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ey coon A REVOLUCAO INGLESA DE 1640 + 4 Eat § lori Prseaga « Liraia Maiting Fetes ort Eni ~ ante INDICE Pretécto 4. Introdusso 2. Funda Reonémico da Revolugio Inglesa A tome b) A indtstea © 0 eoméreto 8. mmdo pottico da Revetusto Inglsa ©) A thonakquta Tudor a b) A resistincla soe Stuarts. 4A Revolusto. u a 5s 8 ~ sito ontginal {THE ENGLISH REVOLUTION 1600 “© Copyright by Lawrence & Wishart Lia, Londres ‘Revervados todos ov diritoy pare « gua portage EDITORIAL PRESENGA, Las, - Ros Augusto Gl, 95-8 LISBOA PREFACIO ‘A teresira edigdo deste ensaio, publicado pela primeira vex em 1940, sofrex algumas pequenas alteragies. Seriam necessirios uma revisZo © um desenvolvimento mais substanciais para que pudessem ser ineorporados os resul- tados de recentes trabalhos sobre 0 perfodo, em particular 0 de Maurice, Dobb, om Séudies in the Development of Capitaliom, Entretanto, ste ensaio deve ficar como uma rimeira apro- ximagio, com todas as suas imperfeigies © simplificegSes, Para um testemumho de tipo documental de algumas das minhas generali- agfas, 0 leitor poder reportar-se a The Good Old Cause, publicado por Lavrence and Wishart em 1949 Poderd ser Stil empreondor aqui a definigéo de dois termos, que parece terem suscitado alguns equivecos, "Umm tratamento mate xecents © completo do ‘assunto art ineaigo em The Gontury of Roveiktion, 4605-1244, de Christoph HL, wn volume dy Weleow's story 0f Brgland, Utilizo a palavra foudat no sentido marxista, @ nfo no sentido mals restrito adoptado por alguns historiadores seadémicos com o fim de descrevorem relagées estritamente militares © legais. Por entendo uma forma de sociedade na qual a agricultura 6 a base a economia © 0 poder politico constitu © ‘monopélio de uma classe de proprictérios de terras. A massa da populagio consiste em cam- oneses dependentes que vivem do produto das terras arrendadas pela familia. Os proprietérios as terras so sustentados pela renda paga pelos eamponeses, sob a forma de viveres ou e trabalho, nos primelros tempos, ou (por volta do sSeulo XVI) em dinheiro. Nessa so- cledade existe igualmente @ poquena produ: artesanal, » troca de produtos e 0 camércio ‘interno com o exterior; porém, o comércio a inditstria estiio subordinados aos proprie- tirios de terras © ao sou Estado, bem como & expoliagio por parte deles. O capital mer ‘cantit pode desenvolver-se dentro do feudalismo sem que 6 modo de produgio seja alterado. A ameaga velha classe domirfante © ao seu Estado surge apenas com o desenvolvimento do modo de produgio capitalists na agricultura na indtistia, A palavra progressivo, tal como utilizada neste ensaio, nfo implica necessariamente apro- vagio moral. Significa, simplesmente, que a tendéncia ou grupo social assim descritos eon- ‘tribufram para a expansio da riqueza da comu- ' | nidade, A agriculture epfogressivas (Isto 6, ‘eapitalista) dos sévulos XVI © XVIT condusiu expropriagdo de inimeros peqtienos campo- nneses;'a riqueza produaida pelos novos métodos concentrouse nas mios de um pequeno grupo de exploradores; a comunidade de aldela foi destruida. Néo obstante, produzia-se mais ri queza: a alternativa teria sido a estagnacio coonémica ou a retrogressiio. A Hspanha dos séculos XVIII e XIX mostra 0 que é que esse estagnagio teria significado pars a vida politics fe cultural da comumidade, A longo prazo, a eriago de uma nova riqueza, oom 2 ascensio do capitalismo em Inglaterra, abriu 2 possibi- lidade de uma distribuigéo mais equitativa em novos moldes, tal como os horrores da revo- Ingo industrial, no s6sulo XIX, erlaram a base econémica para uma transigéo para o socia- ismo. Assim, se hem que esteja longe de aprovars incondicionalmente qualquer tendén~ cia que rotnle de eprogressivas, no s6ealo XVI, ion a sugestio de que essa tendéncin ora dus aiternativas entdo possiveie (porque desenvol- veu a rigueza nacional), ¢ que, sem ela, a evolugo para uma sociedade melhor teria sido impossivel. Nao precisamoos de idealizar a efeliz Inglaterras para compreender que muito se perdeu com a ruptura da aldeia medieval; mas 8 sua relativa igualdade e espirito comunal ‘tinham