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Da desilusão à alegria, por que da mudança?

Introdução:
O que fez com que homens e mulheres tomados pela frustração se tornam-se os primeiros mensageiros de
uma nova fé? O que aconteceu aqueles que antes estavam sob a tutela da tristeza e transformaram-se em
corações cheios de alegria? O que houve com um grupo relativamente pequeno de aproximadamente 120
pessoas, que naufragaram no tédio e desilusão para depois se tornaram pessoas corajosas, ousadas e
multiplicadoras? Certamente, não tomaram nenhum tipo de elixir da alegria ou alguma droga milagrosa,
capaz de espantar os temores mais íntimos, os medos mais enraizados. O que transformou tais corações?

Antes, de necessariamente saber do fato tão significativo que fez com que homens e mulheres mudaram
de postura quanto a pessoa de Jesus, sabemos que muitos foram aqueles que seguiam a Jesus, e por vezes
multidões o seguiam (Mt. 4.25; 8.1/Mc. 6.34; 10.1/ Lc. 19.37), contudo, nem todos aqueles que o seguiam
se tornaram seus discípulos (Jo. 6.66). Muitos o seguiam por conta dos milagres que realizava, ou seja, por
conveniência e não por fé. Desejam a cura, mas não um comprometimento (Lc. 17.11-19). Dessa maneira,
excetuando o grupo escolhido, chamado e devidamente convocado pelo próprio Jesus (Mc.3.13-19),
poucos foram aqueles que se somaram a este primeiro grupo.

Seja aqueles que Jesus mesmo chamou para si ou aqueles que foram aos poucos tornando seus discípulos,
algo era comum e que os tornava tão semelhantes, sem quaisquer diferenças, a saber, a certeza de que
Jesus era o rei esperado e que seu reinado seria inaugurado diante de seus olhos. Mais, que teriam
privilégios e favores diferentes daqueles que o rejeitavam. Tal entendimento era algo tão latente que
chegaram inclusive a discutir sobre quem deveria ocupar cargos de importância no novo reino (Mt. 18.1). A
crença une as pessoas. Ao lado e com Jesus estavam pessoas diferentes, na personalidade, em raça, em
status social, em cultura. Mas, todas criam na possibilidade de um novo reino, o Império Romano seria
vencido e uma nova ordem política subiria ao poder e eles seriam os primeiros a “saborearem” o
banquete. Não é por acaso que alardearam aos quatro cantos: “Hosana! Bendito é o que vem nem nome
do Senhor! Bendito é o Reino vindouro de nosso pai Davi! Hosana nas alturas!” (Mc. 10.9.10).

Apesar de Jesus vez por outra dizer acerca da sua morte, tal pronunciamento é ignorado pelos discípulos.
A prisão e crucificação de Jesus foi um “balde de água fria” nas pretensões soberbas dos discípulos. “A
morte de Jesus abalou todas as esperanças.” (LADD, 1997). A desilusão foi tamanha que boa parte dos
discípulos o abandonaram (Mt. 26.56). A esperança de participar de um novo poder político foi aprisionada
e reduzida a cinzas por conta da crucificação de Jesus. O que era expectativa, tornou-se em desilusão. “A
morte de Jesus significou a morte de suas esperanças. A vinda do Reino fora um sonho perdido,
aprisionado no túmulo junto com o corpo de Jesus” (LADD, 1997). Para os discípulos Jesus deveria estar
em uma cadeira real e não em uma cruz. Deveria ser um rei e não um criminoso. Deveria ser honrado e
não injuriado.

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A desilusão e profunda desesperança foram presentes mesmo depois da morte de Jesus. Apenas um dos
seus discípulos participaram da crucificação (Jo. 19.26). E depois, ninguém esteve próximo do tumulo de
Jesus. Ao contrário, ao que tudo indica, estavam trancafiados (Jo. 20.19), de portas fechadas, escondidos.

