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DECEPCIONADO COM DEUS?

A decepção espiritual é um dos temas do poeta neste salmo. Em sua fé, ele
afirma a impossibilidade de Deus decepcionar alguém: “Nenhum dos que
esperam em ti ficará decepcionado; decepcionados ficarão aqueles que, sem
motivo, agem traiçoeiramente” (verso 3). Assim mesmo, ora para que Deus não
o decepcione. “Guarda a minha vida e livra-me! Não me deixes decepcionado,
pois eu me refugio em ti” (verso 2). Esta ambivalência deixa claro que, mesmo
os crentes, podem ficam decepcionados com Deus. A experiência do salmista e a
nossa nos leva a perguntar: 1. Por que nos decepcionamos com o Senhor? 1.1.
Nós nos decepcionamos com o Senhor porque confundimos os nossos caminhos
(nossas escolhas) com os caminhos dEle. Quando agimos assim, perdemos a
convicção de “todos os caminhos do Senhor são amor e fidelidade para com os
que cumprem os preceitos da sua aliança” (verso 10). Precisamos aprender a ser
responsáveis pelas escolhas que fazemos. Que culpa tem Deus se eu dirijo além
do limite de velocidade ou se ultrapasso um sinal vermelho? 1.2. Nós nos
decepcionamos com o Senhor porque esperamos nos homens, com expectativas
por vezes irrealizáveis sobre eles. Por isto, o salmista nos adverte a confiarmos
em Deus (verso 3 — “Nenhum dos que esperam em ti ficará decepcionado… e
não em ser humano algum. Sabemos de cor o conselho de Jeremias: “Assim diz
o Senhor: `Maldito é o homem que confia nos homens, que faz da humanidade
mortal a sua força, mas cujo coração se afasta do Senhor’” (Jeremias 17.5). No
entanto, e mesmo sabendo disto, não temos como deixar de confiar em pessoas,
especialmente se for um pastor. Temos que aprender a manter o equilíbrio entre
confiar e observar. Nenhum ser humano é digno de toda confiança do outro,
nem mesmo um cônjuge. Observar não é vigiar, nem desconfiar; é contar com a
possibilidade do erro, voluntário ou involuntário. 1.3. Nós nos decepcionamos
com o Senhor porque agimos pela recompensa… e nos achamos merecedores de
receber mais. Neste salmo, não é clara a promessa bíblica? Aquele que teme o
Senhor “viverá em prosperidade, e os seus descendentes herdarão a terra”.
(verso 13). Esta é uma grande dificuldade. Mesmo quando as vítimas são outras,
ficamos decepcionado. Quando uma pessoa íntegra e boa contrai um câncer,
tendemos a interpretar: “se isto acontecesse com uma pessoa ruim, mas com
uma pessoa boa…”. Achamos que estamos diante de uma injustiça. Nós nos
decepcionamos com o Senhor quando nos cansamos dos açoites da injustiça.
Mesmo que a recompensa venha, quando agimos porque ele virá, estamos longe
de um relacionamento saudável com Deus. 1.4. Nós nos decepcionamos com o
Senhor porque queremos todas as respostas. Deus tem segredos. Tendemos a
nos esquecer que “as coisas encobertas pertencem ao Senhor, o nosso Deus, mas
as reveladas pertencem a nós e aos nossos filhos para sempre, para que sigamos
todas as palavras desta lei” (Deuteronômio 29.29). Não nos bastam as
reveladas? Não sabemos porque algumas orações são respondidas exatamente
conforme os nossos pedidos e outras não o são. E qual o problema de não
sabermos todas as respostas? Não alcançamos os pensamentos de Deus, como
Ele mesmo nos diz: “Pois os meus pensamentos não são os pensamentos de
vocês, nem os seus caminhos são os meus caminhos”. Na verdade, “assim como
os céus são mais altos do que a terra, também os meus caminhos são mais altos
do que os seus caminhos, e os meus pensamentos, mais altos do que os seus
pensamentos” (Isaías 55.8-9). Na verdade. “ninguém conhece os pensamentos
de Deus, a não ser o Espírito de Deus” (1Coríntios 2.11). Não estamos, portanto,
à altura de alcançar os segredos de Deus. Paulo narra sua experiência espiritual:
“Conheço um homem em Cristo que há 14 anos foi arrebatado ao terceiro céu.
