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Para que não fique tudo igual.

Ao iniciar, de uma forma regular, a minha participação nos textos de opinião


do Jornal do Fundão não poderia deixar de o fazer pelo tema mais recorrente,
mais marcante, mais decisivo e mais grave. Aquele que marca a agenda e as
preocupações de todo o interior do país e também da Beira Interior: a perda
de população, quer em termos absolutos quer em termos relativos.
Para este flagelo, é fácil encontrar razões mais ou menos demagógicas ou
populistas sobre a quem cabe a responsabilidade deste facto. Todavia essas
razões cedem quando verificarmos que este é um movimento que atravessa
todo o interior do país, de Norte a Sul e desde os anos 50 do século XX.
Acresce que este movimento de litoralização não é exclusivo de Portugal.
Com efeito e desde a implantação dos modelos de vida ocidentais, todos os
países têm vindo a assistir precisamente a esta realidade em que as populações
procuram o litoral onde encontram mais emprego, mais oportunidades e
assim criam massa crítica e potenciam um novo ciclo de oportunidades.
Há precisamente um mês, e no final de uma visita à Beira Baixa, o Presidente
da República defendeu um programa de repovoamento rural. Nesta visita, o
supremo magistrado da Nação encontrou alguns bons exemplos, de muitos
outros, do que a região hoje já tem ao nível da inovação e da criação de
emprego.
Penso que a proposta do Presidente da República, que a região, o interior e o
país subscrevem seguramente é o reconhecimento de mais do que uma
necessidade. É o reconhecimento de que o interior pode ser uma
oportunidade para um país que por vezes tarda em encontrar os seus
desígnios. E o desígnio de construirmos um país equilibrado e sustentável está
à nossa disposição.
À semelhança do tempo dos nossos fundadores e povoadores nos quais os
forais da Idade Média eram uma autêntica política de povoação dos territórios
mas também de uma mais sã distribuição de recursos nacionais, o país precisa
de perceber, e daí tirar conclusões, de que as regiões do interior, precisam de
ser ouvidas, ser tidas em consideração tendo meios equiparados às regiões que
a União Europeia considera, e bem, como ultra-periféricas.
Bastará para isso verificar os valores per capita do Produto Interno Bruto de
2008, do Pinhal Interior Sul (71%), Beira Interior Sul (87%) ou da Cova da
Beira (67%) comparativamente às 4 mais ricas do país, Grande Lisboa (163%),
Alentejo Litoral (156%), Lisboa (138%) ou Madeira (128%) ou ainda o índice
de envelhecimento (ou seja quantos idosos existem por cada 100 crianças) que
em concelhos como os de Vila Velha de Ródão é de 553, em Penamacor de
544 e em Oleiros de 508 mas que em todos os concelhos do distrito de
Castelo Branco é sempre bastante superior aos 115 da média do país.
Estes dados do Instituto Nacional de Estatística são públicos e revelam não só
a gravidade da situação mas também o conhecimento de tais dados pelo
próprio Estado. Cabe-nos lutar para que Portugal assuma nas políticas
regionais, a generosidade e a solidariedade. Mais do que um apelo esta deve
ser a nossa exigência.

Jorge Seguro Sanches


Deputado à Assembleia da República pelo distrito de Castelo Branco
Coordenador do PS na Comissão de Assuntos Económicos, Inovação e
Energia

http://jorgeseguro.blogspot.com/

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