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Akihisa Motoki et al.

Geociências

Feições intempéricas em rochas alcalinas


félsicas de Nova Iguaçu, RJ
(Weathering fabrics in felsic alkaline rocks of Nova Iguaçu,
State of Rio de Janeiro, Brazil)
Akihisa Motoki
Depart. de Mineralogia e Petrologia Ígnea, Univ. do Estado do Rio de Janeiro. E-mail: amotoki@yahoo.com
Rodrigo Soares
Depart. de Mineralogia e Petrologia Ígnea, Univ. do Estado do Rio de Janeiro. E-mail: roddrigoss@yahoo.com.br
Susanna Eleonora Sichel
Depart. de Geociências, Laboratório de Geologia do Mar, Univ. Federal Fluminense. E-mail: susanna@igeo.uff.br
José Ribeiro Aires
ABAST/Petrobras. E-mail: aires@petrobras.com
Marcela Lobato
Depart. de Mineralogia e Petrologia Ígnea, Univ. do Estado do Rio de Janeiro. E-mail: marcela_lob@hotmail.com

Resumo Abstract
Esse artigo apresenta descrições de campo e consi- This paper presents the field description and
derações genéticas de feições intempéricas observadas genetic consideration of weathering fabrics observed
em rochas alcalinas félsicas de Nova Iguaçu, RJ, com in the Nova Iguaçu felsic alkaline rocks, State of Rio de
atenção especial aos clastos traquíticos de brecha vulcâ- Janeiro, Brazil, with special attention to trachytic clasts
nica. Observam-se dois tipos de feições notáveis: “case of volcanic breccia. Two types of notable fabrics are
hardening”, o endurecimento da superfície da rocha por observed: “case hardening”, the rock surface
cimentação dos minerais intempéricos com o auxílio de induration by cementation of weathered minerals with
hidróxidos dissolvidos na água superficial percolante; the help of the hydroxides dissolved in the surface water;
“dissociação mineral”, o intemperismo seletivo de mine- and “mineral dissociation”, the selective mineral
rais e a conseqüente formação de cavidades na superfí- weathering and consequent formation of cavities on the
cie da rocha. Nos afloramentos intemperizados das bre- rock surface. On the weathered outcrops of the breccia,
chas, o case hardening forma saliência centimétrica dos case hardening forms centimetric positive relief on the
clastos traquíticos sobre a superfície da matriz. Os clas- trachytic clasts of the matrix surface. Clasts larger than
tos maiores do que 30 cm mostram a feição de saliência e 30 cm show positive and negative reliefs along the rim,
reentrância na borda, que é originada do contraste entre which are originated from the contrast between the
a superfície endurecida e a subsuperfície não endureci- hardened surface and relatively soft subsurface. They
da. Esses clastos têm suave saliência central cuja subsu- have a gentle central prominence underlain by a fresh
perfície é composta do núcleo sem alteração. A lixiviação rock core. The elimination of alkaline feldspar
dos fenocristais de feldspato alcalino forma numerosas phenocrysts forms numerous cavities on the weathered
cavidades na superfície intemperizada de clastos de tra- surface of the trachyte clasts, generating a
quito porfirítico, gerando uma estrutura pseudovesicu- pseudovesicular structure, but in the subsurface, less
lar, porém, na subsuperfície, a rocha menos alterada com weathered massive rock can be found. This fact
textura maciça está presente. Esse fato demonstra que demonstrates that these clasts are not bomb, spatter or
essas não são bombas, spatter ou escória. Essas obser- scoria. These observations are unfavourable to the
vações são desfavoráveis à hipótese do Vulcão de Nova hypothesis that the Nova Iguaçu complex is a volcano,
Iguaçu, que adota uma origem extrusiva dos clastos como which is based on the extrusive origin of the clasts as a
um argumento fundamental. fundamental argument.
Palavras-chave: Case hardening, dissociação mineral, Keywords: Case hardening, mineral dissociation,
pseudovesicular, brecha, clasto, traquito, Nova Iguaçu. pseudovesicular, breccia, clast, trachyte, Nova Iguaçu.

