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Jos de Alencar: (meio sorriso no rosto) Ora, meu querido amigo, voc se
esqueceu de que eu usei a temtica indianista como tema de vrios dos meus
livros? Eu estudei o idioma tupi guarani a fundo para escrever Iracema.
Oswald de Andrade: verdade! Muito bem colocado! Essa foi uma grande
contribuio nossa literatura! Bem, voltemos ao nosso assunto antropofgico.
Jos de Alencar: (com cara de interrogao) Oswald, antes de continuar, digame: por que resolveu dar o nome de movimento antropofgico?
Oswald de Andrade: Era isso mesmo que eu ia explicar. (Deu um trago no
que ainda restava da aguardente, comeu dois pedacinhos de torresmo e fez
uma careta) Pensei nesse nome porque gostaria de fazer uma referncia aos
canibais que, segundo uma crena indgena, ao comerem os inimigos, os
ndios assimilariam suas qualidades.
Traando um paralelo: devoraramos a cultura e as letras estrangeiras e as
deglutiramos com caractersticas brasileiras. No formidvel?
Jos de Alencar: (falando rpido) Conte-me mais! Conte-me mais!
Oswald de Andrade: Tinha certeza de que ficaria interessado nesse assunto!
Pois bem Como voc sabe, gosto do novo, do subversivo, do que faz
chocar... isso me atrai. Quando descobri as vanguardas europeias nossa,
fiquei brio! (muito animado, falando alto) Eram ideias muito diferentes das que
eu estava acostumado! E veja bem, meu prezado amigo, essa ideologia no
estava somente na literatura, mas tambm na pintura, escultura nas artes,
em geral.
Jos de Alencar: (exaltado) Estou quase me tornando um modernista!!!
Continue! Continue!
Oswald de Andrade: Essas ideias ficaram em minha cabea e resolvi traz-las
ao Brasil. Eu queria uma renovao nas artes literrias, por isso comecei a
escrever meus poemas de uma maneira diferente: anarquizando as normas
gramaticais, escrevendo sem rima, sem mtrica; buscando uma verdadeira
lngua portuguesa, aquela falada pelo povo, com seus erros. Queria algo
verdadeiramente brasileiro, que fosse genuno, que valorizasse as nossas
origens.
Jos de Alencar: Temos algo em comum, meu querido!