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Vida
NO PODER DO ESPÍRITO
Fundamentos da experiênciapentecostal um chamado ao diálogo
W l L L I A M W. M E N Z I E S & R O B E R T P. M E N Z I E S
O
s pentecostais sempre foram reconhecidos por valorizar mais a ex
periência que a teologia, sendo mais divulgadas sua vitalidade e dis
posição evangelística que seu apego às questões intelectuais. No entanto,
o movimento pentecostal se sustenta sobre sólida fundamentação teoló
gica. Por isso, cristãos de quaisquer denominações precisam conhecer as
bases da teologia pentecostal, para compreender melhor as crenças e prá
ticas que mudaram a dinâmica da evangelização no mundo.
O momento que a igreja atravessa é bastante propício à reflexão, permi
tindo a elaboração de uma teologia consistente. Pentecostais tiveram a
consciência despertada de que suas crenças não devem ser apresentadas
apenas como canal de poder, mas também como um sistema de crenças
coerenteefundamentado nas Escrituras.
No poder do Espírito é fruto dessa visão. Trata-se de obra oportuna que
contribuirá grandemente no desafio de explicar o pentecostalismo. Os
conceitos defendidos pelos autores estão expressos na linguagem do
ambiente teológico contemporâneo, sem se afastar dos valores tradi
cionais do movimento. Este livro foi escrito para pastores e seminaristas
de todas as correntes teológicas, bem como para todos os que desejam
conhecer melhor a doutrina pentecostal.
ISBN 85-7367-599-3
H a r r e r G o l l in s
Ge rênci a a d m i n i s t r a t i v a
G ilso n L opes
E d iro ra filiad a a
A ssociação B rasileira Comunicação e marketing
de E ditores C ristãos S érgio P avarini
Associação B rasileira
de M arketing D ireto Coo r d e n a ç ã o e d i t o r i al
J u d so n C a n t o • obras de interesse geral
R o g ério P o rtella • obras teológicas, de
referência e multimídia
R o sa F erreira * Bíblias
S ílvia J u st in o • obras de autores nacionais,
infantis e juvenis
Super vi s ã o de produçã o
S a n d r a L eite
W lL L IA M W . M EN ZIES & ROBERT P. MENZIES
NO PODER DO ESPIRITO
Fundamentos da experiência pentecostal— umjchajmajiq. ao diájogo
V
Editora
Vida
© 2000, de W illiam W . Menzies e Robert P Menzies
Título do original • S p ir it a n d p o w e r ,
edição publicada pela
ZONDERVAK PUBLI-SHING HüUSK
(Grand Rapids, Michigan, eua)
E d it o r a V id a
Rua Júlio de Castilho, 2 8 0 : Belenzinho
<:kp 0 3 0 5 9 -0 0 0 c: São Paulo, SP
Telefax 0 xx 11 6 0 9 6 6 8 1 4
www.cditoravida.com.br
Menzies, William W. -
No poder do Espírito: fundamentos da experiência pentecostal: um chama
do ao diálogo / William W. Menzies, Robert P. Menzies; tradução Heber Carlos
de Campos — São Paulo : Editora Vida, 2002,
Título original: Spirit and power: fbundation of Pentecostal experience: a
call to Evangelical dialogue
Bibliografia.
ISBN 85- 7367- 599-3
■ Abreviações 8
■ Introdução 9
■ Conclusão 261
■ Bibliografia selecionada 265
Abreviações
ab Anchor Bible
ajps Asian Journal of Pentecostal Studies
atr Australian Theological Review
BTB Biblical Theological Bulletin
EvQ Evangelical Quarterly
EvT Evangelische Theologie
ExpTim Expository Times
h tr Harvard Theological Review
IBS Irish Biblical Studies
In t Interpretation
IRM International Review of Missions
jpt Journal of Pentecostal Theology
jP T Sup Journal of Pentecostal Theology Supplement Series
JSNT Journal for the Study o f the N ew Testament
JSN TSup Journal for the Study ofthe N ew Testament Supplement Series
ncb New Century Bible
NICNT New International Qommentary on the N ew Testament
NIGTC New International Greek Testament Commentary
nvi Nova Versão Internacional
novt Novum Testamentum
n ts New Testament Studies
OTK.NT Okumenischer Taschenbuck-Kommentar zum Neuen Testament
rb Revue biblique
RevRel Review for Religions
SJY Scottish Journal of Theology
SNT Studien zum Neuen Testament
TDNT Theological Dictionary of the New Testament
Them Themelios
TJ Trinity Journal
TWNT Theologisches Worterbuch zum Neuen Testament
w bc Word Biblical Commentary
ZNW Zeistscbnft fur die Neutestamentlichen Wissenschaft
Introdução
História: entendendo
o novo contexto
0 SURGIMENTO DO REAVIVAMENTO
PENTECOSTAL MODERNO
ções foram atraídos para lá. Alguns visitantes eram missionários li
gados a várias agências missionárias. Muitos desses curiosos visi
tantes receberam a experiência pentecostal. Com grande entusiasmo
por Deus, esses novos pentecostais, quase sempre deixados no es
quecimento por seus grupos de origem, dispersaram-se para espa
lhar o evangelho, às vezes sem nenhuma credencial nem qualquer
meio visível de sustento. Não tinham quase nada a não ser a alegria
do Senhor e uma grande consciência do cuidado providencial de
Deus. Esses foram os pioneiros pentecostais.
E digno de nota que Parham tentou liderar o reavivamento da
rua Azusa. Ele foi repehdo em Los Angeles e seu papel na formação
do movimento pentecostal diminuiu desse ponto em diante. Na ver
dade, o reavivamento pentecostal norte-americano não pode reivin
dicar um único pai. Além das terras norte-americanas, parece que
com a mais tênue das ligações, surgiram reavivamentos pentecostais
em várias partes da Europa, Ásia e América Latina nessa época. As
muitas linhas de comunicação indicam a influência da rua Azusa,
mas é forçoso comprovar-se que o papel da rua Azusa serviu muito
mais de catalisador dos derramamentos que ocorreram em outros
lugares. Foi na verdade um tempo de plenitude no mundo, quando
as pessoas fam intas de Deus reconheceram que a experiência
pentecostal lhes satisfazia as expectativas.
A n t e c e d e n t e s do r e a v iv a m e n t o
PENTECOSTAL MODERNO
Raízes no movimento Holiness
Fundamentalismo
3P. 67-96.
HISTÓRIA: ENTENDENDO 0 NOVO CONTEXTO 21
Batismo no Espírito
cristão; eles pagaram um preço muito alto por esse valor que lhes
era tão precioso, mas aceitaram voluntariamente o opróbrio dos ou
tros. Para muitos, foi o cumprimento da profecia bíblica, a vinda da
prometida “chuva serôdia”. O reavivamento foi tão notável que para
muita gente era algo que jamais ocorrera antes. Somente décadas
mais tarde é que a maioria dos pentecostais se dispôs a reconhecer
que houve de fato antecedentes em anos anteriores dos quais eles se
alimentaram, e que o reavivamento, mesmo sendo notável, não era,
portanto, único.
Fé firme
Expectativa
Realidade
Adoração entusiástica
Comunhão enriquecedora
Autoridade da Bíblia
O DESENVOLVIMENTO DO MOVIMENTO
PENTECOSTAL MODERNO
*Sherry D o t y , estatística da AOG, org., The Assemblies <>f God: currcnt facts,
based on calendar year 1998, Office o f Public Relations, junho 1999.
NO PODER DO ESPÍRITO 34
A RENOVAÇÃO CARISMÁTICA*
9V. Dennis BENNETT, Nine o’clock in the moming, para conhecer o seu
testemunho.V. MENZIES, Anointed to serve, p. 177-227, a história da emergência
das Assembléias de Deus do isolamento para a associação com outros grupos
cristãos.
10V. Kilian M cD onnell, Presence, power, praise: documents on the Charismai ic
Renewal, que é a melhor coletânea de respostas oficiais das denominações à Reno
vação Carismática.
NO PODER DO ESPÍRITO / ; 38
nV. Pneu.ma 12 (outono 1990). Essa edição é toda dedicada ao diálogo católi-
co/pentecostal, que começou em 1972 e desde então se renova a cada cinco anos.
O número contém um editorial excelente de Cecil M. R obkck, Splinters and logs,
catholics and pentecostais (p. 77-83), e é acompanhado de reportagens dos três pri
meiros qüinqüênios das sessões de diálogos.
NO PODER DO ESPÍRITO 40
Hermenêutica: a
revolução silenciosa
O p a s s a d o : u m c â n o n dentro
DE OUTRO CÂNON
Uma visão geral de três livros influentes na época em que eu era
aluno do seminário vai ser de grande ajuda. Esses três livros perma
necem representativos do ponto de vista da prim eira fase do
evangelicalismo moderno (1945-1970): Protestant biblical interpre-
tation [.Interpretação bíblica protestante], de Bernard Ramm (1956);
Batismo eplenitude do Espírito Santo, de John R. W. Stott (1964);
Entendes o que lês?, de Gordon Fee e Douglas Stuart (1981). A últi
ma obra, embora escrita depois de 1970, reflete a perspectiva da gera
ção a n terio r e vem de um período de transição — em que a
perspectiva tradicional estava começando a ser desafiada e as impli
cações de novos conhecimentos para a teoria hermenêutica, parti
cularmente no estudo dos evangelhos, estavam começando a ser
examinadas. Esses livros foram muito usados nas escolas bíblicas e
seminários tradicionais e em conjunto exerceram impacto substan
cial numa geração de alunos evangélicos tradicionais.
Eles representam uma trajetória de Ramm a Stott e Fee. Ramm
estabelece o tom quando, citando Horne, explica a analogia da fé
como “a harmonia perpétua e constante das Escrituras nos pontos
fundamentais de fé e prática deduzidos das passagens em que eles
são discutidos pela pena de homens inspirados seja direta ou ex
pressamente e em linguagem clara, comum e inteligível”.2 Em ou
tras palavras, Ramm realça a unidade das Escrituras e dá a entender
que as passagens mais claras da Bíblia devem ser usadas para ajudar a
entender as passagens menos explícitas. Como Ramm aplicaria a ana
logia da fé às porções narrativas das Escrituras não é exatamente espe
cificado. Mas esse assunto é retomado e esclarecido por Stott e Fee.
Stott, na versão original de seu livro em 1964, afirma que “a reve
lação do propósito de Deus na Escritura deve ser buscada em sua
parte didática, em vez das partes históricas
”.3 Na segunda edição
publicada em 1976, ele insiste que não está afirmando que as passa
gens narrativas não têm valor. Contudo, prossegue: “Estou dizendo
4P. 91. (Fee escreveu o capítulo mencionado; o "rifo é dele.) Na segunda edi
ção, publicada em 1993, observe que Fee qualifica esse princípio fazendo uma
emenda: “A menos que se demonstre em outras bases que o autor pretendia que
funcionasse desse modo”. Para comentários sobre Fee e seu papel tanto no
evangelicalismo como no pentecostalismo, v. cap. 7 deste livro.
NO PODER DO ESPÍRITO 46
era como destacar com precisão que doutrina podia ser essa. Que ele
mentos de uma história devem ser entendidos como base para a teolo
gia normativa e que elementos não devem? Como Fee observa, a menos
que estejamos preparados para escolher os líderes da igreja por sorteio
ou incentivar os membros da igreja a vender todas as suas posses, não
podemos simplesmente presumir que uma narrativa histórica especí
fica forneça base para uma teologia normativa.