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Feições intempéricas em rochas alcalinas félsicas de Nova Iguaçu, RJ

1. Introdução aluminosos e silicáticos, podendo ter núcleo do mineral. Com o auxílio dessa
resistência mecânica dos próprios mine- alteração, ocorrem a desintegração físi-
No Estado do Rio de Janeiro, ocor- rais, porém não há coesão. Dessa forma, ca do feldspato alcalino e a formação das
rem dezenas de complexos intrusivos de a desintegração da rocha ocorre, normal- cavidades na superfície da rocha (Figu-
rochas alcalinas félsicas do final do Cre- mente, a partir da superfície. ra 2B). Caso esse processo seja avança-
táceo ao início do Terciário (Ulbrich & do, a superfície intemperizada apresenta
Gomes, 1981). Essas rochas são compos- Por outro lado, existem certos ca-
aparência similar à estrutura vesicular.
tas, principalmente, de álcali sienito e ne- sos em que a superfície intemperizada
Nesse trabalho, tal feição é chamada de
felina sienito e, subordinadamente, tra- adquire resistência superior à subsuper-
“estrutura pseudovesicular”.
quito, fonolito, lamprófiro e rochas piro- fície também alterada. Os materiais lixivi-
clásticas. ados dissolvidos na água superficial, tais Na literatura geológica consultada
como ferro, magnésio e sílica, possivel- pelos autores, não há registro dos pro-
As rochas piroclásticas presentes mente enxofre, cimentam os minerais in- cessos de intemperismo anteriormente
na borda nordeste do complexo sieníti- tempéricos sílica-aluminosos, principal- citados, devido, provavelmente, à escas-
co do maciço Mendanha, situadas na mente na forma de hidróxidos. O endure- sez de ocorrência de rochas alcalinas fél-
proximidade da cidade de Nova Iguaçu cimento da superfície, através desse pro- sicas na superfície da Terra. No presente
(Figura 1), foram noticiadas por Klein e cesso, é denominado “case hardening” trabalho, os autores chamam esse fenô-
Vieira (1980a) e interpretadas como for- (Dorn, 2004, Figura 2A). A relativa fragi- meno intempérico de “dissociação mi-
madoras de um vulcão extinto. As ro- lidade da subsuperfície é chamada, even- neral”.
chas piroclásticos são compostas de tualmente, de “core softening”.
tufo, lapilli e aglomerado, cuja matriz apre-
Esse fenômeno ocorre em vários ti-
senta alto grau de soldamento (Klein & pos de rochas, preferencialmente de 3. Intemperismo de
Valença, 1984; Klein et al., 1984; Klein
1993), com existência de feições simila-
composição silicática e/ou aluminosa, clastos das rochas
tais como riolito, dacito, traquito, areni-
res a spatter, escória, pillow e bomba de to e quartzito. Nos casos da cimentação
piroclásticas
crosta-de-pão (Klein et al., 2001). por sílica, o efeito do endurecimento por As rochas piroclásticas de Nova
Por outro lado, existem opiniões case hardening, através da formação de Iguaçu apresentam, quatro graus dife-
controversas ao modelo do vulcão. Mo- calcedônia, é notável (Campbell, 1999). rentes de intemperismo: ausente, baixo,
