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BIBLIOTECA ALFA-OMEGA DE CIENCIAS SOCIAIS Sérle 18 — Volume 2 POLITICA DIREGKO Pinheiro ‘amzing SP) fOAIA 00 Brat ESSOR MARC UL ADD FEXIO PAL by 2¢ (iéneias Humanas id | Origom osoarses effi. OCH ie - | VICTOR NUNES LEAL ~ CORONELISMO, ENXADA E VOTO (O Municipio € o Regime Representative no Brasil). i PREFACIO Barbosa Lima Sobrinho 5 edigaio gh J 3 Soe AN eG 1 we EDITORA ALFA.OMEGA \ Séo Paulo 1985 cCONTEDDO ‘Sobre © Autor Prefacio CAPETULO PRIMEIRO Indieaedes sobre a Estrutura e © Proceso do “Coronellsmo” I — Polavras introdutérias. 11 — a propriedade da terra entre 0s fatores da lideranca politica local. 111 — Concentsacio ls propriedade fundidria rural, IV. Alguns aspectos da composicio das classes na sociedade rural. V ~~ Despesas eletorais. Melhoramentos locals. VI'-- Favores e. pes sequivdes. Desorganizagio do sorvigo piiblico local ‘VIE Sistema de compromisso com o governo estadual. Gover. snismo do leltorado do interior. VII — A tutonomia ru Blelpal ¢ 0 “coronelismo". Ix — Fragmentagao da hege, ‘monia social dos donos de terras . CAPETULO SEGUNDO Atribuigées Munieipais 1— Concsito quantitative, I — Apogeu das cémaras colo. nlais. IIx — Roagio da Coros. Fortalecimenta do, poder real apés a trasladagiio “da Corte, IV — A lel de 1038, Kerio cnet®, ficional © a reagSo centralizadomm VIO AtribulgSes municipais no regime de 1891, VII — A fase 0 Governo Provisdrio de 1900. VITT — A Constituicio de 1884 © os dopartamentos de munleipalidades. 1X — Sul malssie do municipio no regime do 1937, ~~ Constitulghe Se 1946: assisténcia técnica aos municipios = fiscalissea0 Go suas finances. XI — Intervengio do Estado na order gcondmica: seu refiexo sobre as atribulges dos municiplor XI — Municipalismo e federalismo . CAPITULO THRCEIRO Eletividade da Administeago Munteipal Bletividade das ctmaras miuniclpals no perfodo colonial. X= No Império ¢ na Reptbliea, 11 — do exe: gativo runicipal no Brasil, IV — Prefeltos elelives ® pro. feltos de livre nomengio no rogime de 1891. V —~ Discunlio xt xu 19 Meoigbiema ra Constituinte do essai vr — ‘uci ne olegades Constiulco ae Tous var OF jails de eee munlcinas a Repabica. vr © fucleleio 6 erecutivo munisipat eda forma ie tut inet pot cAPrruzo quanto Recelts Municipat 7 ts Momeas manteipals mm pesfodo colonial 12. Escas A locrinmndts inicio. we provinclas no tinddrig, ES feta minagio trbutasia ‘na Constants eae HE — neta feelne de 91. VO este ei Sho Peanttgle de 133. Vi “= Troposta a eatepreleto es Teen, WE Propostas de nes hye ees, Fito. ictal, Propecia do Prato Belor® Fema eb opeiads Dela Consttugto de 1694 Se Noa 8 dos: geetats PO revimo de 193%; s impressinane eee mungsipaeiee brastnirs, Xr Q" aurea, PObTezA capliapacs Gm Consttulcks Ge. iose. Serr cts Feneas irr 8282, G0 Rosso stunt’ “onternecimento mien Munteipior “08 Poltcos ca dopendancls GatmICDAasts”. Municipios - : CAPITULO QumNTO Organizasio Pollciat © Judiciéria 7 At & Constituleto de 1824. 11 — No império. Tt — Orga. izagéo ‘na Repiiblica, IV Oy judicid. Nas Constttuigses de 1934, 1937 ia no regime de Tigi. Wy — oD Guakde Nogttt VE — O poder privadn as ontota ot © 8 Guarda Nacional, Vit — Pilavras tines mon CAPITULO smxr0 Lepisiagio Eleitoral 7 ~ situates eleltorts do 1821, 22, 24 6 42. A tel dos Cr. Hal Santis hues Let dos Circus. A eit gels, perio TE Juao de conjunto sobre na eer ee! Recs e Riva, 9 /Regutamento Alvi fr ‘seo ao cig, A Let Bueno de Palva Jaa da todo Meet rae Se tots Pheira Repblien HE “og mn Pobre igs te Maze L08 IV A Lal Aenmemoon oe, et oe ate AME Y — A talldade es cies 8, ast © 0 “coronelismo” we . CAPITULO serio Consideragdes Finals STR, & consequénsins do “eoroneismo” O bem e 0 mal, que os