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O Modelo de Auto-Avaliação das Bibliotecas Escolares: metodologias de operacionalização (Conclusão)

ANÁLISE E COMENTÁRIO CRÍTICO À PRESENÇA DE REFERÊNCIAS A RESPEITO DAS BE NOS RELATÓRIOS DE AVALIAÇÃO EXTERNA

Introdução

Como bem salienta Sarah McNicol (2004) está hoje documentado o contributo que a biblioteca escolar pode aportar ao processo de
ensino aprendizagem. Todavia, no passado (recente), não havia a possibilidade de provar que assim era. A avaliação incidia sobretudo em
dados quantitativos que apenas podiam atestar dos inputs, mas nada significavam em termos de outcomes. Importa agora que seja demons-
trado aos professores, às estruturas pedagógicas e directivas, aos pais e encarregados de educação, aos alunos e aos governantes que os
serviços da BE podem contribuir para a construção de aprendizagens formais e informais e potenciar o sucesso académico.

A biblioteca é um recurso da escola que está disponível para todos e que se articula com todos os intervenientes no processo de ensino
aprendizagem, ou não fosse um dos grandes desafios da BE o de ser «learning commons for knowledge building», como Ross Todd identifica,
(workshop em Lisboa, 01|09|09) . Assim sendo, a avaliação da BE não pode ser, apenas e exclusivamente, da responsabilidade do PB/equipa,
mas deve envolver a comunidade e ter o apoio dos órgãos de decisão, por forma a que o conhecimento extraído das evidências possa ser
incorporado nas grandes acções da gestão pedagógica da escola. Como refere McNicol (2004) o valor da BE no apoio ao processo de ensino
aprendizagem só será completamente reconhecido se a sua avaliação for vista como uma parte integrante da avaliação da escola.

Nas nossas BE, com recursos humanos a tempo inteiro e com (alguma) formação na área, a generalização da aplicação do Modelo vai
permitir não só avaliar, com grande detalhe, a qualidade e eficácia, como também identificar pontos fortes e fraquezas, o que determinará as
prioridades das acções de melhoria que lhes permitirão apoiar as aprendizagens, de modo mais activo, no próximo ano lectivo.

Acresce ainda que, como se lê no texto de apoio à unidade 2 desta formação, «a informação resultante do processo de auto-avaliação
das bibliotecas escolares […] é também indispensável à tomada de decisões do Programa que gere a instalação e o desenvolvimento da rede
de bibliotecas escolares – Programa RBE ». Em 1 de Outubro, no workshop em Lisboa, Ross Todd deixou no ar uma espécie de aviso, que
aqueles que lá estiveram entenderão melhor, por conhecerem o contexto, «the eyes of the world are on you!”(citado de memória)

A auto-avaliação da BE, eventualmente de cariz mais subjectivo, dado o grau de proximidade dos avaliadores, encontrará a sua com-
plementaridade numa avaliação externa, conduzida com objectividade e rigor.

Uma das componentes de um processo de avaliação, tão importante quanto as outras, consiste na divulgação dos resultados na pró-
pria instituição, mas também para o exterior.

No artigo Benchmarking for Success, Sue Henczel (2002) destaca a importância da metodologia benchmarking, não só para “medir” o
valor contributivo da BE no âmbito da escola/agrupamento, em comparação com os outros serviços, como também para medir o seu desem-
penho e identificar áreas que precisam de ser melhoradas, estabelecendo para tal comparações com BE de outras escolas/agrupamentos.

Tendo passado pela experiência da avaliação externa em 2006/07, senti alguma frustração ao verificar que o relatório final (IGE) não
considerava ,de forma óbvia, o valor da BE, no contexto da escola. Também o Conselho Pedagógico assim o entendeu e dai a necessidade de
produzir o contraditório. De qualquer forma, essa omissão constituiu matter for thought - o que falhou, porquê, o que melhorar.

A amostra

Resolvemos analisar apenas escolas/agrupamentos que foram avaliados pelo IGE no mesmo ano lectivo, pretendendo assim reduzir
algumas assimetrias que tempo da acção introduz. Decidimos, ainda, fazer incidir a análise no ano lectivo 2008/2009 pelo facto de, neste ano,
haver um maior número de coordenadores a tempo inteiro, o que facilitou a concretização dos objectivos e missão da BE, nomeadamente no
que diz respeito ao apoio às aprendizagens e à promoção da comunicação entre as estruturas pedagógicas na escola/agrupamento.
Todos os estabelecimentos analisados são agrupamentos de áreas rurais, semi-rurais ou da periferia urbana.
Análise de relatórios de avaliação externa (Delegação Regional do Centro da IGE)