andado a par com uma pobreza opres- siva para a massa da populagio, e, seja como for, foram condenados pelo sécalo XVI. A igual- s Gade © um espirito comunsl, combinados com tum nivel de vida razodvel e cresoante, #6 podem ser aleangados depois de o capitalismo ter cums prido a sua tarefa histérica de langar » base industrial para uma sociedade socialists, Assim, hoje, podemos por fim vislumbrar o caminko pera a realizago dos sonhos alimentados pelos Levellers e os Diggers, em 1648. Christopher EAL Margo de 1966, ~ 4, INTRODUGAO © objecto deste ensaio sugerir uma inter- pretagio dos acontecimentos do sécwlo XVII que nada tem a ver com aquela habitualmente proposta nes esvolas, Resumindo, esta inter~ pretagéo considera que a Revolugio Inglesa Ae 1640-60 foi um grande movimento social, como 2 Revolugso Francesa de 1789. O poder Ge Hstado que protegia uma velha ordem essen. cislmente feudal foi derrubedo, passando © poder para as méos de uma nova classe, © ‘tornando-se possivel o livre desenvoivimento do capitalismo. A Guerra Civil fot uma guerra 4e classe, em que o despotismo de Carlos I foi defendido por forgas reaccionsrias da Tgreja vvigente © dos proprietirios de terras conser- vadores. Parlamento venceu o Rei porque péde apelar para 0 apolo entusléstico das elas- ses mercantis @ industriais na cidade © no ‘campo, para om pequenos proprietérios rurais © a pequetia nobreze progressiva e para massas mais vastas da populagéo, sempre que, pela a | | | i livre discussio, estas se tornavam eapazes dé compreender as causas reais da lute, A sequéa- ia deste ensaio titaré provar e dlustrar estas ‘gencralizagbes, ‘A atitude ortodoxa tomada para com a revolugio do século XVII 6 erénea porque niio procura ir além da superficie, porque eon- sidera og actores da revolugéo segundo o se valor facial e pressupée que melhor maneira de exeontrar rezSes para a luta era tomer em consideragio o que os lenders disiam sobre essas raxies, ‘Todos nés sabemos que ai- ante o século XVI a Inglaterra passou por ‘uma revolugao polities profunda. Toda a gente ouviu falar de Oliver Cromwell dos seus Cabepas, Redondas, do rei Carlos © dos seus Cavatciros, ¢ todos sabemos que a eabeca de um rei de Inglaterra foi decepada. Mas por- que accijtocen tudo isso? Quais a causas? "Tork lea significado pore ns, aoa mente? Normaimente, og livros nid ofereoem uma resposta satisfatéria «estas questies, O der ramamento de sangue e a violxcia que acom- panharam a revolugio sio tidos Gomo inci‘entes Inmentiveis, j4 que os ingleses, a carta altura, desoaram & permiclosa prétice continental de * Cavatiers, partiagsios do Canloa 1 nas tutes Gusto contra 0) Paslamento, Opaeto a Rewdhonde (Cebecas Radondae), (N. 7), Iutarem entre si por causa da poltion, Mas foram apenas os erros cometidos que fizeram com que se mlograssem as oportunidades para uum compromiaso britfnico: que bom que 6 sugerem og livres, sermos hoje muito mais senaatos © sensivelst Assim, nunca nos aio razdes que possam parccer-nos suficientes para justifiear a devogio © of sacrificios dos nossos fantepassados nas suas lute. ‘A explicagio da revolugéo, do séeulo XVII mais comum, a que fol spresetada (pelos leaders do Parlamento em 1640, nas suas decla- ragies de propaganda o apelos ao povo. I tem sido repetida, desde af, com pormenores ¢ enfei- ‘tas adicionais, pelos historiadores Whigs ¢ Li- borais. ste ‘explicagio diz que os exéritos parlamentares Intavam pela iberdade do indi- ‘yiduo © pelos sous direitos, consagrados na lei contra um Govero tirdnico que o langave para 2 prisdo sem processo Juridica, o tibutava. sem © seu consentimento, aquartelave soldados na sua casa, The sequeava os bens e procurava estrair as suas estimadas instituigbes. parla- mentares, Ora, tude isto 6 verdade, por agora. Os Stuarts procuravam realmente impedir 0 povo de se reunir e de participar de discusséss politicas, cortavam as orelhas dos que criti- cavyam 0 governo, cohravam arbitrariaments as texas, dosigusis ‘na sua incidéneia, tentaram fechar » Parlamerto ¢-nomear fmcionérioa para governarem o pats. Tudo isto 6 verdade. , so bem que no século XVIE 0 Parlamento w foe ainda menos gentinamente