Você está na página 1de 7

16/04/2006 Em Veja:

por Diogo Mainardi


Jornalistas são brasileiros
Franklin Martins é o principal comentarista político da Rede Globo. Um
de seus irmãos, Victor Martins, foi nomeado para uma diretoria da Agência
Nacional do Petróleo. Os senadores que aprovaram seu nome levaram em
conta o parentesco ilustre. Luiz Otávio, do PMDB, comentou: "Os 42 votos
favoráveis a Victor Martins são uma homenagem nossa ao jornalista Franklin
Martins". Heráclito Fortes, do PFL, concordou: "Ele acrescenta à sua biografia
o fato de ser irmão de um grande jornalista". Aloízio Mercadante, do PT,
arrematou: "Victor Martins é um profissional competente e vem de uma família
marcada pelo processo de resistência democrática". Lula entregou a Agência
Nacional do Petróleo ao PCdoB. Victor Martins não obteve o cargo através do
partido. Ele foi indicado diretamente na cota de seu irmão, Franklin Martins.
Ivanisa Teitelroit, mulher de Franklin Martins, também já mereceu sua parcela
de cargos públicos. Deve ser a isso que Aloízio Mercadante se refere quando
fala em "resistência democrática".

Nas últimas semanas, a imprensa tem se dedicado a analisar a


frouxidão moral dos brasileiros. Está certo. Os brasileiros são moralmente
frouxos mesmo. Isso ninguém discute. Mas a imprensa certamente não é
muito melhor. Franklin Martins não representa o único caso de promiscuidade
entre jornalistas e poder político. Pelo contrário. Há exemplos semelhantes
em todas as partes. Recentemente, Helena Chagas, chefe da sucursal de O
Globo em Brasília, foi flagrada tramando com Antonio Palocci um esquema
para desmascarar o caseiro Francenildo Costa. O marido de Helena Chagas,
Bernardo Felipe Estellita, é servidor concursado da Câmara dos Deputados e
intimamente ligado ao PT. Nos dias que antecederam a quebra do sigilo do
caseiro, ele foi visto circulando pelo Ministério da Fazenda. Por outro lado, a
irmã de Helena Chagas, Cláudia Chagas, foi indicada por Márcio Thomaz
Bastos para o cargo de secretária Nacional de Justiça. Uma de suas
responsabilidades é rastrear o dinheiro do valerioduto remetido ilegalmente
para o exterior. Inclusive o que abasteceu a campanha de Lula.

Não é só no PT que isso acontece. Eliane Cantanhêde, chefe da


sucursal de Brasília da Folha de S.Paulo, é mulher de Gilnei Rampazzo, um
dos donos da GW, a produtora que cuidou das últimas campanhas eleitorais
de Geraldo Alckmin e de José Serra. Gilnei Rampazzo é sócio de Luiz
Gonzales, o marqueteiro escolhido pelo PSDB para coordenar a campanha
presidencial de Geraldo Alckmin. Ele foi acusado pela Folha de S.Paulo de
participar de um esquema de desvio de recursos da Nossa Caixa. Deve estar
a maior confusão na casa de Eliane Cantanhêde. Lula Costa Pinto é outro
jornalista confuso. Ex-jornalista. Ele é genro do ex-deputado Paes de Andrade
e concunhado de Eunício Oliveira, ex-ministro das Comunicações. Lula Costa
Pinto também se beneficiou de desvio de dinheiro público quando era
assessor do deputado petista João Paulo Cunha.
Os brasileiros são moralmente frouxos. Os jornalistas são brasileiros

__________________________________________

17/04/2006 em COMUNIQUE-SE - O Portal da Comunicação

Franklin Martins desafia Mainardi


Em resposta à coluna de Diogo Mainardi publicada na última edição da
revista Veja, em 16/04, o comentarista político da Rede Globo Franklin
Martins redigiu e enviou à semanal da Editora Abril e também ao Comunique-
se a resposta que publicamos aqui.

Em seu último texto, Mainardi apontou conexões entre parentes de


profissionais da imprensa e o poder público para exemplificar o que chamou
de frouxidão moral da sociedade brasileira. Além de Martins, Helena Chagas,
de O Globo, Eliane Cantanhêde, da Folha de S. Paulo, e Luís Costa Pinto, da
Idéias, Fatos e Texto Ltda, também foram atacados pelo colunista. As duas
jornalistas preferiram não responder às alegações de Mainardi. Costa Pinto,
por outro lado, enviou uma resposta ao Comunique-se, publicada nesta
segunda-feira (17/04).

