Você está na página 1de 10

exame/especial

Átomos são os novos BITS


Desenhe um produto inovador, faça os protótipos em casa e contrate uma
empresa chinesa para fabricá-lo. A manufatura em pequena escala é a
próxima revolução industrial

Empreendedores trabalham em uma estação da TechShop: democratização das fábricas

Por CHRIS ANDERSON* | 17.02.2010 | 16h51

Aporta de uma fachada de loja do tamanho de uma secadora de roupas num parque
industrial em Wareham, em Massachusetts, 1 hora ao sul de Boston, pode não
parecer um portal para o futuro da produção industrial americana, mas é. Essa é a
sede da Local Motors, a primeira companhia automobilística aberta a alcançar o
estágio de produção. Dê um passo para dentro e o escritório surge como um
exemplo revelador do poder das microfábricas.

Em junho, a Local Motors lançará oficialmente o Rally Fighter, um carro esportivo


fora de estrada (mas bom para ruas) de 50 000 dólares. O design foi terceirizado
para as multidões, assim como a escolha dos componentes, a maioria deles de
prateleira. A montagem final será feita pelos consumidores em centros de
montagem locais como parte de uma “experiência de construção”. Há vários outros
projetos em andamento, e a companhia diz que pode desenvolver um novo veículo
dos esboços ao lançamento em 18 meses, aproximadamente o tempo que Detroit
leva para mudar um trinco de porta. Cada design é lançado sob uma licença
Creative Commons para ser compartilhada. Os consumidores são encorajados a
aprimorar os designs e a produzir os próprios componentes, que poderão vender a
seus pares.

Um problema do negócio de kits de carros, porém, é que os veículos são


tipicamente inspirados em carros esportivos e de corrida, e com isso as ações
judiciais e as tarifas de licenciamento são um ônus constante. Isso dificulta o lucro e
limita o crescimento do setor, apesar do boom do “faça você mesmo”. Jay Rogers,
presidente da Local Motors, pensou num modo de contornar isso. Sua empresa
optou por designs inteiramente originais. Eles não evocam carros clássicos, mas
repensam o que um carro pode ser. A carroceria do Rally Fighter foi desenhada por
uma comunidade de voluntários conectada pela internet. O carro tem um frescor
visual incrível - um cruzamento de carro de corrida Baja com avião de caça Mustang
P-51. Mas esse processo não foi nenhum politburo. Foi mais uma competição. O
vencedor foi Sangho Kim, artista gráfico de 30 anos. Quando a Local Motors pediu
para a comunidade apresentar ideias para veículos de próxima geração, os
desenhos de Kim cativaram a turma. Não haveria um prêmio, mas a companhia deu
10 000 dólares a Kim. A Local Motors desenhou ou selecionou o chassi, o motor e a
transmissão. Essa combinação - profissionais cuidam de elementos críticos para
performance, segurança e fabricação, enquanto a comunidade desenha as partes
que darão ao carro forma e estilo - permite que o crowdsourcing funcione mesmo
para um produto cujo uso tem implicações de vida e morte.

A Local Motors pretende lançar entre 500 e 2 000 unidades de cada modelo. Trata-
se de um veículo de nicho; ele não competirá com as grandes fabricantes, mas
preencherá as lacunas para designs exclusivos. Rogers usa a analogia de um pote
com bolas de gude, cada uma delas representando um veículo de uma grande
empresa automobilística. Entre as bolas há espaços vazios que serão preenchidos
por grãos de areia - e esses grãos são os carros da Local Motors.

2 de 8)

ESTA É A HISTÓRIA DE DUAS décadas em uma sentença: se os últimos dez anos


representaram a descoberta de modelos sociais pós-institucionais na web, os
próximos dez serão de sua aplicação no mundo real. Este artigo é sobre os próximos
dez anos.