Naturalmente essa é uma preocupação legítima, um problema
real. Como já vimos, a geração anterior ofereceu uma resposta clara:
a doutrina não pode estar arraigada apenas na narrativa porque a
narrativa é simplesmente muito escorregadia, elástica e imprecisa.
Vamos examinar essa questão mais plenamente a seguir, mas por ora
é suficiente lembrar que as preocupações que deram origem a essa
postura restritiva não podem ser evitadas.
Além disso, devemos ser sensíveis ao contexto, ao conjunto sin
gular de fatos históricos, que causou impacto no modo de ver dessa
geração anterior. Talvez devéssemos remontar a meados do século
xix e ao surgimento da escola de Tübingen, sob a influência de
Ferdinand Christian Baur, onde vemos as sementes de uma polêmi
ca responsável em grande parte por dar forma à postura “restritiva”
dos tradicionais. Baur, docente da Universidade de Tübingen, apli
cou a dialética hegeliana (tese, antítese e síntese) à história do cris
tianismo primitivo, o que resultou num retrato extremamente crítico
da confiabilidade histórica de Atos. Baur sustentava que Atos era
essencialmente o produto de história revisionista: uma síntese do
cristianismo judaico (tese) e do cristianismo gentílico (antítese).5
Em resumo, Baur deu a entender que o livro de Atos nos fornece
pouco no que diz respeito a fatos históricos, mas muito de pensa
mento desejoso de teologizar para a geração seguinte. Embora sua
tese tenha sido amplamente rejeitada por ser outra ilustração de que o
hegelianismo ficou louco,6 sua idéia estabeleceu o palco para outros
5Baur escreveu uma série de livros, mas um artigo escrito em 1831 expressou
primeiro suas idéias.
6Entre os exemplos de aplicação excessivamente forte do hegelianismo em ou
tros campos do conhecimento estão as idéias de Darwin, na biologia, e a teoria
política de Karl Marx.
HERMENÊUTICA: A REVOLUÇÃO SILENCIOSA •' 47
0 p r e s e n t e : a f ir m a ç ã o d a im p o r t â n c ia
TEOLÓGICA DA NARRATIVA
"P. 349-50.
HERMENÊUTICA: A REVOLUÇÃO SILENCIOSA / / 51
C onclusão
A revolução silenciosa com efeito causou impacto significativo nas
atitudes tradicionais em relação a Lucas e Atos e o empreendimento
hermenêutico em geral. Revelou novas questões, novos pontos fru
tíferos de discussão. Acima de tudo, capacitou-nos a reconhecer a
diversidade maravilhosa que encontramos nas Escrituras e a nos apro
priar de uma teologia bíbhca mais integral.
Hermenêutica: a contribuição
inconfundível de Lucas
'V. p. 38-54. V. tb. G. W. H. Lampe, The H oly Spirit in the writings o f Saint
Luke, em Studies in the Gospels, p. 162; v. Lampe, God as Spirit: the Bampton
lectures, p. 65; F. Büchsel, Der Geist Gottes irn Neuen Testament, p. 234-5; F.
F. Bruce, The H oly Spirit in the Acts o f the Apostles, Int 27, 1973, p. 170-2; F.
D. Brunf.r, Teologia do Espírito Santo.
HERMENÊUTICA: A CONTRIBUIÇÃO INCONFUNDÍVEL DE LUCAS 57
2“How is the baptism in the H oly Spirit to be distinguished from receiving the
Spirit at conversion?” (Ensaio apresentado no 20.° Encontro Anual da Sociedade
de Estudos Pentecostais, 9 de novembro de 1990.)
3Estas citações e as seguintes são de Dunn, op. cit., p. 39.
HERMENÊUTICA: A CONTRIBUIÇÃO INCONFUNDÍVEL DE LUCAS 59
Ele está sem dúvida correto. A ironia é que Dunn não aplicou coe
rentemente seu próprio método. Ele tem sido criticado, e com acer
to, por ler Lucas— Atos através das lentes da teologia paulina. A
despeito das deficiências de sua própria obra, Dunn prestou um ser
viço valioso. Desafiou-nos a reconhecer uma verdade importante:
os pentecostais não podem continuar a confiar nos métodos inter-
pretativos do movimento Holiness do século XIX e esperar ser ouvi
dos no mundo evangélico contemporâneo.4 Ademais, por insistir
que levemos a sério a perspectiva teológica de cada autor bíbhco,
Dunn mostrou uma alternativa positiva.
O desafio metodológico de Dunn foi oportuno, pois ocorriam
desenvolvimentos nos estudos de Lucas que haviam de causar im
pacto significativo na forma da teologia tradicional e pentecostal.
Como já observamos, a publicação em 1970 do livro de I. Howard
Marshall, Luke: bistorian and theologianmarcou uma mudança im
portante no pensamento evangélico tradicional. No passado os evan
gélicos tradicionais enxergaram o livro de A tos como um texto
histórico com pouca importância teológica. Essa perspectiva foi uma
reação ao ceticismo histórico radical que marcou muito as obras
mais antigas que classificavam Lucas como teólogo.5 Lucas foi apre
sentado tanto como historiador com pouco interesse em teologia
como teólogo com pouco interesse em história. Entretanto, os evan-
géhcos tradicionais começaram lentamente a reconhecer que Lucas
era de fato tanto historiador quanto teólogo: ele escreveu uma nar
rativa histórica, mas com um propósito teológico em mente. O tí
tulo do livro de Marshall reflete essa mudança im portante na
concepção evangélica tradicional.
Essas mudanças nas atitudes dos tradicionais com relação a Lucas
marcaram o início de uma era empolgante para os pentecostais. O
estudo da obra em dois volumes de Lucas recebeu novo ímpeto da
nova consciência de que ele tem de fato uma contribuição teológica
‘Tanto Dunn (op. cit., p. 39) quanto Wessels (How is the baptism, 1-23, n. 69)
observam a influência que o movimento Holiness exerceu sobre os métodos pen
tecostais de interpretação.
5Ver o capítulo anterior e a descrição do ceticismo histórico no livro de Ernst
Haenchen, The Acts ofthe Apostles.
NO PODER DO ESPÍRrrO 60
,2G. W H. Lampe, The seal of the Spirit, p. 70. Idéias semelhantes são sustenta
das por M. A. C hevallier, Soufflé de Dieu, p. 201-2. Bruner, op. cit.; D. Ewert,
The Holy Spirit in the New Testament, p. 119-20; M. G rekn, I believe in the Holy
Spirit, p. 138-9; I. H. Marshall, TheActs ofthe Apostles, p. 153,157; R. F. 0 ’Tooi.k,
“Christian baptism in Luke”, RevRel 39, 1980, 861-2.
13S. Brown, “‘Water-baptism’ and ‘Spirit-baptism’ in Luke-Acts”, atr 59, 1977,
p. 143-4; J. D. D errett, “Simon Magus (At 8.9-24)”, znw 73, 1982, p. 53. As
respostas de Haenchen (“os poucos casos em Atos em que o recebimento do F.spí-
rito é separado do batismo são exceções justificadas”, Acts, 184), J. H. F,. H ui.i.
(“exceções somente provam a regra”, The Holy Spirit in the Acts of the Apostles, p.
119, e Bruner ( “ o Espírito é temporariamente suspenso do batismo aqui ‘só’ e
precisamente para ensinar [...] que a suspensão não pode ocorrer”, op. cit., 178)
dificilmente são convincentes.
14V. D unn, op. cit., p. 62-3, e G.R. B easuíy-M urray, Baptism in the New Testa
ment, p. 117-8. Lampe também reconhece que a hipótese esboçada acima não justifi
ca adequadamente toda as evidências e, portanto, modifica a sua tese (Seal, p. 70).
NO PODER DO ESPÍRITO ,< 64
15J. COPPENS, L’imposition des mains dans les Actes des Apôtres em LesActes
des Apôtres, org. J. K remer, p. 430; H ull, Acts, p. 107-8; A. W eiser, Die
Apostelgeschichte, 1:203; M. T urner, Luke and the Spirit (tese de Ph.D., Universi-
ty of Cambridge, 1980), p. 169; Lampe, Seal, 53, 65, 70-8.
xkBaptism, p. 119; v. p. 118-20 para sua argumentação. Idéias semelhantes são
defendidas por J. E. L. O ulton, The H oly Spirit, baptism, and laying on o f hands
in Acts, ExpTim 66,1955, p. 236-40; M. G ougers, Esprit des commencements et
Esprit des prolongements dans les Actes: note sur la “Pentecôte des samaritains”
(Act., VIII, 5-25), RB 93, 1986, p. 376-85; e muitos outros da tradição reformada
que seguem a liderança de João C alvino, The Acts of the Apostles 1-13, p. 235-6.
17T urner, op. cit., p. 168. Turner, citando como exemplos Lucas 13.17 e 19.37,
observa que "essa alegria é freqüentemente mencionada como resposta aos vários
atos salvadores de Deus ao longo de Lucas—Atos".
18V. D unn, op. cit., p. 56, 68-70; T urner, Luke and the Spirit, p. 167-8. Como
diz habilmente Dunn: “A fórmula verdadeira não é Ttvevpa ayiov = charismata
(somente), mas jtVEupa ayio\ = Santo Espírito + charismata, ou mais precisa
mente, o Espírito Santo vindo e manifestando sua presença pelos dons [charisma-
ta ]", p. 56.
HERMENÊUTICA: A CONTRIBUIÇÃO INCONFUNDÍVEL DE LUCAS 65
i9D unn, op. cit., p. 56; M arshall, Acts, p. 157; F. Bovon, L uc le théologien, p.
247, 249-50, 252.
20D unn , op. cit., p. 63; para sua argum entação v. p. 63-8.
21Citações ibid., p. 64.
22V. p. ex., as críticas de E. A. R ussell, “They believed Philip preaching” (Acts
8.12), IBS 1, 1979, p. 169-76; Turner, op. cit., p. 163-7; H. F.rvin, Conversion-
initiation and the baptism in the H oly Spirit, p. 25-40; M arshall, Acts, p. 156;
ewert, H oly Spirit, p. 118-9; H. D. H unter, Spirit-baptism: a pentecostal alterna-
tive, p. 83-4; K. G iles, I s Luke an exponent of “early protestantism”? Church
order in the lukan writings (Part 1), E v Q 54, 1982, p. 197; 0 ’T ooi.K, Christian
baptism, p. 861; G reen, op. cit., p. 138; D. C arson, Showing the Spirit: a theological
exposition of lCorinthians 12— 14, p. 144; W R ussei.l, The anoiting with the
Holy Spirit in Luke-A cts, T J, 7, 1986, p. 60-1; Stkondstad, Charismatic theology,
p. 64-5.
NO PODER DO ESPÍRITO 66
31R uSSELL, op. cit., p. 173. Russell também assinala que pisteuõ é usado em
relação às Escrituras com ambos os dativos simples (At 2 4 .14; 26 e 27) e a prepo
sição epi (Lc 24.45).
32G ilks, Church order (Part 1), p. 173. V. tb. T urnkr, op. cit., p. 165.
