório uma parte da sua encarnação. Os templos não foram fei-
tos para durar [...]. Num culto demasiado brilhante, o protestante
fareja qualquer coisa de adulterado e, sobretudo, uma vaidade sem-
pre possível. “A Deus somente a glória”. No espírito protestante, a
riqueza da Igreja – e das igrejas – é excessiva. Não manifestará ela
uma infidelidade chocante face à cruz de Jesus?134

As palavras – lancinantes! – de Gagnebin podem parecer estranhas para


alguns pentecostais, mas são o reflexo de um pensamento genuinamente cristão.
A simplicidade deve ser uma marca do crente em Jesus e do culto verdadeiramen-
te pentecostal. Infelizmente, muitos cultos e outros eventos pentecostais mais se
parecem com shows do que com cultos, de fato.

134 GAGNEBIN, Laurent. O Protestantismo. Lisboa, Portugal: Biblioteca Básica de Ciência e


Cultura, Instituto Piaget, 1997, p. 89.

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4. PERFORMANCE EM LUGAR DA VOCAÇÃO

Isto tem dado lugar ao mercenarismo no contexto cristão. Nota-se uma


preocupação excessiva em cumprir um papel mais do que comunicar o evangelho.
Nossos púlpitos foram tomados por atores e os despenseiros do evangelho perde-
ram lugar. Temos convivido com personagens em nossos cultos, cuja alma não se
pode “ver” em suas prédicas. E nessa esteira, nossas crianças estão sofrendo um
sério problema: comportam-se como adultos em decorrência de influência adulta
(adultização precoce de crianças). Pregadores e cantores mirins com agenda de
“gente grande”! Um assunto sério e que precisa ser seriamente revisto por nós
(Cf.: 1 Co 13.11).

5. MENSAGEM ANTROPOCÊNTRICA EM LUGAR DA


MENSAGEM CRISTOCÊNTRICA

Essa substituição indevida tem dado lugar ao triunfalismo religioso, que


substitui a mensagem da cruz de Cristo por uma mensagem que promete vitória
e vitória. Mensagens de êxito pessoal são apresentadas ao povo sem a exposição
bíblica de que é preciso haver compromisso com Deus e de que a vida cristã
implica também em sofrimento. E ainda: estamos presenciando uma ênfase exa-
gerada em mensagens de vitória substituindo mensagens evangelísticas durante
nossos cultos. Infelizmente, já não vemos mais “evangelistas” pregando a partir
de nossos púlpitos.

6. APARENTE ESPIRITUALIDADE EM LUGAR DO


CARÁTER

Pessoas há que aparentam serem homens e mulheres de Deus, mas não


expressam em seu viver diário um compromisso real e genuíno com o Deus da
Palavra e com a Palavra de Deus. Basta proferirem algumas palavras em línguas
estranhas e os crentes concluem que essas pessoas são realmente espirituais e tem

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uma vida profunda com Deus, quando na verdade, conforme ensinou o Mestre
amado, é “[...] pelo fruto [que] se conhece a árvore” (Mt 12.33, NAA135).

7. HERESIAS E MODISMOS TEOLÓGICOS EM LUGAR DA


REFLEXÃO BÍBLICA SÉRIA

O determinismo religioso percebido em expressões como “eu determino”,


“eu abençôo”, dentre outras similares, tornou-se uma tendência em igrejas pen-
tecostais. Mas esse modismo teológico não é a única ameaça à integridade dou-
trinária de nossas igrejas. Há outras, que precisamos conhecer e responder com a
mensagem e a vivência simples do evangelho.
A Teologia da Prosperidade é outra dessas ameaças constantes em nosso
contexto. Mesmo que denominações pentecostais históricas, como a Assembleia
de Deus, não aceitem oficialmente a Teologia da Prosperidade136, ela está pre-
sente no momento do ofertório. Essa “mecânica” tão comum em nossos cultos
que ensina que quanto mais ofertamos mais recebemos de Deus em troca, nada
mais é que o reflexo da presença da Teologia da Prosperidade entre nós. Mas o
ensino bíblico sobre contribuição financeira não se baseia nessa “mecânica”, mas
sim no princípio de liberalidade e do amor ao próximo. Não tem nada que ver
com esse utilitarismo atrelado ao ato de ofertar, tão fomentado pelos teólogos da
prosperidade.

8. ENTRETENIMENTO MUSICAL EM LUGAR DA


ADORAÇÃO

Nossos templos, hoje, estão equipados com o melhor dos equipamentos de


som e instrumentos musicais (e isso deve de fato ser explorado pelo povo evangé-

135 Grifo meu.


136 Diferentemente da Igreja Universal do Reino de Deus, que assume abertamente a Teologia da
Prosperidade.

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lico), mas nem sempre vemos isso ser usado para a glória de Deus. Pelo contrário,
temos visto isso ser usado para a promoção de pessoas no meio evangélico. Desse
modo, disputa-se uma oportunidade para cantar, mas com a motivação de ser
promovido ou promovida. Música profissional não deve ser confundida com ado-
ração a Deus. Podemos sim ter entre nós adoradores que são músicos profissio-
nais, o problema é quando temos músicos profissionais que não são adoradores...
Pensemos nisto.

9. IRREVERÊNCIA E APATIA ESPIRITUAL EM LUGAR DA


REVERÊNCIA E TEMOR NO CULTO

Essa substituição ocorre quando o culto se torna mero encontro social e


religioso. Ocorre também quando o culto se torna enfadonho e cansativo para
nós, como acontecia nos dias do profeta Malaquias: “Eis aqui, que canseira!”
(Ml 1.13a). Tornou-se comum para muitos pentecostais a ideia – totalmente
equivocada – de que um culto para ser verdadeiramente pentecostal precisa
ser marcado por gritarias, loucuras comportamentais, gestos insanos e outras
bizarrices que temos presenciado nos últimos anos e que recebe o nome de
“culto pentecostal”. Mas um pentecostal clássico, naturalmente, estranha essa
ideia. Nosso entendimento é que quanto mais reverente o culto pentecostal for,
quanto mais solene ele se mostrar, mais propício será para a ação poderosa do
Espírito Santo. Particularmente, fui educado a tratar o momento do culto pen-
tecostal seguindo alguns princípios que compartilho a seguir: chegar antes do
culto começar; em chegando mais cedo, entrar ao templo e orar pelo culto137;
não conversar durante o culto; ouvir atentamente a exposição bíblica; não ficar
andando durante o culto e evitar frequentar o banheiro do templo; cantar con-
juntamente com a congregação, assim como orar também de modo racional e
equilibrado, dentre outros princípios.

137 Orar mesmo e não apenas cumprir gestos mecânicos como ajoelhar e sequer saber o que se
está falando.

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CONCLUSÃO

A Igreja de Cristo deve ouvir Sua poderosa voz. Deve seguir nos seus pas-
sos, fazendo Sua vontade. É triste quando absorvemos os padrões de comporta-
mento de uma era secularizada e que não conhece a Deus. Devemos lembrar do
ensino de Jesus em Mateus 5.13 e vivê-lo. Só assim poderemos de fato resgatar
valores fundamentais ao genuíno Pentecostalismo, preservando sua pureza e ale-
gria de vivê-lo.

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E S BO Ç O 29

TEMA DO SERMÃO: UM LUGAR JUNTO A DEUS


TEXTO BÍBLICO: “Eis aqui um lugar junto a mim” (Êxodo 33.21, ARA).

INTRODUÇÃO

O contexto histórico em que se situa esta passagem bíblica (Êx 33.21) é, sem
dúvida alguma, um dos mais tristes da História bíblica. Moisés sobe ao Horebe para
receber de Deus a Lei e após 40 dias (Êx 24.18) é então avisado por Deus que o povo
se encontrava em grave pecado contra Ele (Êx 32.7,8). Observemos então a sucessão
de eventos que ocorrem nesta ocasião, conforme indica o teólogo pentecostal Donald
Stamps (2005): “1) Deus queria destruir o povo (32.10). A intercessão de Moisés
(32.11-13) proveu uma base para Deus mudar a sua intenção e não cumprir sua
advertência de tal destruição (32.14). 2) Deus então resolveu deixar o povo entrar em
Canaã, mas conduzido somente por Moisés e um anjo (32.34). Firme e claramente,
Deus afirmou que Ele mesmo não iria com eles (33.3). 3) Depois de Moisés orar
mais (33.12,13), o Senhor mudou o seu plano, atendeu à petição do líder de Israel e
concordou que a sua presença acompanharia os israelitas (vv. 14-17)”.138
Tendo recebido de Deus esta resposta favorável e misericordiosa, ou seja, de que
Ele mesmo estaria presente entre o povo para conduzi-los, Moisés agora roga à Ele que
lhe mostrasse a sua glória. Encontramos preciosas verdades espirituais à respeito do nos-
so relacionamento com Deus e da Pessoa de Cristo, como podemos ver a seguir.

1. EIS AQUI UM LUGAR JUNTO A MIM

No estudo desta passagem observamos algumas verdades maravilhosas que


nos trazem edificação espiritual. Não estamos, de modo algum alegorizando a

138 STAMPS, Donald. Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2005, p. 171.

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interpretação desta passagem, apenas procurando extrair uma aplicação possível


para as nossas vidas.

1.1 Moisés desejava conhecer mais a Deus


Isto fica patente na sua petição: “Rogo-te que me mostres a tua glória” (v.
19). Mesmo sendo o homem com quem o Senhor falava face a face (Êx 33.11),
Moisés ainda queria mais de Deus, desejava conhecê-lo ainda mais. Que lição
espiritual isso nos traz! Quantos vezes paramos na nossa vida de busca ao Senhor
por razões diversas. Prossigamos sempre buscando ao Senhor, avançando para o
Alvo sem olhar para trás (Fp 3.12-14; Lc 9.62).

1.2 “Rogo-te” (Êxodo 33.18).


No hebraico é ‫ ))אנ‬na’, uma partícula primitiva de incitamento e súplica,
que pode ser traduzida como: “Eu rogo”, “agora”, ou “então”. No grego é hosanna
(ωσαννα), uma palavra de origem hebraica que significa “1) hosana; 2) sê pro-
pício; salva!”. A raiz primitiva desta palavra no hebraico é: salvar, ser salvo, ser
libertado; ser liberado, ser salvo, ser libertado; ser salvo (em batalha), ser vitorioso;
salvar, libertar; livrar de problemas morais; dar vitória a.
Quanta riqueza encerrada em uma só palavra, num contexto específico.
Esta palavra aponta para a petição sincera de um servo fiel que buscava, num
momento de dificuldade, ser amparado pela presença de Deus. Quando nos hu-
milhamos ante a graça e a glória de Deus, somos alcançados por seu favor. Pedro
escreve: “Humilhai-vos, pois, debaixo da potente mão de Deus, para que a seu
tempo vos exalte” (1 Pe 5.6). Deus abate os soberbos e exalta os humildes.

