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ZP09011408 - 14-01-2009

Permalink: http://www.zenit.org/article-20532?l=portuguese
BENTO XVI: CRISTO É A FORÇA DA IGREJA

Intervenção na audiência geral, continuando o ciclo sobre São Paulo

CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 14 de janeiro de 2009 (ZENIT.org).- Oferecemos a seguir o

texto completo da catequese pronunciada nesta quarta-feira pelo Papa Bento XVI, diante dos

milhares de peregrinos reunidos na Sala Paulo VI por ocasião da audiência geral, na qual

continuou a série de meditações sobre o apóstolo São Paulo, no bi-milênio de seu nascimento. 

***

Queridos irmãos e irmãs:

Entre as cartas do episcopado paulino, há duas, as dirigidas aos Colossenses e aos Efésios, que

em certa medida podem ser consideradas gêmeas. De fato, uma e outra têm formas de falar que

só se encontram nelas, e se calcula que mais de um terço da Carta aos Colossenses se encontra

também na carat aos Efésios. Por exemplo, enquanto que em Colossenses se lê literalmente o

convite a que «a palavra de Cristo permaneça entre vós em toda a sua riqueza, de sorte que com

toda a sabedoria vos possais instruir e exortar mutuamente. Sob a inspiração da graça cantai a

Deus de todo o coração salmos, hinos e cânticos espirituais» (Col 3, 16), em Efésios  se

recomenda igualmente: «recitai entre vós salmos, hinos e cânticos espirituais. Cantai e celebrai de

todo o coração os louvores do Senhor» (Ef 5, 19). Poderíamos meditar sobre estas palavras: o

coração deve cantar, e assim também a voz, com salmos e hinos para entrar na tradição da

oração de toda a Igreja do Antigo e do Novo Testamento; aprendemos assim a estar unidos

entre nós e com Deus. Também em ambas cartas se encontra um «código doméstico», ausente

nas outras Cartas Paulinas, ou seja, uma série de recomendações dirigidas a maridos e mulheres,

a pais e filhos, a amos e escravos (cf. respectivamente Col 3, 18-4, 1 e Ef 5, 22-6, 9). 

Mais importante ainda é constatar que só nestas duas cartas se confirma o título de

«cabeça», kefalé,  dado a Jesus Cristo. E este título se emprega em um duplo nível. Em um

primeiro sentido, Cristo é entendido como a cabeça da Igreja (cf. Col 2, 18-19 e Ef 4, 15-16). Isso

significa duas coisas: antes de tudo, que ele é o governante, o dirigente, o responsável que guia a

comunidade cristã como seu líder e seu Senhor (cf. Col 1, 18: «Ele é também a Cabeça do Corpo,

da Igreja»); e o outro significado, que é a cabeça que levanta e vivifica todos os membros do

corpo no qual está colocada (de fato, segundo Col 2, 19 é necessário «manter-se unido à Cabeça,

da qual todo o Corpo, por meio de junturas e ligamentos, recebe nutrição e coesão»): ou seja, não

é só um que manda, mas um que organicamente está conectado conosco, do qual também vem a

força de atuar de modo reto. 


Em ambos casos, a Igreja se considera submetida a Cristo, tanto para seguir sua condução

superior –  os mandamentos –, como para acolher todos os fluxos vitais que d’Ele procedem. Seus

mandamentos não são só palavras, mandatos, mas são forças vitais que vêm d’Ele e nos ajudam. 

Esta idéia se desenvolve particularmente em Efésios, onde inclusive os ministérios da Igreja, ao

invés de serem reconduzidos ao Espírito Santo (como 1 Cor 12), são conferidos por Cristo

ressuscitado: é ele que «deu a uns ser apóstolos; a outros, profetas; a outros, evangelizadores; a

outros, pastores e mestres» (4, 11). E é por Ele que «todo o corpo - coordenado e unido por

conexões que estão ao seu dispor, trabalhando cada um conforme a atividade que lhe é própria -

efetua esse crescimento, visando a sua plena edificação na caridade» (4, 16). Cristo de fato está

dedicado a «apresentá-la a si mesmo toda gloriosa, sem mácula, sem ruga, sem qualquer outro

defeito semelhante, mas santa e irrepreensível» (Ef 5, 27). Com isso nos diz que a força com a

qual constrói a Igreja, com a qual guia a Igreja, com a qual dá também a direção correta à Igreja,

é precisamente seu amor.