NO PODER DO ESPÍRITO : ,/ 68
Em geral supõe-se que, uma vez que o Espírito Santo inspirou cada
um dos autores do N ovo Testamento, eles todos devem falar com
uma só voz. Isso quer dizer que cada autor bíblico deve partilhar da
mesma perspectiva teológica. Desse modo, falar da pneumatologia
distintiva de Lucas é questionar o caráter divino e normativo das
Escrituras.
Uma visão evangéhca tradicional ou conservadora das Escrituras
exige essa postura? Em seu útil artigo “An evangelical approach to
‘theological criticism”’ [“Uma abordagem tradicional da ‘crítica teo
lógica”’], I. Howard Marshall assinala que uma doutrina conserva
dora da Bíblia presume que as “Escrituras com o um todo se
harmonizem”.33 Mas observa que essa suposição não elimina as di
ferenças teológicas entre autores bíblicos. A o contrário, dá a enten
der que as diferenças existentes são “diferenças harmoniosas, não
contradições irreconciliáveis”.34 Portanto, propomos que uma visão
elevada das Escrituras exija não que Lucas e Paulo tenham o mesmo
ponto de vista pneumatológico, mas que a pneumatologia própria
de Lucas seja, em última análise, conciliável com a de Paulo e que
ambas as perspectivas possam ser vistas como contribuição para o
processo de desenvolvimento harmonioso.
É imperativo observar que quando falamos da pneumatologia tí
pica de Lucas não estamos asseverando que a perspectiva dele seja
inconciliável com a de Paulo.35 Ao contrário, queremos dizer que as
Paulo. Teria sido possível para Lucas permanecer sem ser influenci
ado pela perspectiva soteriológica paulina acerca do Espírito?36
Afirmamos que um exame mais completo de Lucas—Atos revela
que foi exatamente isso que ocorreu. Diversos fatores indicam que
essa conclusão não nos deve surpreender embora Lucas, como com
panheiro de viagem de Paulo, provavelmente tenha passado tempo
considerável com o apóstolo. 1) Em geral reconhece-se que Lucas
não estava familiarizado com nenhuma das cartas de Paulo,37 de for
ma que o contato de Lucas com a teologia de Paulo talvez tenha-se
limitado às conversas pessoais ou fontes secundárias (orais ou es
critas). E provável que Lucas não conhecesse as cartas de Paulo por
que elas não foram amplamente disponíveis ou reconhecidas em
setores não-paulinos da igreja. Por isso, o ponto de vista de Paulo
não havia ainda influenciado significativamente esses elementos não-
paulinos e mais amplos da igreja primitiva.
2) Visto que outros aspectos da teologia de Paulo não influencia
ram Lucas de forma relevante, nossa sugestão é muito mais aceitá-
5íHá uma pergunta prévia: A perspectiva de Paulo sobre o Espírito foi influen
ciada pela tradição cristã pré-paulina (hinos, formulações litúrgica etc.)? Em geral
se supõe que o aspecto soteriológico da obra do Espírito, tão preeminente nos
escritos de Paulo, era universalmente reconhecido e admitido na igreja primitiva.
Desse modo, muitos estudiosos sustentam que a pneumatologia de Paulo foi mol
dada pela tradição pré-paulina e que a perspectiva de Lucas também deve ter sido
influenciada por tradições semelhantes. Em meu livro The development of early
christian pneumatology with special reference to Luke-Acts, tentei mostrar que essa
suposição é errônea por demonstrar que a tradição cristã tomada por Paulo não
atribui funções soteriológicas ao Espírito. Argumento que Paulo foi o primeiro
cristão a atribuir funções soteriológicas ao Espírito e que este elemento original da
pneumatologia de Paulo não influenciou setores mais amplos (não-paulinos) da
igreja primitiva senão depois dos escritos de Lucas—Atos.
37M. H engf.l, Acts and the history of earliest christianity, p. 66-7; J. C. 0 ’N eill,
The theology of Acts in its historical setting, p. 135; C.K. Barrett, Acts and the
pauline corpus, Exp-Tím 88, 1976, p. 2-5; R. M addox, The purpose of Luke-Acts,
p. 68: “Hoje em geral se reconhece que Lucas não conhecia as cartas paulinas”. A.
Lindemann, contudo, afirma que Lucas conhecia um pouco das cartas de Paulo
(Rm, 2Co e, talvez, Gl), mas, como Mateus e Marcos, não foi significativamente
influenciado pela teologia de Paulo (Paulus im ãltesten Christentum, p. 171-3).
Naturalmente, Paulo menciona Lucas em três de suas cartas (Cl 4.14; 2Tm 4.11;
Fm 24), todas provavelmente escritas de Roma. Conquanto isso indique que Lucas
sabia que Paulo escrevera essas cartas, não indica que Lucas as tenha lido. E, visto
que Lucas— Atos não revela nenhum contato com as cartas (citações, alusões etc.),
é improvável que Lucas as tivesse lido.
HERMENÊUTICA: A CONTRIBUIÇÃO INCONFUNDÍVEL DE LUCAS 71
C onclusão
Em 1918, Roland Allen escreveu estas palavras reveladoras a uma
igreja que havia perdido a visão da natureza missiológica e do pro
pósito do dom pentecostal:
38M arshall, Luke: historian and theologian, p. 175: “ [Lucas] demonstra mui
to claramente que a salvação é concedida por Jesus em virtude de sua posição
como Senhor e Messias. O que falta é um entendimento pleno da importância da
cruz como meio de salvação”.
39Uma vez que os escritos joaninos se originam num ambiente geográfico em que
Paulo está ativo (Efeso) e numa era consideravelmente posterior aos escritos Lucas—
Atos, temos razão de presumir que os elementos soteriológicos da pneumatologia de
João refletem a influência paulina. Devido às semelhanças das perspectivas teológicas
de Paulo ejoão (e . g o Espírito como o fator controlador da nova vida), U- Schnelli;
argumenta que a tradição paulina alcançou a escola de João por meio da tradição oral
e que a transmissão da tradição reflete o ambiente geográfico dominante, provavel
mente Éfeso (Paulus und Johannes, E v T 47, p. 212-28).
NO PODER DO ESPÍRITO / / 72
40The revelation of the Holy Spirit in the Acts of the Apostles, p. 167.
HERMENÊUTICA: A CONTRIBUIÇÃO INCONFUNDÍVEL DE LUCAS 73
2Ibid., 164.
3Ibid., 171.
4K lein, Blomberg e H ubbard, In tro d u c tio n to b ib lic a l in te rp re ta tio n , p. 133.
HERMENÊUTICA: PULANDO FO RA DO TR EM DA PÓS-MODERNIOADE 77
,0Ibid„ p. 1 8 1 2 .
"Ibid., p. 168.
NO PODER DO ESPÍRITO 80
l2CIark H. P innock, The work o f the Holy Spirit in hermeneutics, jpt 2 ,19 9 3,
p. 15-6.
13Postmodern age, p. 187.
HERMENÊUTICA: PULANDO FO RA 0 0 TREM OA PÓS-MODERNIDADE 81
14V. K lein, Blomberg e H ubbard, op. cit., p. 349-50. Observe também os co
mentários deles a respeito dos modos diferentes que Lucas e Paulo descrevem a
atividade do Espírito: “Essas descrições são complementares, não contraditórias.
A doutrina correta das Escrituras não permite que Atos se subordine a Paulo”
(p. 351).
capítulo * 5
Exegese: réplica a
James Dunn
J
ames Dunn moldou de maneira significativa o contexto em que a
atual discussão sobre a obra do Espírito Santo está-se desenvol
vendo. Quando as perguntas geradas pelo surgimento dos movimen
tos pentecostal e carismático se tomaram particularmente preeminen-
tes, o livro de Dunn,Baptism in the Holy Spirit, forneceu respostas
para muitas delas. Embora Dunn tenha afirmado o caráter carismático
da igreja primitiva, desafiou o entendimento pentecostal clássico do
batismo no Espírito. Desse modo, enquanto Dunn encorajou muitos
a levar a sério o aspecto carismático da vida cristã, suas idéias deram
suporte aos não-pentecostais na relutância em aceitar e procurar o
batismo no Espírito distinto da conversão. Dunn tornou-se rapida
mente o paladino da comunidade evangélica não-pentecostal.
Apesar disso, a contribuição de Dunn para o movimento pente
costal também foi enorme. Ele demonstrou que os pentecostais não
podiam mais continuar confiando nos métodos interpretativos do
movimento Holiness do século xix e esperar ser ouvidos no mundo
eclesiástico contemporâneo. Dunn não só desafiou o fundamento
hermenêutico das posições pentecostais tradicionais (uma herme
nêutica que tratava a Bíblia como um “todo homogêneo”), mas tam
bém apontou o caminho a seguir ressaltando a integridade teológica
de cada autor bíblico. Uma teologia verdadeiramente bíblica, anseio
correto de Dunn, pode-se desenvolver apenas quando nós “toma
mos cada autor e livro separadamente [...] Somente então o teólogo
bíblico poderá sentir-se livre para deixar que o texto interaja com
outros textos de outros livros”.1
>E 39.
NO PODER DD ESPÍRITO/ / 84
7Ibid., p. 9.
8Ibid., p. 12-6.
9Ibid., p. 17.
EXEGESE: RÉPLICA A JAM ES DUNN >(j 87
dar poder para sua missão, mas, ainda mais importante, para intro
duzi-los na nova era e mediar as bênçãos dessa era.
Dunn afirma que a ligação entre o Pentecoste e a passagem de
Cornélio (At 10.47 e paralelas) confirma esse julgamento. A profe
cia de João Batista (Lc 3.7-9,16,17) é citada como mais uma evidên
cia dessa posição. Novamente atribui-se a Atos 2.39 importância
especial. De acordo com Dunn, esse texto indica que “a promessa
do Pai” (cf. Lc 24.49; A t 1.4; 2.33) tem importância soteriológica.
Além disso, Dunn sustenta que o entendimento que Lucas tem da
“promessa do Pai” — claramente expresso em Joel 2.28,29 — também
foi moldado por várias outras profecias do Antigo Testamento com
respeito ao papel escatológico do Espírito (e.g., Is 32.13; 44.3-5;
Ez 36.26,27). Embora Lucas não cite nenhum desses textos, Dunn
critica minha “completa desconsideração” por eles.10*
A seção final (“O Espírito e a fé”) contém a justificativa de Dunn
para o elo inextricável entre fé e recepção do Espírito. Aqui Dunn
tenta conciliar as narrativas dos samaritanos (At 8.4-17) e dos efésios
(19.1-7) com seu ponto de vista. Isso leva a sua conclusão, reafirmação
de sua posição mais antiga, de que “a pneumatologia de Lucas em
essência constitui uma unidade com a pneumatologia de Paulo”.11
Embora o artigo de Dunn seja em grande parte reafirmação de
sua posição anterior e ofereça pouca novidade, com efeito reflete a
idéia atual do motor principal da discussão. Talvez o aspecto mais
importante do artigo seja o fato de identificar com clareza a questão
crucial surgida após a publicação de Baptism in the Holy Spirit:
Lucas,
de maneira análoga a Paulo, apresenta o Espírito como agente
soteriológico (a fonte da purificação, justificação e santificação)?