ropresentativo 0 comam das pessoas do que & hoje, eon 8 sua vitéra era importante, aa sed om qu punhe alguns Inites ao goverao sxtinosie fas classes ais tea da pocedao, Porém, hi outran quests quo eitfo ainda or responder. Porgue é que o rei to tomou firtnico? Porgue tveram as. classen: terrate: entes © mareants reprsentadas no Parla; mento, de lutarpolas uns Iberdades? Durante © século XVI, sob a dasa dos Tudor os avéa dos parlamentares de 1640 tinham side og mais firmes dofensores da monanquie. O quo haere & min perspective allernese? ©, Purlamente fina apoindo. Hansigue VII 6 Benrigue VII e Isabel, nos sour esfrgoe pare roller 6 ais contra a ancequine 0 banctismo pratindo or sibiitos tdo-poderosos, por potentados feutno agemior do exrctn pivadon 8 Ingatulla tinha alesngado « segurange ne eeisiria pers o mereantiiono, © Paramento apoiara igualmente Henrique VIE ¢ Tee! na si lute vitovina contra «Igtoj Catia inter nacional: 0 dimhoiro #6 240 in/de Taglterra para Roma, a polities bntinica deixare de rer fmposta. pelos nteennes do tum poder tena, geo, Finalmente, o Parlamento oncorajert Ralnha Tsubel na mua resistincia 20 allaao po “Hico do Papado, o Impirio Hspanhol; o saque Qo Novo Mundo ficou ao aleance de Drake, Hawkins e de outros lobos-do-mar, que prati. cavam 2 pirataria mas eram Protestantes, zs Hm resumo, os Tudor foram apoiados por classes politicamente efieazes porque estas tira: ram enorme proveito do dominio Tudor, Porque perderam os Stuart, Jaime Ie Carlos I, este apoio? No foi apenas porque Jaime, que ssucedew a Isabel em 1603, era um komem par- ticnlarmente estipide, um Bzooe8s que niio eom- preendia a Inglaterra, se hem que alguns histo- rindores tenham usado estes argumentos muito 8 sério, Mas hasta ler 0 que Jaime, Carlos © 05 seus defensores escreveram ¢ disserar, ow analisar 0 quo fizeram, ‘para compreerder que, longe de serem simplésmente estipldos, ‘eram, quer homens capazes que tentavam impor ‘uma politica viciada, quer homens oujas idelas estavam desesperadamente ultrapassadas, sendo por isso reacciondrias. As causas da guerra celvil devem ser procuradas ne sociedade, nila zros individuos. Outra escola de istoriadorés — aos, quais chamamos 8 male taras, a Ziberel, Radial ow rebathiets, Bm Y8s0, pasion ‘otlcakmente m Conservador, Os Whign, Gefebaores doa direitos pasiamentares, toraararr-es tals tarde ao Partido Liberal (N.7), 15 Visto que sou vosso Rei, mas pela verdadoira \Uberdade de todos os meus sGbaitos.» Clarendon, que abandonou 0 Parlamento om 1642 © mais tarde se tornou no primeiro ministro de Car- Jos TH, desenvolveu esta teoria em vitios voli ‘mes de prose sloguente, na saa Hietory of Groat Rebetiion, Bssa teoria & agora propagada ‘or alguns historiadores cujos precanceltos pol- ticos, simpating realistas on eatslicas, e predis: posiglo contra o liberalismo em geral, contri- bbuem para a sua falta do comproonsio histérica, Manifestam a idcia de que Catlos 1 e os sous conselheizos procuravam realmente proteger 0 Povo em geral da exploragio eoonémica levada cabo por uma pequena classe de capitatistas fem busca de éxito; ¢ que a opasicfo que Carlos enfrentava era organizada e elaborada pelos homens de negécios que identificavam os seus interedies com a Cimara dos Comuns, na pol- fica, © 0 Puritanismo, na religigo, a fim de servirem os seus préprios fins, Ora, & verdade que a Revoluglo Ingiesa 0 1640, tal como a Revolugéo Fraricesa de 1789, foi uma Inte pelo poder politico, e rrligioso, empreendida pela classe médias bur- ‘gustia, que crescia em riquera ¢ forga & thedida que © capitaliamo se desenvolvia, Mas ndo 6 vordado que, ao opor-se a ela, o-governo real tivesse em vista os interesses do povo em ger pelo contritio, os partidos populares provaram ‘er 08 opositores mais combatives do Rel, de 16 longe mais vigoros0s, impledosos © radicals do que a propria burguesia, Os interesses defendidos pela monarquia do rei Carlos nfo eram, de modo algum, os do ovo em geral. Repruseritava os nobres proprie- ‘trios de terras, ¢ a sua polition era influenciada por uma cligue de Corte composta de eseraques a aristocracia comercial ¢ doa eens parasitas, que chupavam o