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J faz muito tempo. trs anos quase.

Ela nem deve lembrar dessa


conversa. Eu lembro de um pedacinho s. Eu posso sentir acontecendo de
novo. No entendia do que se tratava e esperei que ela terminasse de
falar. Eu tive um cncer no peito. Eu at tenho uma marca que eu tenho
vergonha de mostrar para os meninos. Lembro de ficar imaginando se ela
tirava o suti quando se deita com os meninos, ficava imaginando
tambm se era uma marca to grande assim, se era feia, duvido que
fosse feia. Marcas no conseguem ser feias, mesmo que quisessem,
mesmo que rasgassem o corpo todo. Tadinho do meu pai, ele j sofreu
tanto. J me levou tantas vezes ao hospital. Achou que eu iria morrer. Eu
no morri l, mas agora eu acho que eu vou morrer. Eu devo ter
respondido como todas as outras vezes, como se eu no estivesse mesmo
l presente e tivesse engolido um frasco de frases feitas que tiram um
sorriso amarelo e nos tiram da conversa. Fugi, fiz o que sei fazer melhor.
Acho que agora era um momento silencioso, aproximavamos-nos da casa
do Seu Eduardo e vimos Lisandrea e seus vrios irmos e filhos tomando
terer sombra das casas de taipa. Fitamos olhares, mas no acenamos.
Com certeza eu estava adiando ao mximo aquela visita. Se eles no
resolvem entre si suas questes, como que por algum momento eu
pude pensar que eu resolveria alguma coisa. Eu devo ter estragado tudo,
como sempre. Talvez no, j faz bastante tempo, talvez agora seja seguro
voltar, talvez eu tenha uma segunda chance em Pirajuy. A conversa
seguiu sobre nossas possveis tendncias lsbicas.

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