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CAPITULO 1 INTRODUCAO “Usinagem” 6 um processo de fabricagdo. Mas o que é fabricago e qual a sua importancia? A maioria dos livros especializados da area define: Fabricar é transformar matérias primas em produtos acabados, por varios processos, seguindo planos bem organizados em todos os aspectos. A importancia da fabricagdo pode ser melhor entendida ao observarmos que todos os objetos culturais, a0/nosso redor, tém formas e dimensdes diferentes, com rarissimas excegdes. ‘Além: isso, todo objeto 6 feito de um ou mais materiais e é transformado em produto por uma larga variedade de processos. Portanto, néo é nenhuma surpresa que’ ‘nos paises industrializados a fabricagao compreende um tergo do produto intems: bruto [1] (valor de todos os produtos e servigos produzidos). A fabricagao é utilizada' desde 0 inicio da civilizagéo, com a produg&o de varios artigos de madeira, pedra, ceramica, barro e metal. Houve muito desenvolvimento com o passar dos anos, @ nos dias aluais uma grande quantidade de materiais e processos estdo disponiveis, Para fabricar produtos que variam desde um simples componente, como uma esfera de ago, até produtos altamente sofisticados, como computadores, automéveis e aeronaves supers6nicas. Para se ter uma idéia do numero de fatores que devem ser considerados num processo de fabricagdo Kalpakjian [1] usou o exemplo da produgdo de um simples artigo: o clipe. Primeiro ele deve ser projetado para atender o requisito funcional que € segurar folhas de papéis juntas. Para tanto, ele deve exercer uma forga suficiente para evitar 0 deslizamento de uma folha sobre a outra. Eles s4o, geralmente, feitos de arame de ago, embora hoje se encontra no mercado clipe de plastico, O comprimento do arame requerido para sua fabricagéo € cortado e ent&o dobrado varias vezes, para dar a forma final propria. Por sua vez, o arame é feito por um Processo de trefilagdo a frio. Neste processo a se¢4o transversal de’ uma haste longa @ reduzida, ao passar por uma matriz de fieira, que também confere algumas propriedades mecanicas ao material, como resisténcia e dureza. A haste por sua vez, € obtida por processos como a trefila;ao e a extrusao de um lingote.. Para evitar delongas, nenhuma informagao quanto ao processo de obten¢ao deste lingote sera abordada. A fabricagao de um simples clipe envolve projeto, selegdo de um material adequado e selegdo de um método de fabricag&o para atender os requisitos de servico do artigo. As selegdes s4o feitas nado somente com base em requisitos técnicos, mas também com base nas consideragées econémicas, para minimizar os custos para que 0 produto possa ser competitivo no mercado, © projetista de produtos ou engenheiro projetista, especifica formas e dimens6es do produto, sua aparéncia, e o material a ser usado. Primeiro sao feitos OS prototipos do produto. Neste estagio, @ possivel fazer modificagées, tanto no projeto original como no material selecionado, se andlises técnicas e/ou econdmicas assim indicarem. Um método de fabricagado apropriado 6 ent&o escolhido pelo engenheiro de fabricagéo. A Figura 1.1 mostra um diagrama do procedimento correto para se chegar a etapa de fabricacdo. Necessidade do Produto Conceito Original Projete do conceito Anélise do Projeto Modelos Fisicos e Analiticos Teste do Protétipo Avaliagéo Revisdo do Projeto Avaliagdo Final Desenho Especificagdo do Material; Selegdo do Processo e de Equipamentos; Projeto e Construgao de Ferramentas e Matrizes Fabricagao. Figura 1.1. Diagrama mostrando o procedimento requerido para o projeto de um produto, que sdo etapas que antecedem a fabricagdo. A selegao do material requer conhecimentos dos requisitos funcionais e de servi¢o do produto, e dos materiais disponiveis para preencher estes requisitos. O tratamento deste assunto requer um passeio nas propriedades dos materiais e envolve também consideragdes de custo, aparéncia, acabamento ‘superficial, resisténcia 4 corrosdo etc., que foge do escopo pratico deste curso, e portanto néo Serdo aqui abordados. Uma vasta bibliografia [1,4] porém, esta disponivel sobre o assunto. Nos processos de fabricac¢do, geralmente, haverd mais de um método que Podera ser empregado para fabricar um componente. A selecfo de um método Particular sobre outros vai depender de um grande numero de fatores. Alam disto, o Produto final, geralmente, é 0 resultado de muitos. processos diferentes. Na selegdo do processo, os séguintes fatores devem ser considerados (1): * Tipo do material e suas propriedades. * Propriedades finais desejadas. * Tamanho, forma e complexidade do componente. * Tolerancias e acabamento superficial requeridos, * Processo subsequente envolvido. * Projeto e custo de ferramental; efeito do material na vida da ferramenta ou matriz. * Sucata gerada e seu valor. * Disponibilidade do equipamento e experiéncias operacionais. + “Lead time” necessdrio para iniciar produgao. e Numero de partes requeridas e taxa de produgdo desejada. e Custo total ce processamento. O engenheiro responsavel, portanto, tem que ter grande conhecimento dos processos e dos materiais envolvidos. Caracteristicas especificas de cada processo podem ser encontradas em [1,2,5]. E evidente que a fabricagéo de um produto, seja ele um clipe, uma lampada, uma calculadora ou um automével, além de conhecimentos de projeto, materiais e processos, requer também grande interagao entre os diversos setores dentro da empresa. E quanto mais complexo o produto, maior a necessidade de comunicagao entre eles. Um fato que ndo se pode deixar de registrar ¢ a utilizagdo de computadores nos dias atuais, em todas as etapas da manufatura. A automatizagaéo dos processos de fabricag4o nos leva hoje aos mais sofisticados “Sistemas Flexiveis de Manufatura - (FMS)", CAD (Computer Aided Design), CAM (Computer Aided Manufacturing), CAE (Computer Aided Engineering), CAPP (Computer Aided Process Planning), CBS (Computer Business Systems), CIM (Computer Integrated Manufacturing), entre outras, que so siglas bastante populares que tém como caracteristica comum, 0 emprego do computador, eliminando falhas comuns do passado e aperfeigoando e automatizando as varias etapas de um processo produtivo. No meio deste processo existem as maquinas com comando numérico, NC (Numerical Control), CNC (Computer Numerical Control) e DNC (Direct Numerical Control), que podem fazer parte de um sistema CAM. O emprego dessas maquinas revolucionou o processo produtivo, tendo impactos nos materiais de ferramentas, projetos de maquinas, m4o de obra, qualidade do produto final e custos. de fabricagdo. Entretanto, a discussdo detalhada desses sistemas foge dos objetivos deste curso e aprofundamento do assunto € encontrado em [6] A figura 1.2 mostra a classificagao dos processos de fabricag4o, destacando a USINAGEM. Tomeamento Fresamento Furagae Aplainamento Mandrilamento Serramenio Brochamento Roscamento * Convencional * COMtemogao |, de cavaco USINAGEM Jato d'égue Jato abrasive Fluxo abrasive Utrasom Eletroquimica Eletroerosaio Fetxe de eiétrons Laser Plasma Quimica Fotoquimica Ate... + Nao-Convencional Processos de Fabricaglo: + Fundicao = Soldagem + Metalurgia do po * Laminagio + Extrusao + Conformagao. + Trefilagao + Forjamento + Estampagem + SEM remogio de cavaco * Outros Figura 1.2. Classificago dos processos de fabricag&o. Ao observar a Figura 1.2 uma definigdo simples de usinagem pode ser gerada: “Processo de fabricagdo com remog&o de cavaco”. Na realidade, ao consultar a bibliografia, diferentes definigdes de usinagem serao encontradas, Uma bastante abrangente é a seguinte [7]: “Operagéo que ao conferir a pega a forma, ou as dimensées ou o acabamento, ou ainda uma Combinagao qualquer destes trés itens, produzem cavaco”. E por cavaco entende-se [7]: “Porgdo de material da pega, retirada pela ferramenta, caracterizando-se por apresentar forma geométrica irregular”, A