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FUNDACAO EDITORA DA UNESP EMILIA VIOTTI DA COSTA DA SENZALA A COLONIA 4 edigio 5® reimpressdo caPiTULO 1 ASPECTOS DA VIDA DO ESCRAVO. NAS ZONAS URBANA E RURAL O escravo urbano Desde a época coloni im grande numero de escravos concen- ‘tara-se nos portos, principalmente no Rio de Janeiro. Nas cidades ¢ >, o trabalho era enregu XIX, quase A primeira impressio do viajante chega: ropa era a de que estava num pais de mestigos e negros, Ao aproximar-se do porto, as faluas que deveriam buscar os passageiros cortvam as éguas em ditecio ao navio. Em movimen: to ritmado, os negros, capataz, remavam, com o dor so suado e desnudo, reluzindo ao sol. Durante muito tempo, na Guanabara ou em Santos, em virude das més condigdes do cais, 0 passageiro assustado era carreyado 20 colo do remador que o fazia 1nés, nos meados do século, que nos bragos de negros mina aa terra firme! e as primeiras irmis de Sao José aportad: tos, nessa época, tentaram resistir a esse tipo de transpor acabaram por aceittlo, horrorizadas, jé que era a nica maneira chegar & praia. Foi o seu primeiro contato com a escravidao. EMILIA VIOTTI DA COSTA Desembarcado, o estrange 0 de escravos, ruidosa e colorida. Ao longo das ca Mercado, oferecendo doces ou frutas, angu ou tigela de café quente e batatasdoces fumegantes, sardinhas fritas e rilho assado, por toda parte estava o escravo, Eram vendedores ambulantes aglomerados as esquinas e pracas, junto aos chafarizes, carregadores espera de servigo, oficiais de viios oficios que se ofereciam a qu ‘A maioria andava descalea e miseravelmente ve res mal cobriam © corpo €o sgrosseiro, a cabega ent im pano, em forma de turbante. Os homens traziam o dorso nu e uma calea de rscado. Apesar das pos turas legais proibi sujos, € respons snhores cujos escravos fossem en: contrados nesse estado, andavam eles muitas vezes com as vestes esfarrapadas, deixando entrever 0 corpo. Raras as negras que melhor se aparentavam; e quando o fa excediam se em enfeites podiam usar fi branca sobre 0 n essas negras reduzida minor atencao do estrangeiro. O andar provocante, 0 seu porte altivo fa ziam esquecer seus vam de cabega engu dis de maneira ritmada Todo o sistema de transporte até meados do século parecia es tar relegado aos negros. Robustos africanos, traze io cur vam correndo em DASENZALA A COLONIA, cérregos. Sem falar Debret teve ocasiao de ver carreta levada por seis negros: quatro ‘uma toada ritmica vam os carregadores; 108 chafarizes a0 $s vezes, 0 canto era acom omima, representando qu dleamor. Os de Angola eram aviola de Ango- entos degeneravam to a0s chafarizes. Cl nento no Rio d nas muas, eram esco 1or aparéncia. Levavam, freqientemente go, as criancinhas As costs, seguras por meio de nda, com o qual davam duas ou trés voltas 20 ficava com os bragos e pernas abertos, escarranchada as mde, enquanto esta trabalhava Aos vendedores, que se situavam ite, frutas, arredores, em cl MILIA VIOTTI DA COSTA Por toda parte, em todlos os oficios, encontravase 0 escravo: s, a trabalhar por conta ganhavam ha, salam os cativos. As seis horas, jae vimento nas ruas. As dee, voltavam & casa dos patroes, onde almo- depois regressar ao trabalho. As seis da tarde, estavam os eram aqueles que ainda tinham alguma folga de- pois dessa hora. Com todos os pequuenos subterfiigios de que era c mente, porém, conse; ar dinheito sufi a compra da alforcia. Na re senor taxava o escravo a tan- ros ou carregadores. jornais estavarn replet Alugavamse ados os que no po tomavam-no de Repugnava ao branco ial ea facilidade de tasse a cle era se de uma ques: nto ~ na rua do , 36. ~ Precisa-se alugar um lo escravo sem vicios, para todo 0 se casa de peque- na familia, exceto conn! m, ~ Precisa-se um rapaz para andar pel dua, Paga-se 30$000 mens a manifestada até a déc ver que nao somente para servigos caseiros se empregavam os alga jenas inchistrias, ‘A partir da eessagio do trfico, prin epois da dé cada de 1870, com o deslocamento da popt des pata os campos, o niimero de trabalhadores livres aumentou DA SENZALA A COLONIA tos por brago: truir as ruas a propria, esses mistetes. Durante todo o periodo da escravidac ‘eas leis provinciais procuraram cerceat as possi gem. Era proi wrdente, sem que este apresentasse crita do senhor. Tambyém se vedava a comy jetos de prata, qualquer traste caseito, Davase autorizacio a ido em destespeito uuma recompensa em dinheiro, pagn ados em 30$000 e 68000 os contraventores, Interditavan dle jogo, econvidativa gislagdo e eram reforgadas a cada passo, O escravo encontrado tua, depois do toque d er, sem bilhete do patrao, era suma- aprisionado pelas patrulhas e conduzido a presenca hor ou encerrado na cadeia publica, de onde sé sala mediante EMILIA VIOTTI DA CosTA A ninguém era permitido alugar casa ou quartos a escravos, estes apresentassem licenga por escrito de seus senhores. toridades dentro de 48 horas, sujeita tes a reprim de negros, tor nada sem sua autorizacio, brancos glo: congos, mogambiques, minas, a dancar su: reminiscéncias de rituais religiosos. As posturas mun nente impedir essas reunides. morte e enterro dos negros. DA SENZALA A COLONIA as partes da América, Sobre uma cabega, 0 cadaver, de flores e tinha um a mfozinha, Ams ia nad promiscua, de cores berrantes, cantando 0 que lhe pa- sionantes esses enterros de onde se misturava rumorosa infelicidade, era raro ver passar pe Jas ruas um cortejo: os negros em