Portanto, o primeiro significado é Cristo Cabeça da Igreja: seja quanto à condução, seja sobretudo

quanto à inspiração e vitalização orgânica em virtude de seu amor. Depois, em um segundo

sentido, Cristo é considerado não só como cabeça da Igreja, mas como cabeça das potências

celestes e do cosmos inteiro. Assim, em Colossenses lemos que Cristo «espoliou os principados e

potestades, e os expôs ao ridículo, triunfando deles pela cruz» (2, 15). Analogamente, em Efésios

encontramos que com sua ressurreição, Deus pôs Cristo «acima de todo principado, potestade,

virtude, dominação e de todo nome que possa haver neste mundo como no futuro» (1, 21). Com

estas palavras, as duas cartas nos entregam uma mensagem altamente positiva e fecunda. É

esta: Cristo não tem que temer nenhum eventual competidor, porque é superior a qualquer forma

de poder que tentar humilhar o homem. Só Ele «nos amou e entregou a si mesmo por nós» (Ef 5,

2). Por isso, se estamos unidos a Cristo, não devemos temer nenhum inimigo e nenhuma

adversidade; mas isso significa também que devemos permanecer bem unidos a Ele, sem soltar!

Para o mundo pagão, que acreditava em um mundo cheio de espíritos, em grande parte perigosos

e contra os quais era preciso defender-se, aparecia como uma verdadeira libertação o anúncio de

que Cristo era o único vencedor e de que quem estava com Cristo não tinha que temer ninguém.

O mesmo vale para o paganismo de hoje, porque também os atuais seguidores destas ideologias

veem o mundo cheio de poderes perigosos. A estes é necessário anunciar que Cristo é vencedor,

de modo que quem está com Cristo, quem permanece unido a Ele, não deve temer nada nem

ninguém. Parece-me que isso é importante também para nós, que devemos aprender a enfrentar

todos os medos, porque Ele está acima de toda dominação, é o verdadeiro Senhor do mundo. 

Inclusive todo o cosmos está submetido e Ele, e a Ele converge como a sua própria cabeça. São

sélebres as palavras da Carta aos Efésios  que falam do projeto de Deus de «recapitular em Cristo

todas as coisas, as do céu e as da terra» (1, 10). Analogamente, na Carta aos Colossenses  se lê
que «nele foram criadas todas as coisas, nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis» (1, 16) e

que «mediante o sangue de sua cruz reconciliou por ele e para ele todas as coisas, o que há na

terra e nos céus» (1, 20). Portanto, não existe, por uma parte, o grande mundo material e por

outra esta pequena realidade da história da nossa terra, o mundo das pessoas: tudo é um em

Cristo. Ele é a cabeça do cosmos; também o cosmos foi criado por Ele, foi criado para nós

enquanto estamos unidos a Ele. É uma visão racional e personalista do universo. E acrescentaria

que uma visão mais universalista que esta não era possível conceber, e esta conflui só em Cristo

ressuscitado. Cristo é o Pantokrátor, ao qual estão submetidas todas as coisas: o pensamento vai

para o Cristo Pantocrátor, que enche o ábside das igrejas bizantinas, às vezes representado

sentado no alto sobre o mundo inteiro, ou inclusive acima de um arco íris para indicar sua

equiparação com o próprio Deus, a cuja destra está sentado (cf. Ef 1, 20; Col 3, 1), e daí a sua

inigualável função de condutor dos destinos humanos. 

Uma visão deste tipo é concebível só por parte da Igreja, não no sentido de que quer apropriar-se

indevidamente do que não lhe pertence, mas em outro duplo sentido: por um lado, a Igreja

reconhece que Cristo é maior que ela, dado que seu senhorio se estende também além de suas

fronteiras; por outro, só a Igreja está qualificada como Corpo de Cristo, não o cosmos. Tudo isso

significa que devemos positivamente considerar as realidades terrenas, porque Cristo as recapitula

em si, e ao mesmo tempo, devemos viver em plenitude nossa identidade específica eclesial, que é

a mais homogênea à identidade do próprio Cristo. 

Há também um conceito especial, que é típico destas duas Cartas, e é o conceito de «mistério».

Umas vezes se fala do «mistério da vontade» de Deus (Ef 1, 9) e outras vezes do «mistério de

Cristo» (Ef 3, 4; Col 4, 3) ou inclusive do «mistério de Deus, que é Cristo, no qual estão

escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento» (Col 3, 2-3). Faz referência ao

inescrutável desígnio divino sobre a sorte do homem, dos povos e do mundo. Com esta

linguagem, as duas epístolas nos dizem que é em Cristo onde se encontra o cumprimento deste

mistério. Se estamos com Cristo, ainda que não possamos compreender intelectualmente tudo,

sabemos que estamos no núcleo e no caminho da verdade. Ele está em sua totalidade, e não só

um aspecto de sua pessoa ou um momento de sua existência, o que reúne em si a plenitude do

insondável plano divino da salvação. N’Ele toma forma a que se chama «multiforme sabedoria de

Deus» (Ef 3, 10), já que n’Ele  «habita corporeamente toda a plenitude da divindade» (Col 2, 9).