2. O RESGATE DA DEVOÇÃO

Nosso tempo presencia uma aceleração absurda em todos os aspectos. Po-


demos dizer que existe uma espécie de “idolatria da rapidez”, em que tudo pre-
cisa ser “para ontem”. Os processos humanos também foram acelerados e hoje
percebemos os reflexos disso, inclusive no contexto eclesial. As pessoas anseiam

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por cargos e atividades ministeriais sem necessariamente preocuparem-se com


qualidade, amadurecimento e preparo para esses cargos. E nessa esteira, a devoção
também vem sofrendo.
O termo “devoção”, segundo J. Castellano (2003), é “[...] derivado da
raiz latina voveo, devoveo, exprime na latinidade clássica a atitude de consagração,
oblação, sacrifício com que se oferece uma homenagem à divindade para torná-la
propícia”.139 A palavra “devoção” aponta para a comunhão do cristão com Deus,
que se dá através de práticas e ritos, que ele cultiva habitualmente no sentido de
preservar sua relação com o Senhor. Envolve disciplinas da vida cristã como a
oração, a adoração, o louvor, a contrição, ação de graças e o jejum.
A vida cristã só permanece de fato quando o cristão cultiva a sua relação
com Deus. Infelizmente, nosso tempo com sua obsessão por rapidez e pela pressa,
não é propício ao cultivo da devoção. Para estar a sós com Deus, é preciso parar
a agenda pessoal e dedicar tempo a Ele. Esse esforço, no entanto, é gratificante
e compensador. Não que estejamos fomentando aqui uma relação utilitária com
Deus, mas é fato que Ele é gracioso e a comunhão com Ele é prazerosa, trazendo
assim lenitivo para nossa alma, e também se colocando como uma fonte de reno-
vação espiritual constante, além de ser força propulsora para seguir em frente nas
horas de dificuldade.

CONCLUSÃO

A Igreja brasileira enfrenta um grande desafio, que precisa com ur-


gência ser superado: o desafio do esvaziamento da devoção no culto a Deus.
Conquanto tenhamos abordado aqui a necessidade do cultivo da devoção pessoal,
a prática do culto cristão, junto à congregação local, é fator de grande influência
na devoção particular do crente. Infelizmente, neste sentido, o atual Cristianismo
tem oferecido ninharias de seus púlpitos aos ouvintes. Clichês, “chaves de con-
quista”, frases de efeito prontas e supervalorização do emocionalismo no culto são

139 CASTELLANO, J. Devoção in: LEITE, Silvana Cobucci. MARCIONILO, Marcos. et


al. Lexicon: Dicionário Teológico enciclopédico. São Paulo, SP: Loyola, 2003, p. 190.

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Esboços

elementos que se instalaram na pregação pentecostal, desfigurando-a de seu real


sentido bíblico, teológico e carismático à luz da Bíblia.
E o que dizer da música cristã, atualmente? Infelizmente, convivemos com
louvores à fama, ao sucesso, ao ego e a vaidade humana. É preciso resgatar o sen-
tido do louvor a Deus, que deve nos elevar a Deus e nos falar de seu amor, de sua
graça, do sacrifício de Jesus e nos mover a uma adoração profunda. É por esses e
outros fatores que concluímos ser necessário resgatar a devoção a Deus em nosso
tempo, tanto no aspecto individual como no aspecto coletivo.

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E S BO Ç O 30

TEMA DO SERMÃO: REFUTANDO OS FALSOS EVANGELHOS À LUZ


DA BÍBLIA
TEXTO BÍBLICO: “Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos pregasse
outro evangelho além do que já vos pregamos, seja anátema” (Gálatas 1.8).

INTRODUÇÃO

É preciso considerar, já de partida, que a própria Bíblia pressupõe a exis-


tência de pseudo-evangelhos. “Falsos evangelhos” não é uma expressão criada pela
Igreja sem uma base bíblica de fato. Em Gálatas 1.8 pode-se ler: “Mas ainda que
nós ou um anjo do céu pregue um evangelho diferente daquele que lhes prega-
mos, que seja amaldiçoado!”140 Note que o próprio apóstolo Paulo se refere a “um
evangelho diferente”, ou “outro evangelho”, conforme aparece noutras versões da
Bíblia, dando a entender que falsos ensinos, apresentados como “evangelho”, já
ameaçavam a integridade da doutrina por ele pregada e vivida.
Essa preocupação com a pureza doutrinária não é algo novo e, portanto,
inventada pela Igreja contemporânea. Longe disto, já no Novo Testamento temos
manifesta esta legítima apreensão face ao trabalho realizado pelos falsos mestres
nos dias da Igreja primitiva. Tanto Jesus advertiu quanto aos falsos profetas (Mt
7.15), como também os apóstolos quanto aos falsos doutores (cf.: 2 Pe 2.1). Paulo
se refere à entrada de “lobos ferozes”, por ocasião de sua saída da igreja em Éfeso
(cf.: At 20.29). Esse cuidado e cautela em relação aos falsos mestres, com seus
falsos ensinos, é realmente fundamental. Preocupar-se com a pureza doutrinária
é essencial para a saúde de uma igreja local, pois certamente as convicções dou-
trinárias de uma ekklesia determinarão sua conduta, sua maneira de se relacionar
com o próximo, com a sociedade e com Deus acima de tudo.

140 Conforme a NVI (Nova Versão Internacional). Versão adotada para este resumo estendido,
salvo indicação em contrário.

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1. O QUE É O EVANGELHO

Mais do que conhecer os falsos ensinos da atualidade, que desviam as pes-


soas da verdadeira vida cristã, é necessário compreender o Evangelho à luz das
Escrituras. Essa compreensão é fundamental para o cristão, pois nossa identidade
enquanto servos e servas de Deus passa diretamente pela maneira como entende-
mos o Evangelho.
O termo “evangelho” significa basicamente “boa nova”. No Dicionário
Bíblico Wycliffe (2007) lemos que a palavra “evangelho” é “[...] usada somente
no Novo Testamento para denotar a mensagem de Cristo. O termo grego evan-
gelion, significando “boas novas”, tornou-se um termo técnico para a mensagem
essencial da salvação”.141
O Evangelho no Novo Testamento aparece também associado ao concei-
to de proclamação. A obra de Cristo precisa ser anunciada aos pecadores gerando
assim arrependimento e, por conseguinte, genuína conversão em Cristo. “Como,
pois, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem não
ouviram falar? E como ouvirão, se não houver quem pregue?” (Romanos 10.14).
Paulo manifesta seu desejo de “anunciar o evangelho” aos irmãos de Roma (Rm
1.15) e afirma estar constrangido na tarefa de comunicar a mensagem de boas no-
vas: “Ai de mim se não pregar o evangelho!” (1 Co 9.16). Em Gálatas 1.11 ele é
categórico ao afirmar que o evangelho que anunciava era de origem divina: “Irmãos,
quero que saibam que o evangelho por mim anunciado não é de origem humana”.
Em Romanos 1.16 lemos que o Evangelho “é o poder de Deus para a
salvação de todo aquele que crê”. Longe de ter qualquer relação com a ideia de
dinamite, como pressupõem alguns pregadores atualmente, o Evangelho de Cris-
to está mais para construção, edificação e erguimento do que para explosão e
implosão. É neste contexto que Paulo está escrevendo, comentando sobre o poder
regenerador do Evangelho para judeus e gentios.
A humanidade, inelutavelmente, acha-se perdida, e somente o Evangelho
pode oferecer esperança de paz e salvação em Cristo. O Evangelho transforma o

141 PFEIFFER. HOWARD. REA, 2007, p. 711.

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homem na integralidade do seu ser; produz santidade e gera esperança na vinda


do Senhor e Salvador Jesus Cristo. Ele deve ser anunciado a todos os povos, indis-
tintamente, rompendo barreiras étnicas, raciais, políticas e sociais. No Evangelho
de Cristo, “não há judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher; pois
todos são um em Cristo Jesus” (Gl 3.28). No tempo do Império Romano, mais
especificamente no primeiro século, os povos que estavam para fora dos limites
do Império eram considerados bárbaros e, portanto, separados dos romanos. Na
nova vida trazida pelo Evangelho, contudo, “já não há diferença entre grego e
judeu, circunciso e incircunciso, bárbaro e cita, escravo e livre, mas Cristo é tudo
e está em todos” (Cl 3.11). Em Cristo, as barreiras caíram, “pois ele é a nossa paz,
o qual de ambos fez um e destruiu a barreira, o muro de inimizade” (Ef 2.14).

2. FALSOS EVANGELHOS DA ATUALIDADE

Um dos maiores desafios para a Igreja brasileira é perceber o quanto esses


pseudo-evangelhos entraram, em maior ou menor grau, em igrejas dantes conser-
vadores e contaminaram sua pregação, ensino e liturgia. Uma igreja herdeira do
Pentecostalismo Clássico, por exemplo, pode oficialmente rejeitar a Teologia da
Prosperidade, mas no momento da oferta ouvir-se o dirigente do culto dizer algo
como “Oferte que Deus lhe dará em dobro”. A “mecânica” de funcionamento da
Teologia da Prosperidade acaba estando presente, nessa fala e no pensamento das
pessoas que se aproximam com sua oferta, ainda que discretamente.
E o que dizer do misticismo religioso que desvia o olhar das pessoas do
Cristo vivo para objetos inanimados que nada são e nada podem de fato fazer
por elas? Misticismo que produz uma espécie de “fé na fé” e não fé em Deus,
conforme ensinou Jesus (cf.: Mc 11.22). Devemos lembrar, inclusive, que a ex-
periência pentecostal (ou carismática) é bem diferente desse misticismo religioso
espúrio que invadiu as igrejas de matriz pentecostal, especialmente as Assembleias
de Deus, infelizmente.
Lamentavelmente, essas e outras teologias espúrias vem ganhando espa-
ço em igrejas genuinamente evangélicas, historicamente comprometidas com a

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proclamação da Palavra. Louvamos a Deus, contudo, pelo esforço manifesto de


homens e mulheres que se dedicam para manter a integridade da Palavra de Deus,
seja pela pregação, seja pelo ensino, seja pela escrita. Esse esforço precisa conti-
nuar, de modo a gerar crentes saudáveis, amadurecidos na fé e no conhecimento
de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. O imperativo “crescei” continua valen-
do para nós hoje: “Antes crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor
e Salvador Jesus Cristo. A ele seja dada a glória, assim agora, como até o dia da
eternidade” (2 Pe 3.18, ARA).