Ou descreve a obra do Espírito exclusivamente em termos carismá
ticos como a fonte de poder para o testemunho eficaz? O artigo de
Dunn também ressalta textos específicos e questões exegéticas de
particular importância para todos os que procuram responder a es
sas perguntas. Agora vamos analisar esses textos específicos e o tra
tamento que Dunn lhes dá.
I0Ibid., p. 21.
''Ibid., p. 27.
NO PODER DO ESPÍRITO 88
AtOS 8.4-17
A narrativa dos samaritanos (At 8.4-17), que os descreve como cren
tes batizados mas sem o Espírito, é a mais problemática para Dunn.
Ela indica que eles creram na pregação de Filipe e por isso foram
batizados por ele (v. 12), todavia não receberam o Espírito senão
algum tempo depois (v. 15-17). As implicações desse relato para o
entendimento de Lucas acerca do Espírito são evidentes. Uma vez
que Lucas considerava os samaritanos cristãos (i.e., convertidos)
antes de receberem o Espírito, dificilmente se pode sustentar que
ele entendeu o Espírito como “uma coisa que faz [o indivíduo] o
cristão”.12
Como já vimos, Dunn inicialmente procurou diminuir a força
desse texto argumentando que, na visão de Lucas, os samaritanos
não eram realmente cristãos antes de receberem o Espírito. Susten
tou que “a resposta inicial e o comprometimento [deles] eram fa
lhos”, e Lucas “tinha a intenção que seus leitores soubessem disso”.13
Contudo, essa hipótese foi submetida a intensa crítica e rejeitada
por quase todos os estudiosos que a avaliaram.14 Com sua antiga
AtOS 19.1-7
A narração de Lucas com respeito ao recebimento do Espírito pelos
discípulos efésios mais uma vez é cheia de dificuldades para Dunn.
Primeiramente, há a pergunta de Paulo: “Vocês receberam o Espíri
to quando creram?” (19.2). Depois, há também a referência a “dis
cípulos” (19.1) que não tinham recebido o batismo cristão nem o
dom do Espírito.
20V. Lucas 9.16,18,54; 10.23; 16.1; 17.11; 18.15; 19.29; 19.37; 20.45; 22.39,45;
Atos 6.1,2,7; 9.10,19,26,29; 13.52; 14.20,22,28; 15.10; 16.1; 18.23,27; 19.1,9,30;
20.1,30; 21.4,16. K. H aacker, Einige Fàlle von “erlebter Rede” im von Neuen
Testament NovT 12 (1970), p. 75: “Der absolut Gebrauch von wird von
alecn Auslegern ais eine Bezeichnung für Christen erkannt”.
21V. K. H. R engstorf, px9rl't:llÇ. tdnt, 4:447.
22Ver, por exemplo, F. F. Bruce, Commentary on the Book ofActs , p. 385: “A
pergunta de Paulo: ‘Vocês receberam o Espírito Santo quando creram?’ dá a en
tender que ele os considerava crentes em Cristo verdadeiros”.
2:1Baptism, p. 85.
“Response, p. 24.
23Baptism, p. 86.
26A. W eiser, Die Apostelgeschichte, 2:513: “Die Formung von Dialogen ist ein
von Lukas oft angewandtes Gestaltungsmittel”. Lucas 1.34,35; Atos 1.6-8; 4.7-12;
8.34-36; 16.30-32.
EXEGESE: RÉPLICA A JAM ES DUNN : 93
Atos 2.38,39
34Para uma discussão de Dunn sobre esses pontos, v. Response, p. 12, 21-2 (cf.
Dunn, B a p tism , p. 47-8, 90-3).
NO PODER DO ESPÍRITO 96
37D. L. T iede, The exaltation of Jesus and the rcstoration o f Israel in Acts 1,
htr 79, 1986, p. 268-86.
3SResponse, p. 12, 21.
39Ibid., p. 21-2.
*°Judai$m andbellenism: studies in their encounter in Palestine duving the carly
hellenistic period, 1:312.
NO PODER DO ESPÍRITO 98
*2Baptism, p. 92.
43E. Schweiser, ttveupa, 6:412. O julgamento oferecido por S. Brown é con
vincente: “Certamente é preferível interpretar a passagem de acordo com todos os
outros textos que consideramos e entender as palavras ‘e recebereis’ como se indi
cassem um acontecimento posterior ao baiismo” (“Water-baptism” and “Spirit-
baptism” in Luke-Acts, p. 144).
NO PODER DO ESPÍRITO / i 100
50I. H. Marshall, Acis, p. 197. Marshall observa que o texto de Atos 11.16
provavelmente signifique: “João batizou (meramente) com água, mas vocês serão
batizados (não somente com água, mas também) com o Espírito Santo”. Por isso,
Pedro considerou o batismo com água pré-requisito normal para o dom do Espíri
to e sua conclusão é feita posteriormente. O batismo com água implica que o
batizando recebeu “arrependimento para a vida”.
51Response, p. 14 (cf. Baptism, p. 81-2).
52J. Taeger, D e r Mensch und, sein H eil, p. 108.
53D. H ill, N ew Testamentprophecy, p. 96-7: “O fato de Lucas ser tão cuidado
so ao registrar os mesmos sinais da posse do Espírito naquelas duas grandes ocasiões
[At 3.4,5; 10.44,45] demonstra que para ele o caráter ‘profético’ do dom é central:
é a preparação para a proclamação do evangelho”.
EXEGESE: RÉPLICA A J A M E S DUNN 103
C o nclusão
54Response, p. 26.
55Ibid., p. 26.
56Spirit-baptism and pentecostalism, sj r 23, 1970, p. 406-7.
NO PODER DO ESPÍRITO / ■ 104
5. Que textos importantes são citados por Dunn para apoiar sua
tese de que Lucas, como Paulo, apresenta o Espírito como agen
te soteriológico, o elemento principal na conversão?
6. Como você avalia a tese central de Dunn? Com o avalia a respos
ta de Menzies? Que implicações surgem dessa discussão para a
teologia pentecostal?
capítulo • 6
Exegese: réplica a
Max Turner
}IbicL, p. xii.
'Para uma perspectiva mais ampla, ver a convincente resenha de John Christo-
pher Thomas, que discute a análise de Turner a respeito de Paulo e João assim como
de Lucas (J.C. Thomas, M ax Tumer’s The Holy Spirit and spirilual gifts: then and
now: an appreciation and critique”, JP T 12,1998, p. 3-21. Observe também a respos
ta de Turner no mesmo número (M. T urner, Readings and paradigms: a response to
John Christopher Thomas, j p t 12, 1998, p. 23-38).
sO prof. Turner agora é vice-diretor para assuntos acadêmicos na London Bible
College.
EXEGESE: RÉPLICA A M A X TURNER '0 109
0 E s p ír it o em Lu c a s— A to s:
ESCLARECIMENTO DE MINHA POSIÇÃO
Aspecto profético
Aspecto missiológico
‘'The revelation of the Holy Spirit in the Acts o f the Apostles, p. 160-7.
,0V. John Michael Penney, The missionary emphasis oflukan pneumatology.
"O discurso inspirado descrito em Atos 2.11 não deve ser entendido simples
mente como louvor dirigido a Deus. E, acima de tudo, proclamação. V. minha
discussão deste texto em Empowered, p. 177.
EXEGESE: RÉPLICA A M A X TURNER " 113
T urner: o E s p ír it o de p r o f e c ia c o m o
AGENTE SOTERIOLÓGICO
l2Para uma descrição desses “dons prototípicos”, v. T urnkr, op. cit., p. 6-12.
Para Turner, o termo “invasivo” significa “como o Espírito vem sobre as pessoas
tomadas e inspiradas para falar”. Essa forma “invasiva” de discurso profético dife
rente da “forma usual de profecia, que não era inspirada imediatamente, mas en
volvia o relato a um público-alvo de alguma revelação concedida (talvez dias ou
semanas) de antemão” (ibid., p. 10).
NO PODER DO ESPÍRITO A 114
0 contexto judaico
13É também duvidoso se o conceito de Paulo acerca do Espírito pode ser enten
dido corretamente apenas como uma forma desenvolvida do Espírito de profecia.
A proposta de Craig Keener de que o Espírito é a fonte da pureza e da profecia
indica uma corrente adicional e importante na concepção paulina (1 Co 6.11), cor
rente que falta em Lucas—Atos (v. C. K eener, The Spirit in the Gospels andA cts:
divine purity and power. Além disso, a obra transformadora do Espírito (Rm 8) e
as referências ao Espírito como a fonte da ressurreição (Rm 1 .4; cf. 1Co 15.42-49)
parecem transcender as categorias do Espírito como o Espírito de profecia tam
bém. Esta discussão, contudo, leva-nos muito além dos limites deste estudo.
14T urner, op. cit., p. 15.
15Ibid., p. 17.
EXEGESE: REPLICA A M A X T U R N E R rj 115
16Ibid., p. 34.
I7V. M enzies, Empowered, p. 94-8, c os textos rabínicos aí citados.
NO PODER DO ESPÍRITO 116
Lucas— Atos
21lbid., p. 29.
EXEGESE: RÉPLICA A M A X TURNER /} 121
25Ibid.
26Ibid., p. 49.
27Ibid. (grifos de Turner).
NO PODER DO ESPÍRITO ■ 'J 122
0 MÉTODO t e o l ó g ic o : e m d e f e s a do m o d e l o
do r e c e b im e n t o do E s p ír it o e m d o is e s t á g io s
Como vimos, Turner acentua aquilo que ele considera a unidade es
sencial de junção da pneumatologia de Lucas, de Paulo e de João, os
quais retratam o dom do Espírito como necessidade soteriológica e
central para a conversão. Não deve nos surpreender, então, saber
que Turner também defende o recebimento do Espírito no modelo
de um só estágio. De acordo com ele, há um dom do Espírito con
cedido como parte do complexo conversão-iniciação e esse dom é a
fonte de toda experiência cristã. Experiências carismáticas poste
riores devem ser entendidas como experiências renovadoras desse
único dom dado a todo cristão na conversão-iniciação.31
Naturalmente isso deixa pouco espaço para a teologia pentecos-
tal clássica, com o seu modelo de recebimento do Espírito em dois
estágios. Mas, segundo Turner, nós não devemos ficar excessiva
mente preocupados com esse assunto, pois o modelo de dois estági
os deixa de integrar a percepção de Lucas e a de Paulo de maneira
coerente. Turner afirma que minha abordagem implica uma simples
adição:
Os crentes primeiro, na conversão, recebem o Espírito como o
Espírito soteriológico regenerador de filiação e a nova vida do
pacto (como Paulo e João concordam) depois em algum ponto
recebem o ‘Espírito de profecia’, conforme Lucas, como uma
capacitação distinta, do ponto de vista experiencial, para missão.32
3lIbid., p. 157-68.
32Ibid., p. 152.
/
EXEGESE: RÉPLICA A M A X TUBNER ■ . 125
37Op. cit., p. 155 (grifo dele). Turner também afirma: “É claro que Paulo pre
via uma igreja alegremente ‘carismática’, na qual cada área da vida e do ministério
cristãos seriam profundamente moldados pela consciência da experiência do Espí
rito. Todavia, evidentemente, ele não tinha nenhuma necessidade de elucidar ne
nhuma teologia da segunda bênção para fortalecer isso [...] Não há razão para
condicionar a orientação e o zelo missionários à teologia da segunda bênção. As
igrejas de Paulo parecem ter crescido rapidamente sem que ele expressasse a
idéia de que o Espírito é concedido a cada um como capacitação para o testemu
nho” (p. 166-7). Esses comentários presumem que as cartas a d h o c de Paulo nos
dão uma descrição abrangente da teologia e da prática das igrejas paulinas. Tam
bém refletem a tendência de Turner de ver a perspectiva de Paulo como defini
tiva.
