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DOMINGO, 25 DE ABRIL DE 2010 O ESTADO DE S. PAULO

Reportagem especial A favor e contra


Independentemente da

A usina da fé posição, cada um acha que


no fim será beneficiado

WILSON PEDROSA/AE

A curva da polêmica. Volta Grande do Rio Xingu, local onde será construída a Hidrelétrica de Belo Monte, que divide opiniões de moradores da região, indígenas e organizações sociais

comércios na cidade. Passaram-se 31 que reforçariam os Arara na ocupa-

DE KARARAÔ anos.
A Hidrelétrica de Kararaô, nome de
uma aldeia no Rio Iriri, ganhou outro
nome: Belo Monte. Mas o leilão não saía
nunca. No dia 20 saiu, enfim. “Agora,
ção do local do paredão, resolveram
nãoirparalá,pelomenosporenquan-
to. E na aldeia Juruna, muito próxi-
ma à dos Araras, na Volta Grande do
Rio Xingu, a cerca de 40 quilômetros

A BELO MONTE, para acreditar que a usina sairá, é preci-


so que as obras comecem. Senão, será
como no passado”, diz Aldo.

Esperando o revés. “Haverá um geno-


de Altamira, os índios racharam. O
cacique Manuel, de 72 anos, é favorá-
vel à hidrelétrica.
Essa aldeia tem 83 pessoas. Cerca
de metade está com Manuel; metade

30 ANOS DEPOIS cídio”, prevê a professora Sônia Maga-


lhães, do Núcleo de Pós-Graduação do
Meio Ambiente da Universidade Fede-
ral do Pará, doutora pela Universidade
de Paris. Ela coordenou no ano passado
contra.
Para a professora Sonia Maga-
lhães,oracha dosíndiosjá éumacon-
sequênciada obra, que ainda nemco-
meçou.“A divisão já é o efeitodo pro-
uma equipe de 40 pesquisadores inde- cesso de construção de hidrelétrica.
João Domingos / TEXTOS pendentes e chegou à conclusão de que Já traz o desajuste social e político.
Dida Sampaio / FOTOS a obra é destrutiva. Haverá consequências para o futuro
ENVIADOS ESPECIAIS A ALTAMIRA (PA)
“Tenho esperanças na reação dos ín- de todas as etnias.”
dios e das comunidades para que a deci-
são do governo federal sofra um revés”, Não precisam sair. A Hidrelétrica
afirma a professora. Se não houver um de Belo Monte é a maior obra do Pro-
Leilão da usina marca mais uma etapa numa polêmica recuo, ela quer que o governo cumpra,
pelo menos, as 40 condicionantes am-
grama de Aceleração do Crescimen-
to (PAC) do governo Lula. Em mea-
de três décadas; quem é contra ainda acredita numa ‘virada’ bientais impostas pelo Instituto do
MeioAmbientee RecursosNaturaisRe-
dos de 2009 ela recebeu o novo Estu-
do de Impacto Ambiental (EIA), que
nováveis (Ibama). previu a redução do lago artificial de
Se cumpridas, avalia, poderiam redu- 1,2milpara cerca de600 quilômetros
zir um pouco o impacto na área. “Seria a quadrados. Em fevereiro o Ibama
volta ao Estado de Direito. Porque ao concedeualicençapréviaparaacons-
leiloarBeloMontesemouvirascomuni- trução e no dia 20 foi feito o leilão.
dades,ogovernoatropelouoEstadoDe- Os movimentos sociais, liderados
dia 20 de abril de mocrático de Direito.” por ONGs como o Movimento dos