Na manhã do terceiro dia pós sepultamento de Jesus, tão logo o nascer do sol, uma nova e inédita notícia
começa a circular. O túmulo de Jesus estava vazio. A pedra havia sido removida (Mc. 16.4). Algumas
poucas mulheres (Mt. 28.1/ Mc. 16.1/Lc. 24.1) imbuídas de cuidar do corpo de Jesus são surpreendidas
pois o túmulo estava vazio (Mc. 16.4-5/Lc. 24.3). Como cuidar do corpo se não havia mais corpo. Como
ungir o corpo de Jesus com as especiarias carinhosamente preparadas para esse fim se não havia corpo
para ungir. Ao invés do corpo, encontraram um (Mt. 28.5-8/ Mc. 16.4-5) e até dois anjos (Lc. 24.4). E com
os anjos a resposta para o “sumiço” do corpo de Jesus, a saber, Jesus havia ressuscitado (Mt. 28.7/
Mc. 16.6/ Lc. 24.6). As mulheres não encontram um corpo, encontram um fato; não encontraram um
cadáver gélido sobre uma pedra, encontraram uma notícia; não encontraram a morte, encontraram a
vida.

Muitos são aqueles que tentam negar a ressurreição de Jesus. Mesmo a época de Jesus ventilou-se teorias
com vistas a negação da ressurreição (Mt. 27.62-66; 28.11-15). Dentre algumas dessas tentativas, vejamos:

a) O corpo de Jesus fora roubado (Mt. 27.62-66; 28.11-15) – a primeira tentativa de desqualificar a
realidade da ressurreição fora dizer que os discípulos roubaram o corpo de Jesus e o esconderam. A
ressurreição não passaria de uma farsa e mentira inventada pelos discípulos. Uma ponderação necessária e
oportuna é como pessoas tão desiludidas e frustradas puderam elaborar um plano de sequestro do corpo
de Jesus.

b) Jesus não morreu apenas desfaleceu – diante do sofrimento, fraqueza e consequentemente perda de
sangue por conta dos ferimentos sofridos, houve o desfalecimento total. Uma vez como se estivesse morto
fora retirado da cruz, colocado no túmulo. Contudo, por conta das especiarias aromáticas e supostamente
medicinais que passaram em seu corpo isto foi suficiente para curar e retomar o ânimo de Jesus. E uma
vez recuperado, então apareceu aos seus discípulos e a outros tantos. Uma ponderação necessária e
oportuna é como uma vez tendo suas forças restabelecidas, Jesus conseguiu remover a pedra que estava à
frente do túmulo. Sendo que, era necessário a força de pelo menos 20 homens para remover a pedra.

c) Maria encontrou o túmulo errado de Jesus – como todos os evangelistas concordam que uma das
mulheres que participaram da ressurreição fora Maria, daí dizer que ela perdeu-se no jardim onde Jesus
fora sepultado e assim encontrou um túmulo vazio. Diante do túmulo vazio, fora tomada de tal emoção
seus olhos foram inundados, enxergados de lágrimas de tal maneira que vendo o jardineiro imaginou ser
Jesus ressuscitado. Mais uma vez é necessário ponderar e dizer que apesar de Maria ser uma das mulheres
que foram ao túmulo, contudo, não fora a única. Junto com Maria estavam outras mulheres (Mt. 28.1/
Mc. 16.1). Também, segundo os relatos do sepultamento de Jesus, este fora colocado em um jardim, onde
ninguém ainda tinha sido colocado (Jo. 19.38-42).

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d) A ressurreição de Jesus é oriunda de uma catarse dos discípulos – tal tentativa de negar a
ressurreição de Jesus é fundamentada pela ciência da saúde. Ou seja, os discípulos ficaram tão
aterrorizados pela crucificação de Jesus que isto provocou neles uma catarse coletiva. A imagem do seu
líder pendurado em um madeiro provocou uma comoção generalizada e então, como que não querendo
aceitar o fato da crucificação e atenuar o sofrimento do sepultamento, então, passaram a crer na
ressurreição. De novo, uma ponderação necessária, catarse é algo possível de acontecer a qualquer
pessoa, contudo, duvidoso a um número expressivo de pessoas. Mais, ainda que seja possível de
acontecer, como todos viram e testemunharam a mesma coisa. Ainda que seja possível dentro da
psicologia ou psiquiatria, contudo, ilógico do ponto de vista dos fatos.