fila Jornados como para acompanhado apenas pelas m regadores ¢ um “mestre de ce etnias a que pertenciam os gn cambeém as tradi exist, desarticulavase, ndades eos ritos modifi cavamse. Desa wva-se o niicleo familiar sobre 0 q igiosa de procedéncia a condigdes de 10 as ant terpretados a partir ritos mudavam. U esentagoes coletivas tradi sportados da Afica, assim oc 86 podiam sobreviver se te significados As festas de fecundidade fundamentais nos cultos africanos, perd de ser, enquanto Ogum, deus da guerra, X: EMILIA VIOTTI DA COSTA fo ser através de um processo d ‘ou menos profundo, com o cristianismo. onfrarias reuni século XIX, quando se intensi n € 0 ntimero de negros livres aumentou, assumiram um: artcipando do moviment ipal foi a Confraria de Nossa Senhora do A Kidder pareci maior devotan sonjeados, a santo de cor, ou de panhar as pro escéncia e mo tinha como resultado a distor conporagio de certas tradigdes.africanas. Is Se, por exemplo, imbuidas de um caréter tipicamente afi no, onde se la f tas religiosas cristis." A in de valores aft mascara crise. Essas pri nos niicleos urbanos. Nas areas rurais, razio da heterogenei ida, aliés, pelos senhores, que, temerosos de post veis levantes, tinham o cuidado de evitar agrapamento de esc estabelecia, em 1863: “Sao permitidas as Congadas que fazem os pretos pelo Na DA SENZALA Act tal, os quais nao devem excedler as he cedam serio dispersos e, no caso de desobediénci wamsse as festividades negras a Igreja € a principes e prines 108 servidores do Pago. C neita, usando velh: dema. Os dignitirios leva do de toda a corte, o rei des m. Os demais gas asteados com o dinhei ima coleta. A festa prolongava-se até altas horas te, com miisicas e dancas.! onto as festas tradicionais maometanas. Contava Gobin nbaixador no Rio de Janeiro, como certos escravos, ext EMILIA VIOTTI DA COsTA Em Siio Pat ticular que reunia neg: No Rio eem Sao se compa onde era maci- ‘em que pre eses que, a parece, os cultos isla dificados, sofreram apareciam a venda nos anuncios. © escravo aba muitas vezes, pelo préprio interesse em aprox: na cidade do pouca assistén disse Agassi viv passar a desper o normalmente; “ninguém notou as igrejas ramente exterior. sa. a0s domingo as aproxi ss. Longe de contr A propésito da nglés que vivera envolvida no tr a pega, as pal senhores necessariamente a desprezar a religiio cristi, que encaravam opressio e da erueldade, ticas africanas. 6 nos centros escravista orientava as representacdes sentido da magia, O escravo vai servirse de Exu ou de Ogum das ervas a destruir completamente as dade émni 3 iam-se em. la vida africana, ou dos lem 0 deveria durante a ca A despeito desse esp Wo, dos lagos que 0s u as vezes em torno de certas tradicdes e crencas, também havia no va compai ristocracia do co do escravo. Uma grande a respeitado, Os sid “bengio" touro das tos. As entre eles. Esl anda da 1m vindo no mesmo navio mantinham, quando podiam, 4 3 YINOTOO ¥ VIVENAS va MILA Oescravo rural jversas patecem ser as condigdes de vida nas zonas ores houve que, preocupados , procuravam conferir e de necessidades avam ritmadas DA SENZATA A COLONIA s fazendas mais pobres, reduziase jor &s suas necessidades e esse d 52 Havia senores q de Alferes, rico fazendeito nas fazendas de serra 24 EMILIA VIOTTI DA COSTA a farinha de r -afé, cortavam a desseo serio além das nove da noite, p navaro pouco produtivo, desservindo os interesses do se rio era m das. Em alguns cas outros, as cinco. Aqu ia encerrava o serio: os pretos recolhiam-se onde ficavam fechado: porta tinica, a parte supe ceram fechadas por grades, o que refletia a preocupa- idade de suas camas, j pequenos cubiculos, onde o m dois e meio a tres ide. Em algumas fazendas, en se, a c s e pauspi bertas de sapé ou fo berturas. Bases case bres destin! de os negros prep to simples: peixe, cacas do mato, \s, cutias ou capi ° 6 serio, quando amontoavamese de c indo e vezes, substitu cadas no corredor, onde iando, habitagbes. je 0 respeito . porém, que, extrem: que regulavam a vida na sua fazend: © trabalho aos doming servigo fario os escravos 8 10 sibado". Nos dias s até a hora dé Jem os escravos, cd tos e dispensados, a rrancar espinho e edor da ci 108 servigas, menos no te se tenha muito servigo, tr sados, es a cada um duzentos tava em enver Ao escravo qui spo, davamse, em ge ntos por ano. Do Rio de Janeiro, vinham as b de Londres, os pa d s, aS roupas eram reno- ver por ano. Nas que primavam pelo tratamento es de por ano, Esse fornecimento correspondia, em spesa de dez a doze mil-éis por pessoa.” As miqui: ‘nas americanas introd DA SENZALA A COLONIA peas 1 doméstico eram, em ge produto de su ava em fumo, EMILIA VIOTTL DA COSTA nero de alémsmar” s6 obtinham licenga para seus negScios se os requerimentos fossem assinados por um fiador e obrigassem a nao comprar géneros de escravos sem autorizacio do senhor. Apesar de todas as tentativas a fim de reprimir esses abusos, waram clurante todo o tempo da escravidio provocando severas queixas por parte dos fazendleiros, que viam nos re ‘uma ameaca constante sua seguranga. AS leis provinciais reforca 1 n.104, arti nome do escravo e quais os géneros que iria am dez mil és os contraventores.” Alguns anos mais tarde, em 1870, a pena e proibiam que se comprassem a escravos géneros que nao pudes n set considerados da lavoura que lhes era permitida pelos se nhores, tais como agucar, café, aguardente. Os contraventotes in: cortiam em multa de 30$000, al as de cadeia.