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14 Política Florianópolis, outubro de 2009

Parceria entre estado


Angieli Maros

e empresas privadas
gera presídio modelo
SC combate a superlotação com a construção de nova unidade e
investe em métodos laborais para ressocialização de detentos Ismael Buono, na Penitenciária de Joinville: “Eles dão oportunidade e nos incentivam a mudar”
Em dezembro começa a constru- Governo do Estado também fazem no O incentivo vem não só no trabalho de
ção da segunda unidade prisional in- local – desenvolvem atividades laborais seis horas por dia, mas também nos
dustrial do Estado, em Lages. Afrânio com 166 dos 366 presos, que recebem estudos. Preso na Penitenciária Indus-
Camargo, presidente da Comissão de pelo menos um salário mínimo cada. O trial há um ano e dez meses, Ismael já
Direitos Humanos da subseção da OAB salário do apenado representa 75% do terminou ali o ensino médio, e agora
na região serrana fez a proposta, no valor repassado pela empresa, já que os faz um curso profissionalizante.
fim de setembro, para a Secretaria de outros 25% são investidos na peniten- O presídio possui uma biblioteca
Desenvolvimento Regional de Lages. A ciária. com aproximadamente 3 mil livros, e
Secretaria encaminhou o projeto ao go- Como em qualquer outra unidade quatro salas de aula, utilizadas para
vernador Luís Henrique da Silveira, que prisional do Brasil, em Joinville o tra- cursos de alfabetização, aulas de ensino
se interessou “ao ver a atual situação do balho também funciona como redutor fundamental e médio e cursos profis-
Presídio Regional de Lages”, conta Ca- de pena – a cada três dias de trabalho, sionalizantes de instalações elétricas.
margo. Com capacidade para 78 deten- deduz-se um de prisão. Geralmente, os Há presos que também fazem lições de
tos, o local abriga hoje 386 apenados, presidiários do regime aberto e semi- teologia, à distância, e como não há
ou seja, cinco presos para cada vaga. aberto precisam de autorização judicial aula regular nas sextas-feiras, apro-
“Em proporção, é uma das maiores su- para trabalhar. No entanto, na Peniten- veitam o espaço das salas de aula para
perlotações do País”. ciária Industrial de Joinville é diferente, aprender música e artes e fazer terapia
O novo presídio – uma unidade para porque os presos do regime fechado, em grupo.
mulheres e presos de baixo risco, como que cumprem penas maiores, também O atendimento psicológico e psi- Presos têm acesso às salas de aula e biblioteca, com acervo de aproximadamente 3 mil livros
os que cumprem pena por não pagarem trabalham e não precisam de autori- quiátrico fica à disposição dos pre-
pensão alimentícia – vai contar com
300 vagas. A Prefeitura doou o terreno
zação judicial, já que todo o serviço é
feito dentro da Penitenciária. “O preso
sos, bem como uma enfermaria 24h,
atendimento médico, um consultório
Superlotação reduz oportunidades
onde será feita a obra orçada em R$
10 milhões para o Governo do Estado
de regime fechado tem de trabalhar. Se
está condenado a 30 anos, ele sai dez
odontológico e terapia ocupacional.
Esta última tem por objetivo estabele- de trabalho a detentos da Regional
de Santa Catarina, e em troca recebeu anos antes”, ressalta Fábio Augusto da cer uma relação entre terapeuta, pa- Quando um sentenciado chega à O tratamento ao preso provisório
outro terreno do Estado. Silveira, gerente de Execução Penal da ciente e atividade, porque vê no traba- Penitenciária Estadual de Florianó- não é diferente. Sua única restrição é
Apesar de a construção ainda não ter Penitenciária. lho um meio de ressocialização. A área polis, todos os seus pertences vão para não poder trabalhar ou estudar, prá-
se iniciado, a nova unidade já foi con- Entre as outras empresas que atu- de terapia ocupacional da penitenciá- armários no último andar do prédio. ticas acessíveis aos outros reclusos.
tatada por duas empresas de Joinville am na unidade prisional, estão a Tigre, ria fez um levantamento, em 2008, de Roupas, acessórios e documentos Marcenaria, alfaiataria e confecção
que ofereceriam trabalho para até 500 a Ciser, a Busscar, a Schulz, a Maycon, como a atividade laboral influenciou aguardam a família – ou o próprio de acessórios esportivos são algumas
detentos, mas as propostas foram recu- a Nutribem, Usar, a Segredo Solar e a na vida dos apenados: 87% dos que preso, quando sair – para serem le- das atividades realizadas pelos reedu-
sadas, já que se pretende dar prioridade Caribor. Esta última faz, por mês, “a trabalharam disseram se sentir me- vados para casa. É assim desde a sua candos, de segunda a sexta, por cinco