sangue do povo usando de métodos de exploracdo econémica que conalde- doraremos mais adiante. A luta da classe média para sacudir o controlo exercido por este grupo fo era meramente intaresseira; desempenhava ‘uma fungio hist6riea progressiva, Os propric- tirios de terras mais esportog enxertavam-ce como parasitas no novo desenvoliimento do capitalismo, uma vez que o seu proprio modo de existincla econémica j6 nao basteva para manté-los. Para um maior avango do eapita- lismo, era necessério que se pusesee fim a este parasitismo chocante, mediante o derrube do estado feudal, Era para vantagem da grande massa da populagto que o capitalismo devia tar possibilidades do ge dosenvolver livremente, No século anterior a 1640, na vigéncia do antigo estado de coisas, os salizios reais dos trabalhadores da indistria e da agricultura Gesceram em mais de metade; no sécwlo que se seguiu a 1640, mais do que duplicaram, Os novos progressos ecanémicos dos sée os XVI e XVII tormaram o velho sistema econémico, social e politico irremediavelmente ~ i fore de moda, Aqueles dos sous defensores git se voltavam pesarosamente para a estabilidade e relative seguranga das classes rurale éa Tdade Média eram muito pouso realistas o, do facto, reaccionftios. O seu papel era o mastuo 40 dle muitos Lberais dos nossos dias, que pensam coo seria bom go o captalismo pudesse ainda funelonar & mancira «liberals do séoulo XIX, fem ter de recorer tio frequenemente ao fas. cismo e & guerra. Porém, as belas palavras nia alteram os processos listrcos. A Histéria contimiou deisou de pé estes apologistas de ‘um sistema imagine, tal como deixou os Aefeisores de Carlos I, ‘Ambas estas toorias séo, pois, parcinis Os Whigs sublinham ¢ naturesa progressiva da revolugio, © ignoram o facto de que a claase que se colocou & eabega 6 mais aprovelton das suns reifizagées, foi a burguesia, A sua inter- pretagiolperpetua a f2bula de que os interesses 4s burguesia se identifieam com ox da naglo, {étmala essa tio conveniante vios noseos das, se hem que mutto menos verdadeira do que no sfculo XVIL Os ‘oriss, yor outro, lado, sublinham a netureza de classe da revolucto, numa tentativa de negar o seu catheter pro- sgressivo eo seu valor para a época, de rebilitar + 0 feudalismo ¢ de sugerir que as revolugGes xnunea Dencficiam mais do que uma clique res- frita, Uma versio reoente sugere que toda a polities é um jogo sujo, que todos os principios 48 - silo uma lavagem ao cérebre, que todas as revolugdes so initas, ‘Uma tercelra teoria, mais familiar, & posta fem relevo por ambos os lados: que 0 conflito ‘ins em vista decidir quel das duss religides, © Poritanismo ou o Anglleanismo, deveria ser Gominante em Inglaterra. Tambémn esta expli- cago tem por efeito fazer-nos lementar e inter- pretar mal os homens do século XVI, © con- sratularmo-nos por sermos muito mais sensfveis sctuslmente: por muito que os Anglicanos os Nao-conformistas se detestem pessoalmente, dizemos, j& nfo lutam nas russ da aldeia. Mas ‘sco 6 omitir 0 easencial. 1 certo que as diseus- ses religiosas enchem intmeras paginas da literatura panfletiria do séoulo XVI: auntios os lados justificavam a sua atitude fundamen- ‘talmente em termos religiosos, aereditavam que tomavam parte nas lutas de Deus, Mas a «reli silos abareava algo muito mals vasto do que tos nossos dias. A Tgreja, durante toda. a Hiade Média e até ao séeulo XVIT, exa algo de muito diferente daquilo a que chamamos hhoje Igreja, Gulava todos os movimentés do homem, do baptiamo ao servigo finebre, ¢ era © camimho de acess a essa vida futura em que todos os homens acreditavam fervorosa- ‘monte. A Tgreja educava as erianeas; nas pard- guins de aldeia—onde a massa da. populagao era ilotrada—o sermio do plroco era @ prin cipal fonte de informacto sobre os aconteci. ‘mentos ¢ problemas eomuns, e de orientagio wo da eonduts econémica. A prépria parsquia cons- tituia ume importante unidade de governo focal, colectando ¢ distribuinds as esmoles que os pobres recebiam. A Tgreja controlava os gentimentos dos homens e dizi-thes em que doviam acreditar, proporcionavarthes distrac- 8c espestioulos. Precnchis o lugar das not cias e dos