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Bh Eo) Sonne | Oy ISMEDN ma LANONE S E E EI ed ba Ee A eB a: SOG APOSENTAGAO: UM ESPAGO DE DESENVOLVIMENTO PESSOAL A razio de ser dos excertos acabados de citar no € dificil de ene ‘a, se se fem em conta que a aposentagso & um fendmeno qi aparece e ée consolida no decurso do sécalo transact ‘Bfecrivamente, em époces anteriores a esta, era de regra qu ‘pessoas se mantivessem activas até io poderem teabalhas, por ppacidade ou doenga. Por exempio, em 1890 estavam empregs 168% dos homens dos Estados Unidos, com 65 anos ou mais. 1 ‘mero, porém, reduzia-se em 1930 para 54%; em 1950, de para 46% © em 1989 era inferior a 17% (Moody, 2002, pdg. 2. Hoje em dia, na maior parte dos paises industralizados esto 3 sentados mais de 90% dos individuos com 65 ou mais anos de id (Whithourne, 2001, pig. 336; Atcley, 1996, pag, 437). Foi o chanceler prussiano Otro Bistat 1898) quem, ¢ primeira ver, fixou nos 65 anos a idade para se receberem pens de reforma. No inicio do século xx, tal iniiativa foi-se genet zando a muitos outros paises, que adoptaram aquela idade co fe ser concedida a reforma, uma das transigdes mais imp tantes na vida dos individuos, fissio, ndo s6 pelo que r aproximadamente, da sua ‘oportunidades de desems sidade de preparacio ps melhor adaptagdo possvel miparivel mesmo & ena ta em termos de durasi ncia), como ainda pelos desatio rato que Ihes oferece. Daqui, a nec ‘mesma, de maneira @ conseguir, Nese capitulo, aps uma breve esha hit, mpi a sificagio terminolégica e uma também breve 96es assumidas pela aposentagao, tentaremos dor idoso, para ver se se jusficam os ‘especificamente educativos do fendmeno: sentacio ¢ & procura de um sentido para 2 mesma ~ o que poderia, designarse como uma aposentacio bem sucedida. 1, RESENHA HISTORICA Historicamente, a aposentasio teve origem rizagdo ~ esse conjunto de mudancas sociocu no desenvolvimento da ciéncia e da tecnol na organizagio buroeritica e hieticqui jcolégica, nascidas deste movi ios que se verifcariam com a id aqui que os idosos fossem considerados como nio estando mais em de exercer uma profissio, devendo portanto ser afastados a, Inaptos para o trabalho ~ tl ea 0 veredieto pronun- 1 respeto dos idosos (¢ apesar das conclusdes da ‘mudado radicalmente tal continua a sera opiniso que ‘mantém acerca dos individuos mais velhos). AVOSENTAGAO” UM ESPAGO DE DESENVOLVIMENTO PESSOAL No que concerne a reenol produtividade, mas com ut emer nicida falta de empregos» (Atchley, 19 spectivas. Em pri- ye dé direico a pode considerarse como uma tran- 8 oferta de condigoes mais, dos sistemas de Seguranca yr | | | | -APORESTAGHO: UM ESPAgD DE DESENVOLYIMENTO PESEONL Sovialy a tenéaciaverficada, um pouco por toda a pat, foi no sentido do sbaixament dai ‘A partie da década de 80 do séelo pasado, tl tendenciaestabilizo, Embora a idade dos 65 anos continue a sr consierada como 0 limite minimo para usuftuir dos beneficios da Seguranca Social’, a reti- sada da vida aciva vai assumindo formas cada vez mas diversas Deum modo geal, pode dierae que o elementos mais favoreidos da forca de trabalho tém mais probabilidades de se aposcarrem mas edo, 20 asso que os mais desfavoreidos tendem a fz lo mais tarde mulheres, rocoram mits eres retard a sada vida eraifos de natrez ecnmica, Nao obstant, a msi 3s mantseempregda, a 20860 ~ 65 anos ‘Também o significado da aposentagao se diversifica cada vez mais. ara cers indvidves, © aposenagao é essenciaiments, tempo de len para ottom 0 alvento de oprtaidades pasa st empresas 1996, pig, 442). 4- O TRABALHADOR 1D080 A teoria funcional encata a apes como sendo wma res- fade de controlar o desempzego. Sendo este um fendmend nas sociedades industriais,o afastamento da leve fazerse pela fe oferecendo pensies generosas para individuos mais idosos 2 abardonar 0 trabalho. vellos: paca muitos gesto ttabalhador idoso ~ 0 crabalhador idoso aposentado» (Atchley, 1996, pag. 444), ‘Tanto uma como 2 outra teoria se basciam em preconceitos € rabalhadores idosos (a saber, que «duos estéveis, dignos de confianca, com focte sentido das response- bilidades), estas caracteristicas ndo aparentam ter peso ai do patronato de os reer como seus empregados. AFOSENTAGAO: UM BSPAGO DE DESPRVOLVIMENTO FESSOAL do que para os mais jovens. ‘existéncia of ni de plasticidade nos idosos (aptitio para adquirir novas competéncias) nio hhaver nenhuma dhvida de que «a experiéncia, a0 nivel dai arante mui- fos anos, demonstrou que os rabalhadores de meia-idade e os mais ‘dosos podem set treinados e retreinados, de modo a adquirieem ‘Hovas competéncias & medida que as antigas e os conhecimentor anteriores se tornaram obsoletos (Moody, 2002, pas, No que toca & relagio da perform que se pode dizer € que os resultados das investigacées sio mistos coisas, poderdo depender do vipo de performance, cexemplo, no trabalho ma do professor). Mas ao lizada neste sentido, os estudos 0 seu desempenho que Moody (2002, thadores mais velhos ete "aioe tio boa como dos volvimento tecnoldgico (Garcia, 1997, pag. 238). Consideragdes do género das que acabam de ser feitas levaram a ineresse dos trabalhadores. Deste modo, os individuos idosos que © pretendessem, poderiam continuar a sua actvidade e os que quises- fazer, de segunda a 50 mente em actividade profs da organizagio do tempo: 1 ncurose do domingo» ~ essa sensacio de desconforto, decorrente «de as pestoas nio saberem como ocupar 0 tempo a0 domingo. com eft, ago que fzemox. Quando a alguém se pergunta quer response ques & profesor, ou agricul, ou empress. ‘O wabalo detennina também boa pte dona rede de age soca (quar fangdo). Pode o eabalhadorndo tr sequeroportan dade de conecarcom os filos durante a sername de ner stimulant es pessoas gosta do ue faz Sendo 0 trabalho tio importante, como acaba de descreverse, no rT APOSENTACAO: UM ESPAGO DF DESENVOLVIMENTO PESSOAL esta apis eto, gue sa aposentagto pouco ou nexium ceito oe 0s quais se adapta » 88 mudancas associadas & mesmat!, “se que isso acarretaria in insatisfacdo para ambossOre, com relatva