2008/2009

ESCOLA/AGRUPAMENTO REFERÊNCIAS À BE (TRANSCRIÇÃO) OBSERVAÇÕES

[…] A organização responde adequadamente a alguns dos seus problemas, patente na


oferta educativa e na acção de vários projectos e actividades. O serviço prestado pela
biblioteca escolar/centro de recursos revela-se de qualidade, sendo reconhecido inter- Do teor do relatório de ava-
na e externamente. [4.LIDERANÇA] liação externa publicado pela
IGE, pode inferir-se que
Com excepção do serviço prestado pela biblioteca/centro de recursos – sector avaliado
estamos perante uma BE
com regularidade por um dispositivo eficaz e consolidado, o conhecimento dos pontos
bem integrada na esco-
fortes e fracos do Agrupamento, bem como a identificação das oportunidades e dos la/agrupamento, com impac-
1. Agrupamento de escolas constrangimentos, resultam essencialmente, de reflexões pontuais efectuadas em sede
de Silgueiros – Viseu tos significativos na comuni-
dos órgãos e das estruturas educativas ou de contributos informais. […] [5. CAPACIDADE
dade escolar e com mérito
DE AUTO-REGULAÇÃO E MELHORIA DO AGRUPAMENTO] reconhecido. O texto tam-
O trabalho realizado no âmbito da auto-regulação ainda é insuficiente. Contudo já existe bém permite identificar qua-
a estrutura de um modelo. A integração na comissão de avaliação interna, recentemen- lidades de liderança criativa,
te constituída, da docente responsável pela auto-avaliação da biblioteca/centro de inovadora e estratégica por
recursos constitui uma mais-valia. [5. CAPACIDADE DE AUTO-REGULAÇÃO E MELHORIA parte do professor bibliotecá-
DO AGRUPAMENTO] rio.

O agrupamento promove e apoia vários projectos e iniciativas que estimulam e valori- Dada a extensão e qualidade
zam as aprendizagens, contribuindo para elevar as expectativas das crianças, dos alu- das referências, podemos
nos e dos docentes, bem como a dos restantes elementos da comunidade educativa. afirmar que estão explícitas
Neste âmbito destacam-se a criação de cursos de formação e educação, a realização de referências facilmente iden-
festas alusivas a efemérides, a publicação na página da Internet dos melhores textos no tificadas com os 4 domínios
âmbito da actividade “Ler ajuda a crescer”, a leitura de contos nos jardins de infância, em que se estrutura o MAA-
com a colaboração das famílias, e o festival das sopas, com a participação da comunida- BE, não sendo óbvias as
de, em que são entregues prémios de mérito aos alunos que mais se distinguem nos pla- acções no âmbito do subdo-
nos académico e social.[ RESULTADOS - 1.4 VALORIZAÇÃO E IMPACTO DAS APTRENDI- mínio A2.
ZAGENS]

A biblioteca integrada no programa da RBE, é um espaço agradável, funcional e sufi-


cientemente dotado de recursos, tendo um programa de acção que responde aos dis-
centes dos dois níveis de educação e de ensino.

O trabalho efectuado pela biblioteca escolar, designadamente em articulação com o


Departamento de Língua Portuguesa (interpretação de texto e promoção da leitura), a
ligação a todas as unidades escolares e as actividades realizadas em conjunto com a
Associação de Estudantes, bem como as práticas de auto-avaliação, tem impacto na
prestação do serviço educativo, sendo reconhecido interna e externamente( recebeu a
distinção de candidatura de mérito no âmbito do Programa da RBE [ LIDERANÇA - 4.1.
VISÃO E ESTRATÉGIA]

O Agrupamento demonstra abertura a iniciativas e projectos (… a Ler+ para ser, no


âmbito do PNL).[…] [ LIDERANÇA – 4.3 ABERTURA À INOVAÇÃO]

No âmbito da formação de docentes, existem parcerias com várias instituições do ensino


superior(…) com impacto na dinamização de estágios e na formação contínua de docen-
tes . (…) Saliente-se ainda a participação nos projectos “Pense Indústria”, “Com vida”,
“Electrão”, Rede Nacional de Bibliotecas Escolares, …. [LIDERANÇAS – 4.4 PARCERIAS,
PROTOCOLOS E PROJECTOS]
No início do presente ano lectivo foi criado um dispositivo de avaliação interna, tendo
para o efeito sido constituída uma comissão de docentes (mas sem coordenador) repre-
sentativa de todos os ciclos. Esta comissão integra ainda, na qualidade de assessora, a
docente responsável pela auto-avaliação da biblioteca/centro de recursos. [5. 1 CAPA-
CIDADE DE AUTO-REGULAÇÃO E MELHORIA DA ESCOLA].