Uma mudança transformadora ocorre quando indústrias se democratizam, quando


elas são arrancadas do domínio exclusivo de empresas, governos e outras
instituições e entregues a pessoas comuns. A internet democratizou a comunicação,
e por consequência a indústria editorial e a radiodifusão. O resultado foi um
aumento maciço tanto de participação como de participantes em tudo o que é
digital - a cauda longa de bits. Agora o mesmo está ocorrendo na fabricação - a
cauda longa das coisas.

As ferramentas de produção fabril, da montagem de eletrônicos à impressão 3D,


estão agora à disposição de indivíduos em quantidades tão pequenas que podem ser
de até mesmo uma simples unidade. Qualquer pessoa com uma ideia e um pouco de
expertise pode pôr em movimento linhas de montagem na China com nada mais
que seu laptop. Alguns dias depois, um protótipo estará em sua porta e, se tudo
estiver nos conformes, ela pode apertar mais alguns botões e colocar o produto em
plena fabricação, produzindo centenas, milhares de unidades, ou mais. Ela pode até
se tornar uma microfábrica virtual capaz de planejar e vender bens sem nenhuma
infraestrutura, e até mesmo sem estoque; a produção pode ser montada e
despachada por terceiros que atendem centenas desses clientes simultaneamente.

Hoje, microfábricas fazem de tudo, de carros a componentes de motos e móveis sob


medida de qualquer design imaginável. O potencial coletivo de 1 milhão de
funileiros de quintal está prestes a ser despejado nos mercados globais agora que as
ideias vão diretamente para produção sem necessidade de financiamento ou
ferramental. “Três caras com laptops” significavam uma empresa iniciante na
internet. Agora isso também descreve uma empresa de hardware.

Já vimos esse quadro: é o que acontece pouco antes de indústrias monolíticas se


fragmentarem em face de incontáveis pequenos ingressantes, da indústria
fonográfica aos jornais. Baixem as barreiras de entrada, e a multidão inundará o
ambiente. A maneira acadêmica de colocar isso é que as cadeias de suprimento
globais se tornaram independentes de escalas. Elas são capazes de atender tanto o
pequeno como o grande, o inventor de garagem e a Sony. Essa mudança é
impulsionada por duas forças. A primeira é a explosão de ferramentas de
prototipagem poderosas e baratas que facilitaram seu uso por não engenheiros. E a
segunda é a crise econômica que desencadeou uma mudança extraordinária nas
práticas de negócios das fábricas (principalmente) chinesas, que se tornaram cada
vez mais flexíveis, voltadas para a web e abertas ao trabalho customizado - de
menores volumes, mas com margens de lucro maiores.

(3 de 8)
O resultado permitiu que as inovações do mundo online se estendam ao mundo
real. Como expressa Cory Doctorow em seu novo livro, Makers (“Fazedores”, numa
tradução livre, ainda sem previsão de lançamento no Brasil): “Os dias de
companhias com nomes como General Electric, General Mills e General Motors
terminaram. O dinheiro sobre a mesa é como krill: 1 bilhão de pequenas
oportunidades empresariais que podem ser descobertas e exploradas por pessoas
espertas e criativas”.

O RENASCIMENTO DA GARAGEM está repercutindo em fenômenos como a


explosão de feiras de criadores e espaços locais, menores, onde os hackers podem se
reunir para trabalhar. A colaboração entre pares, a ideia de abertura plena,
emprestada do movimento do software livre, o crowdsourcing, o conteúdo gerado
pelo usuário - todas essas tendências digitais começam a operar no mundo dos
átomos também. A web era apenas a comprovação do conceito. Agora, a revolução
atinge o mundo real.

Em suma, átomos são os novos bits. Tudo começa com as ferramentas. Numa
cervejaria convertida em fábrica no Brooklyn, em Nova York, Bre Pettis e sua
equipe de engenheiros de hardware estão fazendo a primeira impressora 3D que
custa menos de 1 000 dólares. Em vez de esguichar tinta, a MakerBot constrói
objetos espremendo um fio de 0,3 milímetro de espessura de plástico ABS
derretido. Há cinco anos, não se conseguiria algo assim por menos de 125 000
dólares.

