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The Ninth Time

9° Ano C 09/06/10
Ciência e Tecnologia
O fim do livro de papel

Mas aconteceu justamente o que ninguém esperava:


nada. A internet nunca arranhou o prestígio nem as
vendas dos livros. Muito pelo contrário. O 2o negócio
online que mais deu certo (depois do Google) é uma
livraria, a Amazon. Se um extraterrestre pousasse na
Terra hoje, acharia que nada disso faz sentido. Por
que o livro não morreu? Como uma plataforma que,
se comparada à internet, é tão arcaica quanto folhas
de pergaminho ou tá-buas de argila continua fime?
Você sabe por que. Ler um livro inteiro no
computador é insuportável. A melhor tecnologia para
uma leitura profunda e demorada continua sendo
tinta preta em papel branco. Tudo embalado num
pacote portátil e fácil de manusear. Igual à Bíblia de
Gutenberg. Isso sem falar em outro ingrediente:
quem gosta de ler sente um afeto físico pelos livros.
Só 122 livros. Era o que a Universidade de Cambridge Curte tocar neles, sentir o fluxo das páginas, exibir a
tinha em 1427. Eram manuscritos lindos, que valiam estante cheia. Uma relação de fetiche. Amor até.
cada um o preço de uma casa. Isso foi 3 décadas antes Há 3 anos apareceu o primeiro livro eletrônico
de a Bíblia de Gutenberg chegar às ruas. Depois dela, realmente viável: o Kindle, da Amazon. Você compra
os livros deixaram de ser obras artesanais exclusivas de um aparelho e aí pode baixar qualquer livro de um
milionários e viraram o que viraram. Graças a uma catálogo de 20 mil títulos (quase todos em inglês).
novidade: a prensa de tipos móveis, que era capaz de Com a vantagem de que pode fazer isso de qualquer
fazer milhares de cópias no tempo que um monge lugar, pela rede 3G. E de que cabem 1 500 obras no
levava para terminar um manuscrito. bichinho de 400 gramas. Assim, de cara, ele até
Foi uma revolução sem igual na história e blá, blá, blá. parece estranho, com sua tela monocromática e
Só que uma revolução que já acabou. Há 10 anos, pelo pequena (6 polegadas). Mas a primeira vez com ele
menos. Quando a internet começou a crescer para valer, você nunca esquece. E você corre o risco de se
ficou claro que ela passaria uma borracha na história do apaixonar. O segredo desse poder de sedução é a
papel impresso e começaria outra. Óbvio: os 7 milhões tela do Kindle. Por causa do seguinte: ler por horas
de volumes que a Universidade de Cambridge mantém num lcd comum não é diferente de ficar olhando para
hoje nos 150 quilômetros de prateleiras de suas várias lâmpada. Uma hora seus olhos pedem arrego. Mas
bibliotecas caberiam em 4 discos rígidos de 500 com o Kindle não. Ele não emite luz. A tela é feita de
gigabytes. Só 4. Sem falar que ninguém precisaria ir até tinta de verdade - preta para as letras, branca para o
Cambridge para ler os livros. fundo. E a leitura flui como se a tela fosse de papel.
Mas aconteceu justamente o que ninguém esperava: Ou quase: a tinta eletrônica demora para se
nada. A internet nunca arranhou o prestígio nem as reposicionar quando você vira a página. E virar a
vendas dos livros. Muito pelo contrário. O 2o negócio página é eufemismo, na verdade. Ao contrário de um
online que mais deu certo (depois do Google) é uma livro comum, elas não são sensíveis ao toque. Tem
livraria, a Amazon. Se um extraterrestre pousasse na que apertar botão. Chato. Por essas, o Kindle nunca
Terra hoje, acharia que nada disso faz sentido. Por que o foi uma ameaça à venda de livros comuns. Mas, em
livro não morreu? Como uma plataforma que, se janeiro, veio o iPad, da Apple. Com uma proposta
comparada à internet, é tão arcaica quanto folhas de ambiciosa: aposentar o Kindle e virar iPod dos livros
pergaminho ou tá-buas de argila continua fime? eletrônicos. Agora é ver se isso emplaca.

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