Abaixo, segue o texto de Franklin Martins.

---

Desafio a um difamador
O sr. Diogo Mainardi, em artigo intitulado "Jornalistas são brasileiros",
publicado na revista Veja de 16 de abril de 2006, acusou a mim e a outros
profissionais de imprensa de sermos "moralmente frouxos" e de mantermos
"relações promíscuas" com o poder político. No meu caso, saiu-se com a
estapafúrdia história de que eu teria uma cota pessoal de nomeações no
serviço público. Nessa cota, estariam meu irmão, Victor Martins, diretor da
Agência Nacional de Petróleo (ANP), e minha mulher, Ivanisa.

Seguem-se alguns esclarecimentos. Devo-os não ao sr. Mainardi, mas


a meus leitores, telespectadores e ouvintes, e também a meus colegas de
profissão que, com razão, continuam a acreditar que o jornalismo só tem valor
se for exercido com espírito público e ética:

1. Não tive, em qualquer momento ou em qualquer instância, nada a ver


com a nomeação de meu irmão, profissional conceituado na área de petróleo,
para a diretoria da ANP. Jamais intercedi junto a quem quer que fosse no
Poder Executivo para sua indicação. Jamais pedi a qualquer membro do
Senado, a quem cabe constitucionalmente aprovar ou recusar as diretorias
das agências reguladoras, que olhasse com simpatia seu nome. Não movi
uma palha nesse episódio. Meu irmão tem a vida profissional dele e eu, a
minha.

O sr. Mainardi não é obrigado a acreditar no que digo. Mas, se não


fosse umdifamador travestido de jornalista, teria se esforçado para apoiar
suas acusações em fatos que revelassem uma conduta inadequada da minha
parte, e não apelado para trechos de discursos desse ou daquele parlamentar
com referências à minha pessoa que não significam absolutamente nada.
Sobre o que falam deputados e senadores nem eu nem o sr. Mainardi temos
a menor responsabilidade. Qualquer pessoa medianamente informada sabe
disso. Somos eu e ele responsáveis apenas pelos nossos atos.

Por isso, lanço-lhe um desafio. Se qualquer um dos 81 senadores ou


senadoras – um só, não é necessário mais do que um – vier a público e
afirmar que o procurei pedindo apoio para o nome de meu irmão, me sentirei
sem condições de seguir em meu trabalho como comentarista político.
Pendurarei as chuteiras e irei fazer outra coisa na vida. Em contrapartida, se
nenhum senador ou senadora confirmar a invencionice do sr. Mainardi, ele
deverá admitir publicamente que foi leviano e, a partir daí, poupar os leitores
da "Veja" da coluna que assina na revista.

Tudo ou nada, bola ou búrica. O sr. Mainardi topa o desafio?

Se topa, proponho que escolha uma pessoa de sua confiança,


enquanto eu pedirei à Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) que
designe um profissional acima de qualquer suspeita, para que ambos
conversem imediatamente com todos os senadores e senadoras e ponham
essa história em pratos limpos.

Se não topa o desafio, o sr. Mainardi estará apenas confessando que


não tem compromisso com a verdade e deixando claro que não passa de um
difamador.

Sei os riscos que estou correndo. Entre os 81 senadores, há vários que,


em um ou outro momento, já foram frontalmente criticados por mim. Outros
devem ter discordado inúmeras vezes de minhas opiniões e avaliações. É
provável que haja, inclusive, quem, em algum episódio, tenha se sentido
injustiçado por alguma palavra minha. Mesmo assim duvido que apareça um
só senador, governista ou oposicionista, do Norte ou do Sul, veterano ou
novato, que confirme a afirmação insultuosa do sr. Mainardi de que fiz tráfico
de influência para nomear um irmão para a ANP. Duvido que apareça por
uma razão muito simples: isso simplesmente nunca ocorreu.

2. Quanto à minha mulher, é funcionária pública há mais de 20 anos. E


servidores públicos, sr. Mainardi, por incrível que lhe pareça, trabalham no
serviço público. Não sei qual a razão de sua surpresa com o fato. Devo
esclarecer que, embora seja profissional extremamente competente, com
mestrado em planejamento social na London School of Economics, já tendo
dirigido agências e programas nacionais na área, no momento minha mulher
não exerce cargo comissionado e sequer tem função gratificada. Por que?
Não sei. Coisas do serviço público ...

