Você está na página 1de 10
Processo n°: ‘Requerente: Requerida: Espécie: 0000376-55.2015.8.13.0529; Maria do Rosirio Rosa; Banco BMG S/A; Declariitoria de inexisténeia de débito e/e danos morais. SENTENGA. Vistos, etc. 1- RESUMO DOS FATOS RELEVANTES, Maria do Rosario Rosa propés a presente ago declaratéria de inexisténcia de débito c/e danos morais indenizagio em desfavor de Banco BMG S/A, que veio instruida por documentos, alegando, em resumo: = celebrou contrato de empréstimo pessoal junto a parte requerida, gue ficou acordado que 0 pagamento seria realizado em 84 parcelas de RS130,00; - 0 valor das parcelas do empréstimo sao descontados diretamente da folha de pagamento da parte autora; ~ scu nome foi inserido nos érgaos que restringe o erédito, sendo que o pagamento das parcelas esto sendo descontados corretamente de seu Requer o deferimento de medida liminar para retirar seu nome do banco de dados que restringe 0 crédito, ¢ no mérito, a declaragao de inexisténcia do débito ¢ a reparagio por danos morais, Juntou documentos (ff. 11/25) e atribuiu a causa o valor de R%880,00 (citocentos e oitenta reais) Foi deferido 0 pedido da antecipagio dos efeitos parciais da tutela final (f 2627). ‘Na sesso de coneil 10, nao se obteve éxito na composigao amigavél (£. 02). A parte requerida apresentou contestagao (ff. 06/48), alegando, em resumo: ~ = em que pese as alegagdes da parte autora, no se pode atribui baneo, a culpa do que ocorreu, pois houve atraso no repasse dos valores descontados na conta da parte autora; ~ a parte requerida preocupada com a situago, renegociou o empréstimo da parte autora, sem nenhum prejuizo para a mesma; = ndo se pode atruibuira instituigo a culpa de um erro provocado por terceiro; ~ a insergdo do nome da parte autora nos érgios que restringe o crédito foi legitima, pois houve atraso no repasse do valor do pagamento, Requer a improcedéncia da agko. A parte requerente impugnou a contestagao (ff. 02), alegando, em resumo: ~ a parte requerida negativou o nome da parte autora indevidamente, 0 que ensejou o dano moral; - no hé o que falar em extingio prematura do feito; Requer a procedéncia da agao. Vieram-me os autos conclusos. Tudo visto e examinado. ilfcito por parte do SERASA e, por conseguinte, em deverde" indenizar. (TIMG- Apelagao Civel1.0024.08.191204-0/001, Relator(a): Des.(a) Elpidio Donizetti, 18" CAMARA CIVEL, julgamento em 21/09/2010, publicagao da simula em (08/10/2010) (negritei). Dessa forma, € devida a aplicagdo do Cédigo de Defesa de consumidor para a analise da materia, Nao ha nulidades que possam ser reconhecidas de oficio, encontrando-se presentes os pressupostos processuais, Passo a analise do mérito QUANTO A (IN)EXISTENCIA DO DEBITO. A parte autora alega ter celebrado contrato de empréstimo pessoal junto & parte requerida, que ficou acordado que pagamento se realizaria em 84 parcelas de RS130.00 (cento ¢ trinta reais), através de desconto em folha de pagamento. Alega ainda, que mesmo efetuando os pagamentos das parcelas corretamente, conforme os contracheques juntados nas ff. 21/25, a parte requerida inseriu sew nome nos Grgdos que protegem o crédito. A parte requerida em sua defesa alega que houve um atraso no repasse dos valores descontados da folha de pagamento da parte autora, o que ensejou a restrigdo do seu nome nos drgios de inadimplentes. Alega ainda, que renegocion o empréstimo da parte autora, sem nenhum prejuizo, com o intuito de prevenir que haja novamente a ocorréncia da situagao. Desse modo, analisando os autos, verifica-se que quanto a inexisténcia da divida discutida, restou incontroversa, visto que, conforme se verifiea nas ff. 21/25, referente a copia dos contracheques da parte autora, ocorreu os descontos em sua folha de pagamento, nfo podendo falar em inadimpléncia. E por outro lado, a propria requerida admitiu o erro ocorrido, mas tentou se eximir do mesmo. Decido. I~ FUNDAMENTACAO © feito comporta julgamento no estado em que se encontra, niio demandado a produgiio de outras provas. QUANTO A APLICABILIDADE DO CODIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR Inicialmente, cumpre ressaltar que 0 Cédigo de Defesa do Consumidor & aplicével no caso dos autos, pois a relago existente entre as partes é de cunho consumerista, cis que a parte autora figura como consumidora € a partes requeridas como prestadoras de scrvigos, devendo