toki et al. (2004; 2005; 2006a) e Motoki e Recentemente, a sonda marciana Spirit médio e alto.
Sichel (2006) apresentaram argumentos observou case hardening na superfície
das rochas presentes na cratera Gusev, Os afloramentos intactos de rochas
de que as rochas anteriormente citadas
formada por impacto de meteorito. O fe- piroclásticas são encontrados em pedrei-
correspondem aos materiais que preen-
nômeno é atribuído ao intemperismo ras. Na Pedreira Vigné (Figura 1, Loc. 1),
cheram condutos e fissuras vulcânicos.
mediante a água superficial desse plane- ocorrem duas gerações de brecha: a mais
As rochas alcalinas de Nova Igua- ta (Farmer, 2005). antiga é formada pela intrusão de mag-
çu, sobretudo as brechas vulcânicas, ma sienítico com clastos compostos,
apresentam feições peculiares origina- Na superfície endurecida por case predominantemente, de traquito e, su-
das de intemperismo, com atenção espe- hardening, sobretudo de rochas alcali- bordinadamente, de rochas metamórfi-
cial de case hardening e dissociação nas félsicas, o intemperismo afeta, sele-
cas, englobados na matriz sienítica; a
seletiva de minerais. Essas rochas são tivamente, os minerais. A nefelina é um
mais nova é originada de erupção vul-
importantes para interpretação de forma mineral muito sensível ao intemperismo
cânica, com clastos de álcali sienito e
de ocorrência geológica das rochas pi- químico e é alterada em natrolita e can-
crinita. Em afloramentos de nefelina sie- traquito (Motoki et al., 2006a; b). Em am-
roclásticas. No presente artigo, os auto- bos os casos, a superfície do afloramen-
res apresentam descrições das feições nito e fonolito e gnaisse de composição
nefelina sienítica, a nefelina intemperiza- to é lisa, não havendo saliência dos clas-
intempéricas e considerações sobre sua tos sobre a matriz (Figura 3A). Brecha
da destaca-se pela cor branca sobre o
gênese. intrusiva similar ocorre, também, na pe-
fundo escuro da rocha intemperizada.
Após a lixiviação de nefelina, formam-se dreira desativada de brita, situada na
cavidades na superfície da rocha. entrada do Vale do Rio Dona Eugênia
2. Feições intempéricas (Figura 1, Loc. 2). Esse afloramento, tam-
Fenômeno similar ocorre, também,
características na alteração seletiva de fenocristais de
bém, expõe a superfície sem saliência dos
clastos.
O intemperismo químico altera os feldspato alcalino de rochas traquíticas,
minerais constituintes da superfície de dacíticas e riolíticas. O feldspato alcali- No leito de rios, tal como do vale
rochas. Por meio da decomposição dos no é, quimicamente, mais resistente do profundo do rio Dona Eugênia, encon-
minerais máficos e feldspatos, ferro, mag- que a nefelina. Entretanto, a água infil- tram-se, localmente, rochas de baixo grau
nésio, cálcio e sílica são lixiviados. Os tra, ao longo dos planos de clivagem, e o de intemperismo. A rocha piroclástica
materiais remanescentes são altamente intemperismo avançam, facilmente, até o contém clastos de traquito e de álcali-