chefes locais estio em condigées do fazer sos seus jurisdicionados, no poderiam assumit as proporgses habituais sem o apoio da situagéo politica esta dual para uma ¢ outra coisa. Em primeiro lugar, grande Copia de favores pessoais depende fundamentalmente, quan do nao exclusivamente, das autoridades estaduais. Com o che. fe local — quando amigo — ¢ que se entende 0 governo do Estado em tudo quanto respeite aos interesses do munici. pio. “ Os préprios funcionérios estaduais, que servern no Iu. Bar, so escothidos por sua indicagio. Professoras primaries, coletor, funciondrios da coletoria, serventuarios da. justiga, Promotor puibiico, inspetores do ensino primario, servidores Ga satide publica etc., para tantos cargos a indicacio ou apro- vacdo do chefe local costuma ser de praxe. Mesmo quando 0 governo estadual tem candidatos préprios, evita nomed-los, Gesde que venha isso a representar quebra de prestigio do chefe politico do municipio. Se algum funciondrio estadual entra:em choque com este, a maneira mais conveniente de solver 0 impasse é remové-lo, is vezes com melhoria de situs, $40, se for necessério. “A influéncia do chefe local nas nomea, 62s atinge os proprios cargos federais, como coletor, agente Go correio, inspetor de ensino secundério e comercial ete. ¢ Os cargos das autarquias (cujos quadros de pessoal tém sido muito ampliados), porque também € praxe do governo da Unido, em sta politica de compromisso com a situacdo os. fadual, aceitar indicacbes e pedidos dos chefes politicos nos 44 A lista dos favores nfo se esgota com os de ordem pes soal. sabido que os servicos piiblicos do interior sao de ficient{ssimos, porque as municipalidades nio dispéem de Tecursos para muitas de suas necessidades. Sem 0 auxilio finaneeiro do Estado, dificilmente poderiam empreender as obras mais necessérias, como estradas, pontes, eseolas, hos. pitais, gua, esgolos, energia eldtrica. 'Nenhum administra. or municipal poderia manter por muito tempo a lideran- ca sem realizar qualquer beneficio para sua comuna. Os proprios fazendeiros, que carecern de estradas para escoa. mento de seus prodiitos ¢ de assisténcia médica, ao menos rudimentar, pare seus empregados, acabariam por Ihe re- cusar apoio eleitoral. 0 Estado — que, por sua vez, dispée de parcos recursos, insuficientes para os servigos que Ihe in- cumbem — tem de dosar cuidadosamente esses favores de utilidade ptiblica. 0 critério mais légico, sobretudo por suas conseqiiéncias eleitorais, é dar preferéneia aos municipios cujos governos estejam nas méos dos amigos.[E, pois, a fragueza financeira dos municipios um fator qué contribui, relevantemente, para manter o “coronelismo”, na sua expres. so governista.*) + Em regra — dizia o Deputado Raul Fernandes, em 1934, na Assembiéia Constituinte — 0 vereador municipal é governista. SO asin fle obtém para o seu municipio as pontes, as estradas, as escolas que © Governo dé, de preferéncis, ao seu partido e este aos seus corre. ligiondrios. "0 do ut des-honesto, se quiserem, porgue em prove! to do povo. Excepeionalmente, os conselhos miunleipals.si0 oposiclo nistas..." —— Depois de lembrar que um telegramacireular dos” zoucos -chefes poilticos de Minas, que nomeou, poderia reunir, em vine e qualia horas, a unanimidade dos conselheiros municipais do Estado (mais de mil) “a favor de uma idéia, ou de um candidato”, advertiu que omestno. fondmeno se produziria em qualquer outro Estado: *Poucos leaders, em cada um, dispdem da totalidade das Camaras Munleipais, que todas se clegem partidarlamente © obedecem a uma disciplina” (Anais, ‘vol. XE, pag. 240). '# muito expressivo 9 seguinte trectio de um boletim distribuldo nas titimas eleigdes municipais em Minas: “A Unido Demoeratica