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DEPARTAMENTO DE MATEMÁTICA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA


SISTEMAS ESPACIAIS DE POSICIONAMENTO E NAVEGAÇÃO
MESTRADO EM ENGENHARIA GEOGRÁFICA
MENOR EM CIÊNCIAS DO ESPAÇO
2o SEMESTRE DO ANO LECTIVO DE 2008/2009

2ª AULA (19/02/2009, 23/02/2009 e 26/02/2009)


Sumário: Noções básicas de Cartografia

Cartografia

Para uma boa parte dos problemas de navegação, pode considerar-se a Terra uma esfera, como é
o caso nesta sessão.

Pontos e linha notáveis na Terra: a Terra tem um movimento de rotação em torno de um eixo:
o eixo da Terra. Este eixo intersecta a superfície da Terra em dois pontos: o Pólo Norte (PN) e o
Pólo Sul (PS).
Um observador colocado sobre o Pólo Norte vê a Terra a rodar no sentido contrário ao dos
ponteiros do relógio. Um observador colocado sobre o Pólo Sul vê a Terra a rodar no sentido
dos ponteiros do relógio.
Se cortarmos uma esfera por um plano que não passa pelo centro, a secção resultante é um
Círculo Menor. Se cortarmos uma esfera por um plano que passa pelo centro, obtemos um
Círculo Máximo.
Intersectando a Terra com um plano perpendicular ao eixo e passando pelo centro, obtemos um
círculo máximo: o Equador.
Os círculos máximos que passam pelos pólos são os meridianos.
Os círculos menores paralelos ao Equador são os Paralelos.
O Sentido Este é o sentido segundo o qual cada ponto da Terra se move, devido ao movimento
de rotação da Terra. O sentido Oeste é o inverso do sentido Este.

Coordenadas Terrestes - latitude e longitude: qualquer ponto sobre a Terra pode ser
identificado a partir de duas coordenadas, relativas a dois círculos máximos fixos e
perpendiculares entre si: o Equador e o meridiano de Greenwich.
Latitude de um lugar: comprimento do arco de meridiano que passa pelo lugar e que está
comprendido entre o lugar e o Equador. Latitude pode ser Norte ou Sul e varia entre 0º e 90º.
Longitude de um lugar: comprimento do arco de Equador compreendido entre o meridiano de
Greenwich e o meridiano que passa pelo lugar. Longitude pode ser Este ou Oeste e varia entre
0º e 180º.
Exercício: Calcule as diferenças de Latitude e de Longitude entre os pontos:
(a) A (15º25’N, 143º15’E) e B (43º47’S, 83º51’W)
(b) C (45º25’S, 175º15’E) e D (53º47’S, 103º51’E)

Milha náutica e milha geográfica: chama-se Milha Náutica ao comprimento de um minuto de


arco medido ao longo de um meridiano.
Como a Terra é ligeiramente achatada nos pólos, este valor não é rigoroso: um minuto de arco
de Meridiano é de 6 046 pés no Equador e de 6 108 pés nos pólos. Convencionou-se então que 1
Milha Náutica tem o valor de 6080 pés.
Chama-se Milha Geográfica ao comprimento de um minuto de grau no Equador, e vale 6 087
pés, valor próximo da Milha Náutica.
Podemos afirmar que uma milha náutica é aproximadamente o comprimento de um minuto de
arco no Equador, mas veremos mais tarde qual a razão prática para a utilização de arco de
meridiano em vez de arco de Equador.
Relação entre as diversas unidades:
1 Milha Náutica = 1,85 Km
1 Milha Terreste = 5 280 pés = 0,87 Milha Náutica = 1,61 Km

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1 Nó = 1 Milha Náutica/hora = 1,85 km/h


Milha
Exercício: Calcule o comprimento em Milhas Náuticas do arco de Meridiano entre o Equador e
o paralelo 47º57’N.
Exercício: A distância entre porto e Lisboa é de 138 MN. Qual a distância em Km?
Exercício: Um avião voa à velocidade de 190 Milhas Terrestes por hora. Calcule a velocidade
do avião em Km/h e em Nós.

Projecção de Mercator: Uma Carta é uma representação no plano de uma porção da superfície
terreste. Uma Carta com um sistema de representação de meridianos e paralelos diz-se uma
Projecção.
Como a posição de qualquer ponto da superfície da Terra fica completamente determinada pelas
suas coordenadas Latitude e Longitude, basta que numa carta estejam representados Meridianos
e Paralelos, para que qualquer ponto possa ser representado de forma única através destas duas
coordenadas.
Há diversas formas de representar no plano os meridianos e os paralelos. É comum a
representação de meridianos e paralelos através de linhas perpendiculares entre si. A Carta de
Mercator é um destes casos.
Na Projecção de Mercator, os Meridianos e os Paralelos são projectados geometricamente num
cilindro tangente à Terra no Equador, sendo o centro de projecção o centro da Terra. Assim, na
carta de Mercator:
- os meridianos são rectas paralelas igualmente espaçadas para iguais diferenças de
longitude;
- o Equador é uma recta perpendicular aos meridianos;
- os Paralelos são linhas rectas paralelas ao Equador, mas são tão mais afastados entre si
quanto maior o afastamento ao Equador.
- o afastamento crescente entre os paralelos, que respeita uma fórmula matemática, tem
como objectivo representar linhas de rumo constante através de linhas rectas.