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Figura 1 - Mapa geológico das rochas vulcânicas da área limítrofe do maciço Mendanha, Nova Iguaçu, RJ. A imagem de satélite é
originada da EMBRAPA. No mapa, aglomerado corresponde às áreas com abundantes clastos de tamanho superior a 50 cm. As
expressões “traquito 1” e “traquito 2”, que se encontram nas relações intrusivas, correspondem, respectivamente, ao traquito da
primeira geração e da segunda geração. Os diques de traquito da segunda geração e de lamprófiro não aparecem na escala do
mapa devido ao tamanho dos corpos muito pequeno.

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Figura 2 - Ilustração de processos intempéricos encontrados na superfície das rochas alcalinas da região de Nova Iguaçu: A) case
hardening; B) dissociação mineral de nefelina na superfície de nefelina-sienito; C) dissociação de fenocristais de feldspato alcalino
em traquito porfirítico. O processo de dissociação mineral avança da esquerda para direita nas Figuras B e C, culminando com a
textura pseudovesicular.

Figura 3 - Afloramentos de diferentes graus de intemperismo observados nas brechas vulcânicas de Nova Iguaçu: A) intacto,
Pedreira Vigné, Loc. 1, Figura 1; B) grau médio, Pedra da Contenda, Loc. 4; C) grau alto, Klein-Klippe, Loc. 6.

sienito e ocorre como corpos intrusivos tenda (Figura 1, Loc. 4), encontra-se um sendo que os tamanhos são classifica-
tabulares de configuração vertical, de afloramento com superfície intensamen- dos, descritivamente, em 4 tipos: aque-
forma similar a dique (Motoki & Sichel, te intemperizada de alguns centímetros les que se encontram nos clastos meno-
2006). No Poço das Cobras (Figura 1, de espessura. Efeitos de intemperismo res do que 5 cm; de 5~30 cm; de 30~60cm;
Loc. 3), observa-se afloramento de bre- menos intenso por infiltração profunda maiores do que 60 cm.
cha vulcânica com camada superficial através da matriz atingem, pelo menos,
Os clastos de tamanho inferior a 5
com intenso intemperismo de espessura alguns metros de profundidade. Os clas-
cm apresentam saliência de 1 a 2 cm,
milimétrica a centimétrica. Observa-se, tos expostos são constituídos, predomi-
mostrando superfície irregular (Figura
eventualmente, pequena saliência dos nantemente, por traquito de tamanho va-
4A, setas pretas). Esse fenômeno pode
clastos sobre a matriz com altura em tor- riável, desde milimétrico até 70 cm, apre-
ser atribuído, tanto à preservação da for-
sentando saliência centimétrica sobre a
no de 1 cm. ma original dos clastos, quanto ao efeito
matriz. Nesse afloramento, o intemperis-
intempérico.
Os afloramentos de intemperismo mo forma várias feições características
de grau médio estão expostos no topo nos clastos. O tamanho da saliência está Os clastos de 5 a 30 cm apresentam
de morros (Figura 3B). Na Pedra da Con- geralmente, relacionado ao do clasto, a saliência em torno de 2 cm, que aumen-

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ta com o tamanho dos mesmos e cuja caracterizada por reentrância centimétri- clastos (Figura 4D, setas vermelhas). No
superfície é, relativamente, regular (Fi- ca entre as superfícies do clasto e da lado interior, ocorre uma zona com sua-
gura 4B). O diâmetro dos clastos é muito matriz (Figura 4C, seta verde). Essa fei- ve reentrância de largura aproximada de
maior do que a saliência, portanto a su- ção pode ser atribuída ao contraste da 5 cm (Figura 4D, 5B, setas verdes). Na
perfície semiplanar não corresponde à resistência entre a superfície semiplanar parte central, ocorre uma saliência sua-
superfície original dos clastos, mas ao do clasto endurecida por case hardening
perfil de seus cortes (Figura 4B, seta de ve, de altura centimétrica e com forma
e a subsuperfície não endurecida do subcircular e, na sua subsuperfície, en-
cor laranja). A saliência do clasto relati-
mesmo por core softening. contra-se o núcleo remanescente intac-
vo à matriz é devida a case hardening.
Alguns clastos grandes, maiores to (setas azuis). Essa feição não é devi-
Os clastos maiores do que 30 cm,
do que 60 cm, mostram uma feição espe- da, simplesmente, ao intemperismo que
como encontrados no afloramento na
proximidade do topo da Pedra de Con- cial. Na margem dos clastos, até 2 cm a atuou na superfície do afloramento: a
tenda (Figura 1, Loc. 5), mostram super- partir do contato, observa-se uma sali- saliência da margem é atribuída a case
fície relativamente lisa, com a margem ência linear que contorna a borda dos hardening na superfície dos clastos e a

Figura 4 - Ilustração esquemática de perfis explicativos dos processos intempéricos de clastos e matriz de brecha vulcânica e
seus exemplos: A) clastos de tamanho inferior a 5 cm com perfil irregular, tais como da Pedra de Contenda, Loc. 4; B) clastos de
5~30 cm com perfil relativamente liso, Loc. 4; C) clastos de 30~60 cm com perfil liso, com a reentrância lateral na margem por core
softening, Topo da Pedra da Contenda, Loc. 5; D) clastos maiores do que 60 cm com apresentação da saliência (seta vermelha) e
reentrância (seta verde) ao longo no contorno e núcleo não intemperizado (seta azul), Loc. 4. As fotos A, B, C e D correspondem,
respectivamente, aos exemplos dos dos casos A, B, C e D da ilustração.