O
2010nãomaisseráes- Os que são contra a usina mantêm fé Atingidos por Barragens (MAB), Ins-
quecidoporíndios,ri- na reversão, como a professora Sônia e tituto Socioambiental (ISA), e orga-
beirinhos, colonos e o índio Luiz Xipaio, ambos envolvidos nizações ligadas à Conferência Na-
todos os que estive- na luta para impedir que a hidrelétrica cional dos Bispos do Brasil (CNBB),
ram envolvidos na de R$ 19 bilhões e 11.233 megawatts – a comooConselho IndigenistaMissio-
polêmica sobre a construção da Hi- terceira maior do mundo – possa ser le- nário (Cimi) e a Comissão Pastoral
drelétrica de Belo Monte, em Altami- vantada. Xipaio chegou a ter esperanças da Terra (CPT), afirmam que os im-
ra, sudoeste do Pará. na formação de uma aldeia multiétnica, pactos socioambientais não foram
Quem é a favor da obra acredita que ocuparia o local onde será construí- suficientemente dimensionados.
queaconteceuummilagreporqueou- do o paredão da barragem, chamado de Apesar de todos os questionamen-
ve falar na usina que será a terceira Ilha do Pimental. tos, em outubro a Funai informou
maior do mundo há pelo menos três Essa ideia, no entanto, foi abandona- que, da parte dela, estava tudo bem
décadas. Os que são contra afirmam da. Por questões de logística, em que a com o projeto da Hidrelétrica de Be-
que a data será marcada como o dia locomoçãodosíndiospodedemorar se- lo Monte, porque não haveria impac-
em que o governo de Luiz Inácio Lula manas, e também por diferenças de et- to sobre as comunidades indígenas.
daSilva“chutouoEstadoDemocráti- nias, o desejo de juntar representantes De fato, diretamente nenhuma delas
co de Direito”. de nove povos num lugar ficou só no será atingida nem precisarão sair do
“Depois de sair do Estado de Goiás sonho. A esperança agora era a ocupa- lugar em que estão.
e se instalar aqui, meu pai nos man- Ameaçados. Ribeirinhos pescam no Xingu: usina pode acabar com peixes ção do lugar por representantes dos Para Luiz Xipaio, indiretamente
dou um aviso, ainda em 1979: ‘Daqui Kayapó. “Isso vai acontecer. Os índios todas sofrerão consequências por-
a um ano isso aqui será uma cidade uma gleba de 100 hectares, com gado Transamazônica (BR-230) era muito vão lutar”, afirma ele. que 80% da água do Rio Xingu, na
em que só haverá progresso, pois o leiteiro e cacau. pior do que é hoje, com muito mais ato- chamada Volta Grande, será desvia-
governo vai construir aqui uma das O pai Joaquim Inácio morreu em se- leirosenenhum pedaçodeasfalto. Mes- Racharam. Os índios mostram divi- da para canais artificiais. “A água vai
maiores hidrelétricas do mundo’”, guida, sem ver sair do papel a usina, na moassim,osfilhosde Joaquimse muda- sões e não parecem assim tão dispostos secar e os índios não terão o que pes-
conta Aldo Inácio, proprietário de época chamada Kararaô. A Rodovia ram para Altamira. Hoje têm pequenos a criar uma resistência feroz. Os Xicrin, car”, diz ele.

tiver início. O mesmo acontecerá


ALTAMIRA ESPERA POR 10 MIL EMPREGOS com o setor de hotéis e de serviços. E,
consequentemente, toda a econo-
mia sairá ganhando.

deireira promovido pelo Banco Central qualificação, perfil de quem trabalhava deireira e integrante do Sine. Transamazônica. A previsão de Jor-
Cidade na margem do Rio epelo Ministériodo MeioAmbiente, Al- naindústriamadeireira.Uma dascondi- Previsões feitas na cidade apontam ge Gonçalves é de que, finda Belo
Xingu com cerca de 100 mil tamira, de cerca de 100 mil habitantes, cionantes do Ibama para conceder a li- para a necessidade de 18,7 mil trabalha- Monte, Altamira passará a ter perto
confia na construção da usina de Belo cença prévia de Belo Monte foi o apro- dores quando a obra estiver na sua fase de 200 mil habitantes, o dobro de sua
habitantes deve concluir Monte para arrumar emprego para cer- veitamento de mão de obra local. mais avançada. Haveria ainda a geração população atual. Em compensação, a
Belo Monte com pelo menos ca de 10 mil pessoas que desde o ano “A usina pode resolver o problema do de 23 mil postos de trabalho indiretos Rodovia Transamazônica deverá re-
o dobro da sua população passado foram postas na rua com o fe- desemprego de Altamira, mas precisa- com a construção de Belo Monte. ceber pavimentação e as palafitas
chamento das serrarias. mos qualificar esses trabalhadores em Jorge Gonçalves de Souza, presiden- construídashojesobre igarapés,den-
ALTAMIRA Esse número coincide com o de pes- programas sociais, como determina te da Associação Comercial e Industrial tro da cidade, vão desaparecer. Pelo
soas que se inscreveram no Sistema Na- umadascondicionantesdoIbama”,dis- deAltamira, quetem270empresasfilia- menos é isso o que estipulam as con-
Envolta numa forte crise econômica cional de Empregos (Sine) nos últimos seMaria da Guia,presidentedoSindica- das, acredita que haverá um boom na dicionantes do Ibama para a conces-
porcausadoembargoà indústriama- meses, todas se dizendo sem nenhuma to dos Trabalhadores da Indústria Ma- construção civil assim que Belo Monte são da licença prévia./ J.D.
Economia B7
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O ESTADO DE S. PAULO DOMINGO, 25 DE ABRIL DE 2010