2.1 A Teologia da Prosperidade e a Confissão Positiva


Ricardo Mariano parece classificar a Teologia da Prosperidade como
sendo a mesma coisa que Confissão Positiva e ainda, Movimento da Fé. Se-
riam três nomenclaturas para um mesmo movimento que inicia nos Estados
Unidos na década de 1940 vindo a ser reconhecido como movimento dou-
trinário somente nos anos 1970.142 O referido autor chama a atenção para o
fato de que a Teologia da Prosperidade é resultado de uma mescla de conceitos
oriundos do espiritismo, do ocultismo e de outros movimentos, incluindo “[...]
práticas esotéricas e paramédicas, que deixaram marcas indeléveis neste movi-
mento religioso e teológico”.
A Confissão Positiva ganhou muita notoriedade no Brasil, especialmente
através dos programas do Missionário R. R. Soares, cuja pregação é fortemente
influenciada por essa teologia. Além disso, também a editora da denominação por
ele presidida é responsável pela publicação de diversas obras de Kenneth Hagin
(1917-2003)143, grande expoente da Confissão Positiva.
Isael de Araújo (2007) comenta que a Teologia da Confissão Positiva usa
uma espécie de “fórmula da fé”: “1) diga a coisa; 2) faça a coisa; 3) receba a coisa

142 MARIANO, Ricardo. Os neopentecostais e a Teologia da Prosperidade. Disponível em: <http://


lw1346176676503d038.hospedagemdesites.ws/v1/files/uploads/contents/78/20080626_os_ne-
opentecostais.pdf> Acesso em 30 mai. 2017.
143 Várias obras estão disponíveis no site da Graça Editorial. Disponível em: <http://www.graca-
editorial.com.br/site/?s=Hagin&cat=30> Acesso em 31 mai. 2017.

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e, 4) conte a coisa”.144 Deus é reconhecido como o realizador do milagre, mas é o


crente que precisa “exercer o seu direito”, conforme explica R. R. Soares:

A ideia generalizada no seio da Igreja é que é Deus quem faz os


milagres. O que é completamente verdadeiro. Mas, ao estudarmos
mais profundamente este assunto, veremos que, de fato, Deus já fez
a parte Dele; agora somos nós que temos de fazer a nossa. Como?
Exercendo os nossos direitos. Se não fizermos a nossa parte, o Se-
nhor não a fará por nós. Por isso, é muito importante conhecer os
nossos direitos.145

O grande problema deste pseudo-evangelho que é a Teologia da Pros-


peridade é que ele gera nas pessoas um cristianismo utilitário. Leva as pessoas
a se aproximarem de Deus com vistas a obterem coisas, favores, bênçãos e be-
nesses pessoais. Não há senso de serviço a ser prestado a Deus e ao próximo.
Estabelece-se uma relação que é movida pelo interesse pessoal. A Teologia da
Prosperidade pode ser assim definida como uma “teologia do Deus garçom”,
como que estando com uma bandeja na mão pronto para atender ao chamado
dos cristãos.
A Confissão Positiva, com o seu determinismo, coloca Deus também
numa condição de subserviência ao cristão, por mais chocante que tal ideia possa
parecer. Uma expressão chave usada com frequência pelos adeptos do movimento
é “eu determino”, dando a entender que sua palavra tem algum tipo de poder
espiritual para “determinar” que coisas aconteçam em favor do cristão. Por mais
atraente que essa ideia possa ser, ela simplesmente não corresponde à realidade da
vida cristã e muito menos ao ensino presente na Bíblia.

144 ARAÚJO, Isael de. Dicionário do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007,
p. 617.
145 SOARES, R. R. Curso fé. 12 lições com perguntas e respostas. Rio de Janeiro: Graça Edito-
rial, 2001 in: NASCIMENTO, André dos Santos Falcão. Confissão positiva: traços do dis-
curso de Kenneth Hagin em pregadores midiáticos contemporâneos. Revista Pós-Escrito.
nº 5., jan/ago. Rio de Janeiro, 2012, p. 141.

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Tenho percebido o quanto esse falso evangelho influenciou nossa querida


Assembleia de Deus e boa parte da Igreja Evangélica Brasileira. A Teologia da
Prosperidade e da Confissão Positiva apresentam uma vida cristã sempre triun-
fante, quase que isenta de adversidades e limitações, que na verdade são típicas da
existência humana. Vemos o reflexo dela até na maneira como nos cumprimen-
tamos hoje em dia: “É só vitória?”, perguntam os crentes ao saudarem-se uns aos
outros. Mas o fato é que nossa vida não é feita só de vitórias. Amargamos derrotas
também. E para pegar emprestada uma ideia muito sedimentada na Pedagogia,
errar é parte do processo de aprendizagem.
Seria diferente na vida cristã? Ter o pensamento orientado por esse triun-
falismo religioso é ignorar o apelo do Evangelho: “De fato, todos os que desejam
viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos” (2 Tm 3.12). Do próprio
Cristo ouvimos que “neste mundo vocês terão aflições” (Jo 16.33). Mesmo sal-
vos, esperançosos do Céu, estamos sim sujeitos às doenças, tragédias, a conviver
com dilemas insolúveis (que não serão solucionados por Deus!), percas dolorosas,
dentre outros tipos de sofrimentos que marcam nossa peregrinação. Nossa dife-
rença em relação ao mundo é que nós não somos como “os outros que não têm
esperança” (1 Ts 4.13) e “sem Deus no mundo” (Ef 2.12).

2.2 O misticismo religioso


Outro grande desafio para nosso tempo é o do misticismo religioso. A
palavra “misticismo” no grego é mústes e significa “iniciado nos mistérios”.146 Tem
uma definição ampla e pode-se classificar o misticismo em diversos tipos. O que
se alude aqui, no entanto, no presente esboço, é o misticismo visto na Igreja
Brasileira que inclui objetos e práticas bizarras para que se obtenha algum tipo
de favor ou bênção de Deus. Quanto mais negligente uma igreja local for no que
diz respeito ao ensino saudável das Escrituras, mais propensa ela ficará à inserção
de objetos, utensílios e rituais estranhos ao verdadeiro culto a Deus. Há igrejas
que usam sal grosso, “manto ungido”, “óleo ungido”, água do rio Jordão (nem

146 CHAMPLIN, Russell N. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. vol. 4. São Paulo:
Candeia, 1991, p. 313.

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sempre!), unção em peças de roupas, piscinas com águas, etc. Coisas impensáveis
estão sendo feitas atualmente, algumas irracionais e ridículas, em nome de uma
pseudo-espiritualidade, e em nome de um falso fervor espiritual. Confunde-se
poder pentecostal com bizarrices e sandices. São pertinentes aqui as palavras do
Pastor Ciro Sanchez a respeito do verdadeiro culto pentecostal:

[...] a faculdade do intelecto não deve ser desprezada no culto em


que o Espírito Santo age (1 Co 14.15,20). Ninguém genuinamente
usado pelo Espírito Santo deixa de raciocinar normalmente, em
um culto coletivo a Deus. Isso, claro, segundo a Palavra do Senhor.
[...] um culto a Deus não deve levar os incrédulos a pensarem que
os crentes estão loucos (1 Co 14.23). [...] o culto coletivo a Deus
deve ter ordem e decência; tudo deve ocorrer a seu tempo: lou-
vor, exposição da Palavra, manifestações do Espírito (1 Co 14.26-
28,40). Um culto que não tem ordem nem decência é dirigido pelo
Espírito? [...] no culto genuinamente pentecostal deve haver julga-
mento, discernimento, a fim de se evitar falsificações (1 Co 2.15;
14.29; 1 Jo 4.1). [...] haja vista o espírito do profeta estar sujeito ao
próprio profeta, é inadmissível que aconteçam manifestações con-
sideradas do Espírito Santo em que pessoas fiquem fora de si (1 Co
14.32). O Deus que se manifesta no culto coletivo não é Deus de
confusão, senão de paz (v. 33). Quando um “pregador” derruba
pessoas carentes de uma bênção ou os seus supostos opositores com
golpes de seu “paletó mágico”, além da confusão que se instala no
“culto”, tal atitude não é nada pacificadora. E quem recebe a glória,
indutivamente, é o próprio show-man.147

147 ZIBORDI, Ciro Sanches. Sete características do culto verdadeiramente pentecostal in:
CPAD News. Disponível em: <http://www.cpadnews.com.br/blog/cirozibordi/apologetica-
-crista/88/sete-caracteristicas-do-culto-verdadeiramente-pentecostal.html> Acesso em 01 jul.
2015, grifos meus.

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Esboços

Um dos princípios mais lindos e cristalinos defendidos pela Reforma Pro-


testante é o do acesso direto do cristão à graça de Deus. “Caminhos”, “atalhos” e
“amuletos” são mais que dispensáveis: eles são contrários ao genuíno ensino do
Novo Testamento. Cristo convida as crianças à Si, em Mateus 19.14. O apóstolo
Pedro afirma que os crentes são “pedras vivas”, “sacerdócio real” (1 Pe 2.5,9) e o
autor de Hebreus lança o convite a que os cristãos ousem adentrar, eles mesmos, ao
Santo dos santos, “pelo sangue de Jesus, por um novo e vivo caminho que ele nos
abriu por meio do véu, isto é, do seu corpo [...]. Sendo assim, aproximemo-nos de
Deus com um coração sincero e com plena convicção de fé [...]” (Hb 10.19,20,22).
Por que utilizar atalhos se podemos, pela oração e pela fé viva em Cristo (fé na Pes-
soa Dele), chegar diretamente a Deus? Não foi por acaso que o véu do templo se
rasgou de alto a baixo (Mt 27.51), dando-nos assim acesso a presença de Deus. A
recomendação bíblica é que nossas petições sejam conhecidas a Deus por meio
da oração e de súplicas, e não por peças de roupas ungidas, água trazida de Israel,
etc. Pensemos nisso e voltemos à simplicidade da fé evangélica.

2.3 O Teísmo Aberto


A palavra “Teísmo” no grego vem da junção de duas palavras gregas, de
theos, que significa “Deus” e de ismo, um sufixo grego formador de palavras. Indi-
ca, em linhas gerais, a crença no Deus bíblico ou mesmo em deuses, sendo, por-
tanto, o oposto de ateísmo (lembrando que o prefixo a no grego denota negação).
Claudionor de Andrade comenta que Teísmo é uma “[...] doutrina que, baseada
na teologia natural e na teologia revelada, admite a existência de um Deus pessoal,
Criador e Preservador de tudo quanto existe, e que, em sua inquestionável sabe-
doria, intervém nos negócios humanos”.148 É claro: o autor está definindo Teísmo
na perspectiva cristã clássica.
O Teísmo pode ser também entendido como uma forma de cosmovisão,
isto é, como uma maneira de se observar e entender o mundo, já que a crença em

148 ANDRADE, Claudionor Corrêa de. Dicionário Teológico: edição revista e ampliada e um
suplemento biográfico dos grandes teólogos e pensadores. Rio de Janeiro: CPAD, 2010,
p. 338.