Dados os esclarecimentos, sigo adiante.

Nem sempre concordo com o que escrevem Eliane Cantanhede, da


"Folha de S.Paulo", e Helena Chagas, de "O Globo", também difamadas pelo
sr. Mainardi no artigo mencionado. Mas isso não me impede de dizer que são
duas tremendas profissionais, das melhores jornalistas deste país. Na nossa
profissão, como em todas outras, há gente séria e gente que não presta,
pessoas íntegras e pessoas sem caráter. Eliane e Helena estão na primeira
categoria e me honra ter sido colocado na companhia delas. Para mim,
desabonador seria o contrário.

Os ataques que sofremos Eliane, Helena e eu talvez sejam os mais


graves, mas não são os primeiros que o sr. Mainardi lançou recentemente
contra jornalistas. Nos últimos meses, semana sim, semana não, pelo menos
duas dúzias deles, foram vítimas de investidas absolutamente desrespeitosas,
carregadas de insinuações capciosas contra suas atividades e carreiras. Mas
como ninguém deu pelota para os arreganhos do rapaz – nem os jornalistas,
que simplesmente não o levam a sério, nem os leitores da "Veja", que já se
cansaram de ver um anão de jardim querendo passar-se por um gigante da
crônica política –, o sr. Mainardi decidiu aumentar o calibre de seus
ataques. E partiu para a difamação pura e simples.

Vivemos numa democracia, felizmente. Todos têm o direito a defender


suas idéias, mesmo os doidivanas, e a tornar públicas suas posições, mesmo
as equivocadas. Em compensação, todos estão obrigados a aceitar que elas
sejam criticadas livremente. O sr. Mainardi, por exemplo, tem a prerrogativa
de dizer as bobagens que lhe dão na telha, mas não pode ficar chateado se
aparecer alguém em seguida dizendo que ele não passa de um bobo. Pode
pedir a deposição do presidente Lula, mas não pode ficar amuado se alguém,
por isso, chamá-lo de golpista. Pode dizer que o povo brasileiro é moralmente
frouxo, mas não pode se magoar depois se alguém classificá-lo apenas como
um tolo enfatuado. Ou seja, o sr. Mainardi pode falar o que quiser, mas não
pode querer impedir que os outros falem.

Mais ainda: o sr. Mainardi é responsável pelo que fala e escreve.


Enquanto permaneceu no terreno das bobagens e das opiniões disparatadas,
tudo bem. Faz parte da democracia conviver com uma cota social de tolices e,
além disso, presta atenção no bobo da corte quem quer. Mas quando o bufão
passa a atacar a honra alheia, substituindo as bobagens pela calúnia e as
opiniões disparatadas pela difamação, seria um erro deixá-lo prosseguir na
sua torpe empreitada.

No Estado de Direito, existe um caminho para os que consideram que


tiveram a honra atacada por um detrator: recorrer à Justiça. É o que farei nos
próximos dias. No processo criminal, o sr. Mainardi terá todas as
oportunidades de provar que usei minha condição de jornalista para traficar
influência. Como é mais fácil um burro voar do que ele dar substância às
suas invencionices a meu respeito, estou confiante de que se fará justiça e
o difamador será condenado pelo seu crime.

Desde já, adianto que, se a Justiça fixar indenizações por danos morais,
o dinheiro será doado à Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e à
Associação Brasileira de Imprensa. Não quero um centavo dessa causa. Não
dou tanta importância a dinheiro como o sr. Mainardi, que já definiu seu
próprio perfil: "Hoje em dia, só dou opinião sobre algo mediante pagamento
antecipado. Quando me mandam um e-mail, não respondo, porque me recuso
a escrever de graça. Quando minha mulher pede uma opinião sobre uma
roupa, fico quieto, à espera de uma moedinha".

Prefiro ficar com Cláudio Abramo: "O jornalismo é o exercício diário da


inteligência e a prática cotidiana do caráter". Mas, para tanto, o sr.
Mainardi está incapacitado. Não porque lhe seja escassa a inteligência;
simplesmente falta-lhe caráter. A história da moedinha diz tudo.