matéria ser apreciada conforme a lei 8.078/90 em seu art, 3°, caput e § 2°, do CDC. entendimento ora apresentado converge com a jurisprudéncia do eg. TIMG: ACAO DE INDENIZAGAO POR DANOS MORAIS. - ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM - INOCORRENCIA - RELACAO DE CONSUMO - APLICACAO DO CDC INSTITUIGAO FINANCEIRA - INSCRICAO EM ORGAOS DE RESTRICAO CREDITICIA - DIVIDA QUITADA - DANO MORAL IN RE IPSA - CONFIGURACAO DO DEVER DE INDENIZAR - SERASA - COMUNICACAO PREVIA - COMPROVAGAO - INEXISTENCIA DO DEVER = DE_—_—sINDENIZAR. Em se tratando de forneci jento de servigos bancirios, aplica-se 0 Cédigo de Defesa do Consumidor (art. 3°, caput e § 2°, do CDC), diploma no qual se prevé a responsabilidade objetiva em fungao dos riseos das atividades assumidas pelos fornecedores de Produtos e servigas. A mera insctigio do nome do devedor, sem prévia notificagaio, em 6rados de protegio ao crédito enseja ressarcimento indenizatério, por ofensa a honra, No entanto, demonsirado 0 débito ¢ o efetivo envio de correspondéncia ao enderego do apelante, no hé que se falar em ato QUANTO A RESPONSABILIDADE PELA REPARACAO DOS DANOS MORAIS. A parte autora pleiteia pela condenago da parte requerida na reparagio dos danos morais causados, pois relata que seu nome foi inscrito nos érgdos que restringe 0 crédito em razAo de uma divida que esté sendo paga corretamente. Como se verifica nas ff. 15/19, restou claramente demonstrado que, em razio do contrato de empréstimo consignado, mesmo tendo ocorrido os descontos nos rendimentos da parte autora, a parte requerida fez inserir o nome da mesma no banco de dados que restringe o crédito. Ora, 0 contririo do que a requerida alegou, cabia a mesma averiguar a razlio do atraso no repasse dos valores, antes mesmo de insetir o nome da parte autora nos érgtios. de inadimplentes, deveria a parte requerida ter buscado informagdes junto ao responsive pelo repasse dos valores, para confirmar a razao da inadimpléncia. Observa-se que a parte autora cumpriu com todas as suas obrigagdes contratuais, © que subentende que a negativagio do seu nome se deu de forma indevida, nao estando a parte requerida acobertada pelo exercicio regular de um direito. Dessa forma, demonstrada a inscrigo/manutengao indevida do nome do devedor nos servigos de protegdo ao erédito, presume-se a existéncia de dano a ser compensado pelo causador. Sabe-se que o dano ocorrido no presente caso é deserito como in re ipsa, ou scja, aquele que nfo exige a prova do dano para sua configuragao, pois como o proprio nome descreve, é presumido, diante das circunstancias em que os fatos s¢ deram, sob pena de se macular o préprio institute. Vejamos 0 entendimento do eg. 1JMG a respeito: EMENTA: APELACAO CIVEL. DIREITO PROCESSUAL CIVIL E. CIVIL. AGAO DECLARATORIA DE INEXISTENCIA DE DEBITO E REPARACAO POR DANOS MORAIS. EMPRESTIMO CONSIGNADO EM FOLHA DE PAGAMENTO. COBRANGA INDEVIDA. DESCONTO REALIZADO. ATRASO NO REPASSE. RESPONSABILIDADE DO CREDOR. REGISTRO EM CADASTRO DE RESTRICAO AO CREDITO. DANO MORAL CONFIGURADO, QUANTUM INDENIZATORIO ADEQUADO. MARCO INICIAL DOS JUROS DE MORA. SENTENCA CONDENATORIA. HONORARIOS ADVOCATICIOS. E devido o pagamento de indenizaeao por danos morais pelo fornecedor de servigos que inscreve o nome do consumidor no cadastro dos inadimplentes por divida_paga, "Cabe —a_instituigio financeira/apelante procurar junto 4 fonte pagadora informagies a respeito da realizago dos descontos em folha de pagamento antes de efetivar a inelusio do nome do apelado no SPC. A falta de desconto ou repasse do valor contratade do empregador a entidade bancaria é questo afeta a estas pessoas, nile se podendo responsabilizar 0 contratante consumidor." © arbitramento da reparagdo por danos morais deve atender 4 dupla finalidade, compensatéria ¢ pedagézica, sendo suficiente para desestimular o ofensor, mas sem ensejar enriquecimento indevido para a vitima, No caso de responsabilidade extracontratual, « indenizag2o por danos motais softe incidéncia de juros de mora a partir do evento danoso {Simula n° 54 do STI). Na sentenga condenatéria os honordrios advocaticios devem ser arbitrados de acordo com 0 disposto no artigo 20, § 3°, do Cédigo de Processo Civil. V.V.: No caso nfo incide 0 enunciado da Stmula n°, $4 do STJ, por se tratar de obrigacio contratual. Os juros de mora devem incidir a partir da data da citagfio, nos termos dos arts. 405 do Cédigo Civil e 219 do Cédigo de Processo Civil, (TIMG- Apelaco Civel 1.0529.12,002534-9/001, Relator(a): Des.