servigos de propagands, agora coher- ‘os por instituigées mito diferentes © mals ficentes—a imprensa, a B.B.C., o cinema, o clube, etc, B essa a ravko por que os homens estavam atzntos aoy sermfes, © ara froquente © governo dizer aos pregadores exactamente © que deviam pregar. ‘Por exemplo, a rainha Isabel esintonizava os seus pilpitos> (etal como os governantes 8° esforgam agora por sintonizer op seus jornais da manhiiy,-disse Carlyle); fazin circular por todos os pregadores um livro de homslia oficial, para se eertitar de que disiam 0 que deviam, Hra «para sor ldo como eonviém em todas as igrejas de pardquias, e aoabe com uni sermia em seie partes eondensndo a edesobediéncia ea rebelifo voluntatiosas. Os bigpos e os gacerdates cram ‘mito mais funcionérios piblicos, parte da mé- quina administrativa do governo, do que 0 so hoje; © os primeiros a reconhecerem-no eram. 5 préprios eclesiésticos. Bancroft, um prelado dos ditimos tempos de Isabel, zamhave de pre- tensiio Puritana de que tratavam meramente dos assuntos da Igreja. «Qui longe estas pala- ‘ras a Igreja faz... expandirem-se!s, exclamava, Imaginem para que mar infinite de, negécios les nfo iriam Iangar og seus presbitérios.» * © ‘te6rico politico Hobbes desoreve como 4 classe mereantil presbiteriana da cidade de Londres foi o primeiro centro de soligio, ten- ‘tando construir um estado governade, como as repiblicas da Holanda ¢ de Veneza, por comer- > Parlamontary Histor) of Bngland, 1, p. 682 ciantes, com vista aos seus préprios inte- esses, (A comparagio com as repiiblicas bur ‘esas ocorre constantemente nos documentos ‘Parlamentares.), A Senhora Hutchinson, mulher ‘de um dos coronéis de Cromwell, disse que eram considerados Puritanoa todos os que «#6 opunham 6s ‘pontos de vista dos cortesios indigentas, dos sacerdotas .orgulhosos e. usur- adores, dos -visiohérios. desqnestos, da alts ©-da pequena nobreze Isseivas... quem quer que pudesse tolerar um kermio, hébitos ou eon- ‘Versagio modestos, ou qualquer coisa boa.s? ‘Baxter, um dos principais sacerdotes Pusitanos, era ainda mais. explfcito: , els a descrisio pouco lison- jeira dada por um astuto administrador de um estes vastos dominios. * ‘0 foco dasta sociedade era a Corte do Rei (© maior proprietirio de terras deste tipo era ‘a propria Corea, sempre com falta de eapital. Os bispos eram também proprietirios noto- ramente nogligentes, sendo os seus domfnios explorados, se é que o eram, por arrendatérios. ‘Um eontermporineo obgervaya que «nunca au- mentam nem costumam extorgulr as rendas, como o fazom, até ao titimo centavo, os nobres fe os gentilhomens, mas srrendam as suas terras tal como hi cem anos atrés>,* Os-fempos eram diffeeis para estes para sitas e'ventiers. A alta de pregos tornow im- possivel a manutenglo do seu antigo nivel de vida, ¢ ainda menos competirem no lux0 ‘com os prineipes do comércio, Ustavam cons- tantemente endividados, muitag vezes pare com algum esperto homem ‘de negécios da cidade, que exigla uma hipoteca sobre as suas proprie- ades e se apoderava delas na altura do ven cimento, © cortesto indigente, o Jovem deseen- dente de uma casa nobre, orgullioso mas sem > T.Smytt, Lees of the Borksloys, Val, p, 14 + ir Mhumnas Wilen, Tho State of Bngland, 2000, ot FJ. Blane, Coden Mucallany, V1, pp, 22-28. 36 | | vintém, eram Iugares-comums do esekrnio pops- Jar e do despreso da classe médin, Contudo, esta classe era ainds uma forga social © politica; 6 Rstado estava orgonizado para salvaguardar seus interesses, A mua incapacidade para reorgenizar o3 seus dominios mantizha por favestir uma grande quantidade de capital Grande parte do solo mais rico de Inglaterra io era utilizada no miximo das capacidades ‘éenieas do tempo.