® Todo, aquele que te, café, objetos de prata, ouro, yuer traste de casa, sem ordem pot oem 308000 e encarcerado oito Autorizava'se qualquer povo a prender o escravo que encontra qualquer d ue tester 3$000, se, na Assembléia Provincial de Sio Paulo, em lstas, dizia'se que ss induistrias, mas colocar em meio do ca fas vezes em dificuldades para punir aqueles que compravam aos seus escra ‘wos objetos furtados. DA SENZALA A COLONIA Aslleis se repetiam, o que demonstra a sua ineficicia. A pritica persistia. Ainda em 1888, as vésperas da Aboligio, noticiavam os jornais um grande roubo de café, ocorrido na fazenda do capitio. Tomas José da Mora, onde noites seguidas os escravos penetraram no quarto da tulha levando o café que entregaram a um taberneiro de nome Rosa Manso. Calculava-se em 150 arrobas o total do café Para coibir mais diretamente esses abusos, os fazendeiros, & menor de ca, convocavam a milicia local. Onde o braco da lei no chegava e a pol ente, of com ‘meia diicia de capangas, invadiam, varejavam a venda e apreen: diam o que Ihes fora roubado. Na expectativa de evitar todos esses dissabores, alguns abriram armazéns em suas fazendas. O escravo pod O negécio aparecia assim duplamente lucrativo: evitava aglomeragdes as portas das vendas, redusia as possibilidades de-roubo. adlos pelos senhores para conter a popu: que ela aparece aos olhos freio que sustentava os escravos. Do confess exortasse & moralidade, e aos bons costumes, ao amor, ao trabalho iéncia cega aos senhores, A religizo aparecia como mediadora entre senhor e escravo: “o freio do homem impetuoso, 0 consolo do aflto, o lento do fraco, a esperanca do desgracad formismo, obediéncia ao senhor, pintado como um pai, a ser temi- do e respeitado. 1e 08 escravos confessassem uma ros, “porque o confessor f ‘em lugar de seu pai e, portanto, Ihe deve amor, respeito e obedi esta vida € nacla em comparagio © 10 que sofre com paciéncia o seu cativeiro tem a sua recompensa VIOTTI DA CosTA no reino do céu, proprietir sem esta regra entre nés, m: es. Avs proprietiis assividade e esperanca na vida eterna, tecismo do negro. de oratérios e «: ra do capela este apare oda DA SENZALA A COLONIA com batugues ¢ festas, onde se misturavam, & devogio a Virgem, priticas african: O negro as preces, submetia-se aparentemente passivo como a tudo © mais. Muitos aprenderam a “puxar resas”.” nna. Em outras, a curtas preces de manha ea certos ca sos, s santificados. As veres, 08 8 Na sua obscura compreensio do cri tim como embrulhavam as priticas rei rente complexo. vez compreenda o que essas p: verdadeira c vos essas palavras ram os prin W708 que te seriménia de culto realiza idades do Rio de J pedacinhos de latim que um havia ensinad se encerrou com um Miserere ‘glo de todos os escravos, dest es a ba cobs tradigbes e priticasafricanas, no campo menos do que na ce EMILIA VIOTTI DA COSTA dade. A diversidade de origem dos negros e am ade das estreita dos a manutengio das tradi afticanas. Temerosos de insurreigées, os senhores tiveram regio do caf, mprar seus sediciosos, proibiam, as suas crendices e podiam, nas florestas vam batendo os pés ¢ as mos. Nessas canto- avras afticanas ao coro de Santa Mar aos sibados que eles stuque com, ‘urucungo acelerava ou retardava, 0 cantar e sapatear, um dangador dava cambi seu lugar e assim por diante. espécie de barril afu escrito como arame estirada contra um arco e corda, trazendo a das pontas uma cabaga.” Os cantos eram, em geral, mondto- nos repetidos. Muitas vezes, as, DA SENZALA A COLONIA ‘gualmente difundida entre imlhes prome em confrati ntos parece tet estado do um pedido fosse satisfeito confundiamse. Impregnavam a vida ue se quebra ou p Oescravo scura, de um poder sobrenatut is dbvias que estivessem as cau: \s € ocasion dente mérbido era sempre atribuido a qualquer forca pes raira a desconfianga dos parentes. A cura era prox xvés de mesinhas e exorcismos. A mesma crenca que existia entre rolar as forcas fe prestava a coletiv hosts, feitos a base DASENZALA A COLONIA Nos primei meios de 20 pritico. Os n 0. Os Vade Me 1842 ¢ o Dicionario levavam os fa febre," o primi: as penosas co sob o sol e a chuva, a precariedade os estragos causadlos pela cachaga mi banhos de le 0s dejetos eram tudo isso concorria muito elevados. Ferreira um fazendeir 306 EMILIA VIOTTLDA COSTA apés trés anos, na melhor hipstese, um quarto dos escravos ada} de satide © aptos ao trabalho. A duracio 10 era de quinze anos e, nas fazendas, ha via sempre certo ntimero de escravos momentaneamente incapaci fra ade 10% a 25%. A mortalidade infan. \s ¢ muitas maes perdiam a vida no parto, pe comadres que, com as priiticas mais grosseiras, procu de. imentar também ia grande name- adesmama, 190 defi supados com a alta mortalidade infantil, todos aqueles que escreviam sobre escrav > recomendaram 20s as parturientes ¢ os xem Burlamaque, € fazendeiros certos cuidados cor iro @ que nio ne da alimentagio. Tudo heres que estavam amamen 5 cartegando-os em jacas ou pa junto as se es: rodar caf nos pastos da fazenda e separar nas salas de catar café." Os indices de mortalidade continuaram lotes eta mau, principalmente a partir do momento em que se in licacio contra o trifico e et para no despertar -ncerravam 0s negros navios, impedindows de subir ao convés. As pe: is desses lugares deficientes em DASENZALA ACOLONIA, 07 escravos reoémchegados. Mesmo depois de cessado 0 trifico, © estado