Você está na página 1de 4

ENCONTRAR CRISTO NA IGREJA

– Não é possível amar, seguir ou escutar Cristo, sem amar, seguir ou escutar a Igreja.

– Nela, participamos da Vida de Cristo.

– Fé, esperança e amor à Igreja.

I. TODOS PROCURAM JESUS. Todos necessitam d’Ele, e Ele está sempre


disposto a compadecer-se dos que o procuram com fé. A sua Santíssima
Humanidade era como que o canal pelo qual passavam todas as graças,
enquanto permaneceu entre os homens. Por isso, toda a multidão procurava
tocá-lo, porque saía d’Ele uma força que curava a todos.

A mulher de que nos fala o Evangelho da Missa 1 também se sentiu movida a


aproximar-se de Cristo. Aos seus sofrimentos físicos – de há doze anos –,
somava-se a vergonha de sentir-se impura segundo a lei. No povo judeu,
considerava-se impura não só a mulher afectada por uma doença desse tipo,
como também quem a tocasse. Por isso, para não se fazer notar, aproximou-se
de Jesus por trás e limitou-se a tocar a orla do seu manto. “Tocou
delicadamente a borda do manto, aproximou-se com fé, acreditou e soube que
tinha sido curada...”2

Essas curas, os milagres, as expulsões de demónios que Cristo realizou


enquanto vivia na terra, eram uma prova de que a Redenção já era uma
realidade, não uma mera esperança. Essas pessoas que se aproximaram do
Mestre anteciparam de algum modo a devoção dos cristãos pela Santíssima
Humanidade de Cristo.

Depois, quando estava prestes a partir para o Céu, para junto do Pai,
sabendo que sempre precisaríamos d’Ele, o Senhor preparou os meios para
que em qualquer época e lugar pudéssemos receber as infinitas riquezas da
Redenção: fundou a Igreja, bem visível e localizável. Procuramos nela o
mesmo que as pessoas procuravam no Filho de Maria. Estar com a Igreja é
estar com Jesus, unir-se a esse redil é unir-se a Jesus, pertencer a essa
sociedade é ser membro do seu Corpo. Somente nela encontraremos Cristo, o
próprio Cristo, Aquele que o Povo eleito esperava.

Os que pretendem ir a Cristo prescindindo da Igreja, ou até maltratando-a,


poderiam um dia ter a mesma surpresa que colheu São Paulo no caminho de
Damasco: Eu sou Jesus a quem tu persegues3. “Ele não diz – ressalta São
Beda –: Por que persegues os meus membros?, mas: Por que me persegues?
Porque Ele ainda padece afrontas no seu Corpo, que é a Igreja”4. Paulo não
sabia até esse momento que perseguir a Igreja era perseguir o próprio Jesus.
Mais tarde, quando falar sobre ela, fá-lo-á descrevendo-a como o Corpo de
Cristo5, ou simplesmente como Cristo6; e designando os fiéis como seus
membros7.
Não é possível amar, seguir ou escutar Cristo, sem amar, seguir ou escutar
a Igreja, porque Ela é a presença simultaneamente sacramental e misteriosa
de Nosso Senhor, que assim prolonga a sua missão salvífica no mundo até o
fim dos tempos.

II. NINGUÉM PODE DIZER que ama a Deus se não escolhe o caminho –
Jesus – estabelecido pelo próprio Deus: Este é o meu Filho amado [...],
escutai- o8. E é ilógica a pretensão de sermos amigos de Cristo desprezando as
suas palavras e os seus desejos.

Aquelas multidões que afluíam de toda a parte encontram em Jesus alguém


que, com autoridade, lhes fala de Deus – Ele próprio é a Palavra divina feita
carne –: encontram Jesus Mestre. E agora encontramo-lo e vinculamo-nos a
Ele quando aceitamos a doutrina da Igreja: Quem vos ouve, a mim me ouve, e
quem vos rejeita, a mim me rejeita9.

Jesus é, além disso, nosso Redentor. Ele é Sacerdote, o possuidor do único


sacerdócio, que se ofereceu a si próprio como propiciação pelos pecados.
Cristo não se apropriou da glória de ser Sumo Sacerdote, mas ela foi- lhe
concedida por Aquele que lhe disse: Tu és meu filho...10 Unimo-nos a
Jesus-Sacerdote e Vítima, que honra a Deus Pai e nos santifica, na medida em
que participamos da vida da Igreja, particularmente dos seus sacramentos, que
são como canais divinos pelos quais a graça flui até chegar às almas; sempre
que os recebemos, pomo-nos em contacto com o próprio Cristo, fonte de toda
a graça.

Por meio dos sacramentos, os méritos infinitos que Cristo nos conquistou
chegam aos homens de todas as épocas e são, para todos, firme esperança de
vida eterna. Na Sagrada Eucaristia, que Cristo mandou a Igreja celebrar,
renovamos a sua oblação e imolação: Isto é o meu corpo, que é dado por vós;
fazei isto em memória de mim11; e só a Sagrada Eucaristia nos garante essa
Vida que Ele conquistou para nós: Se alguém comer deste pão, viverá
eternamente, e o pão que eu lhe darei é a minha carne para a vida do
mundo...12