EXEGESE: RÉPLICA A M A X TURNER 129
C onclusão
Nos últimos quinze anos testemunhamos o surgimento de uma nova
geração da intelectualidade pentecostal. Os escritos desses estudio
sos desafiaram as velhas suposições evangélicas tradicionais acerca
da forma da pneumatologia do Novo Testamento, em particular da
natureza da teologia de Lucas acerca do Espírito. Trinta anos se pas
saram desde que James Dunn escreveu seu influente Baptism in the
Holy Spirit. Ora, exatamente na hora em que os argumentos de Dunn
começam a perder sua força de persuasão, Max Turner fornece uma
abordagem atualizada, plenam ente fam iliarizada com a nova
intelectuahdade, que mais uma vez anima a posição evangélica tra
dicional.
Turner com efeito produziu dois livros notáveis, e qualquer discus
são sobre pneumatologia terá de lidar com eles. The Holy Spirit and
spiritual gifts: then and now [O Espírito Santo e os dons espirituais:
antes e agora] é mais acessível e abrangente do que Power Jrom on
high [Poder do alto ] e destina-se a servir de influência para muitos
evangélicos tradicionais que procuram tratar das questões dessa nova
geração. A parte das conclusões confortantes, o livro tem muitos
outros pontos positivos que não passarão despercebidos pela co
munidade evangélica tradicional (e os de fora dela). Turner interage
com uma surpreendente quantidade de pesquisas detalhadas, entre
elas as contribuições pentecostais mais recentes, e expõe uma tese
ágil e precisa que provê análise coesa e coerente da pneumatologia
do Novo Testamento. Também dá mais detalhes das implicações de
suas conclusões para a vida da igreja de modo claro e refletido.
A abordagem de Turner, contudo, também tem suas limitações.
Sua tese central — de que todos os escritos do N ovo Testamento
refletem o entendimento comum do Espírito como o Espírito de
profecia: a fonte da sabedoria que dá vida, revelação carismática,
discurso profético e louvor — não é flexível bastante para fazer jus
tiça à perspectiva distintiva de Lucas e é provavelmente estreita de
mais também para Paulo e João. Fica evidente que Turner, com seus
EXEGESE: RÉPLICA A M A X TURNER 131
Declarações
teológicas
capítulo • 7
A questão da
posterioridade
D
esde os primeiros dias do movimento pentecostal moderno, os
pentecostais têm proclamado que todos os cristãos podem, e
na verdade devem, experimentar um batismo no Espírito Santo “dis
tinto da experiência do novo nascimento e posterior a ela”.1 Essa
doutrina da posterioridade surgiu naturalmente da convicção de que
o Espírito desceu sobre os discípulos no Pentecoste (At 2) não como
a fonte da existência do novo pacto, mas como a fonte de poder para
o testemunho eficaz. Embora os primeiros pensadores tradicionais,
como R. A. Torrey e A. J. Gordon, também tenham defendido um
batismo no Espírito subseqüente à conversão, teólogos tradicionais
mais recentes rejeitaram em grande parte a doutrina da posteriorida
de, particularmente a forma pentecostal. Consideravelmente influen
ciados pela obra seminal de James Dunn, Baptism in the Holy Spirit,
os evangélicos tradicionais normalmente identificam o batismo do
Espírito Santo com a conversão. Assim sendo, os evangélicos tradi
cionais vêem o batismo no Espírito como a condição indispensável
para a existência cristã, o elemento essencial da conversão-iniciação.
Embora por muitos anos os pentecostais e tradicionais tenham
ficado entrincheirados em suas respectivas posições e raramente
entrado em diálogo, após 1970 essa situação mudou muito. A avalia
ção dunniana simpática mas crítica da doutrina pentecostal estabe
lece um divisor de águas no pensamento pentecostal, pois estimulou
uma explosão de reflexão teológica criativa entre os pentecostais.
Por conseguinte, o terreno teológico hoje é consideravelmente di-
6Ibid„ p. 97.
7Ibid., p. 98.
sIbid., p. 111.
A QUESTÃO DA POSTERIORIDADE 139
0 NOVO c o n t e x t o : d e f in ir
A QUESTÃO CRUCIAL
9Ibid., p. 98. Para afirmações que refletem essa pressuposição v. p. 94, 98,
109-17.
10Ibid„ p. 114.
"Ibid., p. 115.
A QUESTÃO DA PQSTERIORIDADE <’ 141
mática’ da teologia de Lucas” (Op. cit., p. 101). Todavia, parece não entender
Stronstad nesse ponto, pois diz em outro lugar que Lucas, do mesmo modo que
Paulo, via o dom do Espírito como “o principal elemento da conversão e da vida
cristã” (ibid., p. 98). Essas duas afirmações são, na verdade, contraditórias. Quan
do Fee fala da “natureza carismática” da pneumatologia de Lucas, parece querer
dizer meramente que Lucas associa as funções carismáticas, juntamente com as
funções soteriológicas, ao Espírito.
A QUESTÃO DA POSTERIORIDADE 143
E stabelecer a in t e n ç ã o de Lucas
18F itzmyer, op. cit., 2:916; Ellis, op. cit., p. 164; StrONSTAD, Charism atic
theology, p. 46.
l9MONTAGUE, The H oly Spirit: growth of a biblical tradition, p. 259-60.
20Note, por exemplo, a força repetitiva de Lucas 11.2 (lit.: “Quando vocês
orarem, digam”) e a ação contínua implícita dos verbos no presente em 11.10:
“Pois todo o que pede, recebe; o que busca, encontra”.
2lBüCHSEL (D e r Geist Gottes, p. 189-90) e M ontague (op. cit., p. 259-60)
observam o caráter repetitivo da exortação.
22Ver Lucas 3.31 e Atos 4.31. Observe também que em Atos 8.15-17 o Espírito
vem sobre os samaritanos em resposta às orações de Pedro e João. A oração está
implicitamente associada com a recepção do Espírito no Pentecoste (1.14; 2.4).
Aqui, como em outras passagens observadas acima, o dom do Espírito é apresen
tado como capacitação profética.
A QUESTÃO DA POSTERIORIDADE / . 147
Conclusão
Os pentecostais estão procurando chegar a um acordo com sua he
rança evangélica tradicional. O livro de G ordon Fee, Gospel and
Spirit,representa a pesquisa de um intelectual respeitado. Quando
os artigos desse livro foram inicialmente escritos, prestaram um
valioso serviço. Ajudaram os pentecostais a reconhecer a própria
necessidade de tratar de questões novas e urgentes levantadas por
seus irmãos tradicionais. A pesquisa de Fee incentivou outros a en
trar nessa empreitada. Todavia, o cenário teológico mudou conside
ravelmente desde o início da publicação dos artigos dc Fee. E embora
esses artigos tenham sido atualizados, não mostram a consciência
de um novo terreno. Por isso, tratam de preocupações de pouca
importância. Hoje, a questão crucial concentra-se não na herme
nêutica ou no precedente histórico, mas na exegese e na natureza da
pneumatologia de Lucas. Se Fee e os estudiosos evangélicos quise
rem se engajar num diálogo significativo com a intelectualidade
pentecostal contemporânea, vão precisar tratar desse assunto.
NO PODER DO ESPÍRITO / , 148
Línguas como
evidência
'Minutes of the 44tb session ofthe General ( '.ouucil of the Assemblies of God, p. 130.
NO PODER DO ESPÍRITO 150
3Normal, but not a norm: initial evidence and the New Testament em Initial
evidence, G. M c G ee, org., p. 191.
4Ibid.
NO PODER DO ESPÍRITO 152
l8P. F. Esler, Glossolalia and the admission of gentiles into the early christian
community, B T B 22, 1992, p. 136-42.
LÍNGUAS COM O EVIDÊNCIA 161
C onclusão
Argumentamos que a doutrina pentecostal das línguas como evi
dência é uma inferência correta do caráter profético da pneumato-
logia de Lucas (e, mais especificamente, o dom pentecostal) e da
afirmação de Paulo do caráter edificante e potencialmente universal
da manifestação em particular de línguas. Nossa argumentação pode
ser resumida da seguinte maneira:
Línguas: acessíveis
a todos
E
m ICoríntios 12— 14 Paulo se refere à glossolalia (falar em lín
guas) como um dos dons que Deus concede à igreja. Uma leitu
ra atenta desses capítulos revela que, a despeito do entendimento
errôneo e do abuso desse dom em C orinto, Paulo tem a manifesta
ção particular de línguas em alta estima.1 Embora Paulo esteja pre
ocupado em conduzir esses crentes em direção à expressão mais
madura dos dons espirituais “na assembléia”2 (12.28; 14.19) — e por
isso se concentra na necessidade de edificação e na primazia da pro
fecia sobre o falar em línguas sem interpretação no ambiente coleti
vo — Paulo nunca denigre o dom de línguas.
Na verdade, Paulo afirma que a manifestação particular de lín
guas é edificante para o que fala (IC o 14.5), e numa nota autobio
gráfica, ele agradece a Deus pelas freqüentes manifestações de línguas
em sua vida particular de oração (14.18). Temeroso de que suas ins
truções aos coríntios a respeito do uso devido de línguas “na assem
bléia” pudessem ser mal entendidas, ele ordena explicitamente que
eles não proíbam o falar em línguas (14.39). E com referência à
manifestação particular das línguas, Paulo declara: “Gostaria que to
dos vocês falassem em línguas” (14.5).
As palavras de Paulo sobre este assunto, particularmente o seu
desejo expresso em ICoríntios 14.5, têm levado muitos a concluir
que ele via a manifestação particular de línguas como edificante e
acessível a todos os crentes. Por conseguinte, a maioria dos pente-
0 PROBLEMA DE C0RINT0
4F ee, op. cit., p. 4-15; Christopher F orbes, P roph ecy a n d in sp ire d speech in
e a rly C h ristia n ity a n d its H e lle n istic e n v iro n m e n t, p. 14-6, 171-5, 182-7, 260-4.
5Op. cit., p. 237.
6Ibid.
NO PODER DO ESPIRITO / , 168
línguas, ele insiste que “na assembléia”, a menos que sejam interpreta
das, as línguas não edificam a igreja, portanto, deve-se preferir a pro
fecia (14.2-5). No contexto de seu argumento de que a profecia é maior
que as línguas na assembléia, Paulo também afirma que a manifesta
ção particular de línguas é edificante para o que fala e, além disso,
não se limita a um grupo de elite, mas é acessível a todos (14.5,18).
Em outras palavras, da mesma maneira que Paulo observa que
está familiarizado com as línguas e portanto qualificado para falar
da importância do dom (talvez aqui ele derrote os coríntios no pró
prio jogo deles de reivindicações elitistas; lC o 14.18), ele também
corrói o senso de superioridade dos coríntios com seus comentários
a respeito da universalidade do dom. Se a reconstrução que Turner
faz do problema é correta, então este pode ser de fato o tema prin
cipal de 14.5: todos podem ser edificados pela manifestação parti
cular das línguas (ela não se limita a um grupo seleto), mas na
assembléia reunida é mais espiritual profetizar (visto que isso é in
teligível e edificante).