sanitirio dos lotes de escravos era mau e os indices de mor talidade, clevados, Esses indices referentes & populagio negra per maneceram, aliés, muito altos mesmo depois de abolida a escra viddo. O Anuar médico bras mortalidade dos afticanos provocada pela febre amarela e malaria. giva mesmo a vaticinar que, em breve, desapareceriam os ne 70s do Rio de Janeiro. Durante 0 periodo da escravidao, os mai sobre a populagio infantil.” Disiase que era mais ficilcriar 1és ov quatro filhos de brancos co que uma crianga pretae atribuiase esse fato & maior fragilidade da raga negra. Alguns fazendeitos conse guiam criar apenas um quarto dos negrinhos nascidos na fazenda ‘mesmo naquelas onde o tratamento era bom. Procurando outras andes para explicaro fato, Tschudi apontava 0 descuido das mi ue pouco se incomodavam com os filhos. O bari de Piabanha, fszencleiro da Paraiba do Si do Rio de Janeiro, confessava, mais tard mento ¢ cuidados, © numero dada a elevada mora que, stavam na proporeao de uma p E muito dificil hoje, a despeito dessas informagdes indices recaiam na Provinci que, apesar do bom trata: 10 real, nos anos anteriores a abolico, Durante a campanha abolicionista, a partir do momento em que se agit parlamento es vir no regime de propried: ou imediata, os int incipacao gradativa los na questo deram forca de ar- gumento aos altos indices de mor no com fitos muitas vezes mortalidade elevad apressasse a extingao da escravatura, uma vez que, em alguns anos, deveria estar extinta a escravidio no Brasil. Os abolicionistas, por sua vez, fomavam a0s opositores essa argumentagio, para converté- laem mais um elementoa favor de sua causa. Acentuavam os horro- res daescravidio na morte de milhares de criaturas, Desde a época da Independencia, a maioria dos que apresenta- ram projetos emancipadores mencionava o mau tratamento dado lade. Exageraram esse fendme ios. Aleyavam que, em vista da nio seria necessiria nenhuma medida que 0s escravos, a falta de assisténcia & maternidade e a infancia, que dizimava a escravaria. O simples fato de a populagio escrava, em vez de crescer, ter diminuido no decurso do século XIX tem sido apontado como prova da alta mortalidade. Entretanto, em um rela idente da Provincia do Rio de Janeiro, Martinho Cam: scravocrata da gema”, argumentava que ela “no F & de outros paises do globo”. E de supor que, & medida que os pregos aumentaram e cresce ram as dificuldades para aquisicio de escravos, as condigses de wwida tenham melhorado, na maioria das fazendas, ea taxa de mor talidade se tenha reduzido. Grande mimeto de escravos escapava as matriculas; principalmente depois das leis emancipadoras, pois os senhores tinham interesse em subtrailos a fiscalizacio ofic ‘As sucessivas alforrias © os negros liberados pelas leis de 1871 sdiam um célculo mais seguro sobre a mortalidade do es cravo, nas iltimas décadas da escr rages de Ferreira Soares e Tschudi, a mortalidade infantil conti ertas regides do Brasil, casa dos 75%, somos le 6, até 1888, era elevada As epidemias grassavam fuclitadas pelas mas condigées higié nicas ¢ pela promiscuidade em que viviam. Assolavam petiodica mente a populacio escrava nas zonas rurais ou urbanas. As mais, graves eram a célera, a febre amarela e a variola. A febre amare nente a zona litoriinea. Os portos de Ubatuba, nanéia, Iguape e Santos eram vitimadas por ela, freqilentemen te, chegando mesmo a interromper-se momentaneamente o comer cio com essas regioes. Registraram-se surtos epidémicos importantes em 1850, 1874 © 1886. A oSleramorbo, outra causa de grande mortalidade, sur aft, a0 que parece, tardiamente no Brasil. A partir de 1855, houve Nesse ano, assumiu tais proporoies que o governo, preocupa do, tomou medidas para sufocéla, aconselhando aos fazendeitos o maior desvelo quanto habitacio, vestuarios e tratam 10s. Decretou a quarentena de escravos provindos de peitos de infestagio, chegando mesmo a proibir expressamente a DASENZALA ACOLONIA, 209 sua entrada. Aconselhava-se, nessa ocasiao, aos fazendeiros que Ihes fornecessem cada semana uma muda de roupa limpa, estimu lassem os bank nos rios ou ribeirdes, dessem-lhes nutri- ao mais abundante do que a habitual, diminuissem as horas do servico prok Ges. Recomenda- vase, em particular, que, durante o vero, se desse aos escravos, tua com Agua, a laranja, impedindo jua, quando transpirassem, Aconselhavase que ni truissem, junto a habitagdes dos escravos, queiros ou dep snzalas, devendo abrigat 0 minimo possivel de trastes, seriam conservadas limpas, o terreito varias vezes varrido, nda os fazendeitos acudir & menor malestar entre os escravos para que prontamente se atalhassem as enfermidades.” ‘As epidemias de variola sucediam-se nas fazendas e cidades. Antes da cessacio do trifico em 1850, e:nos anos imedliatamente posteriores, chegourse mesmo a relacionar o aparecimento de cx 303 de variola com a presenca de escravos bogais recém-desembar cados: sintoma de contrabando. No Rio de Janeiro, foram nume 10508 0s surtos de variola: 18341836, 1841-1850, 1865, 1873, 1882, 1887. A Provincia de Sio Paulo foi também duramente atingida pela variola. Em 1863, 1864, 1865, graves epidemias as am as populagoes. Em 1870, foram particularmen: te, a capital e os municfpios de Lorena e Jundiai. Em 1873, irrom- peu violenta, ceifindo vidas em varios municipios. Em 1875, a inuava a causar vite ico e reduziam, plantel dos fazendeiros. Imbert es que afligiam os escravos, disenterias, mor