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A VIDA TEÓRICA NA EDUCAÇÃO: UM AMBIENTE DE NÃO-PRÁTICA

*Jefferson Voss

Comumente, no ambiente científico, nos deparamos com inúmeros pressupostos teóricos que
cercam determinada área de pesquisa. E isso faz parte de toda normalidade do
desenvolvimento de uma ciência: seguir uma área, optar por uma teoria, aprendê-la, aplicá-la
e, finalmente, encher o currículo de “provas” de que se realizaram estudos naquela
determinada disciplina e por aquele disciplinado acadêmico – sem esquecer do orientador, é
óbvio.
Contudo, algo é certo: se há uma área em que na grande minoria das vezes estes estudos
servem para alguma coisa concreta é na educação, e nas outras áreas que procuram contribuir
com esta.
Os estudos sobre educação, e principalmente os que recaem sobre a educação pública, em
nada colaboram com a melhoria efetiva da prática escolar de nossos professores. Acadêmicos
pesquisam a aplicação de etnomatemática, lingüística contemporânea, pedagogia freiriana,
entre outras teorias, mas estes estudos (e o tempo jogado fora) não fornecem a mudança
necessária para o ensino público brasileiro. Os próprios donos das pesquisas, quando chegam
nas salas de aula, parecem esquecer-se o tudo de inovador que “descobriram” em seus
miraculosos trabalhos. Temos a ciência educativa inválida. E inválida em dois sentidos: em
vão e aleijada.
Enquanto nas Universidades discute-se, até com certa seriedade, a aplicação de Paulo Freire
(que, por sinal, deu muito certo na França...), Mikhail Bakhtin, Michel Pêcheux e outros
teóricos importantes nas diversas áreas, os professores da rede básica ainda tentam, em frases
soltas, explicar a diferença entre um adjetivo e um substantivo para alunos da 5ª série (isso
quando tentam!). Até parece que, no Brasil, sofre-se de certa “amnésia pós-acadêmica”, pois é
sair da faculdade e o estudante de licenciatura esquece de todo aquele espírito transformador
para mergulhar de ponta no livro didático.
Assim, a prática escolar é sempre aquele embromation já mofado. Depois dos cinqüenta
minutos de aula, espane o professor porque juntou poeira do quão dinâmico ele está.
Não quero dizer que todos os problemas da educação brasileira podem ser resolvidos com
pesquisas e projetos universitários, visto que sabemos o quanto a educação – e os professores
– necessita de maiores investimentos em salários, infra-estrutura e qualificação profissional,
mas também deve-se admitir que é das Faculdades e Universidades que saem os educadores.
E, dessa forma, se todos os estudos universitários fossem aproveitados, já haveria alguma
mudança no que diz respeito à prática educativa e à própria consciência do professor frente à
sociedade.
No Brasil, já se lê muito pouco e se faz pouca pesquisa. Mas o pior é não aproveitar estas
pesquisas para coisa alguma ou não fazer pesquisas que ao menos sejam aproveitáveis: tanta
teoria que fica enganchada nos portões dos centros universitários. Pois dali para fora elas não
passam: transformam-se em não-práticas – demagogia de profissionais inertes.

* JEFFERSON FERNANDO VOSS DOS SANTOS é graduando em Letras e pesquisador do Programa de


Iniciação Científica na UNESPAR / FECILCAM. Também é bolsista em Iniciação Científica pela Fundação
Araucária de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Paraná.

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