Portanto, apesar de existirem algumas tentativas de negar a ressurreição de Jesus, contudo, todas são
falhas e no mínimo discutíveis. Ainda que a ressurreição seja difícil de ser crida pelos critérios de
avaliação histórica, pior são algumas das teorias para a não aceitação da ressurreição elaborados pelos
críticos. Entre os argumentos dos críticos quanto à ressurreição e o acontecimento da ressurreição, se tem
mais verdade e fundamento nesta do que nos argumentos frágeis dos críticos.

Não há dúvidas que a ressurreição de Jesus transformou os discípulos. À medida que a notícia era
devidamente comprovada (Jo. 20. 2-10/ Lc. 24. 36-43), o que era antes desilusão e temor, passou a ser
alegria e entusiasmo. A história não terminou na sexta-feira santa. A mensagem de Jesus não terminou
dependurada junto com ele em um madeiro cru e um corpo nu. “A história da Páscoa não termina com um
funeral, mas sim, com uma festa” (Hernandes Dias Lopes, 2006, 595). A Páscoa não é uma homenagem a
alguém falecido, mas uma pessoa viva. E porque Jesus vivo está e ocularmente vistos por seus discípulos e
depois por mais de 500 pessoas (1º Co. 15.6), isto fez toda a diferença. De pacados e amendrotados
judeus, um ânimo, uma nova mensagem começou a correr na “veia” desses homens e mulheres.

Não é por acaso que “a ressurreição de Jesus é centro da mensagem cristã” (Ladd, 1997, p. 300). Segundo
o apóstolo Paulo: “e, se Cristo não ressuscitou, é inútil a nossa pregação, como também é inútil a fé que
vocês têm.” (1º Co. 15.14). Se não houve ressurreição, os cristãos são os maiores mentirosos de toda
história. Se não aconteceu a ressurreição, então tudo, o que os cristãos acreditam é uma história farsante.
Sem ressurreição a fé morre. Sem ressurreição não há igreja. Aliás, o escritor português José Saramago no
livro “Intermitências da Morte”, levanta essa questão. Não havendo morte, não há ressurreição e tão
pouco igreja. “Se Jesus não ressuscitou literalmente dentre os mortos, logo, toda fé crista seria errônea e
ineficaz. Além disso, a pregação não tem valor, o testemunho cristão é falso, não foi perdoado nenhum
pecado e os crentes pereceram sem qualquer esperança cristã” (Elwell, 1990, p. 290).

A fé cristã tem como ponto de convergência a ressurreição. Todos os acontecimentos


veterotestamentários apontam para o fato da cruz (1º Co. 5.7) e a certeza da ressurreição. E toda
mensagem neotestamentária está baseada na mensagem da ressurreição. A ressurreição é o fim e o
começo de toda a mensagem cristã. Assim, a ressurreição costura todos os “retalhos” do passado e
presente, além de trazer uma nova mensagem para o futuro.

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1. A ressurreição como conclusão de uma mensagem antiga;

Ao longo de todo o Antigo Testamento existe já o anúncio do redentor (Gn. 3.14-15). Diante da queda do
homem e consequentemente todas as consequências possíveis, dentre algumas, a separação de Deus, o
homem tornou-se carente de Deus. Contudo, Deus não esqueceu sua criação em especial o homem. E Ele
mesmo, porque amou tanto o mundo resolveu entregar seu próprio filho como propiciação dos pecados
(Jo. 3.16).

