No limiar da utopia. Longe da anarquia mansa que nos tolhe.
Segunda-feira, 31 de Março de 2008
Indisciplina na escola: "tolerância zero"...
No rescaldo do triste episódio ocorrido na Escola Carolina
Michaelis envolvendo uma professora, uma aluna, uma turma de alunos e pelo menos dois telemóveis, o telemóvel da violência e o telemóvel da reportagem, hoje foi dia do regresso às aulas, com o início do terceiro período escolar. Entre o dia 20 de Março, dia em que as televisões divulgaram pela primeira vez o vídeo da cena, e o dia de hoje aconteceram muitas notícias, muitas investigações, muitas entrevistas e mesas redondas, muitas opiniões, muitas intervenções políticas e de autoridades escolares, mas poucas explicações do ministério da educação O vídeo da cena rapidamente mobilizou a sociedade civil, que perante uma tal violência manifestou a sua indignação e reprovação e concordou na indisciplina que grassa nas nossas escolas e na necessidade de repor a autoridade da escola. Este inadmissível e intelorável episódio constitui um alerta para o caminho perigoso que estamos a seguir. Teve a virtude de nos obrigar a pensar sobre o que se está a passar na nossa sociedade e, em particular, na escola. Fomos confrontados com a importante responsabilidade que carregamos nos nossos ombros na construção do futuro do País, fomos impelidos a denunciar o que aparentemente parecia não acontecer e a reconhecer a necessidade de fazer correcções no sistema de ensino. Levámos um grande abanão. A Escola Carolina Michaelis tomou uma decisão “histórica”: telemóveis ligados durante as aulas serão retirados aos alunos. Trata-se, porém, de uma decisão básica! Pais e alunos entrevistados hoje à porta da Escola manifestaram a sua total concordância com a medida, havendo até quem referisse que já há muito que deveria ser assim, que “a tolerância zero deveria ser extensível a todas as escolas”, que os filhos têm orientações para não “brincarem“ com os telemóveis nas aulas. Pais e alunos não querem que volte a acontecer violência na Escola. Não se compreende, no entanto, porque é que esta decisão do mais elementar bom senso não foi tomada antes da cena? É extraordinário! O problema é que é preciso actuar e não deixar acumular erros, omissões e problemas que acabam por contribuir para a degradação da educação, na escola e fora dela. Quantos vídeos de cenas violentas serão necessários para agirmos? Por esta amostra, penso que poderemos concluir, sem grande margem para erro, que há muitas outras regras cívicas que podem e devem ser adoptadas na escola a bem da disciplina, da autoridade, da exigência, da respeitabilidade, do gosto por ensinar e aprender. Tudo ponderado, temos que concluir que foi "positiva" a “infracção” cometida com o segundo telemóvel, o telemóvel da reportagem. A sociedade civil demonstrou mais uma vez a sua capacidade de intervenção. Os nossos governantes e políticos devem retirar as devidas ilações e devem trabalhar no sentido de repor na escola, sem mais demoras, a cultura de exigência.