* Quanto ao poder de Hs- tado, era utilimado para impodir 0 orescimento de win mereado nacional ‘Todas ag classes participavam de uma in- tansa lata para tirarem proveito das mudangas que ooorriam na agriculture, Hin geral, estas ‘transformagies proporcionavam maior produ ‘ividade e permitiam » alguns camponeses mals ico © pequencs proprietirios de terras subi- rem na Vida. Mas, para muitos pequenos agei- caltores, significavam a depressio, a subida das tendas © dos impostos de vétios tipos, © Burge uma sttuaslo semethante 20 capitalism sotaal, em quo oF intoreasen doe grandes monopélos Jevam' A compre de invong6eg pata impodtrem que fefem_ustdas, e em quo op alimentos slo. destratdos ftnquanto a fom stinge milktes de sores, reveluelo {gles do aeulo XVI, oo trator 0 poder do Betado pera a Durgueel, tormou possivel © desanealvimento fntogeal do todes op Teaumor a rcledade ingleas 4o stenlo XVII. Na Toplatorra de hee, ‘uma tranagéo pare o Poclaliem para 1 construgdo de cereados nos campos ccmnti= nitériog onde os aldeGes tinham, durante a6- culos, levado a pastar 0 gado © os gansos, Muitos lavradores, cujas pequenas proprieda- des impediam og agrioultores de levar a cabo ‘2 consolidagio de vastas herdades destinadas & criacio de carneiros, cram brutalmente ex- propriados, 205 voseos carnelross, escrevia Sir Thomas More, no principio do aéculo XVI, «que ae esejava fossem to melgos © mantos, © que ‘somessem to poueo, agora, segundo oigo dizer, tomnaram-se t4o devoradores e selvagens que comem ¢ engolem at6 os préprios homens.» » ‘A paloologia da posse de terras tinhe 20- frido grandes transformagées>, resume o Pro- fessor Tawney, ce durante duss goragéaa 0 esonesto senhor das terras, em ver de usar © seu dlyeito senhorial de multar ou prender ‘05° desertores do covil dos servos, andava A procura'de titulos de propriedade menos legals, instigava a multas de admiseo, modificava of costumes feudais e, quando se atrevia a. isso, transformava os aforamentof em arrenda- mentos.s* Segundo a expresso de Pailip Stukhes, os senhores da terra transformam 03 sous Pobres foreinos em mercadarias, + Dtopia, Rverymen Ratton, p. 28, * ayney, Religion and “the ke of Copan, ‘Penguin Halton, p. 398 38 i | Durante este periodo, a revolta contra este tratamento encontrava-se em estado latente, manifestando-se abertamente em 1549, 1607 ¢ 1631; mas, de todag estas vezes, a classe cam- ponesa fol vencida e remetida & submissio, 0 Hstado 6 sempre um instrumento de coergio nag miios da classe dominante; e og proprieti- rlog de terras dominavam a Inglaterra do #& ‘eulo XVI, Alguns destes pobres foreiros tor- naram-se vagabundog calcorreando as estradas ‘& procura de pio, e por isso criaram-se leis ordenando que os vadios fossem marcados com um ferro em brasa ou . Bm ingle, putting-out aystem (N. ), ‘totalmente dependente do patrio, quer para os fornecimentos quer para o pagemento, Em épocas més, estava constantemente em divida, de uma mancira geral para com o capitalista que Ihe dava trabalho, Deste modo, os patréea 4s faxiam grandes fortunas 2 custa 5 ios proprietizios. Ocasionalmente, um pequeno patrio com seguia emelhorar @ sua situagéo> através do empréstimo de capital apenas indispensével para poder progredir, mas a maior parte das vvezes nfio tinham sorte, Assim, os pequenos produtores aliavam-se a0 clamor dos senhores fendais contra a cusuras. Nada podiam fazer sem empréstimos e, contndo, viam-se extraordi- nariamente limitados peles clevadas. taxas de juro que uma sociedade précapitalista per-| riti, A cusuras significava para a geste comim o que o trabalho assalariado significa para os seus sucessores de hoje. No sistema doméstico, o patréo explorava os trabalhadares cobrando-thes pregos taxas de juro elevados, mais do que pagandohes salérios baixos. Y, ‘Assim comeqava a surgir uma classe pequeno- burguese com intereases econémicos préprios, ras cuja composiggo se alterava conforms alguns dos seus membros, mais emproende- dores ¢ afortunados, se tornavam capltalisas, enquanto o8 mais desventurados cafam no tra- batho assalariado. Os haluartes desta clasce ram Hast Anglia e o sul-de Midlands, que mais “4 “an ‘tarde viriam a ser og contros da mais inflexivel resisténcia a Carlos I, Os obsticulos & expansio do capitalismo no coméreio e na indfistria cram tantos e to aérios como na agricultura, Durante a Idade Média, © comércio © a Indiigtria restringiam-se is cida des, onde eram rigidamente controlades pelas guides, Hstas eram associagSes de produtores que estabeleciam um monopélio sobre © mer ado local e o mantinham restringindo a produ 0 ¢ 2 