faiidade, no & ignorar aqueles, em! provivel que a aposenta nt, gracvel, Factor de extrema importincia para a aposentagio bem sucedida é 8 wrilizagio do tempo que ela proporciona para realizar actividades", «em proveito proprio ou da sociedade, tis como prosseguin a educa. ‘930 00 empenharse em acgBes de voluntatiado!, A isso vamos refe- rirnos mais adiante. Antes, porém, enalisaremos brevemente a evolu- so do processo de aposentagio. a sua vida de eformado se tome menos a 6. FASES DE ADAPTAGRO A APOSENTAGAO Como fo dio, a aposntaglo& ua easido de vida evambln un exige sempre (Os autores (Hayslip e Pane, 2002; pontam varias faes de adaptacio & aposent 1 do desencanto ea da estabilidade ou reorient rizarse-ia por um estado de euforia, logo a seguir aposentagio, e dara tia aproximadamente seis meses. Fo tempo em que procuram concteti- APOSENTAGAO: UM ISPAQO DE DESERVOLVIMENTO PESSOAL ‘outros novos. Os indivduos envolver dade de actividades, ineluindo de nat Jntensaments, numa vare- fisca, como os desportos. fora nical. Comecam a conside- rclativas 8 aposertagio, que mantinha, ptagéo A mesma, nomeadamente ext tea de vida decorrente da auséncia do trabalho, Enconteant-se cada ver ‘com menos frequénca com os antgos colegas de profissi, comegam & ser invadidas pelo vio e po de vida, reorganizos 0 sea circulo confianga 0 futuro. te restritost. lado, nto se pode esquecer que as diferengas individuals tumentar Com a idade e que, com o tempo, a diversidade dos percursos se acentua cada vez mais. Tipologias deste género poderiio, Eciuve, agin que t apap Bona vain por lcs, tanga sat, para tadade dos induce Mas em eal © oe acontece gue pao de adap em samo do ese. {binant tne tprodunt gure wet, no period da eorma {spon bem dapadas dara a cs enc et fe ap tadas diane oped da refonma, ine amb € verdad. Tse sno, expecaivas teal a ques fe rca propésito da fase do desencanto sto provavelmeace devidasaexpec- tatvas da mesma espécie,eriadss na pré-aposenagio. Objective da 2, devera ss, justamente,cocrigie tagdes representam equilrios lo contri, um proms APOSENEAGHO: UM ESPACO DIE DESENVOLNIMENTO PESSOAL, sentido (Hayslip e Panck, 2002, pig. 136) regists-se um progressive interesse pelo planea- significado da morte. Suscitando, pode dizer-se, a unanimidade dos especalistas no que sf so picid on eens avant 4 adaptacdo a mesma. Por outro lado, 0 planeamento da ref ‘2 aposentagio depende dos medi. Quando o que a curto term, 08 seus ef rmudanga de atiudes 2 lo 0s, do planeamento da aposentac cefeios revelam-se minimos. tradugio, em termos ‘que esté em causa, en uma lista de problemas que tais ‘oferecidos por grandes companhias, nfo tendo acesso aos mesos ‘os trabathadores de pequenas empresas e 05 estabelecidos por conta pr6pria.Acresce a ;agem dos que aproveitam ‘com mais instrugdo e con- -iveis. Tender a ficar de fora 0s mais inorias € aqueles cuja satide € defi- pobtes, 05 pertencentes 3 ciente lidade dos trabalhadores mais idosos. Muitss vezes as ‘empresas sentem nocessidade de recorte & reducio do pessoal, ofe- APOSENTAGKO: UM ESPACO DE DESENVOLVIMENTO PESSOAL, ‘ecendo incentivos para a reforma antecipads, Ora, em situagées ‘que a sociedade espera do id Ore, a perda de paptis 1 vimos que tais predigdes sii aqui os argumentos que peemitem, ‘oportunidade de nos referir a uma perspectiva difecense de lidades. De momento, detenbamo-nos n A primeira taefa que se nos impée, claramente, 0 gue se entende por este cor parega Sbvio, trata-se de um termo ambigu ‘qual nao existe uma det balno que a pessoa fa po 1 se realiza com objects {questio prende-se com a releividade do conceito de «trabalho», pois uma certa actividad POSEN” Unt EPAGO DE BESEWOLVIETO PESSONL ia nem parece ter vantagens particulares pars © nosso propésito, optaremos pela definigdo de lazer enquanto tempo residual. Considerado deste rmados (sobretudo 5 fempo em que se esti livre para se fazer ‘outras coisas do seu agrade, voluntariado sublinhavam a importéncia das mesmas®?, Hoje em dia, os préprios governos vao reconhecendo a relevén- .. Como veremos mais adiante, no ha porém que interpretar 0 envelhecimento produtivo como se todos os idosos devessem fazer trabalho produtivo, de tal modo que quem fosse economicamente relhecimento positivo e quer 0 © trabalho, o lazer, as relagées intimas com os conde parece conciuirse que a actividade pro dos virios factores, com base nos quis 06 is desenvolvimento pessoal. Para atingir ete objcctivo, visios podem ser os caminhos, inclindoo taba peoduvo, mas ndo ¢5~m caminko que cada tim tem de descobri. Bo que Scott Maxwell (38 por ‘Moody, 2002, pg. 409), uma mulher deidade avangad, ro sou dis- vi pessoal: «Quo dees pesoas ue eto préximar da vlc, e talver a temam, que cla um tempo de descaberta. Se me pergun- tarem ~ “de qué”? ~6 tenho uma resposta a dar: “Cas mesmo, de outro modo no seria no fim da vossa vida, se tv ‘Vocés mesmos, quanto basta, Atengio, vio mesmo enco Conclusio A aposentagio é das transigées mais importantes do ciclo da vida dos individuos. De acontecimento no nozmativo, que era fezenas de anos atris, Sendo assim, a educaglo nao poderd ign’ teré de empenhar-se em destruir mitos que ram. Em pri fisica e mental, na prest dados a familiaces, no envolvimento em fave © individuo adapeado no pesiodo nde a ser um individuo adaptado dey sdeiro. Continuidade, portanto, A adaptagio & aposentagio prepara-se de antemio, ‘menos a longo termo, Como sempre, vale, para este caso, 0 pio da continuidade da educagéo ~ ter em conta a dimen: posteriores. Nao hi que ilu- dlirse, pospondo, para um futuro ncbuloso, as aegdes educativas a -APOSHAGKO: UM SPA60 DE DESENVOLMIMENTO EBSA ‘empreendes, pois muitas vezes trata-se apenas de veleidades que depressa ai az, Porém, hd também a preparacéo, ‘ue geralmente se fala. ce peas paraco de aoseagie, Eh to atempado da educegio bara a aposentagio. Provavelmente, & ainda preciso adoptar uma polit 1 breve palavea sobre 0 envelhecimento produ- ti do mesmo, haveri ainda oportunidade de reflectr pacifico que os idosos representam um enorme potencial