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enciclopédia teológica: numa perspectiva transdisciplinar

Deus mantém relação com a forma como olhamos para a Criação e para os fatos
da vida. Ao lado das outras duas grandes religiões monoteístas, o Islamismo e o
Judaísmo, o Cristianismo é uma religião teísta.
É digno de nota ainda que há várias formas de Teísmo, mas rejeitáveis à luz
das Escrituras. Como exemplo, pode ser citado o Henoteísmo, que defende a exis-
tência de vários deuses e que somente um deles se comunicaria com os homens.149
Pode ser citado também o Politeísmo, que admite a existência de muitos deuses e
que estes deuses mantém algum tipo de contato com os homens. A Bíblia, porém,
nos apresenta o Senhor como o Único Deus, o Eterno. São memoráveis as palavras
de Russell E. Joyner (1996) quando comenta sobre o nome Yahweh:

O nome Yahweh aparece 6.828 vezes em 5.790 versículos no Anti-


go Testamento, e é a designação mais frequente de Deus na Bíblia.
É provável que esse nome se derive do berbo hebraico que signifi-
ca “tornar-se”, “acontecer”, “estar presente”. Quando Moisés tinha
diante de si o dilema de como convencer os escravos hebreus a
acolhê-lo como mensageiro da parte de Deus, quis saber o nome
do Senhor. A forma que sua pergunta assume é realmente uma
busca da descrição do caráter, e não de um título (Êx 3.11-15).
Moisés não estava perguntando: “Como te chamarei?” mas: “Qual
é o teu caráter; como és tu?” Deus respondeu: “EU SOU O QUE
SOU” ou “SEREI O QUE SEREI” (v. 14). Em hebraico ‘ehyeh
‘asher ‘ehyeh indica a existência em ação.150

É válido destacar que a Igreja Cristã é teísta, em sua convicção a respeito


de Deus. Reconhece-o como Deus revelado ao homem e que este necessita de Seu
perdão e salvação oferecidos por meio de Jesus Cristo, Senhor e Salvador.151 Em sua

149 CHAMPLIN, vol. 6, 1991, p. 413.


150 HORTON, Stanley M. (ed.). Teologia Sistemática: uma perspectiva pentecostal. Trad.:
Gordon Chown. Rio de Janeiro: CPAD, 1996, pp. 143,44.
151 Para uma análise mais detida e profunda sobre o Teísmo, veja: GEISLER, Norman L. Enciclo-
pédia de Apologética. Trad.: Lailah de Noronha. São Paulo: Editora Vida, 2002, pp. 813-15.

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Esboços

Teontologia, o Cristianismo bíblico (numa perspectiva conservadora152), sempre


reconheceu os atributos incomunicáveis de Deus, tal como descritos na Bíblia, a
saber, sua onipotência, onisciência e onipresença.153 O Teísmo Aberto, por sua vez,
acaba por romper radicalmente com alguns aspectos do Teísmo bíblico clássico,
como veremos adiante. Sobre o Teísmo Clássico, Geisler (2002) comenta que:

Entre os principais defensores do teísmo clássico estavam Agostinho


(354-430), Anselmo (1033-1109) e Tomás de Aquino (1224-1274).
No mundo moderno, Descartes (1596-1650), Leibniz (1646-1716)
e William Paley (1743-1805) são alguns dos defensores mais conhe-
cidos do teísmo. Talvez o grande representante mais popular do teís-
mo no século XX tenha sido C. S. Lewis (1898-1963).154

O Teísmo Aberto encontrou grande desenvolvimento nos Estados Unidos


no início dos anos 2000 tendo chegado ao Brasil. Recebe outras nomenclaturas
como Open Theism, Freewill Theism, Open Theology, Openness of God, Neotheism e
Relational Theology.155 A ideia de “abertura” refletida nos diversos títulos que essa
teologia recebe se baseia numa de suas convicções basilares: o conhecimento divi-
no estaria aberto, isto é, Deus, embora tendo criado todos os seres, não sabia que
decisões eles tomariam e nem que rumos seguiriam. Desse modo, Deus estaria
aberto a “[...] novas experiências, incluindo a experiência de aprender os eventos
progressivos da história do mundo, à medida que se manifestam”.156

152 É válido destacar que há diferentes formas de Teísmo, conforme indica Russell N. Champlin
in: CHAMPLIN, Russell N. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. vol. 6. São Paulo:
Candeia, 1991, p. 413ss.
153 Há, evidentemente, outros atributos incomunicáveis de Deus. Aqui, destaquei apenas aqueles
que considerei estarem mais em estreita relação com o assunto abordado. Para mais sobre
atributos comunicáveis e incomunicáveis, veja: GRUDEM, Wayne A. Teologia Sistemática.
São Paulo: Vida Nova, 1999, pp. 105-164.
154 GEISLER, 2002, p. 814.
155 CAMPOS, Heber Carlos de. O Teísmo Aberto: um ensaio introdutório. Revista Fides Refor-
mata IX. ano 9, nº 2, 2004, p. 29.
156 CAMPOS, 2004, p. 30.

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enciclopédia teológica: numa perspectiva transdisciplinar

Em termos de influência, essa corrente teológica chegou a superar a propos-


ta de Paulo Tillich na segunda metade do século 20, conforme afirmam Stanley
Grenz e Roger Olson (2013).157 No Brasil, um nome muito destacado e sempre
lembrado é o do Pastor da Assembleia de Deus Betesda, Ricardo Gondim. Ele é
reconhecido como um dos mais influentes propagadores dessa teologia no Brasil.
O Teísmo Aberto coloca em xeque convicções históricas que estão num
dos campos vitais da Teologia, a Teontologia. Não se trata de discutir se vamos
adotar o calvinismo ou o arminianismo ou se seremos amilenistas, pós-milenistas
ou pré-milenistas. Conquanto estes assuntos sejam da mais alta relevância, dis-
cordâncias nesses campos da Teologia não nos tornam necessariamente hereges.
Cristãos verdadeiros transitam em todas estas áreas e defendem suas convicções.
Mas o que o Teísmo Aberto faz é mexer numa doutrina central, cardinal para a
vida da Igreja, isto porque a maneira como entendemos Deus determinará a ma-
neira como nos relacionaremos com Ele, com a Igreja e com o mundo. O correto
conhecimento de Deus tal como revelado nas Escrituras é fundamental para que
se identifique de fato quem é cristão. Heber Carlos de Campos (2004) comenta:

Quando tratamos de “Teísmo” estamos tratando de Deus, de como


o estudamos e o conhecemos. Esse não é um assunto periférico na te-
ologia, mas diz respeito ao cerne da fé cristã, porque o conhecimento
de Deus tem a ver com a vida eterna (Jo 17.3). Se as nossas ideias so-
bre Deus não forem corretas, então todos os outros aspectos de nossa
teologia certamente estarão errados. É extremamente importante o
que uma pessoa crê sobre Deus, pois o seu pensamento sobre Deus
vai determinar como ela vê todo o universo ao seu redor.158

O Teísmo Aberto vê Deus como estando limitado em seu conhecimento,


isto é, em sua onisciência, de modo que Ele não sabia que decisões os anjos e os
homens tomariam depois de criados por Ele. Questiona assim o conceito histórico
de que Deus tudo sabe, tudo pode e está presente em todos os lugares. Esta corrente

157 GRENZ. OLSON, 2013, p. 153.


158 CAMPOS, 2004, p. 30.

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Esboços

teológica pode ser vista como uma forma exagerada da compreensão sobre a ima-
nência de Deus na História.159 Incluir Deus nos eventos naturais da forma como
fazem os teólogos do Teísmo Aberto é uma maneira reducionista de compreensão
da divindade em sua relação com os homens. Se por um lado o Deísmo extrapola
no que tange à transcendência divina, colocando Deus totalmente indiferente e
distante dos seres criados, a Teologia do Processo160 acaba por incluí-lo demais.
A Bíblia é clara ao revelar que Deus é imanente e transcendente. O Teísmo
cristão clássico reconhece que Ele não se confunde com sua criação e com os seres
criados, mas que se relaciona com sua Criação e que ela anuncia Sua grandeza:
“Os céus declaram a glória de Deus; o firmamento proclama a obra das suas
mãos. Um dia fala disso a outro dia; uma noite o revela a outra noite. Sem discur-
so nem palavras, não se ouve a sua voz” (Sl 19.1-3). Deus é revelado na literatura
profético-bíblica como Aquele que anuncia o futuro ainda no passado: “Vejam!
As profecias antigas aconteceram, e novas eu anuncio; antes de surgirem, eu as de-
claro a vocês” (Is 42.19; cf. também Is 41.22,23; 48.3; Ap 1.19). Ainda nos livros
proféticos por vezes as nações são tratadas como estando sob o total controle de
Deus, de modo que suas movimentações estão a cumprir, na verdade, os desígnios
divinos (cf.: Jr 31.10; Ag 2.7).
Existe ainda a afirmação de que o Teísmo Aberto seria uma espécie de
variante do Arminianismo. Na verdade, o próprio Clarck H. Pinock, um dos
principais defensores do movimento, afirma isso de maneira categórica.161 Mas
mesmo autores de matriz reformada, como Campos (2004), aqui supracitado, re-
conhecem que se trata de um arminianismo “levado às últimas consequências”.162

159 Cf. GRENZ, Stanley J. OLSON, Roger E. A Teologia do século 20 e os anos críticos do
século 21: Deus e o mundo numa era líquida. Trad.: Susana Klassen. São Paulo: Cultura
Cristã, 2013.
160 É importante destacar que a Teologia do Processo, propriamente dita, é anterior ao Teísmo
Aberto. Esta última teologia é na verdade uma derivação daquela. Todavia, o Teísmo Aberto
segue na mesma trilha da Teologia do Processo no que tange à compreensão quanto à relação
de Deus com a criação.
161 PINOCK, Clarck H. Open theism: what is this? A new teching? In: CAMPOS, 2004, p. 33.
162 CAMPOS, 2004, p. 33.

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enciclopédia teológica: numa perspectiva transdisciplinar

Alguns vêem o Teísmo Aberto como o equivalente arminiano do hipercalvinismo,


no calvinismo. Mas é válido destacar que o Teísmo Aberto rompe radicalmente
com os fundamentos da Teologia Arminiana, que reconhece os atributos de Deus
de forma absoluta. O Teísmo Aberto deriva, pois, de uma corrente distinta do
arminianismo, a Teologia do Processo.

