A verdadeira aprendizagem chega ao coração do que significa ser
humano. Através da aprendizagem recriamo-nos, tornamo-nos capazes de fazer algo que nunca fomos capazes de fazer. Através da aprendizagem percebemos novamente o mundo e a nossa relação com ele... Ampliamos a nossa capacidade de criar, de fazer parte do processo impulsionador da vida... (Peter Senge)
Depois de reflectir sobre o que é educar e como melhorar o acto
de aprender compreendi que no cérebro está a chave da aprendizagem, pois é educando a emoção que possibilitamos a apreensão de novos conhecimentos. No seguimento do tema socorri-me de diversas leituras, buscas na internet e dos conteúdos disponibilizados para efectuar este trabalho, o que tiveram a sua pertinência pelo facto de me ensinarem a entender a anatomia cerebral, sempre presente nos nossos mais tímidos comportamentos e tão esquecida e banalizada por tantos. Assim na elaboração desta reflexão expõe-se e dá-se a conhecer a minha prática lectiva tendo por base o vasto campo das emoções como elemento subordinante da razão e que posteriormente anexa o conhecimento para desenvolver e engrandece o cérebro. Se para compreender é necessário ler, para reflectir há que interiorizar conceitos chave que nos remetam para a aprensão do conhecimento. Em se falando do cérebro e suas capacidades diga-se que, além de ser o órgão do corpo que mais trabalha, é o orgão de maior volume do nosso corpo e supera o computador pois é multidirecional, funcionando de forma mais complexa, já que processa a informação sintetizando-a e integrando-a através de procedimentos paralelos e simultâneos. As informações que o cérebro recebe do exterior, consegue-as através dos sentidos que são controlados pelo cérebro. E apesar de toda essa carga de informação, neurocientistas afirmam que nós, seres humanos, utilizamos, aproximadamente, apenas 10% da capacidade cerebral.
Assim, e decorrendo da apresentação da aula, registe-se que
fisicamente, o cérebro é constituído por dois hemisférios, ligados por um conjunto de fibras nervosas (cerca de 200 milhões), chamadas de corpo caloso. Cada hemisfério cerebral inter-relaciona intimamente com o seu homólogo, embora exerçam funções diferentes e cada um seja responsável por um lado do corpo.
Relativamente ao processo de construção do conhecimento este
desenvolve-se partindo da realidade sensorial proveniente do mundo das sensações e percepções do real observado pois sendo um sistema aberto, encontra-se em interação constante com o meio. Devemos atender a que:
“O processo do pensamento que é o essencial da sua criatividade é também a
base de todas as dificuldades que têm com a linguagem falada e escrita”. O cérebro de algumas pessoas é diferente e que aprendem e processam informação de uma maneira diferente das outras pessoas” (Davis, 1994). Compete-nos a nós, profissionais da educação, e futuros especialistas na arte de ensinar alunos com necessidades educativas especiais tentar mudar mentalidades e práticas pedagógicas, de forma a permitirmos que estas crianças desenvolvam ao máximo as suas potencialidades fazendo deles cidadãos activos, participantes e intervenientes numa sociedade cada vez mais exigente e necessitada de “génios”.
“Quanto mais compreendermos o cérebro, mais capazes seremos de
delinear estratégias compatíveis com o modo como ele aprende melhor” (Wolfe, Patrícia, 2004).
Relativamente a este item de reflexão ressalve-se o grande papel que as
emoções apresentam na retenção de informação pelo cérebro, uma vez que a medida da inteligência passou a ser quantificada pelo QE (Quociente Emocional) mais do que pelo nosso QI (Quociente Inteligência) e assim vale a pena trabalhar nesta área do intelecto, estimulando o aluno a pensar antes de reagir, a não ter medo do medo, a ser líder de si mesmo. Não educar a emoção pode gerar alunos hipersensíveis, insensíveis ou alienados para com o seu semelhante. As escolas deviam formar jovens na sua plenitude e não apenas informá-los. No seguimento desta ideia, outras surgem como estratégias de educação para a boa formação do ser humano. A proposta de implementação da musicalidade no contexto de sala de aula para além de ir ao encontro da educação das emoções, pretende aliviar a ansiedade e melhorar a concentração para desenvolver o prazer de aprender. Pessoalmente levei a efeito esta estratégia com alunos do ensino básico na unidade temática alusiva ao texto poético. Tratava-se de uma turma pouco atenta, muito activa, pouco concentrada e bastante numerosa (29 alunos). As dificuldades de concentração para os conteúdos eram imensas e o interesse também. Daí que a necessidade de motivação para o texto poético tivesse de ser redobrada. A estratégia resultou em grande pois os alunos aquietaram-se e recitaram a poesia de Miguel Torga num ambiente de luminosidade reduzida sem as distracções e conversas paralelas decorrentes de uma aula normal. A aula foi comentada pelos alunos com outros professores o que só me impulsionou a continuar e a valorizar a diferença da pedagogia para a educação das emoções.
A humanização dos professores
Esta é outra das estratégias que julgo pertinentes na educação pela emoção para chegar à razão. Através da humanização dos professores, tornamo-nos nós mesmos os contadores de “estórias” simples, de vida, da nossa vida, mas que desenvolvam a criatividade, estimulem a sabedoria e principalmente contribuam para educar a emoção no acto de apreender. O exemplo conta-se em poucas palavras. Aluna retida no nível 7º ano por três vezes e a caminho da quarta. Estamos no final do ano e existe um inquietação, frustração e desinteresse no ar. A aluna pressente que está na iminência de deixar os colegas passar por si mais um ano lectivo. Sente-se desolada e só consigo mesma. Neste panorama de referência e depois de implementar tantas estratégias de bons pensadores decidi contar uma história, esta especial, porque era a história da minha vida… A professora tinha-se humanizado. Mostrei-lhe a adolescente que a professora foi, com todos os seus medos, receios e anseios. Conheceu o seu percurso de vida, que envolveu perdas e problemas decorrentes de más escolhas e decisões incorrectas. À medida que a estória se desenrolava a aluna ia expondo o seu estado de espírito e chorou, chorou muito… mas conseguiu entender que para bem aprender temos de nos conhecer, formar objectivos de vida e segui-los. Naqueles momentos de educação emocional senti a força e amplitude que o meu grito provocou no seu coração. O cérebro comandou a mudança de atitudes relativas ao seu comportamento em sala de aula, à sua motivação para o estudo e à sua relação consigo mesma, agora, mais forte e capaz de vencer as vicissitudes da vida. Transitou de ano sem níveis negativos… É preciso gritar dentro do coração e contar estórias de vida suaves para não gritar ao ouvido.
Maria Clara Fonseca
Bibliografia consultada:
Cury, Augusto Pais Brilhantes Professores Fascinantes