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J por tempo demais o homem

considerou suas propenses naturais com "olhar ruim", de tal modo que elas nele se
irmanaram com a "m conscincia". Uma tentativa inversa em si possvel - mas quem fort
e
o bastante para isso? - ou seja, as propenses inaturais, todas essas aspiraes ao Alm
, ao
que contrrio aos sentidos, aos instintos, natureza, ao animal, em suma, os ideais
at agora
vigentes, todos ideais hostis vida, difamadores do mundo, devem ser irmanados m
conscincia. A quem se dirigir atualmente com tais esperanas e pretenses?... Teramos
contra ns precisamente os homens bons; e tambm, claro, os cmodos, os conciliados, o
s
vos, os sentimentais, os cansados... O que ofende mais fundo, o que separa mais
radicalmente, do que deixar perceber o rigor e a elevao com que se trata a si mesm
o? Por
outro lado - como se mostra afvel, como se mostra afetuoso o mundo, to logo fazemo
s
como todo mundo e nos "deixamos levar" como todo mundo!... Para aquele fim seria
preciso
uma outra espcie de espritos, diferentes daqueles provveis nesse tempo: espritos
fortalecidos por guerras e vitrias, para os quais a conquista, o perigo e a dor s
e tornaram at
mesmo necessidade; seria preciso estar acostumado ao ar cortante das alturas, a
caminhadas
invernais, ao gelo e aos cumes, em todo sentido; seria preciso mesmo uma espcie d
e sublime
maldade, uma ltima, securssima petulncia do conhecimento, prpria da grande sade, seri
a
preciso, em suma e infelizmente, essa mesma grande sade!... Seria ela sequer possv
el
agora?... Algum dia, porm, num tempo mais forte do que esse presente murcho, inse
guro de
si mesmo, ele vir, o homem redentor, o homem do grande amor e do grande desprezo,
o
esprito criador cuja fora impulsora afastar sempre de toda transcendncia e toda
insignificncia, cuja solido ser mal compreendida pelo povo, como se fosse fuga da
realidade - quando ser apenas a sua imerso, absoro, penetrao na realidade, para que,
o
retomar luz do dia, ele possa trazer a redeno dessa realidade: sua redeno da maldio
que o ideal existente sobre ela lanou. Esse homem do futuro, que nos salvar no s do
ideal
vigente, como daquilo que dele forosamente nasceria, do grande nojo, da vontade d
e nada,
do niilismo, esse toque de sino do meio-dia e da grande deciso, que torna novamen
te livre a
vontade, que devolve terra sua finalidade e ao homem sua esperana, esse anticristo
e
antiniilista, esse vencedor de Deus e do nada - ele tem que vir um dia...

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