PERFIL
CELSO JUNIOR/AE–4/12/2008

Luís Inácio Adams, advogado-geral da União

‘Eu não gosto da


não decisão’
Belo Monte. E, agora, o Ministé-
Assumido discípulo de QUEM É rioPúblico questiona cadapasso
Gilmar Mendes, Adams dado no projeto.
“Vocêjáviualguémserproces-
diz não temer se ✽ Nasceu em Porto Alegre sado por não fazer algo?”, ques-
envolver em polêmicas; a (RS) no dia 2 de março de tiona Adams. “Você só vê al-
atual é Belo Monte 1965. É graduado em Ciên- guém ser processado por impro-
cias Jurídicas e Sociais pela bidade porque tomou uma deci-
Felipe Recondo / BRASÍLIA Faculdade de Direito da Uni- são”, responde. Isso criou, na vi-
versidade Federal do Estado são do ministro, uma cultura bu-
Ele tem clara a sua função e a do Rio Grande do Sul rocráticaquedesestimulaosser-
repete como um mantra sempre Nomeado Advogado-Geral vidores públicos a decidirem.
que é chamado a atuar para reti- da União em 2009. Foi procu- Diante de ameaças como es-
rar do caminho entraves legais rador-geral da Fazenda Na- sas,o melhoréadiar soluçõespa-
aos projetos do governo: “A Ad- cional até 2006 e secretário- ra assuntos polêmicos.
vocacia-Geral da União tem um executivo adjunto do Ministé- Adams fala com conhecimen-
cliente, e esse cliente é o gover- rio do Planejamento em to de causa. Sua família é forma-
no”,diz. Com essediscurso, Luís 2004. Casado há 20 anos, da por servidores públicos: pai,
Inácio Adams leva para o setor tem duas filhas. É gremista. mãe, tios. Desde que entrou na
público um jargão que permeia o carreira, em 1993, ao ser aprova-
trabalhodosadvogadosdainicia- do no concurso de Procurador
tiva privada. “Minha função gado-geral da União no governo da Fazenda Nacional, diz ter en-
constitucional é viabilizar a go- Fernando Henrique Cardoso e contrado uma burocracia que se
vernança.” ministro do Supremo Tribunal autogoverna, o que leva ao que
Para tirar do caminho do go- Federal (STF), Gilmar Mendes. ele chama de “falta de servilismo
verno obstáculos legais, Adams Naquela época, percebeu que ti- público”.
nãoteme seenvolver empolêmi- nha afinidades com o ex-chefe: Quandofoinomeadoprocura-
case disputas públicas.Nos pou- “Eutenhoumavisãomuito pare- dor-geral da Fazenda Nacional,
cosmesesemqueestánocoman- cida com a dele”, admite. em maio de 2006, os chefes das Corpo a corpo. Adams brigou por sua nomeação como procurador-geral da Fazenda em 2006
doda AGU, já confrontou procu- procuradorias de 25 Estados pe-
radores, discutiu publicamente Tomar decisões. A visão do diram exoneração, em protesto Futuro. Agora, ao alcançar o te- Rousseff.Como tambémnão era de seus antecessores na AGU e
com o presidente da Ordem dos AGU é pragmática ao extremo. àsua nomeação.Os pedidosche- to da carreira de um advogado próximo dos ministros com na antiga consultoria-geral da
Advogados do Brasil (OAB), Se é preciso tomar uma decisão, garam a ser assinados, mas, ao público e ao se aproximar o fim quem tratou mais diretamente República, Adams poderia se
Ophir Cavalcante, polemizou que seja tomada, mesmo que saberdisso,Adams telefonoupa- do governo Lula, Adams prefere no governo – Guido Mantega, da candidatar a uma vaga no STF.
com o Tribunal de Contas da não seja a melhor. “Eu não gosto ra a Imprensa Nacional e impe- não falar sobre suas pretensões. Fazenda, e Paulo Bernardo, do Foi o que fizeram, por exemplo,
União (TCU) e irritou a oposi- da não decisão”, diz. É uma das diu a publicação das exonera- Por enquanto, diz ele, só tem um Planejamento. Apesar disso, fo- Toffoli, Gilmar Mendes, Celso
çãoaodizerquedefenderiaopre- razões que o leva, hoje, a travar ções no Diário Oficial. Depois, li- convite para estudar na Espa- ram principalmente esses dois de Mello e Paulo Brossard. Mas
sidente Luiz Inácio Lula da Silva umadisputaabertacomprocura- goupara cada ume disse que eles nha. Mas não esconde a vontade que o apoiaram na disputa pelo Adamsdiznãotervontadededis-
nas eleições. dores sobre a construção da usi- estavam cometendo uma irres- de permanecer no comando da comando da AGU após a saída putar uma vaga na Corte. Afirma
Essepadrãodeatuaçãoaproxi- na hidrelétrica de Belo Monte, ponsabilidade, aquilo era uma AGU no próximo governo. do agora ministro do Supremo preferir o trabalhodo Executivo.
ma-o daquele que o trouxe para no Pará. Depois de 20 anos de demonstração de falta de com- Sem vínculos fortes com o PT, Tribunal Federal José Antonio Discurso que pode ser verda-
Brasília e o colocou na cozinha debate, o governo decidiu levar promisso com o Estado. Vinte não é próximo da pré-candidata Dias Toffoli. deiro ou apenas uma tentativa
da AGU, em 2000: o então advo- adiante a construção da usina de deles voltaram atrás. do partido à presidência, Dilma Se seguisse os mesmos passos de despistar.

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