2.4 O Liberalismo Teológico


Foi um movimento teológico surgido no seio do Protestantismo. Dentre
os grandes nomes que figuram e que em grande medida deram forma ao Libera-
lismo Teológico, devem ser mencionados Friedrich Schleiermacher (1768-1834),
teólogo e filósofo alemão. Também Adolf Von Harnack (1851-1930), teólogo
alemão e ainda outro nome muito conhecido é o do David Friedrich Strauss
(1808-1874), teólogo alemão, tendo se tornado professor da Universidade Tubin-
gen com apenas 24 anos.163
É um movimento amplo, que deve, evidentemente ser analisado mais
cuidadosamente e que foi aqui incluído pelo fato de romper radicalmente com
convicções históricas do Cristianismo. Em linhas gerais, o Liberalismo Teológico
“separa” o Cristo divino do Cristo “histórico”, nega a ressurreição de Jesus, ques-
tiona e rejeita a autoria dos livros bíblicos como evocada pela erudição conserva-
dora, não aceita os milagres como fatos concretos na História e apela a correntes
filosóficas para explicar a natureza do Cristianismo.
As doutrinas fundamentais da Fé Cristã histórica são mexidas, reinterpre-
tadas e por vezes o que sobra é uma espécie de “evangelho ético” ou “evangelho
social”. Embora se reconheça que os teólogos liberais possam ter trazido contri-
buições notáveis no campo da pesquisa (com efeito, o liberalismo apela muito à
razão e ao método investigativo), eles rejeitam verdades bíblicas históricas que
são distintivas para a Igreja. Em outras palavras, se estes “pilares” da fé ruírem, o
Cristianismo deixa de ser Cristianismo. Não por acaso o teólogo brasileiro Au-
gustus Nicodemus considera o Liberalismo Teológico uma espécie de “ateísmo

163 ALMEIDA, Abraão de. Teologia Contemporânea: a influência das correntes teológicas e
filosóficas na igreja. ed. amp. Rio de Janeiro: CPAD, 2012, pp. 115-17.

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cristão”164, já que ele nega verdades fundamentais da fé cristã histórica e isso,


inelutavelmente, trará implicações para a vida das pessoas.
A Teologia Liberal pode ser vista como uma forma de desdobramento teoló-
gico que na verdade não chegou a conclusões unânimes entre seus representantes.
Muitas propostas foram apresentadas, sem uma conclusão que possa ser considera-
da comum a todo o movimento. Isso, evidentemente, é um fator a ser considerado
e demonstra que o Liberalismo Teológico é no mínimo instável e incerto em vários
aspectos, ainda que se reconheçam suas contribuições. A Teologia Cristã clássica,
alicerçada sobre fundamentos bíblicos, recusa-se dobrar-se ante as tendências de um
tempo, de uma época. Entende que a verdade do evangelho é superior às inclina-
ções intelectuais de uma geração e que nós, na verdade, é que precisamos nos curvar
ante o conhecimento de Deus tal como revelado nas Escrituras.

CONCLUSÃO
O teólogo pentecostal Russel E. Joyner (1996), mais uma vez aqui citado,
comenta que nosso conhecimento de Deus “[...] não deve basear-se em pressupo-
sições a respeito Dele, ou em como gostaríamos que Ele fosse. Pelo contrário: de-
vemos crer no Deus que existe, e que optou por se revelar a nós através das Escri-
turas”.165 O grande e mais perigoso problema dessas teologias ou falsos evangelhos
presentes em nossos dias é justamente o fato deles comprometerem seriamente a
maneira como entendemos Deus e, por conseguinte, como nos relacionaremos
com Ele. A solução para este desafio, no entanto, está em que a Igreja Brasileira
retorne às fontes antigas e salutares da Palavra de Deus. Na revelação simples da
Palavra de Deus a respeito do Criador, de Seu Filho e do Espírito Santo. E que
possamos, cada vez mais, conformar nossa vida e caráter ao Verbo da vida que
encarnou (Jo 1.14), o Senhor Jesus Cristo, produzindo assim uma Teologia que
seja eminentemente prática e que traga resultados saudáveis para a Igreja, para a
sociedade e para nós mesmos. Amém.

164 LOPES, Augustus Nicodemus. O ateísmo cristão e outras ameaças à Igreja. São Paulo:
Mundo Cristão, 2011.
165 JOYNER in: HORTON, 1996, p. 125.

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enciclopédia teológica: numa perspectiva transdisciplinar

E S BO Ç O 31

TEMA DA PALESTRA: ATUALIDADES DA LIDERANÇA DE JESUS


TEXTO BÍBLICO: “No fim da tarde, os Doze se aproximaram e lhe disseram:
“Mande as multidões aos povoados e campos vizinhos, para que encontrem
comida e abrigo para passar a noite, pois estamos num lugar isolado”. Jesus,
porém, disse: “Providenciem vocês mesmos alimento para eles”. “Temos apenas
cinco pães e dois peixes”, responderam. “Ou o senhor espera que compremos
comida para todo esse povo?” Havia ali cerca de cinco mil homens. Jesus
respondeu: “Digam a eles que se sentem em grupos de cinquenta”. Os
discípulos seguiram sua instrução, e todos se sentaram. Jesus tomou os cinco
pães e os dois peixes, olhou para o céu e os abençoou. Então, partiu-os em
pedaços e os entregou aos discípulos para que distribuíssem ao povo. Todos
comeram à vontade, e os discípulos encheram ainda doze cestos com as sobras”
(Lucas 9.12-17, NVT).

INTRODUÇÃO

Jesus continua sendo e sempre será o paradigma maior da Liderança. Seu


ensino e sua conduta, tal como encontramos nos Evangelhos, nos ensinam muito
sobre Liderança. É claro que devemos tomar o cuidado de não fazer uma leitura
anacrônica dos textos bíblicos dando a eles um sentido que não possuem. No que
tange ao conceito de Liderança, contudo, assim como em muitos outros assuntos
de interesse hoje, não podemos negar que eles já se encontram na Bíblia, ao modo
dos tempos bíblicos, é claro, e que há muitos pontos de contato entre aquilo que
compreendemos hoje e aquilo que as Escrituras nos apresentam.166 Nas linhas que

166 Jesus precisa ser adequadamente entendido, através do ensino neotestamentário. Sua vida e
obra tem um objetivo claro e que é claramente refletido pelos evangelistas (cf.: KÜMMEL,
Werner George. Introdução ao Novo Testamento. Trad.: Paulo Feine. Johannes Behm. 17ª
ed. São Paulo: Paulus, 1982, p. 35,36). Mas não é preciptado perceber no Novo Testamento,
assim também como no Antigo, elementos de Liderança. Encontramos Liderança na Bíblia e

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Esboços

se seguem destacaremos alguns pontos marcantes da liderança de Jesus que devem


ser imitados pela Igreja na atualidade.

1. LIDERANÇA PREOCUPADA COM PESSOAS

A preocupação com outras pessoas e também com seus interesses é um


passo fundamental para a construção de uma liderança realmente marcante e
eficaz. Há uma pergunta muito importante feita por Ryan Holiday (2017) que é
pertinente aqui: “[...] Se perdermos a conexão com nossas necessidades e com a
dos outros, poderemos alcançar, motivar ou liderar outras pessoas?”167 Jesus, neste
sentido, é o exemplo máximo, já que sua vida foi em favor da humanidade e é por
ela que hoje desfrutamos da graça redentora de Deus.
Infelizmente, o que mais vemos em nossas igrejas são líderes enormemente
despreparados, mas altamente enganados sobre si mesmos. E é verdadeira a frase
que diz: “Se você começar a acreditar na própria grandeza, será a morte de sua cria-
tividade”.168 Faz todo sentido! Esse tipo de liderança geralmente é atrofiada. Insiste
em práticas e “métodos” que simplesmente não funcionam mais e que nem sequer
fazem sentido, mas insistem nelas sob um manto de religiosidade, sob a alegação de
que “não devemos mover os marcos antigos”. Esquecem-se, todavia, que é possível
revitalizar o antigo, contextualizar a mensagem do Evangelho sem necessariamente
descaracterizá-la e que foi Jesus a Pessoa que mais rompeu com tradições infundadas
em sua época. O que Holiday fala sobre o ego cabe muito bem aqui:

Apenas uma coisa mantém o ego por perto: o conforto. Perseguir


um trabalho de qualidade – seja no esporte, na arte ou nos negócios
– é, muitas vezes, aterrorizante. O ego reduz esse medo. É como

em Jesus; evidentemente, não como conhecemos essa disciplina atualmente, mas em essência
sim.
167 HOLIDAY, Ryan. O ego é seu inimigo. Trad.: Andrea Gottlieb. Rio de Janeiro: Intrínseca,
2017, p. 21.
168 ABRAMOVIC, Marina. apud: HOLIDAY, 2017, p. 20.

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enciclopédia teológica: numa perspectiva transdisciplinar

um bálsamo para a insegurança. Substituindo as partes racionais


e conscientes de nossa psique por vanglória e autocentralização, o
ego nos diz o que queremos ouvir, quando queremos ouvir.169

O mesmo autor conclui, contudo, alertando para o fato de que o ego “[...]
é uma solução de curto prazo com uma consequência de longo prazo”.170 E esta é
uma verdade que se aplica muito bem a muitas de nossas igrejas que penam sob o
fardo de lideranças desatualizadas, descontextualizadas e insensíveis às necessida-
des de uma época com as suas especificidades.
O assunto aqui abordado é espinhoso. Mesmo assim, cônscio dos riscos
que me cercam e das alcunhas que poderei receber por ousar abordá-lo da manei-
ra franca como faço aqui, ainda assim quero assumir este risco. É necessário voltar
ao modelo de Jesus e seguir seu exemplo de liderança, liderança que cuidava de
pessoas, que envolvia pessoas e as preparava para gerar outros líderes, como vere-
mos a seguir.

2. JESUS, O LÍDER QUE GERA OUTROS LÍDERES

É interessante considerar que Jesus não apenas se doava às multidões, mas


por vezes temos Ele sendo retratado estando em particular com seus discípulos,
aqueles homens que fizeram parte do seu convívio mais íntimo. São esses discípu-
los que anos mais tarde impactariam o mundo com a mensagem do Evangelho:
“Contudo, não os achando, arrastaram Jasom e alguns outros irmãos para diante
dos oficiais da cidade, gritando: “Esses homens que têm causado alvoroço por
todo o mundo, agora chegaram aqui” (At 17.6).171 Jesus preparou esses homens,
por meio dos seus ensinos e pelo exemplo vivo, e eles deram prosseguimento a
obra iniciada pelo Senhor Jesus.