Se foi no corpo ou fora do corpo, não sei; Deus o sabe. E sei que esse homem, se
no corpo ou fora do corpo, não sei, mas Deus o sabe, foi arrebatado ao paraíso e
ouviu coisas indizíveis, coisas que ao homem não é permitido falar” (1Coríntios
12.2-4). 2. O que o homem deve saber Deus revela àqueles que O temem.
Temem ao Senhor… 2.1. Os que têm os olhos sempre voltados para o Senhor.
(verso15 — “Os meus olhos estão sempre voltados para o Senhor, pois só ele tira
os meus pés da armadilha”.) Temos os olhos voltados para o Senhor quando, no
avião da vida, o céu é de brigadeiro? 2.2. Os que confiam no Senhor (verso 2 —
“Em ti confio, o meu Deus”). As coisas reveladas são suficientes. 2.3. Os que
pecam, mas não fazem do pecado seu estilo acomodado e satisfeito de vida.
(verso 11 — “Por amor do teu nome, Senhor, perdoa o meu pecado, que é tão
grande!” Todo nosso pecado é pecado grande! Quanto mais clara a nossa visão
de Deus, maior a nossa vergonha diante do pecado e melhor a nossa percepção.
2.4. Os que querem ser guiados pelo Senhor. (versos 4-5 — “Mostra-me, Senhor,
os teus caminhos, ensina-me as tuas veredas; guia-me com a tua verdade e
ensina-me, pois tu és Deus, meu Salvador, e a minha esperança está em ti o
tempo todo”. Temos que nos perguntar de quem estamos sendo discípulos?
“Mas quando o Espírito da verdade vier, ele os guiará a toda a verdade. Não
falará de si mesmo; falará apenas o que ouvir, e lhes anunciará o que está por
vir. (João 16.13) 3. Como deve orar quem está decepcionado? 3.1. Senhor, livra a
minha vida da depressão espiritual. (verso 20 — “Guarda a minha vida e livra-
me! Não me deixes decepcionado, pois eu me refugio em ti”. Quero voltar a
confiar em Ti. 3.2. Senhor, devolva-me à esperança. (verso 21 — “Que a
integridade e a retidão me protejam, porque a minha esperança está em ti”. 3.3.
Senhor, ensina-me a viver. (verso 4 — “Mostra-me, Senhor, os teus caminhos,
ensina-me as tuas veredas”. . Auto-confiança equilibrada. .Confiança
equilibrada, para relacionamentos saudáveis. As pessoas têm defeitos e
qualidades, não só defeitos e nem só qualidades. . Sentido de missão. Igreja
como melhor oportunidade. *** 3.4. Senhor, revela-me os seus segredos que me
queres revelar. 1. Preciso entender que careço da revelação divina. Sabemos pela
experiência do povo de Israel e pela nossa própria que “onde não há revelação
divina, o povo se desvia; mas como é feliz quem obedece à lei!” (Provérbios
29.18). O homem está sempre em busca da autonomia, isto é, do auto-governo,
achando cada um o que é melhor para si. Neste processo, o homem acaba
escravo de algum tipo de heteronomia, tornando-se seguir de um líder, de uma
idéia ou de uma prática que lhe é sugerida ou mesmo imposta. Somos
convidados a uma terceira via: a teonomia, que é respeitosa. Quem vive a
teonomia reconhece que não pode guiar-se a mesmo e aceita o convite de Deus
para uma vida feliz segundo os princípios que Ele põe. Muitos escolhemos a
teonomia, mas não nos empenhar em conhecer o Deus dos princípios e nem os
princípios de Deus. Enquanto eu preparava este sermão, desenrolava-se um
jogo da copa dos campeões europeus mostrado pela televisão. Se eu ligasse o
televisor, eu saberia o placar. Eu não liguei e não soube, a não ser depois. O
resultado se tornou um segredo, embora estivesse público. De igual modo, há
segredos de Deus já dados a nós. Estão na Bíblia. Se não a abrimos, como
conheceremos os segredos, como conheceremos o Deus que nos revela estes
segredos?. 2. Preciso aprender a discernir o que devo saber e o que não preciso
saber. Sabemos que “as coisas encobertas pertencem ao Senhor, o nosso Deus,
mas as reveladas pertencem a nós e aos nossos filhos para sempre, para que
sigamos todas as palavras desta lei” (Deuteronômio 29.29). Não nos bastam as
reveladas? Muitas vezes, não; por isto especulamos sobre o céu, por exemplo,
sobre o qual pouco podemos saber a não ser que nossas moradas estão sendo