dismo e escorbuto, este atin nas longa travessias ocelnicas, enquanto perdurou 0 tr fico. Apontava, ainda, as verminoses, moléstias venéreas, alporc tes, gastrite, hepatite, pleuris, a10 EMILIA VIOTTIDA COSTA tuberculose, reumatismos, ipela e impingem. © “banzo” foi romantica iderado © mal da escravi entio generalizada nascia das manifestagoes de gia que suscitava 0 regime da escravidéo, comparado 4 liber ¢ moléstias de pele tais como a dade antiga. $6 no século XX foi dado identificar esse mal conheci is e que se caracteriaava entre os negros tristeza. Acredita que no passava de udade. Esses sintomas, que tanto intriga vam os brancos, eam nem mais nem menos os da moléstia do Infectados na Africa, traziam os negros consigo a enfermi de. Felizmente, nao encontrou ela condicées matarse, Fal: sca tsétsé, tran: em geral tio nhecido cor set co- cas, espe: s, na lide los por elas. Os tratamentos areciam, as vezes, dar bom re: DA SENZALA A COLONIA EMILIA VIOTTI DA COSTA stomiase, a ascaridiose e todas as outras verminoses ainda infestam a g eoes rurais ide de trabalho, produsindo cansacoe siveis pelas freqtientes perturbacées digestivas, ¢ hepatites cronicas, em geral atribuidas 8 alimentacio ma ou defi DASENZALA A COLONIA, a3 ente, Certos tipos de tosses, convulsdes, perfuragées de érgios, fe bres inexpliciveis também tinham origem nesses vermes, provo- rte. A geofagia ~ habito de comer terra, era proveniente da necatoriose, Preocupados com essa manifestagio e desconhecendo suas causas mais profun: das, resentavam com, esse habito, obrigandoos ao uso de mascara de zineo ou folhade- flandres: puni icada aos culpados de embriaguez contumas.” A toses diversas nos membros inferiores, deps tomandoos tho. As dlisenterias, rites, as diarréias assolavam a po} cimentos progressivos, aparentemente inex Ourra moléstia, a que parce culo: retite gangren: do a populacao neg Numerosos eram os casos de lepra. Na nzalas, di duran pele do escravo, a lepra ~ enfer nas ~ proliferava. A maioria dos senhores alforriava os leprosos, n como outros euja } tinha cura. Estes perambula vam pelas estradas, assaltando ou esmolando, abandonados ram pelas estradas e acampas lagio, multiplicavar medidas que obrigassem os senhores a intern , bem como a construgao de hospitais com essa finalidade. Em 1843, a Camara Municipal de Taubaté envia- va ao presidente da provincia um oficio requerendo providéncias sobre a multidio de pretos lizaros que habitavam os arredores da cidade grav ilustrissimo senhor, o mal que podem eles causar, ou estiio causando a este termo, nao s6 por toda sorte de comércio que hd entre eles e os escravos moradores desta referida a4 EMILIA VIOTTIDA COSTA se arrancham nas proxin dades das fontes de servidio publica e as infectam com a lavagem. de suas 20 eseravos afetados por aquele mal ndo fossem aban: senhores, os quais seriam obrigados a recolhé-los a0 diante pagamento de certa quantia anual.” Entretanto, ustre fazendeiro, foi retirado pouco re «lo por um assim como pro vagabundeassem pelas povo 8 a0 mesmo hospital. O oT uum regulamento pol sem entretanto indo para que os s da prov mento desse ano tio para os a presena de escravos ve los seus amos. Incapazes de ando para o senhor um énus, eram alforriados, conquistando assim a liberdade, quando esta menos Ihes convinha. ‘Sem saber o que fazer dela, incapazes de se manterem, perambu pelas ruas da cidade, em andrajos, mend Em 1854, Cotegipe, presidente da Provincia ara dos deputados, sem obter ni m projet pretendendo obrigar os senhores cravos alfortiados por we aqueles que mendigas decendo a um: Abrantes, projeto de lei pelo fo, em virtude da eleva das Financas, cogitava, em 186 seria concedida alforria 40s e “Baldados eram 0s es impedit que os senhores os abandonassem, impondo-thes multas DASENZALA ACOLONIA, a5 ntilos e vestilos. Na pritica, essa 865, a Lei Provincial n.14, artigo 43, rezava: “Todo © senhor que, dispondo de meios suficientes, abandonar seus es cravos morféticos, leprosos, doidos, aleijados ou afetados de g quer moléstia incurivel e que consentir em que eles mendiguem, sofrera 30$000 de mul obrigado a recebétlos com a neces- sdria cautela, sustenté-los e vesti-los” Escravos esfarrapados, doentes, mutilados, inutilizados pela le pra ou pela elefantiase eram vistos vagandlo pelas estrada, € nas ci- dades a esmolar. As cimaras reclamavam, a imprensa protesta as 08 negros continuavam aos bandos, famintos, percorrendo os podia mais ser aproveitado pelo senor, sua ma wa tum encargo oneroso que be poucos est vam dispostos @ manter. Nas fazendas dle café, foram freqiientes também as moléstias ‘moléstas de peito, febre, pneumonias de tu. das vias respiratorias, As se". A aspiragio de poeita do café contribuia para provocar ritagSes, Muitas vezes, era re m imunes, Também a sifilis e 0 traco- reir, poucas fica Nos primeiros tempos, quando ainda era ficil a aquisigo de es) 1 cuidados dedicados a su. cada ver mais dific sua aquisiga0, passou ssa época coincide também com a Jamento das fizendas, o aumento do ntimero demédicos disponiveis no pais. Mesmo assim, continuavam escassos nas fazendas, Preferiam a vida nos centros utbanos, onde a clientela cra mais numerosa ¢ remuneradora. Alguns poucos, wandose nas cidades, percorriam uma vez por semana as fazendas Outras vezes, europeus de formagi idosa e obs- cura: enfermeitos, exestucantes que nao haviam chega do a concluir seus cursos, improvisavamse em