due tem sido desaproveitado ‘Gio dos problemas da sociedac ‘Tudo 0 que posse fazerse, ‘menos para a sociedade. A questio, porém, é a de saber sea forma de vida produtiva éa “nia su vel de promover a felicidade e a qualidade de vida dos ras for : Mas disso FELIZES NA VELHICE? Nilo ha divida de que a visio negativa da rence importante da nossa fs esterestipos associados a grande maioria dos part imdes, 1985), stavam de acordo em que a ‘mesma imagem tinke jé recor- entre a meia-noite © a uma da madrugada; sio oito horas, antes de amanhecer; € de novo escuro antes das quatro da tarde; ¢ -noite, morremos.» flare que & toda a vida que é considerada un dia de Inverno (e € um dia, eno uma estagdo inteira ~ 0 que vinca, ainda mais, a brevidade da mesma). Mas neste dia de Inverno hi hhoras mais tenebrosas do que ourras. Etais sio as da velhice™, ‘Mas éss0 que afirmam os ancios, quando inquirides acerca da sua sarisfagio com a vida? Antes de responder a esta pergunta remos lan sat um olhar pido sobre 2 teminologia ulizads neste dominios pas- Saremos seguidamente em revista invetigagio mais rlevante sobre os Factores do bem-esar s leternos-emos, em pariculas, a exa- minar alguns estados com especial interesse para 0 nosso propésito ‘erminaremos com algumas considecagSes de natareza educativa 1, ALGUMAS NOGOES INDISPENSAVEIS 9 Sio 08 de hemeestat 8 dois primeiros estio relacionados com 0 teceiro,na medica em «qe, como aficmam George e Bearon (itados por imes ea, 2000, propeian tr subjectivo, 20 passo que as condicdes devi factores sociodemograficos susceptiveis de 0s individuos experienciam 2 sua vida. ‘Admite-se, geralmente, que 0 bem-star subjectivo € constit por uma componente cognitiva, designada satisfacio com a vid forma como se avalia a pr6pria vida, globalmente considerada) e ito.satjsfeico com a vida, que experiencia, com frequéncia, cies negativas, diz-se que tal luo apresenta ur BES d Tendo isto present, pode definrse 0 BES da seguint fotma <0 bemestarsubjetivo é uma reac avaliaiva das pessoas & sua prépria vida ~ quer ep eermos da salsfagzo com 4 mesma (aval Ho cogntiva) quer ei termos de afectividede (eacsbes estives)» (Diener e Denes, 1995, pig. 653} ois dos instrumentos mais utlizados, se nio os mais utilizados, na investigagio sobre o BES, sio a Escala de satisfagio com a vida (SWLS) ea Escala de afectvidade positia e negaiva (PANAS). A pri- reira, da autoria de Diener, Emmons, Larsen e Griffin (1985), foi adaptada para a populagio portuguesa por Neto et al. (1990) ¢ depois por Simoes (1992). £ um instrumento muito eurto, mas exce- para avaliar a componente cognitiva do BES, ou sea, a satis- facio com a vida, globalmente considerada ‘A PANAS, elaborada por Watson, Clack e Tellegen (1988) © adapeada por SimBes (1993), & composta por duas séries de adj vos, destinadas, uma delas, a medir a afectividade positiva (Pd ito, para a de bem-estar subjectivo (q aparece coma mais frequéncia na lirerature}!0i, Kellner, 1991). Em contrapartida, as correntes da chamada psicologia positiva sm colocar questées do (Schmuck e Sheldon, 20 2, FACTORES DO BEM-ESTAR SUBJECTIVO soscepivel descr idae, também nfo se segue que enka de see ir aquele: pode ser que a relagao encontrada entre ambos a poo Facto de os individu mate velhon err um nivel instragioe asin apresentarem expectatvasinfrioves hs sfazerem mais fcimente do que os mais tendo em contaycomo dissemos, que a aposentacdo 0s recursos financeitos, nd relativamente frequentes as perdas de outr jge, dés amigos, de conhecidos. Imaaitude do fo mii da ordem Ge Hii, no entanto, que ter presente q Assim, boa parte do efeito da educagio sobre © BES parece exercerse através do ren ccausas de bem-estar subj -se pelo facto de a educagio criar uma gama mais va ‘esses, em particular relacionados com o lazer, interesses essee que ‘constiuiriar ntes de bemvestar outro lado, poderia tabs a clevar a aspitagoes e, assim, diminuir o bem-estar subjectivo, na medida em que aumen- tase © hiato entre essas aspicagdes e o nivel de realizagio conse guido. rendimento, hi que distinguir 05 res rernacional (no incerior de um dado pais -se a relagio do rendimento com o BES e compacaramse a8 t edo outro, num dete periodo historico. Quanto a relagso encontrada entce o rendimento ¢ o BES, modesta, mas signficativa. Assim, uma meta-anilise dos estudos, realizados na América (Haring, Stock e Okun, 1984), encontrou 10 média de 0,17. Inquéritos levados a efeito nos Esta- lize e Diener, 199. imento do que no caso de a que em patsesdesenvolvidos como o maior de pessoas 1 que o rendimento afecta 0 BES, a correla- ete fraca, a0 passo que obres (por exemplo na India ou nas Filipinas), a correlacio entre aquelas varidves é bastante mais robusta, ‘No que respeita as inciddacias do desenvolvimento econémico no bem-estar subjective, as investigagSes chegaram 2 resultados ine- uivocos e concordantes: 2 13 ddo BES permanecie inalte- ele se elevado, Assim se ex 0s Estados Unidos, onde uma percentagem m va do desenvolvimento ecor 1999) compararam o desenvolvimento c |, Japao e Estados Un stat sbjectivo, no periodo compreendido entre 1946 ¢ 1990, Ora, rad, enguanto se clevava a i enguant o primar cress, 0 eguado pernanocia et parece, pois, que a riqueza baste para cornar flizes os cidadios de tum pais. Quando se atinge um certo um aumento ulterior do mesmo nao mostra ter repercussies sobre © bem-estar subjectivo. ‘As conclusses que precedem referemn-se a andlies a nivel inte nacional. As 4 iese assumem uma perspectva interac nal: comparam entre si, no que concerne a0 bem-estarsubjectivo, pal- ses que difer €. de saber se 05 mais desenvolvidos apresentam também um ni mais elevado de bem-estar subjctiv. Estudos com amostras inusitadamente amplas apontam neste sentido, Um deles (Diener ¢ Diener, 1995) concluiu que, nos patses mais pobres,tendia a ser mais elevada a corvelaglo entre satisfag3o ccondémica © satisfagio com a vida - um resultado paralelo aquele, precedentemente registado, a nivel intranacional, entre escalbes mais baixos de rendimento e bem-estar su rs ‘igaglo (Diener, Diener e Diener, 1995) as correlagdes entre o rendimento ¢ 0 BES e que elas se mantinham, depois de controlada a satisfagdo das necessidades basicas. Quer isto dizer que o rendimento tem um efeito propria sobre o bervestar subjectivo, que no se reduz & satisfacio das necessidades basicas, ‘como a fome,a sede, ou a higiene. Hé porém que adr iade de outras variveis interferirem naquela relaga rages investigadas diferiam, nomeadamente quanto a0 grau de individualismoleolectivismo, democraticdadee autoritarismo (Simées etal, 2000), Concluindo, «as pessoas ricas so apenas umn pouco mais flizes ddo que as pessoas pobres nas nagée pesto que at nagées slcas parecem ser muito mai as mudangas no rendimento (Diener et a, 1999, pag, 288}, izes do que as pobres. Além disso, rem sempre tém os efeitos preditos» Se, como sygerem os dados precedentes, 0 rendimnento ts feito sobre o'bem-estar subjectivo, por modesto que ele sa, se explica a sua influéncia? Ter dinket Vida superios, melhor alimentacio, mento e de transportes, melhor educagio, melhor asi sanitria, melhores possbilidades de lazer e, com isto, melhor suide fisica © mental ¢ posigées mais favorsveis para o desenvolv- ‘mento da personalidede, da auto-estima... da qualidade de vida Porém, nao seria tanto o rendimento, em termos absolutos, mas 6 rendimento relativo que faria flizes as pessoas. Efectivamente, dados dos estudos revelaram gue a percepeio de ter mais ot menos rendimentos do que os outros esté forremente correlacio- nada com o bemvestar subjectivo. Serie o hiato entre metas pes- soaisrealizagio que estati a satisfacio com a vida (= «modelo de Mi que em pafses com rendin ‘portunidades pasa cor «Ges documentam (Simées eta, 2000s Argyle, 1999) que os duos casados, ou em unio de facto, mostram ser mais flizes © agozar de melhor saide fisica e mental do que os no casados, quer estes sejam solteros, viivos, divorciados, ou separados. Além disso, 6 estudos mostram que o efeito do estado de casado se mantém, ‘mesmo quando se controlam variéveis a ele associadas, cas como a ‘dade, 0 rendimento, ou 0 ‘Um problema & 0 de saber se, so mais flizes do que as mt (Wood, Rhodes © Whe: de casado versus no iada a um nivel de BES mais elevado, tanto para 0 hhomem como para a mulher, mas ainda que esta ‘ais saisfeita do que aquele, no mat 10 de relago existe entre estado civil pode ex lugar, €0 casamento que conduza flicidade, ou to? Na verdade, poderiz conjecturar-se aque a pessoas is peobabilidades de virem a casar-se do ‘que as pessoas infelizes. Mas— nota Argyle (1999, pig. 360) ~o facto dde mais de 90% dos individuos se casarem vai contra esta hipétese e aponta no sentido de uma rlasio de natureza causal, isto 6,de que € 0 matriménio contribui para a felicidade dos cénjuges. ‘Como pode isso entenderse? E que o mattis ido e bemestar ppara a maioria das pessoas ~ apoio de indole emoci relacional, «Para aqueles que sio casados, 0 cOnjuge instrumental para uma gama variada de satisfagbes de cariz sexual eas relacionadas com o lazer. Estar apaixonado é a as. O easamento & benéfico para a saide, em parte porque resulta em comportamentos mais promo- fores da mesma ~ as pessoas casadas bebem e fumam menos, seguem uma dieta melhor e acatam as prescrigdes do médico..) nto é um tipo de cooperativa bioldgica, eujos membros im do outro, e também recebem beneficios, pelo facto de serem capazes de miitua confianca e de discutirem os problemas com um interlocutor interessado» (Argyle, 1999, pig 361). principal fonte de emogdes pos A satide € outro factor com influéncia positiva no bem-estar sub- , dos mais mareantes, como revela a meta-a ter (1984), {que encontrou uma magnitude do efeito média de r = 0,327, De € causa de felicidad, ou vice-versa? [Nfo dispomos de dados que permitam respor virias cazoes. Em primeiro Jgreja podem sentese mais fe em particulars vierem soi trasta com a relagio oposta, ou sea, a do desemprego, com o BES. ‘Ora, © que se verfica um pouco por toda a parte, € que desempregadas se mostram menos felizes do empregados. Por outro lado, os desempre isfeitos, como ainda se revelam, em média, izes do que os pr6prios empregados. Por exempl ), que se diziar satisfetos (36%) do que 10s empregados (23 na ve2, tornasse dificil definr 0 tipo de relagéo existence entre emprego e bem-estaz subjectivo. Tendo em conta osstesultados guns estudos (Diener, Suh, Lucas e Smich, 1999; Argyle, 1999), ia parece exercerse os dois sentidos: do emprego para 0 BES e deste para aquele. Um altimo factor sociodemogrifico com influéncia signficativa no BES, é 0 lazer. £, em parte, por se empenharem relativamente pouco em actividades de lazer que oF dese ‘como se viu, um baixo nivel de BES: «eles fazem ien0s a rodos os tipos de lazer pesitivo, is tempo a ver televisio, a beber e em companhia A relacio entre o BES e 0 lazer & ordem de 0,40), mas torna-se modesta (3 ntroladas varidvels, tis como 0 emprego ea 1999; Veenhoven, 1989) Quanto & natureza da relagio, parece razodvel admicircratarse de causalidade reciproca: 6 Iszer produ © bem-estare este conduz 0 lazer. Porém, os dados empiricos de que dispomos, aomeada- ‘mente os resultados de certos estudos longitudinais de alguns estu- dos experimentais, com diversas formas de passatempo (por exe- plo, o despot e o exercicio fisico}, vito mais no sentido de apontar para a causalidade do lazer. Factores personolégicos (de personalidade) Uma des tendéncias mais matcantes da investigasio actual neste dominio, consiste em realgar o papel da personalidade no bem-estat subjctvo, Jé Alain (2000, pp. 156-157) escreva: «Um homem quase io tem outros 8 senio ele proprio. Fle & sempre, para si ‘mesmo, o seu maior inimigo, pelos seus falsos juios, pelos seus reccios vio, pelo seu desespero, pelos discursos deprimentes que faz a si mesmo.» E no mesmo sentide se promuncia Cicero (1971, pag, 215}: «Uma pessoa que ndo tem, em si mesma, 08 meios para viver ‘uma vida bos ¢ feliz, encontrara aborrecimento em qualquer periodo da existéncia.»