Medição de caminhos e distâncias na Carta de Mercator: Quando se pretende navegar de


um ponto a outro por determinada trajectória, é necessário representar a trajectória por uma
linha na carta e depois seguir essa linha durante a viagem.
Se quisermos viajar do ponto A ao ponto B, o caminho mais curto é o indicado na figura:

A curva ortodrómica que liga o ponto A ao


ponto B é o arco de círculo máximo que passa
em A e B. No entanto, esta curva é de dificil
marcação na carta, porque o ângulo entre a
curva e os sucessivos meridianos que ela
atravessa é variável.

Quando a trajectória que une A a B atravessa um determinado meridiano, chamamos ao ângulo


entre a linha AB e o meridiano (medido a partir do Norte no sentido dos ponteiros do relógio) o
caminho verdadeiro de A para B. Mas na curva ortodrómica este ângulo varia em cada
meridiano que é atravessado!

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Quando a trajectória entre A e B permanece


com rumo constante, a curva descrita é a curva
loxodrómica. Aqui, o caminho verdadeiro
permanece constante ao longo de todo o
percurso. A desvantagem é que esta linha não
é o menor arco que une os dois pontos.

Medição de caminhos loxodrómicos:


Na carta de Mercator, as linhas loxodrómicas são representadas por rectas. O comprimento do
segmento de recta que une dois pontos A e B, medido sobre o meridiano na zona que o contém,
dá-nos a distância entre A e B em Milhas Náuticas (já que a 1 minuto de meridiano corresponde
1 MN).

Caminho verdadeiro e caminho magnético:


O ângulo entre o Norte Verdadeiro e o Norte Magnético chama-se Declinação. A declinação é
Oeste se o Norte Magnético aponta para Oeste do Norte Verdadeiro, e é Este se o Norte
Magnético aponta para Este do Norte Verdadeiro.
Chama-se Caminho Magnético é o ângulo entre o Norte Magnético e a linha AB.
Assim:
Caminho verdadeiro (Cv) = Caminho magnético (Cm) + Declinação (de D é Este).
Caminho verdadeiro (Cv) = Caminho magnético (Cm) - Declinação (de D é Oeste).

Triângulo das velocidades:


Chama-se Velocidade-Ar-Verdadeira (VAV) à velocidade de um avião dentro da massa de ar (e
apenas dependente da potência dos motores).
Velocidade do Vento (W) é a que resulta da massa de ar dentro da qual o avião se encontra.
Velocidade de Terreno (VT) é a velocidade real do avião em relação à terra.
Estas velocidades são representadas por vectores, ficando completamente determinadas pela
intensidade, a direcção e o sentido.
A Velocidade de Terreno é a soma de VAV com W: VT= VAV + W.
Ao triângulo constituído por estes três vectores, chama-se triângulo das velocidades.

Abatimento e rumo:
Chama-se abatimento (ou deriva) ao ângulo entre o eixo longitudinal do avião e o caminho
verdadeiro. Quando o caminho está à direita do eixo longitudinal, diz-se que o abatimento é
direito. Quando o caminho está à esquerda do eixo, o abatimento é esquerdo.
Chama-se Rumo Verdadeiro ao ânguilo entre o eixo longitudinal eo Norte Verdadeiro.
Temos:
Rumo Verdadeiro (Rv) = Caminho verdadeiro (Cv) - Abatimento(Ab) (esquerdo)
Rumo Verdadeiro (Rv) = Caminho verdadeiro (Cv) + Abatimento(Ab) (direito)
Chama-se Rumo Magnético ao ao ânguilo entre o eixo longitudinal eo Norte Magnético.
Temos:
Rumo Magnético (Rm) = Rumo Verdadeiro (Rv) + Declinação (Oeste)
Rumo Magnético (Rm) = Rumo Verdadeiro (Rv) - Declinação (Este)

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Exercício:
Considere os pontos A (39º25’S, 153º20’E) e B (42º53’S, 156º30’E).
Indique na carta os potnos A e B e o Caminho Verdadeiro de A para B.
Supondo que:
Declinação = 1º30’ Oeste
Vento 240º/20 Nós
Velocidade Ar Verdadeira 180 Nós,
Calcule:
(a) O abatimento
(b) O Rumo Verdadeiro
(c) O Rumo Magnético
(d) A velocidade de terreno.

Vento efectivo
Sem vento, o Abatimento é nulo e VT = VAV.
Quando o vento não é nulo, é possivel decompor o vector vento em duas componentes: uma
perpendicular ao caminho, outra paralela ao caminho.
Vento = a +b
a paralelo ao caminho
b perpendicular ao caminho.
O vector a é o respoonsável pela alteração da velocidade do avião. O vector b é o responsável
pelo abatimento.
Chamamos a a o vector vento efectivo ou componente de vento.
Se a tem o sentido do caminho verdadeiro, dizemos que o vento sopra a favo. SE a tem sentido
contrário, dizemos que o vento sopra contra.
A grandeza da velocidade de terreno verifica a seguinte relação:
VT = VAV + vento efectivo (vento a favor)
VT = VAV - vento efectivo (vento contra)

Exercício
Seja VAV = 185 Nós.
Calcule a VT para vento efectivo igual a 15 Nós.
Exercício
Seja VAV = 205 Nós.
Calcule o vento efectivo para VT igual a 200 Nós.
Exercício
Seja VAV 190 Nós, Cv = 40º e vento 80º/30 Nós.
Calcule
(a) VT
(b) Abatimento
(c) Rumo verdadeiro
(d) Vento efectivo.

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