Ao longo de todo o Antigo Testamento, pessoas e eventos figuram como anuncio do redentor (At. 3.17-26).
A própria história do nascedouro da páscoa exemplifica tal verdade (Ex. 12.1-20). Segundo a ordem do
anjo, os judeus deveriam sacrificar um cordeiro sem defeito e com o sangue pintar os umbrais das portas,
pois Deus executaria seu juízo, contudo, todas as casas que tivessem a marca do sangue nos umbrais
seriam poupadas da iminente destruição. Daí oportunamente Paulo declarar: “... Cristo, nosso Cordeiro
pascal, foi sacrificado.” (1º Co. 5.7).

Portanto, porque a ressurreição aconteceu, toda a história anterior é ratificada e legitimada. A


ressurreição concede valor a cada evento, a cada circunstância do Antigo Testamento. Somos convidados a
pensar em toda história veterotestamentaria sob a ótica da ressurreição. E uma vez que assim fazemos,
crescemos e sabemos que todas as coisas tem seu propósito. Não há ocorrência ao acaso. Por mais
diferentes que sejam, existem interconexões.

2. A ressurreição como inicio de uma nova mensagem;

A ressurreição não apenas auxilia a interpretação e entendimento do passado como traz uma nova
mensagem ao aqui e agora. Por conta da ressurreição homens e mulheres se tornaram verdadeiros
embaixadores da fé cristã. “A função primária dos apóstolos, na comunhão primitiva, não era dominar ou
governar, mas dar testemunho da ressurreição de Jesus (At. 4.33)” (Ladd, 1997, p. 301).

A ressurreição foi o berço da igreja. Os primeiros cristãos por conta da ressurreição tinham algo
verdadeiramente a compartilhar. Algumas crenças religiosas são sustentadas por seus adeptos. Contudo, o
cristianismo é a única que tem como ponto central não alguém que jaz na sepultura, mas alguém que esta
a direita de Deus, de maneira glorificada. Não é a toa que o texto pós ressurreição no livro de Marcos é da
evangelização (Mc. 16.15).

Aqueles que viram e testemunharam da ressurreição deveriam então compartilhar a mensagem a tantos
quantos puderem. E assim aconteceu aos primeiros cristãos. Ficaram tão encorajados, tiveram o ânimo e
vigor renovados e ainda tiveram uma companhia especial, a saber, a presença do Espírito Santo, mesmo
diante dos perigos e perseguições propagaram a mensagem de Jesus por todo o mundo.

A evangelização foi resultado do fator ressurreição, isto então nos leva a entender que há motivos mais do
suficientes para evangelizarmos. A páscoa não é uma data, mas uma pessoa.

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3. A ressurreição como um acontecimento a porvir;

Porque Jesus ressuscitou, um dia todos aqueles que também entregaram suas vidas e nele depositaram sua
confiança, confessando com seus próprios lábios seu senhoria passaram por semelhança experiência
(Rm 6.5/1º Co. 6.14/ 2º Co. 2.14). “A ressurreição de Jesus é „as primícias‟ da ressurreição escatológica
do final dos tempos.” (Ladd, 1997, p. 309).

A certeza que temos por conta da ressurreição é que um dia nossos corpos marcados pela corrupção serão
totalmente transformados e assim como Ele primeiro se tornou, também nos tornaremos, incorruptíveis
(1ª Co. 15.54). Portanto, nos traz uma segurança eterna. Não seremos espíritos vagando no além, tão
pouco, espíritos em algum tipo de sofrimento para alcançar purificação. Seremos pessoas transformadas a
semelhança daquele que primeiro ressuscitou, abrindo as portas de um novo e vivo tempo.

A páscoa cristã aponta para o futuro. Não é imediatista ou pragmática. Ela aponta para um porvir certo.
Ou seja, não precisamos nos atemorizar diante das tempestades e vendavais que a vida pode apresentar,
pois, aqueles que estão em Cristo Jesus, terão a ressurreição do seu corpo como garantia e um adorno em
suas cabeças, a coroa da vida.

Rev. André Nobre Esteves


pastor@portela.org.br
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