Na clonal tem prazer de levar 20 conhecimento do pave deste municipio Gue o Diretério municipal... esta, atualmente,-compesto das pessoas ue assinam este Boletim... Hssas pessoas esto a0 lado do governo. Multos desses braves companheiros foram nossos-adversdrios de Ontem, mss... resolveram apolar 0 governo que, em menos de seis ‘meses, criou mals de vinte escolas neste municipio, enquanto 0 Pre, feito caido em 19 de janeiro, representante do partido de oposigho, criou apenas 17 escolas, em sete anos..." Dignse, de passagem, que no musilefplo referido o BSD, como Partido goverista, venceu as eleigdes de 19 de janciro de 1947 por 1050 votos de matoria; © a UDN, em coligaco com o PR, como novos 45 < 8 2 Inst E cigNciAs soci O,apolo oficial revelase ainda preciosa no capitulo ‘as lespesas eleitorais, que os chefes locais nao podein custens Seuahos, embora muitos so sacrifiquem no’ cumprimene esse, dever. Por isso, ¢ de pruxe: que os candidatos tembay fnamgouam, assumindo, alguns, pesacas responsabilidadcs financeiras para disputar a cadvira desejada. Mas, como 6 Taig, S80 08 cofres publicos que costumam sovoren oo SergiGatos © os chetes locais fovernistas nessu amgstions nme eenela. Os auxilios séo dados, algumas veses cn ae nhelro de contado, ou pelo pagamento dirt ke servicos @ contades. Cutras vezes, 0. auxilio. & indiveto, arene ns mma boa parte, em época de eleigio, dest i unicipais no Brasil, este ocupseoree E Unidon ety RE de destaaue, O Balad ©, evonteaurnee Febade ees, enteaes nutaraicas tamtimn conte ib com fundos ou servicos, para uso exchenge, ~~ dos candidatos governistas, Forides governistar venceram as elsigdes rmnicipas, quo tos ie peat rots. Potato, de ume puss oes tte Seem, kp nai & Apo, di lunch ‘stadunl,amaean oe, betiae das Conia liad or aqua reprtst, soho fe Neca: 48 Contes unialal, és expecends i ey, He Sen REE 2 ARM aan csereveu Orlando ME trey « pre are g anADIRS no "Bra de enter, cas ag a me 88 Brvorian do Gores do Eotado pata sans deopose ett Ee giuoo eat imuhr 0 sareinniy dole Rio ew Go eagtbtso a ronda pubs pare mentee st es Tudo isso se inelui na categoria do “bem” que os chefes locals podem praticar, quando dispoem do governo mimic pal © estio aliados ao 'gaverno esiadwal For outro lado, aquele que pode fazer 0 bem se tora mais poderoso, quando esté em condighes de fazer 0 mal 2a © apoio do oficialismo estadual ao chefe do munietpio, sola por 2620, seja por omissdo, lem a maxima iinporticnig Neste capitulo, assumem relevo especial as figuras do dele gado © do subdelegado de policia. | A nomeagio dessas oe foridades ¢ de sumo interesse para a situagio dominante my Trunieipio constitul uma das mais valiosas prestagces Go Fataglo na acordo politico com os chetes locais.| Embarager Ou. attapalhar neyécios ou iniciativas da oposigio, fechar oe olhos & perseguicio dos inimigos politicos, negur favors. {esatear direitos ao adversério — sto modalidades diveceas GB contribuigso do governo estadual & consolidagdo do prow tio de seus corzeligionérios no municipio. Mas nada dies, Jane Teste, se compara a esse trunfo decisivo: por a polink, do Estado sob as ordens do chefe situaeionista local gum Certas circunstineias, as ameagas e violéncias de- sox ponham funcao primordial, porque semethantes proces weap pedeny Por vezes, garantir o governo municipal’ hoon, Zente local menos prestigiada. Mas a regra no é estm a Tegra € © recurso simultaneo ao favor e ao porrete. Compresmiene os tas 2? asl — dis. Vivaldi Moreira — 6: delepado pra id © votos pra ed” (Folha de Minas de 257 ean a lg fol atrado a0 autor, 0 Sr. Luls Martins Soares, recente. de ter curiae ane ae ina ala dissidente do PSD minelty aie dente "ig onga exposicto ao St. Virgtio'do Melo