Da minha parte, seguirei fazendo o único jornalismo que sei fazer, o que
busca dar informações ao leitor, ao telespectador, ao ouvinte, com
inteligência e respeito, para que ele forme sua própria opinião sobre os
fatos. Não quero fazer a cabeça de ninguém. Não creio que essa seja a
missão da imprensa, ainda que alguns jornalistas e alguns órgãos de
comunicação, de vez em quando, queiram ir além das suas chinelas.
Existimos para informar à sociedade, e não para puxá-la pelo nariz para onde
quer que seja.

E desse jornalismo não vou me afastar, apesar das mentiras, da gritaria


e das difamações do colunista da "Veja".

O macartismo não me intimida. O sr. Mainardi, muito menos.

23/04/2008 em Veja:

por Diogo Mainardi


Franklin, o "conceituado"
No último dia 18, o presidente Lula encaminhou aos senadores a
mensagem número 115/06, prorrogando por quatro anos o mandato do irmão
de Franklin Martins na ANP. No mesmo dia 18, Franklin Martins anunciou que
me processaria por causa da coluna da semana passada, em que citei seu
caso para demonstrar a promiscuidade entre jornalistas e políticos.
Franklin Martins alega que seu irmão foi nomeado pelo presidente Lula
porque é um "profissional conceituado na área do petróleo". É exatamente o
mesmo argumento usado por todos os responsáveis pelo aparelhamento
petista: contrataram apenas profissionais conceituados. Eu acredito tanto na
palavra de Franklin Martins quanto na de seu companheiro José Dirceu.
Franklin Martins me desafiou a apresentar um único senador que tenha sido
pressionado por ele para favorecer seu irmão. Eu sei que Franklin Martins
jamais pediu algo a um senador. Eu sei também que muitos parlamentares
jamais pediram o mensalão. Foi-lhes oferecido. Eles simplesmente aceitaram.
O Globo noticiou que o irmão de Franklin Martins foi indicado à ANP pelo
governador Paulo Hartung, de quem ele seria "afilhado político". Paulo
Hartung tem outro "afilhado político" na mesma família. Trata-se da irmã de
Franklin Martins, Maria Paula. Ela foi licenciada pela ministra Dilma Rousseff
para assumir a diretoria-geral da Aspe, a estatal capixaba que regula o setor
do gás. A Aspe é ligada à ANP. Ou seja, o irmão de Franklin Martins trata com
a irmã de Franklin Martins. É muito "profissional conceituado" para uma
família só.

Em 1997, os diretores de O Globo, seguindo as normas internas do


jornal, afastaram Franklin Martins da sucursal de Brasília porque descobriram
que sua mulher, a psicanalista Ivanisa Teitelroit, arranjara um emprego no
gabinete do líder tucano José Anibal. Quase uma década depois, Franklin
Martins ainda não conseguiu entender o que há de errado nisso. Tanto que,
no atual governo, sua mulher foi nomeada para o cargo de secretária
parlamentar do líder petista Aloizio Mercadante, de acordo com o processo
número 004884/05-1. Ivanisa Teitelroit não está mais no gabinete de Aloizio
Mercadante. Ela agora trabalha numa subsecretaria do Ministério do
Planejamento, na sala 207, 2º andar. Mudaram os patrões, mas a prática
continuou igual.

Nas últimas semanas, o que mais se comentou no meio jornalístico foi


que Franklin Martins teria integrado o comando que quebrou o sigilo do
caseiro Francenildo Costa. É nisso que dá empregar familiares no governo.

Jornalistas não estão acostumados a prestar contas a ninguém.


Franklin Martins reagiu de modo claramente desequilibrado ao meu artigo.
Chamou-me de "difamador", "leviano", "anão de jardim", "doidivanas", "bufão",
"caluniador", "tolo enfatuado" e "bobo da corte". De todos os insultos, só não
aceito o último. Quem pertence à corte é ele, que tem o irmão nomeado
diretamente pelo presidente da República. Menos adjetivos, jornalista Franklin
Martins, e mais fatos.

Franklin Martins não se limita a pertencer à corte: é um súdito fiel. Em


seu manifesto contra mim, ele reconhece que tenho o direito de pedir o
impeachment de Lula, mas acrescenta que "não posso ficar amuado se
alguém, por isso, chamar-me de golpista". Eu não fico amuado. Pode me
chamar de golpista, Franklin Martins. Pode me chamar do que quiser. Eu não
sou um "profissional conceituado" da área do jornalismo.

______________________________

Franklin Martins foi demitido da Rede Globo. Logo, foi nomeado ministro da
Comunicação Social pelo Presidente Lula, cargo que ocupa até hoje.

Você também pode gostar