A condição para participarmos do sacrifício e banquete eucarístico reside em


outro dos sacramentos que Cristo conferiu à sua Igreja, o Baptismo: Ide, pois,
e ensinai a todos os povos, baptizando-os em nome do Pai e do Filho e do
Espírito Santo13. O que crer e for baptizado será salvo...14 E se os nossos
pecados nos afastaram de Deus, a Igreja também é o meio para recuperarmos
a nossa condição de membros vivos do Senhor: Àqueles a quem perdoardes
os pecados – diz Ele aos seus Apóstolos –, ser- lhes- ão perdoados; àqueles a
quem os retiverdes, ser- lhes- ão retidos15. O Senhor estabeleceu que esta
vinculação profundíssima com Ele se realizasse através desses sinais visíveis
da vida sacramental da sua Igreja. Nos sacramentos também encontramos
Cristo.
E ainda que alguma vez possa haver dissensões dentro da Igreja, não será
difícil encontrarmos Cristo. As maiorias ou minorias pouco significam quando
se trata de encontrar Jesus: no Calvário, só estava presente a sua Mãe,
rodeada de umas poucas mulheres e um adolescente, mas ali, a poucos
metros, estava Jesus! Na Igreja, também sabemos onde é que o Senhor está:
Eu te darei – declarou Ele a Pedro – as chaves do reino dos céus; e tudo
quanto ligares na terra será ligado nos céus, e tudo quanto desligares na terra
será desligado nos céus16. E nem sequer as negações de Simão Pedro foram
suficientes para revogar esses poderes. O Senhor, depois de ressuscitado,
confirmou-os de modo solene: Apascenta os meus cordeiros [...]. Apascenta as
minhas ovelhas17. A Igreja está onde estão Pedro e os seus sucessores, os
bispos em comunhão com ele.

III. NA IGREJA vemos Jesus, o mesmo Jesus a quem as multidões queriam


tocar porque saía dele uma força que os curava a todos. Pertence à Igreja
quem, por meio da sua doutrina, dos seus sacramentos e do seu regime, se
vincula a Cristo Mestre, Sacerdote e Rei. Com a Igreja, mantemos de certo
modo as mesmas relações que temos com o Senhor: fé, esperança e caridade.

Em primeiro lugar fé, que significa crer naquilo que, em tantas ocasiões, não
é evidente. Os contemporâneos de Jesus viam n’Ele um homem que
trabalhava, que se cansava, que precisava de alimento, que sentia dor, frio,
medo..., mas aquele Homem era Deus. Na Igreja, conhecemos pessoas
santas, que muitas vezes permanecem na obscuridade de uma vida normal,
mas também vemos homens fracos como nós, mesquinhos, preguiçosos,
interesseiros... Mas se foram batizados e permanecem em graça, apesar de
todos os defeitos estão em Cristo, participam da sua própria vida. E se são
pecadores, a Igreja também os acolhe no seu seio, como membros mais
necessitados.

A nossa atitude perante a Igreja também deve ser de esperança. O próprio


Cristo afirmou: Sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do
inferno não prevalecerão contra ela18. A Igreja será sempre a rocha firme onde
poderemos procurar segurança diante dos tombos que o mundo vai dando. Ela
não falha, porque nela encontramos Cristo.

E se devemos a Deus caridade, amor, esse deve ser o nosso mesmo sentir
em relação à nossa mãe a Igreja, pois “não pode ter a Deus por Pai quem não
tem a Igreja por Mãe”19. Ela é a mãe que nos comunica a vida: essa vida de
Cristo pela qual somos filhos do Pai. E uma mãe deve ser amada. Só os maus
filhos é que se mostram indiferentes, e às vezes hostis, em relação a quem
lhes deu o ser.

Nós temos uma boa mãe: por isso doem-nos tanto as feridas que lhe
causam os que estão fora e os que estão dentro, e as doenças que podem
atingir outros membros. Por isso, como bons filhos, procuramos não ventilar as
misérias humanas – passadas ou presentes – destes ou daqueles cristãos,
constituídos ou não em autoridade: não misérias da Igreja, que é Santa, e tão
misericordiosa que nem aos pecadores nega a sua solicitude maternal. Como
se pode falar friamente da Igreja, com palavras duras ou indiferentes? Como se
pode permanecer “imparcial” quando se trata da própria mãe? Não o somos
nem queremos sê-lo. O que é dela é nosso, e não nos podem pedir uma
atitude de neutralidade, própria de um juiz diante de um réu, mas não de um
filho em relação à sua mãe.

Somos de Cristo quando somos da Igreja: nela nos tornamos membros do


seu Corpo, que Nossa Senhora concebeu e deu à luz. Por isso, a Santíssima
Virgem é “Mãe da Igreja, quer dizer, mãe de todo o povo de Deus, tanto dos
fiéis como dos pastores”20. A última jóia que a piedade filial engastou nas
ladainhas de Nossa Senhora, o mais recente elogio à Mãe de Cristo, é apenas
um sinónimo: Mãe da Igreja.

(1) Mt 9, 20-22; (2) Santo Ambrósio, Comentário ao Evangelho de São Lucas, VI, 56; (3) At 9,
5; (4) São Beda, Comentário aos Atos dos Apóstolos; (5) 1 Cor 12, 27; (6) 1 Cor 1, 13; (7) Rom
12, 5; (8) Mt 17, 5; (9) Lc 10, 16; (10) Hebr 5, 5; (11) Lc 22, 19; (12) Lc 6, 51; (13) Mt 28, 19;
(14) Mc 16, 16; (15) Jo 20, 23; (16) Mt 16, 19; (17) Jo 21, 15-17; (18) Mt 16, 18; (19) São
Cipriano, Sobre a unidade, 6, 8; (20) Paulo VI, Alocução, 21-XI-1964.

(Fonte: Website de Francisco Fernández Carvajal AQUI)

Você também pode gostar