(a) José Flavio de Almeida , 12" CAMARA CIVEL, julgamento: em 26/11/2014, publicagdo da simula em 04/12/2014) (negritei). Como jé citado acima, os documentos de ff. 15/19, prova que foi a parte requerida quem inseriu 0 nome da parte autora no banco de dados que restringe o erédito; fieando evidente que a responsabilidade de excluir 0 nome da parte autora dos 6rgios de inadimplentes ¢ também de reparar o dano ocorrido, é da mesma, conforme dispdc o artigo 14 do Codigo de Defesa do Consumidor, in verbis: “0 fomecedor de servigas responde, independentemente da existéncia de culpa, pela reparagiio dos danos causados aos consumidores por defeitos relatives & prestagaio dos servigos, bem como por informagées insuficientes ou inadequadas sobre sua fruigao e riscos*. Em relag4o a0 quantum indenizatério, ao magistrado, dentro de um juizo de valoragio, cabe arbitrar, de forma proporcional com o fato, um quantum capaz de satisfazer o duplo aspecto do instituto: reparatério, para atenuar a dor experimentada pela parte autora, © punitive, de forma a evitar que o requerido volte a praticar a conduta indesejada, realizando inclusive um aprimoramento de seu sistema operacional. Hé, ainda, que se ter em voga a dupla finalidade da reparago, qual seja (i) a busca de um efeito de carter pedagdgico inibitério de condutas lesivas reiteradas por parte do ofensor ¢ (ii) o fim de propiciar 4 vitima a satisfagdo nos limites do prejuizo suportado, sem que isto represente um enriquecimento sem causa, A propésito, Maria Helena Diniz leciona: “(.) © juiz determina, por equidade, levando em conta as circunstineias de cada caso, 0 quantum da indenizagdo devida, que devera cortesponder & lesiio e nfo ser equivalente, por ser impossivel, tal equivaléneia. A reparagdo pecunidria do dano moral & um misto de pena ¢ satisfagdo compensatéria. Nao se pode neger sua fungo: penal, constituindo uma sangio imposta ao ofensor; e compensatdria, sendo uma satisfagiio que atenue a ofensa causada, proporeionando uma vantagem ao ofendido, que poderd, com a soma de dinheiro recebida, procurar atender as necessidades materiais ou ideais que repute convenientes, diminuindo, assim, seu sofrimento” (A. Responsabilidade Ci Literéria de Direito, ano Ul, n. 9, jan./fev. de 1996, p. 9) por Dano Moral, publicado na Revista A indenizagiio em casos tais, que ndo se ajusta a uma representagio monetaria prévia ¢ objetiva, lem por escopo compensar uma lesio financeiramente imensuravel, porquanto causadora de dor, abalo psiquico, sensagdes no quantificaveis, No que tange & quantificagao, preleciona Humberto Theodoro Jtinior: “Impde-se rigorosa observancia dos padres adotados pela doutrina e jurisprudéncia, inclusive dentro da experiéncia registrada no direito comparado para evitar-se que as agdes de reparagaio de dano moral se transformem em expedientes de extorsdo ou de espertezas maliciosas ¢ injustificaveis. As duas posigdes sociais e econdmicas, da vitima e do ofensor, obrigatoriamente, estardio sob andlise, de maneira que © juiz ndio se limitara a fundar a condenagdo isoladamente na fortuna vel pobreza do outro. (JUNIOR, Humberto ‘Theodoro. Dano Moral. 5* ed. Sao Paulo: Editora Juarez de Oliveira, 2007). eventual de um ou na po Assim, considerando 0 porte financeiro da empresa requerida e os transtornos gerados a parte autora, entendo que a quantia de RSS.000,00 (cinco — mil reais) seja suficiente para cumprir a dupla finalidade do instituto. UI-DISPOSITIVO Posto isto, julgo PROCEDENTES os pedidos formulados na inicial CONDENO a requerida a pagar & autora a quantia de R$5.000,00 (cinco mil reais), a titulo de danos morais, atualizada monetariamente pela tabela da egrégia Corregedoria-Geral de Justiga do Tribunal de Justiga de Minas Gerais a partir da publicagdo desta decisdo (Simula n.° 362 do STJ), incidindo juros de 1% ao més a partir do evento danoso (Stimula n.° $4 do STI). DECLARO a inexisténcia do débito em debate. Em consequéneia desta decisdo julgo 0 processo extinto com a resol mérito, nos termos do artigo 487, inciso 1 do Cédigo de Processo Civil. tas processuais na forma do artigo 55 da lei 9.09995. ‘ransitaca em julgado, dé-se baixa e arquivem-se os autos. PRI Pratépolis/MG, 24 de margo de 2017.

Você também pode gostar