preparadas para nós lá por Jesus Cristo. Perdemos tanto em especular sobre o
céu que, por vezes, nos esquecemos de viver a vida de hoje como uma
antecipação daquela que viveremos. Muitas vezes aplicamo-nos a conhecer o
futuro. Quando algo nos acontece, exclamamos: “ah, se eu soubesse!”. Não
podemos saber porque o futuro é para ser construído por nós, não para ser
conhecido. O futuro, portanto, não é segredo que Deus nos revele, mas Ele nos
dá recursos para produzir o futuro, que é para ser construído por nós. O futuro,
portanto, é aquilo que nós fazemos. 3. Preciso crer no maior segredo: Jesus. O
maior segredo já foi revelado. Jesus é o maior segredo de Deus. Jesus foi “agora
revelado e dado a conhecer pelas Escrituras proféticas por ordem do Deus
eterno, para que todas as nações venham a crer nele e a obedecer-lhe”
(Romanos (16.26). O Novo Testamento é a história de Jesus Cristo, o “mistério
que esteve oculto durante épocas e gerações”, mas que foi revelado (Colossenses
1.26). Este mistério revelado se tornou carne, viveu entre nós, morreu por nós,
intercede por nós. Este ex-mistério em pessoa perdoou e perdoa todos os nossos
pecados, razão pela qual nenhum de nós precisa viver com culpa. Este ex-
mistério personificado nos amou e nos ama. Jesus já se revelou a muitas
pessoas e continua desejoso de se revelar. Não quer ser visto atrás de um véu,
mas face a face. Convida Ele de modo extraordinário: “Aquele que me ama será
amado por meu Pai, e eu também o amarei e me revelarei a ele” ( João 14.21). 4.
Preciso crer que Deus está comigo, mesmo quando sou injustiçado. Quando
olho para a história, inclusive a que se descortina sob os meus olhos, vejo
pessoas vivendo vidas duras. Algumas já nasceram enfermas, física ou
emocionalmente, fazendo de suas vidas autênticos vales de lágrimas e rios de
perguntas sobre a razão de seus sofrimentos. Algumas foram massacradas, física
ou moralmente, em algum momento e desde então caminham encurvadas sob
um peso perto do insuportável. Outras foram flagradas por eventos
imprevisíveis e sem nenhuma ação humana intencional e desde então sofrem as
seqüelas matérias e espirituais da tragédia que se lhe abateu. Eu mesmo já
experimentei a flecha da injustiça cravando no meu peito. Não estou sozinho
nesta experiência. Devo olhar para a injustiça, contra mim ou contra outros
inocentes, e não aceitá-la. Tenho duas grandes dificuldades com a reencarnação
que, desde os albores do hinduísmo, há vários milênios, tem atraído tantas
pessoas. A primeira é que não encontro fundamento para ela na Bíblia e
qualquer idéia, por mais lógica que possa parecer, só pode ser aceitável se
estiver apresentada na Bíblia. Jesus morreu uma vez por todas, e seu sacrifício
alcança os que viveram ao tempo dEle e depois dEle. Jesus se tornou carne uma
única vez. Jesus ressuscitou uma única vez. A segunda dificuldade é que a
reencarnação não é justa, diferentemente do que pode parecer. É justo a uma
pessoa pagar pelo que outra pessoa (ou um espírito pré-existente) fez? A
reencarnação não oferece à pessoa histórica outra oportunidade, a não ser no
futuro. Ela põe um peso tremendo sobre quem sofre, uma vez que ensina que
seu sofrimento é merecido em razão do que fez em vidas passadas. Não há
justiça onde há resignação. O sofrimento não é para ser aceito; ele existe, mas é
para ser recusado; ele é real e, como tal, deve ser enfrentado. Diante da
injustiça, que nos faz sofrer, é melhor a rejeição do que a conformação. Quando
estamos aflitos, “é melhor falar do que ficar calado. É melhor jogar a tristeza
fora do que arquivá-la. É melhor chorar do que fingir alegria. É melhor manter o
semblante triste por mais um pouco do que sorrir artificialmente. É melhor
desabafar do que abafar. É melhor falar de mais do que de menos. É melhor
orar “Deus, não me deixes decepcionado” do que acusar que “Deus não me valeu
de nada”. (CÉSAR, Elben M. Lenz. Refeições diárias com o sabor dos salmos.