De agora em diante, portanto, não é possível pensar e adorar o beneplácito de Deus, sua

disposição soberana, sem confrontar-nos pessoalmente com Cristo em pessoa, em quem o

«mistério» se encarna e pode ser percebido tangivelmente. Chega-se assim a contemplar a

«inescrutável riqueza de Cristo» (Ef 3, 8), que está além de toda compreensão humana. Não é

que Deus não tenha deixado as marcas de seu passo, já que o próprio Cristo é marca de Deus,

seu selo máxima; mas que se dá conta de «qual é a largura e o comprimento, a altura e a
profundidade» deste mistério  «que ultrapassa todo conhecimento» (Ef 3, 18-19). As meras

categorias intelectuais aqui são insuficientes, e reconhecendo que muitas coisas estão além de

nossas capacidades racionais, devemos confiar na contemplação humilde e gozosa não só da

mente, mas também do coração. Os pais da Igreja, por outro lado, nos dizem que o amor

compreende muito mais que a razão apenas. 

Uma última palavra deve ser dita sobre o conceito, já assinalado antes, concernente à Igreja como

esposa de Cristo. Na segunda Carta aos Coríntios,  o apóstolo Paulo havia comparado a

comunidade cristã a uma noiva, escrevendo assim: «Sinto por vós um amor ciumento semelhante

ao amor que Deus vos tem. Fui eu que vos desposei a um único esposo, apresentando-vos a

Cristo como virgem pura» (2 Cor 11, 2). A Carta aos Efésios desenvolve esta imagem, precisando

que a Igreja não é só uma prometida, mas esposa real de Cristo. Ele, por assim dizer, a

conquistou para si, e o fez ao preço de sua vida: como diz o texto, «se entregou a si mesmo por

ela» (Ef 5, 25). Que demonstração de amor pode ser maior que esta? Mas ele também está

preocupado por sua beleza; não só pela já adquirida pelo batismo, mas também por aquela que

deve crescer cada dia graças a uma vida irrepreensível «sem ruga nem mancha», em seu

comportamento moral (cfr Ef 5, 26-27). Daí à comum experiência do matrimônio cristão o passo é

breve; ao contrário, nem sequer está claro qual é, para o autor da Carta, o ponto de referência

inicial: se é a relação Cristo-Igreja, desde cuja luz deve-se conceber a união entre o homem e a

mulher, ou se é mais o dado da experiência da união conjugal, desde cuja luz é preciso conceber a

relação entre Cristo e a Igreja. Mas ambos os aspectos se iluminam reciprocamente: aprendemos

como Cristo se une a nós pensando no mistério do matrimônio. Em todo caso, nossa Carta se põe

quase a meio caminho entre o profeta Oséias, que indicava a relação entre Deus e seu povo em

termos de bodas que já sucederam (cf. Os 2, 4. 16.21), e o vidente do Apocalipse, que anunciará

o encontro escatológico entre a Igreja e o Cordeiro como algumas bodas gozosas e indefectíveis

(cfr Ap 19, 7-9;21, 9).

Eu teria ainda muito que dizer, mas me parece que, do que expus, pode-se entender que estas

duas Cartas são uma grande catequese, da qual podemos aprender não só como ser bons

cristãos, mas também como chegar a ser realmente homens. Se começamos a entender que o

cosmos é a marca de Cristo, aprendemos nossa relação reta com o cosmos, com todos os

problemas de sua conservação. Aprendemos a vê-los com a razão, mas com uma razão movida

pelo amor, e com a humildade e o respeito que permitem atuar de forma correta. E se pensamos

que a Igreja é o Corpo de Cristo, que Cristo se deu a si mesmo por ela, aprendemos como viver

com Cristo o amor recíproco, o amor que nos une a Deus e que nos faz ver ao outro como imagem

de Cristo, como Cristo mesmo, Oremos ao Senhor para que nos ajude a meditar bem a Sagrada

Escritura, sua Palavra, e aprender assim realmente a viver bem. 

[Tradução: Élison Santos. Revisão: Aline Banchieri


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