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reentrância adjacente, ao core softening
da subsuperfície dos clastos.
Em escarpas verticais, resultantes
do deslizamento do regolito, ocorrem
afloramentos de alto grau de intemperis-
mo. Nesses afloramentos, tal como de
Klein-Klippe (Figura 1, Loc. 6), obser-
vam-se feições intempéricas peculiares
dos clastos grandes. Um clasto de tama-
nho aproximado de 80 cm mostra feição
similar à da Figura 4D, porém o núcleo
intacto é exposto, diretamente, na super-
fície do afloramento (Figura 5A, seta
azul). A saliência da margem formada pelo
case hardening (seta vermelha) é desen-
volvida não simplesmente em direção
perpendicular à superfície do afloramen-
to (Figura 5B, D, seta vermelha), mas se
curva para o centro do clasto (Figura 5D,
seta preta). Portanto, interpreta-se que o
case hardening se desenvolve ao longo Figura 5 - Imagens (A, B) de um clasto traquítico com 80 cm de diâmetro exposto na
da nova face do clasto, que foi exposta Klein-Klippe (Figura 1, Loc. 6) e, as ilustrações esquemáticas (C, D, E) de processo de
por deslizamento. desenvolvimento de case hardening antes e depois da exposição de corte do clasto:
A) imagem geral do clasto, apresentando a exposição do núcleo intacto (seta azul); B)
As feições anteriormente citadas detalhe da borda do clasto; C) desenvolvimento de case hardening ao longo da margem
sugerem duas etapas de case hardening. do clasto (seta vermelha); D) exposição de corte do clasto resultante de deslizamento;
E) desenvolvimento de case hardening ao longo da superfície nova, após exposição
A primeira teria envolvido a superfície do afloramento (seta preta).
do clasto todo, conforme a ilustração da
Figura 5C, antes mesmo do deslizamen-
to. A segunda teria ocorrido depois que o nefelina-sienito ocorre na parte oeste, altamente intemperizados com a superfí-
o clasto foi quebrado, em virtude do des- tal como no Pico de Marapicu, onde cie repleta de cavidades (Figura 6C). A
lizamento, quando, então, formou-se um ocorre a jazida de rocha ornamental “Gra- estrutura pseudovesicular está bem de-
prolongamento do case hardening (Fi- nito Cinza-Ás-de-Paus”. Na peneplaní- senvolvida e a feição pode ser confun-
gura 5E, seta preta), que resultaria no cie Mendanha, que compõe o topo do dida, à primeira vista, com estrutura ve-
recobrimento da superfície nova. maciço (Motoki et al., 2006a), na proximi- sicular de spatter, escória e bomba vul-
dade do sítio das torres de comunicação cânica. Entretanto a subsuperfície com
A exposição regolítica da Loc. 6 relativamente baixo grau de intemperis-
mostra o case hardening e core softe- (Figura 1, Loc. 7), observam-se os blo-
cos arredondados de nefelina-sienito mo revela que esses clastos não são ve-
ning em escala de afloramento (Figura siculares, mas, sim, maciços. Na parte in-
3C). Na parte superior, de cor escura, com superfície intemperizada, apresen-
tando numerosas cavidades de tamanho ferior direita da Figura 6C, observa-se o
observam-se o case hardening origina- processo inicial de dissociação de feno-
do, provavelmente, de cimentação dos de 1 a 3 cm (Figura 6A).
cristal de feldspato alcalino (seta verde).
hidróxidos de ferro e magnésio. Esses A dissociação dos fenocristais de
materiais foram lixiviados pela ativida- feldspato alcalino e a formação da estru-
de da água superficial, formando três tura pseudovesicular são observadas, 5. Discussões
faixas verticais de cor escura, cobrindo expressivamente, na superfície intempe- A maioria dos clastos da brecha
a parte inferior do afloramento de cor rizada do traquito da primeira geração, vulcânica de Nova Iguaçu é caracteriza-
clara, que corresponde à cavidade de que é a rocha traquítica predominante da por desenvolvimento de fraturas pa-
core softening.
dessa região. Na encosta noroeste da ralelas de intervalo de 5 a 20 cm. As fra-
Pedra da Contenda (Figura 1, Loc. 8), turas aparecem, geralmente, como reen-
4. Dissociação mineral encontra-se um bloco rolado de traquito trâncias lineares nos afloramentos in-
porfirítico, que apresenta a superfície temperizados (Figuras 4B; 7A). Eventu-
por intemperismo com cavidades de tamanho aproximado almente, essas fraturas se manifestam
A dissociação mineral de nefelina é de 1 cm (Figura 6B). Na brecha vulcânica como saliências originadas de case
observada, tipicamente, na superfície de que se expõe no Pico do Contento (Fi- hardening nos clastos intensamente in-
nefelina-sienito. No maciço Mendanha, gura 1, Loc. 9), observam-se os clastos temperizados (Figura 7B).