| Inimeros tém sido os estudos deste género, uma boa parte dos lia de r= 0,19, qu factores de personalidade sobre as De entre os cinco factores de pers ido, foi aCe cienciosidade, € nfo a Extroversio, que reveloa ter maior influéne Sobre 0 bem-estar subjectivo. A raxio é que talvez bes se, assim a obterem melhores resultados, dos quais deriva maior satisagio. e vimos seguindo (o estudo desta, em termos de tra levando-nos a adoptar o que poderia chamar-se uma pers- rmarpasolede der ord me lapse an es esa) tec tic (do geo, los = obetvo, met), Beta © independent, A slagho meevBES ee port regaie quando ras pessoais tem side Congruentes com 0 eu, as metas deverio sé centre si, funcionalmente organizadas, pois de cetiam 0 confito no seio do orb de empenhamen 10 & adaptgdas & situagio e aos recursos do individuo ~ nem tio wadas que desencorajem a sua prossecucio, nem tio casteras que (0 ndo desafiem!8, A este propésito, convém recordar o estado de (1995), segundo o qual seriam as aspiragoes re 1808 pessoais que prediriam ade- também coezentes ia a0 problema da natureza da jectivo, Se aquela se desereve estabelecer a qual dos termos ~ esceever Diener ¢ L ‘que canto as metas pessoais como as estrat uclizadas para atingir a= mesmas, sejam determinadas por trayos mais abrangentes da perso ‘Assim, 0 objectivo de conhe- cer outras pessoas pode sex, simplesmente, a expressio do traco de personalidade mais global designado por extroversio. No estado actual dos conhecimentos, nio parece fazer sentido procuzar uma ‘inica causa para o bem-estar subjectivo: ele parece resular da com- plexa interacgo dos tragos de personslidade, das metas ¢ dos recur- 08 pessoais, de factores hereditérios ambientais. Mais estudos sio necessirios, nomeadamente de natureza sara tentar desenredar a complexa teia de rla- g6es dos factores responsiveis pelo BES, Coneluindo,vérios fxctores sociodemogrificos revelam estar rel cionadas com @ bem-estar subjectivo. Porém, tal associagéo & em geral fraca. Comparativamente, a regio da personalidade com 0 BES 6, habin , mais elevada do que a daquelas variveis. De facto, a5 evisdes dos estudos (com recurso a mets-andlise) apontam. ‘para a sade como o factor mais influente,seguido da personalidade € do nivel socioeconémico (DeNeve e Cooper, 1998, tabela 14). 150, {quando se consideram isoladamente os efeicos das referidas variveis. No entanco, quando se atenta nos ef ‘a, 2003, 2001; DeNeve ¢ Cooper, 1998). Assim, a personalidade la-se como o factor fa seecdo seguinte ‘comum o facto de terem sido conduzidos com adultos muito idosos. ‘Mostram-se também felize as pessoas, na fase extrema da velhice? Continua a person 1 revelar-se como 0 contribui para a felicidade das mesmas? Bis paca as quais poderio ajudarsnos a encontrar resposta. 3. Dots BSTUDOS SOBRE A FELICIDADE DOS MUITO IDosos A primeira das duas investigagSes a que acabe de Estudo de Berlim sobre o envelhecimento (The Berlin Aging Study, ou BASE; Baltes e Mayer, 1999), Trata-se de um trabalho notivel, de ‘carictergerontolégicoe interdisciplinar, com uma amostra represen tativa da populagio muito idosali? da cidade de Berlim Oeste, levado a efeito de 1990-1993. Foram 516 os individuos de ambos (0s sexos que a constituiram, estando as suas idades compreendidas entze 70 e 103 anos (a média era de 84,9 anos) idirse, € 0 int i rig rong bem por uma maioria 1ég, 457) Portanto, os esteredtipos acima referidos, segundo os quais a velhice acarretaria a perda da felicidade nao se confirmam face a cates resultados. Mas no mesmo sentido vio ainda outros dados, de acordo com os quais a afectivids revalecia sobre a afecti- om idades compreendidas entre os 65 95 anos (medi ‘tanto, bastante avangados na velhice, E exclasivament mos referéncia, de seguida. Consideremos, em primero imedido em termos de afectivi: ‘nl Pape Gee Cote Monee lores possives (que estavam compreendidos, entre 5 ¢ SS}: lia foi de 32,52 para PA e de 26,75 para NA. Quer isto dizer que ‘ambos 0s resultados apontam no sentido de um BES cmocional ppositivo,jé que se veifica um NA relativamente baixo e, em todo 0 aso, inferior a PA ‘No que conceme & satisfagio com a vida (avaliada pela SWLS), a gama de valores possfveis estendia-se de 5 a 25 pontos.-A média encontrada foi de 15,62 ~ valor siuado sensivelmente no meio da série ~ 0 que indica que o BES cognitivo, tal como o BES emocional, também ele, positivo. Uma analise mais minuciosa aos cinco itens da cscala revela que foi sempre minoritiria a percentagem de indi- Viduos que exprimiu reacyOes negativas, ou seja, que escolheu res- postas, que iam no sentido de um BES negat siuavan-se entre um maximo 44,2% ¢ se diziam razoavelmente ou muito satisfeitos com a vida. [Neste ponto, os resultados da investigacio em apzego eoincidem com 0s do Estudo de Bezim. no sea em razio do niémero muito mais limitado de sujcitos. Deste modo, ndo ¢ fécilindicar diferenas no BES, de am grupo de idade pera outro. O indicador mais pertinent, pata.o efit, sio as cor lagBes encre a idade e as medibes do BES. Ora, nos trés casos (cor relagdo da idede com PA, NA e SWLS), as cortelagdes aproximam -se de zero (slo, respectivamente, de — 0,09, 0,04 e 0,06) e nenhama delas€signficaiva, Portanto, a jugar por estes dados, nfo se detecta rnenhuma tendéncia para o abaixamento do bemeestar subjective com a idade. iadc, satisfagdo com os amigos, situagdo sm uma parte bastante red jectivol2s, ou seja, apenas 6%. Quer era consideravelmente maior a influéncia das varidvels de idade (que davam conta de 42% da varidncia do BES) do {que 0 impacto dos factores sociodemogrificos sociodemograficas (sex econémica ¢ sate) expl varincia no bem-es inda mais idosa do que a do segundo. De ambos se pode ddeduzir que a maioria dos idosos com idade m: zesl2, Por outro lado, parece sero tipo de pets cipal factor responsével pela felicdade dos idosos. A esta luz, tem pleno sentido as palavras de Alain (2000, pag. 100): «E necessério Io esquecer que, desde que avi sentido pleno do termo, toda a ue se aio registam n documenta o Estudo de Beli a vides se, como sas condigées objectvas s6 indicec- tamente afectam