Durante uma visita no fim de novembro, 100 caixas contendo o nono lote de
MakerBots estavam enfileiradas e prontas para sair pela porta (como consumidor,
estou exultando, pois uma delas será minha). Quase 500 dessas impressoras 3D
foram vendidas. Com cada uma, a comunidade contribui com novos usos e novas
ferramentas para melhorálas ainda mais. É por isso que se diz que a MakerBot é um
produto aberto, ou livre. Por exemplo, uma cabeça de protótipo oferece uma
resolução de 0,2 milímetro. Outra cabeça pode conter uma ferramenta de corte
giratória, transformando- a numa fresadora CNC. (CNC é a sigla para controle
numérico por computador, o que simplesmente significa que as máquinas são
acionadas por software.) E outra ainda pode imprimir com glacê para sobremesas.

(4 de 8)

A MakerBot produz peças de plástico com base em arquivos digitais. Deseja certa
engrenagem agora? Baixe um desenho da internet e imprima-a por conta própria.
Quer modificar um objeto que você já possui? Escaneie-o (um pesquisador da
Universidade de Cambridge desenvolveu uma tecnologia que permitirá criar um
arquivo 3D girando o objeto em frente a uma webcam), faça os ajustes com o
software gratuito Sketch- Up, do Google, e carregue-o no aplicativo ReplicatorG.
Em minutos, terá em mãos um novo objeto. Pode-se fazer qualquer coisa dessa
maneira, de joias finas a chassis de carro, e dezenas de milhares de pessoas estão
fazendo isso. Já vimos esse boom do movimento de criação faça você mesmo em
plataformas simples, como camisetas e canecas de café, se expandir para
artesanatos na Etsy, empresa que faturou 200 milhões de dólares no ano passado.
Agora isso está chegando a plataformas mais complexas - como modelagem 3D e
fabricação de plástico - e equipamentos eletrônicos de código aberto.

A segunda parte dessa nova era industrial é a abertura da produção para


indivíduos, permitindo-lhes levar seus protótipos para a fabricação em escalas
maiores. Nos últimos anos, os fabricantes chineses evoluíram para atender com
maior eficiência aos pedidos pequenos. Isso significa que empresas de uma só
pessoa podem encomendar a produção de coisas numa fábrica que anteriormente
só atenderia grandes companhias.

Duas tendências estão impulsionando isso. Primeiro, há a maturação e a crescente


centralização na web das práticas empresariais na China. A geração web está
entrando na administração, e as fábricas estão recebendo mais encomendas online,
comunicando-se com clientes por e-mail e aceitando pagamento por cartão de
crédito ou pelo sistema de transações financeiras PayPal, todas alternativas muito
mais adequadas do que as tradicionais transferências bancárias, cartas de crédito e
ordens de compra. Mais que isso, a crise econômica atual impeliu os chineses a
buscar encomendas customizadas de maior margem para mitigar a espiral
deflacionária das commodities.

Para uma visão do novo mundo de fábricas de acesso aberto na China, vejase
Alibaba.com, maior agregadora de fabricantes, produtos e competências do país.
Basta navegar no site para encontrar companhias que produzem mais ou menos o
que se está procurando fazer. Pelo sistema de mensagem instantânea, você pode
perguntar se eles fabricam o que deseja. O sistema da Alibaba traduz do chinês para
o inglês, e vice-versa, em tempo real - cada pessoa pode se comunicar em sua língua
nativa. Geralmente, as respostas chegam em minutos: “Não podemos produzir isso,
podemos produzir isso e eis como pedi-lo; já produzimos algo parecido e custa
tanto”.