fan, SPO simples iueto exiadusl da UDN responded —° sn*yyaaneg, Pst simples. © due voce quar 6 deputado, © que eu quero deste nian ge BOIBE ave & nomeasio de tunciondslos polish’ triores prdns 46 Policia, inspetores do quarteitio) compte sere Preaieaattesedos, os uate’ cotumam enizlos em. geerde toe ‘Peestindo, assis, de autoridade publion aitéaticos “eke seh 47 isso perfeitamente, quando se considera que a situagio do- minante no Estado 0 que interessa é consolidarse com 0 Tninimo de violéncia. A nio ser um desequilibrado, ninguém pratica 0 mal pelo mal: em polities, principalmente, recor. Zee & violéncia, quando outros processos sio mals morosos, £2 ineticazes, para o fim visado. Por isso mesmo, freqiien, temente, o oficialismo estadual apsia a corrente que ja con. 7@fulu posieéo preponderante no muniejpio.*" Outras vezes, forea acordos, com partilha das vantagens, Em virtude des, Ses entendimentos — tréguas menos ou mais prolongadas siaNte palayras de Domingos Velasco, “os govesnantes o fepols gue os detettos do presicenciisd side Se abt Testa {nstitulcho da politica dos governaores, seme wre a oe Poltca ‘dese apoinrem nos’ ches municipal ieee uence aie ake nen tae’ Qa ure formas faham hg nee Ean Fa us 0g, ora tin int ek pa OTH AE poltins muniipas, conservandows sisee re FecydianterreaGoes com todas a Tncges'e das weskeresy et false epg! BS utnas. # por isso quo se dou o fondue) wat lelro de eleigdes estaduais e federais fraudulentas e eleigties Tunica ening e verdacklras” (Anais, 1094 val L Pags: Sag mee GrProprlo autor do dnoleto eta ann amen 0 lad tem. mpi {fuande toe 6 tomar aa violencia cons anh a as amente, het eral: "en compensa cgi 0 ever Boca Manlctpiog, mas também para evtarem a ilerietea ae ee cas municipais se digladiam com édio mortal, mas comumen- te cada uma delas 0 que pretende 6 obter as preferéncias do governo do Estado; nao se batem para derrotar o governo no territério do muniefpio, a fim de fortalecer a posicao de um ‘partido estadual ou nacional néo-governista: batemse para disputar, entre si, 0 privilégio de apoinr 0 governo e nele se amparar. Na palavra autorizada de Basilio de Magelhies, qliando “nos municipios surgem facgdes, de ordindrio em aci rada pugna umas com as outras, todas conclamam desde 1ogo, chocalhantemente, 0 mais incondicional apoio ao situacionis. mo estadual”.* © maior mal que pode acontecer a um chefe politico municipal é ter 0 governo do Estado como adversario. Por isso, busca o seu apoio ardorosamente. As eleigies municipais constituem pelejas tio aguerridas em nosso pals, justamente porque é pela comprovacao de possuir a maioria do eleitorado no municipio que qualquer facgio local mais se credencia as preferéncias da situagio estadual. A esta, como jé notamos,(o que mais interessa é ter nas_elictes estaduais ¢ federais, que sé seguirem, maior mimero de votos, com menor dispéndio de favores e mais moderado emprego da_violéncia\ Apoiar a corrente local majoritdria , pois, 0 meio mais seguro de obter esse resultado, inclusive porque 8 posse do governo municipal representa, para ela e pura 0 governo estadual, um fator positivo nas eleigGes, balanga em que tanto pesam 0 dinheito ptiblico e os beneficios de pro- cedéncia oficial. [A esséncia, portanto, do compromisso & Q Mun. em M. Ger, pig. 10. O livro do Sr. Cromwell Barbosa de Garvaiho, publicado em’1821 (Munfefplo versus Estado), reflete maui. to sintomaticamente o panorama das iutas politicas munieipais © Suas relagdes com 0 governo estadual. Essa obra se octipa, com generalize. 