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£0 de Uutubro o 2 de Novembro Z2U04 Led | 43 MEMORIAS DA BANDA DESENHADA Pesquisa e coordena¢gao de Jobat 0 Império editorial da Agencia Portuguesa de Revistas - 1.9 Em meados da segunda metade de 1954, alturado meu ingresso como colaborador da APR, Mario de Aguiar (MdA) e Anténio Joaquim Dias (AJD)—o cérebro e os misculos dessa empresa — rondariam ambos entre os 40-45 anos. M.d.A4 era de estatura média, entroncado, rosto quadrangular, face enérgica, vincada; cabeleira farta, ondulada, e uns olhos miu- dos, escuros, de aguia, Supervisava todo o trabalho de edigao, sobre © qual opinava, demonstrando acertado sentido comercial. Pese embora 0 seu inato bom senso para publicagdes de éxito, a pléiade de colaboradores de que se rodeou, coadjuvava, de forma posiliva, @ sua audaciosa visio como editor. Pelo que me foi dado observar, era adepto de duas modalidades desportivas — boxe ¢ fu- tebol — e de teatro ama- dor, no qual ereio, nunca participou. Foi sécio ¢ protector da Sociedade Recreativa Rodrigues Cordeiro ¢ do Grupo Dramiaticoe Escolar Os Combatentes, colabo- rando comigo, neste tilti- mo, aquando da minha di- Tecgdo antes e depois de Abril de 1974. Socio ferrenho do Benfica, quando este clu- be perdia, inicidvamos um periodo de defeso em que era dificil esperar a ohn etl See sua concordancia fosse a = qual fosse o assunto tra- Mins ce Saat a X Director-geral da APR. tado. Ficava azedo e pir- ronico, porém de modoalgum agressivo oudescortez. Ao inverso, era aiavel, cordato, disponivel e acessivel. Por vezes, irritado, quando alguma area de servi¢o, ou vida estritamente pessoal nao quadrava com os seus desejos, mostrava-se dspero ¢ contundente, quase intra- tavel. E, caso curioso: ndo propriamente com os quadros menores da empresa, mas, bastas vezes, com o pacifico sdcio que lhe coube em sorte! A ambos a morte ccifou por problemas cardiacos. AJD talvez tenha sido vitima da incontinéncia verbal e exagero gestual do seu enérgico sécio; MdA vitima cxactamento de si mesmo, cuja “maquina” se exaurig com as incon- trolaveis explosdesa que quase diariamente se en- tregava. Porém, se a empresa foi fruto do seu— por ve- wes excessivo—dinamis- mo, ndo deve ignorar-se de modo algum aqueles que ao longo dos anos foram o Suporte que ma- terializou as suas ousa- das utupias. tomando-as palpaveis, crediveis, al- gumas belas ¢, na sua maioria, economicamen- te rentaveis. A frase publicitdria que nos anos sessenta a empresa utilizava ~um milhao de publicacdes por més — era de facto ve ea, Nio havia espaco no campo editorial para que outra editora lancasse qualquer publicagiio similar as suas. O mercado estava saturado. Anténio Dias era a calma em pessoa. De fino trato, educado, serena linguageme porte, parecia um aristocata deslocado no tempo eno espaco. Alto, ligeiramente pr’é seco, sempre impecavelmente Antonio Dias Sici-ge fa APR vestido, rosto oval, olhar candido, cabelo liso, com ligeira ondula- ¢ao, movimentava-se com leveza e elegancia. Dirigia com acurada vigilancia e profissionalismo toda a 4rea de expedicio e distribui- ¢ao. Era paciente e disponivel quando abordado para se lhe solicitar uma opiniao. Tinha pelo “Mundo de Aventuras” um especial ca- rinho, do qual era o primeiro a folhear, depois de impresso. Segundo ouvi, teve um comego de vidadificil. Aindajovem, foi vendedor de leite, porta a porta, de bilha na mao, pois longe estava ainda o tempo em que se venderia engarrafado. Curioso — quem o nao é.aos 18-19 anos? - gostava imenso de o ouvir, pois tinha uma palavra que usava como bengala, vezes sem conta, ainda que a frase

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