Em resumo, a reconstrução que Turner faz do problema não in
dica que Paulo via o dom de línguas como limitado a um grupo
seleto dentro da igreja. Na verdade, é exatamente o oposto. A re
construção de Turner realmente oferece uma razão positiva para
Paulo afirmar a universalidade das línguas. Em face das alegações
elitistas, podemos entender as palavras de Paulo em 14.5 (“Gostaria
que todos vocês falassem em línguas”) como uma correção sutil.
Embora a reconstrução de Turner possa dar a entender que ape
nas os membros do grupo-problema de Corinto falavam na realida
de em línguas, de modo nenhum esse é necessariamente o caso. De
um lado, como propõe Fee, é possível ver a igreja toda opondo-se a
Paulo. Se este é o caso, as línguas eram exercidas por toda a igreja.
De outro lado, mesmo se o problema se localizasse num grupo den
tro da igreja, ainda é provável que a manifestação particular das lín
guas não era limitada a esse grupo seleto. O problema central de
Corinto com referência às línguas era o abuso do dom “na assembléia”
(a saber, quando a igreja se reunia; cf. lC o 12.28; 14.4-6,9-19).
Por certo é possível imaginar um grupo elitista deleitando-se em
sua exibição pública de línguas, sem levar em conta se havia ou não
LÍNGUAS: ACESSÍVEIS A TODOS 169
7A oposição entre lCoríntios 14.18 (“Dou graças a Deus por falar em línguas
mais do que todos vocês”) e 14.19 (“Todavia, na igreja...”) indica que os comentários
autobiográficos de Paulo em 14.18 se referem ao exercício particular de línguas.
8F ee, op. cit., p. 623.
NO PODER DO ESPÍRITO 170
9A questão acerca de haver ou não dois dons distintos de línguas (um para
edificação particular e outro para o uso no contexto coletivo) não é relevante. O
essencial, e em que Turner e eu concordamos, é: “Paulo distingue duas esferas do
uso das línguas — pública e particular” (Turner, op. cit., p. 238).
l0Ibid., p. 240.
LÍNGUAS: ACESSÍVEIS A TODOS 171
em vista.11 Fee afirma isso com todas as letras: “Uma vez que [o v. 28]
se harmoniza com o v. 27, com o enfático ‘vocês são’ referindo-se à
igreja de Corinto, pode haver pouca dúvida de que com essa expres
são [“na assembléia”] Paulo também se dirigia principalmente à as
sembléia local de C orinto”.12
Turner, contudo, permanece sem convicção. Não obstante es
ses marcadores contextuais, ele argumenta que Paulo tem em
mente a igreja universal em vez de a assembléia local de Corinto.
Esse julgamento provém da referência de Paulo aos “apóstolos” (lC o
12.28,29): “Não havia regularmente (se houve) pluralidade de após
tolos nas reuniões de C o rin to”.13 Apesar de não haver nenhuma
dúvida quanto ao peso da evidência, Turner faz concessão neste ponto
e parte para sua objeção mais importante:
uF ee, op. cit., p. 618; James D. G. D unn, Jesus and the Spirit, p. 262-3; R. Banks,
Paul’s idea of community, p. 35-7.
12Ibid., p. 618, n. 13.
•3Op. cit., p. 240.
“Ibid.
NO PODER DO ESPIRITO < 172
l5Ibid., p. 241.
16F ee, op. cit., p. 621-2.
LÍN G UAS: ACESSÍVEIS A TODOS 173
17Ibid., p. 621.
NO PODER DO ESPÍRITO 174
quem pode ou quem não pode exercer esses dons. Fee observa cor
retamente que “a retórica” de Paulo “não pergunta ‘todos podem
fazer isso?’ cuja resposta provavelmente seria ‘C laro’. Em vez disso,
pergunta ‘todos fazem?’, cuja resposta é ‘Claro que não”’.18 Em
outras palavras, do mesmo modo que Paulo nesses versículos não
pretende excluir ninguém da possibilidade de declarar qualquer pa
lavra de profecia (todos podem, mas nem todos fazem), o apóstolo
também não pretende restringir a ninguém a potencialidade de ex
pressar alguma mensagem em línguas (com interpretação) para o
benefício da igreja (todos podem, mas nem todos fazem). O que
deve ficar ainda mais claro é que as palavras de Paulo aqui não têm
absolutamente nada a ver com a limitação do escopo daqueles que
manifestam línguas em particular para um grupo seleto.
l8Ibid., p. 623.
19V. op. cit., p. 245, e as referências que ele cita no n. 30.
20A citação é de Fee, op. cit., p. 653. Para os comentários de Turner, v. op. cit.,
p. 245.
21Ibid., p. 245 (grifo de Turner).
LÍNGUAS: ACESSÍVEIS A TODOS 175
Pois
a) quem fala em uma língua não fala aos homens, mas a Deus
[ambiente particular].
De fato, ninguém o entende; em espírito fala mistérios.
NO PODER DO ESPÍRITO 176
(Portanto, na assembléia:)
Quem profetiza é maior do que aquele que fala em línguas, a
não ser que as interprete, para que a igreja seja edificada.
C o nclu são
Sinais e maravilhas
"Mas se é pelo dedo de Deus que eu ex "Mas se é pelo Espírito de Deus que eu
pulso os demônios, então chegou a vocês expulso demônios, então chegou a vocês
o Reino de Deus." o Reino de Deus."
12Para um tratamento mais detalhado do uso que Lucas faz desse ponto, ver
Menzies, Development, p. 124-8; a crítica ponderada de Max T urner, The Spirit
and the power of Jesus’ miracles in the lucan conception, N o v T 33, 1991, p. 124-
52, e minha resposta a Turner (R. E M enzies, Spirit and power in Luke-Acts: a
response to Max Turner, p. 11-20).
130 Espírito é fregüentemente descrito como o agente do discurso inspirado
em Atos (ver At 1.8,16; 2.4,14,17,18, 33; 4.8,25,31; 5.32; 6.10; 7.51; 9.31; 10.44,45;
13.9; 18.25; 19.6; 28.5).
HV Marcos 3.22-29.
SINAIS E MARAVILHAS <f. / 187
,5Q simboliza os versículos comuns a Mateus e Lucas, mas não são encontrados
em Marcos. A maioria dos estudiosos acredita que tanto Mateus como Lucas usa
ram esse documento quando escreveram seus respectivos evangelhos.
16L. 0 ’Reilly, Word and sign in theActs oftbeAposdes: a study in lucan theology,
p. 217.
17Aceito a hipótese dos dois documentos como axiomática. Por isso, presumo
que Lucas conhecia Marcos e uma fonte escrita Q (v. Lc 1.1-3). Restrinjo minha
análise do uso que Lucas faz da fonte a seu evangelho, uma vez que o nosso conhe
cimento de fontes para o livro de Atos é muito limitado.
NO PODER DO ESPÍRITO / ; 188
"S in a is e m a r a v il h a s ": a p e r s p e c t iv a
PENTECOSTAL
a cura e a profecia. Uma vez que não vêem o dom pentecostal como
experiência de capacitação (mas como conversão), moldaram seu ponto
de vista na maior parte com a perspectiva e a linguagem teológica de
Paulo, em vez da de Lucas. Desse modo, bebendo em grande medida
das cartas de Paulo, os adeptos da terceira onda procuram reivindicar
dons miraculosos para a igreja contemporânea. Além disso, enfatizam
a importância desses dons espetaculares para o crescimento da igreja.
O fato de o movimento ser conhecido como movimento de “sinais e
maravilhas” não é acidental. O título reflete o foco importante da ter
ceira onda nos dons dramáticos e espetaculares (e.g., curas e profecia)
como chave para o crescimento da igreja.
Entretanto, como dissemos, a perspectiva de Lucas da capacitação
divina é muito mais ampla do que o foco estreito nos sinais dramá
ticos. Embora Lucas reconheça e até realce o impacto positivo e
poderoso dos milagres, sua ênfase no testemunho verbal é ainda
maior. O foco na proclamação inspirada pelo Espírito move Lucas a
realçar as dimensões da capacitação divina que os seguidores da ter
ceira onda em geral deixam de mencionar. A capacidade de dar tes
temunho intrépido de C risto em face da perseguição ou privação é
central no conceito que Lucas tem de “evangelismo de poder” (e.g.,
Lc 12.8-12; A t 4.31).27
Esse é um tema que a terceira onda não enfatiza. Embora os mi
lagres tenham facilitado o crescimento da igreja primitiva, esse “po
der permanente” — a capacidade de permanecer firme diante da
oposição e privação — é um enfoque indiscutível da obra do Espíri
to na narrativa de Lucas. Os pentecostais, influenciados como foram
por Lucas— Atos, tendem a retratar esse aspecto do “evangelismo
de poder”. Embora os “sinais e maravilhas” tenham sido a parte des
tacada da mensagem pentecostal, o ponto focal
das missões pente
costais sempre foi o “poder de perseverar” possível pelo batismo no
Espírito Santo.
Esse enfoque de Lucas no testemunho inspirado em face da opo
sição foi sem dúvida moldado pelo ambiente de sofrimento e per-
2SM iracles and m artyrdom in the early church: some theological and
ethical implications em A l l to g e th e r in o n e p la c e , org., H. H unter e P. H ocken,
p. 240.
-''Reconhecidamente, esse potencial nem sempre se realiza nos círculos pente
costais.
NO PODER DO ESPÍRITO • ' 194
Não temos certeza de que Deus nos dará algum dom particular.
Embora possamos receber dons de poder missiológico, há sempre a
possibilidade de não recebê-los.30
Certamente, essa abordagem capta um aspecto importante do
ensino de Paulo, mas não é a palavra final a respeito da promessa de
poder da parte de Deus. Todavia, essa perspectiva limitada de Paulo
molda tanto a teologia quanto a expectativa da terceira onda e dos
evangélicos que não fazem parte desta. Isso quer dizer que, teologi
camente não há nada concreto que distinga a terceira onda de mui
tos evangélicos tradicionais que têm permanecido passivos em suas
respectivas abordagens da capacitação divina. A postura agressiva
de muitos da terceira onda parece ser uma questão de atitude sem
base teológica. Em suma, os da terceira onda não se preocupam em
articular uma teologia que retrate adequadamente sua postura em
relação ao poder e à experiência divinos.
O relato de Lucas a respeito do Pentecoste fornece o necessário:
promessa de poder missiológico para todo crente. Com o deixa cla
ro a citação de Joel, todos estão incluídos na promessa: filhos, filhas,
jovens, velhos, homens, mulheres — todos os servos de Deus (At
2.17-21) !31 Embora não seja verdadeiro alegar que aqui Lucas pro
mete o poder de operar milagres a todos os crentes, é correto afirmar
que ele de fato lhes promete a capacitação do Espírito para testemu
nhar de Cristo intrépida e eficazmente.32 Essa promessa pentecos-
tal, portanto, é crucial se quisermos reter o sentido bíblico pleno de
expectativa.