PONTOS FORTES – […] A acção da biblioteca/centro de recursos, com impacto no


desenvolvimento de projectos e na implementação de um dispositivo eficaz de auto-
avaliação que possibilita a identificação dos atributos e das debilidades do seu traba-
lho, bem como o estabelecimento de acções de melhoria. […]

[…] São desenvolvidos projectos próprios, nacionais e internacionais, destacando-se a


biblioteca escolar, a educação para a Saúde e o Desporto Escolar pela adesão que regis-
tam e pelo impacto significativo na formação integral dos alunos. LIDERANÇA . 4.4 PARCE-
Referências vagas e impreci-
RIAS, PROTOCOLO E PROJECTOS]
sas à BE no relatório da IGE.
2. Agrupamento de escolas O plano anual de actividades está dividido em dois grupos: planificação geral e projectos
Não é mencionada no con-
de Abravezes – Viseu e actividades (p. ex. alimentação e actividade física, sexualidade, Comenius e bibliote-
traditório.
ca/centro de recursos), visando a consecução das metas estabelecidas no projecto edu-
cativo. […] [ORGANIZAÇÃO E GESTÃO ESCOLAR. 3.1 CONCEPÇÃO, PLANEAMENTO E DESENVOLVIMEN- Não espelha o valor e a acção
TO DA ACTIVIDADE] da BE dentro do agrupamen-
to.
O agrupamento desenvolve projectos da sua iniciativa e de âmbito nacional ou interna-
cional (p.ex: Projecto Timor, (…) Plano para a Matemática, Rede de Bibliotecas Escolares,
Plano Nacional de Leitura, Desporto escolar, …[LIDERANÇA 4. 3 ABERTURA À INOVAÇÃO]
Existem alguns procedimentos de avaliação referentes aos resultados académicos, ao
plano anual de actividades e ao funcionamento da Biblioteca. […]

Atento a esta situação [A Língua portuguesa, o Inglês e a Matemática são as disciplinas


que apresentam as maiores percentagens de níveis inferiores a3], o Agrupamento adop-
Referencia à biblioteca como
tou estratégias com vista à melhoria dos resultados (p. ex., … adesão aos Plano Nacional espaço equipado e dotado de
de Leitura e de Acção da Matemática, …) [RESULTADOS 1.1 SUCESSO ACADÉMICO]
recursos físicos, onde são
A Biblioteca/Mediateca é frequentada pelos discentes de forma autónoma e é rentabili- desenvolvidas actividades
3. Agrupamento de escolas diversificadas.
zada para a dinamização de actividades pela coordenadora ou pelos diferentes professo-
de Cordinha (Oliveira do
res. Está bem apetrechada e possui um acervo actualizado e diversificado. É de salientar Há na escola procedimentos
Hospital)
que, neste espaço, e semanalmente, é promovida a realização da actividade “hora do
de avaliação que também
conto” para as crianças da educação pré-escolar, dinamizada por professores, alunos dos
têm como objecto a BE, não
cursos de educação e formação e pessoal não docente. No 1º ciclo são disponibilizados sendo possível identificar se
baús com livros que circulam entre os vários estabelecimentos de ensino, existindo a
se trata da aplicação do
possibilidade de serem requisitados. O material informático é diversificado e pode ser
MAABE
utilizado por docentes e discentes. Os jardins-de-infância e as escolas do 1º ciclo estão
equipados com computadores sendo que os estabelecimentos do 1º ciclo dispõem de
ligação à Internet e de dois quadros interactivos. Na escola sede existem também com-
putadores portáteis e dois quadros interactivos. [3.3 GESTÃO DOS RECURSOS MATERIAIS E
FINANCEIROS]

São desenvolvidas deferentes práticas de auto-avaliação , centradas em algumas áreas.


4. Agrupamento de escolas
A informação é recolhida, tratada e analisada, mas as conclusões são desconhecidas de Não há referências específi-
de Lageosa do Dão - Ton-
grande parte da comunidade educativa e não se traduzem na definição objectiva dos cas à BE, em termos de auto-
dela pontos fortes e fracos da organização. (Será que a BE está aqui incluída?) avaliação, embora a escola
desenvolva práticas nesse
Existe um plano de formação anual para os docentes, estruturado em função das pro-
sentido.
postas apresentadas pelos respectivos departamentos. As acções recentemente realiza-
das ( no âmbito das bibliotecas escolares, , novas tecnologias, metodologias de projecto) As bibliotecas escolares e as
procuram responder às necessidades mais prioritárias da organização. [3.2 GESTÃO DOS novas tecnologias foram
RECURSOS HUMANOS] identificadas como áreas
prioritárias em termos de
A biblioteca escolar/centro de recursos educativos, integrada na Rede Nacional de
plano de formação da escola.
Bibliotecas Escolares, é um espaço dinâmico, com um projecto bem estruturado. Consti-
tui-se como um pólo dinamizador da escola sede, contando com a participação dos alu- Embora a BE seja um espaço
nos e docentes nas actividades previstas. Os discentes do 1º ciclo e dos jardins-de- dinâmico e tenha um projec-
infância não estão a utilizar este recurso de forma regular, apesar de terem acesso ao seu to bem estruturado e se
acervo através dos baús pedagógicos. [3.3 GESTÃO DOS RECURSOS MATERIAIS E FINANCEIROS] constitua como um pólo
dinamizador da escola, não
[…] Nas escolas do 1º ciclo e dos jardins-de-infância é ainda de destacar a leitura de his- são exibidas/não foram cap-
tórias par aos discentes no âmbito do PNL. [3. 4 PARTICIPAÇÃO DOS PAIS E OUTROS ELEMENTOS
tadas as evidências dessa
DA COMUNIDADE EDUCATIVA]
acção.