960s doutrindrias, de uma acirrada disputa pela posse ca scminstre. (940 de Caxias (Maranho), na qual se envolveu o autor, membro pres. inente de uma das corréntes conflitantes, ambas chefiadas por “co. Tonéis", nfo sabemos se auténtions titulares dessa patente, i curioso observar que o Sr. Cromwell Barbosa de Carvalho, militants da palfti ocai, sustenta vigorosamente, como o indica a epigrate do livre diver. as Testrigdes & ‘autonomia dos munieiplos, inclusive legitimdade da nomeagio dos prefeitos, que, considera representantes, 30, méstro tempo, “da comuna e do Estado” (pag. 88). ‘Essas restrigdes, no caso, viriam beneficiar sua corrente partidaris, segundo se depreende eh Condicto do autor (promotor publico da comarca), da ctreunstanca ce ter sido o livro impresso nas oficinas governamentais © da maneiva glogiosa cheia de respeito com que se refere a0 governo do Esiado, Non IX deste mesmo capitulo, tratamos, mals extensamente, doin teresse que tem, freqilentement’, o amesquinhamento do munieipi> Para uma, pelo menos, das corrontes locals, quase sempre irredutiveis. 49 “eoroneliste” — ages especiais que nao constituem regra'— con. Seguinte: da parte dos chefes do oficialismo nas da parte da situacio es chefe local governista (de prefe! majoritéria) em todos os ass inclusive na nomeagio de fur locais, incondicional igdes estaduais e tabranea ao réncia 0 lider da faego local untos relativos 20. mi inciondrios estaduais apoio aos candidatos © evidente que tem sido ‘menos. visiv ‘blema do mn 0 10, problema do municipslism Guase soberanas Munlefpios do Estado lnumnas provinelas ou Estados 9 procésso Outros. “Isso néo impede, pordn, spresente, em tormnos 6 weamos. Comegando nas certo periodo colonial termatiandy ies [ tntretanto, no lado da talta de autonomte teyat, a que altidimos, os chefes municipais governistas sempre gosarten ae uma ample autonomia extralegal] im regra, & sua op: nifio Brevalece nos conselhos do governo em tudo quanto respeite no munfeipio, mesmo em assuntos que sa de cons peténcia privativa do Estado ou da Unitio, como soja a nee meagio de certos funcionérios, entre os quais o delegato ¢ os coletores.[16 justamente nessa autonomia extralegal oe consisie a earta-branca qe © governo estadual oulorga nos correligionarios locats, em cumprimento da sua prestagio no compromisso tipico do “coronelismo”.] % ainda em virtude dessa carta-branca ‘que as autoridaded estaduais dio 0 sou coneurso ou fecham os olhos a quase todos os atos do chefs “local governista, inclusive @ violéncias e oulras avbitede, dades. Opera-se, pois, uma curiosa inversio no exercicio da auto- omia local. Se garantida juridicamente contra as intromic, s0es do poder estadual ¢ assentada em solida base financelra, @ autonomia do municipio seria naturalmente exercids, no Zegime representativo, pela maforia do cleitorado, através de sets mandatarios “nomeados nas urnas. Mas coms autonomia legal cerceada por diversas formas, 6 exercicio de uma autonomia extralegal fica dependendo injeiramente das concessbes do governo estadual. J4 nio seré um direito da maioria do eleitorado; seré uma didiva do poder. E wma doacdo-ou delegecio dessa ordem beneficiard necessaria: mente aos amigos do situacionismo estadual, que porventura estejam com a direcao administrativa do municipio. Quando. {or este 0 caso, 0 municipio pode ter até relativa ‘prosperi. dade, inclusive através da realizagéo dos servigos piblicos locais mais importantes] Se ocorre estar no governo muni, cipal uma corrente politica desvinculada dn situagdo esta. ual, 6 claro que nfo the seré outorgada a autonomia extra, {f88! gue receberia, se partilhasse das suas preferénclas po. Iiticas. ‘Terd, portanto, de se mover estritamente dentro dos mirrados quadros de sus autonomia legal, quo sé tem dic. Posto de uma receita publica-insuficiente ‘para atender aoc €xcargos locais mais elementares. lém disso, as atzibulgdes