Viçosa: Ultimato, 2003, p. 72). Deus me vale sempre. 5. Preciso elevar a minha
alma. É diante de Deus que preciso elevar a minha alma (verso 1). É elevando
minha alma que conhecerei os segredos de Deus. No passado, para conhecer os
segredos de Deus era necessário um esforço tremendo e só podia acontecer nos
momentos previamente marcados. Em algumas agências bancárias, pode-se ler
o aviso de que o cofre só se abre automaticamente e em horários pré-
estabelecidos. Ao tempo do antigo Israel o acesso a Deus, que estava sempre
atrás do véu, era ritualizado. Só uma vez por ano, o véu era desvelado e arca da
presença de Deus podia ser contemplada. Todo cuidado era necessário: “Faça
um véu de linho fino trançado e de fios de tecidos azul, roxo e vermelho, e
mande bordar nele querubins. Pendure-o com ganchos de ouro em quatro
colunas de madeira de acácia revestidas de ouro e fincadas em quatro bases de
prata. Pendure o véu pelos colchetes e coloque atrás do véu a arca da aliança. O
véu separará o Lugar Santo do Lugar Santíssimo. Coloque a tampa sobre a arca
da aliança no Lugar Santíssimo” (Êxodo 26.31-34). Esta era a regra na antiga
aliança. Na nova aliança, há presença, mas não há arca. Quando Jesus foi
crucificado e exclamou que sua obra estava terminada, o véu, em forma de
cortina, que estava no templo de Jerusalém separando o Lugar Santo do Lugar
Santíssimo, se rasgou, pelo poder de Deus, sem nenhuma ação humana, de alto
a baixo. Por isto, podemos ter “plena confiança para entrar no Santo dos Santos
pelo sangue de Jesus, por um novo e vivo caminho que ele nos abriu por meio
do véu, isto é, do seu corpo. Temos, pois, um grande sacerdote sobre a casa de
Deus. Sendo assim, aproximemo-nos de Deus com um coração sincero e com
plena convicção de fé, tendo os corações aspergidos para nos purificar de uma
consciência culpada, e tendo os nossos corpos lavados com água pura.
Apeguemo-nos com firmeza à esperança que professamos, pois aquele que
prometeu é fiel. E consideremos uns aos outros para nos incentivarmos ao amor
e às boas obras” (Hebreus 10.19-24). É por isto que posso elevar a qualquer e em
qualquer lugar minha alma para o Senhor. Não se trata de um exercício ritual,
mas de um exercício espiritual. Elevar-se é se colocar diante de Deus para orar.
É orando que conheço a aliança de Deus comigo. É orando que eu convivo com
Deus. Jesus chama a este relacionamento de amizade (João 15.15). Quando oro,
deixo meus pés no chão, mas ponho minha cabeça no céu. Não devo orar porque
tenho uma necessidade a ser atendida, mas porque tenho necessidade de orar.
Quando oro, contemplo “aquele que forma os montes, cria o vento e revela os
seus pensamentos ao homem, aquele que transforma a alvorada em trevas, e
pisa as montanhas da terra; Senhor, Deus dos Exércitos, é o seu nome” (Amós
4.13). Quando oro, mantendo meus olhos voltados para o Senhor (verso 15),
porque, em Sua soberania, Ele “é a minha força” e “faz os meus pés como os do
cervo” (Habacuque 3.19). Caminhando com Ele, mantenho laços que uma
eventual decepção não desfará.

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