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Figura 6 - Exemplos de dissociação mineral e formação de cavidades na superfície das rochas alcalinas da região de Nova Iguaçu:
A) matacão de nefelina-sienito com cavidades formadas pela dissociação de nefelina, sítio de torres de telecomunicação, Loc. 7,
Figura 1; B) cavidades formadas na superfície de traquito porfirítico por dissociação de fenocristais de feldspato alcalino, bloco
rolado na encosta nordeste da Pedra da Contenda, Loc. 8; C) superfície intemperizada de textura pseudovesicular (seta vermelha),
interior do maciço (seta azul) e processo inicial da dissociação mineral (seta verde), observados em traquito exposto no Pico do
Contento, Loc. 9.

Figura 7- Ilustração esquemática das feições intempéricas de clastos fraturados: A) intemperismo de grau médio com reentrâncias
lineares ao longo de fraturas; B) intemperismo de grau alto com saliências lineares ao longo de fraturas por case hardening; C)
ocorrência de saliência ao longo do contorno por case hardening e estrutura pseudovesicular por dissociação mineral na superfície.

Alguns clastos apresentam mais de química da rocha pela acidez da água da


uma estrutura gerada por intemperismo. chuva. As caneluras são observadas,
Quando ocorre a associação de case comumente, em nefelina-sienito e pulaski-
hardening (Figura 4D) e estrutura pseu- to (e.g. Motoki, 1986) e têm largura de 50
dovesicular (Figura 6C), o clasto adqui- cm a 1 m e profundidade de 20 a 30 cm.
re aspecto semelhante à bomba vulcâni- As caneluras da Loc. 10 têm largura me-
ca (Figura 7C), onde a crosta endurecida nor, de 20 a 40 cm, e profundidade de 20
parece ser a margem de resfriamento. a 30 cm.
Clastos com fraturas ramificadas, por
Trabalhos anteriores basearam-se
outro lado, mostram feição parecida à
na existência de bombas vulcânicas
superfície de bomba do tipo crosta-de-
como uma importante justificativa da exis-
pão (Figura 8).
tência de um edifício vulcânico (Klein & Figura 8 - Clasto traquítico intemperizado
A estrutura pseudovesicular é ob- Vieira, 1980b; Vieira & Klein, 2004; Ghizi com fraturas ramificadas, brecha
vulcânica da Pedra da Contenda (Loc. 9,
servada, também, nos xenólitos de tra- et al., 2004; Silveira et al., 2005; Valente
Figura 1).
quito porfirítico capturado pelo álcali-si- et al., 2005). Os clastos em discussão têm
enito (Figura 1, Loc. 10). O álcali-sienito forma arredondada e saliência ao longo
desse afloramento mostra uma outra fei- da margem de altura centimétrica, e cor- al., 2001) correspondem aos clastos com
ção intempérica denominada “canelu- respondem às feições das Figuras 4D, 5 estrutura pseudovesicular. Os clastos
ras”. Essa feição corresponde aos sul- e 7C. Os clastos interpretados como “eje- arredondados de tamanho pequeno, até
cos marcados na superfície de aflora- tólitos escolíceos” ou feição similar a 15 cm de diâmetro, sob intenso efeito de
mento rochoso, originada de corrosão “spatter” (Klein & Vieira, 1980b; Klein et intemperismo, apresentam forma desta-