médicos. EMILIA VIOTTIDA COSTA As Academias Médico-Cirirgicas, fundadas quando da vinda de D. Joao VI, tinham sido transformadas na época da Regéncia em faculdades. Em Sao Paulo, em 1808, havi que praticavam Medicina: 0 cinurgitomor das to Mariano José do Amaral. Em 1822, ja eram sete os profissionais, Em 1839, existiam cinco médicos e quatro cirurgides.” impinas, em 1850, exerciam a clinica apenas dois méd cos: Candido Goncalves Gomide e Ricardo G. Daunt. Os facultati- vos concentravam-se nas cidades e vi ortantes, Seu ni fazenda, em 1855, 0 médico contratado pelo senador de cada familia da coldn g0 escrava foi sendo substi Na fazenda Santa Rita, de © hospital da Fazenda Areias, distante da a cerca de duas léguas. Residia o facultativo na cidade e visi tava as fazendas,® com certa freqiiéncia. De maneira geral, entre haver caréneia de médicos no interior do Bra de charlaties ignorantes. A crendice eo catiter supetsticioso da po- postores, Toxo estran falsos médicos ou priticos. ‘As Santas Casas, ja existentes ou que se os nesse particular, Nel nha o senhor tratamento gratuito para seus escravos que eram in: temnados em casos extremamente grave Tal valor econémico representavam os escravo: deiro nao podia correr o risco de ter um escra isso, ciaram-se companhias de seguro que salva resses do proprietirio em caso de morte ou de ro DA SENZALA A COLONIA de Seguros contra a mortalidade de escravos Previdencia”, “Unio Seyutos de Vida de Escravos”,* *Auxiliadora do Trabalho Nacio nal e dos Ingénuos”,” que indenizavam © proprietétio em caso de morte ¢ liberdade forcada. Algumas asseguravam contra o roubo, a € certas moléstias de escravo Durante todo o tempo da eseravidio, houve roubo de cativos. 1837, referiase Burlamaque, na Meméria Analitca, a escravos sedusidos por um exército de especuladores, que parecia terse or ganizado para espoliar de maneira sistemtica aos senhores”. Os cativos eram ludibriados com promessas de liberdade e seguiam o) sedutor que se apressava em desembaracarse deles, vendendoos logo que podia. Dessa forma, organizaram-se verdadeiras quad thas de ladries de escravos." a taxa cle mortalidade atingia cifras elevadas, a natal baixa. As condigdes de vida nas senzalas nao The reduzido de mulher vyezes cinco para um, estimulava o cariter temporitio das i Essa desproporgio entre elementos masculinos fe cera, als, tipica de toda zona colonial, onde vigorava o sistema ymas Clarkson, em suas obras escritas nos fins do sé pios do século XIX, sobre os males do trafic identico Ant a cessagdo do tnifico, a populagdo masculina representav ‘em certas freas, a grande maioria: cerca de 70% da populagao es crava. Essa diferenca tendia a diminuir a medida que passaram predominar os escravos nascidos no Brasil. Assim sendo, cessa ‘© trifico, com o passar dos anos, a proporcio entre escravos de um. € outro sexo tendia a equilibrarse. Apesar de tudo, a popula masculina continuou a predominar, embora numa margem relat vvamente menor: 56% de homens, 44% de mulheres, nas zonas ru rais, entre 1880 e 1888." Em 1844, 0 total da populagio da Provincia do Rio de Janeiro era de 72.807 pretos cativos e 39.844 mulheres. Ja, entre os pardos cativos, a diferenca quase desaparecia, havendo 3.401 homens para 3.089 mulheres. Em 1873, portanto, quase is tarde, havia na provincia 164.581 homens ¢ 136.771 mulheres, ¢ dez anos depois, em 1883, 0 total de escravos montava a 143.353 ons e 120.492 mulheres."* Nazona rural, era mais acentuada a diferenga entre o nimero 1s urbanos, 0 que é perf Jos homens, mais ca- pazes de trabalhos pesados. A proporgio de quatro para um é fre lente, principalmente nas zonas em que as fazendas formadas antes da cessacao do trifico se abasteceram de escravos importados diretamente da Africa. A escassez de mulheres nas fazendas conduzia necessariamen: tea instabilidade da vida familiar, Os senhores, por sua ve2, nio es timulavam os casamentos entre escravos, preferindo passageiras as mais estave Consciente desse problem: presentagio a assembleia geral constituinte e legislati to da escravidio, um artigo a esse respei impedir o casamento de se escravas suas, uma vez que aquelas se obrig rmaridos ou estas queiram casar com livre vontade”, rezava 0 artigo XX, © artigo XXI as medidas necessérias para que os senhores de engenho e grandes plantagies de cultura tenham, pelo menos, dois tercos de seus es dos” la de concreto se fer a respeito. Aproximadamente is tarde, um viajante observava que os casamentos legit ‘mos entre escravos ndio eram tolerados pelos senhores" zendeiro permitia que os pares se unissem segundo a oportunidade, a0 acaso. O seu pr mento bastava para que se considerassem marido e mulher, nun unio que sé muito taramente perdurava a vida inteira. As negras tinham filhos de varios homens diferentes, eos senhores fechavam 105 olhos ao que se passava nas senzalas, Nem mes obrigat6rio respeitavam, davam eles mesmos um nome qu crianga recém-nascida.” DA SENZALA A COLONIA Jéem 1837, na Meméria analitica acerca do comércio de escravos e acerca dos males da escravidao do contradigSes entre o regime se casamento. “O Evangelho ordena expressamer donaris teu © se ” Ora, de um casal este quer ven: délo, mas nao a mulher, que fard esta se quiser cumprir 0 preci do Evangelho? Resistira? A forga e os castigos sepatario infal os principios que Ihes inc tra diferente @ asperamente castigada. A re znam aos pais que protejam aos fllos ¢ a estes que