contorréncia, regulando os pregos © a qualidade da produgig e controlando os apren- Gizes artifices. (No sistema de aprendizado, © artosiio tinha de submeter-te a sete anos de treino antes de Ihe ser parmitido estabelecer- -se por conte prépria.) Wste sistema pressupu- nha um mercado local estition e fechados a teoria econdigicn feudal baseava-se na idela de uma socleliade comparativamente estével. Porém, agora 0 mercado estava em ex pansiio: & nacio imtelra tornava-se uma Unie dade econémica. © capital procurava o Incr através do investimento numa guajquer acti- vidade oconémica, e 0 oapitalista wo se into- rressava por saber onde eram vendidos 03 seus Produtos, contanto que fossem vendidos com luero. AS barreiras Iocais ao comérelo desa- pareceram. A cidade-mereado nfo podia con timuar a tiranlzar 03 campos em volta, pois tinha de fazer face A concorrénela dos mereado- rres de Londres, que vinham vender as suss mer- cadorias © comprar os produtos de artesanato 46 local concorréncia acabou coin 9 monopéliony, No que respeitava 20 comérelo ulirainarino, todavia, os mercadores ainda consideravan ‘vantajoso reunirem-se em companhias, o que Ihes permitia a auto-defesa nos paises distantes fe nos mares, onde nfo existiam patrulhas; nesses tempos, muitos mercadores eram piratas nos seus momentos de folga. O Estado Tudor, por gua vez, péde controlar essas companhies vendendo-Ihes a sua protecrdo e generosos tite los de privilégios. Was, na indGsteia, tudo ora muito diferente. 0s clevados padrGes de qualidade das guil- des de artifices da cidade, as suas restri- e605 & concorréncia e & produc, tornaram-se 208 olhos dow empresirios capitalistas outros tantos estipides obsticulos & livre producio, impedindo-os de ir ao encontro das exigéncias do mereado em expansio. A fim de evitar estes impedimentos, a indistria transbordou dos burgos para os subGrbios, para as eldades fonde no havia corporagies @ para ag zonas rurais, onde a produgio no sofria interfe- rénelas nem estava sujeita a regulamentos. J Aqui, encontraram uma oferta de mao-de-obra anata no geio da classe camponesa arruinada © expropriada em consequéncia das transfor- mages da agriculture, Multas das novas indis- trias—minas de carvio © de alume—eram ‘quase inteiramente eapitalistas desde 0 prin- cipio, Nao obstante, as cidades com corporacies tentavam alnda monopolizar 0 eomércio local Ti farer dos seus mereados um escoadouro pare fords ag mereadorian On intermedisriog, por outro lade, procure: vam ir ao encanto des exigéneins de Londres 2 dos mercados exportadores, entrando era com facto diresto coin 0 produter (de alimentos) ‘Assim, entraram om confit com ot Toguls- rentos ‘as cidades com corporagion 00% ts ruts cligenuias resocondrian, Ow Sets Dr Tiggios ¢ nestrstes, eo itera de sprendizado, Contituata tam freio 40 total desenvolvimento dog recurson produtivos do pais, 2 Here afkaén- Gin do capital paras india, Aa gules repre fentavain demasidoy intereases igados &estro- ‘ira social do feadalismo, ez oponieo As Forgas znis evens © livres da capitalism Digsolido antigo controlo industrial, a Corea, no iptereste da clanse teratenente fou Gal (@ de thn pequene grupo Ge Hnanésios f escroqtes da corte), procurou impor novos ontrolos, Os monopGlior —a venda = um ind duo partionlar dos diretos exclusivor de pro- ‘hugso e/ou venda de uma detrminada meres fora (oa 0 dineto exasive defaepociar um Geterminado moreado witramarino) —eram 0 Icio através do qual « Cores. procurers. sub- Incter a indtstria eo comércio ao nen contra, Erescaln nacional, agora que ae corporagsex flay cidadog tinham sido Tudlbriadas, Veremos rats adiente como extay tentativar faharaz, ‘unig op reultadog desastroros que dal advie- am pare a monaratia, B fell compreender de que modo esta grande expansfio industrial e comercial actuou sobre a agricultura ¢ a propriedade de terras: as transformacbes agrérias foram cansadas, em parte, pela maior procura de alimentos desti- hados as novas éreae urbanas, e em parte pelas necessldades de 14 para a inddstria téxtil em - espansiio, ou pela procura de minérios; em qualquer dos cases, ag necessidades da classe mereantil eram idénticas &s dos agricultores capitalistas e dog proprictirios de terras pro- gressivos, Ha migragto do capital para as onas rurais, quer através do arrendamento ow da compra de propriedades, quer através de ‘empréetimos, introduzin um novo espirite com- petitive © de negécio nas relagies agririas, até al relativamente estitieas ¢ tredicionais. Quando as familias do foreiro © do senhor das terras tinham durante séculos ocupado os seus dominios, pagando o primeiro uma renda nio- -econéimies,* ag relagSes eram muito diferentes das que agora surgiam entre um novo com: prador e um arrendatério capitalista, ™ Tato & uma ronda que nfo ooerespondia so prose que agora pe odie obter pela terra, Bre msia pro- Yoltosp paseo senor dan terrao arrenda-las por Time quantia exorbitents, do que Fectber os s0rvis0s, Dagon eit aapéete, ote, foraecldoe por Zoreiros cosa: Bradoe pelo. toate, Adsim, a protecpio das tr, ‘Suso of antigoa foreiroa a tivestom consegviao, teria Gonstiinide tim ebethowo so desenvolvimento do agri ‘cuina capllalista em grande esoula (ver Dag. 4, nots) 40. at - © aspecto a sublinhar 6 9 seguinte: havia em Inglaterra um vasto capital que os comer- clantes, os pequenos proprietirios rurais ¢ 05 aristocratas ansiavam por investir no desen- volvimento industrial, comercial @ agricola livre de restrigSes. iste facto era constante- ‘mente contrariado pelas sobrevivénclas feudais na cidade e no campo e pela polltiea gover- namental, que ae empenhava deliberadamente, no interesse da antiga classe dominante ter- ratenente, em restringir a produc © a acumu- lIagio de capital. Assim, a0 atacar 9 estado dos proprietirios feudais © a oligarquia dos grandes mereadores aliados & Corte, que pro- euravam monopolizar og lucros, a luta da bur- guesia era prograssiva ¢ representava og inte- eases do pais como um todo. ‘Em 1640, a Inglaterra era ainda dominada pelos senhorgs das terras e as relagdes de Produgio cram em parte feudais, mas existia esse vasto sector capitalista em expansio, eujo desenvolvimento a Coroa e og senhores feudais no poderiam continuar a refrear. Flavia poucos: Sj droletielon(exeepto. em Londreg), sono imiioF pate dos produtores sujeitos no alstema doméstico igualmente pequenos camponeses Porém, estes camponeses © poquends artesios comegavam a perder a sua independénola. Bram cspeciahnente atingides)sjabi atte «geral-nos Dregos, © tormavamse easy wit aaamio.capen- Gentes’ dos mercadores odes: nohia.:sprais. 24 Hm 1503, um decreto’ prot 59¢ da gaymdngiio rural mais pobre de ingressar como aprendizes na indistria, Portanto, existiam realmente trés classes em conflito, ‘Contra os proprietirios de terras foudais © parasitas © os finaneeiros especuls- Gores, contra 0 governo, euja politica consistia em limitar e controlar a expansio industrial, os interesses da nova classe de comerciantes e agricultores capitalistas identificavam.so tom- Porariamente com og dos pequenos camponeses © dos artestios e artifices. Mas um novo conflito viria «, desenvolver-se, inremediavelmente, entre ‘as duas titimas classes, uma vex que a expan- sig do capitalismo envolvia a dissolugio da antigas relagGes agrériag e industriais © a trans formacio da pequenos patrdes © eamponeses indopendentes em proletirios 0. Bi ~ FUNDO POLITICO DA REVOLUGAO INGLESA (a) A monarquis Tudor Contra este fundo do transigio econémica fe sovial, o papel da monarquia Tudor torna-se claro. Enraizada ela prépria na sociedade feu- Gal, podia. até certo ponto oscilar entre a bur guesia © a pequena nobreza progressiva, por um Inde, e 08 senhores feudais, por outro. Depois da destruigéo reciproca das grandes cacas nobres na Guerra dag Rosas, no sé enlo XV, a forga dag classes em progresso cin declinio esteve equilibrada por um breve perfodo, durante o qual a fungio da monarquia consistiu em zelar por que as concessies as exiginelas da burguesia afectassem 0 menos possivel a classe dominante. Os mercadores de- sejavam uma Inglaterra unida, ordeira e poli- tiads, com leis, pesos e medidas uniformes: Hen. ique VII e os seus sucessores providenciaram ‘por que essa unidade ee concentrasse em volta

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