169 HOLIDAY, 2017, p. 20.


170 HOLIDAY, 2017, p. 21.
171 Bíblia: Nova Versão Internacional. Atos 17.6. Disponível em: <https://www.bibliaonline.
com.br/nvi/atos/17/6+> Acesso em 02 jun. 2019.

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Esboços

No Brasil temos convivido com líderes eclesiais centralizadores, que apa-


relham a igreja local e as congregações para atender a seus interesses pessoais e
os de suas próprias famílias, bem como se utilizam de suas posições para impor
medidas e tomar decisões, de modo arbitrário, mais em função de seus próprios
interesses do que dos interesses da Igreja. Líderes assim, se gerarem outros líderes,
no máximo irão gerar líderes como eles mesmos. A tendência, no entanto, é não
gerar outros líderes, já que eles centralizam as atividades e poder decisório em
torno de si mesmos.
Um líder que gera líderes está aberto a compartilhar, a treinar outras pes-
soas e permitir que elas se desenvolvam e cresçam. Uma liderança centralizadora
e tirana não age assim. Não está disposta a promover o crescimento de outras
pessoas, mesmo que sejam líderes em potencial.

CONCLUSÃO

Jesus foi e continua sendo o paradigma maior no quesito “liderança”. Se


olharmos atentamente para o Novo Testamento, encontraremos lições preciosas a
respeito da liderança de Jesus. Ele sabia falar, mas também ouvir. Ele soube, como
ninguém, formar outros líderes notáveis (os apóstolos). Ele foi manso e humilde
de coração (Mt 11.29) mesmo sendo Divino. Ele ensinou a não desperdiçar e
prezou pela organização no milagre da multiplicação dos pães (Mt 14.13-21172).
Esses e outros exemplos são encontrados no Senhor Jesus Cristo e podem ser
seguidos por aqueles que desejam exercer uma liderança marcante. Essas são algu-
mas das atualidades da liderança de Jesus.

172 Repare nesta passagem que Jesus faz a multidão assentar ao chão (uma forma de organização)
e após a multiplicação dos pães e peixes, os pedaços que sobraram foram recolhidos pelos
discípulos (uma forma de aproveitamento).

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E S BO Ç O 32

TEMA DA PALESTRA: PERSPECTIVAS PARA A LIDERANÇA CRISTÃ


NA PÓS-MODERNIDADE
TEXTO BÍBLICO: “Apascentai o rebanho de Deus, que está entre vós, tendo
cuidado dele, não por força, mas voluntariamente; nem por torpe ganância,
mas de ânimo pronto; Nem como tendo domínio sobre a herança de Deus, mas
servindo de exemplo ao rebanho. E, quando aparecer o Sumo Pastor, alcançareis
a incorruptível coroa da glória” (1 Pedro 5.2-4, ACF).

INTRODUÇÃO

Liderança é um tema sempre recorrente e em alta, mas no que concerne ao


ambiente eclesial, não se pode negar que ainda se convive com muitos arcaísmos
e obsolescências. Ouvimos pastores mais velhos insistirem naquele famoso cha-
vão: “No meu tempo não era assim...”. Infelizmente, é comum convivermos, em
nossas igrejas, com líderes que se recusam e se furtam à atualização. A liderança
precisa ser revitalizada e muitas vezes, linhas de ação que são perpetuadas neces-
sitam ser seriamente revistas. Liderar na Pós-modernidade requer do líder cristão
uma abertura ao feddback e ao rompimento com antigos paradigmas religiosos e
de liderança que necessitam ser superados, para o bem da Igreja e para o bem do
próprio líder.

1. PÓS-MODERNIDADE: É POSSÍVEL DEFINIR?

Um passo de grande importância que precisa ser dado por todo líder cris-
tão é reconhecer o seu próprio tempo. O que mais ouvimos em nossas igrejas são
líderes contando histórias de tempos passados como se elas de algum modo fos-
sem repetir-se. É claro que “olhar para trás” é necessário e a História nos oferece
lições preciosas, mas é preciso entender que cada época tem suas características

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Esboços

próprias e conhece-las auxilia a liderança no esforço de contextualizar-se. Não por


acaso escolhi, neste esboço sobre liderança, incluir este tópico comentando muito
brevemente a respeito da Pós-modernidade.
Perry Anderson (1999) comenta que as origens da ideia de Modernidade
como de Pós-modernidade se dão na América Hispânica e não na Europa ou
nos Estados Unidos173, como podemos ser tentados a pensar. Originalmente, na
década de 1930, o termo postmodernismo foi usado, conforme informa Anderson,
“[...] para descrever um refluxo conservador dentro do próprio modernismo: a
busca de refúgio contra o seu formidável desafio lírico num perfeccionismo do
detalhe e do humor irônico, em surdina, cuja principal característica foi a nova
expressão autêntica que concedeu às mulheres”.174 Naturalmente, hoje o termo é
usado de maneira a identificar uma época, muito mais do que um movimento.
Quando se fala sobre pós-modernismo175, um ponto sempre recorrente a
seu respeito é justamente a dificuldade de defini-lo. Uma consulta sobre o assun-
to em obras especializadas revelará que não há um consenso total quanto ao que
vem a ser a Pós-modernidade. A meu ver, tal dificuldade é na verdade um reflexo
da dificuldade própria de entender a Pós-modernidade. Trata-se de um tempo
complexo. Mesmo que o homem comum, do comércio, da indústria, enfim, de
baixa escolaridade, não tenha condições de articular intelectualmente uma com-
preensão ou mesmo uma discussão a respeito do assunto, o fato é que ele vive na
Pós-modernidade, absorve sua cultura e até fala de maneira pós-moderna. Nou-
tras palavras, ele é pós-moderno mesmo sem se dar conta disso.
A Pós-modernidade é uma época sim e até mesmo a utilização inicial do
termo “Pós-modernidade” com seus correlatos aponta justamente para a ideia de
uma época. Mas não se trata de mera nomenclatura em História. Como ocor-
re com outros termos, como com “Modernidade”, também “Pós-modernidade”
evoca uma ideologia, uma forma específica de pensar e de comportamento hu-

173 ANDERSON, Perry. As origens da Pós-modernidade. Trad.: Marcus Penchel. Rio de Janei-
ro: Zahar, 1999, p. 09.
174 ANDERSON, 1999, p. 10.
175 Expressão que possivelmente aponte mais para o aspecto ideológico.

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mano. Nesse sentido, a Pós-modernidade deve ser avaliada em termos positivos e


negativos, e no que tange aos aspectos que aqui considero negativos, é certo que
eles representam um grande desafio para a liderança cristã. No tópico seguinte,
abordo alguns aspectos de uma liderança marcante, mas realçando alguns desses
aspectos negativos da Pós-modernidade, atrelando-os à discussão presente neste
esboço.

2. CARACTERÍSTICAS DE UMA LIDERANÇA MARCANTE

Quais são, afinal de contas, as características de uma liderança realmente


marcante? Neste tópico procuro indicar algumas dessas características contras-
tando com algumas marcas da Pós-modernidade. A resposta que a Igreja pode
dar ao nosso tempo quanto aos seus aspectos negativos, contrários a verdade do
evangelho, passam via de regra pela liderança cristã e por isto mesmo precisamos
atentar bem para essa correlação.

2.1 A liderança deve incluir o liderado no projeto


A Pós-modernidade já foi indicada como a “era do espetáculo”. Convive-
mos com uma espécie de idolatria do ego, do próprio “eu” e com o esvaziamento
da alteridade. Tal tendência atingiu também a liderança cristã. Convivemos com
líderes personalistas, que chegaram à posição de liderança mas se furtam no sen-
tido de trazer outros para a posição onde se encontram. Esse é o tipo de “líder
esterilizante”, que não “gera” outros líderes por causa do seu perfil. O líder deve
incluir o liderado no projeto, torna-lo partícipe, delegar funções e responsabilida-
des e respeitar a autonomia conferida.

2.2 Prezando pelo faltor “relações humanas”


A Pós-modernidade é também a era das aparências, da estética mais que
a ética (Zygmunt Bauman), onde o parecer ser alimenta as ilusões de toda uma
geração. O chamado do Evangelho, contudo, é para o confrontamento do pró-
prio eu, para o amadurecimento e para o crescimento constante em Cristo. Nessa

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terrível tendência pós-moderna de valorização excessiva do ego, as relações estão


se diluindo. O ser humano passa a processar sua vida e suas relações em termos
de consumo e troca. A vida humana vai sendo banalizada na medida em que as
pessoas não mais vivem, mas jogam.
O líder cristão corre um sério risco se não atentar para essas tendências
ruins, pois pode começar a tratar as pessoas sob sua liderança como “peças de
um jogo de xadrex” onde fulano fica e fulano é removido em função de interes-
ses pessoais mesquinhos. Nessa hora, é preciso entender que dar a outra face e
caminhar a segunda milha são parte constituinte da missão do líder cristão, na
construção de relacionamentos saudáveis, duradouros e profundos.

2.3 Nem todo discordante é um inimigo


Evidente é que há formas diferentes de divergir e por isto mesmo o líder
cristão não precisa concluir que, inevitavelmente, toda pessoa que discorda de
algum aspecto da sua liderança, é seu rival ou alguém que lhe deseja mal. Há lide-
rados que se mostram amáveis ao apresentar uma discordância e mesmo quando
a divergência se manifesta de modo mais tenso, ainda sim o líder cristão pode
usar isto em benefício do processo de liderança e para o seu próprio crescimento.
A crítica nos leva a rever conceitos, a revisitar valores e a reavaliar o nosso
próprio trabalho. Na iminência de publicar esta enciclopédia, minha maior preo-
cupação não é tanto em relação à acolhida da obra pelo mercado editorial, mas
sim quanto às críticas que possivelmente virão. Obviamente que é a aceitação da
obra que me motiva a seguir em frente, mas as críticas me possibilitam enxergar
pontos que eu mesmo não vi até então. Infelizmente, tornou-se comum em
nosso contexto eclesial isolar aquele que diverge, quando na verdade a lideran-
ça cristã deve ser pensada, refletida e construída em parceria com outros.

2.4 Prezando pela atualização da liderança


Um dos grandes problemas da liderança eclesiástica é a falta de atualização.
É inegável que existe uma recusa “declarada” a atualizar modelos de liderança
notadamente obsoletos entre nós. Há pessoas que se acomodam com mais do

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enciclopédia teológica: numa perspectiva transdisciplinar

mesmo e querem que permaneça sempre assim. Mas o fato é que os tempos mu-
daram e requerem revisão de nossas estruturas institucionais, de nossas homilias,
de nossas estratégias e de nossa forma de comunicar o evangelho.