privativas do Estado referentes ao municipio (especialmente Homeagdes) passardo a ser exercidas, no de acordo como governo municipal oposicionista, mas segundo as indieagses a oposigcio muntefpal governista, Fica, assim, ao inte. 51 critério do governo estadual respeitar, ou néio, as preferéncias da maioria do eleitorado local, no qué entende com os as- suntos do seu peculiar interesse, Dentro deste quadro, 0 éxito de uma parcialidade nas eleigées municipais seré'uma vitoria de Pirro, a nic ser due ela jé seja, ou venha a tornar-se aliada da’‘situagio es fadual. Por virtude dessa completa inversio de papeis, 6 evidente que, em regra, os candidatos aos cargos municipais sutragados pela maloria do eleitorado néo resultam de uma selegéo spontanea, mas de uma escolha mais ou menos forgada| Se os candidatos ao governo municipal, que forem apoiados ‘pelo governo estadual, sio os que tém matores gportunidades de fazer uma administragéo proveitosa, esse fato J predispoe decisivamente grande mimero de eleitores em favor do partido local governista. Em tais cizcunstan ¢iss, mesmo as eleicées munfeipais mais livres ¢ regulares funcionarao, freqitentemente, como simples chancela de Prévias nomeagoes governamentais. Auténtica mistificagao do regime representative} © argumento, muito usado, de que a autonomia local favorece as. administrages perdulérias ou corruptas, pela impossibilidade de um controle do alto, é geralmente do. cumentado ‘com a experiéncia do regime de $1 na maior parte dos Estados. Mas, se o Estado, no regime de 91, dis Punha de completa ascendencia politica sobre os chefes locais, por que nao a exercia no sentido de moralizar a admi, nistra¢ao municipal? Por que sé a utilizava para impor pelos go. Nernos dos Estados nas eleigdes estaduais e federais. Alem isso, nio thes caberia qualquer direta responsabilidade pelos 52 € g6es, que corriam por conta e risco dos prdprios Su See ea iss BOBS se cy Goa alt pat inkl e e do poder executive — a0 qual cabe a chefia ca, pltcn stadt em relapao acs muntipes yeroce salifatoriamente explicivel, através do mecanismo que des- grevemos, o mesmo néo acontece com a atitude dos lisa dores estadusis, no votarem as leis de organizapio municipal, que favoreciam tamanba inversio do sistema representativo. Em sus maloria, homens do interior, chefes politins mu nicipais, como explicar que consentissem na mistificagio das preferéncias do eleitorado local, forgado a ponder quase Sempre para o lado governista m conseqtiéncia do ames- quinhamento do municipio? © motivo primirio seria cer- tamente o receio de nfo serem reincluidos na chapa oficial fe, portanto, de perderem a chance de voltar ao Congreso do Estado, ou algar até ao Congresso da Republica, Excluidos da chapa do governo, 0 sistema de sompromisso “corone lista’, que analisamos, contibuiria para derrotélos em seus proprios municipios, Mas, afora esse motivo poltico, muito ponderdvel (pois o governo,-além_do.conformismo do eleitorado ista”, ainda se valia da fraude e da coagao para Veneer nas unas), havetia Oubra razdo mais profunda. ‘A primeira observacao_de quem esttids.o “coronelismio” 6, naturale _acertadamente,..atribui-lo. & hegemonia social” “ do dono de terras.(Mas 6 preciso entender essa hegemonia apenas ei relagio aos dependentes da sua propriedade, q ° constituem o seu mago de vofos de cabresto, Nao é possivel compréender éssa hegemonia em Telacdo a todo 0 municipio. mnicipio divide-se em Sane Vitae trate a SP ao mesmo tempo chefe politico municipal; e eada um dos dis- tritos rurais se compée de diversas fazendas."' Esta frag- 372 3) 8 (Quadro dos Tip tem, he ey ch Sais ine aa a a at homme Sao 2 oar meta ih, scien cand sae eS SBD Gna ea ee mencionada. 