obedegam e res rem restritamente [sic] em oposicio ou com o exercicio do poder dos senhores, wento dos deveres morais e religiosos dos esera a castidade e niio admite outros lagos, que ;posa para resistr a seu senhor que as quer seduzi cumbir, ou sofferd todo 0 género de suplicios. Mais ad rindo-se ao grande néimeto de escravos de cor branca, oe parte preferia igioso, Embora contrariando os pre 1 bisica do pais, o cristianismo, 038 hor, pois eliminava os proble venda de escravos casados nuat essa situagio, Quando. nao disporem res, D fs reoordagdes: tratava-se rigatoria a cerimén EMILIA VIOTTL padre, um portugues de ar arto lara 05 noivos com precipitacio pouco res ra ues palavras sobre os deveres do ma do-se da ocasifo pa pprimento dos rituais da Igreja. “Mais com um de prédica’, ordenarathes que se ajo sgrita um amém jog. 10 das oragtes sobre o altar, apagando os ct: ios e despedindo os recémcasados “da mesma forma que teria ex dda igreja”. Assim se cumprit esse s a tinica pareceu. ao escandalizado vigjante “um punhado de pétalas de rosa que a mae da noiva espar brea sua c Que estranha confusio nao deveria bres escravos ise ensinava que o casamento nao sacramen. tado era , quando vinham buscar o sacramento, cram assim tratados. Quando assistiam o senhor desmentit com sua conduta aos mandamentos de fidelidade, e observar que, 20 Iado de seus eseravas de pele branca que, praticamente, lhes ensinavam que o a lei que impunha aos negros. “Que monstruosa mentita lhes deve parecer todo esse sistema, se é é objeto de suias me- dlitagies”, comentava o viajante. Evidentemente, havia bons sacerdotes e bons senhores, fana criada pelo sistema escravis. senhores, no que se refere & fechavam os othos aro se beneficiavam. Os numerosos bastardos, os mulatos que aumentavam a populagio escrava ou forra a testemunha viva dese fato. sso, multiplicavam-se os conflitos sociais. O sistema es liar do escravo, favorecendo as uni familiar do ser qual, & ausén deentendimento fsico. A organizacio da familia patriarcal incitava DASENZALA ACOLONIA, os senhores a procurar satisfagso sexual fo tw as escravas. Esse fendmeno foi de todos os tempos. Exi Colonia, perdurava no Império. Criticado por todos os que levantaram suas , servia de argumento para abolicionistas de corromper a familia brasileira sé na fase mais avancada d o casamento dos escravos. Paulo de 14 de janeiro, trecho das “Constitui € quase todas as do Império e cu mento de escravos: 303. Divino & n 304 que os sacerdotes recebessem os atriménio, quando se reve lassem conhecedores da doutrina crista, pelo menos o Padrenos so, a Avemaria, Creio-emdeuspadre, Mandamentos da Lei de Deus e da Santa Madre Igreja e entendessem a obrigacio do Santo Matriménio, manifestando sua intengo de nele permanecer. Nes EMILIA VIOTTI DA COSTA te caso, deveriam os sacerdotes recebélos, mesmo que seus senho- res 0s contradissessem, A legislacio procurou impedir a separa vos. Em 1869 proibia a separagio de a dos filhos de escravos menores de quinze anos, Mais tarde, em Ventre Livre estipulava: “Em qualquer caso de alie uu transmissio de escravos € p de, separar os cdnjuges e os filhos menores de 12 anos, d Nas relagies de escravos matriculados nessa época podese ber que 0 niimero de escravos casados grande em certas resi6es. As normas entio tragadas, que regulavam a distribuigio das verbas do Fundo de Emancipacio, davam preferéncia a alforria de pessoas casadas. © Regulamento de 13 de novembt prioridade de libertag rentes senhores, da lei e menores de oito anos, em tercei filhos livres menores de 21 a ccravos € os cOnjuges sem fi tagdo por individuos, preferiam-se as maes e pais com, tentouse desde a época da independen um dispositivo que obrigasse o senhor a alforriar a escra- 1m filho seu. Um ato dessa natureza seria a con- cativeito 0s préprios filhos ¢ irmaos. Uma decisio posterior & do Ventre Livre decidia que, sendo a escrava de seu préprio filho, poderia ser preferida para libertar-se pelo fundo de emancipa Jem 1823, Jose Bo em seu projeto de escravos, estipulava no artigo XI: “Toxo senhor que andar amigado com escrava ou tiver tido leia dar liberdad macéro pro naturais com escravas e obrigava 0 senhor incurso nessa continuar com ambos como seus escravos.”” DA SENZALA A COLONIA parecer do prox 1.67 de Amparo, que reconheceu por seu filho e instituiu herdei iderada escrava do menor Martinho, reque dor, q o promovesse sua liberdade alegando que, sendo e do réu, herdeiro dos bens do senhor, nao podia ser escrava do ‘mesmo. Juntou documentos, certidées de testamento etc. O direito julgou improcedente a a¢io por considerar que iw do senhor com a escrava nao era raz ido 08 autos a0 procurador da Coroa, est tenga do juz deve ser reform: baseado nas razdes do Nao pode o direito outorgar um fato ti nao ha direito contra a razio, ca tureza, As ligagdes extraconjugais, os filhos natu c as veres, das proprias mies pelos enhor libertar um filho na- tural mantendo a mie no cativeiro, 0 caso aq Muitas vezes esses escravos revelavam a origem na cor: no tom dos olhos ou por seus cal Nem tudo eram conflitos. As imagens da mie negra, do Pai quedos na infincia, da es teratura, mas esta no ignorava tambén escravo vingativo, que tentava contra a vida do senhor, envenena va, agredia, incendiava os campos. A escrava que o enredava nas EMILIA VIOTTI DA COSTA ca passou a 10 impediu que alguns se s barbaramente até a véspera da Enquanto o abastecimento