às empresas lageanas. A Associação Co- análise de 900 mil a um milhão de re- nos ansiosos, 75% se sentiram menos inauguração, em 1962, quando a peni- horas diárias. Apesar de oferecer as
mercial e Industrial de Lages também tentores para máquinas de lavar, além depressivos, 76% deles foram menos tenciária ainda tinha capacidade para mesmas possibilidades de estudo e tra-
já demonstrou interesse. de uma peça da dire- ao médico e 90% se apenas 200 internos. Hoje, o complexo balho que a Penitenciária Industrial de
ção dos carros Fiat e de Enquanto nas sentiram com mais penitenciário é dividido em sete unida- Joinville, a de Florianópolis não possui
Reeducação pelo trabalho
No bairro Paranaguamirim, em
outra usada na embre-
agem de motos”, conta
penitenciárias autoestima. “Esse é o
grande segredo da pe-
des, no bairro Agronômica. Lá, estão
391 sentenciados em regime fechado.
estrutura para todas as atividades la-
borais. Algumas, como a marcenaria e
Joinville, funciona há quatro anos a orgulhoso o apenado e do estado a nitenciária: nós com- Há 40 anos, as celas eram indivi- a cozinha, têm local reservado, mas a
Penitenciária Industrial Jucemar Ces-
conetto, a primeira unidade prisional
coordenador do traba-
lho dentro da peniten-
reincidência pilamos todos os dados
do histórico daquele
duais, e as 200 pessoas trabalhavam.
Segundo o chefe de segurança da Peni-
falta de espaço não permite a amplia-
ção das atividades.
industrial do Estado, com capacidade ciária, Ismael Buono, passa de 60%, indivíduo e começa- tenciária, Euclides de Souza, por volta Ao todo, são 766 sentenciados: 391
para 366 pessoas – e onde estão exata-
mente 366 presos. Esta é chamada de
de 36 anos.
Ismael já esteve
na de Joinville é mos a desenvolver as
atividades buscando
dos anos 1990 foi necessário ampliar a
capacidade de lotação máxima da par-
em regime fechado, 324 em semi-aber-
to e 51 provisórios, remanejados devido
industrial porque funciona através de também nas penitenci- de apenas 9% entender a crimina- te interna. As mesmas celas que antes à superlotação do Presídio Masculino
uma parceria do Estado com empre- árias de Blumenau, de lidade, para que nós eram individuais, agora comportavam de Florianópolis. Destes, 229 traba-
sas privadas. Uma delas, a Montesinos, Florianópolis e agora está em Joinville. pudéssemos ter o sucesso que é hoje a dois presos em beliches. De resto, as lham, 250 estudam e 170 têm acesso
cuida da manutenção e da logística da Para ele, a Penitenciária Industrial foi penitenciária com relação às demais instalações continuaram iguais: um a materiais didáticos para que possam
unidade. Por isso não há superlotação: a que lhe deu condições para querer unidades, não só no Estado como no vaso sanitário com uma torneira em prestar concursos, como o vestibular.
se houver uma rebelião, é a empresa mudar de vida. “Nada se compara à Pe- País”, explica o diretor Richard Harri- cima, que serve também de descarga, e Segundo o Departamento de Adminis-
contratada que deverá arcar com os nitenciária Industrial de Joinville. É a son Chagas dos Santos. banho de mangueira no pátio. tração Prisional, o Estado repassa à
custos. única do estado em que acontece resso- Santos enfatiza que, dentro da pe- Hoje são 390 camas, mas o local Penitenciária Estadual de Florianópo-
Todo mês, o Governo do Estado de cialização. Aqui funciona”. Ele afirma nitenciária, tenta-se dar ao preso uma abriga 391 internos, sendo que 51 des- lis, por mês, R$ 1500 por preso. Para
Santa Catarina paga R$ 880 mil para a que as empresas não contratam pessoas vida o mais próxima possível da reali- tes são presos provisórios, que ainda fazer a segurança dos 766 reclusos, o
Montesinos, a fim de que a empresa pro- com antecedentes criminais, e que ali dade fora dele. Para ele, é por isso que respondem a processos. “Por causa do governo mantém cerca de 24 vigilantes
videncie vigilância, uniformes, produ- eles têm a oportunidade de mostrar seu o índice de reincidência dos presos que inchaço dos presídios, os que apresen- e policiais, 118 agentes prisionais, cin-
tos de higiene, limpeza e manutenção. trabalho e a chance de continuarem passam por ali é de 9%, enquanto no tam alta periculosidade ou mau com- co técnicos de saúde e dois assistentes
Para fazer a limpeza do local, a Mon- naquelas empresas após o cumprimen- estado passa de 60%. portamento acabam ficando na peni- sociais.
tesinos contrata doze apenados. Isso é to da pena. “Eles dão oportunidade. Eles tenciária, junto dos demais”, relata
o que as outras empresas parceiras do incentivam a gente a mudar”, enfatiza. Luísa Konescki Euclides da Silva, chefe de segurança. Flávia Schiochet

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