o bem-estar subjectivo, ainda que elas se deterio rem, o seu impacto depende da interpretagio que a essa mudanga é dada pelo pr6pri individuo, 4. IMPLICAGOES PARA A EDUCAGAO vida boa». Na medida em que jctivo da experiéncia, poder retende insinuss que o exo do bemstar subs ~pouco de somenos importancia que 0 , portanto, dois planos distintos a conside- ivo (aquele de que se vern pretende averiguar 0 que dade, ou bemestar objec- nnatureza, a0 que deve sera felicidade). € para as pessoas a felicidade) tivo (aquele que di subjacente a0 proprio projecto de investiga clas variveis da pes Hii, no entanto, uma série de orientagbes dec -acional sobre as quais nlo parece dificil obrer um acordo, por parte de um bbom nimero de perspectivas ilosficas da felicidad iade nio é um dom, mas uma con ceduca- (1982) lo, fal 10 oporigio ao futuro que se faz, Af dade € da ordem do futuro que fazemos. E, assim, no ha prede A felicidade, em época nenhuma, e em nenhuma idade ~ rodos podem, e devem, sr flizs, mas iso exige esforgo, empenhiamento, Vietude, Meso na extrema velhice. TEste esforgo tem de traduzit-se, inevitavelmente, no trabalho sobre a nossa personalidade. Vimos igagio aponca cipal da promocio do bem € um dos tragos n escreve Argyle dos tragos que nfo se extroversio, ela pode aumentar-através de experincias positivas com a5 ot podem s ‘em particulat, a extro% sobre o mesmo. ‘dos mesmos. Mas é noes que ele vive, realmente, ¢ so cles que tornam feliz ou infeliz a sua vida» Obrigatécia, neste contexto, & uma referéncia as metas pessoas. ‘Como se vi, 0 individos 9 mais felizes quando se empe- rnham na prossecucio de ob absorver na realizagio da mesma; 0 ta a resolucio de problemas da vida ivi, permitindo assim manter o bem-estarsubjectivo. 6 essoncial que se mantenha a coe ~aguelas que constituem o horizontee o fim iltimo da vida do indi- uum constance vaivém entre as fina- Tidades (as metas tltimas) ea acgo educativa concrta: esta precisa de ser confrontada com aquelas, para nio perder sentido € nio se desviar do seu rumo; aquelas permanecem abstractas, ‘quer dizer que, com a idade, mudam as metas pessoais, «que so os individuos que conseguem adzpta que logram ajustar-se, essas mudangas que registam niveis satis (© modelo OPS aponta, no mesmo sentido. Segundo ele, 2 moti= vagio principal dos humanos é a de controlar o ambiente. Hi dois participar num tipo de actividade (0 , mesmo assim, de promover 0 seu sa, ou eeabiltatva (e conservagio do statu quo, sejam adequadas 20s maisidoss. Lapierre ceducagio, para elaboras, de maneica correcta, © projecto da felici- ssoal e o conetetizar, progressva e funcionalmente, 0 longo ENVELHECIMENTO PRODUTIVO ‘Teme discutido, ultimamente, de modo porventara mais vigo- 080, em torno da problemética do envelhecimento produtivo, ou seja, do que deveria ser a senescéncia, para ser satisfatoria para 0 HG, porém, que ter presente que -mas remonta 20 periodo iniial do desenvolvimento da Getontolo- gia. E,entéo, que aparecem as das teorias clisscas, que acabaram ‘Por constituir © quadro de referéncia de muitos dos modelos actuais do envelhecimento positivo. Estamos, obviamente, a pensa ‘comprometerse» com o: ‘speram tanto o individuo como a sociedad. Assim, hi uma dupla desvinculagio: psicol6gica (do proprio individuo) e social (da socie ‘dade de expressBes: en 1999; Bales e Bal [Na base destes modelos, esté sempre uma concepeo deenve! cis uma consequente escala de valores. Assim, por exemplo, cenvelhecimento produtivo tem como matriz axiolégica a orientagéo ccidental, que faz da produtividade sinénimo de sucesso. Pelo ci trdrio, oenvelhecimento consciente releva a dimensio espiritua, na ‘qual reconhece a realizagdo maxima do individuo. Isto ndo signifiea {que no tenham nada em cor um, mas que tais modelos sublinh aspectos do envelhecimento, particularmente valorizados pelos se 1Na exposigéo que vai seg , analisacemos dois modelos que de maior interesse por parte dos 1um quadro conceptual comum, que de. Tém também em comum o facto de serem cultural do nosso tempo, dominado pelos 10 da produtividade, lo do (1999), 1. Do ENVELHECIMENTO BEM SUCEDIDO... (© modelo do envelhecimento sido, tal com € formulado por Rowe e Kahn (1999), aparece no contexto de ur dos estudos mais conhecidos sobre enwelhecimento, ou seja, 0 MacArthur Study of Aging in America (0 Pstudo da Fundago MacArthur sobre o Enve- Thecimento na América). Por envelhecimento bem sucedido, entendem os autores ctados 0 conjunto de factores que permitem ao individuo continuar a fon- cionar eficazmente tanto do ponto de vista fisico como mental. Dis- ting o bem sucedido: assim tr verrentes do envelhecimes 1. Baixo risco de doengas, ou incapacidades relacionadas com 2 docnga, mento fisico e mental elevado. mento activo na vida (Rowe e Ka |, 1999, pag, 38) dde que des ctv face & vida. Os nce simples aos indivé- ecimento bem sucedido: se bem; rermaneca empenhado na vida» autores »fornecem uma prescri aos que quiserem ex cexercite 0 corpo € 0 espiito; coma, ha eelagdes sociais esr (aylor ¢ Bengtson, 2001, pég. 121). ‘0 modelo assenta no principio de que é possivele des sma velhice saudavel. Ao contririo do esteredtipo comum, que descreve 8 pessoas idosas como sendo frgeis e doentes, pate-se do pressu ‘posto de que muitas doengas se podem prevenir e de que os riscos clas mesmas se podem teduzit, substancialmente. Na verdade, mui tas doengas crOnicas sio precedidas de sinais premonit6rios (por a ). Ora se se thes desse 9 poder-se-a evitar que uma situagio erénica se forma a a Envelhecimento bem sucedido significa, -a e mental. Do ponto de v fade de conduit uma vida independence, ou seja, de izain a dependéncia de texceiros como rectios da velhice. Ora, estes reccios de perdas ‘como documenta, nomeadame revelam-se muitas vezes exagerados em. que crucial importéncia do ‘dos efeitos a sentido de que quanto maior for 0 niimero e a quali ragamente se tende a viver¢a ser menos afecado por doencas. | | | Por que é que as facil de explicar. Ur cempenhadas nessa sem divida (a lagdessocias influenciam