de negros fora relativamente facil, 0s proprietitios nao se haviam preocupado em Ihes dar boas condigdes. Todos os publicistas dessa primeira fase falavam na ne- cessidade de como Saint maus-tratos dads infiniea distin cia dos homens livres", escrevia ele: “Sao burros de carga a quem se cerca de quem se cré s6 podem ser levados pela arrogin cas”. “Assi leiro poder sercaridosissimo para ‘com um homem de ito pouea pena de seus negros a quem nio antes.” ‘Os conselhos do bario do Pati do Alferes, as anotagdes do pa c as observagies de Burlamaque das condicdes, ‘trazem um argumento de peso em favor da me de vida do escravor a alusio ao seu valor, Os fazendeiros que tratas cem de defender o seu capital nao deteriorando a satide de seus es: o deles, pois isso seria a galinha dos ovos de ouro” Cessado o trifico, 0 prego dos negros subiu espantosamente, atingindo dois eatét Nadécada de 1870, davam entre um conto e quinhentos e dois, uma fazenda com qua trocentos alqueires, no municipio de Santa Barbara, com casa de moradia, tr casas na Capuava, olaria, moinho, monjolo, engenho e seus pertences, paiol, senzalas, pastos etc., era avaliada em 27 con- DA SENZALA A COLO? ms lade de Sao Paulo, a rua das Flores, a0 prego de um conto e seiscentos.” Com menos de quatrocentos mi isto 6, cerca de um quinto do valor médio de um escravo, pode ria alguém arrematar quatro itos, uma junta de novilhos ¢ duas vacas, tudo avaliado pela quantia de 3388000. A pattir de entio, os fazendeiros preocuparamse mais com 0 tratamento dado aos escravos. Os recém-nascidos foram mais cui- undante ¢ melhor. A sorte entretanto, da riqueza e prosperidade do se va, também, de regigo para regio. Diziase que era melhor no Rio do que no Maranhao ¢ que em Campinas se encontravam 0s pio- os mais severos e desumanos, tio e cultivo do café. Os demais aplicavamsse a construgées de galpoes e abrigos, desde o preparo das madeiras ea escrutura de patra-pique ou taipa até as cobertas de sapé; fej20 ou mandioca, a a €, As veres, de aguar- mento do café. Hav iagdo de py dente, os tral 8 € um sem-ntimer Onde se mantinha a produgio mista de agicar e ca se também dos servigos balhavam, mesmo os ve atividades compativeis com sua capacidadle, com a construcao de cestas, cabos de enxada $ © as criangas eram aproveitados porte e ra dos de beneficiamento do café tornou-se ni cessirio, um melhor aproveitamento da Os escravos foram, na lavoura do café. EMILIA VIOTTIDA COSTA Além dos negros que trabalhavam no campo, havia os que cram aproveitados no servigo pacio Ihes conferisse um gr -0 superior. Muitas vezes, © proprio orgulho separavaos dos companheiros. Muca recado, cocheiros, copei zados no ser: direto dos senhores. Ao conti do que ocorria nas cida- tinham melhor sorte: a vida mais suave, os castigos mais yavam maiores oportunidades de conquistar a amizade dos proprietirios e obter cartas de alfor 1608 par ceiros que Inbutavam de sol a sol na lavoura e pequeno contato tinham com os senl am, entretanto, excluidos das reu- nides de escravos ¢ ‘itos a uma fiscalizacdo mais rigoros amas e pajens don de seus seg amos, nem sempre chega- jd no trajar se distingu da roga. Dividiaos mesmo uma surda rivalidade. Os primeitos, ‘a0 mesmo tempo em que experimentavam um sentimento de su rioridade segregavaos do seu grupo natu antigos companheiros e Ihes impunha tox s entre brancos e negras resultava uma populagdo de mesti- fda muiltid n para as mies motivo de or to de amores escusos, é servido antes dos outros, mais acariciado e ais bem vestido que os demais. Adi gues que as mies tinham com esses fll { algumas vezes as ries dizerem as cozinheiras: ‘meu mulato nfo pode comer isto”, do a ragio dos negros. Comumente, esses mestigos eram DASENZALAA COLONIA empregados como ¢ 108 da casa, de fato, eram seus irm: Embora as negras se orgulhassem dessa progénie bastarda, eram geralmente desprezadas pelos parceiros de nasio, por terem tido comércio com branco, Mestigos e negros empregados no servigo pessoal do senhor formavam um mundo & parte da senzala: “Negro no eito, vita co- época, Mas nem 10 fosse possivel a circulagio io de sortilégios e artificios mégicos tum desses escravos de confianca tamente o portavor da hostilidade que grassava nas las: sucediam.se os enves expliciveis, as mortes as que ce prevalecia 0 sentimento de fidelidade ao amo, e o escravo denun: ciava a trama dos parceitos. Varias formas de rivalidade dividiam a senzala. Na regio de 8, por exemplo, os escravos locais nao se ligavam aos bi ros, consideravam-se superiores ¢ os desprezavam.” ertos, muitos deles repudiavam seu grupo, esque sm seu passadlo, Nao era sem razio que Luis Ga lescas dle Getul MILA VIOTTI DA costa ‘Notas ido andarem of excravos quase suas pela cidade. Multa de 108000. a fora, obrigan Raros, 1938) op. cit, p.183, Bastid, 1960, p.202 e 208, Resende, 194, Laerne, op. ct P33. Jost Bs ‘bea, & preci al DA SENTALA A COLONIA 24 Laemne, op. elt, 293. 25 Tschudi, op. cit, p.53. C des veres algumas difreneas, Veinse, por exemy IM, p32. ainda Debret, op. cit, vl p.165,¢ Vice Presidente da Provincia de Rio de Jane presidente ¢ desembargadoe Luts ra de moléstia ds aficanos, ¢ Frits, 1935. ius, 1939, er, Karl Seidler rineipe Maxi do pove, cit, p28. DA SENZALA A COLONIA 69 Senterga no Din 1) Mons, op. cit [Enconeramos virios antincios de escravos ee Tipograia Na obras anteriormente cides de cor quaseb

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