5 de 8)

, Jack Ma, chama isso de “C to B” - do cliente para a empresa. É uma nova avenida
de comércio, totalmente apropriada para o microempresário do movimento faça
você mesmo. “Se pudermos estimular as empresas a fazer mais transações
transnacionais pequenas, os lucros podem ser maiores, pois os bens são únicos, não
são commodities”, diz Ma. Desde sua fundação, em 1999, a Alibaba se tornou uma
empresa de 12 bilhões de dólares, com 45 milhões de usuários registrados no
mundo. Sua oferta pública inicial de 1,7 bilhão de dólares na Bolsa de Valores de
Hong Kong, em 2007, foi a maior estreia de uma empresa de tecnologia desde o
Google. Nos três últimos anos, diz Ma, mais de 1,1 milhão de empregos foram
criados na China por companhias que fazem comércio eletrônico utilizando
plataformas da Alibaba.

PARA VER ESSE MODELO NO MUNDO real, basta visitar a TechShop, cadeia de
espaços de trabalho faça você mesmo que oferece acesso a ferramentas de
prototipagem de ponta por cerca de 100 dólares mensais. Numa tarde recente na
unidade de Menlo Park, na Califórnia, Michael Pinneo, um bem-sucedido
exexecutivo do ramo de diamantes sintéticos, está criando uma câmara de
deposição a vapor que usa uma nova técnica para obter diamantes incolores. No
canto está a base de um módulo de aterrissagem de foguete sendo desenvolvida por
uma equipe que está competindo no Prêmio Google Lunar X. Em outra mesa,
Stephan Weiss, vice-presidente da Interoptix, e um de seus colegas montam placas
de circuitos usadas para gerir redes elétricas. Eles estão fazendo um lote de 50
unidades, que Weiss descreve como “pequeno demais para uma fábrica, mas grande
demais para sua garagem”. Os dispositivos trazem o emblema da ABB, uma gigante
de engenharia; os clientes da distribuidora de eletricidade talvez nunca venham a
saber que eles foram feitos à mão num hackerspace.

Essa é uma incubadora para a era dos átomos. Quando o fundador da TechShop,
Jim Newton, saiu à procura de alguém para geri-la, ele rapidamente escolheu Mark
Hatch, ex-executivo da Kinko's. A analogia é oportuna: assim como a Kinko's
democratizou a impressão e, no processo, criou uma cadeia nacional de birôs de
serviços, a TechShop quer democratizar a fabricação. Ela agora possui duas
unidades adicionais, e tem planos para mais 100. Um dos pontos que estão sendo
considerados em São Francisco fica dentro das instalações do jornal San Francisco
Chronicle, agora bastante reduzido. A ironia é deliciosa: as sementes da indústria
de amanhã crescendo nas cinzas da de ontem.

Durante o almoço, Hatch reflete sobre o arco da história da manufatura. Com o


advento da fábrica na era industrial, Karl Marx se afligia que um artesão já não
podia comprar as ferramentas para exercer seu ofício. As economias de escala da
produção industrial atropelaram o indivíduo. Apesar de os benefícios dessa
industrialização se mostrarem em preços mais baixos e produtos melhores, o custo
era a homogeneidade. Combinado com o grande varejo, o mercado ficou dominado
pelos frutos da produção em massa: bens destinados a todos, com as resultantes
escolhas limitadas e perda de diversidade que isso implica. Hoje, porém, essas
ferramentas de produção estão ficando tão baratas que estão novamente ao alcance
de muitos indivíduos. Máquinas fresas de ponta, que antes custavam 150 000
dólares, agora estão perto de 4 000 dólares, graças a cópias chinesas. Qualquer
garagem é uma fábrica high tech em potencial. Marx ficaria satisfeito.