usinagem 6 reconhecidamente o processo de fabrica¢éo mais popular do mundo, transformando em cavacos algo em torno de 10% de toda a produgao de metais, e empregando dezenas de milhdes de pessoas em todo o mundo [8]. Apesar desta popularidade, trata-se, ainda, de um Processo bastante imprevisivel e a definigao paradoxal que se segue, relata com Preciséo toda a sistematica que envolve o mesmo; “E um processo, complexo @ simples ao mesmo tempo, onde se produzem pegas, removendo-se excesso de material, na forma de cavacos”. E “complexo” devido as dificuldades em se determinar as imprevisiveis condi ideais de corte, E “simples” porque, uma vez determinadas as condi¢ées ideais de corte, 0 cavaco se forma corretamente, dispensando qualquer tipo de agao especial do operador. As condigées ideais de corte consistem de: (1) material e geometria adequada da ferramenta de corte; (2) velocidade de corte e avango adequados para uma profundidade de corte pré-determinada; (3) fluido de corte adequado; tudo isto 4 pare ser usado em uma maquina ferramenta pré-escolhida, para usinar um determinado material. Estas condigdes ideais de corte s4o aquelas capazes de produzir pegas dentro de especificagées de forma, tamanho e acabamento ao menor custo possivel Usinagem tem ainda a peculiaridade de ser um processo essencialmente pratico, envolvendo um numero de varidveis bastante grande. Shaw [9] resume o problema da seguinte maneira “...£ praticamente impossivel PREVER a performance no corte dos metais. Entretanto, isto ndo quer dizer que estudos detalhados .dos processos de usinagem nao tem valor. Cada ponto fundamental que 64 detalhadamente estudado e propriamente interpretado, contribui para o ENTENDIMENTO do processo, @ entendimento ¢ o Passo mais préxima da capacidade de prever’. A seguir, um exaustivo numero de definigées se faz necessario, nos capitulos: “Grandezas Fisicas no Processo de Gorte" e “Nomenclatura e Geometria das Ferramentas de Corte”, para compreensdo dos Capitulos subsequentes, que s4o: “Formagaéo do Cavaco", “A Interface ‘Cavaco-Ferramenta", “Forga, Pressdo Especifica e Poténcia de Usinagem”, “Tensées e DeformagSes em Usinagem”, “Temperaturas de Corte", “Materiais para Ferramentas de Corte", “Desgaste e Mecanismos de Desgaste das Ferramentas de Corte”, “Vida da Ferramenta e Fatores que a Influenciam’, “Fluidos de Corte” , “Integridade Superficial”, “Ensaios de Usinabilidade", “Condi¢5es Econémicas de Corte” e “Consideragées ao Material da Pega”, Sem duvidas a abordagem de todos esses t6picos faz deste curso um dos. mais completos sobre a usinagem dos materiais metalicos. A maneira que serao tratados esses topicos, tem como objetivo oferecer informagées suficientes para que © engenheiro ou o técnico de usinagem possa compreender de maneira simples, complicadas teorias sobre o processo de usinagem. © entendimento de topicos importantes, como: O Mecanismo de Formag&o do Cavaco, Geragdo de Calor e Distribuigéo de Temperatura, Forgas de Usinagem e Desgaste das Ferramentas de Corte, coloca o técnico de Usinagem estimulado e seguro nas tomadas de decis6es. para melhoria do processo produtivo, Pelo menos, este é o maior objetivo deste curso. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS 1. KALPAKJIAN, S. “Manufacturing Processo for Engineering Materials”, Addison- Wesley Publixhing Company, 1985, 839 pags, ISBN 0-201-11690-1. 2. DE CARMO, E.P.; BLACK, J.T. and KOHSER, R. “Materials and Process in Manufacturing", Macmillan Pub. Com., New york, 7th edition, 1988, 1172 pages, ISBN 0-02-946140-5. 3. ASKELAND, D.R. “The Science and Engineering of Materials”, PWS Publishers, USA, 1984, 748 pages, ISBN 0-534-02957-4. 4. CHIAVERINE, V. “Agos e Ferros Fundidos”. ABM, S4o Paulo, 4" edi¢&o, 1979, 504 pags. 5. LINDBERG, R.A. “Processes and Materials of Manufacture”, Allyn and Bacon, USA, 4th edition, 1990, 864 pags, ISBN, 0-205-12031-8.

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