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Caderno Principal Pesquisa nos últimos 7 dias 16 Mai 2008
Caderno P2
A viagem mais desastrada do
primeiro-ministro 16.05.2008, Luciano Alvarez Caderno Principal José Sócrates classificou ontem como "um êxito" a PRIMEIRA PÁGINA visita de três dias à Venezuela, que ontem concluiu. DESTAQUE Para o primeiro--ministro, os dois grandes objectivos PORTUGAL foram vencidos: apoiar a comunidade portuguesa de cerca de 600 mil emigrantes e fazer crescer as exportações de Portugal para o país de Hugo Chávez, destacando os mais de 500 milhões de euros "garantidos nos acordos firmados". Neste último dia também se falou da polémica do tabaco, que acabou por ser a marca mais forte da deslocação, esfumando os temas em agenda e transformando-a na mais desastrada viagem ao estrangeiro de José Sócrates. Por culpa exclusiva de Sócrates e do seu gabinete. Foram dezenas os acordos, as intenções de acordos e os protocolos assinados entre o Estado, empresas portuguesas e o Governo venezuelano. Mas nos dois primeiros dias o grande tema foi o facto de José Sócrates, o ministro Manuel Pinho e alguns membros do gabinete do primeiro-ministro terem violado a Lei do Tabaco no voo de Lisboa para Caracas. Quando todos perceberam, desde a primeira hora da visita, que não restava a Sócrates outra medida senão pedir desculpa pela violação da lei, os assessores e conselheiros do primeiro-ministro gastaram o tempo a inventar desculpas e teorias da conspiração junto de alguns jornalistas sobre a notícia do PÚBLICO. A reacção de Sócrates surgiu mais de 24 horas depois da notícia, quando em Lisboa já não se falava de outra coisa. A organização da viagem a um país com um fuso horário de menos 5h30 que Lisboa também não ajudou em nada a fazer passar a imagem positiva que Sócrates desejava espelhada na comunicação social. Atrasos constantes, confusões entre os dois protocolos e a segurança venezuelana, incertezas permanentes sobre a agenda e horários criaram situações caricatas, como a de nenhum fotógrafo ou operador de câmara português registar o primeiro grande momento da visita: o encontro solene entre Sócrates e Chávez. Até o fotógrafo oficial do primeiro-ministro acabou retido pelos seguranças à porta do palácio presidencial de Chávez. Mas a absoluta desorganização do gabinete do primeiro-ministro contribuiu também para que nos dois primeiros dias da visita os jornalistas das três televisões portuguesas não conseguissem colocar no ar nos seus principais espaços de informação (os telejornais das 20h00) imagens e notícias do dia. Os sem dúvida importantes acordos económicos feitos, os encontros com Hugo Chávez e com a comunidade portuguesa foram sempre relegados para espaços informativos de segundo plano, ganhando assim cada vez mais peso a polémica do tabaco, que o primeiro-ministro tudo fez para abafar. A desorganização e o caos foram de tal ordem que, na deslocação à faixa petrolífera do Orinoco, a 450 quilómetros de Caracas, e que obrigou a duas deslocações aéreas (avião e helicóptero), acabou com alguns gestores e administradores de empresas portuguesas a serem transportados como gado para matadouro em helicópteros militares de transporte caducos, sobrelotados de gente e sem quaisquer condições de segurança. Esquecido foi também o factor Chávez. Sendo óbvio que o chefe de Estado venezulado queria capitalizar a seu favor a visita de um líder da UE, nada foi acautelado em termos protocolares. Em todos os momentos em que Sócrates esteve com Chávez este não deixou de fazer rasgados elogios ao "José", ao "amigo" , ao "irmão" e ao "socialista", mas não deixou também escapar a oportunidade para aproveitar todas as ocasiões para puras acções de propaganda do seu Governo. Na visita à faixa do Orinoco deixou Sócrates à sua espera cerca de 15 minutos sob um sol tórrido, enquando dava uma improvisada conferência de imprensa sobre temas locais. O primeiro-ministro pode falar em êxito, mas o que esta visita revelou foi que a antes tão falada máquina de propaganda e acção comandada por José Sócrates revelou-se na Venezuela uma peça de ferro-velho sem arranjo e que agora mais não faz que revelar as fragilidades do seu maquinista.
O PÚBLICO viajou num avião fretado pelo gabinete do