assim a sade, ndo é Tesposta poderia ser 0 apoio que as pessoas dos alimentares, ‘mas também apoio «socioemocional», por exemplo, sob a forma de encor ‘ow congratulagao, respectivamente, ‘nos momentos difices ou nas circunstncias felizes da vida. ‘Como quer que seja, parece caco que as pessoas que gozam de apoio socal tendem a ser mais saudaveis do que as que sio privadas ddessh ajuda: tal apoio reduz 0 risco da artite, da suberculose, da ddepressio, do alcoolismo. ‘Em segundo hagas a dima componente do modelo impli individnd se mantézn activo. E isto incl trabalho remunerado, deco- rente do exerccio de uma profiso. Nie 6, com efit, compreensive ‘que, mantendo-se 0 idoso gom capacidade e desjo de trabalhay, 2 socie- dade desperdice 0 potencal que ele representa. Nao 96. A. acividade ‘efete-se também a toda uma série de contributos nao remunerados (cui- dar de uma crianca assist o cénjuge doente,rodo o mundo do riado} que, se fos conta AA sociedade ign ‘ANOVA VELHICE rr Poréim, os defensor objectam, contra 0s propo- rnentes do modelo do: bem sucedido, que eles se limi- tem a ressuscitar a v6 ude ~ manterse activo, continuar empenhado no mundo laboral, permaneeer socialmente comprometido, como na meia-idade ~ teoria essa que, até hoje, 0s piricos do confirmaram. Acresce que o envellecimento idualista, fazendo depende, essen- cialmente, 0 desfecho positive do mesmo da actuagao de cada um, ene, pelo fracasso. Ignoram-se, todo o tipo de actividades que contribu para prods wolve a capacidade para o8 prodi centende pelo terma «pro- torna obrigat6rio pergun- ramente, cada autor, com a 3s trabalho produtivo", dade de definigBes de envelheci- >, Séo mais restrtivas, na medida tos contemplados por outras.Por ‘conbecidas. Para comecar, ido da de Bass, Caro e Chen, Em conteapartida, estes auto- sm o desenvolvimento da capacidade de produzir bens ¢ servigos, enquanto outros (Morrow-Howell etal, 2001) 0 rejcitam, ‘com © pretexto de que isso implica gasto de recursos e que se pode dlesenvolver tal capacidade, sem que, necessariamente, se sige © tempenihamento na producto de bens e servigas (pp. 286-287). ‘Mas se, quanto a pormenores especificos, as definigdes de enve- iutivo diferem, e as vezes substancialmente, muitas delas coincidem quanto a detetminados aspectos basicos. Por exem- ‘oma grande parte das mesmas inclui aquelas actividades de ‘o, sejam elas remuneradas ou nao. Ist, port, nfo inar os problemas inerentes as definigdes. Assim, nio é tay exactamente, a nocio de produtividade econémica € daia divergéncia quanto ao contesdo das definigbes. Nao ins ‘os mais neste ponto' ‘mente, valor econémico, mas no podem ser consideradas act- sdes com valor social. Este poderia, sim, definir-se em rermos de 1 de educagdo, de esperanca de vida, de auronomia pessoal ‘Uma outra dimensio da produtividade seria a componente psi- jea, que abrangeria a5 actividades que promovem a saide ental, romam mais efcientes as relagdes pessoas, influen ia da tomada de decisbes, ou promovem A critiea da nogdo do envelhecimento produtivo. 3. CONSIDERAGOES cRéTICAS arece no sofrer contestasio 0 objectivo do reconhecimento socal das prestagbes dos idosos, com o consequente contributo para a des ‘raigd® do estereétipo que os apresenta como um grupo social simprodutivo», Quanto mais nio Fosse, a nossa experiéncia pessoal ngs informa que eles levam a cabo, diariamente, um volume de tarefas, disereta que, contabilizadas, representa riam valores pecunifrios elevadissimos. Também no custa reco- hecer que uma grande parte dos idosos exté cisponivel e desejosa de dar o seu contributo para resolver os problemas da comunidade ‘em que vive, para «se itil» aos outros. E ¢ igualmente compreensi- vel que, fazendo-o e sendo reconhecido o seu trabalho, a imagem de si melhorard e a sua auto-estima eresceré, De modo semelhante, a se-i. Foi provavelmente a consideracio deste cendtio 1 levou tm dos prineipais promotores do movimento do envelhe- cimento produsivo (Butl a este capital -mar que o século xxt seréo século da velhice produtiva, Sublinha-se, no entanto, que tudo isto s6 ocorre se se veriica- em mudangas profondas na sociedade, que derruber as barreiras ‘que impedem o acesto dos idotos ao trabalho produtivo elimitam a oportunidades dos grupos minoritarios, racias e étnicos e imi {grantes. O modelo contabiliza, como crédito seu, a atengio dada a0 contexto social, bem mais vincedamente do que o faz o do envelhe cimento bem sucedido. ‘Outro aspecto positivo ~ comum desta vex ao modelo do enve- Ihecimento bem sucedido - € o da ertiea do conecito de produtiv ido pelos economistas. Con a afir. ‘como sendo actividade econémica». Ora, 0 modelo em aprego con- tribuia para questionar essa nogio restrta de produtividade e reco- nbecer que mpitas actividades desenvolvidas pelos idosos tm tar bém valor econémico. para terminar este exboso dos aspectos positivos do nha-se que ele esteve na origem de projectos de inves ‘cio de grande relevol™2, Esses projectos mostraram,entre Outras coisas, que € muito signifi ributo dos idosos ex termos de produgio de bens e servigos. Assim, tas estudos zevelaram, por que mais de um quarto da populagdo idosa trabalha, mais dde outro quarto esta empenhada em actividades de voluntariado, ‘quarto di assisténcia a pessoas incapacitadas © 40% fos € os netos (Caro e Bass, 1992}, os positivos roconbecides 20 faz-se valer contra ele outra série de aegumentos ado como a extensio da vida¥®, Deste m de hens e servigos necessirios para a satislagio das necessidad Sociais, ea velhice & jlgada pelo crtério normativo da produtiv dade econdmica. Ora, a cedéncia injustiicada a0 poder do mercado, erigindo 0 econémico « Eubordiaando ao mesmo os sestantes valores (Estes e Mahakian, 2001, pig 204), . E ce éa logiea do mercado que enforma.todo 0 mo« sivamente ao individao que ¢ aribuida toda a responsabilidade pelo sucesso ou fracasso do seu envelhecimento. Assim, € a ideologia © Estado, apl fica que se isenta oF rigit as deficiéncias do mercado, como p de acesso. Ora, sem esteatégias compensators, a