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INTRODUCAO A RETORICA Olivier Reboul Martins Fontes Séo Paulo 1998 a i edigao Fevereo de 1998 Tradugae INE CASTILHO BENEDETTI Indice analitico Proficio Introdugio: Naturezae funcdo da retired swnwewswnn XUL Arte, discurso ¢ persuasio, xv Fungo persuasiva: argumentacio e oratoria. xv A fungdo hermenéutica ae XVII A fungdio heuristica.... pee EX A fungdo pedagégica.... cee XXL Capitulo 1 Origens da retériea na Grécia... 1 Nascimento da retorica.. i 2 Origem judicidtia. nunnnne 2 Cérax : pei eee Origem lteritia: Gorgias 4 A retérica eos sofistas aH: Brotigoras: o homem medida de todas ascoisas... 7 Firsdamento sofistico da retorica 8 Isécrates ou Platio? eel eee: Tsdcrates, o humanista cnn Pe allo Uma pausa Sealed Texto | ~Platdo, Gorgias, 455 d a 456 c, rad. M. Croise 3 Retéricae cozinha... 16 De que “cigncia” se trata?... Bele: I~ Aristételes, a ret6riea ea dialética 21 Capi Uma nova definigdo de eects Capitulo 1 Arist6teles, a retévica e a dialética Anistoteles (384-322) nasceu — quinze anos depois da morte de Sécrates ~ em Estagita, cidadezinha litorinea entre SalOnica e 0 monte Atos. Entra com dezessete anos na Acade. tia de Platdo e ali fica vinte anos, abandonando-a por nio po- det suceder ao mestre; vai fimdar uma escola coneotrente, Liceu. Filésofo ¢ sébio universal, soube conciliar em si dvas tendéncias pouco conciliaveis: 0 espitito de observacao e oes, pirito de sistema, Antes de fundar o Li Macedénia, que mais tarde se distinguiu como um dos Tes génios militares e politicos de todos os tempos, com. ‘stando para a pequena Grécia todo 6 Oriente, desde 0 Egito atéa india, implica uina diversidade que nunca se cncontra unicamente na pritica da ‘mesino modo como nio nes dive do comando esti na cultura geral. Por meio + pentamento é posto em condigses de exercer-se, cor Oo essencial do acessério nas coisas, de perec- wentos € as interferSncias, 1, de elevar- We D eonjunto aparece sem o prj izes. No hd lustre capitio que nunca tenha tras de Al 2 neTRODUCIO 4 RETORICA Belo elogio da retérica. Retorica que Ari pensar de cabo a rabo, integrando-a de ini Sfico bem diferente daquele dos sofisias, ¢ mando-a em sistema, Uma nova definigio de retérica Texto 2~ Avistécees, Ret rol, cap. 2, 1355 arb € necessariamente por sua tt antes [euja causa € justa} sio di Sgnordncia merece, portanto, censura (2) ainds otados, Sua ': conguanto possuissemes a eléncia mais nS que no seria Facil persuadie fazendo us) dovem necessana- os em Toplces, & mente passar pelas noges comune, respoito das a urn audio popular. (3) Ademais. ¢ preciso ser eapaz de persuadir dos pros © dos contras, sto dialético. Nao para par os prés 88 cin pritica ~ pois ndo se deve coromper pela per- as para saber claramente quais $30 0s fatos ¢ para, de argumentos desonestos estar em con 8 de refuti-lo(..) (4) Alm disso, se € vergonhoso nao poder defender-se ‘com o préprio corpo, seria absurdo que no houvesse vergonha ‘em nio poder defenderse com a palavra, eyo uso é mais pro- prio ao homem que 0 de corpo, 6) Objetarse-i que a retérica pode ca il Claro, por fim, que iL quanro aquela, Claro também que ABISTOTELES, A BETORICAE A DIALETICA 23 sua fungéo nao é [somente] persuadir, mas ver 0 que cada caso. comporta de persuasivo. O mesmo se diga de todas as outras artes, pois tampouco cabe A medicina dar sade, porém fazer tudo o que for possivel para curaro doente Una definigéo mais modesta Nos mesmos traduzimos esse texto capital, utilizando @ tradugio de Médéric Dufour, a de Rhys Roberts, na edigdo in- aglesa, ¢ evidentemente o texto grego. Se compararmos esse trecho com o de Gérgias (texto 1), 108 nos dois casos que se trata de um elogio a retérica. lebra por seu poder, Arstoteles por sua utilidade. Ambos admitem (como IsScrates) que ela pode ser usada deso- nestamente (adikds), o que em nada subtraio seu valor. Entretanto, sc é que Gérgias e Aristoteles estio falando da 0 do argue mentagao pelo exemplo dé guinadas. O de Aristoteles, a0 con- tirio, & muito coeso; procede por silogismos implicites, ou imemas. Em summa, passa-se de uma arenga propagandisti- a, do tipo “voces vio ver 0 gue voces vao ver”, para uma argu menta¢io rigo E essa nova argum ‘mais profunda e sélidgada retérica, Para comecar, jé no apresenta camo poder de dortirtar, ler-se, o que logo de cara a torna legitima, Em seguida, 0s ergumentos contririos ao mau Uso so muito mais fortes, porque o explicam; é precisamente (agathon) que a retérica pode ser pervertida, assim como a forca, a satide, a riqueza. Com excegiio da virtu- de moral, todos os bens so relativos. Mas, enfim, nem por is50 deixam de ser bens, pois mais vale ser forte que fraco, sadio que doente... Do mesmo modo, é preferivel saber utilizar a for- ga do discurso, Em resumo, enquanto a defesa de Gorgias ou de Isberates, consistia em fazer da retérica um instrumento neutto, que 86 24 ENTRODUGAO 4 REFORICA he confere um valor positive, ainda ivez porque relativo. Voltemos, pois, sua definigo “corrigida” da retérica. Ela nao se reduz, diz ele, a0 poder de persuadir (subentendido: ninguém de coisa nenhuma); no ¢s- sencial, 62 arte de achar os meios de persuasdo que cada caso ‘comports, Em outras bom advogado nao & aquele que promete a vitéria a qualquer custo, mas aquele que abre Para a sua causa todas as probabilidades de vitér E aqui surge uma vez mais a personagem paradigmitica do iairds, do médico, Para Gorgias, ee estava submetido ao re- tor, pois dele dependia inteiramente, quer para convencer seu paciente, quer mesmo para ser nomeado, Em Platio, &, a0 con- io, 0 médico que faz papel ele gue sabe e pode

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