CONCLUSÃO

Estas e outras perspectivas para a liderança cristã apresentadas neste esboço


sem dúvida contribuem para a construção de uma liderança mais eficaz. Na Pós-
-modernidade, onde tudo é rápido e acelerado, resgatar o valor do essencial e da
importância de se saber quais objetivos alcançar, é um passo fundamental para o
líder cristão. No afã de encher templos, perdemos de vista o valor do indivíduo.
No afã de atrair mais e mais visitantes, promovemos campanhas e mega eventos e
esquecemos do discipulado cristão. No êxtase de nos tornarmos grandes, esquece-
mos que foi a manjedoura que serviu de berço ao Redentor da humanidade. Não
nos enganemos sobre o atual estado do movimento evangélico brasileiro: uma de
suas maiores crises passa justamente pela liderança... E o resgate do movimento
também.

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Esboços

ESB O Ç O 33

TEMA DA PALESTRA: A VIDA CONJUGAL COMO CONSTRUÇÃO


CONTÍNUA
TEXTO BÍBLICO: “Sujeitem-se uns aos outros por temor a Cristo. Esposas,
sujeite-se cada uma a seu marido, como ao Senhor. [...] Maridos, ame cada um
a sua esposa, como Cristo amou a igreja. Ele entregou a vida por ela, a fim de
torná-la santa, purificando-a ao lavá-la com água por meio da palavra”
(Ef 5.21,22,25,26).176

INTRODUÇÃO

O tema família é muito caro para a Igreja. A família é uma instituição di-
vina, o que a coloca como digna de especial atenção.177 Diversas são as passagens
que falam sobre assuntos e personagens de modo direto ou indireto relacionados à
família. Nos dois primeiros capítulos de Gênesis encontramos as narrativas sobre a
criação do primeiro casal. Os capítulos 12 a 50 tratam das vidas dos patriarcas dos
antigos hebreus, Abraão, Isaque, Jacó e José, sempre relacionados aos seus respecti-
vos contextos familiares, ainda que em contextos culturais bem distintos do nosso.
Chegando ao Novo Testamento, num cenário sociocultural muito dife-
rente daquele do Antigo Testamento, o tema “família” continua tendo lugar de
importância no pensamento e na reflexão teológica cristã. Textos como este de
Efésios 5, usado para embasar este esboço, são recorrentes nas epístolas e tam-
bém nos Evangelhos encontramos alusões à família.178 Chegando ao século 21,

176 Bíblia Sagrada: Nova Versão Transformadora. São Paulo: Mundo Cristão, 2016, Efésios
5.21,22,25,26.
177 Devemos lembrar também que a família é tema importante em Sociologia, disciplina que a
reconhece como uma instituição de base, isto é, que está na base da constituição social.
178 No Novo Testamento, temos Jesus entrando na casa de algumas pessoas como em Lucas
19.1-10, Paulo escrevendo sobre a relação entre pais e filhos em Efésios 6.1-4 e o encontra-

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perguntamos: Goza o casamento e a família, por extensão, dessa importância e


valorização?

1. CASAMENTO: UMA INSTITUIÇÃO AINDA VIÁVEL?

O número de divórcios no Brasil e no mundo é realmente muito expressi-


vo. Infelizmente é grande o número de casamentos que vão a pique e muitos que
acabam nos primeiros anos e até nos primeiros meses. E vale destacar ainda que
a saúde dos casais dá sinais de problemas graves. Diante de todos esses desafios, é
grande o número de pessoas que já não acreditam mais no casamento (inclusive
muitos que casados estão) e o encaram até como uma instituição obsoleta. Refle-
tir sobre este assunto, contudo, é necessário, sobretudo, à luz das Escrituras.
Essa incerteza em torno do casamento é, em grande medida, resultado
da assimilação da cultura pós-moderna pautada pelo hedonismo e pelo utilita-
rismo. Nos tópicos a seguir refletimos justamente sobre os elementos que são
fundamentais para a construção e manutenção da vida conjugal que, quando
entendidos e praticados, conduzem a uma vida a dois mais equilibrada e feliz. E
o primeiro consiste justamente em ponderar sobre se entendemos corretamente
o que é o casamento e o seu real significado. Esse entendimento é fundamental
num mundo de utopias frustradas e de estereótipos construídos socialmente que
são inalcansáveis.

1.1 Entendemos corretamente o casamento?


O primeiro passo para um casamento saudável é entender seu real signifi-
cado. Muitas pessoas se casam com motivações equivocadas e sem ter em mente
o que devem realmente esperar da vida a dois. Neste sentido, não é incorreto
afirmar que em muitos casos, o casamento começa a ruir mesmo antes de ter sido
oficializado diante de um ministro do evangelho.

mos ainda fazendo referência a famílias, como em Romanos 16.10,11; também o autor da
Epístola aos Hebreus adverte contra o adultério e exalta o matrimônio em 13.4.

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A vida conjugal tem algumas implicações fundamentais que devem ser do


conhecimento de ambas as partes, antes de chegarem ao “Sim”. Homem e mu-
lher, cônscios de seu papel e de suas responsabilidades, haverão de usufruir juntos
das benesses e alegrias de uma vida a dois e poderão, numa parceria sólida, cons-
truir um projeto que seja, de fato, para a vida a dois, “até que a morte os separe”.
Consideremos a seguir algumas dessas implicações.

1.2 Implicações da vida a dois


A escolha pela vida conjugal naturalmente gera responsabilidades que de-
vem ser assumidas tanto pelo homem como pela mulher, numa ação colaborativa
contínua. Infelizmente, muitos casais assumem uma postura combativa e compe-
titiva ao invés de se “abraçarem” e darem as mãos para juntos construírem um lar
feliz. Por mais paradoxal que isso pareça, tem sido a realidade de muitos casais.

1.2.1 Prestação de contas

A vida a dois requer prestação de contas, do homem para com sua esposa
e da mulher para com seu esposo. Isto não deve ser confundido, é claro, com
controle obsessivo, doentio, paranoico, que desgasta e fragiliza a relação a dois.
Longe disso, a prestação de contas no casamento pode ser encarada como uma
verdadeira bênção. Uma vida não “fiscalizada” está fadada a seguidos fracassos. A
prestação de contas, isto é, o feedback constante entre o casal, é fundamental para
que juntos possam fazer as melhores escolhas e traçar as melhores linhas de ação.

1.2.2 Respeito à individualidade do outro

Há pessoas que entendem casamento como “prisão” e de fato muitos ca-


sais vivem como que prisioneiros um do outro. Todavia, tanto o homem como a
mulher devem entender que a pessoa com quem se casou possui uma identidade
própria, é detentora de uma individualidade e isso deve ser seriamente respeitado.
Viver casado é também aprender a conviver com aquilo que não é “o meu
gosto” e “a minha preferência”. Ilude-se quem pensa que casamento é resultado
apenas de preferências em comum. Naturalmente, a vida a dois tanto é resulta-

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do de crenças e valores comuns como também agrega crenças e valores comuns,


escolhas e projetos compartilhados, dentre outros elementos comuns a ambos os
cônjuges. Mas isto não anula o fato de que divergências e distinções de persona-
lidade e temperamento são uma realidade constante no casamento, realidade esta
que será fortemente sentida pelos dois.

2. PRÁTICAS PARA TORNAR SÓLIDA A UNIÃO


CONJUGAL

A vida conjugal requer disciplina. É preciso cultivar um conjunto de prá-


ticas que contribuem para a manutenção do casamento. Práticas que vão sendo
exercitadas e melhoradas e que aos poucos vão se constituindo hábitos. Neste
sentido, é correto afirmar que tal esforço constitui um exercício para a vida toda.
E não deve o leitor se admirar disto, visto que nós não somos seres prontos, to-
talmente prontos, acabados. Na verdade, precisamos reconhecer que nossa neces-
sidade de aprendizado é constante. E que práticas são essas que contribuem para
nos ajudar a crescer como pessoas e assim consolidar o casamento?

2.1 Conhecer a si mesmo


Parece que aqui estamos pisando no campo da obviedade, mas não se enga-
ne: Conhecer a si mesmo pode representar um grande esforço pessoal! Disciplinas
como a Teologia, a Filosofia, a Psicologia e outras se debruçam, cada uma ao seu
modo, sobre este tema. A pergunta “Quem sou eu?” assume um caráter não só
teológico, mas ontológico-existencial e de algum modo, todos nós a articulamos
em algum momento de nossas vidas.

2.1.1 O conhecimento de si mesmo passa pela vida devocional equilibrada, sadia e


profunda

As horas que passamos a sós com o Senhor servem não apenas ao nosso enri-
quecimento espiritual, mas o fato de silenciarmos nossa agenda concorrida para es-
tar à parte com Ele, permite que ouçamos a voz do Espírito Santo nos reorientando

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em muitas ações e questões de nossas vidas. E acima de tudo, a vida devocional nos
conduz para mais perto de Deus, tornando assim nosso coração propício a que Ele
habite em nós ricamente. F. B. Meyer (2002) narra um interessante episódio: “Con-
ta-se que certa vez, quando um cirurgião estava sondando o peito de um velho sol-
dado agonizante, que pertencia ao exército de Napoleão, à procura da bala fatal, o
homem disse ao médico: ‘Se aprofundar mais o corte, encontrará o Imperador’”.179

2.1.2 O conhecimento de si também passa pelo conhecimento do outro, num ir e vir


constante

Aprendemos pela observação e assimilação do que vemos em outras pes-


soas, para o bem e para o mal. Podemos ver o que é mau e nos afastar dele ou nos
aproximar, e isto dependerá de nossa escolha. Ao decidir nos afastar, naturalmen-
te estamos já num processo de aprendizagem e assimilação positiva.
Outro ponto a ser destacado é que esse conhecimento de si mesmo deve
muito aos feedbacks que recebemos do outro. Assim, o nosso conhecimento sobre
nós mesmos é devedor, em grande medida, à colaboração de outros. A Janela de
Johari traz importante contribuição nesse sentido.180

179 MEYER, F. B. Comentário bíblico F. B. Meyer. 2ª ed. Trad.: Amantino Adorno Vassão. Belo
Horizonte: Betânia, 2002, p. 209.
180 A Janela de Johari é um conceito desenvolvido por dois psicólogos na década de 1950, cha-
mados Joseph Luft e Harry Ingham. A palavra “Johari” é a junção das iniciais dos primeiros
nomes dos dois. A palavra “janela” é um ponto de comparação com as janelas de casas em
que há divisões onde se encaixam os vidros, e no conceito refere-se à áreas do comportamento
humano, percebidos e não percebidos pelo próprio sujeito. A Janela de Johari é pensada em
relação ao comportamento do indivíduo e de grupos e, por isto mesmo, muito utilizada no
contexto corporativo e nas reflexões sobre Liderança. A Janela de Johari define quatro áreas
do comportamento a serem consideradas: a área aberta, a área fechada ou secreta, a área cega
e a área desconhecida. Na área aberta estão aqueles comportamentos conhecidos pela própria
pessoa e por outras que a cercam. Na área fechada estão aqueles comportamentos que o indi-
víduo ve em si mesmo mas oculta dos outros. Na área cega estão aqueles que não são percebi-
dos pelo próprio indivíduo, mas que são notados pelas outras pessoas que o cercam. Na área
desconhecida residem aquelas características e fatores que nem o sujeito e nem as pessoas que
o cercam percebem. Quando o sujeito se abre ao feedback em um desses quadrantes, outros
são afetados. Por exemplo, quando a pessoa se abre à exposição e ao feedback externo, sua área
cega tende a diminuir e sua área aberta tende a aumentar.