pol permaneceré baseada nas estrucuras de clase, idade, ov caga, se é ‘se agravario as desigualdades nas mesmas originadas. Actesce que, se 0 envelhecimento bem sucedido se define pelo facto de ser produtivo, isso conduz 2 distinguir duas eategoria de idésos - aqueles que sio produtivos sio casos de «sucesso», lenquanto que aqueles que 0 nfo so slo casos de «insucesso». O que € mesmo que dizer que 0s primeirossio exemplo de «boa» enve Iheciménta (envelhecimento com valor) e os segundos de «min» cenvelhecimento (envelhecimento sem valor). Assim, com esta nogio pode estarse a patologicizar muitos idosos, que nfo podem 01 tém sequer oportunidade de ser produtivos. E etiquetas negativas deste género podem contribuir para aumentar o peso da velhice, liés considerada como um eneargo financeiro que a nacdo no pode supor Enfim, forma de vida produtiva. Podem » 4 meditagio, a leitura, a reminiscéncia, a os. Na medida em que a nogio de enve- yodutivo exclu, ow no tem em conta, estas activida- des, torna-se demasiado restrtiva vai ao encontro das neces sidades e aspiragées de muitos idosos. Conclusio dade profisional, mas ndo 6. E também uma ¢t mhecimento das potencialidades dos idosos e pela eliminagio do mito da vethice impeodutiva —o seu objectivo é0 da «xedencao» dos ‘idosos. Deste ponto de vista, parece merecer 0 apoio dagueles que se interessam por fazer da iltima fase da vida um periodo em que 8 pessoas encontrem um sentido para a sua existencia © possam adoptar estlos de vida suscepsiveis de promover a sua felicidade pessoal e daqueles com quem interagem. Ser dificil, com efeto, nao estar de acordo com os prineipios do do envelhecimento produtivo, acabados de definit, Dir se-1a mesmo que nao dar aos mais velhos a oportunidade de serem icios mais graves e de consequén- ‘mais danosas que a referida sociedade pode permitir-se. Con- Sequiéncias econ6micas para a sociedad, sem divida, mas tambe ‘dosos. De recomendagio a fornecer As pessoas ou insti Porém, 0 principio da produtividade nio pode ser entendido de yeadamente as da produtividade psical Ignorar estas em favor daquela, contribui para,estabelecer di ‘onseguem, ser economicamente produtives. Assim, hi que i definigbes de produtividade demasiado restrtas, sugerindo 8 que tém valor econémico mas no estéo baseadas no mercado, os con- assistincia social informal, as relagdes ¢ actividades socias, as actividades de desenvolvimento tais como a aprendizagem, reflexdo/meditagio ¢ pritica te neste dominio é dar maxgem as diferengas admitindo que sio varios os caminhos que se pode 1a prossecusio do objective da realizagdo pessoal ea con dda prépria felcidade. Fo respeito pelas opcées indivi consentineas com a indole de cada um, deve ser uma » outro aspect, sbliado pelos cricos do emelhecmento brodatve, a necstade de adn a entoura soos cot ee os isos ena a oporanidde de drm conte wide comunidad em que virem. Porque certo & dee ore re antes, rejeita o trabalho produtivo do idoso. + vi agrevase duando ef cm causa grupon ndo sexo. At€ que pono ¢ Gis do que esesericos dwidam, © cate € qe 9 nenienncy -ouco faz para prem causa 0 sat quo, Quando neo deny tuo na mesna, No ha poltcas de acompanhamenta on dec sie decondiges econdmieas onde sae neces ate ee is do mercado ode acess dev ue édefinido como envelhecinento prodtivor (sts Metaking 2001, pig 210) £ camente, ests pol sem uma politica activa ecompensatria de ciao de oport dade para os isos, 0 programa do envelhesimento peodocto fo poders sez concretzado.E isso motivo pas'6 htne oes reino da utopia? Provavelmente, dng 8m como alvo os humanos, CONCLUSAO fianca nas capacidades piveis perdas, conservam as psicoldgicas, que Ihes pecmitem conduzir ependente, numa sociedade & qual tém ainda suas capacidades ‘uma vida normal ¢ muito para dar nivel de instrugdo das novas geragdes de idosos, aumente We a procura da educasao, de acordo com o principio politicamente mais ‘empenhada ee Seri uma geragio mais longeva, mas que teri de encontrar um sentido vilido para a existfncia, Se se acentuat a ten= 4 antecipagéo da reforma ¢ para o encurtamento do batho, um perfodo muito substancial da vida seré tempo aproveitamento, em termos educativos, consttuiré um ccala vez mais premente e mais relevance, Por outzo lado, ‘com a tendéncia para a diminuico da populagio jovem e a aptido de cada vee mais idosos para o desempenho de uma profissio, uma hipéteseé que os mais velhos virdo a constituir uma parte progressi- fe trabalho, Sabemos das resis- ‘acias— injustficadas, na sua maioria ~ dos empregadores e, de um ‘modo mais geral da pressio que representa aquito que descreveros como ancianismo, A ciéncia, e de um modo particular a Gerontolo- aia, vem deaunciando esses ditos preconceitos, tio falsos como per- hiciosos. Mas € ainda necessirio um trabalho educativo, em exten- ‘so e profundidade, para que sejam erradicados. “ CChamou-se & nossa sociedade ~ a experiéncia nos diz que com aaio sociedade do desperdicio. isso manifesta-se, de forma mais testranha e gravosa, nos recursos representados pelos idosos. A mul- tidio de tarefas, de enorme valor econémico, que cles efectivamente desempenhain e que nfo sio reconhecidas, ea quantidade imensa de fontras que poderiam ainda desempenhar ¢ que na realidade no texercem, por negligncia ov rejeig2o da sociedade! Com prejuito para 03 idosos, sem divida, nfo sé a nivel 4 nivel psicoldgico © do bem-estar subjective. Porém, nfo menos de saber, 10 seus mais graves p 7 'E que, quer queiramos quer no, o mundo de hoje jé nfo ¢ dos jovens, mas dos adultos, ¢ cada vez mais dos adultos mais velhos ~ tos idosos. E que «pode haver o velho que se no perdeu de sie @ ddegradacio esquecen ou perdoou. Fle ergue-se entéo numa maior 61 do poeta, fica vendo “como de alto das coisas, a compreensio mais profunda da realidade de tudo, = aceitagdo do inexordvel da vida, a fia serenidade, iema do desinte- esse, para com tudo 0 que foi excitagio e entusiasmo e acabrunha- ‘mento e decepgdo. E continua a ser vivente ndo como um

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