Entretanto, como já observei, os da terceira onda tendem a igua
lar o batismo no Espírito (i.e., o dom pentecostal) com a conversão
C onclusão
Afirmei que a teologia de Lucas tem muito que contribuir para uma
perspectiva bíbhca dos “sinais e maravilhas”. Ele reconhece clara
mente a importância dos milagres na igreja apostólica e afirma a
importância contínua deles para a igreja hoje. Significativamente,
sua narrativa pentecostal contém uma promessa de capacitação di
vina que se estende a todo crente (At 1.8; 2.19). Todavia, Lucas está
muito consciente dos perigos inerentes. Sua narrativa não é “gros
seira” nem “assimétrica”, mas borrifada de palavras de cautela. A
atitude de Lucas para com “os sinais e maravilhas” pode ser classifi
cada de positiva, mas não de acrítica. Mais importante: Lucas adiciona
fôlego a uma perspectiva bíblica do “evangelismo de poder” enfati
zando o testemunho eficaz e destemido como a manifestação prin
cipal da inspiração do Espírito.
Por causa da importância especial que os pentecostais dão a
Lucas— Atos, especialmente o Pentecoste (At 2), como paradigma
da capacitação divina, eles foram capazes de se apropriar de maneira
singular da riqueza da perspectiva de Lucas. O ponto de vista teoló
gico resultante tem muito que contribuir para aqueles da terceira
onda que procuram apoiar sua experiência nas Escrituras: oferece
entendimento amplo e pleno do “evangelismo de poder”, argumen
to sólido para o alto senso de expectativa da capacitação divina e
encorajamento para evitar os perigos inerentes.
Cura na expiação
2Para uma visão geral da história da doutrina, ver W ilkinson, op. cit., p.
149-54.
3A D eclaração das verdades fun dam en tais das A ssem bléias de D eus n. 12 diz:
“A cura divina é parte integrante do evangelho. A libertação da enfermidade é
proporcionada pela expiação e é um privilégio de todos os crentes (Is 53.4,5;
Mt 8.16,17; Tg 5.14-16)”. A frase “um privilégio de todos os crentes” é um tanto
imprecisa.
CU RA N A EXPIAÇÃO 201
0 PONTO DE PARTIDA
sus, o Justo, toma o nosso lugar. Ele suporta a penalidade que por
justiça era nossa. Isso é uma descrição poderosa da graça de Deus
expressa nas Escrituras. Essa descrição, por retratar a figura de um
tribunal de justiça, foi classificada competentemente como a visão
forense da expiação.
Sem dúvida essa visão forense oferece aspectos importantes da
obra de Cristo na cruz. Mas convém levantar uma questão impor
tante: A visão forense faz justiça ao testemunho bíblico pleno
a res
peito da importância da m orte de C risto? Essa visão sozinha é
adequada para explicar o pleno significado da morte de Cristo? Em
um criterioso livro, Gustaf Aulen argumenta que esse não é o caso.5
Ele resume três abordagens do entendimento da obra de Cristo na
cruz. 1) Encontramos a visão latina ou forense, que acabamos de
esboçar. Cristo como o homem sem pecado que satisfaz as exigên
cias morais de um Deus justo. Com o dissemos, esse ponto de vista
capta um aspecto importante e poderoso do ensino bíblico.
2) Há a visão liberal. Aqui, a morte abnegada de C risto na cruz é
apresentada como exemplo da mais alta forma de amor. Esse ato
exige uma resposta, compele outros a viver de modo semelhante.
Essa visão, embora com toda certeza limitada, acrescenta outro as
pecto ao nosso entendimento de expiação, aspecto em que a morte
sacrificial de Cristo na cruz com efeito constitui um desafiante mo
delo de amor. Não obstante, a morte de Cristo representa muito
mais que isso. Ela na verdade causa impacto na nossa relação com
Deus. Nossa condição perante Deus é, por meio da fé, alterada fun
damentalmente em virtude da morte sacrifical de Cristo.
3) Aulen descreve a visão clássica da expiação, que ele competen
temente denomina Christus Victor(Cristo o Vencedor). Essa visão
enfatiza que, em virtude de sua morte e ressurreição, Cristo venceu
os poderes. A cruz não é simplesmente apresentada como o meio
para tratar do problema do pecado. Ela agora é vista com mais am
plitude, como o ponto em que os poderes (do diabo, da morte e
do pecado) são derrotados decisivamente. Aqui a cruz é vista como
sChristus Victor. an historical study of the three main types of the idea of the
atonement.
CURA NA EXPIAÇÃO 203
A CURA E A c r u z : reflexõ es
TEOLÓGICAS
C onclusão
Argumentamos que a cura, como todo dom de Deus, é-nos media
da em virtude da obra de Cristo na cruz. Embora isso não nos in
centive a desconsiderar as complexidades de nossa vida entre as duas
eras — esta presente era má e a era por vir, que já se descortinou em
nosso mundo em Jesus — nem a exigir de modo simplista que to
dos recebam cura física agora, convida-nos a reconhecer que Deus
está preocupado com toda esta criação, inclusive o nosso corpo. Por
sua vez, isso nos desafia, como o fazem as palavras de Tiago em
Tiago 5.13-16, a ter uma postura vigorosa no que se refere ao sofri
mento físico. A igreja é chamada a orar pelos enfermos para que
sejam curados e lutem contra o sofrimento físico.8 Na verdade, a
menos que Deus dê outra ordem, somos chamados para fazer exata
mente isso.
Uma abordagem bíblica do ministério de cura na igreja deve,
portanto, começar a se identificar com a vontade revelada de Deus
de lutar contra o sofrimento físico. Isso significa identificar ativa
mente pessoas com necessidades específicas e orar sinceramente por
elas. Eventos na vida da igreja propícios para a unção com óleo e a
reunião dos presbíteros da igreja para orar pelos aflitos representam
um método claramente bíblico para começar a combater o sofri
mento físico de modo concreto. A oração pelos enfermos feita pe
los presbíteros, inclusive a unção com óleo, é um com eço. A
intercessão por cura deve vir em seguida. A luta contínua com o
mistério do sofrimento deve ser descontinuada somente quando os
líderes espirituais da comunidade da fé que estão ao redor do doen
te tiverem a consciência coletiva de que Deus não vai trazer liberta
ção nesse caso. A essa altura, e somente a essa altura, é correto fazer
uma oração de desistência.
8Há na realidade três modos bíblicos que retratam Deus curando pessoas em
nossa época. 1) Há a intervenção providencial de Deus, que é produto de sua graça
insondável. Em muitos casos, não se pode discernir nenhuma instrumentalidade
humana; Deus apenas age. 2) A cura pertence à lista de dons carismáticos (ICo
12.9). Parece que Deus dá um ministério especial de orar eficazmente pelo enfer
mo a alguns dentro do círculo da fé. 3) Em resposta à oração da fé dos presbíteros,
na reunião rotineira dos crentes, Deus se agrada em intervir freqücntemente. É
um ato de obediência e fé (Tg 5.13-16).
NO PODER DO ESPÍRITO 212
A providência
de Deus
A VISÃO DD VALE
Deus. As duas situações são arranjadas para levar adiante o seu pla
no redentor.
Essa é uma lição importante, pois quando entendemos o alvo do
cuidado providencial de Deus, podemos começar a ver a plenitude
da obra de Deus em nossa vida. Podemos perceber sua operação nas
circunstâncias difíceis assim como nas boas. Podemos buscar com
esperança e ação de graças sua orientação tanto no meio da tragédia
como no meio da felicidade.
Em geral pensamos que as circunstâncias difíceis se põem diante
de nós a fim de preparar-nos para a obra futura de Deus. Mas tam
bém não é verdade que em geral é no meio da dificuldade que o
poder de Deus se demonstra de maneira mais bela (cf. 2C o 12.7-
10)? Fiquemos atentos ao fato de que o alvo do cuidado de Deus
não é o nosso bem-estar, mas sua glória.
C o nclu são
Dons espirituais:
princípios essenciais
Sempre dou graças a meu Deus por vocês, por causa da graça que
lhes foi dada por ele em Cristo Jesus. Pois nele vocês foram enri
quecidos em tudo, isto é, em toda palavra e em todo conhecimen
to, porque o testemunho de Cristo foi confirmado entre vocês,
de modo que não lhes falta nenhum dom espiritual, enquanto vocês
esperam que o nosso Senhor Jesus Cristo seja revelado.
“De modo que não lhes falta nenhum dom espiritual”. Essas pa
lavras são particularmente surpreendentes. Paulo não se enganou de
endereço? Está realmente escrevendo à igreja de Corinto? Quase
todos nós teríamos simplesmente rejeitado os coríntios por sua fal
ta de qualidades espirituais.
Mas essa não é a visão de Paulo. Ele não nega que a igreja possuía
dons espirituais. Recusa-se a denegrir os dons ainda que a igreja
tivesse muito que aprender acerca do exercício deles. Tudo isso real
ça a importância que o apóstolo deu aos dons espirituais. Se os dons
foram tão importantes no entender de Paulo, certamente devem ser
também no nosso. Todavia, lC oríntios nos lembra que os dons não
NO PODER DO ESPÍRITO 226
0 PRINCÍPIO DA GRAÇA
0 PRINCÍPIO DA EDIFICAÇÃO
Os dons são concedidos para que possamos edificar outros (lCo 12.7).
Os coríntios haviam perdido de vista a verdadeira finalidade dos
dons espirituais. Por isso, a correção de Paulo inclui o esclarecimen
to desse ponto importante. A mensagem é transmitida através de
todo o texto de 1 Coríntios 12— 14, mas em nenhum lugar mais cla
ramente que em 12.7: “A cada um, porém, é dada a manifestação do
Espírito, visando ao bem comum”. Os dons espirituais são conce
didos para que o corpo de Cristo seja edificado. Resumindo, a meta
é a edificação. Essa é a razão por que Paulo, no capítulo 14, incentiva
os coríntios a preferir a profecia ao falar em línguas no ambiente
coletivo: “Quem fala em língua a si mesmo se edifica, mas quem
profetiza edifica a igreja” (lC o 4.4). Na assembléia, a profecia é
maior porque é coerente com esse alvo magnífico.
Desse ponto central deriva um corolário importante: os dons
devem ser exercidos e valorizados tendo em vista a edificação do
corpo. A declaração é de fato uma palavra inspirada? O dom foi
exercido corretamente? A chave para responder a essas perguntas se
encontra nesta questão simples, neste padrão fundamental: O dom
edificou a igreja?
Lembro-me de um senhor bem-intencionado que muitas vezes,
de maneira bem bombástica, caminhava até a frente do templo e
pronunciava em tom de autoridade sua mensagem “profética”. De
pois de várias ocasiões desse tipo de manifestação, as pessoas come
çaram a se sen tir meio desconfortáveis com essas exibições.
DONS ESPIRITUAIS: PRINCÍPIOS ESSENCIAIS 229
0 PRINCÍPIO DA PARTICIPAÇÃO
P ó s - e s c r it o so b r e os do ns
E ADORAÇÃO
C onclusão
Deus não é obrigado a usar-nos. Pode usar outras pessoas. Mas no
tável e maravilhosamente, ele tem prazer em nos usar. Por isso, ele
nos chama para participar de sua obra e nos prepara para essa tarefa.