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2.2 Conhecer o outro


Conhecer o outro implica uma construção constante. Requer paciência,
tolerância e sobretudo, amor. Implica capacidade de aceitar a pessoa como ela é, e
não como nós queremos que ela seja. É preciso haver assim alteridade, e alteridade
se constrói com solidariedade. O egoísmo, naturalmente, haverá de entravar esse
processo. Há pessoas ensimesmadas, que se colocam como se não precisassem de
mais ninguém e acabam assim assumindo uma postura de grande arrogância. Co-
nhecer o outro requer respeito à ele ou à ela, pois significa entrar em seu universo
particular de certo modo.

2.3 Conhecer os temperamentos


Conhecer os temperamentos auxilia muito no sentido de humanizar nossas
relações.181 É que por vezes avaliamos algumas características de temperamento
de maneira reducionista e até mesmo preconceituosa. No contexto religioso isto
é muito forte. Traços de temperamento muitas vezes são associados a espirituali-
dade das pessoas e fazemos leituras sobre elas à partir disso, leituras equivocadas
que podem gerar estigmas e até mesmo feridas emocionais. A fim de exemplificar
isto, podemos considerar o fato de que pessoas que são menos expressivas emocio-
nalmente, por vezes são vistas como apáticas espiritualmente, e por vezes sua es-
piritualidade sofre questionamentos. Outro exemplo interessante está relacionado
à melancolia, de modo que pessoas que tem esse temperamento predominante
tendem a ser vistas sempre de modo negativo, como se nada de bom existisse
nesse tipo específico de temperamento. Cito estes exemplos a fim de demonstrar
a importância de se conhecer bem os temperamentos.
No casamento, saber lidar com o temperamento do outro é crucial para a
saúde da relação. Vale lembrar ainda que o temperamento vem conosco, em nos-
so nascimento, mas como muitas coisas em nossa vida, ele pode ser melhorado.

181 Para uma breve análise a respeito da contribuição do conhecimento dos quatro tempera-
mentos na Educação, cf.: RODRIGUES, Márcia Regna Silva. CORREIA, Murilo Flores. A
contribuição da teoria dos quatro temperamentos para a educação: valorizando a indivi-
dualidade nas salas de aula. Disponível em: <http://www.profala.com/arteducesp181.htm>
Acesso em 17 mai. 2019.

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Depende de nós. O temperamento muitas vezes é usado para legitimar grosserias,


agressões, gritos, atitudes de desrespeito e outros arroubos emocionais. Mas isto
constitui um erro grave. O temperamento pode ser aperfeiçoado.
A esta altura de nossa reflexão, cumpre fazer as seguintes perguntas: Você
conhece as características do seu temperamento? Você sabe como identificar o seu
próprio temperamento? Você conhece qual é o temperamento predominante do
seu cônjuge? Apresento a seguir algumas características dos temperamentos que
permitirão essa identificação e, em seguida, modificar comportamentos, melho-
rar tratamentos e abandonar determinados vícios comportamentais em relação ao
outro. Isto significa, na prática, crescer e se desenvolver como pessoa!
O temperamento pode ser definido como sendo “[...] a tendência predo-
minante de humor da pessoa, suas reações e grau de sensibilidade do indivíduo.
Temperamento vem da palavra “tempero”, forma pelo qual expressa o jeito pecu-
liar de cada pessoa”.182 Tim LaHaye (1991) comenta que foi Hipócrates, médico e
filósofo grego, que expôs 400 anos antes de Cristo, a teoria de que existem quatro
temperamentos básicos, a saber: sanguíneo, colérico, melancólico e fleumático.
Mesmo que existam outras classificações, a de Hipócrates resistiu ao tempo e é
amplamente conhecida e utilizada.183 A seguir estão descritos de modo muito
breve os quatro temperamentos.

2.3.1 Colérico

Também chamado de “colérico intransingente”, é um temperamento vivo,


dinâmico, irritadiço e por vezes, “pavio curto”. LaHaye comenta que o colérico
“[...] muitas vezes é autossuficiente, e muito independente. Sua tendência é ser
decidido e teimoso, tendo facilidade em tomar decisões para si mesmo assim

182 RODRIGUES, Márcia Regna Silva. CORREIA, Murilo Flores. A contribuição da teoria dos
quatro temperamentos para a educação: valorizando a individualidade nas salas de aula.
Disponível em: <http://www.profala.com/arteducesp181.htm> Acesso em 17 mai. 2019.
183 Vale destacar aqui que nenhuma pessoa tem apenas um temperamento. Ainda que o normal
seja um dos quatro temperamentos prevalecerem, o indivíduo sempre terá um pouco dos
outros também, podendo apresentar traços de todos eles (cf.: LAHAYE, Tim. Temperamento
controlado pelo espírito. São Paulo: Edições Loyola, 1991, p. 20).

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como para outras pessoas”.184 Geralmente é insensível e gosta de tudo para on-
tem... Mas suas qualidades quando bem exploradas muito podem contribuir num
projeto coletivo, por exemplo. No casamento, o cônjuge colérico pode assumir
uma postura motivadora, impulsionadora, animadora.

2.3.2 Sanguíneo

LaHaye (1991) comenta que o “[...] temperamento sanguíneo é cordial,


eufórico, vigoroso e ‘folgazão’”.185 Para o sanguíneo, os sentimentos tem um peso
enorme em suas ações, mais que os pensamentos ponderados. Uma marca do
sanguíneo é sua cordialidade e diferentemente do colérico, ele não é tão insensível
aos sentimentos alheios. Faz muitos amigos e no trabalho, conquanto seja enérgi-
co, por vezes não conclui o que começou.

2.3.3 Melancólico

LaHaye (1991) comenta que o melancólico “[...] é comumente classificado


como o temperamento ‘hostil e sombrio’”. A despeito dessa designação nada hon-
rosa, LaHaye afirma que o melancólico “[...] na realidade, é o mais rico de todos
os temperamentos, pois é um tipo analítico, abnegado, bem dotado e perfeccio-
nista. Ninguém desfruta maior prazer com as belas artes do que o melancólico”.186
Mas este temperamento, como todos os outros, possui também seus defeitos.
Tende a ser vingativo, demora a superar conflitos interpessoais e diferentemente
do temperamento sanguíneo, não faz amigos com tanta facilidade. No casamen-
to, o cônjuge precisa saber lidar com as ciclotomias do parceiro melancólico, e o
cônjuge melancólico deve buscar reconhecer suas nuances de humor e procurar
minimizar os impactos disto sobre os outros membros da família, especialmente
sobre o parceiro ou parceira.

184 LAHAYE, 1991, p. 23.


185 LAHAYE, 1991, p. 22.
186 LAHAYE, 1997, p. 27.

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Esboços

2.3.4 Fleumático

Tende a ser equilibrado, calculista, coerente, frio e para ele, a vida “[...] é
uma experiência feliz, serena e agradável na qual tenta envolver-se o mínimo pos-
sível”.187 Em posições de gestão e liderança, o fleumático tende a ser muito produ-
tivo e bem sucedido. No casamento, é importante que ele trabalhe suas emoções
e sua postura, pois ele tende a mais sentir as emoções do que a demonstrá-las, o
que pode ser ruim para a relação. Essa frieza típica do fleumático, boa em alguns
contextos, pode ser devastadora para suas relações pessoais.

CONCLUSÃO

Naturalmente, muito mais poderia ser dito aqui a respeito da vida a dois,
do casamento, mormente na perspectiva bíblica. Buscou-se um diálogo com ou-
tras fontes de conhecimento a fim de se produzir um texto que apresente assim
contribuições possíveis, mas partindo da compreensão básica de que o casamento
continua sendo uma instituição vital à sociedade, à constituição de famílias sau-
dáveis e também para a construção de igrejas sadias.

187 LAHAYE, 1991, p. 28.

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ÍND I C E TE MÁ T I C O

PAR A E STU DA N T E S E
PE S QU ISAD O RE S DE T E OL OGI A

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S O BR E E STA S E Ç Ã O

Na medida em que fui pesquisando e produzindo, também fui sentindo


falta de uma forma específica de organização que eu mesmo acabei criando e
chamei de Índice temático. Na verdade, este índice, que agora compartilho com
o leitor e com a leitora, nada mais é que o reflexo do trabalho de um pesquisador,
que foi sendo alimentado ao longo dos anos, no que tange às obras que ele con-
sultou para pesquisar determinados temas e assuntos.
O pesquisador é alguém “preso” a um ir e vir constante, visitando e revisi-
tando obras para construir sua própria obra e, assim, para cada assunto que pes-
quisava, eu anotava as obras consultadas relacionadas àquele assunto. Entendo ser
uma ferramenta muito útil – de fato tem sido para mim! – e por isto mesmo agora
disponibilizo aqui, nesta enciclopédia. Assim, informo já de partida que este índice
é útil, não exaustivo. Desse modo, fica claro que ele poderá (e haverá de ser) ainda
muito mais enriquecido, mas a despeito de seus limites evidentes, ele pode ser uma
fonte de novas indicações e possibilidades tanto para pesquisadores que necessi-
tam ampliar seus horizontes de leitura, como para estudantes de Teologia que
sempre pedem indicações bibliográficas em relação a disciplinas da Teologia.

 A RELAÇÃO HISTÓRIA E HISTORIADOR


BULTMANN, Rudolf. Crer e compreender: ensaios selecionados. ed.
rev. ampl. Trad.: Walter Schlupp. Walter Altmann. Nélio Schneider. São
Leopoldo: Sinodal, 2001, p. 386ss.
 ABBA
TAMAYO, Juan José. Novo Dicionário de Teologia. Trad.: Celso Márcio
Teixeira. Antonio Efro Feltrin. Mário Gonçalves. São Paulo: Paulus, 2009,
p. 297.
 ACONSELHAMENTO
CARLSON, Raymond et al. Manual: Pastor Pentecostal: Teologia e prá-
ticas pastorais. 6ª ed. Trad.: Luis Aron de Macedo. Rio de Janeiro: CPAD,
2010, p. 562ss.

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