53 | \ rel ginny ie en ne «prose empobrecimento dos Proprietérios, e ainda por efeito do vise sy oy ig RS dee ts met spn Seah eGo i a Btn ete fants ae Hench outta ee Ene Bence Siege aie Keene vera a Sf, aah 0G Ge 8 rae OE 8 eo rs ate favorivels @ disper dos bons ail a sto eee eee ‘lzagio aos senhores do ecorards® (vole oka asee en nde Goserra Sires Viana gun a extnesg Ue ott (183) obede. fu a0; Bopéalt: do evita qu a cones tege arg (28) shade fevorosido pela atmintrado"uniinds det anced ean, age comsllarem mos plead, gras afc, nkrbusse Hoo" suas propos Palas: Grae, ce Beat sociale po tino, gue justifenesca imeidn € gpa ety 7g" e © moto tra derosn astocraca hovel i Chat Mega ore Jabra eros sepatca ok Ste eis is pe anaes uae ene fescue tia tuo te edie abn ilar iggy, a pe ile at ea case ee Feria cima sels at oo Pong ny uae Air" Glistoria do Brasil, pags. 2454) radon g Rlavras de Pecro Calmon, a jel de 6-10-1835, que extinguhu mor. Eisos ecapelas, fol "um golpe vibrado na. velha’ fobress feos ‘m nome do-Dirdito Civil" GTistéria dn Brasil, £° vol, pég. 260 pote 54 seria incontestavel naguela circunserigéio, 0 mesmo ocorrendo fem relagao a todo o,municfpio, quando fosse o caso. Haven. do, porém, como é a regra, varios fazendeiros em cada dis- trito e miimero bem maior em cada municipio, seria natural que, espontaneamente, se agrupassem em mais de uma cor rento partidiria, atendendo aos diversos fatores que determi. nam as ligagdes'politicas municipais. O agrupamento dos fa. zendeiros do distrito, em torno de um deles, e 0 dos chefes distritais, ao redor do chefe municipal — exclufda a influén- cia governamental de que adiante falaremos —, explicarn-se por diversas razbes: por motivos de ordem pessoal (maior vocagio, capacidade ou habilidade); pela tradico (perma- néncia da chefia na mesma familia); pela situagao econbmica (propriedades mais ricas, com maior nuimero de eleitores, ou maiores disponibilidades para gastos eloitorais) ete. Desa variabilidade dos motivos de ligacdo partiddria, resultaria um equilibrio muito instvel para as forgas politicas locais, que se agravaria pela comum vacilagao do eleitorado urbano, menos submisso e, portanto, de manifestacio mais dificil- mente previsivel. Que sucederia, nessas condigées, se a sorte da chefia politica do municipio dependesse exclusivamente do eleitorado, isto é, dos cabos eleitorais urbanos e de cada um dos diversos fazendeiros dos distritos? Cada elei¢io, com toda probabilidade, seria uma batalha incerta, ou pelo menos muito ‘custosa. Qs riscos do pleito aumentariam conside- Tavelmente, prevalecendo-no combate.os.chefes que tivessem, de fato, maior capacidade pessoal-de lideranga.- Mas, como. - as-chefias-locais-so-muitas.vezes. adquiridas_pefo acaso do iageimento, do_matrimOnio ow dé alguma amizade_prote. “= tora, em todos esses casos, falta 9 chefe quali- dades positivas de lider sorte politics estaria por lim fio em cada novo pleito’ que’ se travasse. © que impedé que o panorama politico municipal se apresente por toda parte do modo por que aqui o imagina- ‘mos 6 justamente a forca aglutinadora do governo, aumen- tada na razio direta do amesquinhamento do miunicfpio, O. -Poder-de-coesiio.do_governo livra_os pleitos.municipais de Brande parte dos riscos apontados, porque predispée 0 clei- torado-em-favor-dos candidatos governistas. Isso exp! licaria, talves, a atitude dos proprios legisladores estaduais, que | | i f Geixavam de utilizar seus poderes constitucionais para vita- lear a organizacio municipal e, assim, contribuir para liber. tar o seu eleitorado da influéncia absorvente que sobre ele exerce 0 governo através dos chefes locais e dos “corondis” 55

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