Para um exemplo final disso, passemos aos subúrbios de Seattle para encontrar
Will Chapman, da BrickArms. De um pequeno espaço industrial, a BrickArms
preenche lacunas na linha de produção da Lego, chegando a terrenos que a gigante
dinamarquesa de brinquedos hesita trilhar: armamentos pesados, de fuzis AK-47 a
granadas de fragmentação, em escala Lego, que parecem diretamente saídos do
game Halo 3. As peças são mais complexas que o componente médio da Lego, mas
são fabricadas com a mesma qualidade e vendidas online a milhares de fãs da Lego,
garotos e adultos, que querem criar cenas mais sofisticadas que as permitidas pelos
kitspadrão. A Lego opera numa escala industrial, num campus altamente protegido
em Billund, na Dinamarca. Engenheiros modelam protótipos que são então
fabricados em oficinas de usinagem específicas. Depois de aprovados, eles são
fabricados em grandes unidades de moldagem por injeção. Partes são criadas para
kits, e esses kits precisam ser testados como brinquedos, precificados para o varejo
de massa e despachados e estocados meses antes de sua venda na Target ou no
Walmart. As únicas peças que saem desse processo são as que vão ser vendidas aos
milhões.

(6 de 8)
fechar x

Chapman trabalha numa escala diferente. Ele desenha peças usando o software 3D
SolidWorks, que pode criar a imagem que servirá de base para os moldes. Ele envia
o arquivo para sua máquina de desbastar CNC de mesa, uma fresadora que custa
menos de 1 000 dólares, que esmerilha as metades do molde de blocos de alumínio.
Depois coloca as peças em sua máquina manual de moldagem por injeção, derrete
algumas contas de resina e as injeta. Alguns minutos depois, Chapman tem um
protótipo para mostrar aos fãs. Se eles gostarem, ele contrata um fabricante de
ferramentas local para reproduzir o molde em aço e uma companhia de moldagem
por injeção com sede nos Estados Unidos para fazer lotes de alguns milhares. Por
que não fazer as peças na China? Ele poderia, diz, mas o resultado seria “moldes
que demoram mais para produzir, com tempos de comunicação lentos e plástico
abaixo do padrão” (leia-se: barato). Ademais, diz Chapman, “se seus moldes estão
na China, quem sabe o que acontecerá com eles quando você não os está usando?
Eles poderiam operar em segredo produzindo peças para vender em mercados
secundários que você nem sequer saberia que existem”.

OS TRÊS FILHOS DE CHAPMAN embalam as peças que ele vende diretamente.


Hoje, a BrickArms possui também revendedores na Grã-Bretanha, na Austrália, na
Suécia, no Canadá e na Alemanha. O negócio ficou tão grande que em 2008 ele
abandonou a carreira de 17 anos como engenheiro de software e agora sustenta
confortavelmente a família exclusivamente com as vendas de armas Lego. “Eu
ganho mais com um dia morno na BrickArms do que jamais ganhei como
engenheiro de software. A vida é boa.”

Em meados dos anos 30, Ronald Coase, então recém-formado na London School of
Economics, ruminava sobre o que, para muitos, poderiam parecer perguntas tolas:
por que existem empresas? Por que depositamos nossa lealdade em uma instituição
e nos reunimos no mesmo edifício para fazer coisas? Sua resposta: para reduzir
“custos de transação”. Quando pessoas compartilham um propósito e têm
responsabilidades e modos de comunicação estabelecidos, é fácil fazer as coisas
acontecerem. Basta se virar para a pessoa no cubículo ao lado e pedir que ela faça
seu serviço.

Há muitos anos, porém, Bill Joy, um dos cofundadores da Sun Microsystems,


revelou o furo no modelo de Coase. “Seja você quem for, a maioria das pessoas mais
inteligentes trabalha para outros”, ele observou com justeza. Claro, isso sempre foi
verdade, mas antes pouco importava se a pessoa estivesse em Detroit e alguém
melhor estivesse em Dacar; uma estava aqui, e a outra, lá. E pronto. O ponto de Joy
era que isso estava mudando. Com a internet, não é preciso recorrer ao cubículo ao
lado. Pode-se aproveitar a melhor pessoa distante, mesmo que ela esteja em Dacar.