A biblioteca integrada no Programa da Rede de Bibliotecas Escolares, é um espaço


agradável, funcional e dotado de recursos, tendo um plano de acção que corresponde
Referência breve e estereoti-
aos diferentes níveis de educação e ensino. [ 3. ORGANIZAÇÃO E GESTÃO ESCOLAR –
5. Agrupamento de escolas pada à biblioteca.
3.3.GESTÃO DE RECURSOS MATERIAIS E FINANCEIROS]
de Vil de Soito
É de realçar a adesão ao Plano Nacional de Leitura, ao Programa de formação contínua
da Matemática, … , à Rede de Bibliotecas Escolares, …. [ LIDERANÇAS – 4.4. ABERTURA
À INOVAÇÃO]
Síntese

A exiguidade da amostra apresentada, não permite grande generalização, contudo, pensamos poder concluir que:

A biblioteca escolar é mencionada em todos os textos analisados.

O maior número de referências à BE ocorre nos domínios 3. ORGANIZAÇÃO E GESTÃO ESCOLAR e 5. LIDERANÇAS

Referência constante à integração na Rede Nacional de Bibliotecas Escolares, ainda que seja apenas para a seguir referir o espaço e
os recursos.

Apenas no relatório da primeira escola há referências ao processo de auto-avaliação da BE, de forma mais detalhada, e é o único onde
se afirma que a BE tem impacto na prestação do serviço educativo, sendo reconhecido interna e externamente.

O primeiro relatório distingue-se dos outros quatro, pelo protagonismo dado à BE.

Não me parece haver relação directa entre os níveis de classificação atribuídos à escola nos vários domínios e o desempenho da BE,
embora não tenha transcrito para este documento, dados que permitam sustentar esta afirmação. A titulo de exemplo explicita-se que a
escola nº 1 foi classificada com níveis de suficiente e bom e a escola nº 5 com níveis de muito bom e bom.

Refexões

Da nossa prática, e do conhecimento que temos da implementação dos PAA de diversas bibliotecas, (mesmo das constantes desta
amostra) verificamos que as referências nos relatórios da IGE são demasiado concisas, estereotipadas e redutoras, salvo raras excep-
ções.
Temos muito clara, neste momento a ideia que é absolutamente importante conseguir o envolvimento da comunidade escolar no pro-
cesso de auto-avaliação – desde a sua apresentação até à identificação dos pontos fortes e fracos e ao processo cooperativo do plano
de melhoria.

Pensamos que a institucionalização do cargo de Professor bibliotecário, com o conteúdo funcional que lhe é atribuído, permitirá o reco-
nhecimento do papel pedagógico da BE e da sua contribuição para o processo de ensino aprendizagem.

Estamos convictos que a generalização da aplicação do Modelo de Auto-avaliação das BE ajudará a dar visibilidade pedagógica e
organizacional às BE no âmbito das escolas e agrupamentos.

A (quase) generalização desta formação parece-nos da máxima importância, como já tivemos oportunidade de referir noutro momento
desta formação. Quando em finais do ano lectivo de 2007/2008 nos confrontámos com a redacção do relatório de auto-avaliação da
BE, senti que não tinha o conhecimento suficiente para o fazer de modo minimamente satisfatório; o próprio processo de aplicação do
Modelo sofria de vícios de forma.

Queremos crer que urge fazer a sensibilização/formação dos professores que desempenham cargos de inspecção para que fiquem
mais atentos à acção e às interacções que o desenvolvimento do PAA da BE/escola/agrupamento fomenta. Sugerimos que a IGE
inclua nos referenciais de avaliação das escolas, indicadores que permitam, a um avaliador externo, identificar os impactos da acção da
BE, enquanto estrutura de apoio ao desenvolvimento do currículo , das literacias e da leitura.

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