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Feições intempéricas em rochas alcalinas félsicas de Nova Iguaçu, RJ
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dissociação mineral apresentam aspec- vulcânicas de Nova Iguaçu, maciço Mendanha, RJ: constituintes de um vulcão ou corpos
to similar ao perfil de bomba vulcânica. subvulcânicos? In: CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIA, 43. Anais... SBG,
Quando os clastos possuem fraturas al- Aracaju, 136, 2006a.
tamente ramificadas, eles se apresentam MOTOKI, A., SICHEL, S., FONSECA, L.G., SILVA, M.S., ALMEIDA, F.S.S., CORRALES,
com feição similar à superfície de bomba F. Relação entre as texturas de rochas vulcânicas e estruturas de corpos vulcânicos e sub-
de crosta-de-pão. Entretanto o núcleo vulcânicos: exemplos do Brasil, Argentina e Chile. In: SIMPÓSIO DE VULCANISMO E
intacto desses clastos é maciço e não AMBIENTES ASSOCIADOS, 3. Anais... Cabo Frio, p. 387-392, 2005.
apresentam as feições características de MOTOKI, A., SICHEL, S.E. Avaliação de aspectos texturais e estruturais de corpos vulcânicos
bomba vulcânica, tal como vesiculação e subvulcânicos e sua relação com o ambiente de cristalização, com base em exemplos do
e deformação plástica durante o vôo. Brasil, Argentina e Chile. REM - Revista Escola de Minas, v. 59, n. 1, p. 13-23, 2006.
Essas observações são desfavoráveis à MOTOKI, A., SICHEL, S.E., AIRES, J.R., SOARES, R., LOBATO, M. Feição similar à
hipótese do Vulcão de Nova Iguaçu, que disjunção colunar horizontal do corpo traquítico de rochas vulcânicas de Nova Iguaçu, RJ,
adota a origem extrusiva dos clastos e a consideração sobre sua gênese.In: CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIA, 43.
como um argumento fundamental. Anais... SBG, Aracaju, 136, 2006b
SILVEIRA, L.S., DUTRA, T., VALENTE, S.C., RAGATKY, D.C., Modelos eruptivos
preliminares para o Complexo Vulcânico de Nova Iguaçu, RJ. In: SIMPÓSIO DE
7. Agradecimentos VULCANISMO E AMBIENTES ASSOCIADOS, 3. Anais... p. 333-337, 2005.
ULBRICH, H.H.G.J., GOMES, C.B. Alkaline rocks from continental Brazil. Earth-Science
As etapas de campo foram realiza-
Reviews. v. 17, p. 135-154, 1981.
das com a participação dos alunos cola- VALENTE, S.C., MELLO, E.F., PALERMO. Geologia de uma porção do complexo
boradores. Os autores agradecem aos vulcânico de Nova Iguaçu limítrofe à área de lavra da pedreira Vigné, Nova Iguaçu,
alunos Daniel Aderino, do Curso de Ge- RJ. Relatório final. Ministério Público. Nova Iguaçu, 2005. 72 p.
ologia da UERJ, Ariadne Marra de Souza VIEIRA, A.C., KLEIN, V.C. Vulcão de Nova Iguaçu, o vulcão brasileiro. CREA-RJ, 2004.
da mesma instituição, e Kenji Freire Mo- 10 p.
toki, da Associação Educacional Plínio
Leite. Artigo recebido em 04/09/2006 e aprovado em 06/03/2007.

458 REM: R. Esc. Minas, Ouro Preto, 60(3): 451-458, jul. set. 2007

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