A lei de Joy virou a lei de Coase de cabeça para baixo. Agora, trabalhar dentro de
uma empresa frequentemente impõe custos de transação mais altos do que tocar
um projeto online. Por que se virar para a pessoa no cubículo ao lado quando é mais
fácil recorrer a um mercado global de talentos? Companhias são cheias de
burocracia, procedimentos e processos de aprovação, uma estrutura planejada para
defender a integridade da organização. Comunidades se formam em torno de
necessidades e interesses compartilhados e não têm processos além dos
necessários. A comunidade existe para o projeto, não para sustentar a companhia
em que o projeto reside.

Daí o novo modelo de organização industrial. Ele é construído em torno de peças


frouxamente rejuntadas. As companhias são pequenas, virtuais e informais. A
maioria dos participantes não é empregada formalmente. Eles se formam e se
reformam ao sabor das circunstâncias, impelidos mais por competência e
necessidade do que por filiação e obrigação. Pouco importa para quem a melhor
pessoa trabalha; se o projeto for interessante, a melhor pessoa o encontrará.

Mas a diferença entre esse tipo de pequena empresa e lavanderias automáticas e


lojas de esquina, que constituem a maioria das microempresas no país, é que o
negócio é global e high tech. Dois terços de nossas vendas vêm de fora dos Estados
Unidos, e os produtos competem na ponta inferior com empresas de equipamentos
de defesa, como Lockheed e Boeing. Embora não empreguem muitas pessoas nem
ganhem muito dinheiro, o modelo básico é baixar o custo da tecnologia num fator
de 10 (sobretudo não cobrando por propriedade intelectual). O efeito é sentido
principalmente pelos consumidores. Baixar os custos é um modo de democratizar a
tecnologia também.

Embora esteja encolhendo, a economia industrial americana ainda é a maior do


mundo. Mas o crescente setor produtivo da China deverá assumir a primeira
posição em 2015, segundo a IHS Global Insight, empresa de projeções econômicas.
Nem toda a indústria americana está encolhendo, porém - só a parte grande. Uma
pesquisa do Pease Group com pequenos fabricantes (menos de 25 milhões de
dólares em vendas anuais) mostra que a maioria espera crescer neste ano, muitos
deles em dois dígitos. Aliás, analistas calculam que quase todos os novos empregos
industriais nos Estados Unidos virão de pequenas empresas.

Bem-vindos à próxima revolução industrial.

*Chris Anderson é editor-chefe da revista Wired e autor dos livros A Cauda Longa e
Grátis - o Futuro dos Preços

Como construir seu sonho

Na era da democratização da indústria, toda garagem pode ser uma


microfábrica, e todo cidadão, um microempreendedor. Como transformar uma
grande ideia num grande produto

1) Invenção

Pare de reclamar da falta de produtos legais — crie o seu. Dica dos profi ssionais:
verifi que se a ideia ainda não foi patenteada

2) Desenho

Use ferramentas gratuitas, como o Blender ou o Google SketchUp, para criar um


modelo digital em 3D. Ou então baixe um design da web e faça suas adaptações
3) Protótipo

Você não precisa ser Geppetto para criar um protótipo. Pequenas impressoras 3D,
como a MakerBot, custam menos de 1 000 dólares. Envie o arquivo e veja a
máquina transformar sua visão num modelo de plástico

4) Fabricação

A produção limitada pode acontecer na garagem. Se quiser crescer, seja global e


terceirize. As fábricas chinesas estão à espera. Sites como o Alibaba.com podem
ajudá-lo a encontrar o parceiro ideal

5) Venda

Os clientes podem encontrá-lo diretamente, pela web ou por intermédio de


vendedores especializados. Você pode criar uma loja online — e preparar-se para se
tornar um ícone da revolução industrial do “faça você mesmo”

Você também pode gostar