A discussão de Paulo sobre os dons espirituais nos encoraja a viver
com senso de expectativa, de que Deus vai nos usar para satisfazer
as necessidades prementes ao redor de nós. A postura do cristão, de
cada cristão, deve ser de esperança, perguntando a Deus: Com o vais
abençoar outras pessoas por intermédio de minha vida hoje?
Batismo no Espírito e
dons espirituais
*Por isso, Myer Pearlman declara que o batismo no Espírito Santo capacita os
cristãos a experimentar “a operação carismática do Espírito” (Conhecendo as dou
trinas da Bíblia). V. tb. Willard C antelon, The baptism of the Holy Spirit, p. 15;
Ernest S. W illiams, Systematic theology, 3:63-75; Ralph R iggs, N ós cremos; Donald
G ee, Spiritual gifts in the work of the ministry today, p. 18.
2V P. C. N elson, Doutrinas bíblicas; Stanley M. H orton, O que a Bíblia diz
sobre o Espírito Santo', G. Raymond C arlson, Our faith and fellowship, p. 65-7.
Observe também As Declaração das verdades fundamentais das Assembléias de
Deus, n. 7, A promessa do Pai: “Todos os crentes são designados a buscar sincera
mente a promessa do Pai, o batismo no Espírito Santo e fogo, de acordo com o
mandamento de nosso Senhor Jesus Cristo. Essa era a experiência normal de to
dos na igreja cristã primitiva. Com ela vêm o revestimento de poder para a vida e
para o serviço, a concessão dos dons e o uso deles no serviço do ministério”.
NO PODER DO ESPÍRITO 238
3Para um enfoque dos “nove dons” de lC o 12.8-10 v. P earlman, op. cit.; Carl
Brumback, What meaneth thisf, p. 153; Cantelon, op. cit., p. 15; Riggs, op. cit..
"Donald G ee, op. cit., 5. Ver E. W illiams, op. cit., 3:75-82; Stanley M. H orton,
op. cit., que também reconhece que os “nove dons” de ICoríntios 12.8-10 são
indicativos.
^Treasures old and new: interpretations of “Spirit-baptism” in the charismatic
renewal movement, p. 218, 228. V. tb. Dennis e Rita Bennett, Trindade do ho
mem, que afirma que os crentes não batizados no Espírito podem manifestar sete
dos nove dons mencionados em ICoríntios 12.8-10 (línguas e interpretação de
línguas são a exceção).
6Para m ais in fo rm açõ es so b re a terceira on da, v. cap. 10.
7V, p.ex., Gary S. G reig e Kevin N. Springer, org., The kingdom and thepower,
p. 21; C. Peter W agner, Sinais e prodígios; John W imber e Kevin Springer, Power
points, p. 135-6, e Power evangelism, p. 148.
BATISMO NO ESPÍRITO E DONS ESPIRITUAIS 239
8Op. cit..
NO PODER DO ESPÍRITO • 240
A trajetória de Paulo
A princípio, é evidente que Paulo apresenta uma descrição mais
ampla e mais plena da obra do Espírito que Lucas. Para Paulo, a
vida cristã em sua inteireza é uma realização do Espírito de Deus.
O Espírito é a fonte de purificação (Rm 15.16; IC o 6 .11), de justi
A trajetória de Lucas
Síntese teológica
Agora é preciso definir mais especificamente os conceitos de batis
mo no Espírito e dons espirituais colocando-os no contexto dado
pelo nosso esboço das pneumatologias de Paulo e Lucas. Nosso
objetivo é sintetizar os achados numa resposta concisa e coerente
que faça justiça aos pontos de vista tanto de Paulo quanto de Lucas.
Comecemos definindo osconceitos de batismo no Espírito e dons
espirituais e, em seguida, vamos procurar descrever a natureza da
relação deles.
Batismo no Espírito
rio (Rm 15.19; IC o 2.4; lTs 1.5). E também se refere a unções espe
ciais que dão poder ao ministério de outros (lT m 4.14; 2Tm 1.6.7;
cf. lTs 5.19). Tendo em vista o caráter ad hoc
das cartas de Paulo,
não nos deve surpreender que ele não fala em lugar algum do dom
pentecostal. Ele não se pôs a escrever um tratado teológico exausti
vo que delineasse a dinâmica da vida espiritual. Não obstante, é evi
dente que a ênfase de Lucas na importância do dom pentecostal (At
1.8; 2.17,18) para a vitalidade da igreja e o empreendimento missio
nário repercute a perspectiva de Paulo.
Se perguntarmos mais especificamente a respeito do impacto do
batismo no Espírito em Lucas— Atos, de imediato vamos observar
que a perspectiva de Lucas é semelhante à do judaísmo de seu tem
po. Com o observamos em outros capítulos, os judeus do século I
identificavam o dom do Espírito com a inspiração profética.
Lucas também apresenta o Espírito como a fonte de inspiração
profética. Isso é evidente no começo do seu evangelho, que apre
senta arrebatamentos de discurso profético. E destacado nos rela
tos programados do sermão de Jesus em Nazaré (Lc 4.18,19) e no
sermão de Pedro no dia do Pentecoste (At 2.17,18). Ambas as nar
rativas indicam que o dom do Espírito, conforme Lucas, está inti
mamente ligado com a revelação especial e com o discurso inspirado.
Além disso, referências à revelação e ao discurso carismáticos são
constantes na obra em dois volumes de Lucas (e.g., Lc 10.21; 12.10-
12; A t 4.31; 6.10; 7.55; 10.19; 13.2). Desse modo, Lucas afirma que
o batismo no Espírito está intimamente ligado à concessão da sabe
doria e do discurso carismático.
A associação com a linguagem e a perspectiva de Paulo é de ime
diato evidente. Em relação ao dom pentecostal, Lucas com efeito se
refere aos dons específicos nomeados por Paulo: glossolalia e pro
fecia (e.g., A t 2.4,18; 10.46; 19.6). E, claro, Paulo refere-se aos dons
espirituais centrados na revelação e no discurso inspirado pelo Es
pírito. Passemos agora a esses dois fatos importantes.
Dons espirituais
C onclusão
Agora estamos prontos para responder à pergunta concernente à
natureza da relação entre o batismo no Espírito e os dons espirituais.
Embora não se possa sustentar que o batismo no Espírito é a “porta
de entrada” para cada dom espiritual, as evidências bíblicas indicam
que o batismo no Espírito é a “porta de entrada” para um grupo de
dons especiais descritos por Paulo: os dons proféticos associados com
a revelação especial e o discurso inspirado. Certamente é verdade que,
num sentido, todo cristão “é, e deve ser cada vez mais, carismático”.21
Paulo realça esse fato: todo crente pode contribuir; cada um é capa
citado pelo Espírito a contribuir para o bem comum (IC o 12.11).
Mas também é verdade que há uma dimensão da capacitação do
Espírito em que se entra em virtude de um batismo no Espírito
distinto da conversão. Essa dimensão pode ser corretamente cha
mada de dimensão profética. Na perspectiva de Lucas, a comunida
de da fé é uma comunidade de profetas em potencial. E é pela recepção
do dom pentecostal (batismo no Espírito) que esse potencial se reali
za. Era esperança de Lucas que esse potencial se realizasse na igreja
do seu tempo, como fora no passado (e.g., Lc 3.16; 11.13; A t 2.17,18).
As cartas de Paulo revelam um senso de expectativa semelhante,
embora seja em geral manifesta na forma de desafio: “Entretanto,
busquem com dedicação os melhores dons” (IC o 12.31).
Batismo no Espírito e
fruto do Espírito
P roblemas de C orinto
A noção de que o batismo no Espírito necessariamente conduz a
maior santidade tem notável semelhança com as alegações que Pau
lo procurava combater na igreja de Corinto. Pelo menos alguns cris
tãos de Corinto viam o falar em línguas como expressão de um nível
superior de espiritualidade. Em virtude de seu conhecimento e sua
Não receberam de Deus o que sabiam que ele tinha para eles e fica
vam cheios de indagações: “Por que não fui batizado no Espírito? C)
que está errado comigo?”.
Descobri que essas questões não são difíceis de ser tratadas quan
do reconhecemos que os dons de Deus não são necessariamente
dados aos maduros na vida espiritual. O incentivo para persistir em
oração e viver com esperança chega facilmente. Mas quando se faz a
ligação com a santidade — e importa pouco se o batismo no Espíri
to é visto como a causa ou o resultado da maturidade cristã — , sobe
jam os problemas pastorais e as baixas que os acompanham.
2) A ligação entre o batismo no Espírito e a santidade também
leva à confusão do poder espiritual com a maturidade cristã. A igre
ja de Corinto deveria ser prova suficiente de que o poder espiritual
não é necessariamente ligado à maturidade espiritual. Com o obser
vamos, os coríntios tinham dons espirituais (cf. IC o 1.7). A nossa
própria experiência não é menos reveladora. Quantos homens ou
mulheres não têm sido usados poderosamente por Deus a despeito
de suas fraquezas ou defeitos?
Há um perigo aqui, porém, que deve ser enfrentado. Quando se
associa o poder espiritual à maturidade espiritual, nossa visão se
obscurece e ficamos incapazes de distinguir entre as duas coisas.
Isso deixa a igreja vulnerável a líderes carnais que possuem poder
espiritual, mas quase nada mais. Para pessoas individualmente, a
confusão de poder com santidade também pode ter conseqüências
devastadoras. Quantos líderes de igreja têm justificado seu estilo de
vida pecaminoso alegando a eficácia do seu ministério? Para salva
guardar nossa saúde espiritual, precisamos captar este ponto impor
tante: o poder espiritual não é garantia de que tudo está bem.
3) A associação entre batismo no Espírito e santidade leva ao
repúdio da mensagem pentecostal. Quando definimos o batismo
no Espírito como a fonte de santidade pessoal, nossa teologia é ra
pidamente menosprezada como se caísse na armadilha coríntia do
elitismo. As críticas de Wayne Grudem, estudioso tradicional aber
to à idéia do pleno alcance dos dons do Espírito, ilustra esse ponto.
Em sua Teologia sistemática, Grudem rejeita a concepção pentecos
tal do batismo no Espírito distinto da conversão por causa de suas
NO PODER 0 0 ESPÍRITO 256
Q uestões teológicas
0 CAMINHO A SEGUIR
C onclusão
A precisão teológica nesse assunto é de vital importância. Se basear
mos a teologia normativa em experiências gerais, correremos graves
riscos. Já discutimos os perigos inerentes quando se confunde o
batismo no Espírito com a santidade cristã. Todavia, um exame do
N ovo Testamento convoca-nos para buscar um caminho mais exce
lente. Podemos de coração aberto procurar Deus e esperar que ele
derrame o seu Espírito sobre nós de tal modo que transforme a nos
sa velha natureza, inclinada para os caminhos pecaminoso, e nos
conceda poder e intrepidez para ser as testemunhas que ele quer que
sejamos. Essas duas dimensões podem quase sempre parecer uma
só em nossa vida. À medida que prosseguimos nos caminhos do
Espírito, vamos provavelmente encontrar momentos de refrigério
eticamente transformadores e missiologicamente inspiradores. Mas
uma dimensão pode desenvolver-se sem a outra.
Oremos para que Deus nos conceda ambas. Que possamos procu
rar apresentar o fruto do Espírito assim como o poder do Espírito.
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